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“Só sei que
nada sei”
Uma coisa posso afirmar e provar com palavras e atos: é q
os tornamos melhores se cremos que é nosso dever segu
em busca da verdade desconhecida.”
(Sócrates)
Valorizou a descoberta do homem feita pelos sofistas,
orientando-a para os valores universais.
Sócrates nasceu em 470 ou 469 a.C.
Aprendeu a arte paterna, mas dedicou-se inteiramente à
meditação e ao ensino filosófico, sem recompensa alguma,
não obstante a sua pobreza.
Desempenhou alguns cargos políticos e foi sempre
modelo irrepreensível de bom cidadão.
Formou a sua instrução sobretudo através da reflexão
pessoal,na moldura da arte ateniense da época.
Inteiramente absorvido pela sua vocação, não se deixou
distrair pelas preocupações domésticas nem pelos interesses
políticos.
Foi valoroso soldado e rígido magistrado. Mas, em geral,
conservou-se afastado da vida pública e da política
contemporânea, que contrastavam com o seu
temperamento crítico e com o seu reto juízo.
Julgava que devia servir a pátria conforme suas atitudes,
vivendo justamente e formando cidadãos sábios, honestos
e temperados – diversamente dos sofistas, que agiam para
o próprio proveito e formavam grandes egoístas, capazes
unicamente de se acometerem uns contra os outros e
escravizar o próximo.
A liberdade de seus discursos, a feição austera de seu
caráter, a sua atitude crítica, irônica e conseqüente educação
por ele ministrada, criaram descontentamento geral,
hostilidade popular, inimizades pessoais, apesar de sua
probidade.
Sócrates, aparecia diante da tirania popular, como chefe
de uma aristocracia intelectual.
Mileto, Anito e Licon moveram uma acusação contra ele:
de corromper a mocidade e negar os deuses da pátria
introduzindo outros.
Sócrates desdenhou defender-se diante dos juízes e da
justiça humana, humilhando-se e desculpando-se mais ou
menos.
Tinha ele diante dos olhos da alma não uma solução
empírica para a vida terrena, e sim o juízo eterno, para a
imortalidade. E preferiu a morte.
Declarado culpado por uma pequena minoria, assentou-se
com indômita fortaleza de ânimo diante do tribunal, que o
condenou à pena capital com o voto da maioria.
Tendo que esperar mais de um mês a morte no cárcere, o
discípulo Criton preparou e propôs a fuga do Mestre.
Sócrates, porém, recusou, declarando não querer
absolutamente desobedecer às leis da pátria. E passou o
tempo preparando-se para o passo extremo em palestras
espirituais com os amigos.
Especialmente famoso é o diálogo sobre a imortalidade da
alma – que se teria realizado um pouco antes da morte e foi
descrito por Platão no Fédon com arte incomparável. Suas
últimas palavras dirigidas aos seus discípulos, depois de ter
sorvido tranqüilamente a cicuta, foram: “Devemos um galo
a Esculápio”. É que é o deus da medicina tinha-o livrado do
mal da vida com o dom da morte.
Sócrates morreu em 399 a.C. com 71 anos de idade.
A certeza da morte iminente nem de longe deixou o filósofo grave e
taciturno. Pelo contrário, enquanto aguarda na prisão a execução de sua
sentença, Sócrates prepara-se para cantar o seu "canto do cisne". Na
companhia de amigos e discípulos, o prisioneiro explica jovialmente por
que dá as boas-vindas à morte.
O Canto do Cisne
Você não admite, Símias, que tenho o mesmo dom da profecia
que os cisnes? Pois eles, que cantaram durante toda a vida, ao
perceberem que devem morrer, de modo algum deixam de cantar
e cantam mais docemente que nunca, exultando com o
pensamento de que logo irão ter com Apolo, de quem são
representantes. Oshomens, entretanto, como temem a morte,
samente acusaram os cisnes de cantarem lamentos em se
s finais.Quanto a mim, os poderes proféticos de que Deus
ou não são menores que os dos cisnes, e não estou nem
uco triste por deixar esta vida
"Esse duplo sentimento era compartilhado por
todos nós; às vezes ríamos e às vezes chorávamos,
especialmente o sensível Apolodoro."
