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O	
  “Relatório”	
  do	
  FMI	
  sobre	
  a	
  Educação	
  em	
  Portugal	
  
	
  
Cenário:	
  
     1. O	
  sistema	
  educativo	
  tem	
  menos	
  sucesso	
  do	
  que	
  a	
  média	
  europeia	
  
     2. O	
  sistema	
  educativo	
  português	
  é	
  mais	
  fragmentado	
  do	
  que	
  os	
  sistemas	
  de	
  
        outros	
  países	
  europeus	
  
     3. A	
  rede	
  escolar,	
  sobretudo	
  nas	
  zonas	
  rurais,	
  é	
  pouco	
  ajustada	
  
     4. O	
  aumento	
  da	
  procura	
  de	
  ensino	
  superior	
  é	
  um	
  desafio	
  
     5. Os	
  professores	
  das	
  escolas	
  públicas	
  constituem	
  um	
  grupo	
  privilegiado	
  
     6. Tem	
  havido	
  alterações	
  na	
  composição	
  da	
  procura	
  de	
  serviços	
  de	
  educação	
  
     7. A	
  redução	
  do	
  número	
  de	
  alunos	
  implica	
  um	
  significativo	
  ajustamento	
  na	
  rede	
  
        escolar	
  
        	
  
Questões-­‐Chave:	
  
     1. O	
  sistema	
  educativo	
  tem	
  um	
  número	
  exagerado	
  de	
  profissionais	
  
     2. A	
  prevalência	
  de	
  rigidez	
  no	
  sistema	
  educativo	
  agrava	
  a	
  tendência	
  para	
  o	
  
        excesso	
  de	
  profissionais	
  
     3. Até	
  agora,	
  as	
  reduções	
  salariais	
  não	
  atingiram	
  os	
  professores	
  menos	
  
        competentes	
  ou	
  mais	
  bem	
  pagos	
  
     4. O	
  modelo	
  de	
  financiamento	
  atual	
  das	
  escolas	
  gera	
  desigualdades	
  nos	
  custos	
  
        por	
  aluno	
  e	
  nos	
  recursos	
  disponíveis	
  no	
  conjunto	
  das	
  escolas	
  
     5. Há	
  evidências	
  de	
  que	
  os	
  custos	
  por	
  aluno	
  nas	
  escolas	
  com	
  contrato	
  de	
  
        associação	
  (“Charter	
  Schools”)	
  é	
  mais	
  baixo	
  do	
  que	
  nas	
  escolas	
  públicas.	
  
	
  
Propostas	
  de	
  reforma:	
  
     1. Melhorar	
  os	
  resultados	
  com	
  menos	
  custos	
  
     2. Dar	
  continuidade	
  à	
  política	
  de	
  agrupamento	
  de	
  escolas	
  
     3. Alcançar	
  poupanças	
  mais	
  significativas	
  exige	
  a	
  flexibilização	
  do	
  sistema	
  
        educativo,	
  reduzindo	
  o	
  papel	
  do	
  Estado	
  como	
  fornecedor	
  de	
  serviços	
  de	
  
        educação	
  
               a. Implementação	
  de	
  uma	
  fórmula	
  simples	
  de	
  financiamento	
  por	
  aluno	
  
               b. Aplicar	
  modelos	
  de	
  mobilidade	
  especial	
  para	
  professores	
  em	
  excesso	
  
               c. Aumentar	
  as	
  propinas	
  dos	
  alunos	
  do	
  ensino	
  superior.	
  
	
  
Declarações	
  prévias:	
  
	
  
     1. Portugal	
  teve	
  recentemente	
  a	
  oportunidade	
  de	
  conhecer	
  um	
  vigarista	
  que	
  se	
  
        fez	
  passar	
  por	
  técnico	
  de	
  um	
  serviço	
  qualquer	
  da	
  ONU.	
  	
