SlideShare a Scribd company logo
1 of 32
HEMATOLOGIA
TROMBOFILIA
Dr Francismar Prestes Leal (CRM/PR 18829)
Médico Hematologista (UFSM/UNIFESP)
Professor Uningá/Maringá/PR
Outubro/2013
© L. A. Burden 2005
TROMBOFILIA
• As doenças tromboembólicas são a maior causa de
morbimortalidade nas sociedades ocidentais (IAM,
AVC, TEP etc.)
• O melhor conhecimento das doenças
tromboembólicas, a descoberta de vários estados
de hipercoagulabilidade, o aparecimento de novos
fármacos antitrombóticos e de exames de
diagnóstico mais confiáveis e específicos, têm
revolucionado esta área da medicina
TROMBOFILIA
• Já no século XIX, Virchow descreveu um “estado”
que predispunha à trombose venosa e que se
caracterizava pela existência de três premissas
(tríade de Virchow):
– Estase venosa
– Lesão da parede vascular
– Alterações da coagulação sanguínea
TROMBOFILIA
• O conhecimento limitado da composição do sangue
e da formação do coágulo, além da disponibilidade
limitada de recursos diagnósticos: obstáculo para a
investigação de casos de trombose (no passado?)
• Mas mesmo nas descrições iniciais é possível
reconhecer que a noção de que fatores de risco
adquiridos contribuem para a trombose, mas que
fatores genéticos existem (história familiar) e têm
papel relevante no risco trombótico
TROMBOFILIA
• Embora a patogênese do TEV não esteja ainda
totalmente esclarecida, há evidências de que seja
influenciada pela interação de fatores de risco
genéticos e ambientais
• A caracterização destes fatores de risco é crucial
para uma melhor compreensão da trombose
• Os fatores de risco para TEV diferem dos
fatores de risco para a trombose arterial
TROMBOFILIA
• HAS, tabagismo, dislipidemia e DM, por exemplo,
são fatores de risco para a trombose arterial, mas
“não são” para o TEV
• Os fatores de risco “clássicos” para TEV
incluem: idade avançada, imobilização prolongada,
cirurgias, fraturas, uso de anticonceptivos orais,
terapêutica hormonal de substituição, gestação,
puerpério, neoplasias malignas, infecções e
síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAF)
TROMBOFILIA
• Nas últimas décadas, houve um grande progresso
no estudo dos mecanismos envolvidos no TEV
• O avanço mais significativo foi a confirmação de
que condições de hipercoagulabilidade “herdadas”
estão presentes num grande número de doentes
com TEV/TEP: >60% da predisposição para
trombose seria “genética” (hereditária)
• Trombofilia: termo usado para descrever uma
maior tendência para trombose (TEV e arterial)
TROMBOFILIA
• Pacientes “trombofílicos” têm o seu primeiro evento
trombótico (geralmente TEV) antes dos 25 anos e
as chances de recorrência aumentam com a idade
e com a associação de outros fatores de risco
• As manifestações clínicas mais frequentes são a
TVP dos membros inferiores e o TEP
• A trombose pode ocorrer em outros locais: SNC,
veias retinianas, veias intra-abdominais, membros
superiores, sistema venoso útero-placentário etc.
TROMBOFILIA
• Nos EUA, o TEV gera 260.000 hospitalizações, a
insuficiência venosa crônica atinge meio milhão de
indivíduos e a embolia pulmonar mata até100.000
pessoas, anualmente
• Uma história familiar de trombose venosa pode ser
identificada em um terço dos casos
• Os estados trombofílicos podem ser divididos em
três grupos: primários (hereditários/congênitos),
secundários (adquiridos) ou mistos
TROMBOFILIA
TROMBOFILIA
Fatores de Risco Clássicos para TEV
TROMBOFILIA
• Trombofilias primárias (hereditárias/congênitas):
– O risco de trombose é baixo antes dos 15 anos,
aumentando a partir desta idade 2-4% ao ano
– Por volta dos 50 anos, 50-70% dos pacientes já
