O documento resume o trabalho realizado por João Pedro Costa como professor bibliotecário e comenta alguns pontos relevantes. O autor elogia o trabalho de João e discute desafios como a falta de colaboradores na biblioteca, a necessidade de melhorar as competências digitais e a dificuldade em equilibrar a avaliação com a dinamização do espaço.
ComentáRio à Proposta De Trabalho Da Colega Helena Corrreia
Análise ao trabalho da Biblioteca Escolar de João Pedro Costa
1. Comentário ao trabalho realizado pelo colega João Pedro
Costa
A decisão de escolher o trabalho realizado pelo meu colega João Pedro
Costa é justificada pelo facto de ser o meu parceiro de Bibliotecas Escolares no
Agrupamento Vertical de Escolas D. Dinis, em Quarteira.
Aproveito esta oportunidade para, publicamente, louvar o trabalho que tem
realizado desde o início do ano lectivo, bem como o bom grado com que acolheu o
desafio de se responsabilizar, maioritariamente, por uma BE de uma escola de Pré-
Escolar e de 1.º Ciclo.
Após estas palavras iniciais que não quis deixar de lhe comunicar, farei,
seguidamente, uma abordagem a alguns tópicos apontados pelo João ao longo do
seu trabalho que lhe mereceram destaque e que revelam a sua visão de Biblioteca
Escolar, a forma como pretende gerir e dinamizar o espaço e o modo como deseja
servir a comunidade escolar (e não só) através do seu trabalho. Na realidade, o
João e eu prezamos valores semelhantes e defendemos muitas ideias em comum,
o que facilita o nosso trabalho em equipa e nos c onduzirá, assim o desejamos,
a bom porto.
No que se refere ao campo COMPETÊNCIAS DO PROFESSOR BIBLIOTECÁRIO, o João
aponta como Fraqueza o facto de ser um professor novo no Agrupamento.
Concordo, realmente, que o conhecimento da realidade em que a BE se insere é
um aspecto muito importante a ter em atenção na definição do seu Plano de Acção,
do seu Plano Anual de Actividades, no fundo, na sua gestão e dinamização. É, pois,
urgente que os professores bibliotecários, ao assumirem a coordenação da BE de
uma escola que não conhecem, encetem um processo de reconhecimento do
terreno, dos procedimentos seguidos, das pessoas que lá trabalham, das
necessidades da Escola/Agrupamento e da própria BE, para que mais rapidamente
se apropriem das características do novo meio, pois é nele que irão trabalhar e é
esse mesmo meio que irão ajudar a (re)construir.
2. A principal Ameaça que o meu colega João Costa salienta no campo
COMPETÊNCIAS DO PROFESSOR BIBLIOTECÁRIO é a visão que designa por “antiquada” de
professor bibliotecário. De facto, o lugar de professor bibliotecário é um lugar novo,
ainda desconhecido para muitos. As competências do professor bibliotecário estão
expressas na legislação, nomeadamente, na portaria que 756/2009, de 14 de Julho,
que rege esta nova função, e é importante que a comunidade escolar as conheça,
pois deste modo saberá o que poderá e o que não poderá exigir do professor
bibliotecário. A “visão antiquada” que muitos elementos da comunidade educativa
terão do professor bibliotecário ir-se-á decerto esbatendo, à medida que, por um
lado, conheçam as suas competências e, por outro, que conheçam, no dia a dia, a
evolução do seu trabalho na escola e o percurso que irá imprimir à BE.
Compreendo o João e leio nas entrelinhas da sua designação de “visão
antiquada” uma realidade que a muitos certamente toca e que se prende com o
facto de ainda persistir a ideia de que o professor que está na biblioteca a tempo
inteiro tem, no entender de algumas pessoas, curiosamente até elementos
exteriores ao contexto escolar, muito tempo, está mais descansado (tal como
acontece em relação ao funcionário afecto a este serviço) não tem muito trabalho,
que está ali ao longo do dia a receber os meninos e a fazer requisições e
devoluções de livros… Esta é também, a meu ver, uma ameaça real, recente, mas
que a seu tempo, assim o esperamos, desaparecerá, na medida do bom senso e do
discernimento dos restantes professores.
