Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Cartilha Culinária
1.
2.
3. UFSJ – UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI
REITOR
Valéria Heloísa Kemp
VICE-REITORA
Sérgio Augusto Araújo da Gama Cerqueira
PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO E ASSUNTOS COMUNITÁRIOS
Prof. Paulo Henrique Caetano
CHEFE DE DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
E MÉTODOS
Prof. Dr. Antônio Rogério Picoli
COORDENADOR DO CURSO DE
FILOSOFIA
Prof. Dr. Fábio Barros Silva
COORDENAÇÃO GERAL DO PROJETO
Prof. Drª. Glória Maria Ferreira Ribeiro (DFIME)
EQUIPE DE EXECUÇÃO
Daniela da Conceição Diniz
Débora Cristina Resende
Etienny Natya Fonseca F. Trindade
Isabela Alline Oliveira
Isaac José da Silva
Lucas Bertolino dos Santos
Nilson Anderson Lemos
EQUIPE DE APOIO
Fernanda Senna
Monique Kelly da Cunha
AGRADECIMENTOS
Balbino de Souza Rezende
Beatriz de Castro Teixeira
Geralda Campos da Silva
José Omar Junqueira
José Raimundo da Silva
Juvenal José de Sousa
Lazarino Francisco de Sousa
Luiz de Ávila e Silva
Maria Aparecida Sales Ribeiro
Maria José Ribeiro
Nagibe Francisco Murad
Otaviano Saulo de Castro Teixeira
Raul Nogueira do Nascimento
Rosângela Aparecida da Silva Teixeira
Sebastião Vicente da Silva.
4. O ato de comer é extremamente cultural. Se é cultural, é
construído pelas pessoas e é diferente em cada grupo humano. Ao
abordar as diferenças alimentares
entre as sociedades humanas, o
professor deverá levar o aluno a
perceber o quanto é importante respeitar o modo das outras pessoas
habitarem o mundo e agirem nas
situações mais cotidianas, como é
o ato de se alimentar.
“Toda a existência humana
decorre do binômio Estômago e
Sexo. A Fome e o Amor governam
o mundo”, essa é uma máxima do
filósofo Friedrich Schiller citada
por Luís da Câmara Cascudo em
seu livro História da Alimentação
no Brasil. Porém, acrescenta Cascudo, o estômago é muito mais
imperioso que o sexo. A fome é
inadiável, é dominadora.
No entanto, o homem não
se alimenta daquilo que tem em
maior abundância, nem daquilo
que sabe ser mais nutritivo, ele
come o que está acostumado a
comer. O homem se alimenta
daquilo de que seus pais se alimentavam e daquilo que a sua religião
permite. No Brasil comemos bois,
porcos e galinhas e achamos no
mínimo estranho que se comam
cães, gatos, cavalos, gafanhotos
e ratos. “Carne de gato, pastel de
ratazana, gafanhoto torrado, larva
cozida estão fora dos nossos padrões. São, entretanto, iguarias
normais e provadamente limpas
e saborosas quando ingeridas
sem identificação.” (CASCUDO,
2004).
Para os hinduístas e budistas comer a carne dos bovinos é
totalmente inaceitável. O mesmo
ocorre com a carne de porco, que
é proibida entre muçulmanos e judeus. Ao contrário do que muitas
vezes temos tendência a pensar,
as pessoas que comem, por exemplo, gafanhotos, não o fazem por
escassez de alimento, elas comem
gafanhotos porque apreciam o sa-
Debora Resende
bor. Na Angola se come cachorro,
não por falta de outra carne. O
caso dos esquimós é um exemplo disso: “O esquimó, sustentado
pela foca e ruminantes, vai buscar
no estômago do caribu (rena) a
papa gelatinosa de raízes, vagens e
gramíneas, absorvida como regalo
precioso” (CASCUDO, 2004).
E vale ressaltar que os Inuits são
chamados pejorativamente de esquimós, pois esse termo significa
“comedor de carne crua”!
Os costumes alimentares, dizia Câmara Cascudo, estão
muito mais vinculados a fatores
espirituais que fisiológicos. Os
tabus alimentares decorrentes da
religião se tornam costumes e os
costumes se tornam verdadeiras
leis, praticamente irrevogáveis
que moldam a alimentação de
cada grupo humano. Com as interações culturais entre esses grupos
os costumes como um todo, inclusive os costumes alimentares, vão,
muito lentamente, se modificando.
É justamente o mesmo que ocorre
com o patrimônio imaterial
O patrimônio imaterial é
definido pela Unesco como sendo
“as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares
culturais que lhes são associados
- que as comunidades, os grupos
e, em alguns casos, os indivíduos
reconhecem como parte integrante
de seu patrimônio cultural”. O IPHAN acrescenta que esse tipo de
patrimônio “é transmitido de
geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu
ambiente, de sua interação com a
natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade
e continuidade, contribuindo
assim para promover o respeito
à diversidade cultural e à criatividade humana”. A culinária,
portanto, figura entre os elementos que compõem o patrimônio
imaterial, uma vez que abarca
práticas, conhecimentos e técnicas transmitidas de geração em
geração.
A característica fundamental do patrimônio imaterial
é a mutabilidade, por ser preservado na memória e transmitido
oralmente, ele vai aos poucos
sofrendo pequenas modificações. Por isso, o patrimônio
imaterial não pode ser tombado
como o patrimônio material,
pois o tombamento “congela” a
coisa como ela é. A preservação
do patrimônio imaterial só tem
sentido como cotidiano, como
vivência. O professor pode
contribuir na preservação do
patrimônio imaterial, inclusive da culinária, inserindo esses elementos nas atividades
comuns no dia-a-dia da escola e
mostrando ao aluno que o simples almoço que sua mãe faz, diz
muito da história de seu povo e
de sua família.
6. EDITORIAL
EXISTÊNCIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO
A memória deve ser antes a dimensão
de celebração de comemoração da própria existência. Isto porque para podermos preservar
o patrimônio cultural de um povo é preciso, antes de mais nada preservar a própria existência
humana, a própria dinâmica de manifestação da
vida.
“O Senhor ... mire veja: o mais importante e bonito , do
mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre
mudando. Afinam ou desafinam” ( Rosa, Guimarães.
Grande Sertão: Veredas”).
Existência que está sempre se fazendo,
se retomando desde o jogo do tempo que a
constitui. Tempo que escreve a história na qual
os destinos se cruzam, se entrecruzam e se realizam. A cada época dessa história a existência
se retoma, se reapropria de si mesma, de seu
ser, de um modo novo e sempre velho. Velho
porque são sempre as mesmas possibilidades de
ser e novo porque a existência sempre descobre
um outro modo de se apropriar de si mesma,
de interpretar-se. Deste modo, cada uma época
da história se mostra como um modo possível de elaborar a questão sobre a existência
do homem. Existência compreendida desde a
relação íntima e indissociável do homem com o seu
mundo – mundo que se revela no comércio cotidiano
com as coisas e com os outros.
A cidade
se mostra como a trama concreta na qual esse comércio com o mundo se deixa ver, tornando-o tangível.
Trama que sempre de novo se renova, se utilizando
sempre dos mesmos fios.
Sendo assim,todo trabalho que vise a
preservação do patrimonio cultural de um povo
deve, antes de mais nada, viabilizar condições para
que essa existência se mantenha. Por isso, em nossas reflexões sobre a Educação Patrimonial, estamos
tendo sempre como elemento norteador o próprio
cultivo da existência humana, ao propormos ações
que celebrem (lembrem em conjunto, que co-memorem) a nossa condição que é a de estarmos sempre
“afinando e desafinando”. As nossas cartilhas são
uma tentativa de celebração desse nosso modo de
ser cotidiano – do qual faz parte o ato de comer, de
celebrar o divino, de contar estórias. É celebrar isso
é deixar que as pessoas brilhem porque “gente é feita
para brilhar” – seja o mediante o suor no corpo do
trabalhador, seja no brilho nos olhos da criança ao
perceber o caráter extraordinário do mundo, que
faz com que ele possa sempre ser reinventado (reinventado pelas brincadeiras de fundo de quintal, pelo
trabalho dos homens, pelo esforço e empenho dos
meus iestimáveis bolsistas de extensão. Gente é para
brilhar!
