1. PROJECTO DE CRIAÇÃO DE UM MUSEU INTERACTIVO
NA ESCOLA JOSÉ MACEDO FRAGATEIRO – OVAR
No âmbito da Tese de Doutoramento em Estudos de Arte na Universidade de
Aveiro.
Professor João Caetano
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2. 1. Objectivos da investigação (resumo)
A presente investigação pretende ser um estudo alargado sobre a ilustração em
Portugal, desde meados do século XIX a 1974. Trazendo o enfoque principal para a
literatura infanto-juvenil, procuremos avaliar igualmente a importância desta forma de
expressão artística no contexto geral das artes visuais no nosso país.
A investigação orientar-se-á, pois, segundo estes objectivos essenciais:
1. Identificar o impacto dos meios técnicos e tecnológicos da indústria gráfica na
prática generalizada da ilustração em Portugal;
2. Comparar a dimensão narrativa e expressiva resultante da relação entre texto e
imagem em obras de referência da literatura infanto-juvenil, entre finais do século
XIX e o ano de 1974;
3. Comparar a dimensão narrativa e expressiva resultante da relação entre texto e
imagem em obras de referência da literatura erudita (o romance, o conto, a
poesia), ao longo do período atrás referido;
4. Relacionar as diferentes opções estéticas da ilustração com as várias correntes
artísticas contemporâneas enquadrando-as nos planos social, cultural e
pedagógico;
5. Analisar o percurso artístico de um conjunto de vinte “Pintores/Ilustradores” (ver
ponto 1 da Parte Prática do projecto), quanto aos aspectos formais, técnicos e
estéticos que caracterizaram a sua obra;
6. Fomentar a criação de um “Museu Virtual interactivo” na escola onde exerço
funções de docência, destinado à prossecução de projectos escolares no âmbito
curricular e/ou extra-curricular (explorando a plataforma “Second Life”) e
envolvendo as disciplinas artísticas disponíveis na escola.
Partindo do trabalho pioneiro de Rafael Bordalo Pinheiro, Jorge Colaço, Alberto de
Souza, Celso Hermínio e outros, publicados em revistas e jornais como “A Ilustração
Portuguesa”, a “Paródia” ou o “ABC”, alargaremos o estudo a outras publicações
destinadas a um público mais jovem e estudantil, como foram “O Século Cómico”, o
“ABCzinho”, “Pim,Pam,Pum” ou “O Senhor Doutor”.
O proposto nos pontos 2, 3 e 5 incidirá não apenas em jornais, livros e revistas
claramente dirigidos à infância mas será extensivo a outro tipo de obras literárias
direccionadas para gente mais crescida. Privilegiando a interdisciplinaridade e o
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3. cruzamento de saberes - o que desde logo está implícito na evocação sistemática da
cumplicidade entre o texto e a imagem -, analisaremos a ilustração na obra de Eça de
Queirós, Júlio Dinis, Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro e Fernando Namora,
relacionando, no que à ilustração diz respeito, o trabalho dos ilustradores envolvidos
com alguns movimentos artísticos importantes, do simbolismo ao neo-realismo, do
expressionismo ao surrealismo.
Do ponto de vista tanto da análise teórica como da componente prática do trabalho, o
projecto desenvolver-se-á sempre em articulação com os programas curriculares das
artes visuais, ao nível dos tópicos de aprendizagem elementares: ponto, linha, plano,
cor, forma, composição, textura, materiais, etc. Deste modo, tentaremos estabelecer
“pontes de ligação” históricas e estéticas que relacionem os conteúdos programáticos
das disciplinas envolvidas com as práticas e os processos artísticos próprios de cada
ilustrador.
Reforçando a componente didáctica do projecto, referiremos ainda a participação de
alguns ilustradores em manuais escolares, nas disciplinas de Língua Portuguesa,
História e Desenho.
Parte Prática
O projecto contempla ainda as seguintes tarefas:
1. 20 ilustrações originais: Trata-se da realização de vinte retratos, cuja
finalidade, para além de ser uma homenagem prestada a cada artista, procurará
evidenciar os aspectos técnicos e formais que melhor caracterizaram o estilo
de cada um deles (ex.: em Rafael Bordalo Pinheiro, a vertente naturalista e
satírica; em Leal da Câmara, a expressão caricatural do grotesco; em Milly
Possoz, o lirismo gráfico e a delicadeza do traço, em Maria Keil, as estruturas
que se apoiam no módulo/padrão, etc.) Sabendo que alguns destes ilustradores
foram igualmente importantes referências no campo da pintura, este “cadastro
estilístico” individualizado visará ainda estabelecer pontos de encontro (ou de
confronto) entre diferentes tendências estéticas, umas de cariz mais
conservador outras mais vanguardista, relacionando-as posteriormente com as
correntes artísticas que marcaram as artes plásticas do seu tempo. Pretende-se
assim não só elencar historicamente um conjunto de importantes
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4. personalidades no campo da ilustração, mas também mostrar que é possível
conceber um método pedagógico, simultaneamente rigoroso e lúdico, de
ensino/aprendizagem da ilustração em contexto escolar, partindo do
conhecimento de artistas e obras tão díspares no tempo e no género. A escolha
destes ilustradores teve ainda em linha de conta o vasto leque de materiais e
técnicas por eles utilizados: aguarela, lápis de cor, pastel, nanquim, colagem,
etc. Pretende-se assim que o resultado final seja mais um reforço visual das
opções estéticas de cada ilustrador ao nível técnico e processual.