Finalmente, no que diz respeito a desafios e a acções a implementar, o João
foca dois pontos que também considero essenciais: a articulação curricular, a que
me referirei adiante, e a necessidade de uma implementação de uma organização
metodológica do trabalho a realizar.
A gestão do tempo é uma das preocupações que me afligem e que tenho
tido oportunidade de partilhar com o João em várias ocasiões. E, neste ponto,
saliento o papel do coordenador da equipa das BEs do seu Agrupamento. Esta
figura, de acordo com a portaria 756/2009, de 14 de Julho, deve ter assento no
Conselho Pedagógico, nos termos do Regulamento Interno do Agrupamento. Esta
responsabilidade acrescida em nada vem diminuir ou minimizar as restantes
3. responsabilidades enquanto professor bibliotecário da BE que está a gerir e a
dinamizar. Assim, no caso do professor coordenador da equipa das BEs do
Agrupamento, são acrescidas responsabilidades que lhe retiram tempo, que lhe
exigem dedicação, esforço, empenho e trabalho, mas… continua a ter sobre os
seus ombros as mesmas responsabilidades que o colega não coordenador tem.
Enquanto membro do Conselho Pedagógico, o professor coordenador da equipa
das BEs terá de se integrar em equipas com tarefas específicas, normalmente,
tarefas de grande responsabilidade e morosidade, como é o caso, por exemplo, da
equipa da Auto-Avaliação do Agrupamento/Avaliação Interna, da qual,
pessoalmente, faço parte. Penso que seria absolutamente necessário proceder-se,
por parte da Rede de Bibliotecas Escolares e dos Coordenadores Interconcelhios
das Bibliotecas Escolares a uma reflexão sobre este aspecto e, eventualmente, à
definição e transmissão de uma orientação às direcções das escolas e
agrupamentos neste sentido.
A gestão do tempo e de responsabilidades e a organização metodológica do
trabalho são, na minha opinião, por um lado, um desafio, tal como o João refere,
mas também se enquadram no domínio da ameaça, sobretudo no caso dos
coordenadores das equipas das BEs dos Agrupamentos.
No campo ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA BE, saliento um ponto que o meu colega
João propõe no âmbito das Fraquezas: inexistência de professores colaboradores.
De facto, no Agrupamento de Escolas D. Dinis, esta é uma realidade. A distribuição
de serviço docente não contemplou a afectação de professores ao serviço das BEs.
Na equipa das BEs existe apenas uma colega com cinco tempos exclusivos para a
BE e três colegas com tempos do Plano Tecnológico da Educação (PTE), que
prestam serviço na BE, mas que têm igualmente responsabilidades noutros
sectores, isto é, podem esgotar semanalmente o seu tempo de trabalho noutros
sectores da escola, comprometendo o apoio à BE. Esta situação ainda não se
verificou, por enquanto, mas é possível que venha a verificar-se.
Dada a necessidade de colaboradores, foi então elaborado por mim,
enquanto coordenadora da equipa das BEs do Agrupamento, um documento a
solicitar colaboradores, ou seja, dirigi, em sede de Conselho Pedagógico, um apelo
4. aos colegas, através dos respectivos Coordenadores de Departamento, que
pretendessem, voluntariamente, vir a desenvolver um pequeno projecto de
animação/dinamização da BE, trocando uma ou mais tarefas de serviço não lectivo
já atribuído por serviço não lectivo de apoio às BEs (D. Dinis e D. Francisca de
Aragão). Resultado deste apelo: até ao momento, apenas uma colega, com
extrema dedicação e elevada capacidade de trabalho, altamente louváveis, decidiu
trocar uma aula de substituição por um projecto na BE: a hora do conto semanal,
que contemplará todas as turmas dos 2.º e 3.º Ciclos.
E termino a reflexão sobre este tópico com uma questão: será legítimo exigir
a uma BE que só tem um colaborador, um elemento efectivo de equipa (aparte os
dois professores bibliotecários e as duas assistentes operacionais) e a colaboração
de colegas com tempos de PTE, o mesmo nível de qualidade de gestão e de
dinamização que a uma BE que tem vários elementos de equipa, com vários
tempos semanais de trabalho na BE, e ainda uma dezena ou mais de
colaboradores?
