Política nacional de saneamento fiesp-7novembro2011 c rosito
H6
1. H6 Especial
%HermesFileInfo:H-6:20120917:
SEGUNDA-FEIRA, 17 DE SETEMBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO
Fóruns Estadão BRASIL COMPETITIVO
Presidente da CNI de a Orteng, com sede em Contagem
Entrevista ✽ ✽ Engenheiro mecânico pela Universi-
(MG), que produz equipamentos para
energia, petróleo, gás, mineração,
Robson Braga de Andrade dade Federal de Minas Gerais
(UFMG), o empresário também presi-
siderurgia, saneamento, telecomuni-
cações e transportes.
WILSON PEDROSA/AE-16/3/2012
‘O SETOR
MAIS
CRÍTICO É O
PORTUÁRIO’
Presidente da CNI aponta perda de
competitividade do produto brasileiro
Carlos Dias não tem condições de investir sozinho
ESPECIAL PARA O ESTADO o tanto que o setor precisa, que seria
em torno de 5% do PIB ao ano. Por is-
produto na- so, aumentar o número de concessões
“O
cional já per- às empresas, em todos os setores, é
de competiti- fundamental para garantir capacidade
vidade frente de investimento e também concorrên-
ao concorren- cia na operação, o que reduz preços.
te estrangei- No setor portuário, por exemplo, espe-
ro”, alerta o presidente da Confede- ramos que haja a reformulação do de-
ração Nacional da Indústria (CNI), creto 6.620 e o início da concessão das
Robson Braga de Andrade. “Um administrações dos portos.
exemplo é a soja, que no campo tem
excelente preço, mas que, por conta ● Qual a sua avaliação do PAC 2? Quais
dos fretes, chega à Europa e à China foram os avanços e o que ainda não foi
mais cara do que a produzida nos contemplado?
Estados Unidos.” Em entrevista ao O PAC 2 é, sem dúvida, muito impor-
Estado, ele defende medidas urgen- tante e continua avançando, mas é pre-
tes para resolver os problemas da in- ciso ressaltar que a velocidade dele
fraestrutura. não é suficiente para resolver os pro-
blemas logísticos. A burocracia e a ges-
● Na sua avaliação, quais hoje são os tão pública deficiente travam os avan-
reais nós da infraestrutura no Brasil? ços do programa. O PAC 2 tem 400
O Brasil tem problemas em todas as obras, então não adianta falar do que
áreas de logística, desde ferrovias, não foi contemplado, mas sim realizar
que por muito tempo ficaram aban- aquilo que foi planejado. Precisa ser da-
donadas, até portos e aeroportos, da prioridade para os portos e usar es-
passando pelas rodovias. Num país tratégia, para investir primeiro nos
de dimensões continentais, com po- projetos que darão maior retorno.
los produtores nas cinco regiões
geográficas, movimentação interna ● Qual é a situação dos portos e o que
de produtos para abastecer o merca- achou da proposta de uma agência para
do consumidor e exportações cres- o setor?
centes, uma logística que funcione Um dos problemas do setor dos trans-
e seja barata é fundamental para ga- portes é a segmentação: são muitos ór-
rantir o abastecimento e criar com- gãos de governo para um só setor. Por
petitividade frente aos concorren- isso, não acreditamos que uma agên-
tes estrangeiros. O setor mais críti- cia própria para os portos seja o me-
co talvez seja o portuário. O decre- lhor caminho, até porque a Antaq tem
to 6.620, de 2008, é um freio ao in- condições de regulá-los. Acho impor-
vestimento privado nesse setor. Is- tante pensar o transporte do ponto de
so tem de ser mudado, porque o in- origem até o final, pensando na cadeia
vestimento privado é fundamental logística. Quanto mais segmentado,
para recuperar os portos. Outro pro- menos se pensa de forma integrada.
blema desse setor é a administração
pública, que é ruim. É preciso pas- ● No setor elétrico, há risco de apagão
sar a administração dos portos para se a economia voltar a crescer?
empresas privadas, que têm mais ca- No momento, acredito que não. Os re-
pacidade gerencial. Outro gargalo servatórios das hidrelétricas estão em
desse setor importante de mencio- níveis até certo ponto confortáveis e
nar é o acesso terrestre, que é defi- as térmicas a óleo e a gás estão pron- Urgência. ‘Precisaríamos ter a questão logística resolvida para ontem’, afirma Robson Braga de Andrade
ciente na maioria dos portos. Na tas para serem usadas. A Empresa de
questão ferroviária, nossa malha é Pesquisa Energética (EPE) tem um pla- As PPPs se aplicam aos setores que o ● A criação da EPL é um avanço? cumpre um papel fundamental nis-
pequena se comparada a países de- nejamento eficiente e a execução no governo quer transferir para a iniciati- Com certeza, é um avanço. Aliás, é al- so, formando profissionais de nível
senvolvidos e outros em desenvolvi- setor é boa, existem prazos para en- va privada, mas que não têm viabilida- go que foi demandado pela CNI e que técnico altamente capacitados. Mas
mento. São quatro quilômetros de trar energia nova. Quando há descum- de econômica total para isso. A recen- o governo atendeu. A nossa expectati- formar o número de trabalhadores
trilhos por mil quilômetros quadra- primento de prazos, providências são te medida provisória do projeto de va é que, uma vez em funcionamento, de que o mercado necessita leva
dos de território, frente a 21 nos Es- tomadas. Além disso, temos um siste- PPPs dá mais fôlego para que Estados a EPL tenha condições de priorizar a tempo. Essa questão será tema do
tados Unidos e na Índia, por exem- ma de linhas de transmissão reforça- e municípios façam as parcerias, por- aplicação dos recursos disponíveis por terceiro fórum de debates que a
plo. Os aeroportos não receberam do, fruto de investimentos corretos e que, entre outras coisas, aumenta de meio do melhor planejamento estraté- Agência Estado e o Estadão estão
investimentos proporcionais ao au- de leilões bem feitos. Na verdade, o 3% para 5% o limite de comprometi- gico, do estudo de qual investimento promovendo com o apoio da CNI.