Apolodoro não se conformava com a condenação
de Sócrates:
"O que acho mais difícil de suportar, Sócrates, é
que te condenaram à morte injustamente!"
Mas Sócrates, abanando a cabeça, replicava:
"Meu caro Apolodoro, você preferiria que me
houvessem condenado justamente?
Sócrates calmamente responde as perguntas de
seus discípulos sobre a alma, sua separação do
corpo depois da morte, e sua imortalidade.
Até descreve
as experiências da alma depois de sua libertação
do corpo. E finaliza prescrevendo, como sempre, o
uso da razão:
"Pretender que as coisas sejam exatamente como
as descrevi não é o que se espera de um homem de
bom senso. Mas parece-me uma coisa boa e digna
de confiança acreditar que é algo semelhante o
que acontece com a alma, uma vez que ela é
evidentemente imortal."
Insistindo no perpétuo fluxo das coisas e na variabilidade
extrema das impressões sensitivas determinadas pelos
indivíduos que de contínuo se transformam, concluíram os
sofistas pela impossibilidade absoluta e objetiva do saber.
Sócrates restabelece-lhe a possibilidade, determinando o
verdadeiro objeto da ciência.
O objeto da ciência não é o sensível, o particular, o
indivíduo que passa; é o inteligível, o conceito que se
exprime pela definição.
Este conceito ou idéia geral obtêm-se por um processo
dialético por ele chamado indução.
Na exposição polêmica e didática de suas idéias, Sócrates
adotava sempre o diálogo, que revestia uma dúplice forma,
conforme se tratava de um adversário a confutar ou de um
discípulo a instruir.
No primeiro caso, é o que se denomina ironia socrática.
No segundo caso, é um processo pedagógico, em memória
da profissão materna, denominava ele de maiêutica ou
engenhosa obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição
das idéias.
A introspecção é o característico da filosofia de Sócrates.
Como é sabido, Sócrates não deixou nada escrito. As
notícias que temos de sua vida e de seu pensamento,
devemo-las especialmente aos seus dois discípulos Xenofonte
e Platão, de feição intelectual muito diferente.
Xenofonte, autor de Anábase, em seus Ditos Memoráveis,
legou-nos de preferência o aspecto prático e moral da
doutrina do mestre. Tinha um estilo simples e harmonioso,
mas sem profundidade, não obstante a sua devoção para com
o mestre e a exatidão das notícias, não entendeu o pensamento
filosófico de Sócrates, sendo mais homem de ação do que um
pensador.
Platão, pelo contrário, foi filósofo grande demais para nos
dar o preciso retrato histórico de Sócrates; nem sempre é
fácil discernir o fundo socrático das especulações
acrescentadas por ele. Seja como for, cabe-lhe a glória de ter
sido o grande historiador do pensamento de Sócrates, bem
como o seu biógrafo genial.
“Conhece-te a ti mesmo” – o lema em que Sócrates cifra
toda a sua vida de sábio. O perfeito conhecimento do homem
é o objetivo de todas as suas especulações e a moral, o centro
para o qual convergem todas as partes da filosofia. A
psicologia serve-lhe de preâmbulo, a teodicéia de estímulo à
virtude e de natural complemento da ética.
Em psicologia, Sócrates professa a espiritualidade e imorta-
lidade da alma, distingue as duas ordens de conhecimento,
sensitivo e intelectual, mas não define o livre arbítrio, identifi-
cando a vontade com a inteligência.
• Em teodicéia, estabelece a existência de Deus:
a) Argumento Teológico: formula claramente o princípio: “tudo
que é adaptado a um fim é efeito de uma inteligência”;
b) Argumento da Causa Eficiente (apenas esboçado): “se o
homem é inteligente, também inteligente deve ser a causa que o
produziu”;
c) Argumento Moral: a lei natural supõe um ser superior ao ho-
mem, um legislador, que a promulgou e sancionou. Deus não
só existe, mas é também Providência, governa o mundo com
sabedoria e o homem pode propiciá-lo com sacrifícios e
orações.