Glória Ribeiro
“O Senhor ... mire veja: o mais importante e bonito , do mundo, é isto: que
as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas – mas
que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam”
(Rosa,Guimarães. Grande Sertão: Veredas”)
6
7. “Quando eu estiver velho, gostaria de ter no corredor da minha casa
Um mapa de Berlim com legenda
Pontos azuis designariam as ruas onde morei
Pontos amarelos, os lugares onde moravam minhas Namoradas
Triângulos marrons, os túmulos
nos cemitérios de Berlim onde jazem os que foram
próximos a mim
E linhas pretas redesenhariam os caminhos
no Zoológico ou no Tiergarten
que percorri conversando com as
garotas
E flechas de todas as cores apontariam os
lugares nos arredores
onde repensava as semanas berlinenses
E muitos quadrados vermelhos marcariam
os aposentos
Do amor da mais baixa espécie ou do
amor mais abrigado do vento”.
Walter Benjamin, “Fragmento”, 1932
“Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.
Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paiçandu deixem meu sexo
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam
O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a Liberdade.
Saudade...
Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade
As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus
Adeus”.
(Mario de Andrade, ao escrever sua Lira Paulistana (1944)
7
8. APRESENTAÇÃO
Em
diferentes contextos sociais e em distintas
épocas históricas o
termo cultura foi, e
vem sendo utilizado
de diferentes formas, para falar dos
hábitos de vida do
homem, entretanto
seu uso indistintamente carrega uma
concepção ideológica de seu significado.
Dentre
essas concepções de
cultura
podemos
perceber que muitas
pessoas associam a
cultura a algo que
se adquire ou que se
pode obter. O perigo
desse tipo de compreensão e de que
a cultura acabe assumindo um caráter
de mercadoria na
sociedade. Quando
se pensa a cultura
desde essa concepção, ela deixa de
ser associada aos
hábitos de vida do
homem que lhe são
naturais, e passa a
ser associada à algo
que o homem pode
adquirir como um
simples conjunto de
bens.
Adquirir cultura significa o mesmo
que poder possuir
um carro, uma casa,
ou ter uma rica biblioteca. Logo aque-
8
les que não podem
ter capital financeiro
o suficiente para enriquecer seu legado
cultural são tidos
como
ignorantes,
pessoas sem cultura,
que estão separadas
das outras na sociedade por essa condição. Daí surge os
desníveis de cultura,
que são fruto da divisão cultural entre
as pessoas. Sobre
isso Alfredo Bosi
em seu livro Cultura
Brasileira: tradição/
contradição nos diz:
“Quer dizer que as pessoas
que tem cultura devem exibir
certos tipos de comportamento, e devem ser poupadas de certas ações. Logo
aprece a divisão, os que tem
cultura de um lado, e os que
não tem cultura de outro. A
cultura dá a aureola da diferença’’. (BOSI, Alfredo,
1987, pg. 35).
Considerar
a cultura como um
conjunto de coisas
que se pode possuir
é a principal característica da chamada cultura reificada,
pois a cultura deixa
de ser entendida
como um processo
que segue a linha
sutil da existência
humana, para ter
seu significado concebido fora dessas
vivências humanas.
Logo o que antes se
remetia as relações
sociais entre os homens passa a ser
associado a uma
relação entre homens e coisas. Assim sendo, o que
era uma ideia fruto
da relação entre
homem e a sociedade, passa a ser
apenas uma relação
entre homens e objetos. E a cultura que
era a pura e simples
expressão da minha
condição
humana,
passa a ser vista
como um objeto fora
de mim.
“Na sociedade de massa
as pessoas sempre estão
diante de objetos da tecnologia mesmo que não sejam
a obras de arte. O fato delas
não participarem da construção do objeto, porque
são obra de uma indústria
especializada, apesar delas comprarem vender e,
estabelecer relação de uso,
elas não compreendem seu
mecanismo interno, alienação. Eu possuo um objeto
mais não compreendo como
ele funciona”. (BOSI, Alfredo, 1987, pg. 37).
Podemos ver
expressa em várias
esferas da sociedade
essa concepção, pois
a cultura está sempre ligada ao que
tem que ser visto,
apreciado,
preservado e mantido tal
como é sem que se
leve em consider-
ação a relação direta com o cotidiano,
porque nesse tipo de
compreensão do que
seja a cultura, as
coisas e ações do cotidiano não são consideradas bens culturais.Cultura como
ação e trabalho.
Repensar
o
ideário de cultura difundido em nossa sociedade é essencial
para que possamos
falar de uma sociedade democrática,
e
assumir
dessa
forma uma prática
coerente. Para isso
nossos esforços devem
direcionar-se
em desconstruir, em
nosso espírito e na
sociedade, a ideia de
cultura como objeto.
É necessário
repensarmos
essa
terminação de cultura como mercadoria, pois ela é segregadora, e faz com
que existam níveis
de cultura e distinção entre aqueles
que possuem cultura e os outros que
dela são destituídos. Por isso, ao repensarmos a noção
de cultura desde a
própria condição da
existência humana,
estaremos indiretamente contribuindo
para repensar a distinção de classes.
9. Isto porque
desde essa concepção de cultura
como
mercadoria, teríamos que
somente aqueles
que possuem bens
culturais, seriam
cultos;enquanto
que aqueles que
não possuem condições financeiras
para
possuí-los,
não têm cultura.
Para
que
torne
possível
redimensionar a
noção de cultura
é necessário considerar todos os
momentos do processo produtivo e
não somente ao
produto (o bem)
cultural que é seu
resultado. A concepção que nos
guia em nossas
atividades extensionistas, é aquela que desloca a
ideia de cultura
como mercadoria,
para uma concepção de cultura que
diga respeito diretamente à relação
que o homem estabelece com o
meio onde vive
– meio no qual
ele estabelece as
relações
sociais
que propriamente
o constitui.
Portanto a
obra (enquanto o
produto cultural elaborado nas relações
sociais entre homens) é aquela
que exprime exatamente o próprio trabalho enquanto processo e
resultado.
Um projeto
de cultura explicito
através das dimensões da memória e
identidade
O termo cultura diz respeito de
ao conjunto de saberes, crenças, leis,
costumes e todos os
outros hábitos e modos de vida de um
povo. De origem latina, a palavra cultura
deriva do verbo colo,
significando, “eu cultivo”, referenciando
particularmente, o
cultivo do solo e da
terra, sendo, portanto, o cuidado que se
mantinha com aquilo que se pretendia cultivar. Quando
se pensa em cultura, pensa-se em um
processo que vem
sendo
trabalhado
há muitos anos, há
séculos, que se recebe e se transmite
de geração a geração.
Do
mesmo
modo a palavra cultus, diz respeito ao
verbo colo, que traz
em si a determinação
de cultura que nos
interessa, pois nos
remete a importância da memória no
processo de constituição da identidade do individuo. A
cultura é compreendida como o conjunto de técnicas, práticas e valores que se
devem transmitir às
novas gerações. No
uso cotidiano, falamos em memória
nos referindo ao arquivamento de fatos
passados, a “faculdade de reter as
ideias,
impressões
e
conhecimentos
adquiridos anteriormente”. Dessa forma, lembrar é um
fenômeno individual. Porém, podemos compreender a
memória fora de
seu conceito usual,
como um fenômeno
coletivo; a memória
como o fruto da construção coletiva e
submetida a transformações e mudanças constantes.
Se a cultura é algo que se
busca transmitir às
novas gerações, e
necessário que tenhamos um projeto,
um caminho a oferecer as “novas gerações”, e isso acontece, na junção do
que foi com o que
é, e o que se pretende ser, da mesma
forma, o ponto de
encontro entre passado, presente e futuro. Por isso, Bosi
nos fala sobre o verbo cultus, não sendo
somente a lembrança do labor presente, mais do conjunto de coisas que
possibilitaram
que
esse labor, se tornasse presente, e de
um projeto implícito
na sua realização. A
respeito disso o historiador Alfredo Bosi
em seu livro Dialética da Colonização
nos diz:
Quando os camponeses do Lácio chamavam culta às suas plantações, queriam dizer algo
de cumulativo: o ato em si de
cultivar e o efeito de incontáveis tarefas, o que torna o
particípio cultus, esse nome
que é verbo, uma forma sig-
nificante mais densa e vivida
que a simples nomeação do
labor presente. O ager cultus, a
lavra, o nosso roçado (também
um deverbal), junta a denotação
de trabalho sistemático a, qualidade obtida, e funde-se com
esta no sentimento de quem
fala. Cultus é sinal de que a sociedade que produziu o seu alimento já tem memória. (BOSI,
1992, p.13).
