1) O documento discute a presença de Antonio Machado na obra de Jorge de Sena, especialmente nos temas da heterogeneidade do ser e das figurações do outro.
2) É analisado o ensaio "Sobre António Machado" de Sena e traduções de poemas machadianos.
3) Três poemas no livro póstumo 40 Anos de Servidão inspirados por Machado são também comentados.
1. University of Massachusetts - Amherst
From the SelectedWorks of Francisco Cota Fagundes
January 2007
JORGE DE SENA – DISCÍPULO DE
ANTONIO MACHADO? Da Heterogeneidade
Do Ser E Das Figurações Do Outro No Poesia
Seniana
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Available at: http://works.bepress.com/francisco_fagundes/29
2. 1
FRANCISCO COTA FAGUNDES, “JORGE DE SENA – DISCÍPULO DE ANTONIO
MACHADO? Da heterogeneidade do ser e das figurações do outro no poesia seniana”
3. 2
Fonte:
Fagundes, Francisco Cota. “JORGE DE SENA – DISCÍPULO DE ANTONIO
MACHADO? Da heterogeneidade do ser e das figurações do outro no poesia
seniana”. Aula Ibérica: Actas de los congresos de Évora y Salamanca 2006-2007).
Ángel Marcos de Dios (Editor). Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca,
2007. 385-98.
4. 3
Jorge de Sena – Discípulo de Antonio Machado?
Da heterogeneidade do ser e das figurações do outro na poesia seniana
Francisco Cota Fagundes
University of Massachusetts Amherst
Identificar, por perfunctoriamente que fosse, todas as vozes espanholas na obra de Jorge
de Sena – desde as suas traduções, aos seus estudos sobre renascentistas e modernos, às
evocações de numerosos escritores no seu corpus propiamente artístico – e nesse espaço
enquadrar a de Antonio Machado – seria uma empresa hercúlea, merecedora embora, diga-se de
passagem, duma extensa monografia1
. Limitar-me-ei, pois, a uma breve sondagem ao tema
anunciado no título desta comunicação: a presença, em algumas obras de Jorge de Sena, mas com
incidência especial para a sua poesia, das constantes temáticas compreendidas sob as rubricas tão
machadianas da heterogeneidade do ser (o nosso despertar para a consciência do outro ou outros
que nos habitam e dos outros que existem para além de nós) e das figurações desses outros (que
assumem, na poesia seniana, uma galeria quase inesgotável de vozes e uma proliferação enorme
de temas e subtemas).
Com base em obras senianas da mais variada índole, é relativamente fácil demonstrar que
o autor de Campos de Castilla foi uma das presenças mais marcantes no itinerário artístico do
poeta português e que a sua presença, embora abranja outras áreas da história literária, surge
1
Para a lista mais completa até hoje e estudo da presença da Espanha no corpus artístico e extra-artístico de
Jorge de Sena, veja-se Frederick G. Williams, “Spain as Seen in the Works of Portuguese Writer Jorge de
Sena: Indifference, Repulsion, Envy, or Admiration?”
5. 4
quase sempre em relação, por vezes até exclusiva, com os anunciados temas da heterogeneidade
do ser e do outro. O presente trabalho pretende fazer uma breve sondagem à presença de Antonio
Machado 1) no conhecido ensaio “Sobre António Machado”, em paratextos e nas traduções de
poemas machadianos; 2) nos três poemas do volume póstumo 40 Anos de Servidão inspirados por
aspetos da vida e obra de Machado; e 3) identificar e brevemente comentar o aparecimento, ainda
na poesia de Post-Scriptum II, da constante temática da heterogeneidade do ser e das figurações
do outro, assunto esse que Jorge de Sena nunca mais abandonará e que dá alguns dos seus
melhores frutos em livros posteriores.