apresentaram um episódio trombótico (metade
sem fatores de risco associados)
– A prevalência de fatores de risco genéticos e
“mistos” (fatores da coagulação elevados) é
mostrada no quadro a seguir
TROMBOFILIA
TROMBOFILIA
• Trombofilias secundárias (adquiridas):
– Surgem em qualquer momento da vida, incluindo
a vida intrauterina
– As causas mais frequentes são: SAF, trauma,
cirurgia, imobilização longa, idade avançada,
câncer, doença mieloproliferativa, ACO/TRH,
hiperviscosidade, HPN, gravidez, puerpério,
síndrome nefrótica, hiperomocisteinemia, RPCA
não relacionada com o gene do fator V
TROMBOFILIA
• Trombofilias secundárias (adquiridas):
– SA(A)F (Antifosfolípide)
TROMBOFILIA
• Quais os doentes que devem ser investigados?
– Doentes com diagnóstico de TVP, TEP ou
tromboflebite superficial, com pelo menos uma
das seguintes características:
• Idade até 55 anos?
• Trombose recorrente
• Trombose em locais pouco usuais
• História familiar de TEV/TEP
TROMBOFILIA
TROMBOFILIA
Tratamento: Heparinização (HNF)
TROMBOFILIA
Tratamento: Heparinização (HNF)
TROMBOFILIA
Tratamento: Heparinização (HBPM)
TROMBOFILIA
Tratamento: Anticoagulante Oral
• Varfarina: iniciar no primeiro dia da heparinização,
com 10mg/dia nos dois primeiros dias, ajustando a
dose conforme a RNI do terceiro dia em diante
• Não é necessário realizar testes farmacogenéticos
para guiar a terapia
• Uma vez alcançada uma anticoagulação estável
(RNI alvo 2-3, mesmo para os grupos de alto risco
de TEV), os controles com RNI podem ser feitos
com até doze semanas (3 meses) de intervalo
TROMBOFILIA
Tratamento: Anticoagulante Oral
• Em pacientes com anticoagulação estável,
variações da RNI <0,5 acima ou abaixo do alvo
terapêutico não precisam de correção da dose do
AVK, devendo a RNI ser repetida em 1-2 semanas
• Um único valor baixo de RNI não impõe o uso de
heparina (ponte) concomitante
• Em pacientes com RNI elevada e sem hemorragia,
o uso de vitamina K deve ser evitado, exceto se a
RNI é >10
TROMBOFILIA
Tratamento: Anticoagulante Oral
• Nos pacientes com RNI elevada e sangramento
importante, a anticoagulação deve ser revertida
com concentrado de fatores de coagulação
(complexo protrombínico) e vitamina K, 5-10mg EV
• Em pacientes aptos para fazer automanejo do
tratamento, o mesmo pode ser permitido (cautela)
• Evitar AINE e antiplaquetários quando possível
TROMBOFILIA
Tratamento: Anticoagulante Oral
• No preparo para cirurgias de porte médio ou
grande, o AVK deve ser interrompido 5 dias antes
do procedimento e retomado 12-24h após o mesmo
• Nas cirurgias menores (dentárias, por exemplo), o
AVK pode ser mantido, associando-se um próhemostático (antifibrinolítico)
• O tratamento deve ser mantido por pelo menos
3 meses, sendo reavaliada a extensão do mesmo
conforme o paciente
TROMBOFILIA
Tratamento: Anticoagulante Oral
• A suspensão do AVK, quando findada a terapia,
deve ser abrupta
• Em pacientes com câncer, a HBPM parece ser uma
melhor escolha do que o AVK
• Naqueles que não podem usar HBPM, o AVK ainda
parece ser melhor que as alternativas recentes
(Dabigatran ou Rivaroxaban)
TROMBOFILIA
Tratamento
PROFILAXIA: FATORES DE RISCO PARA TEV
PACIENTES CLÍNICOS HOSPITALIZADOS
(Escore de Padua: Alto risco se 4 ou mais pontos)
FATOR DE RISCO
PONTOS
Câncer em atividade
3
TEV prévio
3
Mobilidade reduzida (>3 dias)
3
Trombofilia conhecida
3
Trauma e/ou cirurgia recente (<1 mês)
2
Idade >69 anos
1
Insuficiência cardíaca e/ou respiratória
1
IAM e/ou AVCI
1
Infecção aguda e/ou doença reumática
1
Obesidade (IMC >29)
1
Terapia hormonal em uso
1
TROMBOFILIA
Profilaxia (SC)
Alto risco de TEV (Padua)*