  Esse	
  vigarista	
  fez,	
  no	
  
        entanto,	
  declarações	
  perfeitamente	
  em	
  linha	
  com	
  as	
  análises	
  de	
  muitos	
  mui	
  
        doutos	
  comentadores,	
  deixando	
  pairar	
  a	
  dúvida	
  preocupante	
  sobre	
  a	
  real	
  
        diferença	
  entre	
  vigarice	
  e	
  douta	
  autoridade.	
  Salvaguardo,	
  portanto,	
  a	
  
        possibilidade	
  de	
  o	
  relatório	
  a	
  que	
  tive	
  acesso	
  ter	
  sido	
  feito	
  por	
  um	
  ou	
  vários	
  
        vigaristas.	
  Com	
  efeito,	
  apesar	
  de	
  nele	
  constar	
  explicitamente	
  que	
  não	
  pode	
  
ser	
  distribuído	
  sem	
  autorização	
  explícita	
  do	
  Governo	
  de	
  Portugal	
  e	
  do	
  FMI,	
  
           eu	
  consegui	
  uma	
  cópia	
  dele	
  logo	
  na	
  primeira	
  pesquisa	
  que	
  fiz	
  na	
  Internet.	
  
           Pode,	
  então,	
  acontecer	
  que	
  seja	
  falsamente	
  atribuído	
  a	
  uma	
  equipa	
  de	
  
           técnicos	
  do	
  FMI.	
  Se	
  for	
  esse	
  o	
  caso,	
  aqui	
  fica	
  o	
  meu	
  pedido	
  de	
  desculpas	
  
           sinceras.	
  O	
  relatório	
  que	
  aqui	
  se	
  comenta	
  é	
  dito	
  da	
  autoria	
  de	
  Gerd
        Schwartz, Paulo Lopes, Carlos Mulas Granados, Emily Sinnott,
        Mauricio Soto, e Platon Tinios, tem 77 páginas e 7 capítulos, e é
        identificado com o título “Portugal,	
  RETHINKING	
  THE	
  STATE—SELECTED	
  
        EXPENDITURE	
  REFORM	
  OPTIONS”, sendo da responsabilidade do “Fiscal
        Affairs Department” do FMI.	
  
     2. Os meus comentários são completamente independentes de qualquer outra
        apreciação sobre o assunto: não li qualquer jornal, não ouvi qualquer
        notícia na TV sobre ele. Na verdade, tomei conhecimento desse relatório, a
        partir de uma informação única de um colega, segundo a qual o FMI
        propunha a dispensa de 50 mil professores, o que, como se verá, não é bem
        assim.	
  
     3. Esta análise crítica incide exclusivamente sobre o capítulo VI (das páginas
        58 a 63) – “Education Spending – a) Background; b) Key Issues; c) Reform
        options.”	
  
	
  
Comentário	
  Crítico	
  
	
  
     1. As	
  bases	
  em	
  que	
  assenta	
  a	
  parte	
  em	
  apreço	
  do	
  referido	
  relatório,	
  as	
  questões-­‐
        chave	
  e	
  a	
  proposta	
  de	
  reforma	
  do	
  sistema	
  educativo	
  não	
  se	
  articulam	
  entre	
  
        si,	
  nem	
  apresentam	
  o	
  mínimo	
  de	
  consistência	
  que	
  um	
  grupo	
  de	
  especialistas	
  
        deveria	
  ser	
  capaz	
  de	
  garantir.	
  	
  
                a. Poderíamos	
  relacionar,	
  por	
  exemplo,	
  a	
  ineficiência	
  do	
  sistema	
  
                   educativo	
  com	
  a	
  questão	
  importante	
  que	
  diz	
  respeito	
  à	
  prevalência	
  de	
  
                   rigidez	
  no	
  sistema,	
  	
  mas	
  as	
  propostas	
  de	
  reforma	
  não	
  respondem	
  a	
  
                   nada	
  que	
  se	
  pareça	
  ou	
  possa,	
  por	
  lapso,	
  ser	
  confundido	
  com	
  essa	
  
                   ineficiência	
  e	
  rigidez.	
  
