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UFSJ – UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI
REITOR
Valéria Heloísa Kemp
VICE-REITORA
Sérgio Augusto Araújo da Gama Cerqueira
PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO E ASSUNTOS COMUNITÁRIOS
Prof. Paulo Henrique Caetano
CHEFE DE DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
E MÉTODOS
Prof. Dr. Antônio Rogério Picoli
COORDENADOR DO CURSO DE
FILOSOFIA
Prof. Dr. Fábio Barros Silva
COORDENAÇÃO GERAL DO PROJETO
Prof. Drª. Glória Maria Ferreira Ribeiro (DFIME)
EQUIPE DE EXECUÇÃO
Daniela da Conceição Diniz
Débora Cristina Resende
Etienny Natya Fonseca F. Trindade
Isabela Alline Oliveira
Isaac José da Silva
Lucas Bertolino dos Santos
Nilson Anderson Lemos
EQUIPE DE APOIO
Fernanda Senna
Monique Kelly da Cunha
AGRADECIMENTOS
Balbino de Souza Rezende
Beatriz de Castro Teixeira
Geralda Campos da Silva
José Omar Junqueira
José Raimundo da Silva
Juvenal José de Sousa
Lazarino Francisco de Sousa
Luiz de Ávila e Silva
Maria Aparecida Sales Ribeiro
Maria José Ribeiro
Nagibe Francisco Murad
Otaviano Saulo de Castro Teixeira
Raul Nogueira do Nascimento
Rosângela Aparecida da Silva Teixeira
Sebastião Vicente da Silva.
O ato de comer é extremamente cultural. Se é cultural, é
construído pelas pessoas e é diferente em cada grupo humano. Ao
abordar as diferenças alimentares
entre as sociedades humanas, o
professor deverá levar o aluno a
perceber o quanto é importante respeitar o modo das outras pessoas
habitarem o mundo e agirem nas
situações mais cotidianas, como é
o ato de se alimentar.
“Toda a existência humana
decorre do binômio Estômago e
Sexo. A Fome e o Amor governam
o mundo”, essa é uma máxima do
filósofo Friedrich Schiller citada
por Luís da Câmara Cascudo em
seu livro História da Alimentação
no Brasil. Porém, acrescenta Cascudo, o estômago é muito mais
imperioso que o sexo. A fome é
inadiável, é dominadora.
	
No entanto, o homem não
se alimenta daquilo que tem em
maior abundância, nem daquilo
que sabe ser mais nutritivo, ele
come o que está acostumado a
comer. O homem se alimenta
daquilo de que seus pais se alimentavam e daquilo que a sua religião
permite. No Brasil comemos bois,
porcos e galinhas e achamos no
mínimo estranho que se comam
cães, gatos, cavalos, gafanhotos
e ratos. “Carne de gato, pastel de
ratazana, gafanhoto torrado, larva
cozida estão fora dos nossos padrões. São, entretanto, iguarias
normais e provadamente limpas
e saborosas quando ingeridas
sem identificação.” (CASCUDO,
2004).
	
Para os hinduístas e budistas comer a carne dos bovinos é
totalmente inaceitável. O mesmo
ocorre com a carne de porco, que
é proibida entre muçulmanos e judeus. Ao contrário do que muitas
vezes temos tendência a pensar,
as pessoas que comem, por exemplo, gafanhotos, não o fazem por
escassez de alimento, elas comem
gafanhotos porque apreciam o sa-

Debora Resende
bor. Na Angola se come cachorro,
não por falta de outra carne. O
caso dos esquimós é um exemplo disso: “O esquimó, sustentado
pela foca e ruminantes, vai buscar
no estômago do caribu (rena) a
papa gelatinosa de raízes, vagens e
gramíneas, absorvida como regalo
precioso” (CASCUDO, 2004).
E vale ressaltar que os Inuits são
chamados pejorativamente de esquimós, pois esse termo significa
“comedor de carne crua”!
	
