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Artigo “Desmatamento na Amazônia e as secas no Sudeste”. 
Por Luiz Carlos Baldicero Molion, PhD 
A afirmação de que as secas da Região Sudeste estão sendo causadas pelo 
desmatamento da Amazônia é leviana, não tem base científica, pois não sobrevive a uma 
análise de dados climáticos, além de ser contrária ao bom senso. A anomalia climática pela qual 
São Paulo está passando é decorrente da variabilidade natural do clima e já ocorreu, até com 
intensidade maior, no passado. O gráfico abaixo representa a variação dos desvios de 
precipitação padronizados para a Estação da Luz, no centro da capital paulista, que tem dados 
observados de chuva desde 1888. Nesse gráfico, notam-se desvios fortemente negativos em 
anos como 1933 e 1936, e na década dos anos 1960, como 1963, 1968 e 1969. Séries de 
precipitação mais curtas, a partir dos anos 1950, também registram as secas da década de 
1960 que afetou a Região Sudeste. Ou seja, a Região já esteve submetida a secas severas no 
passado quando o desmatamento da Amazônia era incipiente. 
A floresta está lá porque as condições climáticas globais, notadamente o transporte de 
umidade vindo do Oceano Atlântico Norte, criam as condições propícias para que ela exista. É 
claro que, após a instalação da floresta, há complexos mecanismos de interação floresta-atmosfera 
que tornam o clima local mais úmido. Antes do soerguimento dos Andes a 70 
milhões de anos atrás, a floresta não existia como ela é vista hoje. E no pico da última era 
glacial, há 15 mil anos, há evidências que também não existia uma floresta extensa e contínua, 
mas apenas algumas "ilhas de vegetação” ou "refúgios” na denominação de Aziz Ab’Saber e 
Paulo Vanzolini. Portanto, é o clima global atual que permite a existência da floresta extensa e 
contínua, como observada modernamente, e não o contrário! 
A umidade para as chuvas do Sudeste não é produzida na Amazônia. Ela vem do 
Oceano Atlântico Norte e, notem, apenas passa sobre a Amazônia e interage com a floresta. 
Como essa floresta produz atrito ao escoamento do ar que sai do oceano [como um carrinho 
elétrico que passa da cerâmica (superfície lisa) para cima de um tapete (superfície rugoso)], 
essa rugosidade cria intensa turbulência vertical e nuvens convectivas que convertem mais 
eficientemente parte da umidade transportada pelos ventos em chuva. O restante do fluxo de
umidade oceânica segue seu caminho para fora da Região. Afirmação que “uma árvore cuja 
copa tenha 10 metros de raio, fornece mil litros de água por dia para a atmosfera”, tem o objetivo 
de sensibilizar o público leigo e usa, de forma inadvertida, resultados, por exemplo, obtidos no 
Experimento Micrometeorológico na Amazônia (ARME), organizado e dirigido por nós na 
década dos anos 1980 na Amazônia Central próximo a Manaus. No ARME, concluímos que a 
evapotranspiração [evaporação + transpiração da vegetação] injetava na atmosfera 3,4 mm por 
dia, ou 3,4 litros de água por metro quadrado por dia [l/m2/d], um número bem inferior ao que 
era tido como verdadeiro na época. Ora, um círculo de 10 metros de raio possui uma área de 
cerca de 300 metros quadrados que, multiplicada pela taxa de evapotranspiração acima, de 
3,4 l/m2/d, resulta em 1000 litros por dia. A pergunta que cabe aqui é de onde essa tal árvore 
retirou a umidade que está transferindo para a atmosfera? E a resposta óbvia é “a umidade foi 
retirada da chuva que se infiltrou no solo”. Sabe-se que 98% a 99% da umidade que a vegetação 
retira do solo são utilizados apenas para manter baixa a temperatura de sua folhagem por meio 
do processo físico de vaporização da água, que consome grandes quantidades de energia solar 
e refrigera a folhagem. Se a evaporação não ocorresse, a temperatura da folhagem poderia 
atingir valores superiores a 34°C - 35°C e danificaria os tecidos da folhagem severamente, ou 
seja, a floreta não sobreviveria. Portanto, apenas 1% a 2% da água retirada do solo ficam 
incorporados nas árvores. A floresta não é fonte de umidade, ela é apenas um transdutor da 
água da chuva, que é derivada do fluxo de umidade oceânica transportado pelos ventos para 
dentro do continente. A floresta recicla 98% a 99% da água da chuva, devolvendo-a para o 
escoamento atmosférico que a transporta para outras regiões do país. Na eventual hipótese 
absurda de se desmatar completamente a Amazônia, a rugosidade da floresta deixaria de 
existir, choveria menos na Amazônia e, pode se dizer, um fluxo de umidade um pouquinho 
maior do que o atual seria transportado para o Sudeste, possivelmente aumentando suas 
chuvas. 