                b. A	
  excessiva	
  (por	
  comparação	
  com	
  alguns	
  –	
  não	
  todos	
  –	
  os	
  países	
  da	
  
                   UE)	
  fragmentação	
  do	
  sistema	
  educativo	
  também	
  poderia	
  relacionar-­‐
                   se	
  com	
  a	
  questão	
  da	
  dita	
  rigidez,	
  mas	
  nas	
  propostas	
  de	
  reforma	
  nada	
  
                   se	
  diz	
  a	
  esse	
  respeito.	
  Note-­‐se	
  a	
  este	
  propósito	
  que	
  os	
  técnicos	
  do	
  FMI	
  
                   não	
  identificam	
  sequer	
  corretamente	
  os	
  quatro	
  ciclos	
  de	
  escolaridade	
  
                   em	
  Portugal:	
  atribuem	
  dois	
  ao	
  ensino	
  básico	
  e	
  dois	
  ao	
  ensino	
  
                   secundário;	
  ora,	
  isso	
  é	
  o	
  que	
  acontece	
  em	
  Espanha,	
  por	
  exemplo,	
  mas	
  
                   em	
  Portugal	
  três	
  são	
  ditos	
  do	
  ensino	
  básico	
  e	
  só	
  um	
  do	
  ensino	
  
                   secundário.	
  
                c. O	
  apregoado	
  desajuste	
  (importava	
  saber	
  a	
  quê)	
  da	
  rede	
  escolar	
  nas	
  
                   zonas	
  rurais	
  poderia	
  servir	
  para	
  explicar	
  por	
  que	
  razão	
  as	
  escolas	
  
                   mais	
  caras	
  não	
  são	
  as	
  que	
  obtêm	
  os	
  melhores	
  resultados	
  e	
  para	
  
                   explicar	
  uma	
  parte	
  dos	
  custos	
  acrescidos	
  nas	
  escolas	
  públicas,	
  mas	
  
não	
  serve	
  para	
  nada,	
  isto	
  é,	
  não	
  é	
  articulado	
  nem	
  com	
  a	
  realidade	
  
             social	
  do	
  país,	
  nem	
  com	
  qualquer	
  medida	
  eficaz	
  de	
  reforma	
  (os	
  
             autores	
  reconhecem	
  que	
  a	
  continuação	
  da	
  política	
  de	
  agrupamentos	
  
             de	
  escolas	
  já	
  não	
  trará	
  grandes	
  benefícios).	
  Contraditoriamente,	
  é	
  
             assumido	
  que	
  as	
  escolas	
  em	
  ambientes	
  socio-­‐económicos	
  menos	
  
             vantajosos	
  têm	
  melhores	
  resultados	
  e	
  são	
  mais	
  baratas.	
  Sem	
  outra	
  
             explicação	
  adicional,	
  seria	
  legítimo	
  deduzir	
  do	
  que	
  fica	
  dito	
  que	
  as	
  
             escolas	
  das	
  zonas	
  rurais	
  se	
  inserem	
  em	
  ambientes	
  sócio-­‐económicos	
  
             mais	
  vantajosos	
  e	
  são	
  mais	
  caras.	
  Ainda	
  que	
  não	
  seja	
  esta	
  a	
  ideia	
  que	
  
             se	
  pretende	
  transmitir,	
  a	
  falta	
  de	
  rigor	
  é,	
  neste	
  caso,	
  demasiado	
  
             inaceitável,	
  uma	
  vez	
  que	
  tem	
  origem	
  em	
  supostos	
  técnicos	
  bem	
  
             documentados	
  e	
  competentes.	
  	
  
      d. O	
  ponto	
  da	
  proposta	
  de	
  reforma	
  que	
  se	
  refere	
  à	
  melhoria	
  de	
  
             resultados	
  com	
  redução	
  de	
  custos	
  só	
  diz:	
  “To this end, the government
             will have to make difficult choices based on cost-efficiency and
             effectiveness considerations”. Rigorosamente mais nada. Não sei quanto
             se paga a estes técnicos para os compensar por uma reflexão desta ordem
             de importância, mas é por afirmações deste género que tomei, em devido
             tempo, a precaução de salvaguardar a possibilidade de o relatório que
             estou a comentar poder não ser genuíno. O termo “difficult choices”
             deveria ser banido da linguagem política, porque só pode ser identificado
             com a incompetência dos decisores.	
  