Os costumes alimentares, dizia Câmara Cascudo, estão
muito mais vinculados a fatores
espirituais que fisiológicos. Os
tabus alimentares decorrentes da
religião se tornam costumes e os
costumes se tornam verdadeiras
leis, praticamente irrevogáveis
que moldam a alimentação de
cada grupo humano. Com as interações culturais entre esses grupos
os costumes como um todo, inclusive os costumes alimentares, vão,
muito lentamente, se modificando.
É justamente o mesmo que ocorre
com o patrimônio imaterial
	
O patrimônio imaterial é
definido pela Unesco como sendo
“as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares
culturais que lhes são associados
- que as comunidades, os grupos
e, em alguns casos, os indivíduos
reconhecem como parte integrante
de seu patrimônio cultural”. O IPHAN acrescenta que esse tipo de

patrimônio “é transmitido de
geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu
ambiente, de sua interação com a
natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade
e continuidade, contribuindo
assim para promover o respeito
à diversidade cultural e à criatividade humana”. A culinária,
portanto, figura entre os elementos que compõem o patrimônio
imaterial, uma vez que abarca
práticas, conhecimentos e técnicas transmitidas de geração em
geração.
	
A característica fundamental do patrimônio imaterial
é a mutabilidade, por ser preservado na memória e transmitido
oralmente, ele vai aos poucos
sofrendo pequenas modificações. Por isso, o patrimônio
imaterial não pode ser tombado
como o patrimônio material,
pois o tombamento “congela” a
coisa como ela é. A preservação
do patrimônio imaterial só tem
sentido como cotidiano, como
vivência. O professor pode
contribuir na preservação do
patrimônio imaterial, inclusive da culinária, inserindo esses elementos nas atividades
comuns no dia-a-dia da escola e
mostrando ao aluno que o simples almoço que sua mãe faz, diz
muito da história de seu povo e
de sua família.
SUMÁRIO
6

EDITORIAL

8

APRESENTAÇÃO

14

MINAS GERAIS: MODOS PROPRIOS
DE VIVER E COMER

19

RECEITAS TRADICIONAIS

28

MODO DE FAZER UM FOGÃO DE
LENHA

29

INTERDISCIPLINARIDADE

35

JOGOS E BRINCADEIRAS

38

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EDITORIAL
EXISTÊNCIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO
	
A memória deve ser antes a dimensão
de celebração de comemoração da própria existência. Isto porque para podermos preservar
o patrimônio cultural de um povo é preciso, antes de mais nada preservar a própria existência
humana, a própria dinâmica de manifestação da
vida.
	
“O Senhor ... mire veja: o mais importante e bonito , do
mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre
mudando. Afinam ou desafinam” ( Rosa, Guimarães.
Grande Sertão: Veredas”).

	
Existência que está sempre se fazendo,
se retomando desde o jogo do tempo que a
constitui. Tempo que escreve a história na qual
os destinos se cruzam, se entrecruzam e se realizam. A cada época dessa história a existência
se retoma, se reapropria de si mesma, de seu
ser, de um modo novo e sempre velho. Velho
porque são sempre as mesmas possibilidades de
ser e novo porque a existência sempre descobre
um outro modo de se apropriar de si mesma,
de interpretar-se. Deste modo, cada uma época
da história se mostra como um modo possível de elaborar a questão sobre a existência
do homem. Existência compreendida desde a

relação íntima e indissociável do homem com o seu
mundo – mundo que se revela no comércio cotidiano
com as coisas e com os outros. 		
A cidade
se mostra como a trama concreta na qual esse comércio com o mundo se deixa ver, tornando-o tangível.
Trama que sempre de novo se renova, se utilizando
sempre dos mesmos fios.
	
