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Jorge Barbosa




                Cognição
                  Aprendizagem 1

                        5 Mar. 2009
PSICOLOGIA                                                                                             JB




Tipos de Aprendizagem

Aprender algo envolve mudança. Aprendizagem define-se, portanto, como uma mudança relativamente
permanente no comportamento, resultante da experiência.
O que os psicólogos aprenderam a respeito da aprendizagem tem inicialmente origem em estudos sobre ratos,
cães, pombos, não sobre seres humanos que aprendem mesmo só através da leitura deste texto, por exemplo.
Esses estudos com animais menos desenvolvidos são sobretudo justificados pela necessidade de estabelecer
processos rigorosos de controlo experimental. Cerca de um século de investigações sobre a aprendizagem em
animais menos sofisticados do que o ser humano parte, portanto, da ideia base de que os princípios gerais de
aprendizagem são os mesmos para esses animais e para os seres humanos.
Se a algum aluno for perguntado o que aprendeu, hoje, na sala de aula, ele poderá, em resposta, referir-se a
novas ideias de que ouviu falar, a listas de coisas que memorizou ou a conceitos que passou a entender. Mas
como poderemos nós definir a nossa aprendizagem, se não conseguirmos referir-nos à nossa mente ou aos
processos não observáveis? Podemos, neste caso, seguir as ideias dos psicólogos behavioristas. O Behaviorismo
é uma teoria da aprendizagem que se centra exclusivamente nos comportamentos observáveis,
desvalorizando essas tais actividades mentais, que temos dificuldade em descrever, como pensar, desejar, etc.
Os psicólogos que abordam a aprendizagem a partir da perspectiva behaviorista definem a aprendizagem
como uma mudança relativamente estável e observável do comportamento. A abordagem behaviorista dá
particular importância ao estabelecimento de leis gerais que expliquem as mudanças do comportamento.
Esta perspectiva behaviorista corresponde a um primeiro esforço importante para o estabelecimento de uma
psicologia positiva (não confundir com positivista). “Positiva”, neste caso, significa a procura de explicação
do comportamento, digamos, “normal”, em alternativa à exclusiva procura de explicação de
comportamentos desviantes ou “doentes”, como ainda muita gente pensa, erradamente, que deve ser a
principal função do psicólogo: há mesmo muitos psicólogos que não encontram sentido na sua profissão, se
não se dedicarem ao “tratamento” de perturbações do comportamento; no entanto à psicologia como
ciência, numa perspectiva positiva, interessa sobretudo compreender o comportamento e o funcionamento da
mente do ser humano.
Neste texto (e ainda num próximo), estudaremos fundamentalmente dois tipos de aprendizagem:
aprendizagem por associação e aprendizagem por observação (também dita aprendizagem social).
A aprendizagem por associação acontece quando são estabelecidas relações ou associações entre dois
fenómenos. O Condicionamento é o processo típico de aprendizagem associacionista.
Podemos falar de dois tipo de condicionamento: o clássico e o operante.
      1.     No condicionamento clássico, o organismo aprende a associar dois estímulos. Em resultado dessa
             associação, o organismo aprende a antecipar acontecimentos. Por exemplo, o relâmpago é
             associado ao trovão; sempre que vemos um relâmpago, o nosso organismo prepara-se para
             ouvir um trovão. Os realizadores de filmes de terror conhecem o poder do condicionamento
             clássico, seja para provocar antecipações do organismo que podem nem sempre ser
             correspondidas com os factos, seja para mostrar cenas específicas ainda antes de organismo se
             preparar para elas. Chama-se a isto suspense.
      2.     No condicionamento operante, o organismo aprende a associar o comportamento a uma
             consequência. Em resultado desta associação, o organismo aprende a aumentar a frequência


Esc. Sec Dr. Manuel Gomes de Almeida                                                                          2
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            dos comportamentos seguidos de recompensas, e a diminuir a frequência dos comportamentos
            que são seguidos de punições.


Todavia, muito do que aprendemos tem pouco ou nada a ver com reforços directos; pelo contrário, tem
origem na exposição, a que estamos sujeitos vivendo em sociedade, a modelos que realizam um determinado
comportamento ou competência. Por exemplo, quando vemos alguém a jogar futebol, podemos ficar a
perceber como se faz um ou outro passe. Este processo de aprendizagem, que acontece quando observamos e
imitamos outra pessoa, chama-se aprendizagem por observação. A aprendizagem por observação é a mais
frequente nos espaços educativos.




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Condicionamento Clássico
Era um lindo dia de primavera. Um homem levou o seu filho, ainda bebé, a passear no jardim. Num dado
momento, aproxima-o de uma rosa para que a possa cheirar; uma abelha, que estava dentro das pétalas,
morde o bebé. No dia seguinte, a mãe desse mesmo bebé traz rosas para casa para enfeitar uma jarra da sala.
Retira uma flor do arranjo e leva-a ao bebé para que possa sentir o seu perfume. O bebé desata a chorar, logo
que vê a rosa. O pânico do bebé, ao ver a rosa, ilustra o processo de aprendizagem por condicionamento
clássico. Neste tipo de aprendizagem, um estímulo neutro (a flor) aparece associado a um estímulo com um
determinado significado (a dor da picada da abelha), e o sujeito adquire a capacidade de responder ao
estímulo neutro do modo como responderia ao estímulo com significado (medo).



