Avanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Consenso tratamento covid_19
1. Versão 1 02/04/2020
CONSENSO INSTITUCIONAL PARA O TRATAMENTO DE
INFECÇÃO POR COVID – 19 EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
I.Cr. HCFMUSP
Documento vivo (passível de atualização) elaborado por equipe multidisciplinar do Instituto da
Criança e do Adolescente, envolvendo as unidades de:
Controle de Infecção Hospitalar
Fisioterapia
Infectologia
Pronto Socorro
Terapia Intensiva
Com os agradecimentos pela valiosa contribuição.
2. Versão 1 02/04/2020
INTRODUÇÃO
Os casos de infecção por COVID-19 na população pediátrica são escassos e parecem evoluir com
menor gravidade do que na população adulta. Há também poucos dados ainda sobre infecção em
crianças com doenças de base. Portanto, pouco se sabe sobre o manejo e tratamento da infecção
por COVID-19 em crianças saudáveis ou com comorbidades.
A classificação clínica da doença não difere de outras infecções por vírus respiratórios. O quadro
será considerado leve quando o paciente estiver assintomático, com apenas sintomas
respiratórios altos ou com pneumonia leve; e grave quando houver sinais de desconforto
respiratório (taquipneia, hipóxia, tiragem intercostal, subdiafragmática e de fúrcula, batimento de
asa de nariz, alterações gasométricas), alterações do nível de consciência, baixa ingesta alimentar
e desidratação, alterações na coagulação, lesão cardíaca, disfunção gastrointestinal, elevação de
enzimas hepáticas ou rabdomiólise. Esse quadro pode rapidamente evoluir com falência de
múltiplos órgãos ou estar associado com choque séptico.(1,2)
São considerados fatores de risco para Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG):
< 5 anos de idade
Portadores de cardiopatias
Portadores de pneumopatias
Portadores de hemoglobinopatias
Portadores de neuropatias
Portadores de nefropatias
Portadores de hepatopatias
Imunodeprimidos (doenças congênitas ou adquiridas)
Diabéticos
Gestantes e puérperas
Obesos
MANEJO (2,3)
Recomendações gerais
PREOCUPE-SE EM ADOTAR PARAMENTAÇÃO ADEQUADA
o Para atendimento de paciente com síndrome gripal é suficiente utilizar o avental
simples (branco), máscara cirúrgica, luvas descartáveis e óculos de proteção.
Para os procedimentos que gerem aerossol, é preciso utilizar também o gorro e
substituir a máscara cirúrgica pela N95. Para os procedimentos que gerem
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secreção e/ou excreção, substituir também o avental simples (branco) pelo
impermeável (amarelo).
Obter consentimento e assentimento livre e esclarecido de todos os pacientes com
síndrome gripal, admitidos no Pronto Atendimento;
Realizar o isolamento adequado do paciente dentro do hospital (conforme protocolo
CCIH);
Orientar as medidas de isolamento e cuidados domiciliares, caso o paciente tenha
condições de alta hospitalar;
Realizar diagnóstico diferencial com outras infecções virias respiratórias (principalmente
influenza A e B) e pneumonias bacterianas, incluindo por micoplasma;
Visto que este documento, além de servir de ferramenta de orientação terapêutica, faz
parte também de um PROTOCOLO DE PESQUISA, TODO PACIENTE (de pronto
atendimento ou internado) QUE APRESENTAR SÍNDROME GRIPAL E QUE PERTENCER AO
GRUPO DE RISCO (acima citado) DEVERÁ COLETAR:
Swab para investigação etiológica de SARSCoV-2 (1 cotonete de ambas as narinas
e 1 cotonete da orofaringe, conforme instruções);
2 mL de saliva (em frasco estéril de urocultura, conforme instruções);
3mL de sangue para sorologia (em tubo de tampa amarela com gel separador)
2mL de sangue para PCR (em tubo de tampa roxa de EDTA)
• Além dos exames para avaliação básica da condição clínica (HMG, PCR, HMC,
enzimas hepáticas, U/C, gasomentria venosa ou arterial, Rx de tórax PA e perfil).
