O documento descreve a solidão e a dor de alguém que perdeu alguém importante. Ele se sente perdido e sem rumo, questionando o sentido da vida após a perda. Apesar disso, ele conclui que deve continuar vivendo, mesmo sem motivos ou respostas, porque a única escolha possível é seguir em frente.
1. CRÔNICAS DE UMA EXISTÊNCIA
O mundo sorri enquanto meu sangue escorre. Todos cantam, mas
meu choro se sobrepõe. Eles correm, eu só consigo rastejar. Não é
culpa minha... talvez seja! A solidão é o castigo que determina o
culpado? Então eu sou culpado. E quem me culpa? A verdade! E a
verdade é que o medo se tornou maior que a esperança. O sonho
se tornou maior que o desejo. A dor afugentou minha coragem. A
saudade tornou o tempo maior. Tempo esse que nem era grande,
mas se fez eterno... por que você se foi! E se foi por quê? Por que
você? Não sei dizer... não posso dizer. Caprichos da vida que leva
e que traz, que dá e que tira, que faz e desfaz. Talvez o acaso que
se fez pleno, Por que em certeza responde o incerto. Mesmo o tudo
nada me responde, no entanto o nada é a resposta mais certa para
tudo. E o que fazer com essa certeza insana de saber que estou
fadado à solidão? Como curar uma ferida invisível que insiste em
manter rasgado o coração? Esse coração que já nem me pertence
e que é regido pelo som melancólico de uma melodia
desconhecida, que ecoa pelos pensamentos e desafina cada
segundo da minha existência. Há remédio para essa loucura?
Estarei tão perdido
no tempo – naquele tempo – que talvez já nem tenha mais
salvação? Sinto que as palavras
mais propícias afim de descrever o que sinto, ainda não foram
inventadas. Sinto que a única canção que conta em detalhes toda a
minha dor, ainda não foi composta. Sinto que a ajuda da
qual disponho... realmente nem sabe que pode me ajudar - se é que
alguém pode me ajudar. Estou cansado. Finalmente percebi que
não posso – ainda que queira – continuar travando esta batalha.
Minhas forças – que já eram escassas – acabaram de se exaurir.
Eu não tenho mais por quês... não tenho mais motivos... eu não
tenho nada... por que eu não tenho você.
Qual é o sentido? Qual é a lógica? Não há um sentido lógico. Não
há lógica que faça sentido... a única pessoa que eu realmente amei
pertence a outro mundo... talvez nunca mais a veja. E é isso o que
sou... isso é o que me tornei. Um andarilho que vaga sem rumo
nem direção na tortuosa estrada da vida. Um capitão impotente que
observa o seu navio à deriva da fúria do mar durante a mais intensa
das tempestades. Uma folha... que plana ao acaso tal qual a
vontade dos ventos. Eu tenho escolha? Não! Eu tive escolha. Eu
escolhi o caminho certo... antes tivesse escolhido o errado. Mas
agora é tarde! Não adianta chorar, não adianta se lamentar, não
2. adianta tentar retroceder e nem tampouco se adiantar. O tempo é
esse! A hora é essa! Viver é sofrer! No passado eu não existia... no
futuro, eu deixarei de existir... então se eu quero viver que seja
hoje... que seja agora! Mas a pergunta é... eu quero viver??? A
única resposta que eu tenho encontrado é... que ainda que sem
motivos... ainda que sem porquês... eu devo viver. Eu devo viver!!!
Samir Querino