É fato observado e incontestável que áreas dentro da própria Amazônia e ao sul da 
mesma apresentam uma estação seca bem definida ao longo do ano. No Centro Oeste e 
Sudeste, por exemplo, a estação seca chega a ser de seis meses, notadamente entre abril e 
setembro. Por que não chove nessas regiões se a floresta está em pleno funcionamento e 
transferindo umidade para o ar? É porque o clima global não permite a umidade existente na 
superfície seja convertida em chuva regionalmente. Durante a estação seca, e em anos de seca, 
essas regiões estão sobre o domínio de um sistema de alta pressão atmosférica de milhares de 
quilômetros de extensão e a inversão térmica associada a ele e existente a cerca de 2 km de 
altura, inibe a formação e o desenvolvimento de nuvens de chuva. Além do ciclo anual, o clima 
do Brasil apresenta variabilidade interanual decorrente de fenômenos de escala global como os 
eventos El Niño que, afirma-se, produzem secas severas sobre a Amazônia, mesmo com toda 
umidade que, em princípio, seria fornecida pela floresta. Em adição, existe uma variabilidade
climática na escala decadal resultante da variabilidade da temperatura da superfície (TSM) dos 
Oceanos Pacífico e Atlântico que, juntos, ocupam 54% da superfície do planeta. Durante o 
período que o Pacífico Tropical ficou, em média, ligeiramente mais frio, entre 1946 e 1976, 
chovia 10% a 20% a menos no país de maneira geral. Isso porque a atmosfera [e, como 
consequência, o clima] é aquecida por baixo, o ar se aquece em contato com a superfície. Se as 
TSM ficam mais frias, o clima também se resfria, a evaporação dos oceanos se reduz, o 
transporte do fluxo de umidade para cima dos continentes é diminuído e uma atmosfera mais 
fria e mais seca produz menos chuva na região tropical. A partir de 1999, o Pacífico começou a 
se resfriar e o estado energético do clima parece estar semelhante ao do período 1946-1976 
quando o Pacífico se resfriou e, portanto, mais baixo que o do período 1976-1998 recém-passado, 
em que o pacífico estava mais aquecido e o estado energético do clima era mais 
elevado e chovia mais. Admitindo que o ciclo de resfriamento/aquecimento do Pacífico seja de 
50-60 anos, conforme publicado na literatura especializada, o Pacífico deve permanecer, em 
média, ligeiramente mais frio até os anos 2025-2030. Sob considerações meramente baseadas 
na dinâmica do clima global observada ao longo dos últimos 100 anos, se este se assemelhar ao 
período frio passado [1946-1976], as chuvas devem se reduzir em todo país, notadamente no 
Sudeste e Centro Oeste, independentemente de se acabar com o desmatamento e recuperar as 
áreas degradadas na Amazônia. Não queremos dizer, com isso, que somos favoráveis ao 
desmatamento na Amazônia. Muito pelo contrário, somos contra o desmatamento da 
Amazônia, em função da fantástica biodiversidade nela existente e dos serviços ambientais por 
ela prestados à sociedade. E os produtores rurais da Amazônia tem plena consciência disso.