Liquemine 5000 UI 8/8h 7-10d#

CIRURGIA#

PROFILAXIA

Ortopédica (quadril ou joelho)

Liquemine 5000 UI 8/8h, 7-21d

Oncológica (curativa)

Liquemine 5000 UI 8/8h**, 7-14d

Trauma grave (raquimedular)

Liquemine 5000 UI 8/8h, 7-14d#

Cirurgia >60m + Internação >2d Liquemine 5000 UI 12/12h#
Cirurgia de pequeno porte

Deambulação precoce

** Enoxaparina 40mg/dia, alternativamente; # Até deambular
TROMBOFILIA
• “CONTRAINDICAÇÕES” À ANTICOAGULAÇÃO
– Hipersensibilidade às heparinas
– trombocitopenia induzida por heparina (TIH)
– sangramento ativo
– intervenção neuro/oftalmológica recente
– HAS não controlada (>180/110mmHg)
– Outros diversos
TROMBOFILIA
• Cada caso deve ser avaliado individualmente
• Quando há elevada suspeita de TEV/TEP, a terapia
deve ser iniciada imediatamente, antes da chegada
dos resultados confirmatórios
• Havendo contraindicação à profilaxia química,
aventar métodos físicos (mecânicos)
• Contraindicações à profilaxia mecânica: fratura
exposta; infecção ou úlcera em membros inferiores;
insuficiência arterial periférica; ICC grave
TROMBOFILIA
Leituras adicionais:
• Silva AS et al. Distúrbios prótrombóticos/Trombofilias. Medicina Interna (Revista
da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna)
2010;17(1):49-64
• Previtali E et al. Risk factors for thrombosis. Blood
Transfus 2011;9:120-38
• http://www.chestnet.org/Guidelines-andResources/Guidelines-and-ConsensusStatements/Antithrombotic-Guidelines-9th-Ed
Obrigado!

More Related Content

What's hot

Anemia hemolitica
Anemia hemoliticaAnemia hemolitica
Anemia hemolitica
dapab
 
Hipertensão pulmonar
Hipertensão pulmonarHipertensão pulmonar
Hipertensão pulmonar
dapab
 

What's hot (20)

Caso clinico-tb-e-aids-1
Caso clinico-tb-e-aids-1Caso clinico-tb-e-aids-1
Caso clinico-tb-e-aids-1
 
Doenças+exantemática
Doenças+exantemáticaDoenças+exantemática
Doenças+exantemática
 
Anemia aplástica
Anemia aplásticaAnemia aplástica
Anemia aplástica
 
Derrames Pleurais
Derrames PleuraisDerrames Pleurais
Derrames Pleurais
 
Anemia hemolitica
Anemia hemoliticaAnemia hemolitica
Anemia hemolitica
 
Aula Hanseníase
Aula Hanseníase Aula Hanseníase
Aula Hanseníase
 
Anemia Ferropriva
Anemia FerroprivaAnemia Ferropriva
Anemia Ferropriva
 
Tep
TepTep
Tep
 
Hipertensão pulmonar
Hipertensão pulmonarHipertensão pulmonar
Hipertensão pulmonar
 
Endocardite infecciosa
Endocardite infecciosaEndocardite infecciosa
Endocardite infecciosa
 