Sendo assim,todo trabalho que vise a
preservação do patrimonio cultural de um povo
deve, antes de mais nada, viabilizar condições para
que essa existência se mantenha. Por isso, em nossas reflexões sobre a Educação Patrimonial, estamos
tendo sempre como elemento norteador o próprio
cultivo da existência humana, ao propormos ações
que celebrem (lembrem em conjunto, que co-memorem) a nossa condição que é a de estarmos sempre
“afinando e desafinando”. As nossas cartilhas são
uma tentativa de celebração desse nosso modo de
ser cotidiano – do qual faz parte o ato de comer, de
celebrar o divino, de contar estórias. É celebrar isso
é deixar que as pessoas brilhem porque “gente é feita
para brilhar” – seja o mediante o suor no corpo do
trabalhador, seja no brilho nos olhos da criança ao
perceber o caráter extraordinário do mundo, que
faz com que ele possa sempre ser reinventado (reinventado pelas brincadeiras de fundo de quintal, pelo
trabalho dos homens, pelo esforço e empenho dos
meus iestimáveis bolsistas de extensão. Gente é para
brilhar!

Glória Ribeiro
“O Senhor ... mire veja: o mais importante e bonito , do mundo, é isto: que
as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas – mas
que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam”
(Rosa,Guimarães. Grande Sertão: Veredas”)

6
“Quando eu estiver velho, gostaria de ter no corredor da minha casa
Um mapa de Berlim com legenda
Pontos azuis designariam as ruas onde morei
Pontos amarelos, os lugares onde moravam minhas Namoradas
Triângulos marrons, os túmulos
nos cemitérios de Berlim onde jazem os que foram
próximos a mim
E linhas pretas redesenhariam os caminhos
no Zoológico ou no Tiergarten
que percorri conversando com as
garotas
E flechas de todas as cores apontariam os
lugares nos arredores
onde repensava as semanas berlinenses
E muitos quadrados vermelhos marcariam
os aposentos
Do amor da mais baixa espécie ou do
amor mais abrigado do vento”.
				

Walter Benjamin, “Fragmento”, 1932

“Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.
Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paiçandu deixem meu sexo
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam
O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a Liberdade.
Saudade...
Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade
As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus
Adeus”.
(Mario de Andrade, ao escrever sua Lira Paulistana (1944)

7
APRESENTAÇÃO
	 Em
diferentes contextos sociais e em distintas
épocas históricas o
termo cultura foi, e
vem sendo utilizado
de diferentes formas, para falar dos
hábitos de vida do
homem, entretanto
seu uso indistintamente carrega uma
concepção ideológica de seu significado.
	 Dentre
essas concepções de
cultura
podemos
perceber que muitas
pessoas associam a
cultura a algo que
se adquire ou que se
pode obter. O perigo
desse tipo de compreensão e de que
a cultura acabe assumindo um caráter
de mercadoria na
sociedade. Quando
se pensa a cultura
desde essa concepção, ela deixa de
ser associada aos
hábitos de vida do
homem que lhe são
naturais, e passa a
ser associada à algo
que o homem pode
adquirir como um
simples conjunto de
bens.
	
Adquirir cultura significa o mesmo
que poder possuir
um carro, uma casa,
ou ter uma rica biblioteca. Logo aque-

8

les que não podem
ter capital financeiro
o suficiente para enriquecer seu legado
cultural são tidos
como
ignorantes,
pessoas sem cultura,
que estão separadas
das outras na sociedade por essa condição. Daí surge os
desníveis de cultura,
que são fruto da divisão cultural entre
as pessoas. Sobre
isso Alfredo Bosi
em seu livro Cultura
Brasileira: tradição/
contradição nos diz:
“Quer dizer que as pessoas
que tem cultura devem exibir
certos tipos de comportamento, e devem ser poupadas de certas ações. Logo
aprece a divisão, os que tem
cultura de um lado, e os que
não tem cultura de outro. A
cultura dá a aureola da diferença’’. (BOSI, Alfredo,
1987, pg. 35).

