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Resenha: EI Siglo de la Ciência, Capítulo 10: Ciencia y naturaleza: la importancia de la química
                                                                                                    Jailson Alves dos Santos1


            O livro do Sánchez-Ron aborda o século XX, referindo-o como o século da ciência. Para essa
resenha, limito-me a escrever sobre o capítulo 10, o qual discute a importância da química na solução
de problemas ambientais. A tese central do autor nesse capítulo, ademais, como em todo o livro, é de
que o conhecimento das ciências naturais nos auxilia a compreender a natureza dos problemas
científicos e tecnológicos e pode prover soluções para corrigir os impactos ambientais causados pelo
uso de produtos tóxicos, como é o caso do DDT.
            Para o autor, no século XX foi um dos momentos mais impactantes negativamente na natureza
pela ação antropogênica, uma vez que o uso de produtos químicos em larga escala foi amplamente
difundido, como parte da solução de problemas agriculturais para produção de alimento. Alguns dos
problemas ambientais causados ou pelo uso de produtos químicos como adubos e pesticidas, ou
como pelo uso de energia com combustíveis fósseis levaram a um desequilíbrio ambiental muito
maior que os séculos anteriores. Dentre os impactos mais significativos estão: o efeito estufa, a
poluição atmosférica, a chuva ácida, o derramamento de petróleo, o buraco na camada de ozônio, o
desmatamento, a desertificação. E como conseqüência desses impactos, 1 espécie desaparece a cada
4 horas nas selvas tropicais, muitas delas sequer tendo sido conhecida pelo homem. No ano 2000
foram computados que cerca de 50 mil espécies tenham desaparecido. Mas o uso indiscriminado de
produtos químicos e seus impactos afetam também o homem, principalmente com o aparecimento
ou aumento da incidência de câncer, dentre outros graves problemas de saúde pública.
            O autor cita parte do conhecimento acumulado sobre a geologia da Terra, como a teoria da
deriva continental, como parte do conhecimento das Ciências Naturais, admitindo que desse
conhecimento resultam ações que podem salvar muitas vidas, quando devidamente aplicado. Parte
significativa do capítulo é dedicada à exposição das teorias geológicas que explicam porque a terra
tem terremotos e outros fenômenos geofísicos. Na segunda parte do capítulo, o autor analisa o uso
do DDT busca expor a sua tese de que o conhecimento das Ciências Naturais pode resolver para dos
problemas criados pelo próprio homem, a partir da análise do livro “Primavera Silenciosa”, de Rachel
Carson, publicado em 1962. O conhecimento da química levou à produção do DDT. E esse mesmo
conhecimento, exposto a partir do livro citado no qual Rachel Carson denuncia o uso indiscriminado
do DDT, pode ser a saída aos problemas causados. Entre outras ações mobilizadas a partir da
publicação do livro de R. Carson, está a criação de um Comitê para o emprego de pesticidas, sendo
também responsável pela inspiração de um movimento mundial para a conservação da natureza. Para


1
    Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências – IF/UFBA
Sánches-Ron, sem o livro Primavera Silenciosa o movimento ambiental não haveria aparecido.
       Para um esclarecimento aos não químicos, trago aqui um detalhamento do DDT, produto
denunciado por Raquel em seu livro, já que o próprio Sanches-Ron não o faz, para entendermos o seu
impacto na natureza e no homem. O diclorodifeniltricloroetano (DDT) é o mais conhecido dentre os
inseticidas do grupo dos organoclorados. Neste grupo estão incluídos os derivados clorados do difenil
etano (onde se inclui o DDT, seus metabólitos DDE e DDD, e o metoxicloro); o hexaclorobenzeno
(BHC). Todos estes organoclorados, como são conhecidos, tem uma grande estabilidade, podendo ser
encontrado ainda ativo mesmo 50 anos depois de aplicados. Causam câncer, sendo esse o seu
principal fator de risco aos humanos. O DDT, desde que foi obtido em 1874, e tendo seu uso se
iniciado em 1939, é considerado uma das substâncias sintéticas mais utilizadas e estudadas no século
XX.