2. O Museu Virtual: A partir da base de dados resultante da digitalização de
uma parte significativa das publicações consultadas (documentos vários entre
capas de livros, páginas de jornal, postais e demais ilustrações avulsas) e com
o auxílio de uma equipa multidisciplinar formada em contexto escolar, será
criado o “Ilustra Virtual”, um museu interactivo inspirado no modelo
americano dos “Children’s Museums”, construído no ambiente Second Life e
cujo menu de apresentação (ainda em esboço) passamos a apresentar:
I - Paleta Básica – informações sobre a escola, o seu Projecto
Educativo e outros dados relevantes;
II. - Galeria dos Históricos – Dados biográficos de 25 ilustradores
seleccionados, cujo percurso visual e historiográfico será feito ao longo
do museu imaginário;
III - Atelier – Actividades temáticas de pesquisa e de oficina destinadas
aos alunos;
IV – Muro da Fama – inserção das imagens (quadros, esculturas,
vídeos, etc) no museu virtual;
V - Extras – informações complementares, explanação dos processos
criativos (ao jeito de “making of” das actividades), curiosidades, etc;
VI - Links – ligações a sites de interesse na área da ilustração;
VII – Contactos - Abertura ao intercâmbio com outras escolas, museus,
associações, etc.
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5. Numa primeira fase, pretende-se que o museu interactivo funcione na
escola, mas que no curto prazo seja aberto ao intercâmbio com outras
escolas, não sendo de excluir ainda a colaboração com museus e
associações locais e/ou nacionais. Com exemplos comprovados em vários
países – o caso do Môm’art, em França1, é um caso paradigmático -, este
tipo de iniciativas representa já uma importante ferramenta pedagógica no
estreitamento de laços entre a escola e a comunidade educativa.
Por fim, cremos que este projecto fomentará a aprendizagem dos conteúdos
específicos das artes visuais, num ambiente e contexto novos que tem como premissa
fundamental o conhecimento da arte portuguesa em geral, e da ilustração em particular,
através da descoberta e divulgação dalguns dos seus protagonistas mais importantes.
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Ver exemplo em “Anexos” e o site www.momart.fr.
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7. 2.2. O Museu interactivo Môm’art , em Troyes, França.
In Dada, La première revue d’art, nº139, p.44-45.
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8. 2.3. Painel de ilustradores
Rafael Bordalo Alfredo Moraes Santos Silva Leal da Câmara Milly Possoz
Pinheiro (Alonso)
Stuart Carvalhais Cottinelli Telmo Ofélia Marques Raquel Roque Sarah Affonso
Gameiro
Fernando Bento Carlos Carneiro Roberto Nobre Gabriel Ferrão Laura Costa
Júlio Resende Carlos Alberto Bernardo Marques João da Câmara Júlio Pomar
Santos Leme
António Quadros Tóssan Maria Helena Abreu Maria Keil Luís Filipe Abreu
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9. 3. Calendarização
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Set
Out
2010
Nov
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
2011 Jun
Jul
Ago
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2013 Jun
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Set
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2014 Abr
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10. Mai
Jun
Jul
Ago
Tópicos de estudo:
1. Indústria e arte: a imprensa gráfica nos finais do século XIX / Novos processos
técnicos de impressão: da xilogravura aos sistemas fotográficos de gravação;
2. O papel da indústria gráfica na construção do conceito de modernidade na ilustração/
Inventário de revistas e periódicos, na transição do século XIX para a centúria seguinte;
3. As principais publicações infanto-juvenis na transição do século XIX para a centúria
seguinte: jornais, revistas, e livros infanto-juvenis ilustrados;
4. Os primeiros artistas gráficos e a sua relação com a sociedade e as instituições
artísticas entre 1881 e 1911: contextualização política, social e cultural / Os jornais
satíricos e de sociedade / Técnicos e artistas;
5. Caricatura e humorismo: o triunfo do desenho na imprensa e a génese do
Modernismo em Portugal / A ilustração nos anos 20;
6. As décadas de 1930 e 1940: avanços e retrocessos na ilustração para a infância e
juventude;
7. A Ilustração durante o Estado Novo / Entre a arte e a propaganda: a ilustração nos
manuais escolares;
8. Ilustradores/pintores: divergências e cumplicidades / O percurso artístico de vinte
artistas seleccionados;
9. A literatura infanto-juvenil: análise formal e técnica de obras seleccionadas / As
dimensões narrativa e expressiva na relação entre o texto e a imagem em publicações
para a infância e juventude;
10. Ilustração e Literatura: opções estéticas e narrativas na ilustração de obras literárias
de maior fôlego / A ilustração na poesia e no teatro / A “ilustração no feminino”: de
Maria Alice Colaço a Maria Keil;
11. Realização de 20 ilustrações e criação do interface destinado ao Projecto do Museu
interactivo “Ilustra Virtual” na Escola José Macedo Fragateiro, em Ovar;
12. Redacção da tese, análise e apresentação final do trabalho.
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