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Platão e o Saber


                                                                   16 de Novembro de 2012, Jorge Barbosa




A Construção do Conhecimento
Neste texto de apoio, é utilizada a perspetiva seguida pela esmagadora maioria dos estudiosos de
Platão que interpreta as datas de publicação dos seus diálogos como exprimindo a evolução
intelectual e ideológica de Platão. Assim, não é seguida a abordagem “analítica”, segundo a qual cada
obra deve ser interpretada exclusivamente a partir das informações presentes no seu texto.

                                No diálogo “O          Primeira resposta: construir um quadrado, formado
                                Ménon”, o              a partir do dobro do lado do quadrado inicial. Se o
                                interlocutor de        quadrado inicial tem 2cm, constrói-se um quadrado
                                Sócrates (Ménon)       com 4 cm de lado. Mas esta estratégia não dá um
                                protesta contra a      quadrado de 8cm2 , mas de 16 cm2.
                                metodologia seguida
                                por Sócrates e
                                coloca o problema
que ficou conhecido como “paradoxo de Ménon”:
Para que serve refutar sistematicamente alguém
que investiga o que uma coisa é? É que mesmo que
a resposta diga o que essa coisa é, o investigador
não pode reconhecer aquilo mesmo que ignora
completamente. Por outras palavras como é que
podemos alcançar o estado de saber a partir do
estado oposto, designado pelo termo ignorância?
Para responder a este paradoxo, Platão escreve,
pelo menos três diálogos: “O Ménon”, o “Teeteto”
e o “Sofista”. Só avança com uma solução
definitiva neste último. Vamos ver agora qual foi o
seu percurso evolutivo.                                Segunda resposta: construir um quadrado com o
                                                       lado medindo o mesmo que o lado do quadrado
O diálogo com o escravo                                inicial mais metade desse valor (2+1)(2+1). Mas o
Sócrates pede a um escravo sem instrução que lhe       novo quadrado também excede o dobro do
diga qual deve ser a linha sobre a qual se pode        quadrado inicial: dá um quadrado de 9cm2.
construir um quadrado de área dupla de um
quadrado dado.                                         Sócrates sugere a construção de um quadrado a
                                                       partir da diagonal do primeiro.

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É possível aprender a partir da ignorância
O rapaz reconhece que o quadrado construído sobre a diagonal do original é o da área dupla. Deste modo,
Sócrates alega ter conseguido provar que: Aquele que ignora o que quer que seja tem em si opiniões
verdadeiras sobre aquilo que ignora.

Na prática, Sócrates prova que um diálogo ou interrogatório bem conduzido permite que aquele que ignora
venha a conseguir saber, por si mesmo, aquilo que ignorava, mas tinha “esquecido”. Vejamos, então, o que
entende Sócrates por “conhecimento”, por “aprendizagem” e por “reminiscência”.

Conhecimento
Sempre que Sócrates faz uma pergunta a Ménon, pede-lhe que responda em seu próprio nome.

       Esta exigência corresponde a uma das características do conhecimento: a coerência consigo mesmo. O
       saber tem de ser assumido como tal pelo sujeito. De outro modo, não será possível refutar esse saber
       porque não haverá ninguém que responda por ele.

       A segunda característica do saber é a consistência, ou a coerência desse saber com outros saberes. Por
       outras palavras, o saber não pode apresentar contradições internas nem contradições externas (com
       outros saberes que digam respeito ao mesmo assunto). Por exemplo: um quadrado com o dobro de lado
       de um outro não pode ser entendido como tendo o dobro da área do primeiro, porque contraria os
       saberes sobre o que é um quadrado, sobre o que é o dobro, etc.

       Uma vez que a verdade das opiniões decorre da coerência e da consistência do saber, a descoberta de
       qualquer delas deve ser compreensível para qualquer sujeito dotado de razão. Esta é a terceira
       característica do conhecimento. É esta característica que permite ao escravo concluir, primeiro, que
       acha que sabe, depois, que sabe que não sabe e finalmente que é capaz de ficar a saber.

Esta caracterização do conhecimento corresponde a uma verdadeira ruptura com o que vulgarmente se
entendia por “conhecimento” em Atenas, na época de Platão. Para Platão, com efeito, o conhecimento não é
simplesmente um conjunto de informações estabelecidas, fixadas e susceptíveis de serem transmitidas a
outros. Implica também a coerência, a consistência e a compreensibilidade.

A concepção platónica de conhecimento vai influenciar o pensamento ocidental até aos dias de hoje.
Qualquer professor pretende que os alunos se apropriem das informações relevantes e as façam suas, que as
utilizem de forma consistente e que as transmitam de forma compreensível.

Reflexão: No entanto, esta concepção platónica, embora útil em termos práticos na gestão do dia a dia (isto é: ao nível do senso
comum) levanta atualmente sérios problemas filosóficos. A principal crítica dirige-se sobretudo contra a reformulação da
concepção platónica na época moderna (a partir do século XVII). A tese de Descartes é a de que, sendo próprio do ser humano
ser um ser racional (o bom senso é a coisa mais bem distribuída do mundo), tudo o que seja coerente, consistente e compreensível
à razão humana é suscetível de ser aprendido por qualquer ser humano, uma vez que todos são racionais. Não sendo verdade que
isso aconteça na prática, esta teoria deu origem a uma imensa quantidade de “deficiências” que explicariam por que razão
alguns seres racionais não aprendiam tudo o que fosse conhecimento: discalculia, disgrafia, dislexia, disortografia, afasia,
disfasia, atraso mental, etc., etc. Verificando-se ainda que algumas pessoas não aprendiam por não prestarem atenção às coisas,
inventaram-se ainda outras “deficiências”, “disfunções”, etc. relacionadas com “défice de atenção”, “hiperatividade”,
“depressão”, etc., etc. Ora, sendo verdade que existem problemas desta natureza, ainda é mais verdade que a maior parte deles
tem mais origem no erro de conceber o conhecimento dessa forma, do que exclusivamente nas características das pessoas. No
mínimo, temos de admitir que existem formas distintas, igualmente racionais ou próprias de seres humanos, de entender a
realidade, de inteligência das coisas, e ainda que esse entendimento e essa racionalidade não funcionam sem componentes
energéticas ou emocionais que os ativem e lhes dêem sentido. A valorização da razão não tem de implicar o racionalismo, como
forma de entender a razão, por si só, como condição suficiente e necessária para o conhecimento.