Nesse processo
a identidade ganha seu
lugar; pois, da mesma
forma que nos identificamos com um lugar marcado por uma
experiência individual, também acontece
com as experiências
coletivas que ganham
um aspecto marcante
para um determinado
grupo, fazendo com
que indivíduos se identifiquem
e
tenham
coesão a partir de experiências e vivências
comuns.
No
dicionário
Aurélio, identidade é
definida como:
1. Qualidade de idêntico; 2.
Conjunto de caracteres próprios
e exclusivos de uma pessoa:
nome, idade, estado, profissão, sexo, defeitos físicos, impressões digitais, etc.; 3. O aspecto coletivo de um conjunto
de característicos pelas quais
algo é definitivamente reconhecível, ou conhecido. (FERREIRA, 2004, p.1066).
Identidade é aquilo
que faz com que uma
coisa seja exatamente
aquilo que ela é, e não
seja outra coisa. Desta forma, a identidade
só pode ser concebida
em comparação com
o diferente: “eu sei o
que sou à medida que
percebo que sou diferente, desse ou daquele
outro”.
9
10. Assim também
é possível a construção da identidade de grupo. Isto
acontece
quando
percebo que divido com outras
pessoas a mesma
origem ou os mesmos costumes. É
esse sentimento de
compartilhamento
que faz com que eu
me sinta integrante
daquele grupo.
Essa noção
de
identificação
nos remete novamente para a ideia
de cultura como
“cultivo de”, pois eu
cuido e busco manter e preservar aquilo do qual eu faço
parte, onde consigo
me perceber numa
relação de semelhança, no qual eu
me reconheço.
Desenvolvimento
A Educação
Patrimonial
Com o processo de
modernização das
cidades, percebese
a
constante
desvalorização
e
desconhecimento em relação ao
patrimônio cultural.
Portanto, desde
que em 1930 foi
criado o Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN),
uma nova percepção em relação a
patrimônio,
ampliou
os
instrumentos e meios de
atuação, e estão
diretamente aliados
á criação das instancias estaduais
10
e municipais de
preservação.
O
campo
de educação patrimonial no Brasil
tem uma produção
acadêmica
ainda
incipiente, são muitas as publicações
utilizadas em ações
de educação patrimonial - e, em sua
maioria, essas publicações, não levam
em consideração o
aspecto central da
existência humana
– que é o fato de
ela estar num processo contínuo de
realização que só
acaba com a morte.
Dentre os trabalhos
acadêmicos
que
discutem o tema,
a maioria trata de
atividades pontuais
e estão ligadas a
uma análise circunscrita de casos.
Embora a educação patrimonial
seja
consensualmente considerada
como peça chave
para uma política
pública efetiva de
preservação
do
patrimônio cultural,
ainda é um tema
pouco
estudado,
principalmente se
tratando de práticas institucionais.
Dentro
da
temática, a educação patrimonial
pode ser basicamente
entendida
como um processo
durável que busca
levar os indivíduos
a um processo acionado de conhecimento, apropriação
e valorização do
patrimônio cultural,
com o intuito de que
sejam agentes da
preservação. Neste
aspecto, devemos
pensar o patrimônio
de forma ampliada.
As escolas ao
longo dos tempos
estão tendo sua estrutura depredada,
e
desvalorizada
dia após dia, pelos
seus próprios beneficiários, com isso
acreditamos
que
para a efetivação
da Educação Patrimonial no contexto
escolar
devemos
partir da realidade
dos alunos, possibilitando sua participação nas soluções
dos problemas.
“Chamamos de Educação
Patrimonial o processo
permanente e sistemático
de trabalho educativo, que
tem como ponto de partida
e centro o Patrimônio Cultural com todas as suas
manifestações.”
(GRUNBERG, 2007, p. 02).
Consideramos a partir do
conceito de educação
patrimonial, que esse tipo
de ação utiliza os
bens culturais como
fonte primária do
conhecimento. Gerando um diálogo
permanente entre
os indivíduos e os
bens culturais. Portanto, o maior desafio é fazer com
que o individuo crie
o hábito de valorizar e preservar
o patrimônio cultural, pondo em
prática a própria
noção de cidadania.
Fazendo com que
as pessoas possam desenvolver um conhecimento crítico e uma apropriação consciente de
seu patrimônio.
Um fator indispensável no processo
de preservação sustentável desses bens
culturais é o fortalecimento do sentimento
de identidade e lugar no
espaço estudado.
Uma das maiores
dificuldades encontradas em se estabelecer
um ensino eficiente em
relação a patrimônio é
o complexo relacionamento entre a comunidade e os órgãos de
preservação. O IPHAN
na maioria dos casos é
tachado como um inimigo da sociedade,
um dos principais motivos deste impasse é
o desconhecimento das
pessoas sobre suas metodologias e ações utilizadas por esse órgão do
governo federal. Acredita-se que com a realização de boas práticas
educativas
voltadas
para a comunidade,
esse quadro pode ser
revertido.
Apesar da importância do tema retratado,
na
história
nunca houve uma visão
e atuação por parte do
IPHAN e outros órgãos
de preservação patrimonial que colocasse
como política publica
exclusiva visando a educação patrimonial, ou
mesmo como um processo de importância
equivalente ás demais
atividades
essenciais
por eles desempenhadas (tombamento, fiscalização, identificação,
etc.).
11. Assim,
a
educação
patrimonial vem sendo
tratada
apenas
como
atividade
complementar no
currículo escolar,
que se reflete diretamente no Iphan, e isso ocorre
devido a sua pouca estruturação e
institucionalização
no setor responsável pela educação patrimonial.
Além disso,
a
comunidade
dá ao patrimônio
cultural
pouca
importância
por
não possuir um
entendimento
aprofundado em
relação aos bens
culturais.
Segundo o
IPHAN:
“O Patrimônio material
(...) é composto por um
conjunto de bens culturais
classificados
segundo
sua natureza nos quatro Livros do Tombo: arqueológico, paisagístico
e etnográfico; histórico;
belas artes; e das artes
aplicadas. Eles estão divididos em bens imóveis
como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos
e paisagísticos e bens individuais; e móveis como
coleções arqueológicas,
acervos museológicos,
documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e
cinematográficos’’.
(Disponível em: http://
www3.iphan.gov.br/ bibliotecavirtual/
?page_
id=283)
Enquanto
que o Patrimônio
Imaterial:
“O Patrimônio
Imaterial é transmitido
de geração em geração
e constantemente recriado pelas
comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua
história, gerando um sentimento
de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o
respeito à diversidade cultural e à
criatividade humana’’. (Disponível
em:
http://www3.iphan.gov.br/
bibliotecavirtual/?page_id=283,
acesso em 11 de abril de 2011) .
Por sua vez, a
UNESCO define como
Patrimônio Cultural Imaterial:
“(...) as práticas, representações,
expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares
culturais que lhes são associados
- que as comunidades, os grupos
e, em alguns casos, os indivíduos
reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”.
(Disponível em http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/
world-heritage/cultural-heritage/,
acesso em 13 de abril de 2011).
A proposta metodológica de educação
patrimonial foi introduzida no Brasil em 1983,
balizada por um trabalho
educacional já desenvolvido na Inglaterra,
ao ser desenvolvido foi
adaptada aos contextos
patrimoniais locais. Em
alguns estados este trabalho está bem embasado e se solidifica, no
Rio Grande do Sul, por
exemplo, o tema esta
sendo trabalho por Maria
Beatriz Machado (2004),
José Itaqui entre outros.
Em suas pesquisas, eles
enfatizam a importância
de orientar os professores do ensino fundamental e médio de como
trabalhar e aplicar esta
metodologia no ambiente escolar.
Apesar de estar
sendo muito bem sucedida a atividade reali-
zada no Rio Grande
do Sul, esse é um
processo que está
ocorrendo de forma
isolada repercutindo
apenas nas regiões
onde
se
desenvolvem. A proposta
consiste na formação
de grupos de pesquisas para desenvolver
uma forma contínua
de projetos e ações,
que possam ser aplicadas
igualmente
em todo o território
brasileiro.