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Secas no Sudeste não são causadas pelo desmatamento da Amazônia

  • 1. Artigo “Desmatamento na Amazônia e as secas no Sudeste”. Por Luiz Carlos Baldicero Molion, PhD A afirmação de que as secas da Região Sudeste estão sendo causadas pelo desmatamento da Amazônia é leviana, não tem base científica, pois não sobrevive a uma análise de dados climáticos, além de ser contrária ao bom senso. A anomalia climática pela qual São Paulo está passando é decorrente da variabilidade natural do clima e já ocorreu, até com intensidade maior, no passado. O gráfico abaixo representa a variação dos desvios de precipitação padronizados para a Estação da Luz, no centro da capital paulista, que tem dados observados de chuva desde 1888. Nesse gráfico, notam-se desvios fortemente negativos em anos como 1933 e 1936, e na década dos anos 1960, como 1963, 1968 e 1969. Séries de precipitação mais curtas, a partir dos anos 1950, também registram as secas da década de 1960 que afetou a Região Sudeste. Ou seja, a Região já esteve submetida a secas severas no passado quando o desmatamento da Amazônia era incipiente. A floresta está lá porque as condições climáticas globais, notadamente o transporte de umidade vindo do Oceano Atlântico Norte, criam as condições propícias para que ela exista. É claro que, após a instalação da floresta, há complexos mecanismos de interação floresta-atmosfera que tornam o clima local mais úmido. Antes do soerguimento dos Andes a 70 milhões de anos atrás, a floresta não existia como ela é vista hoje. E no pico da última era glacial, há 15 mil anos, há evidências que também não existia uma floresta extensa e contínua, mas apenas algumas "ilhas de vegetação” ou "refúgios” na denominação de Aziz Ab’Saber e Paulo Vanzolini. Portanto, é o clima global atual que permite a existência da floresta extensa e contínua, como observada modernamente, e não o contrário! A umidade para as chuvas do Sudeste não é produzida na Amazônia. Ela vem do Oceano Atlântico Norte e, notem, apenas passa sobre a Amazônia e interage com a floresta. Como essa floresta produz atrito ao escoamento do ar que sai do oceano [como um carrinho elétrico que passa da cerâmica (superfície lisa) para cima de um tapete (superfície rugoso)], essa rugosidade cria intensa turbulência vertical e nuvens convectivas que convertem mais eficientemente parte da umidade transportada pelos ventos em chuva. O restante do fluxo de
  • 2. umidade oceânica segue seu caminho para fora da Região. Afirmação que “uma árvore cuja copa tenha 10 metros de raio, fornece mil litros de água por dia para a atmosfera”, tem o objetivo de sensibilizar o público leigo e usa, de forma inadvertida, resultados, por exemplo, obtidos no Experimento Micrometeorológico na Amazônia (ARME), organizado e dirigido por nós na década dos anos 1980 na Amazônia Central próximo a Manaus. No ARME, concluímos que a evapotranspiração [evaporação + transpiração da vegetação] injetava na atmosfera 3,4 mm por dia, ou 3,4 litros de água por metro quadrado por dia [l/m2/d], um número bem inferior ao que era tido como verdadeiro na época. Ora, um círculo de 10 metros de raio possui uma área de cerca de 300 metros quadrados que, multiplicada pela taxa de evapotranspiração acima, de 3,4 l/m2/d, resulta em 1000 litros por dia. A pergunta que cabe aqui é de onde essa tal árvore retirou a umidade que está transferindo para a atmosfera? E a resposta óbvia é “a umidade foi retirada da chuva que se infiltrou no solo”. Sabe-se que 98% a 99% da umidade que a vegetação retira do solo são utilizados apenas para manter baixa a temperatura de sua folhagem por meio do processo físico de vaporização da água, que consome grandes quantidades de energia solar e refrigera a folhagem. Se a evaporação não ocorresse, a