Para pacientes submetidos à internação coletar também: eletrólitos,
coagulograma, D-dímero, CPK e DHL. Outros exames poderão ser indicados a
critério médico.
A indicação da internação será definida caso a caso conforme critérios clínicos,
laboratoriais, radiológicos e comorbidades do paciente.
Tabela 1: Classificação clínica das síndromes respiratórias relacionadas a infecções por vírus respiratórios
Infecção não
complicada
Sintomas inespecíficos, como febre, tosse, dor de garganta, congestão nasal, queda de estado geral,
dor de cabeça, dor muscular
Não há sinais de desidratação, sepse ou dificuldade respiratória
Infecção leve de
vias aéreas baixas
Tosse, dificuldade respiratória com taquipneia, mas SEM sinais de gravidade clínica ou pneumonia
grave
Critérios de taquipneia (em respirações / min):
o <2 meses ≥60 RPM
o 2–11 meses, ≥50 RPM
o 1–5 anos, ≥40 RPM
o Adultos / adolescentes> 30 RPM
Saturação em ar ambiente > 92%
Pode ou não haver febre
Infecção grave de Tosse ou dificuldade respiratória e pelo menos um dos seguintes:
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vias aéreas baixas Cianose central ou SaO2 < 92% (<90% em prematuros)
Angústia respiratória grave: gemido, batimento nasal, retração supraesternal, retração intercostal
intensa ou balancim
Incapacidade ou dificuldade na alimentação
Diminuição do estado de consciência, letargia ou perda de consciência ou convulsões
Taquipneia acentuada (em respirações / min): ≥70 rpm em crianças menores de 1 ano; ≥50 rpm em
mais de 1 ano.
PaO2 <60 mmHg, PaCO2> 50 mmHg.
O diagnóstico é clínico. As imagens de radiografia de tórax podem excluir complicações (atelectasia,
infiltrados, derrame)
Outras
manifestações
associadas a
quadros graves
Distúrbios da coagulação (tempo prolongado de protrombina e elevação do D-dímero), dano do
miocárdio (aumento das enzimas do miocárdio, alterações de ST-T no eletrocardiograma,
cardiomegalia e insuficiência cardíaca), insuficiência renal, disfunção gastrointestinal, elevação de
enzimas fígado e rabdomiólise
SRAG
(Síndrome
respiratória aguda
grave)
Imagem radiológica nova ou piora da imagem dos 10 dias anteriores
Radiografia de tórax, TC ou ECO: novo (s) infiltrado (s) uni / bilateral (ais) compatível (eis) com
envolvimento agudo do parênquima pulmonar
Origem do edema pulmonar: insuficiência respiratória na ausência de outra etiologia, como
insuficiência cardíaca (descartada pela ecocardiografia) ou sobrecarga de volume
Oxigenação (OI = Índice de Oxigenação e OSI = Índice de Oxigenação usando SpO2):
o VNI de dois níveis ou CPAP ≥5 cmH2O através de uma máscara facial: PaO2 / FiO2 ≤ 300 mmHg
ou SpO2 / FiO2 ≤264
o SDRA leve (ventilação invasiva): 4 ≤ OI <8 5 ≤ OSI <7,5
o SDRA moderada (ventilação invasiva): 8 ≤ OI <16 7,5 ≤ OSI <12,3
o SDRA grave (ventilação invasiva): OI ≥ 16 OSI ≥ 12,3
Sepse Infecção suspeita ou comprovada e ≥ 2 critérios SIRS, dos quais um deve ser temperatura anormal ou
contagem de glóbulos brancos anormais (os outros 2 critérios são taquipneia e taquicardia ou
bradicardia em <1 ano)
É grave se houver disfunção cardiovascular, SDRA ou disfunção ≥ 2 dos outros órgãos
Choque séptico Suspeita de infecção (pode ter hipotermia ou hipertermia) e apresentar sinais de hipoperfusão
periférica, como hipotensão (PAS <percentil 5 ou> 2 DP abaixo do normal para a idade) ou 2-3 dos
seguintes: estado mental alterado; taquicardia ou bradicardia (FC <90 bpm ou> 160 bpm em bebês e
FC <70 bpm ou> 150 bpm em crianças); enchimento capilar lentificado (> 2 segundos) ou evidencia de
vasodilatação com pele quente e pulsos amplos; taquipneia; pele manchada ou erupção petequial ou
purpúrica; aumento de lactato, oligúria.