Apesar destas doutrinas elevadas, Sócrates aceita em muitos
pontos os preceitos da mitologia corrente que ele aspira
reformar.
Moral: é a parte culminante da sua filosofia.
A gnosiologia de Sócrates, que se concretizava no seu ensi-
namento dialógico, donde é preciso extraí-la, pode-se esque-
maticamente resumir nestes pontos: ironia, maiêutica, intros-
pecção, ignorância, indução, definição.
Antes de tudo, cumpre desembaraçar o espírito dos conhe-
cimentos errados, dos preceitos, das opiniões; este é o mo-
mento da ironia, isto é, da crítica. Sócrates, de par com os so-
fistas, ainda que com finalidade diversa, reivindica a indepen-
dência da autoridade e da tradição, a favor da reflexão livre e
da convicção racional.
A seguir será possível realizar o conhecimento verdadeiro,a
ciência, mediante a razão. Isto quer dizer que a instituição não
deve consistir na imposição extrínseca de uma doutrina ao dis-
cente, mas o mestre deve deve tirá-la da mente do discípulo,
pela razão imanente e constitutiva do espírito humano, a qual
é um valor universal. É a famosa maiêutica de Sócrates, que
declara auxiliar os partos do espírito, como a sua mãe auxiliava
os partos do corpo.
Esta interioridade do saber, esta intimidade da ciência – que
não é absolutamente subjetivista, mas é a certeza objetiva da
própria razão – patenteiam-se no famoso dito socrático
“conhece-te a ti mesmo” que, no pensamento de Sócrates,
significa precisamente consciência racional de si mesmo, para
organizar racionalmente a própria vida. Entretanto, consciência
de si mesmo quer dizer, antes de tudo, consciência da própria
ignorância inicial e, portanto, necessidade de superá-la pela
aquisição da ciência. Esta ignorância não é, por conseguinte,
ceticismo sistemático, mas apenas metódico, um poderoso im-
pulso para o saber, embora o pensamento socrático fique, de
fato, no agnosticismo filosófico por falta de uma metafísica,
pois, Sócrates achou apenas a forma conceptual da ciência,
não o seu conteúdo.
O procedimento lógico para realizar o conhecimento verda-
deiro, científico, conceptual é, antes de tudo, a indução: isto é,
remontar do particular ao universal, da opinião à ciência, da
experiência ao conceito.
Este conceito é, depois, determinado precisamente mediante
a definição, representando o ideal e a conclusão do processo
Gnosiológico socrático, e nos dá a essência da realidade.
Como Sócrates é o fundador da ciência em geral, mediante
a doutrina do conceito, assim é fundador, em particular da
ciência moral, mediante a doutrina de que eticidade significa
racionalidade, ação racional.
Virtude é inteligência, razão, ciência, não sentimento,
rotina, costume, tradição, lei positiva, opinião comum. Tudo
isto tem que ser criticado, superado, subindo até à razão, não
descendo até à animalidade – como ensinava os sofistas.
É sabido que Sócrates levava a importância da razão para a
ação moral, até àquele intelectualismo que, identificando co-
nhecimento e virtude – bem como ignorância e vício – tornava
impossível o livre arbítrio.
Entretanto, como a gnosiologia socrática carece de uma
especificação lógica, precisa – afora a teoria geral de que a
ciência está nos conceitos – assim a ética socrática carece de
um conteúdo racional, pela ausência de uma metafísica.
Se o fim do homem for o bem – realizando-se o bem medi-
ante a virtude, e a virtude mediante o conhecimento – Sócrates
não sabe, nem pode precisar este bem, esta felicidade, preci-
samente porque lhe falta uma metafísica.
Traçou, todavia, o itinerário, que será percorrido por Platão
e acabado, enfim, por Aristóteles. Estes dois filósofos, partin-
do dos pressupostos socráticos, desenvolverão uma
gnosiologia acabada, uma grande metafísica e, logo, uma
Moral.