mento da demanda, tanto de passa- problema do setor elétrico não é de mento do orçamento com PPPs. A ela- trará maiores ganhos e em menor tem-
geiros quanto de transporte de car- abastecimento, é de preço. E esse pro- boração de projetos e a modelagem de po. Não basta construir uma rodovia ● Qual é a sua avaliação dos custos
gas. As rodovias que não foram con- blema está sendo resolvido com o no- contratos de PPPs são muito mais do nada a lugar algum, tem de cons- das obras que estão por vir em rela-
cedidas à iniciativa privada têm qua- vo pacote. complexas do que as concessões, por- truir onde vai ajudar mais no escoa- ção às rodovias e ferrovias, especifica-
lidade péssima ou ruim. que exige a contrapartida do Estado. O mento da produção. Às vezes, R$ 10 mi- mente?
● Nas rodovias, o que falta fazer e qual o Brasil ainda está aprendendo a fazer lhões num trevo de acesso pode signifi- Esses custos seguem uma lógica de
● De que forma resolver esses entra- modelo ideal de pedágios: pela menor PPPs. A própria administração portuá- car uma melhora maior do que R$ 100 mercado e obedecem o que for esta-
ves na velocidade necessária? tarifa, como está fazendo o governo Dil- ria pode ser pela criação de uma em- milhões numa estrada nova. Para isso belecido nas licitações que o gover-
Precisaríamos ter a questão logísti- ma, ou pelo investimento, como na ges- presa de propósito específico sob um é que serve o planejamento, para racio- no fizer.
ca resolvida para ontem, porque o tão FHC e no modelo paulista? contrato de PPP, assim como investi- nalizar e priorizar o uso dos recursos
produto nacional já perde competiti- As rodovias precisam de projetos bem mentos em saneamento básico tam- disponíveis. ● Em relação aos aeroportos, o mode-
vidade hoje frente ao concorrente feitos para tocar o pacote que foi lança- bém têm boa possibilidade de atuar lo previsto para Confins, Tom Jobim e
estrangeiro. Um exemplo é a soja, do. O pacote é muito grande, basta ci- sob PPPs. ● O Brasil tem hoje mão de obra especia- Guarulhos pode ser repensado para
que no campo tem excelente preço, tar que vai se conceder à iniciativa pri- lizada (engenheiros, por exemplo) e em- aeroportos menores?
graças aos investimentos dos produ- vada 56% a mais do que já foi concedi- ● Estudam-se várias formas de financia- preiteiras capazes de viabilizar os proje- Estamos esperando, com o pacote
tores em tecnologia e em máquinas do até hoje. Qualquer que seja a mode- mento para as PPPs, como por exemplo tos em tempo hábil? de portos, o de aeroportos. A ques-
e implementos agrícolas, mas que, lagem adotada pelo governo, que vai a captação de recursos via debêntures Temos empresas nacionais habilita- tão central é passar a administração
por conta dos fretes, chega à Euro- ser estudada caso a caso, tem de ser ou papéis similares. Qual é a sua avalia- das, que fazem obras complexas no dos aeroportos à iniciativa privada,
pa e à China mais cara do que a pro- cumprida pelas empresas que ganha- ção destes mecanismos? mundo todo. A engenharia brasileira é profissionalizar a gestão. Aeropor-
duzida nos Estados Unidos. Aqui, o rem os contratos. E, nas rodovias que É um mecanismo muito importante. O de nível internacional e assim é reco- tos menores podem atuar sob o mo-
transporte chega a representar 28% continuarem sob administração públi- Brasil tem um mercado de debêntures nhecida mundialmente. Mas não pode- delo de PPPs ou até continuar sob a
do custo total da tonelada da soja, ca, será preciso melhorar a qualidade incipiente ainda, mas já tem uma nova mos negar que temos um déficit de administração do governo. Não há
ante 15% nos Estados Unidos. Preci- dos projetos e a gestão. regulamentação, que deve impulsio- mão de obra no setor, resultado de viabilidade econômica para os ex-
samos de estratégia, de pesados in- nar o setor. É uma forma eficiente de muitos anos de um nível baixíssimo de plorar comercialmente. É preciso re-
vestimentos e de maior participa- ● Quais PPPs em infraestrutura têm captação de recursos para investimen- investimentos. Retomar isso de uma ver os projetos e a gestão que o go-
ção da iniciativa privada. O Estado mais chance de sucesso? tos em infraestrutura. hora para outra não é trivial. O Senai verno faz desses aeroportos.