Não é meu propósito situar filosoficamente o pensamento de Jorge de Sena, até porque já
dediquei algum esforço nesse sentido em livros e ensaios meus publicados há já vários anos
(Fagundes, 1992, 1991, 1988) mas lembrar que, embora todos os filósofos menciondos por
Antonio Sánchez Barbudo nos estudos que dedicou à temática em foco na obra de Machado
(Leibnitz, Jaspers, Husserl e Scheler) possam ter contribuído, direta ou indiretamente, para o
pensamento de Jorge de Sena, conviria recordar as célebres palavras com que o Autor definiu a
sua própria visão do mundo: “Acredito que os deuses existem abaixo do Uno, mas neste Uno não
acredito porque sou ateu. Contudo, um ateu que, de uma maneira de certo modo hegeliana, pôs a
sua vida e o seu destino nas mãos desse Deus cuja existência ou não-existência são a mesma coisa
sem sentido. Filosoficamente, sou um marxista para quem a ciência moderna apagou qualquer
antinomia ente os antiquados conceitos de matéria e espírito (“Prefácio à Segunda Edição”
Poesia-I 21).
Um dos epítetos que, a meu ver, melhor caracteriza a cosmovisão de Jorge de Sena, tal
como ela se patenteia na sua imensa obra, é a de humanista, termo este com o qual ele
repetidamente se identificou2
. Contudo, sem optar por um ou outro rótulo sempre mais ou menos
limitante, sobretudo no caso dum poeta tão rico e complexo como Sena, é possível assinalar
2
Para uma interpretação distinta da minha da Weltanschauung seniana, veja-se Frederick G. Williams,
“Jorge de Sena: Moralist, Philosopher, Theologian”.
6. 5
alguns temas na obra seniana que acusam um parentesco profundo com temáticas e posturas
existencialistas, aliás com as raízes, o tronco e ambos os lados das ramagens da Árvore
Existencialista proposta por Emmanuel Mounier: a religiosa (que entronca em Pascal e
Kierkegaard e se ramifica, entre outras, nas obras de Jaspers, Marcel e Buber) e a ateísta (que, na
modernidade, deriva sobretudo de Nietzsche e, no século XX, frutifica, entre outros, em
Heidegger e Sartre). A obra de Jorge de Sena acusa a presença – em tratamentos que medeiam
entre uma implícita aceitação e uma explícita recusa frontal – de muitos dos grandes temas e
posições abordados, de maneiras distintas, por filósofos e escritores de pendor existencialista: a
contigência; a insuficiência da razão; a autodeterminação; a problemática da crença ou não em
Deus; a alienação; a presença constante da morte; a solidão; o solipsismo/narcisismo; o desespero
– mitigados muitos destes tópicos pela recorrente esperança, pelo compromisso com a vida e pelo
reconhecimento da presença do outro nele próprio e do imperativo da busca do outro fora de si.
Essa busca do outro e o encontro com ele/ela está dramatizado, para dar apenas um exemplo por
agora, num dos contos mais conseguidos de Jorge de Sena, “História do Peixe-Pato”, conto esse
que estudei à luz da filosofia dialógica do Ich und Du de Martin Buber, tocando também, embora
muito de passagem, na temática do outro em Antonio Machado, sem no entanto ter sido esse o
momento de aprofundar o seu indelével impacto na obra seniana.
Num breve ensaio editado na Brotéria (novembro1980) e reeditado por Eugénio Lisboa
em Estudos sobre Jorge de Sena, José Bento chamou a atenção para alguns paralelos entre a
poesia de Jorge de Sena (dois dos poemas senianos que aqui comentarei) e Antonio Machado.
Uma das bases desse estudo é, sem surpresa, o ensaio “Sobre António Machado”, que o autor de
Coroa da Terra edita em O Comércio do Porto, em novembro de 1957, e depois reedita em “O
Poeta é um Fingidor”. Atendo-nos apenas ao que diz respeito à temática em foco, Sena afirma3
:
Quando há quinze anos, e com atraso de alguns, se publicou o meu primeiro
livro de poemas, levava ele uma epígrafe de António Machado:
No es el yo fundamental
Eso que busca el poeta,
Sino el tu essencial.
3
A ortografia do espanhol, incluído o acento no primeiro nome de Machado, está de acordo com o texto de
Jorge de Sena.