Os Estudos de Pavlov

Nos primeiros anos do século XX, o fisiologista russo Ivan Pavlov fazia estudos sobre a digestão. Nas suas
experiências, habitualmente dava a comer bocados de carne a um cão, para provocar a salivação. Por
acidente, Pavlov reparou que os bocados de carne não eram o único estímulo que provocava salivação no cão.
O cão salivava em resposta a um conjunto de estímulos associados ao alimento, como a visão do prato da
comida, a visão do indivíduo que trazia a comida à sala de experiências e o som da porta a fechar-se quando
o alimento chegava. Pavlov reconheceu que as associações do cão destas visões e sons com a comida era um
importante tipo de aprendizagem, a que mais tarde se chamou condicionamento clássico.
Pavlov quis, então, perceber porque é que o cão salivava em resposta a várias visões e sons, antes de comer a
ração de carne. Observou que o comportamento do cão incluía componentes aprendidas e componentes não
aprendidas. A parte não aprendida do condicionamento clássico baseia-se no facto de alguns estímulos
produzirem automaticamente certas respostas, independentes de qualquer aprendizagem prévia. Os reflexos
fazem parte destas associações estímulo-resposta não aprendidas. Incluem a salivação como resposta ao
alimento, as náuseas como resposta a comida estragada, as tremuras em resposta a baixas temperaturas, a
tosse em resposta a um congestão das vias respiratórias superiores, a contracção da pupila em resposta à luz,
etc.
Um estímulo incondicionado é, então, um estímulo que produz uma resposta sem aprendizagem prévia. O
alimento era o estímulo incondicionado nas experiências de Pavlov. Uma resposta incondicionada é uma
resposta não aprendida provocada automaticamente pelo estímulo incondicionado. Nas experiências de
Pavlov, a saliva que fluía da boca do cão em resposta ao alimento era uma resposta incondicionada.
No caso do bebé e da flor, a aprendizagem e a experiência não eram o motivo pelo qual ele chorou ao ser
picado por uma abelha. O seu choro não era aprendido e ocorreu automaticamente, na sequência da picada
da abelha. A picada da abelha era, então, o estímulo incondicionado, e o choro a resposta incondicionada.
No condicionamento clássico, o estímulo condicionado é um estímulo previamente neutro que, após ter sido
associado a um estímulo incondicionado, produz uma resposta condicionada. A resposta condicionada é a
resposta aprendida ao estímulo condicionado, que acontece após a associação do estímulo condicionado ao
estímulo incondicionado (Pavlov, 1927).
Para estudar, de forma experimentalmente controlada, a resposta do cão a vários estímulos associados aos
bocados de carne, Pavlov tocava uma campainha antes de dar de comer ao cão. Até então, o toque da
campainha não produzia qualquer efeito no cão, excepto talvez o de o acordar da sesta. A campainha era um
estímulo neutro. Entretanto, o cão começou a associar o som da campainha ao alimento e passou a salivar
só ao som da campainha. A campainha tornou-se num estímulo condicionado (aprendido),e a salivação,
neste caso, passou a ser uma resposta condicionada. Para o infeliz bebé, a flor era a “campainha”, ou

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estímulo condicionado, e chorar era a resposta condicionada após ter associado a picada da abelha (estímulo
incondicionado) à flor (estímulo condicionado).


Aquisição

Aquisição, no condicionamento clássico, é a aprendizagem inicial da ligação estímulo-resposta. Envolve um
estímulo neutro que se associa a um estímulo incondicionado, tornando-se em estímulo condicionado que
produz a resposta condicionada. Dois aspectos importantes da aquisição são o tempo e a previsibilidade.
O intervalo de tempo entre EC (estímulo condicionado) e EI (estímulo incondicionado) é um dos aspectos
mais importantes do condicionamento clássico. Esse intervalo define a contiguidade, ou a associação no tempo
e no espaço dos dois estímulos. As respostas condicionadas desenvolvem-se quando existe contiguidade entre
EC e EI, isto é, quando ocorrem muito próximos no tempo. Na maior parte dos casos, o intervalo ideal é de
fracções de segundo.
Robert Rescorla acredita que, no condicionamento clássico, é importante não só um intervalo curto de tempo
entre EC e EI, mas também que exista a previsibilidade da ocorrência de um estímulo a partir da presença do
outro. Por exemplo, o relâmpago é habitualmente seguido de um trovão, o que, mesmo que passe algum
tempo entre os dois, não impede que tapemos os ouvidos ao ver um relâmpago, porque a nossa experiência
nos diz que um precede sempre o outro.