2. Esta	
  parte	
  do	
  relatório	
  contém	
  falsidades	
  graves:	
  
      a. Os	
  professores	
  são	
  um	
  grupo	
  privilegiado	
  em	
  relação	
  à	
  sociedade	
  em	
  
             geral	
  e	
  aos	
  funcionários	
  públicos	
  em	
  particular,	
  dizem	
  os	
  relatores.	
  Isto	
  
             é	
  falso.	
  Os	
  professores	
  recebem	
  um	
  salário	
  que	
  não	
  é	
  superior	
  ao	
  de	
  
             outros	
  profissionais	
  com	
  formaçã.	
  o	
  superior	
  que	
  exerçam	
  uma	
  
             profissão	
  de	
  acordo	
  com	
  a	
  sua	
  formação.	
  Por	
  outro	
  lado,	
  os	
  salários	
  
             dos	
  técnicos	
  superiores	
  do	
  Estado	
  não	
  apresentam	
  discrepâncias	
  com	
  
             os	
  dos	
  professores.	
  
      b. As	
  reduções	
  salariais	
  não	
  atingiram	
  os	
  professores	
  mais	
  bem	
  pagos.	
  
             Esta	
  afirmação	
  é	
  ridiculamente	
  falsa.	
  Os	
  mais	
  bem	
  pagos	
  foram	
  mais	
  
             atingidos	
  pelas	
  reduções	
  salariais	
  do	
  que	
  os	
  menos	
  bem	
  pagos.	
  
      c. As	
  reduções	
  salariais	
  não	
  atingiram	
  os	
  professores	
  menos	
  competentes.	
  
             Isto	
  é	
  absolutamente	
  ridículo.	
  O	
  sistema	
  de	
  avaliação	
  de	
  desempenho	
  
             de	
  professores	
  tornou-­‐se	
  inútil	
  devido	
  ao	
  congelamento	
  de	
  
             progressões	
  na	
  carreira.	
  Portanto,	
  os	
  menos	
  competentes	
  não	
  foram	
  
             penalizados,	
  porque	
  os	
  mais	
  competentes	
  também	
  não	
  foram	
  
             premiados.	
  
      d. O	
  modelo	
  de	
  financiamento	
  atual	
  das	
  escolas	
  gera	
  desigualdades	
  nos	
  
             custos	
  por	
  aluno	
  e	
  nos	
  recursos	
  disponíveis	
  no	
  conjunto	
  das	
  escolas.	
  
             Afinal,	
  essas	
  desigualdades	
  não	
  têm	
  a	
  ver	
  com	
  o	
  desajuste	
  da	
  rede	
  
             escolar,	
  como	
  é	
  dito	
  noutro	
  ponto?	
  Modelo	
  de	
  financiamento	
  é	
  uma	
  
             coisa;	
  rede	
  escolar	
  e	
  custos	
  a	
  ela	
  associados	
  é	
  outra.	
  
      e. Há	
  evidências	
  de	
  que	
  os	
  custos	
  por	
  aluno	
  nas	
  escolas	
  com	
  contrato	
  de	
  
             associação	
  (“Charter	
  Schools”)	
  é	
  mais	
  baixo	
  do	
  que	
  nas	
  escolas	
  públicas.	
  