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Aprendizagem
No diálogo de Sócrates com Ménon (a obra é de Platão - não esquecer), o conceito de aprendizagem decorre,
em primeiro lugar, do conceito de conhecimento. Neste sentido, a aprendizagem consiste no processo de,
através de perguntas e respostas, um sujeito ser levado a exprimir uma opinião verdadeira (adequada à
realidade) acerca daquilo que ignorava. A questão que se coloca de imediato é: “mas se ignorava, como foi
que deixou de ignorar”?

Vejamos, então, como podemos interpretar, em linguagem atual, a tese de Platão:

       Do ponto de vista do rapaz, todas as respostas que dá são verdadeiras porque exprimem a verdade, tal
       como ela é para ele naquele momento;

       Essa verdade é posta em causa sempre que o rapaz compreende que uma das respostas, pelo facto de
       contradizer outras, não pode ser verdade;

       Esta concepção intuitiva de “verdade” é confirmada quando o rapaz compreende que, ao concordarem
       umas com as outras, todas as proposições antes expressas se tornam verdadeiras: é verdade que não se
       consegue obter um quadrado que tenha o dobro da área de um outro, duplicando a valor do lado, etc., e
       é verdade que se obtém esse quadrado que é o dobro do primeiro, se a linha de origem for a diagonal
       do primeiro.

Por outras palavras, nos termos de Platão (através das palavras de Sócrates) o escravo ignorava porque
julgava que sabia. Pelo contrário, soube que sabia - isto é: aprendeu -, quando, ao compreender que a
consistência das proposições admitidas lhe permitia certificar a verdade de cada uma delas, integrou no
conjunto aquela que respondia ao problema colocado por Sócrates.

Reminiscência
Para chegar a este ponto, segundo a afirmação de Sócrates, o escravo recordou. Aprender foi, afinal de
contas, recordar, através de um esforço de depuração de várias opiniões ou crenças verdadeiras, sendo que só
uma delas correspondia à resposta correta à pergunta de Sócrates.Mas recordou o quê?

Em primeiro lugar, recordou a Forma do quadrado. Mas como pode ele ter recordado uma coisa que, em boa
verdade, nem sabe o que quer dizer? O escravo não sabe qual é o conceito que tem Sócrates a respeito do
que é a Forma, ou a Ideia. Como recordou, então, essa coisa?

Vamos recorrer (de novo) a uma linguagem actual para compreender o que quer dizer Platão com o termo
“recordar”. O rapaz sabe falar grego; dispõe do vocabulário que lhe permite dialogar; também o sabe usar
para descrever o mundo em que vive, nomeadamente, referindo objetos com formas quadradas. Pode não
entender a passagem de um quadrado desenhado para um quadrado no espaço ou um espaço quadrado e daí
para o quadrado como forma ou como ideia. Mas mesmo assim compreende o que é o dobro de um
quadrado. Podemos então concluir que não é necessário saber o que é a “alma”, saber a teoria das Ideias de
Platão, para se ser capaz de aprender o que não se sabia. Por outro lado, todas as propriedades do quadrado,
quaisquer que sejam, são anteriores à sua descoberta por um geómetra. E nesta convicção se baseia Platão
para defender uma espécie de conhecimento a priori, isto é, que se fundamenta no facto de a Forma do
quadrado ser anterior ao desenho do quadrado e ao conhecimento dessa Forma por qualquer humano. Ora, é
essa Forma que a alma recorda de um mundo onde já viveu e onde a conheceu a ela e a todas as outras: o
Mundo das Ideias. A fragilidade de Platão está no facto de transpor esta perspetiva geométrica para a Ética e
para a Política. Mas essa já é outra questão.


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Alegoria da Caverna
Faz sentido fazer um ligeiro desvio para analisar uma das alegorias que Platão refere numa outra obra “A
República” (Livro VII): a Alegoria da Caverna.

Essa alegoria apresenta três Teses:

       A vida que os homens levam na cidade não é real - agora diríamos: não é autêntica.

       É necessário mudar a vida dos homens na cidade, justamente por não ser autêntica.

       Há que reorientar a vida da cidade, educando os cidadãos, com vista ao desenvolvimento da natureza
       humana.

Note-se que esta alegoria, conforme Platão afirma mais adiante na mesma obra, é um retrato metafórico de
uma cidade grega sua contemporânea, cujo nome ele não revela. Esta cidade é muito diferente das nossas
cidades atuais, no que diz respeito a coisas de pormenor, e, por isso, podemos ter alguma dificuldade em
compreender toda a mensagem de Platão. Temos, portanto, que fazer um esforço para valorizar o essencial
nessa alegoria.

A Caverna representa uma comunidade com as seguintes características:

       É uma comunidade fechada sobre si própria, formada por um conjunto limitado de cidadãos, habitando
       uma cidade muralhada. É o centro político de uma região mais extensa.

       A vida e a comunicação são sustentadas pelo exercício da palavra falada. Os cidadãos têm acesso à
       educação, sendo a educação “superior” (a partir da adolescência) assegurada pelos sofistas.

       A escrita é conhecida e divulgada, mas a sua função é essencialmente a de fixar as memórias orais,
       discursos, lições e mensagens pessoais, com vista a solidificar o ensino regular. A “educação sofística”
       desenvolve essa escrita, tendo em vista estabelecer um conjunto de modelos éticos e políticos,
       apoiados em textos “exemplares” para formação dos jovens ricos, supostamente candidatos a exercer o
       poder na cidade.

       O poder político está concentrado nas mãos de uma classe diminuta de proprietários - cerca de 30
       famílias. Esse poder dispõe de um centro de decisão e de uma burocracia bastante eficiente.