	Considerar
a cultura como um
conjunto de coisas
que se pode possuir
é a principal característica da chamada cultura reificada,
pois a cultura deixa
de ser entendida
como um processo
que segue a linha
sutil da existência
humana, para ter
seu significado concebido fora dessas
vivências humanas.
Logo o que antes se

remetia as relações
sociais entre os homens passa a ser
associado a uma
relação entre homens e coisas. Assim sendo, o que
era uma ideia fruto
da relação entre
homem e a sociedade, passa a ser
apenas uma relação
entre homens e objetos. E a cultura que
era a pura e simples
expressão da minha
condição
humana,
passa a ser vista
como um objeto fora
de mim.
“Na sociedade de massa
as pessoas sempre estão
diante de objetos da tecnologia mesmo que não sejam
a obras de arte. O fato delas
não participarem da construção do objeto, porque
são obra de uma indústria
especializada, apesar delas comprarem vender e,
estabelecer relação de uso,
elas não compreendem seu
mecanismo interno, alienação. Eu possuo um objeto
mais não compreendo como
ele funciona”. (BOSI, Alfredo, 1987, pg. 37).

	
Podemos ver
expressa em várias
esferas da sociedade
essa concepção, pois
a cultura está sempre ligada ao que
tem que ser visto,
apreciado,
preservado e mantido tal
como é sem que se
leve em consider-

ação a relação direta com o cotidiano,
porque nesse tipo de
compreensão do que
seja a cultura, as
coisas e ações do cotidiano não são consideradas bens culturais.Cultura como
ação e trabalho.
	 Repensar
o
ideário de cultura difundido em nossa sociedade é essencial
para que possamos
falar de uma sociedade democrática,
e
assumir
dessa
forma uma prática
coerente. Para isso
nossos esforços devem
direcionar-se
em desconstruir, em
nosso espírito e na
sociedade, a ideia de
cultura como objeto.
	
É necessário
repensarmos
essa
terminação de cultura como mercadoria, pois ela é segregadora, e faz com
que existam níveis
de cultura e distinção entre aqueles
que possuem cultura e os outros que
dela são destituídos. Por isso, ao repensarmos a noção
de cultura desde a
própria condição da
existência humana,
estaremos indiretamente contribuindo
para repensar a distinção de classes.
Isto porque
desde essa concepção de cultura
como
mercadoria, teríamos que
somente aqueles
que possuem bens
culturais, seriam
cultos;enquanto
que aqueles que
não possuem condições financeiras
para
possuí-los,
não têm cultura.
	 Para
que
torne
possível
redimensionar a
noção de cultura
é necessário considerar todos os
momentos do processo produtivo e
não somente ao
produto (o bem)
cultural que é seu
resultado. A concepção que nos
guia em nossas
atividades extensionistas, é aquela que desloca a
ideia de cultura
como mercadoria,
para uma concepção de cultura que
diga respeito diretamente à relação
que o homem estabelece com o
meio onde vive
– meio no qual
ele estabelece as
relações
sociais
que propriamente
o constitui.
	
Portanto a
obra (enquanto o
produto cultural elaborado nas relações
sociais entre homens) é aquela
que exprime exatamente o próprio trabalho enquanto processo e
resultado.
	
Um projeto

de cultura explicito
através das dimensões da memória e
identidade
	
O termo cultura diz respeito de
ao conjunto de saberes, crenças, leis,
costumes e todos os
outros hábitos e modos de vida de um
povo. De origem latina, a palavra cultura
deriva do verbo colo,
significando, “eu cultivo”, referenciando
particularmente, o
cultivo do solo e da
terra, sendo, portanto, o cuidado que se
mantinha com aquilo que se pretendia cultivar. Quando
se pensa em cultura, pensa-se em um
processo que vem
sendo
trabalhado
há muitos anos, há
séculos, que se recebe e se transmite
de geração a geração.
	 Do
mesmo
modo a palavra cultus, diz respeito ao
verbo colo, que traz
em si a determinação
de cultura que nos
interessa, pois nos
remete a importância da memória no
processo de constituição da identidade do individuo. A
cultura é compreendida como o conjunto de técnicas, práticas e valores que se
devem transmitir às
novas gerações. No
uso cotidiano, falamos em memória
nos referindo ao arquivamento de fatos
passados, a “faculdade de reter as
ideias,
impressões

e
conhecimentos
adquiridos anteriormente”. Dessa forma, lembrar é um
fenômeno individual. Porém, podemos compreender a
memória fora de
seu conceito usual,
como um fenômeno
coletivo; a memória
como o fruto da construção coletiva e
submetida a transformações e mudanças constantes.
	