7. 6
Isto só por si não quererá dizer que, para mim, Machado surgira não apenas
comum grande poeta que se admira, mas com um grande Mestre que se ama, pois que
epígrafes são por vezes muito circunstanciais. (Poeta é um Fingidor 115)
Três páginas depois, Sena reincide no tema salientado pelo “proverbio” 36 (o citado
acima), enquadrando-o num amplo contexto do que chama “derrocada dos valores tradicionais do
psicologismo unitário”, derrocada essa que abrange (e tragicamente atinge!) Mário de Sá-
Carneiro, dá brado em Fernando Pessoa, surge nas “intermitências” proustianas e ressurge nas
“ambiguidades” de Pirandello. Sena cita uma célebre afirmação de um dos heterónimos de
Machado: ‘“Se tornó a creer en lo otro y en el otro, en la esencial heterogeneidad del ser’”. Aliás,
disse-o Machado, várias vezes e de muitas maneiras, em prosa e em verso. E, respeitante a Jorge
de Sena, poucas mensagens provindas de outros poetas foram tão claramente ouvidas – e ecoadas
e reecoadas – como essas mensagens concernentes à temática que aqui nos ocupa.
Como aponta o próprio Jorge de Sena, a solear 36 fora utilizada 15 anos antes como
epígrafe, aliás à terceira das três secções de Perseguição (1942), o primeiro volume de poemas
que o Poeta editou, tendo a primeira e segunda secções sido epigrafadas por textos assinados,
respetivamente, por René Char e André Breton. Quer isto dizer que a poesia de Jorge de Sena
surge em livro sob os signos do surrealismo e do compromisso inerente aos versos lapidares
machadianos. Ao comentar a solear 15 (“Busca a tu complementario, / que marcha siempre
contigo, / y suele ser tu contrario”), que ele considera tematicamente análoga à 36, Sánchez
Barbudo escreve as seguintes palavras, que eu gostaria de reter: “Lo que Machado seguramente
quiere decir es que hay que buscar el otro fuera, naturalmente; pero que el presagio de ese otro,
la idea de él, la necesidad de él, está ya dentro de nosotros. Y eso es por lo tanto lo primeiro que
hay que buscar y encontrar: esa figuración del otro, a priori en nuestra propia alma: Lo primero
que hay que hacer, en suma, es reconocer la necesidad del otro, nuestra necesidad de amor”
(Poemas de Antonio Machado 357-58).
Nos quinze anos que medeiam entre a epígrafe de 1942 e o ensaio de 1957, a poesia de
Jorge de Sena – de Perseguição, a Coroa da Terra (1946), a Pedra Filosofal (1950) e à massa de
8. 7
poemas inéditos, alguns dos quais entrariam em outros livros publicados ainda em vida, como
Post-Scriptum (1960), e outros editados postumamente, como 40 Anos de Servidão (1979) e
Visão Perpétua (1982) – não esqueceu nunca a lição de Mestre Machado, lição essa que Jorge de
Sena já vinha pondo em prática, com ou sem a ajuda de Machado, como veremos depois ao
focarmos alguns textos dessa massa enorme de poesias que comprazem os dois volumes
póstumos de juvenília – Post-Scriptum II (1985). Mas antes de perspetivarmos a poesia de Sena,
fixemo-nos no “Prefácio da Primeira Edição” a Poesia-I, texto esse duma importância decisiva
para a poética do autor de Coroa da Terra, como já demonstraram vários estudiosos de Jorge de
Sena e como demonstrou, melhor do que ninguém, Jorge Fazenda Lourenço no seu A Poesia de
Jorge de Sena. Nesse “Prefácio” Sena faz duas observações diretamente relacionadas com a
temática da heterogeneidade do ser e da busca do outro. Uma delas diz respeito à caracterização,
por parte do autor de Metamorfoses, da sua poesia como testemunho, acentuando Sena tratar-se
dum testemunhar que “ultrapassa precisamente o solipsimo inerente à mais convivente das
criações poéticas, e concede à poesia uma paradoxal objetividade que as fabricações da perfeição
artística são incapazes de atingir, por demasiado dependentes do gosto, quando o testemunho vale
pela refletida espontaneidade que apela e apelará sempre para a comunhão de
todos os inquietos, todos os insatisfeitos, todos os que exigem do mundo, para os outros, a
generosidade que lhes foi negada” (Poesia-I 28; itálicos de Sena). A outra passagem do “Prefácio
da Primeira Edição” a Poesia-I em que ouvimos um eco das admoestações machadianas tem a
ver com a conhecidíssima defesa, como crítico, do “fingimento” pessoano, mas da recusa de
Sena-poeta desse fingimento, por quanto “contrasta, quanto a mim, com a humildade expectante,
a atenção discreta, a disponibilidade vigilante, com que, dando de nós mais que nós mesmos,
testemunhamos do mundo que nos cerca, como do mundo que, vivendo-o, nós próprios cercamos
do nosso maternal cuidado” (“Prefácio” 25).