Generalização e Discriminação

Pavlov descobriu que o cão salivava não só em resposta ao som da campainha, mas também a outros sons,
como um assobio, por exemplo. Pavlov não tinha associado estes novos sons ao estímulo incondicionado
(alimento). Descobriu que, quanto mais semelhante era o ruído ao som original da campainha, mais
abundante era a salivação do cão..
Generalização, no condicionamento clássico, é a tendência para novos estímulos, semelhantes aos estímulos
condicionados originais, produzirem respostas semelhantes à resposta condicionada. A generalização permite
que a aprendizagem não fique completamente dependente de um estímulo específico. Por exemplo, não
temos de aprender a conduzir de novo quando trocamos de carro, ou quando conduzimos numa estrada
desconhecida.
A generalização dos estímulos nem sempre é benéfica. Por exemplo, um gato que generaliza a partir de uma
inofensiva tainha para uma perigosa piranha pode ter problemas sérios; no entanto, a generalização, mesmo
inadequada, revela-se importante para a aprendizagem da discriminação dos estímulos.
Discriminação, no condicionamento clássico, é o processo que nos conduz a aprender a responder a certos
estímulos e a não responder a outros. Para provocar este processo de discriminação, Pavlov passou a dar
comida ao cão só na sequência do toque da campainha; sempre que o cão ouvia outro som qualquer, Pavlov
não dava nunca comida alguma ao cão. Deste modo, o cão de Pavlov aprendeu a discriminar o som da
campainha de outros sons.


Extinção e Recuperação Espontânea

 Depois de condicionar o cão a salivar ao som de uma campainha, Pavlov tocou repetidamente a campainha
numa única sessão, sem lhe dar nada a comer. Num dado momento, o cão deixou de salivar. A este resultado
chama-se extinção, que, no condicionamento clássico, significa o enfraquecimento da resposta condicionada


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na ausência do estímulo incondicionado. Sem a associação continuada com o estímulo incondicionado, o
estímulo condicionado perde o seu poder para originar uma resposta condicionada.
Mas nem sempre a extinção significa o fim de uma resposta condicionada. No dia seguinte ao de ter
extinguido a salivação condicionada ao som da campainha, Pavlov levou o cão ao laboratório e tocou de
novo a campainha, continuando a não lhe dar comida. O cão salivou, indicando que uma resposta extinta
pode reaparecer espontaneamente. Recuperação espontânea é o processo do condicionamento clássico
através do qual uma resposta condicionada pode reaparecer após um intervalo de tempo sem
condicionamento.


Vejamos, agora, como funciona a aquisição, generalização, discriminação, extinção e recuperação espontânea
no exemplo de uma criança que precisou de ser tratada por um dentista:
      ‣       Aquisição: a criança aprende a ter medo (RC) de ir ao dentista, associando a consulta a uma
             resposta emocional não aprendida (RI) que resulta da dor que sente por ter um dente cariado
             (EI)
      ‣      Generalização: A criança tem medo do consultório do dentista e de lugares idênticos, incluindo
             os consultórios de outros médicos e de adultos que estão lá dentro vestidos com bata branca, e
             de odores e sons habituais.
      ‣      Discriminação: A criança vai com a mãe ao consultório do médico dela (mãe) e aprende que ele
             não está associado à dor do EI.
      ‣      Extinção: A criança vai repetidas vezes ao dentista e não tem qualquer experiência dolorosa; o
             medo do consultório do dentista desaparece.
      ‣      Recuperação espontânea: um novo dente cariado começa a doer e a criança volta a ter medo de ir
             ao dentista.




Condicionamento Clássico em Seres Humanos

O condicionamento clássico é, nos dias de hoje, muito utilizado na publicidade. O próprio John Watson,
investigador americano que explorou as possibilidades do condicionamento, acabou por dedicar-se à
publicidade. Em boa verdade, os seus efeitos nem sempre são garantidos. Com efeito, recentemente (2001),
verificou-se experimentalmente que, se o estímulo condicionado for encontrado fora do contexto da
publicidade, não existe qualquer efeito de previsibilidade sobre o estímulo incondicionado, sendo portanto
possível a qualquer ser humano tomar decisões sem condicionamento no quadro da realidade; no entanto,
muita da publicidade já se mistura com a realidade e, no momento de comprar, muitos sujeitos são
condicionados porque o ambiente de compra é, ele próprio, publicidade.
Apesar de alguns riscos, associados ao condicionamento clássico, a verdade é que ele constitui uma
modalidade de aprendizagem fundamental para a sobrevivência no seu nível básico. Por exemplo, graças a
este tipo de condicionamento, conseguimos afastar as mãos de uma placa de forno eléctrico antes de nos
queimarmos. Por isso mesmo, também está associado a algumas das perturbações das nossas condições
básicas de sobrevivência.