A reforma socrática atingiu os alicerces da filosofia. A dou-
trina do conceito determina para sempre o verdadeiro objeto
da ciência: a indução dialética reforma o método filosófico; a
ética une pela primeira vez e com laços indissolúveis a ciência
dos costumes à filosofia especulativa.
Não é, pois, de admirar que um homem, já aureolado pela
austera grandeza moral de sua vida, tenha, pela novidade de
suas idéias, exercido sobre os contemporâneos tamanha influ-
ência.
Entre os seus numerosos discípulos, além de simples ama-
dores, como Alcibíades e Eurípedes, além dos vulgarizadores
da sua moral (socratici viri), como Xenofonte, havia verdadei-
ros filósofos que se formaram com os seus ensinamentos.
Dentre estes, alguns, saídos das escolas anteriores não lograram
assimilar toda a doutrina do mestre;desenvolveram exagerada-
mente algumas de suas partes com detrimento do conjunto.
Sócrates não elaborou um sistema filosófico acabado, nem
deixou algo escrito; no entanto, descobriu o método e fundou
uma grande escola. Por isso, dele depende, direta ou indireta-
mente, toda a especulação grega que se seguiu, a qual, mediante
o pensamento socrático, valoriza o pensamento dos
pré-socráticos desenvolvendo-o em sistemas vários e originais.
Isto aparece imediatamente nas escolas socráticas.
Estas – mesmo diferenciando-se bastante entre si – concor-
dam todas pelo menos na característica doutrina socrática de
que o maior bem do homem é a sabedoria.
A escola socrática maior é a platônica; representa o desenvol-
vimento lógico do elemento central do pensamento socrático – o
conceito – juntamente com o elemento vital do pensamento pre-
cedente, e culmina em Aristóteles, o vértice e a conclusão da
grande metafísica grega. Fora desta escola começa a decadência
e desenvolver-se-ão as escolas socráticas menores.
São fundadores das escolas socráticas menores, das quais as
mais conhecidas são:
1. A escola de Megara, fundada por Euclides (449-369), que
tentou uma conciliação da nova ética com a metafísica dos eleatas
e abusou dos processos dialéticos de Zenão.
2. A escola Cínica, fundada por Antístenes(n.c.445), que, exage-
rando a doutrina socrática do desapego das coisas exteriores, de-
generou, por último, em verdadeiro desprezo das conveniências
sociais.
3. A escola cirenaica ou hedonista, fundada por Aristipo
(n.c. 425) que desenvolveu o utilitarismo do mestre em hedo-
nismo ou moral do prazer. Estas escolas, que, durante o segun-
do período, dominado pelas altas especulações de Platão e
Aristóteles, verdadeiros continuadores da tradição socrática,
vegetaram na penumbra, mais tarde recresceram transformadas
ou degeneradas em outras seitas filosóficas. Dentre os herdeiros
de Sócrates,porém, o herdeiro genuíno de suas idéias, o seu mais
ilustre continuador foi o sublime Platão.
Embora, pelo que se supõe, não tenha sido
discípulo de nenhuma escola filosófica específica,
Sócrates certamente sabia de sua existência e
compreendia o alcance de suas doutrinas. Sua
formação era inata, pessoal, superando o
conhecimento de outras escolas doutrinárias
provavelmente através de profunda meditação.
A exposição da concepção lógica e moral de Sócrates é
inseparável da narração dos fatos de sua vida, pois sua vida foi a
realização, passo a passo, de sua filosofia.
Supõe-se que Sócrates tenha iniciado sua
atividade pública de educador já em idade
madura. Seu magistério tinha caráter popular e
educativo. Poderíamos sempre encontrá-lo nas
ruas de Atenas, na praça pública, no ginásio, no
mercado, em casa de amigos, no atelier do
sapateiro Simão. A ninguém desprezava. A todos
pretendia ensinar e com todos, aprender.
Afirmando ironicamente que de nada sabia,
Sócrates logo de início desarmava seu interlocutor
e encorajava-o a expor seus pontos fracos. Através
de perguntas, introduzia ora um, ora outro
conceito, até que a pessoa via-se em tal conflito que
á não podia prosseguir. Embaraçada, percebia que
não sabia o que julgava saber e que apenas
cultivara preconceitos. A partir daí, Sócrates podia
guiá-la para o verdadeiro conhecimento, fazendo
que extraísse de si mesma a resposta.