Relativamente ao campo A BE COMO ESPAÇO DE CONHECIMENTO E DE APRENDIZAGEM.
TRABALHO COLABORATIVO E ARTICULADO COM OS DEPARTAMENTOS DE DOCENTES, pretendo
apenas, sem alongar demasiado este tópico, dar ênfase às três oportunidades
apontadas pelo meu colega: apetência da comunidade escolar por ter uma
verdadeira biblioteca; lançamento de projectos e de parcerias com os vários
departamentos curriculares da escola e a implementação de uma cultura de
biblioteca. Estas oportunidades, que podem ser, a meu ver, igualmente encaradas
como desafios terão de ser, na verdade, os motores do trabalho desenvolvido nas
BEs, pois esse trabalho beneficiará as aprendizagens dos alunos, ainda que, na
minha opinião, será muito difícil aferir benefícios mensuráveis do trabalho realizado
nas BEs na evolução do sucesso escolar dos alunos, como é pretendido.
No campo FORMAÇÃO PARA A LEITURA E LITERACIAS, considero que a referência do
meu colega João Costa ao Plano Nacional de Leitura enquanto oportunidade é, de
facto, um aspecto incontornável, na medida em que as orientações do PNL são
essenciais para a implementação de uma prática regular de motivação para a
leitura e também para a escrita, contribuindo para o desenvolvimento das literacias.
5. No que respeita ao campo A BE E OS NOVOS AMBIENTES DIGITAIS , saliento duas das
Fraquezas apontadas pelo meu colega João Costa: o reduzido nível de literacia
digital, no que se refere, sobretudo, aos utilizadores mais jovens, e a falta de
desactualização da página de Internet das BEs. O colega João Costa não remete
estas Fraquezas para os correspondentes Desafios e acções a implementar, mas
sei que assim o pretende assumir, pois a visibilidade das BEs tem de passar pela
sua divulgação através da página de Internet e de blogue(s). Por outro lado, não só
a divulgação do trabalho realizado nas BEs, mas todo o conjunto de informações no
âmbito da formação de utilizadores poderá/deverá recorrer a esta ferramenta
essencial.
Ainda no mesmo campo, dou relevo, uma vez mais, a uma Ameaça
apontada pelo meu colega: a gestão horária para manter actualizados os recursos.
Entendo que o que o meu colega pretende transmitir se prende com a dificuldade
de reservar o tempo necessário para, por um lado, produzir conteúdos para a
página de Internet e para os blogues, e, por outro, para garantir a manutenção do
funcionamento dos computadores, a formação aos utilizadores, o apoio na
elaboração de trabalhos, a pesquisa de sites e de conteúdos de interesse para os
utilizadores, entre outras tarefas que estão relacionadas com os ambientes digitais,
de modo a torná-los numa ferramenta útil e actual para todos.
Quanto ao campo GESTÃO DE EVIDÊNCIAS/AVALIAÇÃO, centrarei o meu comentário
em duas das três Ameaças que o meu colega salienta: modelo demasiado alargado
e centralização do processo no professor bibliotecário. Acresceria a estas ameaças,
uma vez mais, a questão da gestão do tempo. É exigido ao professor bibliotecário
que invista na recolha de evidências para fundamentar a auto-avaliação da BE por
que é responsável, por isso, terá, naturalmente, de investir tempo na organização
dessas informações, muito, muito tempo!
Concordo que há evidências a recolher, que a auto-avaliação é uma
necessidade, mas penso que será inaceitável se o professor bibliotecário for
obrigado a fazer desses procedimentos as suas prioridades de trabalho, em
detrimento da dinamização, da animação da BE, do contacto com os utilizadores,
da participação activa no dia a dia da BE, da fruição do seu trabalho na BE. Se
6. inaceitável se afigurar como um adjectivo demasiado forte, poderei optar por outros,
tais como: incoerente, improdutivo, insustentável, mas a ideia mantém-se e a
ameaça poderá tornar-se muito real, efectivamente… e infelizmente.
Grata pela oportunidade de reflexão ao colega João e pela sua ajuda e
disponibilidade.
Grata pela oportunidade de expressão e opinião/comentário proporcionada
por esta tarefa.
A formanda: Sílvia Maria Passos Baltazar
São Brás de Alportel, 8 de Novembro de 2009