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CASO CLÍNICO
Marina Hiltner Bastos
MR1 – Clínica Médica
GONOCOCCEMIA DISSEMINADA
GONOCOCCEMIA DISSEMINADA
   Disseminação     hematogênica     da   Neisseria
    gonorrhoeae, transmitida sexualmente

   Acomete 0,5-3% dos infectados

   Causa comum de poli ou oligoartropatia em
    indivíduos jovens previamente hígidos

   Abaixo de 40 anos

   Três vezes mais comum em mulheres
GONOCOCCEMIA DISSEMINADA
   A probabilidade de disseminação depende de
    fatores do hospedeiro e da cepa

   Cepa bacteriana
     As cepas que mais disseminam diferem das que geram
      sintomas urogenitais
     É incomum história de infecção genital sintomática
      recente


   Hospedeiro
       Menstruação recente, gravidez ou pós-parto, deficiência
        de complemento, LES
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
   Duas síndromes

       Tríade tenossinovite, dermatite e poliartralgia (sem
        artrite purulenta) – Síndrome artrite dermatite

       Artrite purulenta sem lesões de pele

       Pode haver sobreposição. Alguns pacientes evoluem da
        síndrome artrite dermatite para uma mono ou
        oligoartrite purulenta
SÍNDROME ARTRITE-DERMATITE

   Início do quadro com febre e mal estar geral. A febre
    pode desaparecer com a progressão do quadro

   Acometimento articular – Punhos, dedos e tornozelos.
    Menos frequente: joelhos e cotovelos. Raramente
    acomete o esqueleto axial. Somatória e assimétrica.

   Dermatite – poucas lesões (2-10), indolores.
    Pápulas, pústulas, vesículas, crostas. Pode haver um
    componente        hemorrágico.      Limitam-se     às
    extremidades, raras em face
SÍNDROME ARTRITE-DERMATITE
   “Embora      outras     patologias    (endocardite
    bacteriana, meningococcemia) possam causar
    lesões similares, a erupção cutânea da IGD é tão
    suficientemente típica que sugere fortemente seu
    diagnóstico quando observada em uma pessoa
    jovem sexualmente ativa”

                 Cecil – Tratado de Medicina Interna
Apresentação
Apresentação
Apresentação
ARTRITE SÉPTICA
   Geralmente afebril

   Joelhos, punhos e tornozelos. Grandes articulações

   Pode haver acometimento de mais de uma
    articulação, geralmente assimétrico

   Edema, eritema, calor local, derrame sinovial franco

   Se não tratada pode evoluir para destruição da
    articulação e osteomielite
DIAGNÓSTICO
   História e exame físico

   Líquido sinovial
     Melhor método diagnóstico na artrite purulenta
     Leucócitos: 20.000 – 50.000
     Glicose, LDH e proteínas tem valor limitado
     Cultura tipicamente negativa na síndrome artrite-
      dermatite
Apresentação
DIAGNÓSTICO
   Hemoculturas
       Baixa sensibilidade – útil apenas quando positiva
           Síndrome artrite dermatite
       Múltiplas amostras


   Culturas de pele, uretra, cervix, reto e faringe
       50% tem pelo menos uma cultura de mucosa positiva


   Triagem para HIV e sífilis
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
   Artrite meningocóccica
     Pode ser idêntica à gonococcemia
     Maior probabilidade de hemocultura positiva
     Doença mais grave, sepse e meningite


   Hepatite B
     Febre, calafrios, poliartrite, tenossinovite e rash
     O rash é urticariforme
     A artrite geralmente é poliarticular e simétrica
     Líquido sinovial não inflamatório
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
   Doenças do tecido conjuntivo
       Artrite reativa, artrite reumatóide, artrite psoriática


   Febre reumática
     Pode se manifestar como poliartrite e rash
     O rash é muito raro e quase nunca pustular ou vesicular
TRATAMENTO
   Ceftriaxona - Resposta rápida

   Não existe padronização quanto à duração

   Síndrome artrite-dermatite
       Geralmente cura após 3 dias, com excelente prognóstico

   Artrite purulenta
       7-14 dias. Drenagem articular

   Tratamento concomitante para clamídia

   Tratar o parceiro!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
   Cecil – Tratado de Medicina Interna, 22 edição


   Veronesi – Tratado de Infectologia


   Case 19-2007: A 19-Year-Old College Student with Fever and Joint
    Pain; Benjamin T. Davis, M.D., and Mark S. Pasternack, M.D.; N Engl
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Apresentação