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O Medo

A fobia é um medo irracional. O condicionamento clássico fornece explicações para alguns tipos de fobias.
John B. Watson, (o tal que acabou por se dedicar à publicidade e que deu o nome de behaviorismo à corrente
da Psicologia que se encarregou de estudar o condicionamento), e Rosalie Rayner demonstraram o papel do
condicionamento clássico em fobias de uma criança (Albert era o seu nome). Mostraram à criança um rato
branco de laboratório (uma cobaia, portanto), para verificar se ela tinha medo do animal. O Albert não tinha
medo de cobaias. Na altura em que o Albert estava a brincar com o rato, foi produzido um ruído de estrondo
muito forte por trás da sua cabeça. Não foi surpresa para ninguém, nem é para nós, o facto de a criança
começar imediatamente a chorar, assustada com o estrondo que ouviu sem saber de onde vinha. Após sete
(só sete) associações do ruído assustador com o rato branco, o Albert começou a ter medo do rato, mesmo no
mais absoluto silêncio. O medo do Albert generalizou-se ainda a um coelho, a um cão e até (quem diria?) a
um casaco de peles de foca.
Nos dias de hoje, o estudo de Watson e Rayner seria contrário às normas éticas da investigação em
Psicologia. Sobretudo porque não se preocuparam em reverter o efeito que criaram no pobre Albert, que
abandonou as sessões experimentais com um medo irracional de ratos, e de outros animais e até coisas,
perfeitamente construído pelos experimentadores.
Mesmo assim, e por isso mesmo, Watson concluiu, e bem, que muitos dos nossos medos têm origem em
processos de condicionamento clássico. Com efeito, podemos desenvolver medo dos dentistas em resultado
de experiências (não são precisas muitas) dolorosas, medo de conduzir automóvel depois de um acidente de
viação, medo de cães depois de ter sido mordido por um.
A boa notícia é que os medos que têm origem no condicionamento clássico (nem todos têm essa origem)
também podem, em grande número de casos, ser eliminados com procedimentos de condicionamento.
Contra-condicionar é um procedimento clássico de condicionamento que visa enfraquecer a resposta
condicionada (RC), associando o estímulo que provocou o medo a uma nova resposta que é incompatível
com o medo. Embora Watson se tenha esquecido de eliminar os medos que construiu no Albert, uma
colaboradora de Watson, Mary Cover Jones, eliminou medos de uma criança de 3 anos, chamado Peter.
Peter tinha alguns dos medos com que ficou o Albert; No entanto, os medos de Peter não foram produzidos
pelas experiências de Mary Jones. Mesmo assim, Peter tinha medo de ratos, de coelhos, de casacos de peles,
sapos, peixes e brinquedos mecânicos. Para eliminar estes medos, Jones trouxe um coelho para a sala,
mantendo-o inicialmente a uma distância que não perturbasse a criança. Ao mesmo tempo que o coelho era
trazido para dentro da sala, Peter era convidado a comer “crackers” com leite (de que gostava muito). Em
cada um dos dias seguintes, o coelho era colocado cada vez mais perto da criança, enquanto esta se deliciava
com o seu alimento favorito. Após algumas sessões, Peter chegou ao ponto de ser capaz de comer as
“crakers” com uma mão e fazer festas ao coelho com a outra. O sentimento de prazer produzido por aquela
refeição de cereais, dada à criança, era incompatível com o medo produzido pela presença do coelho.


Emoções Agradáveis

O condicionamento clássico não se restringe a emoções desagradáveis como o medo. De entre as coisas que
podem produzir nas nossas vidas sensações agradáveis, na sequência de um condicionamento, podemos
mencionar um arco-íris, um dia de sol, uma canção especial. Se tivermos uma experiência positiva, o sítio
onde essa experiência aconteceu pode tornar-se um estímulo condicionado, como resultado da associação de
um lugar (EC) ao acontecimento positivo (EI). Os estímulos, muitas vezes associados à sexualidade como
uma música suave, roupa sensual, um restaurante romântico, transformam-se frequentemente em estímulos
condicionados que produzem atracção sexual.



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No entanto, por vezes, o condicionamento clássico conduz a experiências ao mesmo tempo agradáveis e
desviantes da norma. É o caso dos fetiches, como roupa interior ou sapatos, cuja visão e toque podem
produzir excitação sexual em certas pessoas. O fetiche pode ser desenvolvido quando o objecto fetiche foi
associado ao prazer sexual. O objecto fetiche torna-se, então, um estímulo condicionado.


Dependência de Drogas

O condicionamento clássico também pode ajudar a explicar certos aspectos do uso de drogas. Pavlov
verificou que os reflexos condicionados, que provocava no cão, facilitavam a digestão. Concluiu, portanto,
que o processo digestivo começa logo que a comida é vista ou cheirada - por outras palavras, o corpo começa
o processo da digestão antes de ser ingerido o alimento.
Esta reacção é semelhante à resposta que ocorre no corpo antes do consumo da droga. Quando as drogas são
tomadas em circunstâncias particulares - numa altura determinada do dia, num certo lugar, ou com um ritual
particular - o corpo reage em antecipação à tomada da droga (seja ela uma droga ilícita ou um
medicamento).
Há autores que relacionam este aspecto do uso de drogas ilícitas, resultante de condicionamento clássico,
com a morte por overdose. Com efeito, os utilizadores de drogas têm o hábito de as consumir em locais bem
determinados (quarto de banho, por exemplo), e adquirem uma resposta condicionada a esses locais. Quando
chegam a esses locais, o corpo começa a preparar-se, por antecipação ao efeito da droga. Se o consumidor de
drogas toma a mesma dose num outro local, de forma inesperada, (numa discoteca, por exemplo) pode
acontecer que o seu corpo não consiga preparar-se para esse consumo. Sobretudo no caso de consumo de
heroína, há investigadores que atribuem a morte por overdose, em parte, a esta falta de preparação do corpo
para o consumo, que acontece frequentemente quando o consumidor altera as suas rotinas.