       O autor refere-se ao capítulo 3 do livro de Carson, no qual ela denuncia que pela primeira vez
na história do mundo, todo ser humano está em contato como produtos químicos perigosos, e esse
contato vai desde a sua concepção até a morte. Em geral, conforme a autora, a contaminação se dá
pela grande difusão que sofre esses produtos químicos, uma vez que são utilizados no solo, onde
acabam contaminando rios e lagos; ou difundidos pelo ar, nesse caso, alcançando grandes áreas. Para
Sánches-Ron, esse processo de produção e uso de produtos químicos sintéticos, quer dizer,
produzidos pelo homem, que em sua maioria não são encontrados na natureza, é filho da II Guerra
Mundial. Vou aqui discordar do autor, uma vez que podemos recuar um pouco mais no tempo e dizer
que esses processos são filhos da I Guerra Mundial, referida por muitos autores, como a Guerra dos
Químicos, onde se utilizou amplamente a pólvora (dinamite) para ataques às tropas inimigas. Acredito
que aqui o autor faz referência especificamente ao uso do DDT, uma vez que apesar da sua
descoberta no século XIX (1874), só foi “redescoberto” em 1939. Em 1948, Möller recebeu o Prêmio
Nobel de medicina pela descoberta da alta eficiência do DDT em matar diversos artrópodes. Foram
produzidos 30 milhões de toneladas do DDT nos anos 30 do século XX. Sánches-Ron utiliza o caso do
DDT e outros desenvolvimentos científicos e tecnológicos para assinalar o caráter ambivalente das
ciências, contrariando a suposta neutralidade do saber e fazer científicos, para ele “los cañones no
matan a La gente, no hace la gente”. Ele pergunta: chega a ser uma surpresa que uma sociedade que
fabrica um canhão o acabe utilizando? E argumenta que uma verdade abstrata pode esconder uma
mentira concreta. No entanto, é precisamente dentro do argumento da ambivalência da ciência que o
autor analisa o uso do DDT, uma vez que em razão do seu uso com fins medicinais para combater um
surto de tifo na cidade de Nápoles e em outros locais, poupou milhares de vidas; e continuaram a
utilizá-lo para combater o seu vetor, o piolho. A descoberta da toxicidade do DDT, denunciada por
Rachel Carson no seu livro Primavera Silenciosa é uma face de como o conhecimento científico pode
combater as mazelas geradas por uso indevido desse mesmo conhecimento.
       Outro problema levantado pelo autor é o buraco na camada de ozônio. Essa camada é uma
proteção natural contra os raios ultra violeta (UV) oriundos do Sol. Reações de decomposição e
síntese do ozônio acontecem desde a formação da atmosfera da Terra. No entanto, o uso de
compostos produzidos pelo homem, afetam esse equilíbrio (decomposição/síntese), deslocando-o
para o lado da decomposição, onde grandes quantidades de ozônio são destruídas pela molécula CFC.
O Clorofluorcarbono (CFC, como é mais conhecido) é muito estável, podendo destruir
aproximadamente 100 mil moléculas de ozônio. O resultado é que forma-se um buraco na camada
protetora da Terra, que passa a receber muito mais calor (em forma de raios UV). Esse calor causa
desequilíbrio em muitos outros sistemas, como correntes marinhas, geleiras polares, etc, afetando
por fim o homem. Mais uma vez a solução para isso está no conhecimento científico, que pode prover
soluções adequadas ao problema, como a criação de propelentes que não sejam à base de CFC.
       O autor finaliza o capítulo alertando para a importância da química, tratada aqui. Ele considera
que vivemos rodeados de química, com produtos como PVC, PET e outros polímeros (moléculas
químicas de cadeia longa) da família dos plásticos que fazem parte da vida moderna, portando,
devemos conhecer mais, para que a utilização de produtos químicos nos tragam mais benefícios que
prejuízos, ainda que esta não tenha sido agraciada com revoluções epistemológicas como a biologia
molecular ou a mecânica quântica, ela não é menos importante, e justificaria conhecê-la dada a sua
presença no nosso cotidiano e o impacto que causa o seu uso.