       Os sofistas desempenham um papel fundamental para a resolução de dois dos muitos problemas da
       cidade: a necessidade de formar quadros de funcionários superiores, políticos, militares e civis, e a
       realização das reformas requeridas por uma crise violenta, no caso desta cidade, associada a uma
       situação de guerra quase ininterrupta.

É esta cidade concreta que, com a descrição da multidão acorrentada, Platão pretende representar na sua
Alegoria da Caverna.

Então, a multidão está acorrentada no interior da caverna. Ao longe, por trás da multidão, passa uma
procissão de homens carregando estatuetas de figuras humanas e de animais. Atrás dessa procissão, há uma
fogueira acesa que ilumina esses homens e projeta a sua luz e sombras para a caverna. Forçados a olhar só
para a frente, os prisioneiros só conseguem ver as sombras dessa procissão projetada na parede da caverna.
Por não terem a possibilidade de captar os originais inteligíveis, conversam sobre as sombras projetadas,
como se de realidade se tratasse.

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Dito por outras palavras, os prisioneiros interpretam as imagens visíveis (as sombras projetadas) e audíveis
como se dos próprios originais se tratasse.

Podemos interpretar esta alegoria do seguinte modo:

       Para Platão, tanto a cidade como as almas individuais são análogas a uma caverna. Ambas são espaços
       fechados, física e psiquicamente.

       A Caverna é o espaço interior de cada um de nós, amplificado e projetado no espaço público da cidade.

       Para escapar da caverna, é necessário que as consciências individuais e coletiva encontrem formas de
       sair de si e da prisão que as confina.

Entretanto, um dos prisioneiros é arrastado para o exterior da caverna. No exterior, o prisioneiro é forçado a
endireitar-se e, nesse momento, os seus olhos ficam deslumbrados, enchendo-o de dor. A contemplação dos
originais é sentida como uma agressão, provocada pelo enfrentamento da luz da fogueira, que ilumina toda a
caverna. O espetáculo da visão dos originais começa por ser doloroso. Depois de ter escapado à sua clausura,
e só depois disso, o prisioneiro será capaz de compreender a ordem cósmica. Nestas condições, ser-lhe-á
possível comparar o mundo de que escapou com este original a que a sua libertação o conduziu.

O prisioneiro, entretanto, decide voltar à caverna para contar o que viu aos seu antigos companheiros. Se,
antes, os seus olhos tiveram dificuldade em se adaptar à luz, agora vão sofrer com a passagem da luz a
obscuridade. O fugitivo mostrar-se-á ofuscado e, por isso, será escarnecido pelos seus antigos companheiros
que o tratarão mesmo muito mal.

Esta alegoria aponta para a condição do filósofo e a sua situação na cidade, do mesmo modo que salienta a
função libertadora da filosofia, quer ao nível individual quer ao nível da política da cidade. Por outro lado,
remete-nos para a missão libertadora da busca da verdade; da verdade que está para além das aparências (das
sombras) e se encontra num outro mundo (o Mundo das Ideias) ao qual não devemos virar as costas.

A Verdade
Platão tem consciência de que o conceito de verdade não pode reduzir-se ao nível do que é exposto no
“Ménon” e na “República”. Se ficasse por aí, haveria o perigo real de a sua filosofia ser confundida com
uma nova mitologia. Por isso vai abordar o problema da verdade, confrontando as suas teses com as de
outros autores com muita influência na filosofia do seu tempo.

Em primeiro lugar, vai confrontar-se com as teses dos sofistas (e de Heraclito e seu seguidores). Neste caso,
a verdade é equacionada em confronto com a infalibilidade. No nosso tempo, poderíamos dizer “da verdade
com a ciência exata”. A sua pergunta é: o que é isso a que chamamos ciência, sendo que a ciência só pode
ser exata, porque, não o sendo, só pode ser ignorância? A obra que trata deste assunto é o “Teeteto”.

Na sua obra seguinte (“Sofistas”), apesar do título que lhe dá, vai confrontar-se com a tese de Parménides
(da escola Eleática). Neste caso, abordará o problema da verdade em confronto com a falsidade. É que no
Teeteto, Platão não tinha conseguido mostrar como, a partir da exigência da infalibilidade do saber, pode
haver lugar para o falso. O Teeteto, com efeito, termina com uma aporia (impasse, paradoxo, dúvida,
incerteza ou momento de auto-contradição).

O “Sofista” vai, portanto, renunciar ao debate sobre a infalibilidade e retomará a questão da relação entre a
verdade e a falsidade.

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Infalibilidade/Verdade - “O Saber é Sensação”
À pergunta de Sócrates sobre o que é o Saber (a Ciência exata, infalível), o jovem Teeteto responde:“o saber
é a sensação”. Sócrates associa esta resposta à tese de Protágoras, segundo a qual aquilo que cada homem
sente é o padrão (“a medida”) que lhe permite avaliar a realidade. O corolário desta tese é: A sensação é do
que sempre é e infalível, sendo saber. Esta tese parece empirista, mas não é certo que o seja. Na verdade,
aquilo que pretende defender é tão só a infalibilidade da sensação, porque não é possível errar através da
sensação, tendo como referência o ponto de vista de quem sente.

A refutação de Sócrates visa demonstrar, pelo contrário, que a infalibilidade é compatível com o erro. Mais:
a possibilidade de erro é indispensável para que possamos falar de infalibilidade. (Não existe infalibilidade,
nem falibilidade se não houver possibilidade de erro). Esta refutação de Sócrates resume-se do seguinte
modo: mesmo que cada homem se ache profundamente convencido da verdade das suas opiniões, a
evidência proporcionada nos debates públicos não pode permitir-lhe ignorar que as opiniões dos
outros discordam das dele. De resto, se todas as opiniões fossem verdadeiras, nenhuma investigação
seria possível, nem nenhum saber teria sentido.

Esta forma de argumentar coloca a opinião no lugar da única candidata a ser saber. Faltaria, então, saber
como, a partir da opinião, podemos aceder ao saber.