Essas	
  evidências	
  referem-­‐se	
  às	
  transferências	
  do	
  Estado	
  e	
  não	
  ao	
  
                   custo	
  das	
  escolas.	
  A	
  escolas	
  “charter”	
  que	
  os	
  senhores	
  do	
  FMI	
  
                   conhecem	
  em	
  países	
  como	
  os	
  EUA,	
  a	
  Suécia,	
  etc.,	
  são	
  escolas	
  
                   completamente	
  públicas	
  de	
  gestão	
  privada;	
  as	
  escolas	
  “charter”	
  em	
  
                   Portugal	
  só	
  são	
  parcialmente	
  públicas;	
  um	
  número	
  variável	
  de	
  alunos	
  
                   paga	
  mensalidades	
  tal	
  como	
  pagariam	
  num	
  colégio	
  privado.	
  Qualquer	
  
                   que	
  seja	
  a	
  origem	
  dessas	
  evidências	
  (Tribunal	
  de	
  Contas	
  ou	
  outra),	
  o	
  
                   estudo,	
  tal	
  como	
  é	
  apresentado	
  neste	
  relatório,	
  não	
  é	
  sério.	
  A	
  
                   comparação	
  dos	
  custos	
  das	
  escolas	
  com	
  contrato	
  de	
  associação	
  com	
  os	
  
                   custos	
  das	
  escolas	
  públicas	
  não	
  são	
  sérios,	
  são	
  mesmo	
  
                   intelectualmente	
  desonestos,	
  se	
  às	
  escolas	
  com	
  contrato	
  de	
  associação	
  
                   não	
  forem,	
  como	
  não	
  são,	
  contabilizados	
  os	
  custos	
  de	
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  professores.	
  Esta	
  visão	
  
                   alucinada	
  da	
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  não	
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  de	
  forma	
  alguma,	
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  que	
  seria	
  legítimo	
  
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  de	
  técnicos	
  credenciados.	
  
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  com	
  uma	
  medida	
  simples,	
  a	
  da	
  mobilidade	
  especial	
  
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  professores	
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  voluntária	
  –	
  as	
  reformas	
  voluntárias	
  –	
  
                   revela-­‐se	
  insuficiente	
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  cara	
  para	
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  custos	
  
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                   professores	
  desde	
  já,	
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  seguramente	
  mais	
  num	
  futuro	
  próximo.	
  Esta	
  
                   alucinação	
  já	
  é	
  própria	
  de	
  um	
  sociopata.	
  Com	
  efeito,	
  desta	
  forma	
  
                   simples,	
  todos	
  os	
  problemas	
  da	
  escola	
  ficarão	
  resolvidos.	
  
	
  
Fico por aqui, por hoje.

9 de Janeiro, 2013
Jorge Barbosa
	
  

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O "Relatório" do FMI sobre a Educação em Portugal - Comentário Crítico