Distúrbios hematológicos
Distúrbios hematológicosDistúrbios hematológicos
Distúrbios hematológicos
 
Leucemia mieloide cronica
Leucemia mieloide cronicaLeucemia mieloide cronica
Leucemia mieloide cronica
 
Anticoagulante e Antiagregante
Anticoagulante e AntiagreganteAnticoagulante e Antiagregante
Anticoagulante e Antiagregante
 
Dispnéia
Dispnéia Dispnéia
Dispnéia
 
Infecção do Trato Urinário na Infância (ITU)
Infecção do Trato Urinário na Infância (ITU) Infecção do Trato Urinário na Infância (ITU)
Infecção do Trato Urinário na Infância (ITU)
 
2 Anemias - Visão Geral
2  Anemias - Visão Geral2  Anemias - Visão Geral
2 Anemias - Visão Geral
 
Meningite bacteriana
Meningite bacterianaMeningite bacteriana
Meningite bacteriana
 
Trombocitopenias
TrombocitopeniasTrombocitopenias
Trombocitopenias
 
Semiologia vascular periférica
Semiologia vascular periféricaSemiologia vascular periférica
Semiologia vascular periférica
 
Tromboembolismo Pulmonar
Tromboembolismo PulmonarTromboembolismo Pulmonar
Tromboembolismo Pulmonar
 

Viewers also liked

25. trombofilias
25. trombofilias25. trombofilias
25. trombofilias
xelaleph
 
Clasificación y diagnóstico de las trombofilias
Clasificación y diagnóstico de las trombofiliasClasificación y diagnóstico de las trombofilias
Clasificación y diagnóstico de las trombofilias
Juana Maria Montoya Ramirez
 
Doenças cerebrovasculares
Doenças cerebrovascularesDoenças cerebrovasculares
Doenças cerebrovasculares
Thiago Cancio
 

Viewers also liked (20)

Trombose venosa profunda
Trombose venosa profundaTrombose venosa profunda
Trombose venosa profunda
 
Seminário: Trombose venosa profunda - TVP
Seminário: Trombose venosa profunda - TVPSeminário: Trombose venosa profunda - TVP
Seminário: Trombose venosa profunda - TVP
 
1 história hematologia
1  história hematologia1  história hematologia
1 história hematologia
 
Síndrome de Chédiak-Higashi
Síndrome de Chédiak-HigashiSíndrome de Chédiak-Higashi
Síndrome de Chédiak-Higashi
 
Trombofilias
TrombofiliasTrombofilias
Trombofilias
 
25. trombofilias
25. trombofilias25. trombofilias
25. trombofilias
 
1 História da Hematologia - Aula Medicina Uningá Dr Francismar Leal
1  História da Hematologia - Aula Medicina Uningá Dr Francismar Leal1  História da Hematologia - Aula Medicina Uningá Dr Francismar Leal
1 História da Hematologia - Aula Medicina Uningá Dr Francismar Leal
 
Apresentação trombose venosa profunda
Apresentação trombose venosa profundaApresentação trombose venosa profunda
Apresentação trombose venosa profunda
 
Sangue
SangueSangue
Sangue
 
Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA)
Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA)Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA)
Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA)
 
Trombose venosa profunda
Trombose venosa profundaTrombose venosa profunda
Trombose venosa profunda
 
RCP - Suporte Básico de Vida (2014)
RCP - Suporte Básico de Vida (2014)RCP - Suporte Básico de Vida (2014)
RCP - Suporte Básico de Vida (2014)
 
Clasificación y diagnóstico de las trombofilias
Clasificación y diagnóstico de las trombofiliasClasificación y diagnóstico de las trombofilias
Clasificación y diagnóstico de las trombofilias
 
Doenças cerebrovasculares
Doenças cerebrovascularesDoenças cerebrovasculares
Doenças cerebrovasculares
 