Infalibilidade/Verdade - “O Saber é Opinião Verdadeira”
O problema adquire aqui a sua verdadeira dimensão, uma vez que, a partir da identificação do saber com a
opinião verdadeira, se torna necessário definir as relações entre a verdade da opinião e a infalibilidade
(exatidão) do saber. A dificuldade consiste precisamente em avançar na resolução deste problema, pela via
da resolução do problema oposto, o problema da opinião falsa. Se admitimos que existem opiniões
verdadeiras, também por força teremos de admitir que existem opiniões falsas. Como as podemos distinguir
sem o Saber? Por outras palavras, antes de saber (antes de detetar uma opinião verdadeira) como podemos
saber que esta ou aquela opinião é falsa? E não sabendo qual é a falsa, como podemos saber qual é a
verdadeira? Estas perguntas não obtêm qualquer resposta aceitável.

Por isso, depois de esgotada a análise do problema a partir do saber (e também do ser), Sócrates vai tentar
outra via para, respeitando a tese (O saber é Opinião Verdadeira) tentar explicar a possibilidade do erro, isto
é, de opiniões falsas.

A primeira explicação será a troca de uma opinião por outra. Este tipo de erro pode manifestar-se através de
uma perceção ou de uma memória deficientes. Simplesmente, como podemos explicar o erro que não tem
origem na perceção como o daquele que se engana e diz que 7+5=11? Neste caso o erro só pode ser
explicado pelo esquecimento ou por uma efetiva confusão do saber com o erro. Mas como podemos nós
explicar o erro pelo saber? Sabendo que é um erro, como é que não o sabemos?

Estas questões teóricas, segundo Sócrates, não impedem que, na prática dos tribunais, os homens aceitem a
substituição do saber por qualquer opinião que considerem verdadeira, apesar de a objeção de Sócrates
contestar esta dissolução da infalibilidade na verdade. Os juízes decidem sem ciência (leia-se: sem ciência
exata).

Infalibilidade/Verdade - “O Saber é Opinião Verdadeira Justificada”
A partir daqui, a investigação de Platão (conduzida por Sócrates no diálogo) desloca-se para o enunciado
(ou “discurso”), que deveria conter o segredo da infalibilidade, pela via da justificação racional.


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Para justificar pelo discurso uma opinião verdadeira, seria necessário que o enunciado verdadeiro acerca de
algo fosse composto por nomes (partes), a respeito dos quais não fosse possível nenhuma explicação. A
noção de “elemento” pretende ser esse mínimo, incognoscível e indeclarável, consistindo o enunciado (a
proposição) na combinação de elementos, apenas nomeáveis e perceptíveis. Esta solução, segundo Sócrates,
também é impossível, pois daquilo que não pode ser enunciado, mas apenas nomeado, não pode haver razão
ou explicação. O enunciado seria tão inexplicável quanto os seus elementos. Por outro lado, o enunciado ou
proposição não pode produzir conhecimento porque essa possibilidade:

       Não poderá residir no fluxo vocal emitido pela boca, pois então bastaria dizer algo para saber;

       Não poderá residir na simples enumeração das partes daquilo que é descrito, pois o todo não é igual à
       soma das partes disjuntas;

       Não poderá consistir no conhecimento da diferença que distingue uma coisa das outras, pois esse
       conhecimento teria de ser anterior à produção do enunciado, que assim nada lhe acrescentaria.

A conclusão, assumida por Platão, vai ser drástica: o problema terá de ser abordado por outra via que
descarte a atribuição da infalibilidade ao saber.

Reflexão: na filosofia contemporânea, a questão da racionalidade do discurso é retomada por duas
correntes de pensamento. A do círculo de Viena que assume a crítica da linguagem como Kulturkritik,
como crítica da civilização ou da cultura. E, numa perspectiva muito diferente e até contraditória,
Nietzsche, Adorno e a escola de Frankfurt, Derrida, Foucault, Habermas que propõem a crítica da
linguagem como instrumento de comunicação e de dominação social. A primeira procura estudar a
relação que pode haver entre a questão do funcionamento da linguagem e a descrição verdadeira do
mundo (dando sequência às teses que Platão deixou em suspenso) e a segunda (contestando a forma
como a tradição platónica influencia o nosso mundo actual) equaciona o papel do discurso racional na
comunicação social, como exercício de poder e de dominação, por exemplo: o facto de o conceito de
liberdade estar a servir sobretudo para justificar a livre iniciativa, quer dizer, acrescentam os teóricos da
Escola de Frankfurt, a livre exploração do trabalho.


Verdade/Falsidade - “O Sofista”

No “Sofista”, Platão renunciará à infalibilidade, retomando a questão da relação da verdade com a falsidade.
Até aqui, embora apresente as teses dos outros (sobretudo sofistas) com todo o cuidado e respeito, por vezes,
mesmo melhorando-as, para depois mostrar a sua total impossibilidade, neste diálogo assume a tarefa
complexa de rever e reformular a tese de Parménides (no essencial: o princípio de identidade, segundo o
qual o caminho para a verdade é que “o que é, é e não pode deixar de ser, e o que não é, não é, nem pode
ser”. Parménides defende que o ser e o não-ser são contrários. Platão, partindo da impossibilidade de
relacionar qualquer coisa com o não-ser, propõe uma solução nova: que a negação (não-ser) seja considerada
não como contrária à afirmação (ser), mas como diferente (o outro).

Deste modo, Platão desloca de novo o problema para a linguagem considerando o enunciado verdadeiro
aquele que “diz as coisas que são, como são” e falso quando as diz “diferentes do que são” (ou outras).

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Defende, então, algumas teses a respeito das características de um qualquer enunciado:

       É considerado a expressão verbal do pensamento;

       Consiste na afirmação e na negação;

       Enquanto não verbalizado, é opinião;

       Pode ser verdadeiro, descrevendo “as coisas que são, como sendo” e “as que não são, como não
       sendo”, e falso nos casos contrários;

       Associado à sensação, constitui a aparência (phantasia).

Deste modo, a verdade deixou de poder ser considerada como um estado - uma crença interior verdadeira -
para se constituir como o resultado de um processo cognitivo objetivamente avaliável, completamente
independente da intimidade do sujeito.

