O documento discute como arquitetos brasileiros imaginam as casas do futuro, com três frases ou menos:
1) As casas terão espaços mais flexíveis e tecnologia integrada de forma discreta para melhorar a experiência dos moradores.
2) A sustentabilidade será fundamental no projeto e construção das casas, com foco em reuso de recursos e integração com a natureza.
3) Paredes e estruturas poderão se adaptar ativamente às necessidades dos moradores com base em sensores e sistemas computacionais.
Em parceria com a Professora Helena Abascal, publicamos os relatórios das pesquisas realizados por alunos da fau-Mackenzie, bolsistas PIBIC e PIVIC. O Projeto ARQUITETURA TAMBÉM É CIÊNCIA difunde trabalhos e os modos de produção científica no Mackenzie, visando fortalecer a cultura da pesquisa acadêmica. Assim é justo parabenizar os professores e colegas envolvidos e permitir que mais alunos vejam o que já se produziu e as muitas portas que ainda estão adiante no mundo da ciência, para os alunos da Arquitetura - mostrando que ARQUITETURA TAMBÉM É CIÊNCIA.
Em parceria com a Professora Helena Abascal, publicamos os relatórios das pesquisas realizados por alunos da fau-Mackenzie, bolsistas PIBIC e PIVIC. O Projeto ARQUITETURA TAMBÉM É CIÊNCIA difunde trabalhos e os modos de produção científica no Mackenzie, visando fortalecer a cultura da pesquisa acadêmica. Assim é justo parabenizar os professores e colegas envolvidos e permitir que mais alunos vejam o que já se produziu e as muitas portas que ainda estão adiante no mundo da ciência, para os alunos da Arquitetura - mostrando que ARQUITETURA TAMBÉM É CIÊNCIA.
1. CONTEMPORÂNEO01
o futuro está AQUI
De olho nas tendências mundiais, arquitetos brasileiros falam de
sua ideia de casas do futuro e até desenvolvem projetos em que
predominam flexibilidade, tecnologia e consciência ambiental
TEXTO Luciana Mattiussi
A ideia de que no século 21 viveríamos em cidades repletas de prédios com mais de cem
andares e com o céu abarrotado de carros voadores já foi descartada há algum tempo. Mas uma
dúvida continua: como serão as residências daqui a 50, 60 anos, já que as moradas também cos-
tumam se transformar de acordo com as mudanças vividas pelo homem?
Quem acredita que a tecnologia irá promover cada vez mais interação com os morado-
res está no caminho certo. No entanto, esta não será a principal característica das casas do
futuro. Pelo menos não na opinião de alguns arquitetos brasileiros. Em um divertido exercício
de “futurologia”, Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz, sócios do
escritório FGMF, além de Guto Requena, Roberto Marin e Rafael Barros, apostam suas fichas
na flexibilidade dos projetos e já apresentam algumas possíveis soluções. Os próximos anos
dirão se eles estão ou não no caminho certo.
EM SENTIDO HORÁRIO, A PARTIR DA PÁGINA
AO LADO, O PROJETO TIC TAC, DO ESCRITÓRIO
DE ARQUITETURA FGMF, CASA DESENVOLVIDA
PELO ARQUITETO ROBERTO MARIN E
DETALHES DE PROJETOS DE RAFAEL
BARROS: TECNOLOGIA E FLEXIBILIDADE
2. CONTEMPORÂNEO01
A Tic Tac não tem configuração definida, e tanto as paredes como o teto se deslocam por trilhos
em constante transformação
Já imaginou uma casa de 77 metros quadrados que pode
crescer até chegar aos 400 metros quadrados? Os arquitetos Fer-
nando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz,
do escritório paulistano FGMF, sim. E foi com essa ideia que eles
foram os primeiros brasileiros a integrar o Architects Directoryda
conceituada revista britânica Wallpaper, que elege desde 2007 os
profissionais mais promissores do mundo. “A revista entrou em
contato no final de 2008 e pediu um projeto-conceito que incor-
porasse o discurso do escritório. Em março, eles avisaram que
faríamos parte do diretório”, conta Gimenes.
A casa Tic Tac, como o projeto foi apelidado, não tem confi-
guração definida, e tanto as paredes como o teto se deslocam por
trilhos. O único núcleo fixo é o central, onde ficam a cozinha e o
banheiro. “A ideia do projeto surgiu por acreditarmos que hoje
vivemos de forma muito estática, e nossa vida não é estática.
Pensamos: ‘E se a casa mudasse conforme a necessidade do mora-
dor? Então, resolvemos desenvolver o conceito”, diz o arquiteto.