Existem
diversas formas de
se trabalhar com o
patrimônio cultural
dentro de sala de
aula,
articulando
todas as disciplinas do currículo escolar, matemática,
história,
geografia
e ciências podendo
ser elaborados exercícios e textos relacionados à educação
patrimonial. O importante neste caso
é estabelecer a interdisciplinaridade,
com isso os alunos
podem
desenvolver por si só ou juntamente com seus
professores, ações
dentro da escola
que incentivam a
multiplicação deste
conhecimento. Um
ótimo exemplo do
que pode ser gerado
é a construção de
um memorial, um
pequeno
museu,
ou ainda uma roda
de “contação” de
histórias, fazer oficinas e várias outras
atividades, a partir
destes métodos os
alunos desenvolvem
uma visão critica.
Ações realizadas
conjuntamente por todos os professores dentro das escolas podem
gerar atividades muito
interessantes - como
investigar em forma de
pesquisa monumentos
da cidade em que mora
isso ajuda a enfatizar
o patrimônio coletivo
e a memória coletiva,
além disso, investigar
a própria casa como
patrimônio
cultural
através de desenhos.
Essa
programação
diferenciada promove
uma identidade em
relação ao patrimônio
coletivo e gera um respeito em relação ao
patrimônio cultural.
A
transversalidade
mantém uma relação com a
interdisciplinaridade, bastante
difundida pela Pedagogia. São
maneiras de se trabalhar o
conhecimento buscando uma
reintegração de aspectos que
ficaram isolados uns dos outros
pelo tratamento das disciplinas
(MORAES, s. d., p. 7-8).
A Educação patrimonial no ensino de
história é outra forma
que viabiliza formação
de pessoas capazes de
conhecer a sua própria
historia cultural. Levando a educação para
este contexto nos faz
perceber que os indivíduos podem se diferenciar um dos outros,
e com isso podem visualizar a própria vida,
a própria cultura, a
própria história e, construir a sua memória
afetiva, além disso,
sua identidade cultural.
11
12. O patrimônio
cultural vem sofrendo grandes prejuízos
com a modernização
- um exemplo disso
ocorre aqui em São
João del Rei, onde
durante os anos de
1999 e 2001,muitos casarões históricos foram derrubados para dar lugar
a supermercados, a
casas de venda de
materiais de construção. Outro exemplo
aconteceu
em Araxá-MG, onde
uma praça com mais
de cinqüenta anos
totalmente arborizada, foi substituída por um calçadão
sem nenhuma arborização e sequer
bancos para as pessoas sentarem.
Outra questão
muito importante a
ser trabalhada é a
questão da identidade local nas escolas de ensino fundamental. Os alunos
aprendem
muitas
coisas relacionadas
ao mundo, e ao Brasil; mas, na maioria
das vezes, o ensino
é muito generalizado, fazendo com a
história do município
ao qual esses alunos
pertencem,
fique
esquecida o que
causa no individuo
um afastamento em
relação as suas origens perdendo de
vista o processo formador de sua identidade social.
Muitos estudiosos acham que é
mais fácil trabalhar
o patrimônio cul-
12
tural no âmbito disciplinar das ciências
humanas, por ela
estar muito próxima
do tema. Em outras
áreas do currículo, o
professor tem certa
dificuldade, porque
o tema não está
presente em suas
analises e reflexões
cotidianas. Contudo,
isso é uma limitação
e não pode ser levada ao pé da letra,
com a criatividade
dos pesquisadores e
professores podem
ser
desenvolvidas
atividades
dentro
da área de exatas,
ciências biológicas,
das ciências da terra, etc..
Metodologia
Através
das
atividades
extensionistas
desenvolvidas em nosso
projeto (nas Oficinas
de Educação Patrimonial realizadas na Escola Municipal Maria
Tereza bem como nas
oficinas realizadas no
espaço do Fortim dos
Emboabas localizado
no Alto das Mercês)
foi possível perceber
que as pessoas que
participaram dessas
atividades não se
reconhecem como
agentes
culturais
dentro da sociedade
da qual fazem parte.
Isto porque elas
reconhecem como
patrimônio cultural,
apenas aquilo que é
registrado e reconhecido pela chamada cultura erudita.
A
distinção
entre cultura popular e cultura erudita
recorrente em nossa
sociedade,
produz
efeitos
catastróficos na construção
da identidade dessas
pessoas. Mesmo expressões fortes como
o congado ou os ofícios e saberes passados de geração
em geração, se tornam eixos de resistência
de
suas
raízes na sociedade,
não são reconhecidos
como tal.
Por isso se justifica nosso trabalho
de responder a demanda da lei municipal n° 3.826/2004 que
torna obrigatório o ensino de educação patrimonial nas escolas da rede
municipal. Nosso trabalho é um tanto desafiador
quando aos métodos,
pois eles não podem ser
os métodos tradicionais
que são utilizados para
o ensino da chamada
cultura erudita.
Pela
característica mutável do
patrimônio imaterial
não é de nosso interesse
resguardálo tal como é (como
um objeto pronto e
acabado), mas sim
preservá-lo
através
de métodos que se
sintetizam exclusivamente nas vivencias
que A C ultura popular nos oferece. Dar
luzes para que ela por
si mesma se mostre e
se mantenha. Somos
receptáculos dessas
vivências.
“Se o sistema social é democrático se o povo
vive em condições digamos
razoáveis de sobrevivência ela próprio saberá gerir
as condições para que a
cultura seja conservada,
não pela cultura em si, mais
enquanto expressão da comunidade de grupo e de indivíduos em grupo’’. (BOSI,
Alfredo, 1987, pg. 44).
Atuando principalmente em São
João del Rei e região
o programa de extensão
“Embornal
de Causos - segundo
ano” é o desdobramento do projeto de
extensão “Embornal
de Causos a imagem
e o som, a escrita,
e o universo virtual
como veículo de registros e preservação
do patrimônio imaterial” sob a orientação da Dra. Glória
Ribeiro, junto com
os bolsistas de extensão Isabela Alline
Oliveira e Etienny
Trindade, e a bolsista atividade Daniela
da Conceição Diniz.
Como já foi mencionado, o trabalho
consiste
atender
á lei municipal n°
3.826/2004 que dispõe sobre a criação do
Programa
Municipal
de Educação Patrimonial em suas escolas
municipais - buscando
através do referencial
teórico
pesquisado,
capacitar os professores para o ensino da
educação patrimonial
dentro das escolas,
voltado para a cultura
regional e local.
13. Neste sentido, o programa busca utilizar as novas
mídias e redes sociais como ferramentas trazendo para
os professores do
ensino fundamental
a narrativa oral, saberes e fazeres embutidos na cultura
local.
Nosso
trabalho também teve
como
produto
a
produção
cartilhas para as escolas
públicas de ensino
fundamental,
os
bolsistas desenvolveram três cartilhas,
uma de culinária,
outra de causos e a
outra de festas religiosas; as quais
ainda
estão
em
processo de avaliação – recebemos a
avaliação apenas de
uma das escolas da
região, como poderá
ser observado nos
anexos do nosso
relatório final.
O
material
possui jogos, exercícios para serem
aplicados dentro de
sala de aula, textos e imagens. Cada
cartilha possui uma
peculiaridade diferente: a cartilha de
culinária contém receitas de São João
del Rei e região,
relatos de como o
queijo é fabricado
artesanalmente,
como são fabricados os fornos a partir da utilização do
barro e das fezes de
gado; a cartilha de
causos tem alguns
causos
transcritos
das entrevistas realizadas com moradores
de diferentes regiões,
além da bibliografia de
cada um dos contadores; e por fim a de festas religiosas descreve
manifestações religiosas presentes em São
João Del Rei.
Foram realizadas durante o ano de
2013 em parceria com
o programa de Implantação do Centro de
Referência de Cultura
Popular de São João
del Rei, promovemos
atividade
conjuntas
como foram as oficinas
do Inverno cultural,
contando com cerca
de 6 oficinas realizadas
no Fortim dos Emboabas entendendo que
por ser tratar de uma
população de risco ,
que entretanto mantêm uma tradição de
cultura popular muita
arraigada, nossos esforços em atuar principalmente com as crianças se justifica pelo
fato de as oficinas serem para as crianças do
Alto das Mercês uma
possibilidade de acesso, diversão e espaço
de lazer que a comunidade por si só não tem
condições de oferecer.
