SlideShare a Scribd company logo
1 of 21
Download to read offline
 
Algumas pinturas... Algumas poesias... Nem sempre as mais famosas, mas todas de respeitados autores,  numa mistura de  épocas e estilos...  Sempre belas...  Sempre atuais... Temas que nos  fazem pensar... Formatação: EnA Quadros: Imagens colhidas na Internet Música:  Rêverie – Claude Debussy [email_address]
Vinícius de Moraes  Vicente de Carvalho  Fernando Pessoa  Olavo Bilac  Carlos Drummond  de Andrade  Raul de Leoni  Cecília Meireles  J.G. de Araujo Jorge  Clarice Lispector  Chico Buarque de Holanda  Francisco Otaviano  Mário Quintana  Manuel Bandeira  Guilherme de Almeida Mário de Andrade  Castro Alves   Cora Coralina   (Escolha o nome ou siga em seqüência) ena . [email_address] SAIR
[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],SONETO DA FIDELIDADE  Vinícius de Moraes VOLTAR AOS NOMES
VELHO TEMA Vicente de Carvalho Só a leve esperança, em toda a vida,  Disfarça a pena de viver, mais nada;  Nem é mais a existência, resumida,  Que uma grande esperança malograda O eterno sonho da alma desterrada,  Sonho que a traz ansiosa e embevecida,  É uma hora feliz, sempre adiada  E que não chega nunca em toda a vida. Essa felicidade que supomos,  Árvore milagrosa que sonhamos  Toda arreada de dourados pomos, Existe, sim mas nós não a alcançamos  Porque está sempre apenas onde a pomos  E nunca a pomos onde nós estamos. VOLTAR AOS NOMES
Não sei quantas almas tenho  Fernando Pessoa Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem achei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem, Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo: “Fui eu?” Deus sabe, porque o escreveu. LUÍS BADOSA   Fernando Pessoa
O amor, quando se revela...  Fernando Pessoa LUÍS BADOSA   Fernando Pessoa O amor, quando se revela, Não se sabe revelar.  Sabe bem olhar p'ra ela,  Mas não lhe sabe falar.  Quem quer dizer o que sente  Não sabe o que há de dizer.  Fala: parece que mente  Cala: parece esquecer   Ah, mas se ela adivinhasse,  Se pudesse ouvir o olhar,  E se um olhar lhe bastasse  Pra saber que a estão a amar!  Mas quem sente muito, cala;  Quem quer dizer quanto sente  Fica sem alma nem fala,  Fica só, inteiramente!  Mas se isto puder contar-lhe  O que não lhe ouso contar,  Já não terei que falar-lhe  Porque lhe estou a falar... VOLTAR AOS NOMES
VELHAS ÁRVORES Olavo Bilac Olha estas velhas árvores, mais belas  Do que as árvores novas, mais amigas:  Tanto mais belas quanto mais antigas,  Vencedoras da idade e das procelas... O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas  Vivem, livres de fomes e fadigas;  E em seus galhos abrigam-se as cantigas  E os amores das aves tagarelas. Não choremos, amigo, a mocidade!  Envelheçamos rindo! Envelheçamos  Como as árvores fortes envelhecem; Na glória da alegria e da bondade,  Agasalhando os pássaros nos ramos,  Dando sombra e consolo aos que padecem!   VOLTAR AOS NOMES
QUADRILHA Carlos Drummond de Andrade João amava Teresa  que amava Raimundo que amava Maria  que amava Joaquim  que amava Lili que não amava ninguém. João foi para o Estados Unidos,  Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre,  Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se  e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história. VOLTAR AOS NOMES
UNIDADE  Raul de Leoni Deitando os olhos sobre a perspectiva Das cousas, surpreendo em cada qual Uma simples imagem fugitiva Da infinita harmonia universal Uma revelação vaga e parcial De tudo existe em cada coisa viva: Na corrente do Bem ou na do Mal Tudo tem uma vida evocativa. Nada é inútil; dos homens aos insetos Vão-se estendendo todos os aspectos Que a idéia da existência pode ter; E o que deslumbra o olhar é perceber Em todos esses seres incompletos A completa noção de um mesmo ser... VOLTAR AOS NOMES
Eu não tinha este rosto de hoje,  assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida  a minha face? RETRATO Cecília Meireles VOLTAR AOS NOMES
E então ficamos os dois em silêncio, tão quietos  como dois pássaros na sombra, recolhidos  ao mesmo ninho,  como dois caminhos na noite, dois caminhos  que se juntam  num mesmo caminho...  Já não ouso... já não coras...  E o silêncio é tão nosso, e a quietude tamanha  que qualquer palavra bateria estranha  como um viajante, altas horas...  Nada há mais a dizer, depois que as próprias mãos  silenciaram seus carinhos...  Estamos um no outro  como se estivéssemos sozinhos...   E O RESTO É SILÊNCIO...   J.G. de Araujo Jorge VOLTAR AOS NOMES