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Sócrates, o filósofo da ignorância

  • 2. Uma coisa posso afirmar e provar com palavras e atos: é q os tornamos melhores se cremos que é nosso dever segu em busca da verdade desconhecida.” (Sócrates)
  • 3. Valorizou a descoberta do homem feita pelos sofistas, orientando-a para os valores universais. Sócrates nasceu em 470 ou 469 a.C. Aprendeu a arte paterna, mas dedicou-se inteiramente à meditação e ao ensino filosófico, sem recompensa alguma, não obstante a sua pobreza. Desempenhou alguns cargos políticos e foi sempre modelo irrepreensível de bom cidadão. Formou a sua instrução sobretudo através da reflexão pessoal,na moldura da arte ateniense da época. Inteiramente absorvido pela sua vocação, não se deixou distrair pelas preocupações domésticas nem pelos interesses políticos.
  • 4. Foi valoroso soldado e rígido magistrado. Mas, em geral, conservou-se afastado da vida pública e da política contemporânea, que contrastavam com o seu temperamento crítico e com o seu reto juízo. Julgava que devia servir a pátria conforme suas atitudes, vivendo justamente e formando cidadãos sábios, honestos e temperados – diversamente dos sofistas, que agiam para o próprio proveito e formavam grandes egoístas, capazes unicamente de se acometerem uns contra os outros e escravizar o próximo.
  • 5. A liberdade de seus discursos, a feição austera de seu caráter, a sua atitude crítica, irônica e conseqüente educação por ele ministrada, criaram descontentamento geral, hostilidade popular, inimizades pessoais, apesar de sua probidade. Sócrates, aparecia diante da tirania popular, como chefe de uma aristocracia intelectual. Mileto, Anito e Licon moveram uma acusação contra ele: de corromper a mocidade e negar os deuses da pátria introduzindo outros. Sócrates desdenhou defender-se diante dos juízes e da justiça humana, humilhando-se e desculpando-se mais ou menos.
  • 6. Tinha ele diante dos olhos da alma não uma solução empírica para a vida terrena, e sim o juízo eterno, para a imortalidade. E preferiu a morte. Declarado culpado por uma pequena minoria, assentou-se com indômita fortaleza de ânimo diante do tribunal, que o condenou à pena capital com o voto da maioria. Tendo que esperar mais de um mês a morte no cárcere, o discípulo Criton preparou e propôs a fuga do Mestre. Sócrates, porém, recusou, declarando não querer absolutamente desobedecer às leis da pátria. E passou o tempo preparando-se para o passo extremo em palestras espirituais com os amigos.
  • 7. Especialmente famoso é o diálogo sobre a imortalidade da alma – que se teria realizado um pouco antes da morte e foi descrito por Platão no Fédon com arte incomparável. Suas últimas palavras dirigidas aos seus discípulos, depois de ter sorvido tranqüilamente a cicuta, foram: “Devemos um galo a Esculápio”. É que é o deus da medicina tinha-o livrado do mal da vida com o dom da morte. Sócrates morreu em 399 a.C. com 71 anos de idade.
  • 8. A certeza da morte iminente nem de longe deixou o filósofo grave e taciturno. Pelo contrário, enquanto aguarda na prisão a execução de sua sentença, Sócrates prepara-se para cantar o seu "canto do cisne". Na companhia de amigos e discípulos, o prisioneiro explica jovialmente por que dá as boas-vindas à morte. O Canto do Cisne Você não admite, Símias, que tenho o mesmo dom da profecia que os cisnes? Pois eles, que cantaram durante toda a vida, ao perceberem que devem morrer, de modo algum deixam de cantar e cantam mais docemente que nunca, exultando com o pensamento de que logo irão ter com Apolo, de quem são representantes. Oshomens, entretanto, como temem a morte,
  • 9. samente acusaram os cisnes de cantarem lamentos em se s finais.Quanto a mim, os poderes proféticos de que Deus ou não são menores que os dos cisnes, e não estou nem uco triste por deixar esta vida
  • 10. "Esse duplo sentimento era compartilhado por todos nós; às vezes ríamos e às vezes chorávamos, especialmente o sensível Apolodoro." Apolodoro não se conformava com a condenação de Sócrates: "O que acho mais difícil de suportar, Sócrates, é que te condenaram à morte injustamente!" Mas Sócrates, abanando a cabeça, replicava: "Meu caro Apolodoro, você preferiria que me houvessem condenado justamente? Sócrates calmamente responde as perguntas de seus discípulos sobre a alma, sua separação do corpo depois da morte, e sua imortalidade.