O problema da verdade e da falsidade supera o problema da infalibilidade. Consequentemente, verdadeira ou
falsa, a opinião perdeu valor de conhecimento e, portanto, não representa um saber. A verdade e a falsidade
passam a ser vistas como relações.




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Platão e o Saber sobre Aprendizagem

  • 1. Platão e o Saber 16 de Novembro de 2012, Jorge Barbosa A Construção do Conhecimento Neste texto de apoio, é utilizada a perspetiva seguida pela esmagadora maioria dos estudiosos de Platão que interpreta as datas de publicação dos seus diálogos como exprimindo a evolução intelectual e ideológica de Platão. Assim, não é seguida a abordagem “analítica”, segundo a qual cada obra deve ser interpretada exclusivamente a partir das informações presentes no seu texto. No diálogo “O Primeira resposta: construir um quadrado, formado Ménon”, o a partir do dobro do lado do quadrado inicial. Se o interlocutor de quadrado inicial tem 2cm, constrói-se um quadrado Sócrates (Ménon) com 4 cm de lado. Mas esta estratégia não dá um protesta contra a quadrado de 8cm2 , mas de 16 cm2. metodologia seguida por Sócrates e coloca o problema que ficou conhecido como “paradoxo de Ménon”: Para que serve refutar sistematicamente alguém que investiga o que uma coisa é? É que mesmo que a resposta diga o que essa coisa é, o investigador não pode reconhecer aquilo mesmo que ignora completamente. Por outras palavras como é que podemos alcançar o estado de saber a partir do estado oposto, designado pelo termo ignorância? Para responder a este paradoxo, Platão escreve, pelo menos três diálogos: “O Ménon”, o “Teeteto” e o “Sofista”. Só avança com uma solução definitiva neste último. Vamos ver agora qual foi o seu percurso evolutivo. Segunda resposta: construir um quadrado com o lado medindo o mesmo que o lado do quadrado O diálogo com o escravo inicial mais metade desse valor (2+1)(2+1). Mas o Sócrates pede a um escravo sem instrução que lhe novo quadrado também excede o dobro do diga qual deve ser a linha sobre a qual se pode quadrado inicial: dá um quadrado de 9cm2. construir um quadrado de área dupla de um quadrado dado. Sócrates sugere a construção de um quadrado a partir da diagonal do primeiro. JB. 2012 1
  • 2. É possível aprender a partir da ignorância O rapaz reconhece que o quadrado construído sobre a diagonal do original é o da área dupla. Deste modo, Sócrates alega ter conseguido provar que: Aquele que ignora o que quer que seja tem em si opiniões verdadeiras sobre aquilo que ignora. Na prática, Sócrates prova que um diálogo ou interrogatório bem conduzido permite que aquele que ignora venha a conseguir saber, por si mesmo, aquilo que ignorava, mas tinha “esquecido”. Vejamos, então, o que entende Sócrates por “conhecimento”, por “aprendizagem” e por “reminiscência”. Conhecimento Sempre que Sócrates faz uma pergunta a Ménon, pede-lhe que responda em seu próprio nome. Esta exigência corresponde a uma das características do conhecimento: a coerência consigo mesmo. O saber tem de ser assumido como tal pelo sujeito. De outro modo, não será possível refutar esse saber porque não haverá ninguém que responda por ele. A segunda característica do saber é a consistência, ou a coerência desse saber com outros saberes. Por outras palavras, o saber não pode apresentar contradições internas nem contradições externas (com outros saberes que digam respeito ao mesmo assunto). Por exemplo: um quadrado com o dobro de lado de um outro não pode ser entendido como tendo o dobro da área do primeiro, porque contraria os saberes sobre o que é um quadrado, sobre o que é o dobro, etc. Uma vez que a verdade das opiniões decorre da coerência e da consistência do saber, a descoberta de qualquer delas deve ser compreensível para qualquer sujeito dotado de razão. Esta é a terceira característica do conhecimento. É esta característica que permite ao escravo concluir, primeiro, que acha que sabe, depois, que sabe que não sabe e finalmente que é capaz de ficar a saber. Esta caracterização do conhecimento corresponde a uma verdadeira ruptura com o que vulgarmente se entendia por “conhecimento” em Atenas, na época de Platão. Para Platão, com efeito, o conhecimento não é simplesmente um conjunto de informações estabelecidas, fixadas e susceptíveis de serem transmitidas a outros. Implica também a coerência, a consistência e a compreensibilidade. A concepção platónica de conhecimento vai influenciar o pensamento ocidental até aos dias de hoje. Qualquer professor pretende que os alunos se apropriem das informações relevantes e as façam suas, que as utilizem de forma consistente e que as transmitam de forma compreensível. Reflexão: No entanto, esta concepção platónica, embora útil em termos práticos na gestão do dia a dia (isto é: ao nível do senso comum) levanta atualmente sérios problemas filosóficos. A principal crítica dirige-se sobretudo contra a reformulação da concepção platónica na época moderna (a partir do século XVII). A tese de Descartes é a de que, sendo próprio do ser humano ser um ser racional (o bom senso é a coisa mais bem distribuída do mundo), tudo o que seja coerente, consistente e compreensível à razão humana é suscetível de ser aprendido por qualquer ser humano, uma vez que todos são racionais. Não sendo verdade que isso aconteça na prática, esta teoria deu origem a uma imensa quantidade de “deficiências” que explicariam por que razão alguns seres racionais não aprendiam tudo o que fosse conhecimento: discalculia, disgrafia, dislexia, disortografia, afasia, disfasia, atraso mental, etc., etc. Verificando-se ainda que algumas pessoas não aprendiam por não prestarem atenção às coisas, inventaram-se ainda outras “deficiências”, “disfunções”, etc. relacionadas com “défice de atenção”, “hiperatividade”, “depressão”, etc., etc. Ora, sendo verdade que existem problemas desta natureza, ainda é mais verdade que a maior parte deles tem mais origem no erro de conceber o conhecimento dessa forma, do que exclusivamente nas características das pessoas. No mínimo, temos de admitir que existem formas distintas, igualmente racionais ou próprias de seres humanos, de entender a realidade, de inteligência das coisas, e ainda que esse entendimento e essa racionalidade não funcionam sem componentes energéticas ou emocionais que os ativem e lhes dêem sentido. A valorização da razão não tem de implicar o racionalismo, como forma de entender a razão, por si só, como condição suficiente e necessária para o conhecimento. JB. 2012 2