Precisão O que me tranqüiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição. CLARICE LISPECTOR VOLTAR AOS NOMES
Gente Humilde  -  Chico Buarque Tem certos dias em que eu penso em minha gente  E sinto assim todo o meu peito se apertar  Porque parece que acontece de repente  Como um desejo de eu viver sem me notar  Igual a como quando eu passo num subúrbio  Eu muito bem vindo de trem de algum lugar  E aí me dá como uma inveja dessa gente  Que vai em frente sem nem ter com quem contar  São casas simples com cadeiras na calçada  E na fachada escrito em cima que é um lar  Pela varanda flores tristes e baldias  Como a alegria que não tem onde encostar  E aí me dá uma tristeza no meu peito  Feito um despeito de eu não ter como lutar  E eu que não creio, peço a Deus por minha gente  É gente humilde, que vontade de chorar  VOLTAR AOS NOMES
ILUSÕES DA VIDA  Francisco Otaviano Quem passou pela vida em branca nuvem  E em plácido repouso adormeceu;  Quem não sentiu o frio da desgraça,  Quem passou pela vida e não sofreu:  Foi espectro de homem, não foi homem,  Só passou pela vida, não viveu. VOLTAR AOS NOMES
Amigos, não consultem os relógios quando um dia eu me for de vossas vidas em seus fúteis problemas tão perdidas que até parecem mais uns necrológios... Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira - em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira. Inteira, sim, porque essa vida eterna somente por si mesma é dividida: não cabe, a cada qual, uma porção. E os Anjos entreolham-se espantados quando alguém - ao voltar a si da vida - acaso lhes indaga que horas são... AH! OS RELÓGIOS   Mário Quintana VOLTAR AOS NOMES
O que eu adoro em ti Não é tua beleza A beleza é em nós que existe A beleza é um conceito E a beleza é triste Não é triste em si Mas pelo que há nela De fragilidade e incerteza O que eu adoro em ti Não é a tua inteligência Mas é o espírito sutil  Tão ágil e tão luminoso Ave solta no céu matinal da montanha Nem é tua ciência Do coração dos homens e das coisas O que eu adoro em ti Não é a tua graça musical Sucessiva e renovada a cada momento Graça aérea como teu próprio momento Graça que perturba e que satisfaz O que eu adoro em ti Não é a mãe que já perdi E nem meu pai O que eu adoro em tua natureza  Não é o profundo instinto matinal Em teu flanco aberto como uma ferida Nem a tua pureza. Nem a tua impureza O que adoro em ti lastima-me e consola-me O que eu adoro em ti é A VIDA !!! MADRIGAL MELANCÓLICA Manuel Bandeira DI  CAVALCANTI Perfis VOLTAR AOS NOMES
FELICIDADE  Guilherme de Almeida Ela veio bater à minha porta  e falou-me a sorrir, subindo a escada:  “Bom dia, árvore velha e desfolhada”  e eu respondi: “Bom dia, folha morta” Entrou: e nunca mais me disse nada...  Até que um dia (quando pouco importa!)  houve canções na ramaria torta  e houve bandos de noivos pela estrada... Então chamou-me e disse:“Vou-me embora!  Sou a felicidade! Vive agora  da lembrança do muito que te fiz” E foi assim que em plena primavera,  só quando ela partiu contou quem era...  E nunca mais eu me senti feliz! VOLTAR AOS NOMES
Abancado à escrivaninha em São Paulo Na minha casa da rua Lopes Chaves De supetão senti um friúme por dentro. Fiquei trêmulo, muito comovido Com o livro palerma olhando pra mim. Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!  muito longe de mim Na escuridão ativa da noite que caiu Um homem pálido magro  de cabelo escorrendo nos olhos, Depois de fazer uma pele com a borracha do dia, Faz pouco se deitou, está dormindo. Esse homem é brasileiro que nem eu. Descobrimento  Mário de Andrade VOLTAR AOS NOMES
ÚLTIMO FANTASMA   Castro Alves Quem és tu, quem és tu, vulto gracioso,  Que te elevas da noite na orvalhada?  Tens a face na sombra mergulhada...  Sobre as névoas te libras vaporoso... Baixas do céu num vôo harmonioso!...  Quem és tu, bela e branca desposada?  Da laranjeira em flor a flor nevada  Cerca-te a fonte, ó ser misterioso!... Onde vimos nós?... És doutra esfera?  És o ser que eu busquei do sul ao norte...  Por quem meu peito em sonhos desespera?... Quem és tu? Quem és tu? _ És minha sorte!  És talvez o ideal que est´alma espera!  És a glória talvez!  Talvez a morte!... VOLTAR AOS NOMES
Não sei... se a vida é curta ou longa demais pra nós, Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: Colo que acolhe, Braço que envolve, Palavra que conforta, Silêncio que respeita, Alegria que contagia, Lágrima que corre, Olhar que acaricia, Desejo que sacia, Amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura...Enquanto durar. NÃO SEI...   Cora Coralina VOLTAR AOS NOMES