Aumentar o espaço para receber os amigos ou para uma festa ou
ainda porque a família ficou maior são bons exemplos da funciona-
lidade da Tic Tac. Para os arquitetos, essa flexibilização e a otimiza-
ção dos espaços são aspectos fundamentais nas moradias do futuro.
“Essa já é uma necessidade atual, inclusive para evitar extremos de
reformas e o excesso de resíduos gerados. Não será preciso quebrar
tudo para fazer uma mudança. O espaço interno ganha novas pro-
porções e os lugares ociosos deixam de existir”, diz Forte.
O trio também aposta que várias funções da casa poderão
ser realizadas por intermédio de um relógio de pulso, como se
fosse um controle remoto que irá programar, por exemplo, a aber-
tura e o fechamento de portas e janelas. Para eles, a sustentabilida-
de já estará em outro momento. “É uma questão de sobrevivência,
que será resolvida nos projetos das residências, e não apenas pen-
sando em instalar sistemas de reutilização”, afirma Ferraz.
Esteticamente, o futuro reserva linhas mais simples. “As mudan-
ças físicas serão pequenas, porque as cidades já estão consolida-
das. Mas com o uso de novos tipos de material na construção, co-
mo revestimentos metálicos, as formas serão parecidas com as de
um contêiner”, opina Gimenes.
NA PÁGINA AO LADO,O TRIO DE ARQUITETOS DA FGMF: FERNANDO FORTE, LOURENÇO
GIMENES E RODRIGO MARCONDES FERRAZ. NAS FOTOS ABAIXO E NA PÁGINA À DIREITA,
DETALHES DO PROJETO DE RESIDÊNCIA QUE GANHOU DESTAQUE INTERNACIONAL
3. AO LADO,O ARQUITETO CARIOCA RAFAEL BARROS, QUE APOSTA NA
FLEXIBILIZAÇÃO DOS ESPAÇOS DAS CASAS DO FUTURO. NAS FOTOS
ACIMA, DETALHES DE APARTAMENTO COM PAREDES MÓVEIS
O APARTAMENTO DO ARQUITETO GUTO REQUENA (ACIMA) É A PRÓPRIA
APLICAÇÃO DE SUAS IDEIAS: ALÉM DA TECNOLOGIA PRESENTE, OS
AMBIENTES E MÓVEIS SE ADAPTAM ÀS NECESSIDADES DO MORADOR
CONTEMPORÂNEO01
O projeto de casa do futuro idealizado por Barros em parce-
ria com sua sócia Ivia Bencke procura integrar todos esses concei-
tos. A flexibilidade está presente nas paredes móveis e na integra-
ção dos espaços, como no caso da sala com a cozinha. “Além de
serem juntas, na cozinha, em vez do fogão, há um cooktop e uma
churrasqueira que compõem o espaço junto a uma coifa. O armá-
rio do quarto foi disfarçado com portas feitas com painéis curvos
de madeira e espelho”, explica Ivia. “Também procuramos utilizar
sistemas de reúso de recursos naturais e aproveitar ao máximo a
iluminação natural”, completa Barros.
como nos filmes
A visão de casa do futuro do arquiteto Guto Requena tem to-
dos os ingredientes que os fãs de ficção científica tanto gostam.
Sensores, botões, computadores e projeções holográficas. Mas,
para ele, essas tecnologias não deixarão as relações pessoais mais
distantes nem os espaços mais frios. “A tecnologia irá impactar a
forma de nos comportarmos dentro de casa, mas não distanciando
os moradores. Ao contrário, irá aproximar as pessoas”, acredita.
Com esse pensamento, o arquiteto – que também é pesqui-
sador do Nomads (Núcleo de Estudos de Habitares Interativos da
USP) – idealizou com seu grupo o projeto Nomads na Metrópole,
supervisionado pelo professor Marcelo Tramontano. “Buscamos
mapear como as tecnologias e as novas tendências de comporta-
mento mudam a arquitetura”, diz Requena. O projeto mostra uma
casa de um único bloco, que em seu interior abriga dispositivos
organizadores de diferentes possibilidades espaciais. Requena
aposta na flexibilidade. Os materiais para a construção são ma-
deira de reflorestamento, alumínio reciclado e resina plástica.
Acasadofuturodoarquitetocontaráaindaumbancodedados
com informações dos moradores, como batimentos cardíacos, altura
da voz e temperatura corporal. “Esses sensores gravam os dados e
transformam a configuração do ambiente”, explica Requena, que
também aposta que os cômodos não terão uma função definida.
muito mais que um botão
O arquiteto carioca Rafael Barros, do escritório carioca Bencke
& Barros Arquitetura, também acredita que os espaços flexíveis serão
a principal característica das residências do futuro. “A tendência é usar
toda a área disponível e integrar todos os ambientes de uma casa. Os
espaços não terão apenas uma função, e todos eles irão oferecer maio-
res possibilidades de convívio entre as pessoas. Acredito que não vá
mais existir aquela coisa de cada um ficar isolado em um lugar. As pes-
soas, hoje, já estão pedindo por isso”, diz.