Também foram
oferecidas Oficinas de
Educação
Patrimonial desenvolvidas dos
dias 4 a 8 de Março de
2013 na Escola Municipal Maria Tereza, tendo
como público atingido
cerca de 150 alunos do
ensino fundamental.
to importante para
a
preservação
do
patrimônio
cultural,
as nossas ações ainda se mostram como
uma forma pontual
de se aplicar a educação patrimonial.
Para que um
trabalho como este
possa se desenvolver
de forma continua no
ensino fundamental
precisaríamos de uma
parceria entre o IPHAN, o governo federal e os órgãos locais
de cada município. O
que observamos na
analise deste conteúdo é que as ações são
desmembradas umas
das outras, não tendo
assim um elo entre as
iniciativas que já estão sendo produzidas
e os órgãos públicos.
No entanto, o
IPHAN ainda é desorganizado em relação
à educação patrimonial e não existe um
interesse por parte
dos professores em
aplicar o assunto dentro de sala de aula,
criando uma barreira
a este processo.
O
patrimônio
cultural ainda se encontra vulnerável. A
ideia que se passa
entre a juventude é
que não existe o novo
sem destruir o velho,
e isso faz com que a
memória caia no esquecimento.
Como
podemos
lembrarnos do passado, das
histórias contadas por
nossos avôs sem passar de geração a gerConclusão
ação? Na atual pós Embora
seja modernidade o ser
um
trabalho
mui- humano está sendo
tratado como objeto, uma boa parte
de idosos que fizeram parte da história
são abandonados e
isolados em locais
fora da área de convívio social intenso
(como é o caso dos
abrigos e albergues),
e não paramos para
pensar que através
deles as manifestações
culturais
vem sendo passadas de geração para
geração.
Portanto, necessitamos de uma
mudança radical em
relação ao patrimônio,
e por isso justificamos
neste estudo a importância da educação
patrimonial. Esta ação
pode ser comparada
como a “luz no fim
do túnel” porque a
partir dela os indivíduos podem repensar a relação entre a
memória e sua própria
identidade social.
13
14. MINAS GERAIS: MODOS PROPRIOS DE VIVER E COMER
uma verdadeira colcha de retalhos de influências indígenas, africanas e portuguesas. A mandioca,
o milho, o amendoim, a abóbora, o
feijão são heranças indígenas. O arroz, a pimenta malagueta, o quiabo
foram trazidos pelos africanos. O
trigo, a cana de açúcar, as criações
de animais para consumo da carne,
os doces e os queijos vieram com
os colonizadores. Os modos de
preparo que hoje conhecemos têm
contribuições de ambos.
Ingrediente que vem de um
lado, tempero que vem de outro e
modo de fazer de outro, novas mis-
turas, adequações foram formando
o que hoje se conhece por culinária
mineira: pão de queijo, broa de fubá,
café, pernil de porco assado, bife de
boi, angu, couve. E as combinações!
Arroz com feijão, queijo com goiabada - o famoso Romeu e Julieta-, café
com leite, frango com quiabo, pão
com manteiga, canjiquinha com costelinha, carne com farinha, pinga com
torresmo... Mas qual a importância de
cada um desses elementos no cotidiano, na economia e na nutrição dos
mineiros? Como são produzidos cada
um deles? É o que tentaremos abordar
a partir de agora.
Isaac Josué da Silva
As cozinhas são lugares
privilegiados, o lugar do encontro, da confraternização, da conversa durante o café da manhã e
o almoço. À noite então, na ampla cozinha, à beira do fogão à
lenha, é a hora de beber uma pinga e “quentar” fogo para espantar o frio. Acopladas aos fogões
à lenha existem as serpentinas,
um sistema no qual a água passa
por tubulações metálicas que vão
ao interior do fogão e entram em
contato com o fogo, esquentando
a água para um ótimo banho.
A culinária mineira é
14
14
15. MINAS GERAIS: MODOS PROPRIOS DE VIVER E COMER
MANDIOCA: A FARINHA E O POLVILHO
A mandioca é uma
planta nativa do Brasil
que já era muito utilizada
pelos povos indígenas
quando os portugueses
aqui chegaram. Luís da
Câmara Cascudo em seu
História da Alimentação
no Brasil, faz o reconto
de uma das lendas que
explica o surgimento dessa planta:
‘A filha de um chefe
indígena engravidara sem contato
masculino, como em sonho comunicara um homem branco ao pai
furioso que se acalmou. Nasceu
uma menina deslumbrante, de
nome Mani, morta ao fim de um
ano, sem doença e sem dor. Do
túmulo surgiu arbusto novo. A
terra fendeu-se, como mostrando
o corpo da morta. Encontraram
raízes que eram as primeiras man-
diocas, fortificantes e poderosas.
Mandioca de Mani-oca, a casa de
Mani’. (CASCUDO, 2004)
A mandioca é o alimento
mais popular no Brasil: de
norte a sul, cozida, frita,
na forma de farinha ou de
polvilho, ela é consumida
por todas as camadas sociais.
‘Presente tanto nos
pratos cotidianos mais simples
quanto nos mais elaborados, ocupa
lugar de destaque no sistema culinário nacional e regional desempenhando em algumas regiões do
país relevante papel na construção
de identidades culturais’. (PINTO,
????)
A farinha é o
seu principal produto: seja
fina ou grossa, torrada ou
crua, pura ou temperada.
É ainda produzida arte-
sanalmente nas casas de
farinha, principalmente
no norte e nordeste de
Minas. Além da farinha,
um outro subproduto da
mandioca que é amplamente utilizado é o polvilho. Também conhecida
como goma, o polvilho é
a fécula da mandioca, ou
seja, o amido extraído
dessa planta. Ele pode
ser obtida tanto industrialmente quanto em casas
de farinha. A diferença
do polvilho azedo em
relação ao doce é que o
primeiro sofre uma fermentação antes do processo de secagem, que é
obrigatoriamente solar.
Ele é a base de algumas
das quitandas mineiras mais tradicionais
como as rosquinhas
quebra-quebra, o biscoito de polvilho e o
pão de queijo. Aliás,
o pão de queijo, como
o próprio nome já diz,
tem como segundo
ingrediente mais importante o queijo, que
é um dos principais
produtos do leite.
O COBRE: NO TACHO E NO ALAMBIQUE
Os utensílios em cobre são em sua maioria
produzidos
artesanalmente e são amplamente
utilizados na feitura de
doces. De cobre é também grande parte dos
alambiques.
As doceiras acreditam
que os doces de frutas
feitos em tachos de cobre preservam mais a
cor da fruta e são mais
saudáveis quando comparados aos doces feitos
nos tachos de alumínio.
Além disso, os doces
feitos em tacho de cobre
ganham um sabor par-
ticular.
O tacho de cobre
deve ser bem esfregado
com limão e sal para tirar o “zinabre”, ou seja,
o azinhavre, “camada
verde de carbonato de
cobre que se forma nos
objetos de cobre expostos ao ar e à umidade”
(FERREIRA, 2004), só
depois ele deve ser lavado com água e sabão.
Apesar do uso do
cobre ser tão tradicional
em Minas Gerais, uma
restrição da Vigilância
Sanitária Estadual de
Minas Gerais tem inco-
modado as doceiras e
doceiros. Baseada em
uma resolução da Anvisa - Agência Nacional
de Vigilância Sanitária,
o órgão estadual proibiu
o uso de utensílios de
cobre na produção alimentícia. Segundo a
Anvisa, o excesso de cobre no organismo causa
problemas neurológicos
e psiquiátricos, perda
de glóbulos vermelhos
e problemas no fígado,
nos rins, no sistema nervoso e nos ossos.
15
16. MINAS GERAIS: MODOS PROPRIOS DE VIVER E COMER
LEITE, QUEIJO E MANTEIGA: DO CURRAL PARA A MESA
O estado de Minas Gerais é disparado o
maior produtor de leite
do Brasil. É isso o que
mostra o gráfico abaixo,
disponibilizado
pela
Embrapa Gado de Leite.
O leite é um produto
altamente perecível, por
isso deve ser processado
rápido. Como grande
parte dos produtores de
leite são pequenos proprietários rurais, existe
no estado de Minas Gerais muitas cooperativas e
pequenos laticínios, em
ambos os casos o leite
é recolhido por caminhões e levado para esses
lugares onde é pasteurizado ou transformado
em manteiga, queijos
e iogurtes. No entanto,
muitos desses produtos
são produzidos de forma
artesanal nas propriedades mesmas.