More Related Content

What's hot

Livro de poemas dos alunos do 8º Ano C e D, do Bartolomeu
Livro de poemas  dos alunos do 8º Ano C e D, do BartolomeuLivro de poemas  dos alunos do 8º Ano C e D, do Bartolomeu
Livro de poemas dos alunos do 8º Ano C e D, do BartolomeuPaulo Sérgio
 
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)Mirian Souza
 
Caderno de poesia 9º ano - Metas Português
Caderno de poesia 9º ano - Metas PortuguêsCaderno de poesia 9º ano - Metas Português
Caderno de poesia 9º ano - Metas Portuguêsbibliotecacampo
 
023 a contra capa a 044 aka om lind mundo
023 a contra capa a 044  aka om lind mundo023 a contra capa a 044  aka om lind mundo
023 a contra capa a 044 aka om lind mundoNuno Quaresma
 
Revista Aka Arte om duplo sentido
Revista Aka Arte om duplo sentidoRevista Aka Arte om duplo sentido
Revista Aka Arte om duplo sentidoNuno Quaresma
 
000 capa a 022 final aka om lind mundo
000 capa a 022 final aka om lind mundo000 capa a 022 final aka om lind mundo
000 capa a 022 final aka om lind mundoNuno Quaresma
 
Livro fragmentos(1) (1)
 Livro fragmentos(1) (1) Livro fragmentos(1) (1)
Livro fragmentos(1) (1)Sylvia Seny
 
Poucas palavras
Poucas palavrasPoucas palavras
Poucas palavrasovelhaleal
 
Poemas Ilustrados
Poemas IlustradosPoemas Ilustrados
Poemas Ilustradosvales
 
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoCaderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoAELPB
 
Hipótese de um mundo perdido
Hipótese de um mundo perdidoHipótese de um mundo perdido
Hipótese de um mundo perdidoJoão Gomes
 

What's hot (15)

Livro de poemas dos alunos do 8º Ano C e D, do Bartolomeu
Livro de poemas  dos alunos do 8º Ano C e D, do BartolomeuLivro de poemas  dos alunos do 8º Ano C e D, do Bartolomeu
Livro de poemas dos alunos do 8º Ano C e D, do Bartolomeu
 
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
 
A MULHER EM TODOS OS SENTIDOS
A MULHER EM TODOS OS SENTIDOSA MULHER EM TODOS OS SENTIDOS
A MULHER EM TODOS OS SENTIDOS
 
Caderno de poesia 9º ano - Metas Português
Caderno de poesia 9º ano - Metas PortuguêsCaderno de poesia 9º ano - Metas Português
Caderno de poesia 9º ano - Metas Português
 