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Resenha livro juan manoel sánchez ron

  • 1. Resenha: EI Siglo de la Ciência, Capítulo 10: Ciencia y naturaleza: la importancia de la química Jailson Alves dos Santos1 O livro do Sánchez-Ron aborda o século XX, referindo-o como o século da ciência. Para essa resenha, limito-me a escrever sobre o capítulo 10, o qual discute a importância da química na solução de problemas ambientais. A tese central do autor nesse capítulo, ademais, como em todo o livro, é de que o conhecimento das ciências naturais nos auxilia a compreender a natureza dos problemas científicos e tecnológicos e pode prover soluções para corrigir os impactos ambientais causados pelo uso de produtos tóxicos, como é o caso do DDT. Para o autor, no século XX foi um dos momentos mais impactantes negativamente na natureza pela ação antropogênica, uma vez que o uso de produtos químicos em larga escala foi amplamente difundido, como parte da solução de problemas agriculturais para produção de alimento. Alguns dos problemas ambientais causados ou pelo uso de produtos químicos como adubos e pesticidas, ou como pelo uso de energia com combustíveis fósseis levaram a um desequilíbrio ambiental muito maior que os séculos anteriores. Dentre os impactos mais significativos estão: o efeito estufa, a poluição atmosférica, a chuva ácida, o derramamento de petróleo, o buraco na camada de ozônio, o desmatamento, a desertificação. E como conseqüência desses impactos, 1 espécie desaparece a cada 4 horas nas selvas tropicais, muitas delas sequer tendo sido conhecida pelo homem. No ano 2000 foram computados que cerca de 50 mil espécies tenham desaparecido. Mas o uso indiscriminado de produtos químicos e seus impactos afetam também o homem, principalmente com o aparecimento ou aumento da incidência de câncer, dentre outros graves problemas de saúde pública. O autor cita parte do conhecimento acumulado sobre a geologia da Terra, como a teoria da deriva continental, como parte do conhecimento das Ciências Naturais, admitindo que desse conhecimento resultam ações que podem salvar muitas vidas, quando devidamente aplicado. Parte significativa do capítulo é dedicada à exposição das teorias geológicas que explicam porque a terra tem terremotos e outros fenômenos geofísicos. Na segunda parte do capítulo, o autor analisa o uso do DDT busca expor a sua tese de que o conhecimento das Ciências Naturais pode resolver para dos problemas criados pelo próprio homem, a partir da análise do livro “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, publicado em 1962. O conhecimento da química levou à produção do DDT. E esse mesmo conhecimento, exposto a partir do livro citado no qual Rachel Carson denuncia o uso indiscriminado do DDT, pode ser a saída aos problemas causados. Entre outras ações mobilizadas a partir da publicação do livro de R. Carson, está a criação de um Comitê para o emprego de pesticidas, sendo também responsável pela inspiração de um movimento mundial para a conservação da natureza. Para 1 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências – IF/UFBA
  • 2. Sánches-Ron, sem o livro Primavera Silenciosa o movimento ambiental não haveria aparecido. Para um esclarecimento aos não químicos, trago aqui um detalhamento do DDT, produto denunciado por Raquel em seu livro, já que o próprio Sanches-Ron não o faz, para entendermos o seu impacto na natureza e no homem. O diclorodifeniltricloroetano (DDT) é o mais conhecido dentre os inseticidas do grupo dos organoclorados. Neste grupo estão incluídos os derivados clorados do difenil etano (onde se inclui o DDT, seus metabólitos DDE e DDD, e o metoxicloro); o hexaclorobenzeno (BHC). Todos estes organoclorados, como são conhecidos, tem uma grande estabilidade, podendo ser encontrado ainda ativo mesmo 50 anos depois de aplicados. Causam câncer, sendo esse o seu principal fator de risco aos humanos. O DDT, desde que foi obtido em 1874, e tendo seu uso se iniciado em 1939, é considerado uma das substâncias