3 Hemocromatose Hereditária
3  Hemocromatose Hereditária3  Hemocromatose Hereditária
3 Hemocromatose Hereditária
 
3 Anemias Carenciais Ferropenia
3  Anemias Carenciais Ferropenia3  Anemias Carenciais Ferropenia
3 Anemias Carenciais Ferropenia
 
3 Anemias Carenciais
3  Anemias Carenciais3  Anemias Carenciais
3 Anemias Carenciais
 
2 anemias - visão geral
2  anemias - visão geral2  anemias - visão geral
2 anemias - visão geral
 
3 Anemias Carenciais Megaloblásticas
3  Anemias Carenciais Megaloblásticas3  Anemias Carenciais Megaloblásticas
3 Anemias Carenciais Megaloblásticas
 
Anemias Hemolíticas Visão Geral
Anemias Hemolíticas Visão GeralAnemias Hemolíticas Visão Geral
Anemias Hemolíticas Visão Geral
 

Similar to Trombofilia

Embolia pulmonar - diagnóstico e tratamento
Embolia pulmonar - diagnóstico e tratamentoEmbolia pulmonar - diagnóstico e tratamento
Embolia pulmonar - diagnóstico e tratamento
Bruno Castro
 
Complicações pulmonares da anemia falciforme
Complicações pulmonares da anemia falciformeComplicações pulmonares da anemia falciforme
Complicações pulmonares da anemia falciforme
janinemagalhaes
 
Complicações pulmonares da anemia falciforme
Complicações pulmonares da anemia falciformeComplicações pulmonares da anemia falciforme
Complicações pulmonares da anemia falciforme
janinemagalhaes
 
PACIENTES COM COAGULOPATIAS HEREDITÁRIAS
PACIENTES COM COAGULOPATIAS HEREDITÁRIASPACIENTES COM COAGULOPATIAS HEREDITÁRIAS
PACIENTES COM COAGULOPATIAS HEREDITÁRIAS
Nadia Morais Tonussi
 

Similar to Trombofilia (20)

Profilaxia de TEV
Profilaxia de TEVProfilaxia de TEV
Profilaxia de TEV
 
Tumores Benignos Hepáticos
Tumores Benignos HepáticosTumores Benignos Hepáticos
Tumores Benignos Hepáticos
 
COMPLETA.pptx
COMPLETA.pptxCOMPLETA.pptx
COMPLETA.pptx
 
Reposição volêmica em terapia intensiva 2014
Reposição volêmica em terapia intensiva 2014Reposição volêmica em terapia intensiva 2014
Reposição volêmica em terapia intensiva 2014
 
Embolia pulmonar - diagnóstico e tratamento
Embolia pulmonar - diagnóstico e tratamentoEmbolia pulmonar - diagnóstico e tratamento
Embolia pulmonar - diagnóstico e tratamento
 
Embolia pulmonar
Embolia  pulmonarEmbolia  pulmonar
Embolia pulmonar
 
Complicações pulmonares da anemia falciforme
Complicações pulmonares da anemia falciformeComplicações pulmonares da anemia falciforme
Complicações pulmonares da anemia falciforme
 
Complicações pulmonares da anemia falciforme
Complicações pulmonares da anemia falciformeComplicações pulmonares da anemia falciforme
Complicações pulmonares da anemia falciforme
 
PACIENTES COM COAGULOPATIAS HEREDITÁRIAS
PACIENTES COM COAGULOPATIAS HEREDITÁRIASPACIENTES COM COAGULOPATIAS HEREDITÁRIAS
PACIENTES COM COAGULOPATIAS HEREDITÁRIAS
 
Anemia Falciforme.pptx
Anemia Falciforme.pptxAnemia Falciforme.pptx
Anemia Falciforme.pptx
 
Cura da anemia falciforme
Cura da anemia falciformeCura da anemia falciforme
Cura da anemia falciforme
 
Sangramento na UTI.pptx
Sangramento na UTI.pptxSangramento na UTI.pptx
Sangramento na UTI.pptx
 