  • 1. CASO CLÍNICO Marina Hiltner Bastos MR1 – Clínica Médica
  • 3. GONOCOCCEMIA DISSEMINADA  Disseminação hematogênica da Neisseria gonorrhoeae, transmitida sexualmente  Acomete 0,5-3% dos infectados  Causa comum de poli ou oligoartropatia em indivíduos jovens previamente hígidos  Abaixo de 40 anos  Três vezes mais comum em mulheres
  • 4. GONOCOCCEMIA DISSEMINADA  A probabilidade de disseminação depende de fatores do hospedeiro e da cepa  Cepa bacteriana  As cepas que mais disseminam diferem das que geram sintomas urogenitais  É incomum história de infecção genital sintomática recente  Hospedeiro  Menstruação recente, gravidez ou pós-parto, deficiência de complemento, LES
  • 5. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS  Duas síndromes  Tríade tenossinovite, dermatite e poliartralgia (sem artrite purulenta) – Síndrome artrite dermatite  Artrite purulenta sem lesões de pele  Pode haver sobreposição. Alguns pacientes evoluem da síndrome artrite dermatite para uma mono ou oligoartrite purulenta
  • 6. SÍNDROME ARTRITE-DERMATITE  Início do quadro com febre e mal estar geral. A febre pode desaparecer com a progressão do quadro  Acometimento articular – Punhos, dedos e tornozelos. Menos frequente: joelhos e cotovelos. Raramente acomete o esqueleto axial. Somatória e assimétrica.  Dermatite – poucas lesões (2-10), indolores. Pápulas, pústulas, vesículas, crostas. Pode haver um componente hemorrágico. Limitam-se às extremidades, raras em face
  • 7. SÍNDROME ARTRITE-DERMATITE  “Embora outras patologias (endocardite bacteriana, meningococcemia) possam causar lesões similares, a erupção cutânea da IGD é tão suficientemente típica que sugere fortemente seu diagnóstico quando observada em uma pessoa jovem sexualmente ativa” Cecil – Tratado de Medicina Interna
  • 11. ARTRITE SÉPTICA  Geralmente afebril  Joelhos, punhos e tornozelos. Grandes articulações  Pode haver acometimento de mais de uma articulação, geralmente assimétrico  Edema, eritema, calor local, derrame sinovial franco  Se não tratada pode evoluir para destruição da articulação e osteomielite
  • 12. DIAGNÓSTICO  História e exame físico  Líquido sinovial  Melhor método diagnóstico na artrite purulenta  Leucócitos: 20.000 – 50.000  Glicose, LDH e proteínas tem valor limitado  Cultura tipicamente negativa na síndrome artrite- dermatite
  • 14. DIAGNÓSTICO  Hemoculturas  Baixa sensibilidade – útil apenas quando positiva  Síndrome artrite dermatite  Múltiplas amostras  Culturas de pele, uretra, cervix, reto e faringe  50% tem pelo menos uma cultura de mucosa positiva  Triagem para HIV e sífilis
  • 15. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL  Artrite meningocóccica  Pode ser idêntica à gonococcemia  Maior probabilidade de hemocultura positiva  Doença mais grave, sepse e meningite  Hepatite B  Febre, calafrios, poliartrite, tenossinovite e rash  O rash é urticariforme  A artrite geralmente é poliarticular e simétrica  Líquido sinovial não inflamatório
  • 16. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL  Doenças do tecido conjuntivo  Artrite reativa, artrite reumatóide, artrite psoriática  Febre reumática  Pode se manifestar como poliartrite e rash  O rash é muito raro e quase nunca pustular ou vesicular
  • 17. TRATAMENTO  Ceftriaxona - Resposta rápida  Não existe padronização quanto à duração  Síndrome artrite-dermatite  Geralmente cura após 3 dias, com excelente prognóstico  Artrite purulenta  7-14 dias. Drenagem articular  Tratamento concomitante para clamídia  Tratar o parceiro!
  • 18. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS  Cecil – Tratado de Medicina Interna, 22 edição  Veronesi – Tratado de Infectologia  Case 19-2007: A 19-Year-Old College Student with Fever and Joint Pain; Benjamin T. Davis, M.D., and Mark S. Pasternack, M.D.; N Engl J Med 2007;356:2631-7.  UpToDate