Inconstancia de-fervor
Inconstancia de-fervorInconstancia de-fervor
Inconstancia de-fervor
 
023 a contra capa a 044 aka om lind mundo
023 a contra capa a 044  aka om lind mundo023 a contra capa a 044  aka om lind mundo
023 a contra capa a 044 aka om lind mundo
 
Revista Aka Arte om duplo sentido
Revista Aka Arte om duplo sentidoRevista Aka Arte om duplo sentido
Revista Aka Arte om duplo sentido
 
IEL- Caderno de Poemas 7º, 8º e 9º anos
IEL- Caderno de Poemas 7º, 8º e 9º anosIEL- Caderno de Poemas 7º, 8º e 9º anos
IEL- Caderno de Poemas 7º, 8º e 9º anos
 
000 capa a 022 final aka om lind mundo
000 capa a 022 final aka om lind mundo000 capa a 022 final aka om lind mundo
000 capa a 022 final aka om lind mundo
 
Kedma (poesia)
Kedma (poesia)Kedma (poesia)
Kedma (poesia)
 
Livro fragmentos(1) (1)
 Livro fragmentos(1) (1) Livro fragmentos(1) (1)
Livro fragmentos(1) (1)
 
Poucas palavras
Poucas palavrasPoucas palavras
Poucas palavras
 
Poemas Ilustrados
Poemas IlustradosPoemas Ilustrados
Poemas Ilustrados
 
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoCaderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
 
Hipótese de um mundo perdido
Hipótese de um mundo perdidoHipótese de um mundo perdido
Hipótese de um mundo perdido
 

Similar to Pinturas E Poesias (20)

PINTURAS E POESIAS
PINTURAS E POESIASPINTURAS E POESIAS
PINTURAS E POESIAS
 
MODERNISMO BRASILEIRO 1.pptx
MODERNISMO BRASILEIRO 1.pptxMODERNISMO BRASILEIRO 1.pptx
MODERNISMO BRASILEIRO 1.pptx
 
AULÃO LITERATURA - MODERNISMO BRASILEIRO 1.pptx
AULÃO LITERATURA - MODERNISMO BRASILEIRO 1.pptxAULÃO LITERATURA - MODERNISMO BRASILEIRO 1.pptx
AULÃO LITERATURA - MODERNISMO BRASILEIRO 1.pptx
 
MODERNISMO BRASILEIRO 1 (2).pptx
MODERNISMO BRASILEIRO 1 (2).pptxMODERNISMO BRASILEIRO 1 (2).pptx
MODERNISMO BRASILEIRO 1 (2).pptx
 
Carlos drummond de andrade
Carlos drummond de andradeCarlos drummond de andrade
Carlos drummond de andrade
 
Poetas e poesia
Poetas e poesiaPoetas e poesia
Poetas e poesia
 
POETAS E POESIA
POETAS E POESIAPOETAS E POESIA
POETAS E POESIA
 
Poetas
PoetasPoetas
Poetas
 
Poetas
PoetasPoetas
Poetas
 
Gerações poéticas
Gerações poéticasGerações poéticas
Gerações poéticas
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas
PoetasPoetas
Poetas
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas An
Poetas AnPoetas An
Poetas An
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 