Anemia falciforme
Anemia falciformeAnemia falciforme
Anemia falciforme
 
Tuberculose pulmonar e extrapulmonar- Aspectos radiológicos
Tuberculose pulmonar e extrapulmonar- Aspectos radiológicosTuberculose pulmonar e extrapulmonar- Aspectos radiológicos
Tuberculose pulmonar e extrapulmonar- Aspectos radiológicos
 
derrame pleural + neoplasias.pdf
derrame pleural + neoplasias.pdfderrame pleural + neoplasias.pdf
derrame pleural + neoplasias.pdf
 
Boca, hemorragia digestiva
Boca, hemorragia digestivaBoca, hemorragia digestiva
Boca, hemorragia digestiva
 
Lacm Bia e Maurício
Lacm Bia e MaurícioLacm Bia e Maurício
Lacm Bia e Maurício
 
Trombose
TromboseTrombose
Trombose
 
Púrpura Trobocitopênica Imunológica (PTI)
Púrpura Trobocitopênica Imunológica (PTI)Púrpura Trobocitopênica Imunológica (PTI)
Púrpura Trobocitopênica Imunológica (PTI)
 
Anemia Falciforme e Manejo com o Paciente - Dr. James Maciel - XII Jornada de...
Anemia Falciforme e Manejo com o Paciente - Dr. James Maciel - XII Jornada de...Anemia Falciforme e Manejo com o Paciente - Dr. James Maciel - XII Jornada de...
Anemia Falciforme e Manejo com o Paciente - Dr. James Maciel - XII Jornada de...
 

Recently uploaded (6)

8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...
8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...
8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...
 
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
 
SDR - síndrome do desconforto respiratorio
SDR - síndrome do desconforto respiratorioSDR - síndrome do desconforto respiratorio
SDR - síndrome do desconforto respiratorio
 
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane SpielmannAvanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
 
Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)
Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)
Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)
 
CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM..........pptx
CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM..........pptxCURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM..........pptx
CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM..........pptx
 