Se forem necessárias drogas vasoativas para manter a pressão sanguínea e a perfusão adequadas após
uma expansão correta do volume
Adaptado de: Ministerio de Sanidad. Documento técnico Manejo clínico de pacientes con enfermedad por el nuevo coronavirus (2)
CONDUTA TERAPÊUTICA
1. MEDIDAS GERAIS
1.1. Casos leves
Realizar avaliação inicial de sinais vitais não-invasiva: oximetria de pulso, dor, FR, FC e PA;
Coletar swab nasal de todo PACIENTE DE RISCO com SÍNDROME GRIPAL;
Direcionar para a rede os casos leves e sem fatores de risco;
Solicitar exames complementares para os pacientes com fatores de risco:
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o HMG, PCR, HMC, enzimas hepáticas, U/C e gasometria;
o Rx de tórax (PA e perfil);
o Considerar tomografia computadorizada de tórax caso a caso, para evitar
irradiação excessiva;
Ponderar a alta hospitalar para os pacientes com fatores de risco e infecção não
complicada (a depender da situação familiar e epidemiológica), para condução por
teleconsulta/videoconferência* ou consulta ambulatorial.
Não prescrever antibióticos, corticoide ou imunoglobulina de forma rotineira, nos casos
leves;
Orientar sintomáticos, preferencialmente dipirona e paracetamol. Os estudos envolvendo
AINH ainda são insuficientes para recomendações e, portanto, recomenda-se evitá-los;
Avaliar individualmente a necessidade de internação e prescrição de antibióticos.
* Conforme documentação específica
1.2. Casos graves
Indicar internação;
Coletar HMG, PCR, HMC, enzimas hepáticas, U/C, gasomentria venosa ou arterial, Rx de
tórax PA e perfil, eletrólitos, coagulograma, D-dímero, CPK e DHL. Outros exames poderão
ser indicados a critério médico.
Realizar terapias de suporte ventilatório e reposição volêmica quando necessário,
conforme protocolo institucional;
Administrar antibiótico intravenoso quando houver choque séptico ou quando for
considerada a coinfecção bacteriana;
Avaliar uso de corticoide conforme protocolos do hospital (ver tabela 2 e discussão
abaixo);
Ponderar cuidadosamente uso de IGIV (ver tabela 2 e discussão abaixo).
2. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO
Não há ainda um tratamento efetivo contra o COVID-19 e o conhecimento adquirido com o SARS-
CoV e MERS-CoV é pequeno, fornecendo dados limitados para a nova epidemia. O nível de
evidência para o uso tanto de tratamentos específicos (antivirais) ou inespecíficos
(imunomoduladores ou corticoides, por exemplo) é muito baixo, sendo difícil realizar uma
recomendação de tratamento segura e efetiva. Entretanto, esse cenário pode mudar a qualquer
momento, já que há em torno de 100 ensaios clínicos ocorrendo para o tratamento do COVID-19
(43 com medicina tradicional chinesa, 43 com antivirais, 19 com anti-inflamatórios ou
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imunossupressores, 3 com terapia celular e 11 com outros medicamentos). Em um relato de 6
casos de infecção por COVID em crianças na China, 2 pacientes foram tratados com Ribavirina, 5
com corticoide e 1 recebeu imunoglobulina intravenosa. Nenhum dos pacientes apresentava
doença crônica e um deles progrediu para o óbito. (1,4,5)
Principais medicações usadas no tratamento de Coronavirus (3,6)
ANTIVIRAIS
Ribavirina: apesar de a medicação ter pouco efeito in vitro contra o Coronavirus, foi
amplamente usada. Há um estudo que mostra alguma ação contra o vírus quando
associada ao Interferon. Devido à falta de dados e a importante toxicidade e efeitos
colaterais da medicação, seu uso deve ser considerado com precaução.