  • 11. Até descreve as experiências da alma depois de sua libertação do corpo. E finaliza prescrevendo, como sempre, o uso da razão: "Pretender que as coisas sejam exatamente como as descrevi não é o que se espera de um homem de bom senso. Mas parece-me uma coisa boa e digna de confiança acreditar que é algo semelhante o que acontece com a alma, uma vez que ela é evidentemente imortal."
  • 12. Insistindo no perpétuo fluxo das coisas e na variabilidade extrema das impressões sensitivas determinadas pelos indivíduos que de contínuo se transformam, concluíram os sofistas pela impossibilidade absoluta e objetiva do saber. Sócrates restabelece-lhe a possibilidade, determinando o verdadeiro objeto da ciência. O objeto da ciência não é o sensível, o particular, o indivíduo que passa; é o inteligível, o conceito que se exprime pela definição. Este conceito ou idéia geral obtêm-se por um processo dialético por ele chamado indução.
  • 13. Na exposição polêmica e didática de suas idéias, Sócrates adotava sempre o diálogo, que revestia uma dúplice forma, conforme se tratava de um adversário a confutar ou de um discípulo a instruir. No primeiro caso, é o que se denomina ironia socrática. No segundo caso, é um processo pedagógico, em memória da profissão materna, denominava ele de maiêutica ou engenhosa obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição das idéias.
  • 14. A introspecção é o característico da filosofia de Sócrates. Como é sabido, Sócrates não deixou nada escrito. As notícias que temos de sua vida e de seu pensamento, devemo-las especialmente aos seus dois discípulos Xenofonte e Platão, de feição intelectual muito diferente. Xenofonte, autor de Anábase, em seus Ditos Memoráveis, legou-nos de preferência o aspecto prático e moral da doutrina do mestre. Tinha um estilo simples e harmonioso, mas sem profundidade, não obstante a sua devoção para com o mestre e a exatidão das notícias, não entendeu o pensamento filosófico de Sócrates, sendo mais homem de ação do que um pensador.
  • 15. Platão, pelo contrário, foi filósofo grande demais para nos dar o preciso retrato histórico de Sócrates; nem sempre é fácil discernir o fundo socrático das especulações acrescentadas por ele. Seja como for, cabe-lhe a glória de ter sido o grande historiador do pensamento de Sócrates, bem como o seu biógrafo genial. “Conhece-te a ti mesmo” – o lema em que Sócrates cifra toda a sua vida de sábio. O perfeito conhecimento do homem é o objetivo de todas as suas especulações e a moral, o centro para o qual convergem todas as partes da filosofia. A psicologia serve-lhe de preâmbulo, a teodicéia de estímulo à virtude e de natural complemento da ética.
  • 16. Em psicologia, Sócrates professa a espiritualidade e imorta- lidade da alma, distingue as duas ordens de conhecimento, sensitivo e intelectual, mas não define o livre arbítrio, identifi- cando a vontade com a inteligência. • Em teodicéia, estabelece a existência de Deus: a) Argumento Teológico: formula claramente o princípio: “tudo que é adaptado a um fim é efeito de uma inteligência”; b) Argumento da Causa Eficiente (apenas esboçado): “se o homem é inteligente, também inteligente deve ser a causa que o produziu”; c) Argumento Moral: a lei natural supõe um ser superior ao ho- mem, um legislador, que a promulgou e sancionou. Deus não só existe, mas é também Providência, governa o mundo com
  • 17. sabedoria e o homem pode propiciá-lo com sacrifícios e orações. Apesar destas doutrinas elevadas, Sócrates aceita em muitos pontos os preceitos da mitologia corrente que ele aspira reformar. Moral: é a parte culminante da sua filosofia.