sintéticas mais utilizadas e estudadas no século XX. O autor refere-se ao capítulo 3 do livro de Carson, no qual ela denuncia que pela primeira vez na história do mundo, todo ser humano está em contato como produtos químicos perigosos, e esse contato vai desde a sua concepção até a morte. Em geral, conforme a autora, a contaminação se dá pela grande difusão que sofre esses produtos químicos, uma vez que são utilizados no solo, onde acabam contaminando rios e lagos; ou difundidos pelo ar, nesse caso, alcançando grandes áreas. Para Sánches-Ron, esse processo de produção e uso de produtos químicos sintéticos, quer dizer, produzidos pelo homem, que em sua maioria não são encontrados na natureza, é filho da II Guerra Mundial. Vou aqui discordar do autor, uma vez que podemos recuar um pouco mais no tempo e dizer que esses processos são filhos da I Guerra Mundial, referida por muitos autores, como a Guerra dos Químicos, onde se utilizou amplamente a pólvora (dinamite) para ataques às tropas inimigas. Acredito que aqui o autor faz referência especificamente ao uso do DDT, uma vez que apesar da sua descoberta no século XIX (1874), só foi “redescoberto” em 1939. Em 1948, Möller recebeu o Prêmio Nobel de medicina pela descoberta da alta eficiência do DDT em matar diversos artrópodes. Foram produzidos 30 milhões de toneladas do DDT nos anos 30 do século XX. Sánches-Ron utiliza o caso do DDT e outros desenvolvimentos científicos e tecnológicos para assinalar o caráter ambivalente das ciências, contrariando a suposta neutralidade do saber e fazer científicos, para ele “los cañones no matan a La gente, no hace la gente”. Ele pergunta: chega a ser uma surpresa que uma sociedade que fabrica um canhão o acabe utilizando? E argumenta que uma verdade abstrata pode esconder uma mentira concreta. No entanto, é precisamente dentro do argumento da ambivalência da ciência que o autor analisa o uso do DDT, uma vez que em razão do seu uso com fins medicinais para combater um surto de tifo na cidade de Nápoles e em outros locais, poupou milhares de vidas; e continuaram a utilizá-lo para combater o seu vetor, o piolho. A descoberta da toxicidade do DDT, denunciada por Rachel Carson no seu livro Primavera Silenciosa é uma face de como o conhecimento científico pode
  • 3. combater as mazelas geradas por uso indevido desse mesmo conhecimento. Outro problema levantado pelo autor é o buraco na camada de ozônio. Essa camada é uma proteção natural contra os raios ultra violeta (UV) oriundos do Sol. Reações de decomposição e síntese do ozônio acontecem desde a formação da atmosfera da Terra. No entanto, o uso de compostos produzidos pelo homem, afetam esse equilíbrio (decomposição/síntese), deslocando-o para o lado da decomposição, onde grandes quantidades de ozônio são destruídas pela molécula CFC. O Clorofluorcarbono (CFC, como é mais conhecido) é muito estável, podendo destruir aproximadamente 100 mil moléculas de ozônio. O resultado é que forma-se um buraco na camada protetora da Terra, que passa a receber muito mais calor (em forma de raios UV). Esse calor causa desequilíbrio em muitos outros sistemas, como correntes marinhas, geleiras polares, etc, afetando por fim o homem. Mais uma vez a solução para isso está no conhecimento científico, que pode prover soluções adequadas ao problema, como a criação de propelentes que não sejam à base de CFC. O autor finaliza o capítulo alertando para a importância da química, tratada aqui. Ele considera que vivemos rodeados de química, com produtos como PVC, PET e outros polímeros (moléculas químicas de cadeia longa) da família dos plásticos que fazem parte da vida moderna, portando, devemos conhecer mais, para que a utilização de produtos químicos nos tragam mais benefícios que prejuízos, ainda que esta não tenha sido agraciada com revoluções epistemológicas como a biologia molecular ou a mecânica quântica, ela não é menos importante, e justificaria conhecê-la dada a sua presença no nosso cotidiano e o impacto que causa o seu uso.