Lopinavir/Ritonavir: Estudos in vitro mostraram efeito do Lopinavir contra o SRAS-CoV,
não há estudos em COVID-19. Revisão de alguns estudos clínicos com SARS e MERS-CoV
sugerem que o uso do Lopinavir/Ritonavir sozinho, em associação com outros antivirais ou
com Interferon alfa esteve associado com melhora clínica, principalmente quando foi
iniciado precocemente. (7) Um estudo clínico caso/controle de pacientes adultos com
sinais de hipoxemia não mostrou diferença na mortalidade em 28 dias entre os que
usaram ou não o Lopinavir/Ritonavir. (11) Apesar de ser considerada uma opção
terapêutica, no momento está indisponível no Brasil.
Apresentações e posologia:
o Comprimido revestido: 200/50mg e 100/25mg
o Solução oral: 80/20mg/mL
o Dose pediátrica de 6 meses a 18 anos
o De 7-15Kg: 12mg/3mg por Kg/dose, de 12/12h
o De 15-40Kg: 10/2,5 mg por kg/dose, de 12/12h
o > 40Kg: 400/100mg/dose de 12/12h
Remdesivir: É um análogo da adenosina, foi considerado um antiviral promissor contra
uma grande variedade de vírus de RNA, incluindo SARSCoV e MERS-CoV. Ainda em estudo
e indisponível no Brasil.
IMUNOMODULADORES
Corticoides
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o Não devem ser usados de rotina e nem em casos leves. Estudos prévios com SARS,
MERS e gripe mostraram que não tem efeito e que poderiam retardar o tempo de
clareamento viral.
o Poderá ser indicado se o paciente apresentar:
asma grave, síndrome hemofagocítica, púrpura fulminans, síndrome de
Waterhause Friderichsen, estiver em uso prévio da medicação ou
apresentar anormalidade adrenal ou pituitária;
choque séptico (conforme protocolo do hospital);
o a escolha e dose do corticosteroide deve seguir os protocolos institucionais.
Interferon: Estudos in vitro demostraram uma redução na replicação viral do SARS e
MERS-CoV com Interferon alfa e beta. O mesmo não ocorre com o gama-Interferon.
Pacientes com MERS-CoV que foram tratados com uma associação ribavirina e alfa-INF
tiveram melhor sobrevida.
o O αINF pode ser administrado por via inalatória 200.000–400.000 IU/kg/dose em
nebulizador, de 12/12h, por 5-7 dias;
o O β-INF é administrado por via subcutânea 0,25mg SC a cada 48h por 14 dias. (1,6)
Imunoglobulina Humana Intravenosa: não há evidências de que a IGIV tenha algum
benefício no tratamento da infecção por Coronavirus. Seu uso deve ser criterioso e
indicado apenas em casos muito graves. Em 2003 a IGIV foi extensamente usada em
Singapura, 1/3 dos pacientes evoluíram com tromboembolismo venoso e pulmonar,
mesmo em uso de heparina profilática. Essa complicação foi relacionada ao uso da
IGIV.(1,6)
o Dose: 1g/Kg/dia por 2 dias ou 400mg/Kg/dia, por 5 dias.
Outros
Muitas medicações antigas estão em estudo para o tratamento de Coronavirus. A cloroquina
parece ser a mais promissora.
Cloroquina e Hidroxicloroquina: Desde os anos 1960, é conhecido o potencial efeito
antiviral da cloroquina para uma grande variedade de vírus incluindo o SARS-CoV(8). Um
ensaio clínico recente evidenciou que a cloroquina tem efeito in vitro contra o COVID-19
(9) e um outro estudo mostrou que a hidroxicloroquina tem um efeito semelhante com
uma dose inferior e, portanto, com menor toxicidade (não especifica a faixa etária).