Se a cultura é algo que se
busca transmitir às
novas gerações, e
necessário que tenhamos um projeto,
um caminho a oferecer as “novas gerações”, e isso acontece, na junção do
que foi com o que
é, e o que se pretende ser, da mesma
forma, o ponto de
encontro entre passado, presente e futuro. Por isso, Bosi
nos fala sobre o verbo cultus, não sendo
somente a lembrança do labor presente, mais do conjunto de coisas que
possibilitaram
que
esse labor, se tornasse presente, e de
um projeto implícito
na sua realização. A
respeito disso o historiador Alfredo Bosi
em seu livro Dialética da Colonização
nos diz:
	
Quando os camponeses do Lácio chamavam culta às suas plantações, queriam dizer algo
de cumulativo: o ato em si de
cultivar e o efeito de incontáveis tarefas, o que torna o
particípio cultus, esse nome
que é verbo, uma forma sig-

nificante mais densa e vivida
que a simples nomeação do
labor presente. O ager cultus, a
lavra, o nosso roçado (também
um deverbal), junta a denotação
de trabalho sistemático a, qualidade obtida, e funde-se com
esta no sentimento de quem
fala. Cultus é sinal de que a sociedade que produziu o seu alimento já tem memória. (BOSI,
1992, p.13).

	
Nesse processo
a identidade ganha seu
lugar; pois, da mesma
forma que nos identificamos com um lugar marcado por uma
experiência individual, também acontece
com as experiências
coletivas que ganham
um aspecto marcante
para um determinado
grupo, fazendo com
que indivíduos se identifiquem
e
tenham
coesão a partir de experiências e vivências
comuns.
	 No
dicionário
Aurélio, identidade é
definida como:
	

1. Qualidade de idêntico; 2.
Conjunto de caracteres próprios
e exclusivos de uma pessoa:
nome, idade, estado, profissão, sexo, defeitos físicos, impressões digitais, etc.; 3. O aspecto coletivo de um conjunto
de característicos pelas quais
algo é definitivamente reconhecível, ou conhecido. (FERREIRA, 2004, p.1066).

Identidade é aquilo
que faz com que uma
coisa seja exatamente
aquilo que ela é, e não
seja outra coisa. Desta forma, a identidade
só pode ser concebida
em comparação com
o diferente: “eu sei o
que sou à medida que
percebo que sou diferente, desse ou daquele
outro”.

9
Assim também
é possível a construção da identidade de grupo. Isto
acontece
quando
percebo que divido com outras
pessoas a mesma
origem ou os mesmos costumes. É
esse sentimento de
compartilhamento
que faz com que eu
me sinta integrante
daquele grupo.
	
Essa noção
de
identificação
nos remete novamente para a ideia
de cultura como
“cultivo de”, pois eu
cuido e busco manter e preservar aquilo do qual eu faço
parte, onde consigo
me perceber numa
relação de semelhança, no qual eu
me reconheço.
Desenvolvimento
	
A Educação
Patrimonial
Com o processo de
modernização das
cidades, percebese
a
constante
desvalorização
e
desconhecimento em relação ao
patrimônio cultural.
Portanto, desde
que em 1930 foi
criado o Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN),
uma nova percepção em relação a
patrimônio,
ampliou
os
instrumentos e meios de
atuação, e estão
diretamente aliados
á criação das instancias estaduais

10

e municipais de
preservação.
	 O
campo
de educação patrimonial no Brasil
tem uma produção
acadêmica
ainda
incipiente, são muitas as publicações
utilizadas em ações
de educação patrimonial - e, em sua
maioria, essas publicações, não levam
em consideração o
aspecto central da
existência humana
– que é o fato de
ela estar num processo contínuo de
realização que só
acaba com a morte.
Dentre os trabalhos
acadêmicos
que
discutem o tema,
a maioria trata de
atividades pontuais
e estão ligadas a
uma análise circunscrita de casos. 	
	