  • 1. O  “Relatório”  do  FMI  sobre  a  Educação  em  Portugal     Cenário:   1. O  sistema  educativo  tem  menos  sucesso  do  que  a  média  europeia   2. O  sistema  educativo  português  é  mais  fragmentado  do  que  os  sistemas  de   outros  países  europeus   3. A  rede  escolar,  sobretudo  nas  zonas  rurais,  é  pouco  ajustada   4. O  aumento  da  procura  de  ensino  superior  é  um  desafio   5. Os  professores  das  escolas  públicas  constituem  um  grupo  privilegiado   6. Tem  havido  alterações  na  composição  da  procura  de  serviços  de  educação   7. A  redução  do  número  de  alunos  implica  um  significativo  ajustamento  na  rede   escolar     Questões-­‐Chave:   1. O  sistema  educativo  tem  um  número  exagerado  de  profissionais   2. A  prevalência  de  rigidez  no  sistema  educativo  agrava  a  tendência  para  o   excesso  de  profissionais   3. Até  agora,  as  reduções  salariais  não  atingiram  os  professores  menos   competentes  ou  mais  bem  pagos   4. O  modelo  de  financiamento  atual  das  escolas  gera  desigualdades  nos  custos   por  aluno  e  nos  recursos  disponíveis  no  conjunto  das  escolas   5. Há  evidências  de  que  os  custos  por  aluno  nas  escolas  com  contrato  de   associação  (“Charter  Schools”)  é  mais  baixo  do  que  nas  escolas  públicas.     Propostas  de  reforma:   1. Melhorar  os  resultados  com  menos  custos   2. Dar  continuidade  à  política  de  agrupamento  de  escolas   3. Alcançar  poupanças  mais  significativas  exige  a  flexibilização  do  sistema   educativo,  reduzindo  o  papel  do  Estado  como  fornecedor  de  serviços  de   educação   a. Implementação  de  uma  fórmula  simples  de  financiamento  por  aluno   b. Aplicar  modelos  de  mobilidade  especial  para  professores  em  excesso   c. Aumentar  as  propinas  dos  alunos  do  ensino  superior.     Declarações  prévias:     1. Portugal  teve  recentemente  a  oportunidade  de  conhecer  um  vigarista  que  se   fez  passar  por  técnico  de  um  serviço  qualquer  da  ONU.    Esse  vigarista  fez,  no   entanto,  declarações  perfeitamente  em  linha  com  as  análises  de  muitos  mui   doutos  comentadores,  deixando  pairar  a  dúvida  preocupante  sobre  a  real   diferença  entre  vigarice  e  douta  autoridade.  Salvaguardo,  portanto,  a   possibilidade  de  o  relatório  a  que  tive  acesso  ter  sido  feito  por  um  ou  vários   vigaristas.  Com  efeito,  apesar  de  nele  constar  explicitamente  que  não  pode  
  • 2. ser  distribuído  sem  autorização  explícita  do  Governo  de  Portugal  e  do  FMI,   eu  consegui  uma  cópia  dele  logo  na  primeira  pesquisa  que  fiz  na  Internet.   Pode,  então,  acontecer  que  seja  falsamente  atribuído  a  uma  equipa  de   técnicos  do  FMI.  Se  for  esse  o  caso,  aqui  fica  o  meu  pedido  de  desculpas   sinceras.  O  relatório  que  aqui  se  comenta  é  dito  da  autoria  de  Gerd Schwartz, Paulo Lopes, Carlos Mulas Granados, Emily Sinnott, Mauricio Soto, e Platon Tinios, tem 77 páginas e 7 capítulos, e é identificado com o título “Portugal,  RETHINKING  THE  STATE—SELECTED   EXPENDITURE  REFORM  OPTIONS”, sendo da responsabilidade do “Fiscal Affairs Department” do FMI.   2. Os meus comentários são completamente independentes de qualquer outra apreciação sobre o assunto: não li qualquer jornal, não ouvi qualquer notícia na TV sobre ele. Na verdade, tomei conhecimento desse relatório, a partir de uma informação única de um colega, segundo a qual o FMI propunha a dispensa de 50 mil professores, o que, como se verá, não é bem assim.   3. Esta análise crítica incide exclusivamente sobre o capítulo VI (das páginas 58 a 63) – “Education Spending – a) Background; b) Key Issues; c) Reform options.”     