temperatura da folhagem poderia atingir valores superiores a 34°C - 35°C e danificaria os tecidos da folhagem severamente, ou seja, a floreta não sobreviveria. Portanto, apenas 1% a 2% da água retirada do solo ficam incorporados nas árvores. A floresta não é fonte de umidade, ela é apenas um transdutor da água da chuva, que é derivada do fluxo de umidade oceânica transportado pelos ventos para dentro do continente. A floresta recicla 98% a 99% da água da chuva, devolvendo-a para o escoamento atmosférico que a transporta para outras regiões do país. Na eventual hipótese absurda de se desmatar completamente a Amazônia, a rugosidade da floresta deixaria de existir, choveria menos na Amazônia e, pode se dizer, um fluxo de umidade um pouquinho maior do que o atual seria transportado para o Sudeste, possivelmente aumentando suas chuvas. É fato observado e incontestável que áreas dentro da própria Amazônia e ao sul da mesma apresentam uma estação seca bem definida ao longo do ano. No Centro Oeste e Sudeste, por exemplo, a estação seca chega a ser de seis meses, notadamente entre abril e setembro. Por que não chove nessas regiões se a floresta está em pleno funcionamento e transferindo umidade para o ar? É porque o clima global não permite a umidade existente na superfície seja convertida em chuva regionalmente. Durante a estação seca, e em anos de seca, essas regiões estão sobre o domínio de um sistema de alta pressão atmosférica de milhares de quilômetros de extensão e a inversão térmica associada a ele e existente a cerca de 2 km de altura, inibe a formação e o desenvolvimento de nuvens de chuva. Além do ciclo anual, o clima do Brasil apresenta variabilidade interanual decorrente de fenômenos de escala global como os eventos El Niño que, afirma-se, produzem secas severas sobre a Amazônia, mesmo com toda umidade que, em princípio, seria fornecida pela floresta. Em adição, existe uma variabilidade
  • 3. climática na escala decadal resultante da variabilidade da temperatura da superfície (TSM) dos Oceanos Pacífico e Atlântico que, juntos, ocupam 54% da superfície do planeta. Durante o período que o Pacífico Tropical ficou, em média, ligeiramente mais frio, entre 1946 e 1976, chovia 10% a 20% a menos no país de maneira geral. Isso porque a atmosfera [e, como consequência, o clima] é aquecida por baixo, o ar se aquece em contato com a superfície. Se as TSM ficam mais frias, o clima também se resfria, a evaporação dos oceanos se reduz, o transporte do fluxo de umidade para cima dos continentes é diminuído e uma atmosfera mais fria e mais seca produz menos chuva na região tropical. A partir de 1999, o Pacífico começou a se resfriar e o estado energético do clima parece estar semelhante ao do período 1946-1976 quando o Pacífico se resfriou e, portanto, mais baixo que o do período 1976-1998 recém-passado, em que o pacífico estava mais aquecido e o estado energético do clima era mais elevado e chovia mais. Admitindo que o ciclo de resfriamento/aquecimento do Pacífico seja de 50-60 anos, conforme publicado na literatura especializada, o Pacífico deve permanecer, em média, ligeiramente mais frio até os anos 2025-2030. Sob considerações meramente baseadas na dinâmica do clima global observada ao longo dos últimos 100 anos, se este se assemelhar ao período frio passado [1946-1976], as chuvas devem se reduzir em todo país, notadamente no Sudeste e Centro Oeste, independentemente de se acabar com o desmatamento e recuperar as áreas degradadas na Amazônia. Não queremos dizer, com isso, que somos favoráveis ao desmatamento na Amazônia. Muito pelo contrário, somos contra o desmatamento da Amazônia, em função da fantástica biodiversidade nela existente e dos serviços ambientais por ela prestados à sociedade. E os produtores rurais da Amazônia tem plena consciência disso.