Não é de admirar, pois, que na seleção de poesias de Antonio Machado que figuram no
volume Poesia do Século XX (De Thomas Hardy a C. V. Cattaneo), Jorge de Sena enfatize, com
9. 8
poucas exceções, não poemas que se tornaram peças obrigatórias em representações antológicas
de Machado mas sim textos que, pela maior parte, estão relacionados com a temática do outro,
incluindo 9 poemas de “Proverbios y cantares”, entre os quais as soleares 1, 4, a nossa já
conhecida 36 e a 66 (também citada esta última no ensaio “Sobre António Machado”: “Poned
atención: / un corazón solitário / no es un corazón” – “proverbio” este que, como se sabe,
ironicamente Machado vai fazer Jorge Meneses atribuir a “no sé quien, acaso Pero Grullo”.
Poesías Completas: 710). Discutivelmente todos os poemas machadianos traduzidos por Sena
têm alguma relação, mais ou menos direta, com a temática que aqui nos ocupa4
. Não admira pois
que a maioria destes poemas sejam glosados nos três poemas de 40 Anos de Servidão sobre
Antonio Machado: ‘“Queria que a morte’”, “António Machado e S. Juan de la Cruz” e ‘“Este
poeta que leio...’” (40 Anos 147-151)5
, textos estes enquadráveis numa série de cerca de 60
poemas de viagens dispersos por vários livros de Sena e a que, nem de longe, poderia eu fazer
justiça no âmbito limitado deste ensaio. Salientem-se, em cada um destes poemas que têm
Antonio Machado como tema fulcral, alguns dos elementos principais que eles aportam à
temática da heterogeneidade do ser e busca do outro e como dois deles, o primeiro e o último,
mais ou menos diretamente se reportam a referências ao tema do outro – referências essas feitas e
reiteradas ao longo duma série de textos ensaísticos, preambulares, traduzidos e criativos, que se
prolongam por toda a vida de Jorge de Sena.
Os três poemas sobre Machado formam, de facto, uma minissérie sugerindo uma
estrutura análoga a tema e variações e cujo elemento integrante é o tema do outro. Outra maneira
complementar de encarar os poemas, sem abandonar a analogia musical, é vê-los como retratos
4
Eis os poemas de Antonio Machado traduzidos por Jorge de Sena, na ordem em que estão incluídos no
volume: “Me dijo una tarde” e “Desde el umbral del sueño” (de Soledades); “Retrato” e “Parábolas VI e
VII” (de Campos de Castilla); “Proverbios y Cantares I, IV, XXXVI, XLVII, L, LIII, LXVI, LXXXVI,
XCIII”) (de Nuevas canciones); e “La plaza tiene un torre” (De un cancionero apócrifo” de Abel Martín).
5
Não é este o momento para defender a tese, comprovável a cada passo, que em muitos casos Jorge de
Sena traduziu poemas que retomaria no corpo mesmo da sua poesia e prosa de ficção. Damos, como
exemplo, os casos de Wagner, Nietzsche e Platen.