Para produzir a
manteiga é necessário
antes recolher a nata, ou
seja, a parte mais gordurosa do leite que sobe quando deixado em repouso. A
nata resfriada deve então
ser batida. Nas fazendas
mineiras é comum pendurar a lata de nata em
uma árvore com cordas e
sacudir até virar manteiga,
tarefa que muitas vezes é
executada pelas crianças.
Quando o barulho do
líquido muda ao bater na
lata é porque a nata se
separou em manteiga e
soro. A manteiga é muito
utilizada na culinária mineira no preparo de bolos,
broas e rosquinhas. E o
soro que sobra é aproveitado na alimentação dos
animais.
O queijo talvez seja
o produto que mais faça
referência a Minas Gerais.
O Modo Artesanal de
fazer o Queijo Minas foi
registrado pelo IPHAN
em 2008 no Livro de
Registro dos Saberes:
Saberes(IPHAN).
(...) O modo artesanal de fazer
queijo constitui um conhecimento tradicional e um traço
marcante da identidade cultural dessas regiões. (...)
LEITE INTEGRAL → FILTRAÇÃO ATRAVÉS DE
TECIDOS → ADIÇÕES DE
PINGO E COALHO LÍQUIDO → COAGULAÇÃO →
QUEBRA MANUAL DO
COALHADA → REPOUSO
E DECANTAÇÃO POR 15
MINUTOS → DESSORAGEM DE 2/3 DO VOLUME DO LEITE EM SORO
→ COLETA DA MASSA
NO FUNDO DA TINA →
MOLDAGEM EM FÔRMAS
SOBRE MESA DESSORADORA → PRENSSAGEM
MANUAL COM “FOFAS”
REPETIDAS → PRIMEIRA SALGA → COLETA
DO PINGO → SEGUNDA
SALGA → REMOÇÃO
DO EXCESSO DE SAL
→
DESENFORMAGEM
E “GROSAGEM” COM
RALO → CURTIMENTO
EM PRATELEIRAS À TEMPERATURA
AMBIENTE
DE 5 A 7 DIAS.
(FURTADO, 1993; REIS,
1998)
O modo próprio
de fazer queijo de Minas
sintetiza, no queijo do
Serro, no queijo da Canastra, no queijo do Salitre ou
Alto Paranaíba, ou ainda
Cerrado, um conjunto de
experiências, símbolos e
significados que definem
a identidade do mineiro,
reconhecida por todos os
brasileiros. Por se tratar de
um modo de fazer enraizado na comunidade mineira,
o Modo Artesanal de fazer
Queijo Minas é considerado um patrimonio imaterial dos mineiros registrado
no Livro de Registro dos
O processo de
fabricação desse tipo
de queijo segue basicamente o seguinte fluxograma:
Luís da Câmara
Cascudo publicou em 14
de junho de 1959 na Folha de São Paulo o texto
“O queijo no céu” no
qual narra suas investigações acerca da ligação
entre uma expressão
popular e uma procissão da cidade do Serro –
MG.
A
expressão
16
17. MINAS GERAIS: MODOS PROPRIOS DE VIVER E COMER
A MADEIRA: NA GAMELA E NA COLHER DE PAU
Continuação
“Aquele vai cortar
o queijo no céu!” se
refere ao casal que
sempre guardou fidelidade e nunca se arrependeu do matrimônio.
A procissão de cinzas
em Serro tem entre os
andores, o andor dos
bem casados, no qual
figura a imagem de um
casal de santos e um
enorme queijo.
“A refeição comum
no paraíso deve ser raro prêmio maravilhoso para uma
fidelidade que nem um pecado interrompeu. O queijo,
comum e habitual na região,
reapareceria no céu numa
Etienny Natya Fonseca F. Trindade
homenagem reconstituitiva
do ambiente doméstico modelar”. (CASCUDO, 1959)
E falando em
queijo logo se lembra da goiabada, doce
tradicional que traz
elementos muito característicos do nosso
estado: o açúcar, a
colher de pau e o tacho de cobre.
A gamela é uma
espécie de bacia larga e
baixa, podendo ser redonda ou oval, esculpida em madeira. É essencial no preparo do pão
de queijo, pois por ser
pesada e “aberta”, permite que a cozinheira
sove melhor o polvilho,
para preparar o pão de
queijo. É usada também
no preparo de pães e
rosquinhas.
A colher de pau,
por sua vez, é utilizada
no preparo de angu e
doces. Isto porque o
mexer contínuo com
colher de metal desgas-
taria o tacho ou a panela liberando resíduos no alimento.
As madeiras mais usadas na
confecção das gamelas e colheres de pau são o caju, a goiaba, a emburama e o jenipapo.
Passada de geração em geração, a técnica usada pelos artesãos para esculpir as peças
conta com instrumentos como
o enxó, a grosa e a lixa.
Depois de prontas,
as peças passam por um processo de curtimento com sebo
de vaca para que não ganhe
rachaduras com o uso. Uma
gamela ou uma colher de pau
bem feita podem durar até 20
anos!
CANA DE AÇÚCAR: NA CACHAÇA E NOS DOCES
O Brasil é o
maior produtor de
cana-de-açúcar, açúcar e álcool etílico do
mundo. A planta foi
introduzida no Brasil
no período colonial e é
hoje um dos principais
produtos brasileiros.
A cachaça é
uma bebida tipicamente brasileira. Seu
nome tem origem
no termo espanhol
cachaza que designava
um vinho inferior. Ela
foi, por muito tempo,
considerada bebida de
pobres, mas tem caído
cada vez mais no gosto
das outras classes. Também conhecida como
pinga, caninha, garapa,
a cachaça é a aguardente
produzida da destilação
de um fermentado de
cana de açúcar moída. A
Constituição Brasileira
faz a seguinte diferenciação entre cachaça e
aguardente de cana:
Art. 52. Aguardente de cana é a
bebida com graduação alcoólica
de trinta e oito a cinqüenta e quatro por cento em volume, a vinte
graus Celsius, obtida de desti-
naqueles em que o cultivo da cana-de-açúcar
não é favorável. Ela
pode ser produzida tanto
em destilarias industriais
quanto em alambiques
artesanais. Considerando ambas as formas de
produção de cachaça,
temos os seguintes dados: São Paulo é o maior
produtor, com 54% de
toda a produção. Pernambuco é o segundo
maior produtor, com
A cachaça é pro- 12%, Ceará é o terceiro,
duzida em todos os Es- com 11%, seguidos de
tados brasileiros, mesmo Rio de Janeiro (8%), Milado alcoólico simples de canade-açúcar ou pela destilação do
mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas
por litro, expressos em sacarose.
Art. 53. Cachaça é a denominação
típica e exclusiva da aguardente
de cana produzida no Brasil, com
graduação alcoólica de trinta e
oito a quarenta e oito por cento
em volume, a vinte graus Celsius,
obtida pela destilação do mosto
fermentado do caldo de cana-deaçúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser
adicionada de açúcares até seis
gramas por litro.
17
18. MINAS GERAIS: MODOS PROPRIOS DE VIVER E COMER
nas Gerais (8%), Goiás
(8%), Paraná (4%), Paraíba (2%) e Bahia (2%).
A produção de
cachaça em alambiques,
de modo artesanal está
concentrada nos estados de Minas Gerais,
Rio de Janeiro, Bahia e
São Paulo, sendo que os
dois primeiros são responsáveis por cerca de
metade da produção de
cachaça de alambique do
Brasil, sendo Minas Gerais o principal produtor.
O processo artesanal de
fabricação da cachaça
segue as seguintes etapas: moagem, filtragem,
fermentação, destilação
em alambiques de cobre e, por último, envelhecimento em barris
de madeira. O cobre e a
madeira desempenham,
Fonte: Martinelli et al. (2000).
no resultado final da
cachaça, um importantíssimo papel, pois conferem o sabor específico da
cachaça produzida artesanalmente.
A PANELA DE PEDRA SABÃO
Isabela Alline Oliveira
As panelas de pedra sabão têm também
um importante papel na
culinária mineira, podendo ser utilizadas no
preparo de arroz, feijão,
frango ensopado, legumes cozidos, etc. As
panelas são esculpidas
pelos artesãos muitas
18
vezes em pequenas oficinas no fundo de suas casas. A técnica, antiga e
tradicional, vai sendo
passada de pai para filho.