  • 3. Aprendizagem No diálogo de Sócrates com Ménon (a obra é de Platão - não esquecer), o conceito de aprendizagem decorre, em primeiro lugar, do conceito de conhecimento. Neste sentido, a aprendizagem consiste no processo de, através de perguntas e respostas, um sujeito ser levado a exprimir uma opinião verdadeira (adequada à realidade) acerca daquilo que ignorava. A questão que se coloca de imediato é: “mas se ignorava, como foi que deixou de ignorar”? Vejamos, então, como podemos interpretar, em linguagem atual, a tese de Platão: Do ponto de vista do rapaz, todas as respostas que dá são verdadeiras porque exprimem a verdade, tal como ela é para ele naquele momento; Essa verdade é posta em causa sempre que o rapaz compreende que uma das respostas, pelo facto de contradizer outras, não pode ser verdade; Esta concepção intuitiva de “verdade” é confirmada quando o rapaz compreende que, ao concordarem umas com as outras, todas as proposições antes expressas se tornam verdadeiras: é verdade que não se consegue obter um quadrado que tenha o dobro da área de um outro, duplicando a valor do lado, etc., e é verdade que se obtém esse quadrado que é o dobro do primeiro, se a linha de origem for a diagonal do primeiro. Por outras palavras, nos termos de Platão (através das palavras de Sócrates) o escravo ignorava porque julgava que sabia. Pelo contrário, soube que sabia - isto é: aprendeu -, quando, ao compreender que a consistência das proposições admitidas lhe permitia certificar a verdade de cada uma delas, integrou no conjunto aquela que respondia ao problema colocado por Sócrates. Reminiscência Para chegar a este ponto, segundo a afirmação de Sócrates, o escravo recordou. Aprender foi, afinal de contas, recordar, através de um esforço de depuração de várias opiniões ou crenças verdadeiras, sendo que só uma delas correspondia à resposta correta à pergunta de Sócrates.Mas recordou o quê? Em primeiro lugar, recordou a Forma do quadrado. Mas como pode ele ter recordado uma coisa que, em boa verdade, nem sabe o que quer dizer? O escravo não sabe qual é o conceito que tem Sócrates a respeito do que é a Forma, ou a Ideia. Como recordou, então, essa coisa? Vamos recorrer (de novo) a uma linguagem actual para compreender o que quer dizer Platão com o termo “recordar”. O rapaz sabe falar grego; dispõe do vocabulário que lhe permite dialogar; também o sabe usar para descrever o mundo em que vive, nomeadamente, referindo objetos com formas quadradas. Pode não entender a passagem de um quadrado desenhado para um quadrado no espaço ou um espaço quadrado e daí para o quadrado como forma ou como ideia. Mas mesmo assim compreende o que é o dobro de um quadrado. Podemos então concluir que não é necessário saber o que é a “alma”, saber a teoria das Ideias de Platão, para se ser capaz de aprender o que não se sabia. Por outro lado, todas as propriedades do quadrado, quaisquer que sejam, são anteriores à sua descoberta por um geómetra. E nesta convicção se baseia Platão para defender uma espécie de conhecimento a priori, isto é, que se fundamenta no facto de a Forma do quadrado ser anterior ao desenho do quadrado e ao conhecimento dessa Forma por qualquer humano. Ora, é essa Forma que a alma recorda de um mundo onde já viveu e onde a conheceu a ela e a todas as outras: o Mundo das Ideias. A fragilidade de Platão está no facto de transpor esta perspetiva geométrica para a Ética e para a Política. Mas essa já é outra questão. JB. 2012 3
  • 4. Alegoria da Caverna Faz sentido fazer um ligeiro desvio para analisar uma das alegorias que Platão refere numa outra obra “A República” (Livro VII): a Alegoria da Caverna. Essa alegoria apresenta três Teses: A vida que os homens levam na cidade não é real - agora diríamos: não é autêntica. É necessário mudar a vida dos homens na cidade, justamente por não ser autêntica. Há que reorientar a vida da cidade, educando os cidadãos, com vista ao desenvolvimento da natureza humana. Note-se que esta alegoria, conforme Platão afirma mais adiante na mesma obra, é um retrato metafórico de uma cidade grega sua contemporânea, cujo nome ele não revela. Esta cidade é muito diferente das nossas cidades atuais, no que diz respeito a coisas de pormenor, e, por isso, podemos ter alguma dificuldade em compreender toda a mensagem de Platão. Temos, portanto, que fazer um esforço para valorizar o essencial nessa alegoria. A Caverna representa uma comunidade com as seguintes características: É uma comunidade fechada sobre si própria, formada por um conjunto limitado de cidadãos, habitando uma cidade muralhada. É o centro político de uma região mais extensa. A vida e a comunicação são sustentadas pelo exercício da palavra falada. Os cidadãos têm acesso à educação, sendo a educação “superior” (a partir da adolescência) assegurada pelos sofistas. A escrita é conhecida e divulgada, mas a sua função é essencialmente a de fixar as memórias orais, discursos, lições e mensagens pessoais, com vista a solidificar o ensino regular. A “educação sofística” desenvolve essa escrita, tendo em vista estabelecer um conjunto de modelos éticos e políticos, apoiados em textos “exemplares” para formação dos jovens ricos, supostamente candidatos a exercer o poder na cidade. O poder político está concentrado nas mãos de uma classe diminuta de proprietários - cerca de 30 famílias. Esse poder dispõe de um centro de decisão e de uma burocracia bastante eficiente. Os sofistas desempenham um papel fundamental para a resolução de dois dos muitos problemas da cidade: a necessidade de formar quadros de funcionários superiores, políticos, militares e civis, e a realização das reformas requeridas por uma crise violenta, no caso desta cidade, associada a uma situação de guerra quase ininterrupta. É esta cidade concreta que, com a descrição da multidão acorrentada, Platão pretende representar na sua Alegoria da Caverna. Então, a multidão está acorrentada no interior da caverna. Ao longe, por trás da multidão, passa uma procissão de homens carregando estatuetas de figuras humanas e de animais. Atrás dessa procissão, há uma fogueira acesa que ilumina esses homens e projeta a sua luz e sombras para a caverna. Forçados a olhar só para a frente, os prisioneiros só conseguem ver as sombras dessa procissão projetada na parede da caverna. Por não terem a possibilidade de captar os originais inteligíveis, conversam sobre as sombras projetadas, como se de realidade se tratasse. JB. 2012 4