10. 9
ou perfis de Machado, com fortes implicações de autorretrato – recorrendo Sena, neste caso, a
uma velha técnica que emprega em outros poemas, por exemplo, “Camões Dirige-se aos Seus
Contemporâneos” (de Metamorfoses), em que aquilo que se diz sobre o biografado é também
aplicável, em grande parte, ao biógrafo. Assim acontece no poema “‘Queria que a morte...’”, em
que estão aludidos e glosados vários poemas de Machado, com particular relevo para “Retrato”
de Campos de Castilla e a solear 66 já nossa conhecida. A referência ao exílio e à “derrocada de
Espanha, a do povo / e a da História”, não pode deixar de evocar paralelos na vida e preocupações
temáticas relativas a Portugal de parte de Jorge de Sena que, em numerosíssimas obras suas em
poesia e prosa, lidou com a questão portuguesa do fascismo salazarista e que, em parte devido a
ele, se autoexilou. O género mesmo do poema e do seu “intertexto” (“Retrato”, de Campos de
Castilla) é um elemento que estreita ainda mais os laços entre os dois poetas, pois Jorge de Sena
era, como poeta, um consumado retratista e autorretratista. Mas é para a particularidade temática
que Sena mais destaca no “Retrato” de Machado que desejaria chamar a atenção – os filhos do
mar/los hijos de la mar. É com este “tema”, no sentido literário e musical, que começa o poema
de Jorge de Sena. E é com esse tema que termina, ao mesmo tempo que urde, na teia que é
‘“Queria que a morte...’”, a solear 36, que não anda nunca muito longe de todas as considerações,
poéticas ou extrapoéticas, que Jorge de Sena faz acerca de Antonio Machado. Assim termina o
primeiro poema da série, que também tem como apanágio constituir um pastiche: “no es el yo
fundamental eso que busca el poeta / sino el tu esencial. Desnudo / como los hijos de la mar. /
Quem seriam, despojados, estes filhos do mar?” É como se Sena desejasse com a pergunta final
prolongar no tempo, deixando-a em aberto, a identidade desse tú esencial a que a sua própria
poesia, desde que a começou a escrever nos fins da década de 30 até à última década da sua vida
– e, se incluirmos o “Prefácio” a Poesia-III, até quase ao fim da sua vida – fornecerá, nunca a
resposta, mas vários tipos de resposta, envoltas sempre em novas indagações que pedem mais e
mais respostas sempre mais ou menos suspendidas...
11. 10
No segundo poema da minissérie, “António Machado e S. Juan de la Cruz” – escrito,
como o primeiro, a 12/8/73 ainda em Segovia, Sena limita-se a contrastar a diferença entre “as
visões ardentes” de ambos os poetas, com a diferença – atribuível a ele, Sena, também – que essa
visão é religiosa num (San Juan) e humanista no outro (Machado). Este contraste diz, aliás, tanto
respeito a uma caracterização da cosmovisão de Machado (evocando-se, em relação a essa visão,
a solear 53 de “Proverbios y cantares”: “Tras el vivir y el soñar, / está lo que más importa: /
despertar”) como a uma autocaracterização de Sena, cuja visão do mundo, particularmente no que
respeita a um dos seus grandes temas, a visão humanista do amor, foi feita em oposição ao
misticismo – de que S. Juan de la Cruz e particularmente Santa Teresa foram marcos
contrastantes (veja-se o meu “Eros em Êxtase: ‘O Grande Segredo’”, em Metamorfoses do
Amor).
O terceiro e último poema sobre Machado é o mais meditativo dos três e foi escrito
menos de um mês depois dos primeiros dois, em Santa Barbara, Califórnia, mas ainda sob o
impacto da visita a Segóvia. A circunstância do poema é a audição de música (não identificada,
mas evocativa dos poemas de Arte de Música) e a simultânea leitura da poesia de Machado.
Aliás, existe uma certa ambiguidade no poema, advinda sobretudo de, contrariamente à prática
seniana aplicada aos poemas da série Arte de Música, não ser identificada a peça musical. Não
seria de todo insustentável que a “música” inspiradora neste caso fosse a música da poesia de
Machado. A meditação do poeta é sobre a condição do mundo e o papel que as artes, com
particular relevo para a poesia e a música, podem representar nele. Para quem conheça os poemas
de Natal dispersos pela obra de Sena o tipo de reflexão poética a que aqui se procede será
bastante familiar. Na última estrofe, a mais breve mas a mais incisiva no que a Machado diz
respeito, Sena vai retomar, variando-o, o tema anunciado no começo e no final do primeiro
poema que, depois de uma chamada de atenção para “visões ardentes” deste mundo (em contraste
com outros possíveis mundos), o tema do outro – o que deixa, note-se, a possibidade e
necessidade da sua procura totalmente em aberto: “Leio o velho poeta. Queria-se / desnudo como
12. 11
os filhos do mar. / Pergunto-me quem sejam esses filhos, / se ainda os haverá nalgum lugar
perdido”.