Em Minas Gerais, as
principais cidades que
mantêm a centenária
fabricação de panelas
de pedra sabão são Mata
dos Palmitos, Divinópolis, Cláudio, Ouro Preto,
Mariana,
Congonhas,
Santa Rita de Ouro Preto
e Cachoeira do Campo.
Os dois últimos são distritos de Ouro Preto, e
Santa Rita é considerada
a capital mundial da pedra sabão
19.
20. RECEITAS TRADICIONAIS EM
SAO JOÃO DEL REI
Receita de:
Vera Lúcia Rezende
tem 48 anos, é professora, natural da cidade
de Luminárias – MG.
Aprendeu a fazer essa
goiabada com sua mãe,
pois desde a infância a
ajudava nessa tarefa. Da
mesma forma, ensinou a
seus filhos. Afirma que
a ajuda dos mais jovens
é de muita importância
principalmente na etapa
da colheita das goiabas,
pois eles sobem nas
árvores com mais facilidade e podem assim,
colher todas as goiabas
maduras do pé.
20
Ingredientes
Goiaba (1 medida)
Açúcar (1/2 medida)
Utensílios:
Moedor manual, tacho
de cobre, colher de pau e
caixeta de madeira.
Modo de Preparo
Utilize somente
goiabas maduras. Laveas, retire todas as sujeiras da casca (cabinho,
o outro lado, algum defeitinho que tiver...), não
descasque. Corte as goiabas ao meio e retire o
miolo. Separe os miolos
bons e jogue fora os miolos bichados.
No final desse
processo, você terá somente as poupas das goiabas, sem miolos e sem
defeitos na casca, então
as lave uma a uma. É im-
GOIABADA
portante retirar todas as
sementes, pois elas não
cozinham e prejudicam
seriamente a qualidade
do doce. Depois de lavar
as goiabas, deixe as de
cabeça para baixo para
escorrer bem a água, se
tiverem com muita água,
o doce espirra muito.
Depois
passe
as goiabas em uma
máquina de moer carne.
Depois de moer, meça
quanto dessa massa você
obteve. Para cada medida de goiaba, acrescente meia medida de
açúcar cristal. Coloque
o açúcar e a goiaba em
um tacho de cobre e
leve ao fogo mexendo
com colher de pau sem
parar. A colher deve ter
o cabo grande, pois em
certa etapa o doce espirra muito. Numa panela a
parte coloque os miolos, cozinhe bem, coe
e acrescente ao doce,
com a quantidade de
açúcar
correspondente.
O ponto do
doce é quando você
começa a ver o fundo
do tacho e começa a
fazer um barulhinho
de fritura no fundo.
Retire do fogo, bata
bem o doce para
engrossar mais e
coloque nas caixetas
de madeira, forradas
com plástico.
21. RECEITAS TRADICIONAIS EM
SAO JOÃO DEL REI
PÃO DE QUEIJO
Receita de
Vera Lúcia Rezende
tem 48 anos, é professora, natural da cidade
de Luminárias – MG.
Aprendeu a fazer o pão
de queijo com sua mãe
observando e ajudando
desde a infância. Em sua
casa o pão de queijo é
feito principalmente aos
fins de semana e quando
recebem visitas.
Ingredientes
1 Kg de polvilho azedo
4 copos grandes de leite
1 copo americano de
óleo
1 colher de sopa de sal
6 ovos
1 prato de queijo curado
ralado grosso
Utensílios
Gamela, assadeira
Modo de Preparo
Despeje o polvilho todo em uma gamela,
coloque meia xícara de
leite e sove bastante até
ficar bem fininho, sem
pelotinhas. Sovar é apertar pequenas quantidades de polvilho entre
a palma das mãos, com
força. Esse processo é
importante para o pão
de queijo ficar liso.
Quando o polvilho estiver bem fininho, leve ao fogo um
copo grande de leite, um
copo americano de óleo
e uma colher cheia de
sal. Logo que a mistura
ferver, escalde espal-
hando bem a mistura
sobre o polvilho. Pegue
uma colher grande e
misture para que o calor
da mistura entre em contato com uma quantidade maior de polvilho.
Acrescente seis
ovos inteiros e um pouco de leite e amasse. Vá
acrescentando leite aos
poucos, coloque o queijo
e continue acrescentando leite até chegar à
consistência ideal. Para
testar essa consistência,
lave a mão, seque-a e encoste-a na massa, a massa deve grudar na mão,
se não grudar, ainda está
dura. Unte as mãos com
óleo e enrole os pães de
queijo. Asse em forno
quente até dourar.
Fotos: Equipe Embornal
21
22. RECEITAS TRADICIONAIS EM
SAO JOÃO DEL REI
PÉ DE MOLEQUE COM RAPADURA
Receita de:
Maria de Fátima Diniz
tem 55 anos, é cozinheira, natural da cidade de
São Francisco de Paula –
MG. Aprendeu a receita
com uma patroa. Tem o
hábito de fazer essa receita mais na época das
festas juninas e durante
certo tempo, fazia o pé
de moleque para comercializar em Oliveira
– MG, cidade em que
mora atualmente.
Ingredientes
1 rapadura pura
1 pacote de amendoim
torrado e moído
1 copo de leite (250 ml)
Utensílios
Colher de pau
por completo e fique uma espuma grossa; junte o
amendoim de uma só vez; bata bem, até que o doce
comece a esfriar e endurecer; despeje sobre uma
superfície limpa (pedra ou assadeira), acerte bem
com uma espátula; corte e guarde em recipiente
tampado.
Modo de Preparo
Corte a rapadura com uma faca como
se faz com uma barra
de chocolate, leve ao
fogo junto com o leite
e mexa com a colher
de pau, sem parar, até
que a mistura fique
homogênea. Deixe a
mistura ferver, sem parar de mexer até que
a rapadura dissolva
BOLINHO DE FEIJÃO
Receita cedida por:
Márcia Sena
tem 54 anos é técnica
em Nutrição e Dietética,
mora em de Barbacena –
MG, sendo natural da cidade de Senhora de Oliveira– MG. Aprendeu a
fazer o bolinho de feijão
com sua avó e o faz aos
finais de semana, quando
a família está reunida.
22
Ingredientes
2 copos de feijão cozido
2 ovos
Salsinha
Cebolinha
Cebola branca picadinha
Sal a gosto
Farinha de trigo até o
ponto
1 colher (chá) fermento
em pó químico
Óleo para fritar
Modo de Preparo
Em uma tigela, coloque o feijão cozido, os
ovos inteiros, cebolinha, salsinha, cebola picada
e sal e mexa bem. Acrescente aos poucos o trigo,
até ficar no ponto de cair da colher, como bolinho
de chuva. Por último acrescente o fermento em
pó e mexa. Frite em óleo não muito quente, como
se fosse bolinho de chuva. Rende 20 porções
23. RECEITAS TRADICIONAIS EM
SAO JOÃO DEL REI
BISCOITO DE POLVILHO
Receita de:
Anunciação
Resende
tem 75 anos, é professora aposentada, natural
da cidade de Itumirim –
MG. Aprendeu a fazer o
biscoito de polvilho com
sua mãe. Ela lembra que
antigamente as mulheres
de uma mesma família
costumavam se reunir
em mutirão para fazer
grandes quantidades e
variedades de quitandas, que eram assadas
em fornos de areia ou de
tambor e armazenadas
em latas por um período
relativamente longo.
Uma das quitandas que
sempre eram feitas era
o biscoito de polvilho.
Ingredientes
1 Kg de polvilho azedo
2 copos de leite
1 colher de sopa de sal
1 copo de óleo
2 ovos inteiros
Água até atingir o ponto
Utensílios
Saquinho de confeitaria e assadeira
Modo de preparo
Sove bem o polvilho misturado com um
copo de leite e o sal. Ferva o outro copo de leite
junto com o copo de óleo
e escalde o polvilho. Espere esfriar e acrescente
os ovos. Amasse tudo
acrescentando água até a
massa virar um creme homogêneo mole.
Despeje a massa
em um saco plástico e
corte o cantinho do saco
na espessura que desejar
que fique os biscoitos,
lembrando que eles do-
bram de tamanho depois
de assados. Esprema a
massa em um tabuleiro
untado com óleo fazendo círculos fechados ou
vírgulas.