(10)(12)
Cloroquina:
8. Versão 1 02/04/2020
o Dose pediátrica: 8,3mg/Kg/dose, de 12/12h (dose máxima 500mg/dose)
Hidroxicloroquina:
o < 6 anos = 6,5mg/Kg/dose, VO, de 12/12h no primeiro dia e 3,25mg/Kg/dose, VO
de 12/12h do segundo ao quinto dia;
o 6 anos ou mais: 5mg/Kg/dose, VO, de 12/12h por 5 dias (dose máxima
400mg/dose)
Tabela 2: Tratamento das síndromes respiratórias relacionadas a infecções por vírus respiratórios§
Quadro clínico Tratamento Tratamento específico só para casos
CONFIRMADOS
Infecção leve, Rx tórax normal, SEM
fatores de risco
Sintomáticos e acompanhamento
clínico
Nenhum
Infecção leve, Rx tórax normal, COM
fatores de risco
Sintomáticos
Avaliar caso a caso necessidade de
internação
Acompanhamento rigoroso
Iniciar Oseltamivir
o< 1ano - 1-3,5mg/kg 2x/dia
o< 15 Kg - 30mg 2x/dia
o15-23 Kg - 45mg 2x/dia
o23-40 Kg - 60mg 2x/dia
o> 40 Kg - 75mg 2x/dia
Discutir tratamento específico com a
Infectologia (8h00-17h00), para
casos internados
Cloroquina ou Hidroxicloroquina
Pneumonia leve
Com ou sem fatores de risco
Avaliar caso a caso necessidade
internação
Iniciar Oseltamivir
Administrar antibiótico APENAS se
houver suspeita de co-infecção
bacteriana.
1ª. Escolha: Amoxicilina
50mg/Kg/dia 12/12h, ou
Azitromicina 5mg/Kg/dia em caso de
alergia
Avaliar a necessidade de
Levofloxacina 10mg/Kg/dose 12/12h
até 6 anos e 1 x dia > 6 anos
APENAS em pacientes com
imunodeficiências
Discutir tratamento específico com a
Infectologia (8h00-17h00), para
casos internados
Cloroquina ou Hidroxicloroquina
Pneumonia grave Internação
Avaliar necessidade de antibióticos
IV
Avaliar cuidadosamente uso de
corticoide e/ou IGIV
Discutir tratamento específico com a
Infectologia (8h00-17h00), para
casos internados
Cloroquina ou Hidroxicloroquina
Associado ou não à Azitromicina
Choque séptico ou falência de órgãos
ou outros sinais de
comprometimento extra-pulmonar
grave
Internação CTI (ICHC)
Antibióticos conforme protocolo de
choque séptico
Avaliar cuidadosamente uso de
corticoide e/ou IGIV
Discutir tratamento específico com a
Infectologia (8h00-17h00), para
casos internados
Cloroquina ou Hidroxicloroquina
Associado ou não à Azitromicina
9. Versão 1 02/04/2020
Recomendações de manejo na suspeita de doença por COVID-19 (1,2)
INFORMAÇÃO SOBRE DOSES, POSOLOGIA E EFEITOS COLATERAIS
http://intra.icr.usp.br/subportais/COVID19/TAB_MED_TRATA_COVID_31032020.pdf
SUPORTE RESPIRATÓRIO E VENTILAÇÃO MECÂNICA
Todas as orientações devem ser submetidas ao julgamento clínico e adaptadas a cada paciente.