Pinturas E Poesias

  • 1.  
  • 2. Algumas pinturas... Algumas poesias... Nem sempre as mais famosas, mas todas de respeitados autores, numa mistura de épocas e estilos... Sempre belas... Sempre atuais... Temas que nos fazem pensar... Formatação: EnA Quadros: Imagens colhidas na Internet Música: Rêverie – Claude Debussy [email_address]
  • 3. Vinícius de Moraes Vicente de Carvalho Fernando Pessoa Olavo Bilac Carlos Drummond de Andrade Raul de Leoni Cecília Meireles J.G. de Araujo Jorge Clarice Lispector Chico Buarque de Holanda Francisco Otaviano Mário Quintana Manuel Bandeira Guilherme de Almeida Mário de Andrade Castro Alves Cora Coralina (Escolha o nome ou siga em seqüência) ena . [email_address] SAIR
  • 4.
  • 5. VELHO TEMA Vicente de Carvalho Só a leve esperança, em toda a vida, Disfarça a pena de viver, mais nada; Nem é mais a existência, resumida, Que uma grande esperança malograda O eterno sonho da alma desterrada, Sonho que a traz ansiosa e embevecida, É uma hora feliz, sempre adiada E que não chega nunca em toda a vida. Essa felicidade que supomos, Árvore milagrosa que sonhamos Toda arreada de dourados pomos, Existe, sim mas nós não a alcançamos Porque está sempre apenas onde a pomos E nunca a pomos onde nós estamos. VOLTAR AOS NOMES
  • 6. Não sei quantas almas tenho Fernando Pessoa Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem achei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem, Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo: “Fui eu?” Deus sabe, porque o escreveu. LUÍS BADOSA Fernando Pessoa
  • 7. O amor, quando se revela... Fernando Pessoa LUÍS BADOSA Fernando Pessoa O amor, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p'ra ela, Mas não lhe sabe falar. Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente Cala: parece esquecer Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse Pra saber que a estão a amar! Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala, Fica só, inteiramente! Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar... VOLTAR AOS NOMES
  • 8. VELHAS ÁRVORES Olavo Bilac Olha estas velhas árvores, mais belas Do que as árvores novas, mais amigas: Tanto mais belas quanto mais antigas, Vencedoras da idade e das procelas... O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas Vivem, livres de fomes e fadigas; E em seus galhos abrigam-se as cantigas E os amores das aves tagarelas. Não choremos, amigo, a mocidade! Envelheçamos rindo! Envelheçamos Como as árvores fortes envelhecem; Na glória da alegria e da bondade, Agasalhando os pássaros nos ramos, Dando sombra e consolo aos que padecem! VOLTAR AOS NOMES
  • 9. QUADRILHA Carlos Drummond de Andrade João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história. VOLTAR AOS NOMES
  • 10. UNIDADE Raul de Leoni Deitando os olhos sobre a perspectiva Das cousas, surpreendo em cada qual Uma simples imagem fugitiva Da infinita harmonia universal Uma revelação vaga e parcial De tudo existe em cada coisa viva: Na corrente do Bem ou na do Mal Tudo tem uma vida evocativa. Nada é inútil; dos homens aos insetos Vão-se estendendo todos os aspectos Que a idéia da existência pode ter; E o que deslumbra o olhar é perceber Em todos esses seres incompletos A completa noção de um mesmo ser... VOLTAR AOS NOMES
  • 11. Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face? RETRATO Cecília Meireles VOLTAR AOS NOMES
  • 12. E então ficamos os dois em silêncio, tão quietos como dois pássaros na sombra, recolhidos ao mesmo ninho, como dois caminhos na noite, dois caminhos que se juntam num mesmo caminho... Já não ouso... já não coras... E o silêncio é tão nosso, e a quietude tamanha que qualquer palavra bateria estranha como um viajante, altas horas... Nada há mais a dizer, depois que as próprias mãos silenciaram seus carinhos... Estamos um no outro como se estivéssemos sozinhos... E O RESTO É SILÊNCIO... J.G. de Araujo Jorge VOLTAR AOS NOMES
  • 13. Precisão O que me tranqüiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição. CLARICE LISPECTOR VOLTAR AOS NOMES