  • 5. Dito por outras palavras, os prisioneiros interpretam as imagens visíveis (as sombras projetadas) e audíveis como se dos próprios originais se tratasse. Podemos interpretar esta alegoria do seguinte modo: Para Platão, tanto a cidade como as almas individuais são análogas a uma caverna. Ambas são espaços fechados, física e psiquicamente. A Caverna é o espaço interior de cada um de nós, amplificado e projetado no espaço público da cidade. Para escapar da caverna, é necessário que as consciências individuais e coletiva encontrem formas de sair de si e da prisão que as confina. Entretanto, um dos prisioneiros é arrastado para o exterior da caverna. No exterior, o prisioneiro é forçado a endireitar-se e, nesse momento, os seus olhos ficam deslumbrados, enchendo-o de dor. A contemplação dos originais é sentida como uma agressão, provocada pelo enfrentamento da luz da fogueira, que ilumina toda a caverna. O espetáculo da visão dos originais começa por ser doloroso. Depois de ter escapado à sua clausura, e só depois disso, o prisioneiro será capaz de compreender a ordem cósmica. Nestas condições, ser-lhe-á possível comparar o mundo de que escapou com este original a que a sua libertação o conduziu. O prisioneiro, entretanto, decide voltar à caverna para contar o que viu aos seu antigos companheiros. Se, antes, os seus olhos tiveram dificuldade em se adaptar à luz, agora vão sofrer com a passagem da luz a obscuridade. O fugitivo mostrar-se-á ofuscado e, por isso, será escarnecido pelos seus antigos companheiros que o tratarão mesmo muito mal. Esta alegoria aponta para a condição do filósofo e a sua situação na cidade, do mesmo modo que salienta a função libertadora da filosofia, quer ao nível individual quer ao nível da política da cidade. Por outro lado, remete-nos para a missão libertadora da busca da verdade; da verdade que está para além das aparências (das sombras) e se encontra num outro mundo (o Mundo das Ideias) ao qual não devemos virar as costas. A Verdade Platão tem consciência de que o conceito de verdade não pode reduzir-se ao nível do que é exposto no “Ménon” e na “República”. Se ficasse por aí, haveria o perigo real de a sua filosofia ser confundida com uma nova mitologia. Por isso vai abordar o problema da verdade, confrontando as suas teses com as de outros autores com muita influência na filosofia do seu tempo. Em primeiro lugar, vai confrontar-se com as teses dos sofistas (e de Heraclito e seu seguidores). Neste caso, a verdade é equacionada em confronto com a infalibilidade. No nosso tempo, poderíamos dizer “da verdade com a ciência exata”. A sua pergunta é: o que é isso a que chamamos ciência, sendo que a ciência só pode ser exata, porque, não o sendo, só pode ser ignorância? A obra que trata deste assunto é o “Teeteto”. Na sua obra seguinte (“Sofistas”), apesar do título que lhe dá, vai confrontar-se com a tese de Parménides (da escola Eleática). Neste caso, abordará o problema da verdade em confronto com a falsidade. É que no Teeteto, Platão não tinha conseguido mostrar como, a partir da exigência da infalibilidade do saber, pode haver lugar para o falso. O Teeteto, com efeito, termina com uma aporia (impasse, paradoxo, dúvida, incerteza ou momento de auto-contradição). O “Sofista” vai, portanto, renunciar ao debate sobre a infalibilidade e retomará a questão da relação entre a verdade e a falsidade. JB. 2012 5
  • 6. Infalibilidade/Verdade - “O Saber é Sensação” À pergunta de Sócrates sobre o que é o Saber (a Ciência exata, infalível), o jovem Teeteto responde:“o saber é a sensação”. Sócrates associa esta resposta à tese de Protágoras, segundo a qual aquilo que cada homem sente é o padrão (“a medida”) que lhe permite avaliar a realidade. O corolário desta tese é: A sensação é do que sempre é e infalível, sendo saber. Esta tese parece empirista, mas não é certo que o seja. Na verdade, aquilo que pretende defender é tão só a infalibilidade da sensação, porque não é possível errar através da sensação, tendo como referência o ponto de vista de quem sente. A refutação de Sócrates visa demonstrar, pelo contrário, que a infalibilidade é compatível com o erro. Mais: a possibilidade de erro é indispensável para que possamos falar de infalibilidade. (Não existe infalibilidade, nem falibilidade se não houver possibilidade de erro). Esta refutação de Sócrates resume-se do seguinte modo: mesmo que cada homem se ache profundamente convencido da verdade das suas opiniões, a evidência proporcionada nos debates públicos não pode permitir-lhe ignorar que as opiniões dos outros discordam das dele. De resto, se todas as opiniões fossem verdadeiras, nenhuma investigação seria possível, nem nenhum saber teria sentido. Esta forma de argumentar coloca a opinião no lugar da única candidata a ser saber. Faltaria, então, saber como, a partir da opinião, podemos aceder ao saber. Infalibilidade/Verdade - “O Saber é Opinião Verdadeira” O problema adquire aqui a sua verdadeira dimensão, uma vez que, a partir da identificação do saber com a opinião verdadeira, se torna necessário definir as relações entre a verdade da opinião e a infalibilidade (exatidão) do saber. A dificuldade consiste precisamente em avançar na resolução deste problema, pela via