Constituiria uma imperdoável violência ao corpus poético de Jorge de Sena – para não
dizer, valha a verdade, à minha pessoa de estudioso dele – tentar, no espaço que me é permitido e
que agora me resta, uma perspetiva, por limitadíssima que ela tenha que ser, das manifestações da
heterogeneidade do ser e da busca do outro na sua poesia, para além dos três poemas sobre
Machado. Fiquemo-nos por uns quantos exemplos da poesia de Post-Scruptum II, cerca de 500
poemas, alguns de 1936, a maioria de 1938-39, nenhum deles posterior às primeiras diretas
referências senianas a Antonio Machado. Uma olhadela à temática da heterogeneidade do ser e da
busca do outro permitir-nos-á aventar algumas hipóteses sobre a pergunta que fiz no título desta
comunicação.
O tema em epígrafe está explícito em cerca duma vintena de poemas destes dois volumes,
a maioria no Volume 1. As modulações à volta da temática em foco são passíveis da seguinte
classificação: poemas expressivos da solidão ou da prisão do ser, solidão e prisão essas que
condicionam ou incentivam à busca do outro; o confronto com a presença do outro ou outros que
nos habitam; o encontro com o outro (por vezes com bastante ambiguidade sobre se se trata dum
eu exterior ou interior); o erotismo entre carinhoso e altruísta para com o outro versus o erotismo
explicitamente egocêntrico, donjuanesno e por vezes sádico (modalidades que aflorarão, entre
outras, em toda a poesia de Jorge de Sena); a circunscrição do outro à esfera humana e não à
sobrenatural, como consta do poema apropriadamente intitulado “Vozes”, em que o sujeito
poético se pergunta: “Porque quereis ouvir a voz dos anjos, / se não há vozes de anjos ou de
arcanjos / em troca da voz do nosso mundo?...” (Vol. 1 35).
A ideia de solidão, associada a uma imagética subtil e por vezes ostensivamente
narcísica, é apanágio de alguns poemas que incluí na primeira modulação, sendo os sonetos
“Revolta” e “Glauca” dois dos meus preferidos. Em “Glauca” está expressa uma tendência
suicida, subtil mas eficazmente unida a uma imagética de recorte narcisista: “—Água fria, que
13. 12
gelas quem te toma, / toma-me contigo até ao mais profundo / do abismo que tu cobres, imundo /
abrigo de algas lentas como a goma...” (PS Vol. 1: 175). O último terceto de “Revolta” acentua
novamente o pecado narcisista: “Dizem que o Universo é curvo e lá tem fim. / O meu não tem; ou
então é profundo... / Curiosidade maldita! Perdido seja eu que mergulhei em mim!” (PS Vol. 1:
60). Diga-se de passagem que o narcisismo ostensivamente enforma, como é sabido, vários dos
poemas machadianos de “Proverbios y cantares” (o 3 e o 6) e está implícito em vários outros. O
poema seniano “Eliminar”, em que se proclama “Nunca amei ninguém / e, que eu saiba, ninguém
me teve amor” e “Interposição” (em que o poeta reconhece que “Há sempre alguém / entre mim e
ti”; PS Vol. 2: 328) constituem também expressões particularmente dramáticas da primeira
modulação temática, com acento na consciência da solidão, atingindo este último poema um
exemplo particularmente veemente da barreira entreposta entre o eu e o outro. A segunda estrofe
deste poema de 11 versos é notável pelo caráter ambíguo da identidade desse outro, a qual se
exprime mediante um sábio uso de imagens, como claridade e sombras, com fortes sugestões
junguianas:
Uma claridade que domina,
Uma sombra que te desfaz,
Um corpo que te esconde,
Uma presença que nos separa,
Ou um nada indefinível...