Comentário  Crítico     1. As  bases  em  que  assenta  a  parte  em  apreço  do  referido  relatório,  as  questões-­‐ chave  e  a  proposta  de  reforma  do  sistema  educativo  não  se  articulam  entre   si,  nem  apresentam  o  mínimo  de  consistência  que  um  grupo  de  especialistas   deveria  ser  capaz  de  garantir.     a. Poderíamos  relacionar,  por  exemplo,  a  ineficiência  do  sistema   educativo  com  a  questão  importante  que  diz  respeito  à  prevalência  de   rigidez  no  sistema,    mas  as  propostas  de  reforma  não  respondem  a   nada  que  se  pareça  ou  possa,  por  lapso,  ser  confundido  com  essa   ineficiência  e  rigidez.   b. A  excessiva  (por  comparação  com  alguns  –  não  todos  –  os  países  da   UE)  fragmentação  do  sistema  educativo  também  poderia  relacionar-­‐ se  com  a  questão  da  dita  rigidez,  mas  nas  propostas  de  reforma  nada   se  diz  a  esse  respeito.  Note-­‐se  a  este  propósito  que  os  técnicos  do  FMI   não  identificam  sequer  corretamente  os  quatro  ciclos  de  escolaridade   em  Portugal:  atribuem  dois  ao  ensino  básico  e  dois  ao  ensino   secundário;  ora,  isso  é  o  que  acontece  em  Espanha,  por  exemplo,  mas   em  Portugal  três  são  ditos  do  ensino  básico  e  só  um  do  ensino   secundário.   c. O  apregoado  desajuste  (importava  saber  a  quê)  da  rede  escolar  nas   zonas  rurais  poderia  servir  para  explicar  por  que  razão  as  escolas   mais  caras  não  são  as  que  obtêm  os  melhores  resultados  e  para   explicar  uma  parte  dos  custos  acrescidos  nas  escolas  públicas,  mas  
  • 3. não  serve  para  nada,  isto  é,  não  é  articulado  nem  com  a  realidade   social  do  país,  nem  com  qualquer  medida  eficaz  de  reforma  (os   autores  reconhecem  que  a  continuação  da  política  de  agrupamentos   de  escolas  já  não  trará  grandes  benefícios).  Contraditoriamente,  é   assumido  que  as  escolas  em  ambientes  socio-­‐económicos  menos   vantajosos  têm  melhores  resultados  e  são  mais  baratas.  Sem  outra   explicação  adicional,  seria  legítimo  deduzir  do  que  fica  dito  que  as   escolas  das  zonas  rurais  se  inserem  em  ambientes  sócio-­‐económicos   mais  vantajosos  e  são  mais  caras.  Ainda  que  não  seja  esta  a  ideia  que   se  pretende  transmitir,  a  falta  de  rigor  é,  neste  caso,  demasiado   inaceitável,  uma  vez  que  tem  origem  em  supostos  técnicos  bem   documentados  e  competentes.     d. O  ponto  da  proposta  de  reforma  que  se  refere  à  melhoria  de   resultados  com  redução  de  custos  só  diz:  “To this end, the government will have to make difficult choices based on cost-efficiency and effectiveness considerations”. Rigorosamente mais nada. Não sei quanto se paga a estes técnicos para os compensar por uma reflexão desta ordem de importância, mas é por afirmações deste género que tomei, em devido tempo, a precaução de salvaguardar a possibilidade de o relatório que estou a comentar poder não ser genuíno. O termo “difficult choices” deveria ser banido da linguagem política, porque só pode ser identificado com a incompetência dos decisores.   2. Esta  parte  do  relatório  contém  falsidades  graves:   a. Os  professores  são  um  grupo  privilegiado  em  relação  à  sociedade  em   geral  e  aos  funcionários  públicos  em  particular,  dizem  os  relatores.  Isto   é  falso.  Os  professores  recebem  um  salário  que  não  é  superior  ao  de   outros  profissionais  com  formaçã.  o  superior  que  exerçam  uma   profissão  de  acordo  com  a  sua  formação.  Por  outro  lado,  os  salários   dos  técnicos  superiores  do  Estado  não  apresentam  discrepâncias  com   os  dos  professores.   b. As  reduções  salariais  não  atingiram  os  professores  mais  bem  pagos.   Esta  afirmação  é  ridiculamente  falsa.  Os  mais  bem  pagos  foram  mais   atingidos  pelas  reduções  salariais  do  que  os  menos  bem  pagos.   