Mulher - ela é muito mais mãe do que mulher - Dr. Içami Tiba
Coerência e bom senso no caso da garota pernambucana
1. Fé
Coerência e bom senso
Welligton Balbo
A garota pernambucana de 9 anos estuprada pelo padrasto foi manchete nos mais diversos
noticiários do Brasil. Natural a comoção em torno do caso, situações desse quilate
envolvendo crianças mexem com todos. Ficam questionamentos, reflexões, não raro até a
revolta toma posse dos mais exaltados.
Todos sabem o desenrolar do dramático caso: os médicos realizaram o aborto na menina
grávida de gêmeos do padrasto.
O arcebispo de Recife excomungou os médicos. O vaticano apoiou a decisão. A
população brasileira indignou-se. Interessante: o padrasto não foi excomungado.
Os responsáveis pelos crimes são sempre absolvidos pela quot;benevolênciaquot; dos homens. As
vítimas, não raro são tratadas como culpadas em autêntica inversão. Aliás, o nome correto
não é punição, mas, sim, colheita do plantio, ou seja, praticamos o mal e colhemos o mal.
Nada de punição, apenas colheita da semeadura. Detalhe importante: a impunidade gera
cidadãos irresponsáveis, sem compromissos com suas atitudes.
Lembro-me de mãe que dizia amar o filho, e por isso aprovava todas suas aberrações
quando criança e adolescente. O menino mordia os colegas, ela e o pai nada faziam. O
garoto cresceu sem limites, achando-se o dono do mundo. Quando adolescente envolveu-
se em terrível briga e nada de atitudes dos pais. Tornou-se um adulto irresponsável.
Embora filho de família abastada envolveu-se com organização criminosa, ele e seu
bando assaltavam bancos. Os pais lamentavam a escolha do filho e perguntavam-se: Em
que nós erramos na educação de nosso filho? Erraram em deixá-lo sem limites, não o
obrigando a assumir suas responsabilidades. Em um plano macro é assim que caminha
nosso país, não impõe limites e responsabilidades a seus filhos. Uma pena!
Compreende-se, portanto, que a igreja católica, a pretexto de defesa da vida recai em
incoerências. Lutam contra o aborto, o que está correto, mas neste caso fazem de forma
insensata. Quando as decisões são inflexíveis os equívocos são inevitáveis. E a vida da
garota de 9 anos, quem defende? Quem restituirá os prejuízos advindos da prática
violenta cometida pelo padrasto, alguém que deveria, antes de tudo, amá-la e respeitá-la?
O Espiritismo, por exemplo, como afirma seu codificador, tem como base o bom senso.
Aliás, o Espiritismo também defende a vida e é notadamente contra o aborto. A
codificação espírita, segundo consta na obra basilar, quot;O Livro dos Espíritosquot;, consente o
aborto apenas quando este coloca em risco a vida da mãe. Este é o caso da garota
pernambucana, porquanto ninguém reencarna para sofrer, ou, ainda, para engravidar do
padrasto e ter filhos com 9 anos de idade. Nada disso estava programado. O que ocorreu
foi um fato lamentável, fruto da estupidez humana, logo, neste caso o aborto foi a
alternativa menos traumática a todos. A propósito, no caso da garota pernambucana foram
realizados exames e o aborto só foi praticado depois da comprovação de que a gravidez
poderia imprimir seqüelas ou levá-la, inclusive à morte. A Doutrina Espírita ensina que a
vida existente é soberana e não pode ser colocada em risco para o sucesso de outra. A
gravidez da garota de 9 anos colocava sua vida em risco. É verdade que esta foi uma
2. situação atípica, fora dos padrões naturais, por isso o aborto não pode ser banalizado a
partir do caso da pequena pernambucana. Devemos lutar pela vida, sempre, em qualquer
circunstância, mas coerência não faz mal a ninguém.
Crianças não possuem condições físicas, psicológicas e, também, financeiras para cuidar
de outras crianças. Crianças devem brincar, estudar, aproveitar a fase infantil para o pleno
desenvolvimento como espíritos imortais, portanto, não podem queimar etapas da
preciosa oportunidade reencarnatória. No entanto, aproveitamos e repetimos: aquelas e
aqueles adolescentes que por ignorância ou irresponsabilidade engravidam na
adolescência, devem, naturalmente, assumir suas responsabilidades. Portanto, que este
caso não sirva de exemplo para irresponsáveis que querem utilizar o aborto como método
contraceptivo.
Perguntarão alguns:
Com o aborto como ficarão os Espíritos que reencarnariam tendo a garota como genitora?
Neste caso certamente não haverá problemas, esses Espíritos serão amparados pela
Espiritualidade, sustentados pela divina misericórdia. Aguardarão nova oportunidade para
reencarnar. Nada de vinganças nem processos obsessivos contra a garota, os benfeitores
espirituais estarão no controle de tudo, contribuindo para que a ordem das coisas se
restabeleça.
Cabe-nos, pois, coerência e bom senso sempre. Ainda bem que Kardec deixou espaço ao
raciocínio para que o exercitemos com a finalidade de entender os inúmeros
acontecimentos da vida.