“Desencontro” é um soneto que eu coloco na categoria de encontro com o outro. Mas
embora a noção de um tu exterior seja marcadamente percetível, o último terceto torna-a ambígua
para o leitor e, para o sujeito lírico, incómoda: “Ao corpo pesa muito o que não deu... / Oh meu
amor! Quisera ser só eu, /Já que não posso ser só eu e tu!... (PS Vol. 2: 50). A incapacidade de
partilhar, de dar-se ao outro, de o/a reconhecer na sua essencialidade, isto é, na plenitude dos seus
direitos e da sua independência e liberdade, fazem com que o eu necessitado de companhia se
retraia e suspire pela solidão narcísica. O que é acentuado neste terceto, e o torna particularmente
rico, é o sintagma que perfaz o primeiro verso, ao corpo pesa o que não deu ao outro. Uma
referência ao amor físico que não se realizou para si e para o outro? Ou uma referência àquilo que
14. 13
é do corpo mas não se enquadra necessariamente no domínio da fisicalidade – e que pode ser a
ternura, ou o reconhecimento da plena outredade do outro? Será, assim, possível ver este poema
como uma variação do tema expresso/sugerido no poema “Narciso” (Conheço o Sal...I), escrito
em 1970, portanto 31 anos mais tarde do que este, em que o sujeito poético seniano, em plena
madurez, compreensivelmente afirma, referindo-se ao amante de Eco? Eis a conclusão de
“Narciso”(Poesia-III 197): “Não foi de contemplar-se ou de a si mesmo amar-se / que em limos
se fundiu com sua imagem vácua, / mas de não ter sabido quanto não de olhar /nem só de
húmidos beijos se perfaz o amor.” Resposta do Poeta ao seu próprio poema “Desencontro”?
A temática do outro interior é, porém, inconfundível no poema ostensivamente intitulado
“O Outro” (datado de 25/10/38), poema que tem eco num texto poético intitulado
“Diferenciação” (escrito em 20-21.9/39, data à qual o poeta acrescenta a designação ‘doente’). No
primeiro destes poemas a identidade dos dois “outros” que habitam o sujeito poético é claramente
transparente:
Oh meu Deus!
Bem sei que não ouves
porque não tens nervos nem ouvidos!
Mas faze com que o ser,
esse outro,
que, dentro de mim
diminui a minha alegria
e transforma a minha dor ou a dor que ele gera
no que eu julgo ser poesia...,
sim, meu Deus,
esse ser,
faze com que ele
não morra antes de mim! (PS Vol. 1: 293)
No poema “Diferenciação”, por outro lado, a problemática do outro multiplica-se e
complica-se. Ouçamos o jovem poeta nas duas últimas das quatro estrofes do poema:
Recordo-me do tempo
em que pedia para o meu poeta
uma vida tão longa como a minha...
e lembro-me que já outra vez me lembrei disto...
rio-me...
hoje que já penso em sucedâneos
Não, não é o poeta quem treme
15. 14
ou deseja mover-se – sou eu...
Eu também tenho sucedâneos
Mas “eu”... está tudo dito. (PS Vol. 2 172)
O erotismo é uma zona temática de enorme importância na poesia e prosa de Jorge de
Sena. Ouso eu dizer que é de muito mais marcante presença do que na obra de Antonio Machado.
E ao lermos a poesia adulta de Jorge de Sena, sobretudo os três livros que comprazem Poesia-III
e a sequência Sobre esta Praia (1972), não seria difícil aceitar, em relação à vivência do amor
erótico na poesia seniana, que ela pudesse ser em parte considerada uma consubstanciação duma
célebre afirmação atribuída ao heterónimo machadiano Abel Martín: “Se ignora o se aparenta
ignorar que la castidad es, por excelencia, la virtud de los jóvenes, y la lujuria, siempre, cosa de
viejos” (Poesías Completas 676). Bastaria ler o poema seniano “No comboio de Edinburgo a
Londres” (de 1 de março de 73 e incluído em Conheço o Sal...) para confirmarmos a opinião
martineana. A poesia juvenil de Jorge de Sena contém, porém, mais do que em simples embrião,
mas decididamente em número relativamente menor, as duas principais vertentes do amor erótico
patentes não só na poesia mas na vasta obra em geral de Jorge de Sena: a vertente recíproca e
altruísta para com o outro, em que o outro é objeto de ternura e encarado na plenitude da sua
outredade e dignidade; e o amor – chamemos-lhe, com Abel Martín, de viejo, aquele em que está
exemplificada outra afirmação do heterónimo machadiano: “La imaginación pone mucho más en
el coito humano que el mero contacto de los cuerpos.” (Poesía completa 681). Bastaria lermos
Poesia-III para largamente constatarmos estas palavras, embora seja e inegável que o erotismo
francamente desbragado sempre emergiu, aqui e além, de toda a poesia seniana. É uma questão de
dosagem.