  • 18. A gnosiologia de Sócrates, que se concretizava no seu ensi- namento dialógico, donde é preciso extraí-la, pode-se esque- maticamente resumir nestes pontos: ironia, maiêutica, intros- pecção, ignorância, indução, definição. Antes de tudo, cumpre desembaraçar o espírito dos conhe- cimentos errados, dos preceitos, das opiniões; este é o mo- mento da ironia, isto é, da crítica. Sócrates, de par com os so- fistas, ainda que com finalidade diversa, reivindica a indepen- dência da autoridade e da tradição, a favor da reflexão livre e da convicção racional. A seguir será possível realizar o conhecimento verdadeiro,a ciência, mediante a razão. Isto quer dizer que a instituição não deve consistir na imposição extrínseca de uma doutrina ao dis-
  • 19. cente, mas o mestre deve deve tirá-la da mente do discípulo, pela razão imanente e constitutiva do espírito humano, a qual é um valor universal. É a famosa maiêutica de Sócrates, que declara auxiliar os partos do espírito, como a sua mãe auxiliava os partos do corpo. Esta interioridade do saber, esta intimidade da ciência – que não é absolutamente subjetivista, mas é a certeza objetiva da própria razão – patenteiam-se no famoso dito socrático “conhece-te a ti mesmo” que, no pensamento de Sócrates, significa precisamente consciência racional de si mesmo, para organizar racionalmente a própria vida. Entretanto, consciência de si mesmo quer dizer, antes de tudo, consciência da própria ignorância inicial e, portanto, necessidade de superá-la pela aquisição da ciência. Esta ignorância não é, por conseguinte,
  • 20. ceticismo sistemático, mas apenas metódico, um poderoso im- pulso para o saber, embora o pensamento socrático fique, de fato, no agnosticismo filosófico por falta de uma metafísica, pois, Sócrates achou apenas a forma conceptual da ciência, não o seu conteúdo. O procedimento lógico para realizar o conhecimento verda- deiro, científico, conceptual é, antes de tudo, a indução: isto é, remontar do particular ao universal, da opinião à ciência, da experiência ao conceito. Este conceito é, depois, determinado precisamente mediante a definição, representando o ideal e a conclusão do processo Gnosiológico socrático, e nos dá a essência da realidade.
  • 21. Como Sócrates é o fundador da ciência em geral, mediante a doutrina do conceito, assim é fundador, em particular da ciência moral, mediante a doutrina de que eticidade significa racionalidade, ação racional. Virtude é inteligência, razão, ciência, não sentimento, rotina, costume, tradição, lei positiva, opinião comum. Tudo isto tem que ser criticado, superado, subindo até à razão, não descendo até à animalidade – como ensinava os sofistas. É sabido que Sócrates levava a importância da razão para a ação moral, até àquele intelectualismo que, identificando co- nhecimento e virtude – bem como ignorância e vício – tornava impossível o livre arbítrio. Entretanto, como a gnosiologia socrática carece de uma
  • 22. especificação lógica, precisa – afora a teoria geral de que a ciência está nos conceitos – assim a ética socrática carece de um conteúdo racional, pela ausência de uma metafísica. Se o fim do homem for o bem – realizando-se o bem medi- ante a virtude, e a virtude mediante o conhecimento – Sócrates não sabe, nem pode precisar este bem, esta felicidade, preci- samente porque lhe falta uma metafísica. Traçou, todavia, o itinerário, que será percorrido por Platão e acabado, enfim, por Aristóteles. Estes dois filósofos, partin- do dos pressupostos socráticos, desenvolverão uma gnosiologia acabada, uma grande metafísica e, logo, uma Moral.