(continua)




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Tipos de Aprendizagem: Condicionamento Clássico e Observação

  • 1. Jorge Barbosa Cognição Aprendizagem 1 5 Mar. 2009
  • 2. PSICOLOGIA JB Tipos de Aprendizagem Aprender algo envolve mudança. Aprendizagem define-se, portanto, como uma mudança relativamente permanente no comportamento, resultante da experiência. O que os psicólogos aprenderam a respeito da aprendizagem tem inicialmente origem em estudos sobre ratos, cães, pombos, não sobre seres humanos que aprendem mesmo só através da leitura deste texto, por exemplo. Esses estudos com animais menos desenvolvidos são sobretudo justificados pela necessidade de estabelecer processos rigorosos de controlo experimental. Cerca de um século de investigações sobre a aprendizagem em animais menos sofisticados do que o ser humano parte, portanto, da ideia base de que os princípios gerais de aprendizagem são os mesmos para esses animais e para os seres humanos. Se a algum aluno for perguntado o que aprendeu, hoje, na sala de aula, ele poderá, em resposta, referir-se a novas ideias de que ouviu falar, a listas de coisas que memorizou ou a conceitos que passou a entender. Mas como poderemos nós definir a nossa aprendizagem, se não conseguirmos referir-nos à nossa mente ou aos processos não observáveis? Podemos, neste caso, seguir as ideias dos psicólogos behavioristas. O Behaviorismo é uma teoria da aprendizagem que se centra exclusivamente nos comportamentos observáveis, desvalorizando essas tais actividades mentais, que temos dificuldade em descrever, como pensar, desejar, etc. Os psicólogos que abordam a aprendizagem a partir da perspectiva behaviorista definem a aprendizagem como uma mudança relativamente estável e observável do comportamento. A abordagem behaviorista dá particular importância ao estabelecimento de leis gerais que expliquem as mudanças do comportamento. Esta perspectiva behaviorista corresponde a um primeiro esforço importante para o estabelecimento de uma psicologia positiva (não confundir com positivista). “Positiva”, neste caso, significa a procura de explicação do comportamento, digamos, “normal”, em alternativa à exclusiva procura de explicação de comportamentos desviantes ou “doentes”, como ainda muita gente pensa, erradamente, que deve ser a principal função do psicólogo: há mesmo muitos psicólogos que não encontram sentido na sua profissão, se não se dedicarem ao “tratamento” de perturbações do comportamento; no entanto à psicologia como ciência, numa perspectiva positiva, interessa sobretudo compreender o comportamento e o funcionamento da mente do ser humano. Neste texto (e ainda num próximo), estudaremos fundamentalmente dois tipos de aprendizagem: aprendizagem por associação e aprendizagem por observação (também dita aprendizagem social). A aprendizagem por associação acontece quando são estabelecidas relações ou associações entre dois fenómenos. O Condicionamento é o processo típico de aprendizagem associacionista. Podemos falar de dois tipo de condicionamento: o clássico e o operante. 1. No condicionamento clássico, o organismo aprende a associar dois estímulos. Em resultado dessa associação, o organismo aprende a antecipar acontecimentos. Por exemplo, o relâmpago é associado ao trovão; sempre que vemos um relâmpago, o nosso organismo prepara-se para ouvir um trovão. Os realizadores de filmes de terror conhecem o poder do condicionamento clássico, seja para provocar antecipações do organismo que podem nem sempre ser correspondidas com os factos, seja para mostrar cenas específicas ainda antes de organismo se preparar para elas. Chama-se a isto suspense. 2. No condicionamento operante, o organismo aprende a associar o comportamento a uma consequência. Em resultado desta associação, o organismo aprende a aumentar a frequência Esc. Sec Dr. Manuel Gomes de Almeida 2
  • 3. PSICOLOGIA JB dos comportamentos seguidos de recompensas, e a diminuir a frequência dos comportamentos que são seguidos de punições. Todavia, muito do que aprendemos tem pouco ou nada a ver com reforços directos; pelo contrário, tem origem na exposição, a que estamos sujeitos vivendo em sociedade, a modelos que realizam um determinado comportamento ou competência. Por exemplo, quando vemos alguém a jogar futebol, podemos ficar a perceber como se faz um ou outro passe. Este processo de aprendizagem, que acontece quando observamos e imitamos outra pessoa, chama-se aprendizagem por observação. A aprendizagem por observação é a mais frequente nos espaços educativos. Esc. Sec Dr. Manuel Gomes de Almeida 3