SEMPRE: paramentação e desparamentação adequadas (EPIs) já descritas em documentos oficiais
do HC e ICr
Premissas relevantes:
TODOS OS PACIENTES TERÃO AMOSTRAS COLETADAS DA VIA AÉREA (narinas e faringe)
COLETADAS NO PRONTO ATENDIMENTO OU À INTERNAÇÃO, PARA A PESQUISA DO
SARSCoV-2;
Evidências científicas se aproximam de zero em pediatria;
É provável que parcela significativa das insuficiências respiratórias em pediatria não seja
causada por SARSCoV-2. No Instituto da Criança, no ano de 2020, dos 12 casos com
síndrome gripal que demandaram suporte respiratório em terapia intensiva, em 4 casos
foi possível identificar VRS, em 3 casos não foi possível identificar agente etiológico, em
outros 3 casos foi possível identificar Rinovirus e em 1 caso cada foram isolados Bocavirus,
Influenza A, H1N1, Mycoplasma, Parainfluenza 3 e Parainfluenza 4. Em nenhuma das 65
amostras coletadas nas síndromes gripais se identificou o SARSCoV-2;
Grande maioria é de casos leves e mortalidade próxima a zero (dados de MERS, SARSCoV-
1 e SARSCoV-2 em outros países);
A gravidade parece estar associada à doença pulmonar parenquimatosa;
Maioria das sugestões tem como foco reduzir a formação de aerossóis e a proteção da
equipe. Assim, adaptações ao cuidado da criança serão necessários;
Limitar acesso de profissionais que participarão ativamente dos procedimentos e na sala
de emergência;
Os profissionais da fisioterapia deverão discutir com a equipe médica antes da introdução
ou modificação da oxigenoterapia.
Procedimentos que potencialmente podem gerar aerossol:
Segundo a ANVISA, são aqueles que potencialmente geram tosse como: ressuscitação
cardiopulmonar, ventilação manual com pressão, intubação ou aspiração traqueal ou da
traqueostomia com circuito aberto, ventilação invasiva e não invasiva com circuito aberto – p.e.
cateter de alto fluxo, BIPAP/CPAP - broncoscopia, fisioterapia respiratória com indução de escarro
e coletas de amostras nasotraqueais.
10. Versão 1 02/04/2020
NOS CASOS AINDA NÃO CONFIRMADOS DE COVID-19
OXIGENOTERAPIA.
Dar preferência para uso (nessa sequência) de:
Máscaras: de Venturi ou não reinalante, de acordo com a demanda;
Cateter nasal, preferível em crianças menores;
VNI em ventilador com circuito fechado*;
CAF: uso criterioso e com paciente no isolamento com antessala*;
Ventilação mecânica.
*são técnicas recomentadas na ventilação da bronquiolite e na asma e devem ser indicadas de
forma muito criteriosa, se as condições de isolamento não forem totalmente seguras na infecção
por COVID.
Nos casos de desconforto respiratório MODERADO COM POTENCIAL DE AGRAVAMENTO E
NECESSIDADE DE SUPORTE VENTILATÓRIO LIGAR PARA ADRIANA PASMANIK PARA PEDIR
PRIORIDADE NO EXAME (resultado em aproximadamente 12 horas). O objetivo é ajudar o
profissional a adotar a melhor técnica de suporte ventilatório*. Dados como nome completo,
idade e RG HC do paciente deverão ser fornecidos por WhatsApp. Nas demais situações os
resultados estão saindo em aproximadamente 24-48 horas (sujeitos a atraso se o número de casos
aumentar muito).
SUPORTE COM BOLSA VALVA MÁSCARA
EVITAR. Uso somente se estritamente necessário;
No paciente não intubado deve ser feita idealmente com 2 pessoas para que a vedação
seja mais completa (com 2 mãos);
Filtro HEPA (entre máscara e BVM), evitar formação de aerossol (verificar disponibilidade);
Evitar hiperinsuflação. Pressão mínima para iniciar a elevação do tórax.
INTUBAÇÃO TRAQUEAL
Lembrar que não há indicação de tratamento precoce no desconforto respiratório causado
pelo COVID 19, mas sim no paciente com síndrome do desconforto respiratório agudo grave,
causada por esse vírus.
Sugere-se, se possível, no máximo 5 pessoas na sala durante o procedimento: 2 da equipe
médica, 2 da equipe de enfermagem, 1 fisioterapeuta.