Trombofilia

  • 1. HEMATOLOGIA TROMBOFILIA Dr Francismar Prestes Leal (CRM/PR 18829) Médico Hematologista (UFSM/UNIFESP) Professor Uningá/Maringá/PR Outubro/2013 © L. A. Burden 2005
  • 2. TROMBOFILIA • As doenças tromboembólicas são a maior causa de morbimortalidade nas sociedades ocidentais (IAM, AVC, TEP etc.) • O melhor conhecimento das doenças tromboembólicas, a descoberta de vários estados de hipercoagulabilidade, o aparecimento de novos fármacos antitrombóticos e de exames de diagnóstico mais confiáveis e específicos, têm revolucionado esta área da medicina
  • 3. TROMBOFILIA • Já no século XIX, Virchow descreveu um “estado” que predispunha à trombose venosa e que se caracterizava pela existência de três premissas (tríade de Virchow): – Estase venosa – Lesão da parede vascular – Alterações da coagulação sanguínea
  • 4. TROMBOFILIA • O conhecimento limitado da composição do sangue e da formação do coágulo, além da disponibilidade limitada de recursos diagnósticos: obstáculo para a investigação de casos de trombose (no passado?) • Mas mesmo nas descrições iniciais é possível reconhecer que a noção de que fatores de risco adquiridos contribuem para a trombose, mas que fatores genéticos existem (história familiar) e têm papel relevante no risco trombótico
  • 5. TROMBOFILIA • Embora a patogênese do TEV não esteja ainda totalmente esclarecida, há evidências de que seja influenciada pela interação de fatores de risco genéticos e ambientais • A caracterização destes fatores de risco é crucial para uma melhor compreensão da trombose • Os fatores de risco para TEV diferem dos fatores de risco para a trombose arterial
  • 6. TROMBOFILIA • HAS, tabagismo, dislipidemia e DM, por exemplo, são fatores de risco para a trombose arterial, mas “não são” para o TEV • Os fatores de risco “clássicos” para TEV incluem: idade avançada, imobilização prolongada, cirurgias, fraturas, uso de anticonceptivos orais, terapêutica hormonal de substituição, gestação, puerpério, neoplasias malignas, infecções e síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAF)
  • 7. TROMBOFILIA • Nas últimas décadas, houve um grande progresso no estudo dos mecanismos envolvidos no TEV • O avanço mais significativo foi a confirmação de que condições de hipercoagulabilidade “herdadas” estão presentes num grande número de doentes com TEV/TEP: >60% da predisposição para trombose seria “genética” (hereditária) • Trombofilia: termo usado para descrever uma maior tendência para trombose (TEV e arterial)
  • 8. TROMBOFILIA • Pacientes “trombofílicos” têm o seu primeiro evento trombótico (geralmente TEV) antes dos 25 anos e as chances de recorrência aumentam com a idade e com a associação de outros fatores de risco • As manifestações clínicas mais frequentes são a TVP dos membros inferiores e o TEP • A trombose pode ocorrer em outros locais: SNC, veias retinianas, veias intra-abdominais, membros superiores, sistema venoso útero-placentário etc.
  • 9. TROMBOFILIA • Nos EUA, o TEV gera 260.000 hospitalizações, a insuficiência venosa crônica atinge meio milhão de indivíduos e a embolia pulmonar mata até100.000 pessoas, anualmente • Uma história familiar de trombose venosa pode ser identificada em um terço dos casos • Os estados trombofílicos podem ser divididos em três grupos: primários (hereditários/congênitos), secundários (adquiridos) ou mistos
  • 11. TROMBOFILIA Fatores de Risco Clássicos para TEV
  • 12. TROMBOFILIA • Trombofilias primárias (hereditárias/congênitas): – O risco de trombose é baixo antes dos 15 anos, aumentando a partir desta idade 2-4% ao ano – Por volta dos 50 anos, 50-70% dos pacientes já apresentaram um episódio trombótico (metade sem fatores de risco associados) – A prevalência de fatores de risco genéticos e “mistos” (fatores da coagulação elevados) é mostrada no quadro a seguir
  • 14. TROMBOFILIA • Trombofilias secundárias (adquiridas): – Surgem em qualquer momento da vida, incluindo a vida intrauterina – As causas mais frequentes são: SAF, trauma, cirurgia, imobilização longa, idade avançada, câncer, doença mieloproliferativa, ACO/TRH, hiperviscosidade, HPN, gravidez, puerpério, síndrome nefrótica, hiperomocisteinemia, RPCA não relacionada com o gene do fator V
  • 15. TROMBOFILIA • Trombofilias secundárias (adquiridas): – SA(A)F (Antifosfolípide)