  • 4. PSICOLOGIA JB Condicionamento Clássico Era um lindo dia de primavera. Um homem levou o seu filho, ainda bebé, a passear no jardim. Num dado momento, aproxima-o de uma rosa para que a possa cheirar; uma abelha, que estava dentro das pétalas, morde o bebé. No dia seguinte, a mãe desse mesmo bebé traz rosas para casa para enfeitar uma jarra da sala. Retira uma flor do arranjo e leva-a ao bebé para que possa sentir o seu perfume. O bebé desata a chorar, logo que vê a rosa. O pânico do bebé, ao ver a rosa, ilustra o processo de aprendizagem por condicionamento clássico. Neste tipo de aprendizagem, um estímulo neutro (a flor) aparece associado a um estímulo com um determinado significado (a dor da picada da abelha), e o sujeito adquire a capacidade de responder ao estímulo neutro do modo como responderia ao estímulo com significado (medo). Os Estudos de Pavlov Nos primeiros anos do século XX, o fisiologista russo Ivan Pavlov fazia estudos sobre a digestão. Nas suas experiências, habitualmente dava a comer bocados de carne a um cão, para provocar a salivação. Por acidente, Pavlov reparou que os bocados de carne não eram o único estímulo que provocava salivação no cão. O cão salivava em resposta a um conjunto de estímulos associados ao alimento, como a visão do prato da comida, a visão do indivíduo que trazia a comida à sala de experiências e o som da porta a fechar-se quando o alimento chegava. Pavlov reconheceu que as associações do cão destas visões e sons com a comida era um importante tipo de aprendizagem, a que mais tarde se chamou condicionamento clássico. Pavlov quis, então, perceber porque é que o cão salivava em resposta a várias visões e sons, antes de comer a ração de carne. Observou que o comportamento do cão incluía componentes aprendidas e componentes não aprendidas. A parte não aprendida do condicionamento clássico baseia-se no facto de alguns estímulos produzirem automaticamente certas respostas, independentes de qualquer aprendizagem prévia. Os reflexos fazem parte destas associações estímulo-resposta não aprendidas. Incluem a salivação como resposta ao alimento, as náuseas como resposta a comida estragada, as tremuras em resposta a baixas temperaturas, a tosse em resposta a um congestão das vias respiratórias superiores, a contracção da pupila em resposta à luz, etc. Um estímulo incondicionado é, então, um estímulo que produz uma resposta sem aprendizagem prévia. O alimento era o estímulo incondicionado nas experiências de Pavlov. Uma resposta incondicionada é uma resposta não aprendida provocada automaticamente pelo estímulo incondicionado. Nas experiências de Pavlov, a saliva que fluía da boca do cão em resposta ao alimento era uma resposta incondicionada. No caso do bebé e da flor, a aprendizagem e a experiência não eram o motivo pelo qual ele chorou ao ser picado por uma abelha. O seu choro não era aprendido e ocorreu automaticamente, na sequência da picada da abelha. A picada da abelha era, então, o estímulo incondicionado, e o choro a resposta incondicionada. No condicionamento clássico, o estímulo condicionado é um estímulo previamente neutro que, após ter sido associado a um estímulo incondicionado, produz uma resposta condicionada. A resposta condicionada é a resposta aprendida ao estímulo condicionado, que acontece após a associação do estímulo condicionado ao estímulo incondicionado (Pavlov, 1927). Para estudar, de forma experimentalmente controlada, a resposta do cão a vários estímulos associados aos bocados de carne, Pavlov tocava uma campainha antes de dar de comer ao cão. Até então, o toque da campainha não produzia qualquer efeito no cão, excepto talvez o de o acordar da sesta. A campainha era um estímulo neutro. Entretanto, o cão começou a associar o som da campainha ao alimento e passou a salivar só ao som da campainha. A campainha tornou-se num estímulo condicionado (aprendido),e a salivação, neste caso, passou a ser uma resposta condicionada. Para o infeliz bebé, a flor era a “campainha”, ou Esc. Sec Dr. Manuel Gomes de Almeida 4
  • 5. PSICOLOGIA JB estímulo condicionado, e chorar era a resposta condicionada após ter associado a picada da abelha (estímulo incondicionado) à flor (estímulo condicionado). Aquisição Aquisição, no condicionamento clássico, é a aprendizagem inicial da ligação estímulo-resposta. Envolve um estímulo neutro que se associa a um estímulo incondicionado, tornando-se em estímulo condicionado que produz a resposta condicionada. Dois aspectos importantes da aquisição são o tempo e a previsibilidade. O intervalo de tempo entre EC (estímulo condicionado) e EI (estímulo incondicionado) é um dos aspectos mais importantes do condicionamento clássico. Esse intervalo define a contiguidade, ou a associação no tempo e no espaço dos dois estímulos. As respostas condicionadas desenvolvem-se quando existe contiguidade entre EC e EI, isto é, quando ocorrem muito próximos no tempo. Na maior parte dos casos, o intervalo ideal é de fracções de segundo. Robert Rescorla acredita que, no condicionamento clássico, é importante não só um intervalo curto de tempo entre EC e EI, mas também que exista a previsibilidade da ocorrência de um estímulo a partir da presença do outro. Por exemplo, o relâmpago é habitualmente seguido de um trovão, o que, mesmo que passe algum tempo entre os dois, não impede que tapemos os ouvidos ao ver um relâmpago, porque a nossa experiência nos diz que um precede sempre o outro. Generalização e Discriminação Pavlov descobriu que o cão salivava não só em resposta ao som da campainha, mas também a outros sons, como um assobio, por exemplo. Pavlov não tinha associado estes novos sons ao estímulo incondicionado (alimento). Descobriu que, quanto mais semelhante era o ruído ao som original da campainha, mais abundante era a salivação do cão.. Generalização, no condicionamento clássico, é a tendência para novos