  • 23. A reforma socrática atingiu os alicerces da filosofia. A dou- trina do conceito determina para sempre o verdadeiro objeto da ciência: a indução dialética reforma o método filosófico; a ética une pela primeira vez e com laços indissolúveis a ciência dos costumes à filosofia especulativa. Não é, pois, de admirar que um homem, já aureolado pela austera grandeza moral de sua vida, tenha, pela novidade de suas idéias, exercido sobre os contemporâneos tamanha influ- ência. Entre os seus numerosos discípulos, além de simples ama- dores, como Alcibíades e Eurípedes, além dos vulgarizadores da sua moral (socratici viri), como Xenofonte, havia verdadei- ros filósofos que se formaram com os seus ensinamentos.
  • 24. Dentre estes, alguns, saídos das escolas anteriores não lograram assimilar toda a doutrina do mestre;desenvolveram exagerada- mente algumas de suas partes com detrimento do conjunto. Sócrates não elaborou um sistema filosófico acabado, nem deixou algo escrito; no entanto, descobriu o método e fundou uma grande escola. Por isso, dele depende, direta ou indireta- mente, toda a especulação grega que se seguiu, a qual, mediante o pensamento socrático, valoriza o pensamento dos pré-socráticos desenvolvendo-o em sistemas vários e originais. Isto aparece imediatamente nas escolas socráticas. Estas – mesmo diferenciando-se bastante entre si – concor- dam todas pelo menos na característica doutrina socrática de que o maior bem do homem é a sabedoria.
  • 25. A escola socrática maior é a platônica; representa o desenvol- vimento lógico do elemento central do pensamento socrático – o conceito – juntamente com o elemento vital do pensamento pre- cedente, e culmina em Aristóteles, o vértice e a conclusão da grande metafísica grega. Fora desta escola começa a decadência e desenvolver-se-ão as escolas socráticas menores. São fundadores das escolas socráticas menores, das quais as mais conhecidas são: 1. A escola de Megara, fundada por Euclides (449-369), que tentou uma conciliação da nova ética com a metafísica dos eleatas e abusou dos processos dialéticos de Zenão. 2. A escola Cínica, fundada por Antístenes(n.c.445), que, exage- rando a doutrina socrática do desapego das coisas exteriores, de- generou, por último, em verdadeiro desprezo das conveniências
  • 26. sociais. 3. A escola cirenaica ou hedonista, fundada por Aristipo (n.c. 425) que desenvolveu o utilitarismo do mestre em hedo- nismo ou moral do prazer. Estas escolas, que, durante o segun- do período, dominado pelas altas especulações de Platão e Aristóteles, verdadeiros continuadores da tradição socrática, vegetaram na penumbra, mais tarde recresceram transformadas ou degeneradas em outras seitas filosóficas. Dentre os herdeiros de Sócrates,porém, o herdeiro genuíno de suas idéias, o seu mais ilustre continuador foi o sublime Platão.
  • 27. Embora, pelo que se supõe, não tenha sido discípulo de nenhuma escola filosófica específica, Sócrates certamente sabia de sua existência e compreendia o alcance de suas doutrinas. Sua formação era inata, pessoal, superando o conhecimento de outras escolas doutrinárias provavelmente através de profunda meditação. A exposição da concepção lógica e moral de Sócrates é inseparável da narração dos fatos de sua vida, pois sua vida foi a realização, passo a passo, de sua filosofia.
  • 28. Supõe-se que Sócrates tenha iniciado sua atividade pública de educador já em idade madura. Seu magistério tinha caráter popular e educativo. Poderíamos sempre encontrá-lo nas ruas de Atenas, na praça pública, no ginásio, no mercado, em casa de amigos, no atelier do sapateiro Simão. A ninguém desprezava. A todos pretendia ensinar e com todos, aprender.
  • 29. Afirmando ironicamente que de nada sabia, Sócrates logo de início desarmava seu interlocutor e encorajava-o a expor seus pontos fracos. Através de perguntas, introduzia ora um, ora outro conceito, até que a pessoa via-se em tal conflito que á não podia prosseguir. Embaraçada, percebia que não sabia o que julgava saber e que apenas cultivara preconceitos. A partir daí, Sócrates podia guiá-la para o verdadeiro conhecimento, fazendo que extraísse de si mesma a resposta.