c. As  reduções  salariais  não  atingiram  os  professores  menos  competentes.   Isto  é  absolutamente  ridículo.  O  sistema  de  avaliação  de  desempenho   de  professores  tornou-­‐se  inútil  devido  ao  congelamento  de   progressões  na  carreira.  Portanto,  os  menos  competentes  não  foram   penalizados,  porque  os  mais  competentes  também  não  foram   premiados.   d. O  modelo  de  financiamento  atual  das  escolas  gera  desigualdades  nos   custos  por  aluno  e  nos  recursos  disponíveis  no  conjunto  das  escolas.   Afinal,  essas  desigualdades  não  têm  a  ver  com  o  desajuste  da  rede   escolar,  como  é  dito  noutro  ponto?  Modelo  de  financiamento  é  uma   coisa;  rede  escolar  e  custos  a  ela  associados  é  outra.   e. Há  evidências  de  que  os  custos  por  aluno  nas  escolas  com  contrato  de   associação  (“Charter  Schools”)  é  mais  baixo  do  que  nas  escolas  públicas.  
  • 4. Essas  evidências  referem-­‐se  às  transferências  do  Estado  e  não  ao   custo  das  escolas.  A  escolas  “charter”  que  os  senhores  do  FMI   conhecem  em  países  como  os  EUA,  a  Suécia,  etc.,  são  escolas   completamente  públicas  de  gestão  privada;  as  escolas  “charter”  em   Portugal  só  são  parcialmente  públicas;  um  número  variável  de  alunos   paga  mensalidades  tal  como  pagariam  num  colégio  privado.  Qualquer   que  seja  a  origem  dessas  evidências  (Tribunal  de  Contas  ou  outra),  o   estudo,  tal  como  é  apresentado  neste  relatório,  não  é  sério.  A   comparação  dos  custos  das  escolas  com  contrato  de  associação  com  os   custos  das  escolas  públicas  não  são  sérios,  são  mesmo   intelectualmente  desonestos,  se  às  escolas  com  contrato  de  associação   não  forem,  como  não  são,  contabilizados  os  custos  de  atividades  com   apoios  educativos  (que  não  se  relacionem  com  a  educação  especial),   com  salas  de  estudo  e  outras  pagas  pelos  pais  e  que  nas  escolas   públicas  são  gratuitas,  e  as  mensalidades  dos  alunos  que  não  são   abrangidos  pelo  contrato  de  associação.   3. As  propostas  de  reforma  do  sistema  educativo  não  são  propostas  dignas  de   técnicos  competentes  na  área  da  educação.   a. Segundo  estes  técnicos,  muita  coisa  ficará  milagrosamente  resolvida,   se  o  Estado  se  afastar  da  gestão  das  escolas  públicas.  Para  além  da   profunda  ignorância  sobre  a  cultura  portuguesa  e  os  condicionalismos   que  ela,  muito  legitimamente  (pelo  menos  tanto  como  em  qualquer   outro  país),  impõe  às  decisões  políticas,  os  técnicos  revelam  não  ter   qualquer  ideia  sobre  o  que  é  necessário  fazer,  que  não  seja  a  de  dizer   que  outros,  que  não  os  nossos  governantes,  resolverão  os  problemas   só  porque  as  suas  açoes  serão  determinadas  pela  necessidade  de   lucro.  Quanto  aos  governantes  atuais,  terão  certamente  razão,  mas  a   proposta  que  fazem  é  idiota.   b. O  que  não  ficar  resolvido  pelo  maravilhoso  estímulo  do  lucro,  será   resolvido  pela  redução  dos  salários  dos  professores.  Esta  visão   alucinada  da  realidade  não  é,  de  forma  alguma,  a  que  seria  legítimo   esperar  de  técnicos  credenciados.   c. Finalmente,  com  uma  medida  simples,  a  da  mobilidade  especial   forçada  dos  professores  (a  voluntária  –  as  reformas  voluntárias  –   revela-­‐se  insuficiente  e  cara  para  o  Estado  porque  aumenta  os  custos   com  pensões  de  reforma)  o  governo  poderá  dispensar  30  a  50  mil   professores  desde  já,  e  seguramente  mais  num  futuro  próximo.  Esta   alucinação  já  é  própria  de  um  sociopata.  Com  efeito,  desta  forma   simples,  todos  os  problemas  da  escola  ficarão  resolvidos.     Fico por aqui, por hoje. 9 de Janeiro, 2013 Jorge Barbosa