da resolução do problema oposto, o problema da opinião falsa. Se admitimos que existem opiniões verdadeiras, também por força teremos de admitir que existem opiniões falsas. Como as podemos distinguir sem o Saber? Por outras palavras, antes de saber (antes de detetar uma opinião verdadeira) como podemos saber que esta ou aquela opinião é falsa? E não sabendo qual é a falsa, como podemos saber qual é a verdadeira? Estas perguntas não obtêm qualquer resposta aceitável. Por isso, depois de esgotada a análise do problema a partir do saber (e também do ser), Sócrates vai tentar outra via para, respeitando a tese (O saber é Opinião Verdadeira) tentar explicar a possibilidade do erro, isto é, de opiniões falsas. A primeira explicação será a troca de uma opinião por outra. Este tipo de erro pode manifestar-se através de uma perceção ou de uma memória deficientes. Simplesmente, como podemos explicar o erro que não tem origem na perceção como o daquele que se engana e diz que 7+5=11? Neste caso o erro só pode ser explicado pelo esquecimento ou por uma efetiva confusão do saber com o erro. Mas como podemos nós explicar o erro pelo saber? Sabendo que é um erro, como é que não o sabemos? Estas questões teóricas, segundo Sócrates, não impedem que, na prática dos tribunais, os homens aceitem a substituição do saber por qualquer opinião que considerem verdadeira, apesar de a objeção de Sócrates contestar esta dissolução da infalibilidade na verdade. Os juízes decidem sem ciência (leia-se: sem ciência exata). Infalibilidade/Verdade - “O Saber é Opinião Verdadeira Justificada” A partir daqui, a investigação de Platão (conduzida por Sócrates no diálogo) desloca-se para o enunciado (ou “discurso”), que deveria conter o segredo da infalibilidade, pela via da justificação racional. JB. 2012 6
  • 7. Para justificar pelo discurso uma opinião verdadeira, seria necessário que o enunciado verdadeiro acerca de algo fosse composto por nomes (partes), a respeito dos quais não fosse possível nenhuma explicação. A noção de “elemento” pretende ser esse mínimo, incognoscível e indeclarável, consistindo o enunciado (a proposição) na combinação de elementos, apenas nomeáveis e perceptíveis. Esta solução, segundo Sócrates, também é impossível, pois daquilo que não pode ser enunciado, mas apenas nomeado, não pode haver razão ou explicação. O enunciado seria tão inexplicável quanto os seus elementos. Por outro lado, o enunciado ou proposição não pode produzir conhecimento porque essa possibilidade: Não poderá residir no fluxo vocal emitido pela boca, pois então bastaria dizer algo para saber; Não poderá residir na simples enumeração das partes daquilo que é descrito, pois o todo não é igual à soma das partes disjuntas; Não poderá consistir no conhecimento da diferença que distingue uma coisa das outras, pois esse conhecimento teria de ser anterior à produção do enunciado, que assim nada lhe acrescentaria. A conclusão, assumida por Platão, vai ser drástica: o problema terá de ser abordado por outra via que descarte a atribuição da infalibilidade ao saber. Reflexão: na filosofia contemporânea, a questão da racionalidade do discurso é retomada por duas correntes de pensamento. A do círculo de Viena que assume a crítica da linguagem como Kulturkritik, como crítica da civilização ou da cultura. E, numa perspectiva muito diferente e até contraditória, Nietzsche, Adorno e a escola de Frankfurt, Derrida, Foucault, Habermas que propõem a crítica da linguagem como instrumento de comunicação e de dominação social. A primeira procura estudar a relação que pode haver entre a questão do funcionamento da linguagem e a descrição verdadeira do mundo (dando sequência às teses que Platão deixou em suspenso) e a segunda (contestando a forma como a tradição platónica influencia o nosso mundo actual) equaciona o papel do discurso racional na comunicação social, como exercício de poder e de dominação, por exemplo: o facto de o conceito de liberdade estar a servir sobretudo para justificar a livre iniciativa, quer dizer, acrescentam os teóricos da Escola de Frankfurt, a livre exploração do trabalho. Verdade/Falsidade - “O Sofista” No “Sofista”, Platão renunciará à infalibilidade, retomando a questão da relação da verdade com a falsidade. Até aqui, embora apresente as teses dos outros (sobretudo sofistas) com todo o cuidado e respeito, por vezes, mesmo melhorando-as, para depois mostrar a sua total impossibilidade, neste diálogo assume a tarefa complexa de rever e reformular a tese de Parménides (no essencial: o princípio de identidade, segundo o qual o caminho para a verdade é que “o que é, é e não pode deixar de ser, e o que não é, não é, nem pode ser”. Parménides defende que o ser e o não-ser são contrários. Platão, partindo da impossibilidade de relacionar qualquer coisa com o não-ser, propõe uma solução nova: que a negação (não-ser) seja considerada não como contrária à afirmação (ser), mas como diferente (o outro). Deste modo, Platão desloca de novo o problema para a linguagem considerando o enunciado verdadeiro aquele que “diz as coisas que são, como são” e falso quando as diz “diferentes do que são” (ou outras). JB. 2012 7
  • 8. Defende, então, algumas teses a respeito das características de um qualquer enunciado: É considerado a expressão verbal do pensamento; Consiste na afirmação e na negação; Enquanto não verbalizado, é opinião; Pode ser verdadeiro, descrevendo “as coisas que são, como sendo” e “as que não são, como não sendo”, e falso nos casos contrários; Associado à sensação, constitui a aparência (phantasia). Deste modo, a verdade deixou de poder ser considerada como um estado - uma crença interior verdadeira - para se constituir como o resultado de um processo cognitivo objetivamente avaliável, completamente independente da intimidade do sujeito. O problema da verdade e da falsidade supera o problema da infalibilidade. Consequentemente, verdadeira ou falsa, a opinião perdeu valor de conhecimento e, portanto, não representa um saber. A verdade e a falsidade passam a ser vistas como relações. JB. 2012 8