A vertente do amor-ternura – que na poesia adulta se patenteia, por exemplo na oposição
que o sujeito poético oferece ao amor místico expresso no Liebestod do Tristão de Richard
Wagner – está exemplificada pelo lindo “Soneto do sono da terceira espécie” (Vol. 2: 190) que,
como Mécia de Sena nos informa em nota ao poema, de início se intitulara “Inocência”, e no
“Pequeno poema do amor desencontrado”. Em ambos os poemas transparece a mesma ideia: a do
16. 15
amor físico como uma violência e uma violação, à qual o jovem amante representado pelo sujeito
lírico se subtrai – ideias estas que são, com muitas exceções, é certo, completamente invertidas na
poesia adulta. O terceto do primeiro poema reza assim: “Que eu, triste e vagaroso, te cobri... /
Cobri-me a mim também... Adormeci... / E adiei para outra altura as nossas bodas”; o outro
poema conclui num eco do primeiro: “Deixa-te dormir primeiro... / Deixa... / Eu não te faço
mal!...”(PS Vol. 2: 243). Poucas vezes, até mesmo nos poemas adultos mais graficamente
eróticos de Jorge de Sena, porém, atingiu o poeta uma expressão de egocentrismo e sadismo
como a que está exemplificada no poema “Lenço” – cujos primeiros três versos são variados ao
longo de todo o poema, alías de 11 versos: “Se te fiz tão branca, / não foi para te sujares logo e
por ti!..., / mas pra te sujar eu quando quisesse” (PS Vol. 2: 248).
A última figuração do outro para a qual chamarei atenção é a do outro social,
exemplificado pelo poema “Multidão” – datado de 8-9/6/39 e que prenuncia os numerosíssimos
poemas empenhados de Coroa da Terra – poemas diretamente relacionados com a cidade do
Porto (e Sena era sobretudo um poeta urbano, não rural), poemas que exemplificam também outro
dos conceitos básicos da poética seniana: a errância pois trata-se de poemas, muitos deles,
designáveis pelo nome de walk-poems, modalidade essa, a dos hábitos peripatéticos de Jorge de
Sena e sua musa, que se projeta, com igual empenho, em vários dos contos, como “A Campanha
da Rússia”, de Andanção e Novas Andanção do Demónio e vários dos contos da coletânea
integrada Os Grão-Capitães, que estudei no meu volume Metamorfoses do Amor: Estudos sobre
a Ficção Breve de Jorge de Sena. Outra dimensão ou figuração do outro – que daria brado em
toda a obra de Jorge de Sena – é um compromisso com uma humanidade cada vez mais vasta,
cada vez mais abrangente, cada vez mais universal. Está essa figuração do outro, de fortes
implicações humanistas e existenciais, representada, pelo poema “Natal” (PS Vol 2: 37), o
primeiro, como indica Mécia de Sena numa nota ao poema (PS Vol. 2: 293), “o primeiro dos 15
Natais que Jorge de Sena escreveu” .
17. 16
Concluindo: Perguntamo-nos se a opção de Jorge de Sena pela outredade interior e
exterior que enforma a sua poesia (e de que aqui demos apenas uns quantos exemplos) uma
outredade assente nessa expectação tranquila (de que nos fala no “Prefácio da Primeira Edição de
Poesia-I) e na poética do testemunho (às quais se vêm alinhar os conceitos complementares da
peregrinação e da metamorfose) e que terá constituído a resposta de Jorge de Sena a Fernando
Pessoa, terá sido uma postura metafísica que ele aprendeu ou aperfeiçoou em Antonio Machado
(o que a designação de “Mestre” parece sugerir); ou então, como os poemas que aqui
esquematicamente analisamos dos anos 30 parecem sugerir, essa postura metafísica, embora
ainda em estado de desenvolvimento, existia desde há muito quando Sena utilizou, como epígrafe
a Perseguição, em 1942, a solear 36. Iniciei este trabalho com uma pergunta à qual não me atrevo
a dar uma resposta definitiva. Concluirei com outra – para a qual nem sei bem se haveria
resposta: Será que a aproximação de Sena a Machado também tem algo a ver com o desejo de
Jorge de Sena de marcar distância com esse outro tipo de outredade, o de Fernando Pessoa, que
levaria à heteronínima – heteronímia essa da qual o autor de Peregrinatio ad loca infeta, para ser
o poeta que realmente se tornou, tinha forçasamente que afastar?
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