  • 14. Gente Humilde - Chico Buarque Tem certos dias em que eu penso em minha gente E sinto assim todo o meu peito se apertar Porque parece que acontece de repente Como um desejo de eu viver sem me notar Igual a como quando eu passo num subúrbio Eu muito bem vindo de trem de algum lugar E aí me dá como uma inveja dessa gente Que vai em frente sem nem ter com quem contar São casas simples com cadeiras na calçada E na fachada escrito em cima que é um lar Pela varanda flores tristes e baldias Como a alegria que não tem onde encostar E aí me dá uma tristeza no meu peito Feito um despeito de eu não ter como lutar E eu que não creio, peço a Deus por minha gente É gente humilde, que vontade de chorar VOLTAR AOS NOMES
  • 15. ILUSÕES DA VIDA Francisco Otaviano Quem passou pela vida em branca nuvem E em plácido repouso adormeceu; Quem não sentiu o frio da desgraça, Quem passou pela vida e não sofreu: Foi espectro de homem, não foi homem, Só passou pela vida, não viveu. VOLTAR AOS NOMES
  • 16. Amigos, não consultem os relógios quando um dia eu me for de vossas vidas em seus fúteis problemas tão perdidas que até parecem mais uns necrológios... Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira - em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira. Inteira, sim, porque essa vida eterna somente por si mesma é dividida: não cabe, a cada qual, uma porção. E os Anjos entreolham-se espantados quando alguém - ao voltar a si da vida - acaso lhes indaga que horas são... AH! OS RELÓGIOS Mário Quintana VOLTAR AOS NOMES
  • 17. O que eu adoro em ti Não é tua beleza A beleza é em nós que existe A beleza é um conceito E a beleza é triste Não é triste em si Mas pelo que há nela De fragilidade e incerteza O que eu adoro em ti Não é a tua inteligência Mas é o espírito sutil Tão ágil e tão luminoso Ave solta no céu matinal da montanha Nem é tua ciência Do coração dos homens e das coisas O que eu adoro em ti Não é a tua graça musical Sucessiva e renovada a cada momento Graça aérea como teu próprio momento Graça que perturba e que satisfaz O que eu adoro em ti Não é a mãe que já perdi E nem meu pai O que eu adoro em tua natureza Não é o profundo instinto matinal Em teu flanco aberto como uma ferida Nem a tua pureza. Nem a tua impureza O que adoro em ti lastima-me e consola-me O que eu adoro em ti é A VIDA !!! MADRIGAL MELANCÓLICA Manuel Bandeira DI CAVALCANTI Perfis VOLTAR AOS NOMES
  • 18. FELICIDADE Guilherme de Almeida Ela veio bater à minha porta e falou-me a sorrir, subindo a escada: “Bom dia, árvore velha e desfolhada” e eu respondi: “Bom dia, folha morta” Entrou: e nunca mais me disse nada... Até que um dia (quando pouco importa!) houve canções na ramaria torta e houve bandos de noivos pela estrada... Então chamou-me e disse:“Vou-me embora! Sou a felicidade! Vive agora da lembrança do muito que te fiz” E foi assim que em plena primavera, só quando ela partiu contou quem era... E nunca mais eu me senti feliz! VOLTAR AOS NOMES
  • 19. Abancado à escrivaninha em São Paulo Na minha casa da rua Lopes Chaves De supetão senti um friúme por dentro. Fiquei trêmulo, muito comovido Com o livro palerma olhando pra mim. Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus! muito longe de mim Na escuridão ativa da noite que caiu Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos, Depois de fazer uma pele com a borracha do dia, Faz pouco se deitou, está dormindo. Esse homem é brasileiro que nem eu. Descobrimento Mário de Andrade VOLTAR AOS NOMES
  • 20. ÚLTIMO FANTASMA Castro Alves Quem és tu, quem és tu, vulto gracioso, Que te elevas da noite na orvalhada? Tens a face na sombra mergulhada... Sobre as névoas te libras vaporoso... Baixas do céu num vôo harmonioso!... Quem és tu, bela e branca desposada? Da laranjeira em flor a flor nevada Cerca-te a fonte, ó ser misterioso!... Onde vimos nós?... És doutra esfera? És o ser que eu busquei do sul ao norte... Por quem meu peito em sonhos desespera?... Quem és tu? Quem és tu? _ És minha sorte! És talvez o ideal que est´alma espera! És a glória talvez! Talvez a morte!... VOLTAR AOS NOMES
  • 21. Não sei... se a vida é curta ou longa demais pra nós, Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: Colo que acolhe, Braço que envolve, Palavra que conforta, Silêncio que respeita, Alegria que contagia, Lágrima que corre, Olhar que acaricia, Desejo que sacia, Amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura...Enquanto durar. NÃO SEI... Cora Coralina VOLTAR AOS NOMES