estímulos, semelhantes aos estímulos condicionados originais, produzirem respostas semelhantes à resposta condicionada. A generalização permite que a aprendizagem não fique completamente dependente de um estímulo específico. Por exemplo, não temos de aprender a conduzir de novo quando trocamos de carro, ou quando conduzimos numa estrada desconhecida. A generalização dos estímulos nem sempre é benéfica. Por exemplo, um gato que generaliza a partir de uma inofensiva tainha para uma perigosa piranha pode ter problemas sérios; no entanto, a generalização, mesmo inadequada, revela-se importante para a aprendizagem da discriminação dos estímulos. Discriminação, no condicionamento clássico, é o processo que nos conduz a aprender a responder a certos estímulos e a não responder a outros. Para provocar este processo de discriminação, Pavlov passou a dar comida ao cão só na sequência do toque da campainha; sempre que o cão ouvia outro som qualquer, Pavlov não dava nunca comida alguma ao cão. Deste modo, o cão de Pavlov aprendeu a discriminar o som da campainha de outros sons. Extinção e Recuperação Espontânea Depois de condicionar o cão a salivar ao som de uma campainha, Pavlov tocou repetidamente a campainha numa única sessão, sem lhe dar nada a comer. Num dado momento, o cão deixou de salivar. A este resultado chama-se extinção, que, no condicionamento clássico, significa o enfraquecimento da resposta condicionada Esc. Sec Dr. Manuel Gomes de Almeida 5
  • 6. PSICOLOGIA JB na ausência do estímulo incondicionado. Sem a associação continuada com o estímulo incondicionado, o estímulo condicionado perde o seu poder para originar uma resposta condicionada. Mas nem sempre a extinção significa o fim de uma resposta condicionada. No dia seguinte ao de ter extinguido a salivação condicionada ao som da campainha, Pavlov levou o cão ao laboratório e tocou de novo a campainha, continuando a não lhe dar comida. O cão salivou, indicando que uma resposta extinta pode reaparecer espontaneamente. Recuperação espontânea é o processo do condicionamento clássico através do qual uma resposta condicionada pode reaparecer após um intervalo de tempo sem condicionamento. Vejamos, agora, como funciona a aquisição, generalização, discriminação, extinção e recuperação espontânea no exemplo de uma criança que precisou de ser tratada por um dentista: ‣ Aquisição: a criança aprende a ter medo (RC) de ir ao dentista, associando a consulta a uma resposta emocional não aprendida (RI) que resulta da dor que sente por ter um dente cariado (EI) ‣ Generalização: A criança tem medo do consultório do dentista e de lugares idênticos, incluindo os consultórios de outros médicos e de adultos que estão lá dentro vestidos com bata branca, e de odores e sons habituais. ‣ Discriminação: A criança vai com a mãe ao consultório do médico dela (mãe) e aprende que ele não está associado à dor do EI. ‣ Extinção: A criança vai repetidas vezes ao dentista e não tem qualquer experiência dolorosa; o medo do consultório do dentista desaparece. ‣ Recuperação espontânea: um novo dente cariado começa a doer e a criança volta a ter medo de ir ao dentista. Condicionamento Clássico em Seres Humanos O condicionamento clássico é, nos dias de hoje, muito utilizado na publicidade. O próprio John Watson, investigador americano que explorou as possibilidades do condicionamento, acabou por dedicar-se à publicidade. Em boa verdade, os seus efeitos nem sempre são garantidos. Com efeito, recentemente (2001), verificou-se experimentalmente que, se o estímulo condicionado for encontrado fora do contexto da publicidade, não existe qualquer efeito de previsibilidade sobre o estímulo incondicionado, sendo portanto possível a qualquer ser humano tomar decisões sem condicionamento no quadro da realidade; no entanto, muita da publicidade já se mistura com a realidade e, no momento de comprar, muitos sujeitos são condicionados porque o ambiente de compra é, ele próprio, publicidade. Apesar de alguns riscos, associados ao condicionamento clássico, a verdade é que ele constitui uma modalidade de aprendizagem fundamental para a sobrevivência no seu nível básico. Por exemplo, graças a este tipo de condicionamento, conseguimos afastar as mãos de uma placa de forno eléctrico antes de nos queimarmos. Por isso mesmo, também está associado a algumas das perturbações das nossas condições básicas de sobrevivência. Esc. Sec Dr. Manuel Gomes de Almeida 6
  • 7. PSICOLOGIA JB O Medo A fobia é um medo irracional. O condicionamento clássico fornece explicações para alguns tipos de fobias. John B. Watson, (o tal que acabou por se dedicar à publicidade e que deu o nome de behaviorismo à corrente da Psicologia que se encarregou de estudar o condicionamento), e Rosalie Rayner demonstraram o papel do condicionamento clássico em fobias de uma criança (Albert era o seu nome). Mostraram à criança um rato branco de laboratório (uma cobaia, portanto), para verificar se ela tinha medo do animal. O Albert não tinha medo de cobaias. Na altura em que o Albert estava a brincar com o rato, foi produzido um ruído de estrondo muito forte por trás da sua cabeça. Não foi surpresa para ninguém, nem é para nós, o facto de a criança começar imediatamente a chorar, assustada com o