Asse em forno
médio, deixe secar bem
para não murchar.
Fotos: Equipe Embornal
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24. RECEITAS TRADICIONAIS EM
SAO JOÃO DEL REI
BISCOITO DE POLVILHO
Receita de:
Márcia Sena
tem 54 anos, é técnica
em Nutrição e Dietética, mora em de Barbacena – MG, sendo
natural da cidade de
Senhora de Oliveira–
MG. Aprendeu a fazer
o doce com sua avó,
que carinhosamente a
ensinava no fogão à
lenha, explicando os
detalhes e enfatizando
que o importante acima
de tudo é o carinho e
dedicação que você
tem com aquilo que
está fazendo, e isto inclui o ato de cozinhar.
Márcia faz o doce de
leite aos finais de semana e principalmente em
datas comemorativas.
Ingredientes
Leite (1 medida)
Açúcar (1/2 medida)
Utensílios: Tacho de cobre e colher de pau
Modo de preparo
Colocar o leite no tacho, esperar levantar
fervura e acrescentar o açúcar. Mexer sempre e
para tirar o ponto, colocar água em um recipiente e
colocar um pouquinho do doce. Quando tiver uma
puxa bem firme; retirar do fogo, bater com a colher
e em seguida despejar em um refratário untado com
manteiga. Ao esfriar, corte em quadradinhos.
Fotos: Equipe Embornal
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25. RECEITAS TRADICIONAIS EM
SAO JOÃO DEL REI
FRANGO COM QUIABO
Receita de:
Fotos: Equipe Embornal
1 xícara de chá de salsinha pic- do água aos poucos, deixe cozinadinha
har até que você sinta que a carne
1 xícara de chá de cebolinha pic- está macia.
Meire Soares Torres
À parte, lave bem o quitem 59 anos, é dona de casa, natu- adinha
abo e seque-o em um pano para
ral de Lavras. Aprendeu a fazer o Pimenta do reino a gosto
evitar a baba, pique em rodelas e
frango com quiabo com sua mãe
refogue em óleo quente, por dez
quando adolescente ajudava no
Utensílios
preparo deste típico prato mineiro. Panela de pedra e colher de pau minutos em uma panela a parte.
Depois de o frango e o
Hoje tenta passar à sua filha a imquiabo estarem prontos sepaportância de perpetuar esta receita
Modo de Preparo
radamente, junte os dois em uma
tão tradicional em sua família.
panela de pedra, sem esquecer-se
Limpe e corte o frango do resto dos temperos, espere reIngredientes
em pedaços, logo após tempere fogar e está pronto.
1 frango médio
com o alho amassado com sal ( ou
4 dentes de alho
com outros temperos se for de sua
Sal a gosto
preferência ) e deixe descansar por
2 colheres de sopa de açúcar
um dia na geladeira.
1 cebola média picada
Em uma panela grande
½ Kg de quiabo
derreta o açúcar, depois coloque o
1 xícara de chá de óleo
frango e a cebola picada mexendo
1 xícara de chá de cheiro verde
até ficar bem moreno. Vá colocan-
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26. RECEITAS TRADICIONAIS EM
SAO JOÃO DEL REI
Receita de:
Modo de preparo
Kátia Cristina
de Paula
natural de Bom Sucesso, 27 anos, estudante.
Aprendeu a receita
quando criança com
sua mãe. Ela lembra
que é um costume mineiro servir um cafezinho para as visitas, e
a broa de fubá o acompanha muito bem. A
broa de fubá sempre
esteve presente em sua
casa, desde a sua infância.
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Ingredientes
3 ovos
1 ½ xícara de açúcar
cristal
1 pitada de sal
1 colher de chá de bicarbonato de sódio
2 colheres de sopa de
manteiga
3 xícaras de fubá
2 xícaras de coalhada
Óleo e farinha de trigo
para untar a assadeira
Bata os ovos e o açúcar.
Acrescente o sal, o bicarbonato e a manteiga
e bata mais. Em seguida, acrescente a coalhada e o fubá e bata até
ficar bem homogêneo.
Despeje em assadeira
untada e asse em forno
pré-aquecido.
Utensílios
Assadeira
BROA DE FUBÁ
27. RECEITAS TRADICIONAIS EM
SAO JOÃO DEL REI
Receita cedida por:
José Jorge de Oliveira
tem 75 anos, é pedreiro
aposentado, natural de Andrelândia – MG. Aprendeu a
fazer o torresmo com sua mãe
e desde então ele é a única
pessoa da família que o faz.
O senhor José afirma que se
acostumou tanto a fazer o torresmo que faz quase todos os
dias, mas não o utiliza como
tira gosto da cachaça como
é utilizado tradicionalmente,
pois o senhor José não bebe
cachaça.
Ingredientes
Torresmo
Sal a gosto
Utensílios:
Panela, colher de pau, faca bem
afiada.
TORRESMO
em quando para não grudar um
torresmo no outro. Eles vão soltar mais gordura ainda e quando estiverem opacos, com cara
de que estão fritos, desligue o
fogo, retire daquela gordura os
torresmos para que eles possam
esfriar.
Modo de Preparo
Tempere os torresmos
com o sal e deixe descansar por
uns 15 minutos. Coloque um
pouco de óleo numa panela e
quando estiver quente, coloque
os cubos do torresmo em uma
panela tampada. Com uma colher de pau vá mexendo de vez
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28. MODO DE FAZER O FOGÃO
A LENHA
Isabela Alline Oliveira e José Raimundo da Silva
nado cinzeiro.
A primeira carreira
de tijolos tem que ter uma
inclinação de 25° ou mais.
Depois vai tecendo as carreiras de tijolos. Quando
tiver uma altura de 60 cm
deverá deixar uma abertura que será a chaminé (ao
lado).
Usa-se rebocar o forno com
uma mistura de areia e estrume de vaca, pois essa
pasta que faz com que a
temperatura do forno seja
mantida. Essa mistura
deve ser curtida por 8 dias
e passada no forno. Não se
deve usar cimento e cal no
reboco, pois com o aumento do calor eles fazem com
que o forno trinque.
Na hora de acender
o fogo é necessário esperar a lenha queimar, para
então, espalhar a brasa de
modo a distribuir as ondas
de calor dentro do forno.
Depois de pronto o forno
deverá ser aceso para que
ele seque por completo,
mas,não é recomendável
usa-lo antes de 15 dias.
No fim de cada uso, aconselha-se jogar sal fino para
conservar o calor.
Fotos: Equipe Embornal
Primeiramente fazse a base (alicerce) com
Adobe. Depois de fazer a
base, por dentro faz um
aterro de 40 cm de espaço
(distância). Depois coloca
35 cm de areia grossa e
se coloca sal grosso, em
forma de cruz, fazendo
com que as partes estejam
iguais. O sal é para conservar o calor dentro do forno.
No alicerce tem uma abertura de 20 cm de diâmetro. Em cima coloca ladrilha
com os tijolos que são só
encaixados. Após esse
processo, com uma areia
mais fina vai completando
as aberturas entre os tijolos. Faz-se a porta do forno
nesse momento, e do lado
oposto um orifício denomi-
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38. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
CASCUDO, Luís da Câmara; ANDRADE, Mario de, Cartas, 1924 – 1944. Organizador:
Marcos Antonio de Moraes. São Paulo: Global, 2010.
______, Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: MEC, 1954.
______, Literatura Oral no Brasil. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora/ MEC,
1978a.
______, Seleta. 2 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976.
DETIENNE, Marcel, Os Mestres da Verdade na Grécia Arcaica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor.
ELIADE, Mircea, O sagrado e o Profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa.
Curitiba: Positivo, 2004.
LE GOFF, Jacques, História e Memória. Tradução Bernardo Leitão... [et al.]. Campinas:
Editora da Unicamp, 2003.
ORIÁ, Ricardo. Memória e ensino de História. BITTENCOURT, Circe (Org.). O saber
histórico na sala-de-aula. São Paulo: Contexto, 1997.
TEIXEIRA, Simonne; VIEIRA, Silviane de Souza... [et al.], Educação patrimonial: novos
caminhos na ação pedagógica. Campos dos Goytacazes: EDUENF. 2006
Informações do IPHAN disponíveis em: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do;jsessionid=092730D01A132E79E32EBCBE412DF280?id=10852&retorno=paginaIp
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