11. Versão 1 02/04/2020
MATERIAL:
O preparo prévio é crucial;
Tubos com cuff (minimiza produção de aerossol);
Usar cuffômetro para adequar a pressão do cuff (< 20 cm água= 15 mm Hg);
BVM com filtro HEPA;
Altamente recomendado videolaringoscópio durante a IOT;
Dispositivos supra glóticos: restringir como via aérea de resgate, pois é provável que
produzam mais aerossóis (evitar);
Calibrar capnografia: maior rapidez na confirmação do posicionamento do TT;
Circuito fechado de aspiração.
DURANTE O PROCEDIMENTO (minimizar aerossol)
Profissionais devem se ajudar na lembrança dos cuidados para reduzir a contaminação dos
profissionais: ambiente favorável a “críticas” e feedback;
Evitar ventilação com BVM e preferir pré-oxigenação com máscara com reservatório,
tomando cuidado de utilizar o menor fluxo de oxigênio (10 a 15L/min) para inflar o
reservatório;
Não fazer transição de suporte ventilatório antes da IOT, p.e. se estiver em VNI só
progredir para a IOT;
Sequência rápida de intubação (SRI) garantindo adequada paralisia muscular (reduzindo a
chance de tosse) e deve ser pautada na experiência do profissional e do serviço.
Considerar as contraindicações absolutas e relativas pertinentes ao procedimento;
Primeira tentativa de IOT = R2, segunda tentativa: profissional mais habilitado do SCUT e
ao mesmo tempo acionar anestesista ou UTI;
CUIDADOS PÓS-INTUBAÇÃO
Evitar desconexão do circuito;
Clampear o tubo traqueal quando a desconexão do circuito for necessária (exemplo:
transferência para ventilador de transporte);
Aspiração em circuito fechado;
Bloqueador neuromuscular não deve ser rotina.
PARAMETROS VENTILATORIOS INICIAIS
Sugestão inicial: volume corrente (3-6mL/kg), PEEP (5-8cm/H2O), pressão de plateau (<28
cm/H2O)
12. Versão 1 02/04/2020
NOS CASOS CONFIRMADOS DE COVID-19
Os casos com disfunção respiratória grave, alterações hemodinâmicas e/ou com disfunções de
outros órgãos (neurológica, renal, hematológica) dentro do possível, devem ser internados em
centro de terapia intensiva (CTI).
Frente à necessidade de suporte ventilatório progressivo (não tendo respondido ao uso de cateter
e máscaras de O2) e considerando que os recursos de precaução e isolamento podem ser
insuficientes, nos casos confirmados de infecção por COVID, considerar fortemente a intubação
(se disponível, com o auxílio de videolaringoscópio) mediante sequência rápida de intubação
(SRI).
Os pacientes devem ser bem sedados e eventualmente curarizados. O alvo é manter saturação de
oxigênio acima de 92%. A capnografia está indicada em todos os casos. A posição prona tem se
mostrado útil em várias publicações e pode ser utilizada por até 18 horas/dia.
Pode haver necessidade de realização precoce de tomografia de tórax com ou sem manobras de
recrutamento, que deve levar em consideração o risco do transporte e disseminação viral. O
ultrassom de tórax seriado pode ser útil no acompanhamento dos pacientes.
Outra medida importante é avaliar a necessidade de Óxido Nítrico ou Sildenafil.
Casos mais graves com diferencial de pressão inspiratória e expiratória > 15 cm H2O podem
necessitar de ECMO, se mantiverem persistentemente a saturação de O2 < 85%, seguindo os
protocolos internacionais.
Os estudos não mostram qualquer vantagem no uso de corticosteroide nos casos graves de
disfunção respiratória, podendo haver supressão imunológica e pior evolução. Em cerca de 5% dos
casos pode haver sepse grave ou choque séptico associado e as indicações de corticosteroides
podem ocorrer conforme os protocolos do Surviving Sepsis Campaign.
16. Versão 1 02/04/2020
§
MEDICAMENTOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DE CASOS DE COVID-19 EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES. Doses, efeitos
adversos, contraindicações, cuidados na prescrição.
17. Versão 1 02/04/2020
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