estrondo que ouviu sem saber de onde vinha. Após sete (só sete) associações do ruído assustador com o rato branco, o Albert começou a ter medo do rato, mesmo no mais absoluto silêncio. O medo do Albert generalizou-se ainda a um coelho, a um cão e até (quem diria?) a um casaco de peles de foca. Nos dias de hoje, o estudo de Watson e Rayner seria contrário às normas éticas da investigação em Psicologia. Sobretudo porque não se preocuparam em reverter o efeito que criaram no pobre Albert, que abandonou as sessões experimentais com um medo irracional de ratos, e de outros animais e até coisas, perfeitamente construído pelos experimentadores. Mesmo assim, e por isso mesmo, Watson concluiu, e bem, que muitos dos nossos medos têm origem em processos de condicionamento clássico. Com efeito, podemos desenvolver medo dos dentistas em resultado de experiências (não são precisas muitas) dolorosas, medo de conduzir automóvel depois de um acidente de viação, medo de cães depois de ter sido mordido por um. A boa notícia é que os medos que têm origem no condicionamento clássico (nem todos têm essa origem) também podem, em grande número de casos, ser eliminados com procedimentos de condicionamento. Contra-condicionar é um procedimento clássico de condicionamento que visa enfraquecer a resposta condicionada (RC), associando o estímulo que provocou o medo a uma nova resposta que é incompatível com o medo. Embora Watson se tenha esquecido de eliminar os medos que construiu no Albert, uma colaboradora de Watson, Mary Cover Jones, eliminou medos de uma criança de 3 anos, chamado Peter. Peter tinha alguns dos medos com que ficou o Albert; No entanto, os medos de Peter não foram produzidos pelas experiências de Mary Jones. Mesmo assim, Peter tinha medo de ratos, de coelhos, de casacos de peles, sapos, peixes e brinquedos mecânicos. Para eliminar estes medos, Jones trouxe um coelho para a sala, mantendo-o inicialmente a uma distância que não perturbasse a criança. Ao mesmo tempo que o coelho era trazido para dentro da sala, Peter era convidado a comer “crackers” com leite (de que gostava muito). Em cada um dos dias seguintes, o coelho era colocado cada vez mais perto da criança, enquanto esta se deliciava com o seu alimento favorito. Após algumas sessões, Peter chegou ao ponto de ser capaz de comer as “crakers” com uma mão e fazer festas ao coelho com a outra. O sentimento de prazer produzido por aquela refeição de cereais, dada à criança, era incompatível com o medo produzido pela presença do coelho. Emoções Agradáveis O condicionamento clássico não se restringe a emoções desagradáveis como o medo. De entre as coisas que podem produzir nas nossas vidas sensações agradáveis, na sequência de um condicionamento, podemos mencionar um arco-íris, um dia de sol, uma canção especial. Se tivermos uma experiência positiva, o sítio onde essa experiência aconteceu pode tornar-se um estímulo condicionado, como resultado da associação de um lugar (EC) ao acontecimento positivo (EI). Os estímulos, muitas vezes associados à sexualidade como uma música suave, roupa sensual, um restaurante romântico, transformam-se frequentemente em estímulos condicionados que produzem atracção sexual. Esc. Sec Dr. Manuel Gomes de Almeida 7
  • 8. PSICOLOGIA JB No entanto, por vezes, o condicionamento clássico conduz a experiências ao mesmo tempo agradáveis e desviantes da norma. É o caso dos fetiches, como roupa interior ou sapatos, cuja visão e toque podem produzir excitação sexual em certas pessoas. O fetiche pode ser desenvolvido quando o objecto fetiche foi associado ao prazer sexual. O objecto fetiche torna-se, então, um estímulo condicionado. Dependência de Drogas O condicionamento clássico também pode ajudar a explicar certos aspectos do uso de drogas. Pavlov verificou que os reflexos condicionados, que provocava no cão, facilitavam a digestão. Concluiu, portanto, que o processo digestivo começa logo que a comida é vista ou cheirada - por outras palavras, o corpo começa o processo da digestão antes de ser ingerido o alimento. Esta reacção é semelhante à resposta que ocorre no corpo antes do consumo da droga. Quando as drogas são tomadas em circunstâncias particulares - numa altura determinada do dia, num certo lugar, ou com um ritual particular - o corpo reage em antecipação à tomada da droga (seja ela uma droga ilícita ou um medicamento). Há autores que relacionam este aspecto do uso de drogas ilícitas, resultante de condicionamento clássico, com a morte por overdose. Com efeito, os utilizadores de drogas têm o hábito de as consumir em locais bem determinados (quarto de banho, por exemplo), e adquirem uma resposta condicionada a esses locais. Quando chegam a esses locais, o corpo começa a preparar-se, por antecipação ao efeito da droga. Se o consumidor de drogas toma a mesma dose num outro local, de forma inesperada, (numa discoteca, por exemplo) pode acontecer que o seu corpo não consiga preparar-se para esse consumo. Sobretudo no caso de consumo de heroína, há investigadores que atribuem a morte por overdose, em parte, a esta falta de preparação do corpo para o consumo, que acontece frequentemente quando o consumidor altera as suas rotinas. (continua) Esc. Sec Dr. Manuel Gomes de Almeida 8