  • 16. TROMBOFILIA • Quais os doentes que devem ser investigados? – Doentes com diagnóstico de TVP, TEP ou tromboflebite superficial, com pelo menos uma das seguintes características: • Idade até 55 anos? • Trombose recorrente • Trombose em locais pouco usuais • História familiar de TEV/TEP
  • 21. TROMBOFILIA Tratamento: Anticoagulante Oral • Varfarina: iniciar no primeiro dia da heparinização, com 10mg/dia nos dois primeiros dias, ajustando a dose conforme a RNI do terceiro dia em diante • Não é necessário realizar testes farmacogenéticos para guiar a terapia • Uma vez alcançada uma anticoagulação estável (RNI alvo 2-3, mesmo para os grupos de alto risco de TEV), os controles com RNI podem ser feitos com até doze semanas (3 meses) de intervalo
  • 22. TROMBOFILIA Tratamento: Anticoagulante Oral • Em pacientes com anticoagulação estável, variações da RNI <0,5 acima ou abaixo do alvo terapêutico não precisam de correção da dose do AVK, devendo a RNI ser repetida em 1-2 semanas • Um único valor baixo de RNI não impõe o uso de heparina (ponte) concomitante • Em pacientes com RNI elevada e sem hemorragia, o uso de vitamina K deve ser evitado, exceto se a RNI é >10
  • 23. TROMBOFILIA Tratamento: Anticoagulante Oral • Nos pacientes com RNI elevada e sangramento importante, a anticoagulação deve ser revertida com concentrado de fatores de coagulação (complexo protrombínico) e vitamina K, 5-10mg EV • Em pacientes aptos para fazer automanejo do tratamento, o mesmo pode ser permitido (cautela) • Evitar AINE e antiplaquetários quando possível
  • 24. TROMBOFILIA Tratamento: Anticoagulante Oral • No preparo para cirurgias de porte médio ou grande, o AVK deve ser interrompido 5 dias antes do procedimento e retomado 12-24h após o mesmo • Nas cirurgias menores (dentárias, por exemplo), o AVK pode ser mantido, associando-se um próhemostático (antifibrinolítico) • O tratamento deve ser mantido por pelo menos 3 meses, sendo reavaliada a extensão do mesmo conforme o paciente
  • 25. TROMBOFILIA Tratamento: Anticoagulante Oral • A suspensão do AVK, quando findada a terapia, deve ser abrupta • Em pacientes com câncer, a HBPM parece ser uma melhor escolha do que o AVK • Naqueles que não podem usar HBPM, o AVK ainda parece ser melhor que as alternativas recentes (Dabigatran ou Rivaroxaban)
  • 27. PROFILAXIA: FATORES DE RISCO PARA TEV PACIENTES CLÍNICOS HOSPITALIZADOS (Escore de Padua: Alto risco se 4 ou mais pontos) FATOR DE RISCO PONTOS Câncer em atividade 3 TEV prévio 3 Mobilidade reduzida (>3 dias) 3 Trombofilia conhecida 3 Trauma e/ou cirurgia recente (<1 mês) 2 Idade >69 anos 1 Insuficiência cardíaca e/ou respiratória 1 IAM e/ou AVCI 1 Infecção aguda e/ou doença reumática 1 Obesidade (IMC >29) 1 Terapia hormonal em uso 1
  • 28. TROMBOFILIA Profilaxia (SC) Alto risco de TEV (Padua)* Liquemine 5000 UI 8/8h 7-10d# CIRURGIA# PROFILAXIA Ortopédica (quadril ou joelho) Liquemine 5000 UI 8/8h, 7-21d Oncológica (curativa) Liquemine 5000 UI 8/8h**, 7-14d Trauma grave (raquimedular) Liquemine 5000 UI 8/8h, 7-14d# Cirurgia >60m + Internação >2d Liquemine 5000 UI 12/12h# Cirurgia de pequeno porte Deambulação precoce ** Enoxaparina 40mg/dia, alternativamente; # Até deambular
  • 29. TROMBOFILIA • “CONTRAINDICAÇÕES” À ANTICOAGULAÇÃO – Hipersensibilidade às heparinas – trombocitopenia induzida por heparina (TIH) – sangramento ativo – intervenção neuro/oftalmológica recente – HAS não controlada (>180/110mmHg) – Outros diversos
  • 30. TROMBOFILIA • Cada caso deve ser avaliado individualmente • Quando há elevada suspeita de TEV/TEP, a terapia deve ser iniciada imediatamente, antes da chegada dos resultados confirmatórios • Havendo contraindicação à profilaxia química, aventar métodos físicos (mecânicos) • Contraindicações à profilaxia mecânica: fratura exposta; infecção ou úlcera em membros inferiores; insuficiência arterial periférica; ICC grave
  • 31. TROMBOFILIA Leituras adicionais: • Silva AS et al. Distúrbios prótrombóticos/Trombofilias. Medicina Interna (Revista da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna) 2010;17(1):49-64 • Previtali E et al. Risk factors for thrombosis. Blood Transfus 2011;9:120-38 • http://www.chestnet.org/Guidelines-andResources/Guidelines-and-ConsensusStatements/Antithrombotic-Guidelines-9th-Ed

Editor's Notes

  1. {}