A tecnologia, como já era de se esperar, é outro ponto fundamen-
tal na opinião do arquiteto. Mas nada que lembre o mostrado em dese-
nhos e filmes que retratam o futuro. “Essa coisa dos Jetsons é muito
distante. Não teremos nada parecido nos próximos 50, 60 anos. A tec-
nologia, é claro, estará presente, mas escondida nas casas, e reagirá de
forma natural às pessoas. Ninguém quer deixar à mostra uma câmera
no teto da sala, mas isso não significa que ela não possa estar lá”, co-
menta. Para o arquiteto, a automação será cada vez mais comum nas
residências. “A tecnologia tende a ficar mais barata e acessível”, fala.
No entanto, ele faz questão de ressaltar: “A casa do futuro será muito
mais integrada à natureza do que aos ‘botões’. Os conceitos de susten-
tabilidade estarão presentes, desde a concepção do projeto. O espaço
será criado para promover integração com a natureza.”
4. “O espaço será qualificado pelo mobiliário que está lá no
momento. Hoje, a cozinha é o lugar que abriga fogão e geladeira,
mas no futuro eu posso ter uma bancada volante com tudo isso,
pronta para ser transportada”, afirma.
Como ele acredita que o “futuro é hoje”, nada mais natural
que já utilize alguns desses conceitos em sua própria casa-escritó-
rio. Batizado de Bohemian Cyborg, o apartamento de Requena
não tem ambientes definidos e os móveis podem ser deslocados
facilmente pelo espaço. A planta original, de 85 metros quadra-
dos, reproduzia um apartamento tradicional, separado em área
social, íntima e de serviço. Com a reforma, se transformou em um
espaço vazio, organizado ao redor de um cubo interativo. “Esse
cubo tem sensores e leds, e suas faces escondem as áreas ‘molha-
das’ da casa, como banheiro, cozinha e lavanderia”, explica. “O
projeto possibilita que o morador transforme o espaço, como em
um processo de design participativo”, finaliza Requena.
até parece gente
Parece excesso de fantasia pensar que paredes podem se com-
portar como a nossa pele? Não para o arquiteto Roberto Marin,
professor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Ele
acredita que isso poderá se transformar em cerca de 50 anos. “Tere-
mostecnologiasmuitomaisavançadas.Porisso,nolugardasparedes
convencionais, teremos painéis pré-fabricados, com sistemas com-
CONTEMPORÂNEO01
ROBERTO MARIN (ACIMA) APOSTA NA INTEGRAÇÃO DE SUSTENTABILIDADE E TECNOLOGIA.
ABAIXO E NA PÁGINA AO LADO, DETALHE DE RESIDÊNCIA PROJETADA PELO ARQUITETO:
PAREDES COM TELHAS METÁLICAS DEVEM MELHORAR SENSAÇÃO TÉRMICA
putadorizados e que reagirão como a pele humana. Nossa pele pensa.
Quandoestámuitocalor,porexemplo,agentetranspirapararefrescar.As
paredes terão tecnologia para se comportar da mesma maneira e melho-
rar a sensação térmica dentro das residências”, opina.
Segundo Marin, outros conceitos fundamentais para a arquitetu-
ra do futuro são a sustentabilidade e a flexibilidade, presentes em um
projeto desenvolvido por ele. “Trata-se de uma casa que não serve
apenas como moradia, mas também como um lugar para reunir os ami-
gos e trabalhar. A sala ampla pode se multiplicar com o uso de portas
retráteis. Ela pode ser um espaço único ou compartimentada de acor-
do com a necessidade dos moradores”, explica.
A sustentabilidade está presente no projeto nos sistemas de reúso
de água, captação de energia solar e no material de construção utiliza-
do. “No telhado, as lâminas são descoladas para haver mais ventilação
e conforto térmico, o que acaba com a necessidade de ar-condiciona-
do. Entre as paredes, foram colocadas telhas metálicas que absorvem
mais luz que o material usual e formam uma camada de ar. Esse tipo de
revestimento oferece isolamento térmico. Nas áreas externas, toda a
iluminação é feita com sensores”, relaciona o arquiteto, para quem não
dá para falar em futuro sem pensar em meio ambiente.
AQUI, OS PAVIMENTOS SUPERIOR (NO ALTO) E TÉRREO DA
CASA DO FUTURO DESENVOLVIDA POR MARIN: AMBIENTES
PRIVILEGIAM A INTEGRAÇÃO DOS MORADORES
d