Embora a educação patrimonial
seja
consensualmente considerada
como peça chave
para uma política
pública efetiva de
preservação
do
patrimônio cultural,
ainda é um tema
pouco
estudado,
principalmente se
tratando de práticas institucionais.
	 Dentro
da
temática, a educação patrimonial
pode ser basicamente
entendida
como um processo
durável que busca
levar os indivíduos
a um processo acionado de conhecimento, apropriação
e valorização do
patrimônio cultural,

com o intuito de que
sejam agentes da
preservação. Neste
aspecto, devemos
pensar o patrimônio
de forma ampliada. 	
	
As escolas ao
longo dos tempos
estão tendo sua estrutura depredada,
e
desvalorizada
dia após dia, pelos
seus próprios beneficiários, com isso
acreditamos
que
para a efetivação
da Educação Patrimonial no contexto
escolar
devemos
partir da realidade
dos alunos, possibilitando sua participação nas soluções
dos problemas.
“Chamamos de Educação
Patrimonial o processo
permanente e sistemático
de trabalho educativo, que
tem como ponto de partida
e centro o Patrimônio Cultural com todas as suas
manifestações.”
(GRUNBERG, 2007, p. 02).

	Consideramos a partir do
conceito de educação
patrimonial, que esse tipo
de ação utiliza os
bens culturais como
fonte primária do
conhecimento. Gerando um diálogo
permanente entre
os indivíduos e os
bens culturais. Portanto, o maior desafio é fazer com
que o individuo crie
o hábito de valorizar e preservar
o patrimônio cultural, pondo em
prática a própria
noção de cidadania.
Fazendo com que

as pessoas possam desenvolver um conhecimento crítico e uma apropriação consciente de
seu patrimônio. 		
	
Um fator indispensável no processo
de preservação sustentável desses bens
culturais é o fortalecimento do sentimento
de identidade e lugar no
espaço estudado.
	
Uma das maiores
dificuldades encontradas em se estabelecer
um ensino eficiente em
relação a patrimônio é
o complexo relacionamento entre a comunidade e os órgãos de
preservação. O IPHAN
na maioria dos casos é
tachado como um inimigo da sociedade,
um dos principais motivos deste impasse é
o desconhecimento das
pessoas sobre suas metodologias e ações utilizadas por esse órgão do
governo federal. Acredita-se que com a realização de boas práticas
educativas
voltadas
para a comunidade,
esse quadro pode ser
revertido.
	
Apesar da importância do tema retratado,
na
história
nunca houve uma visão
e atuação por parte do
IPHAN e outros órgãos
de preservação patrimonial que colocasse
como política publica
exclusiva visando a educação patrimonial, ou
mesmo como um processo de importância
equivalente ás demais
atividades
essenciais
por eles desempenhadas (tombamento, fiscalização, identificação,
etc.).
Assim,
a
educação
patrimonial vem sendo
tratada
apenas
como
atividade
complementar no
currículo escolar,
que se reflete diretamente no Iphan, e isso ocorre
devido a sua pouca estruturação e
institucionalização
no setor responsável pela educação patrimonial.	
	
Além disso,
a
comunidade
dá ao patrimônio
cultural
pouca
importância
por
não possuir um
entendimento
aprofundado em
relação aos bens
culturais.
	
Segundo o
IPHAN:
“O Patrimônio material
(...) é composto por um
conjunto de bens culturais
classificados
segundo
sua natureza nos quatro Livros do Tombo: arqueológico, paisagístico
e etnográfico; histórico;
belas artes; e das artes
aplicadas. Eles estão divididos em bens imóveis
como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos
e paisagísticos e bens individuais; e móveis como
coleções arqueológicas,
acervos museológicos,
documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e
cinematográficos’’. 	

(Disponível em: http://
www3.iphan.gov.br/ bibliotecavirtual/
?page_
id=283)

	Enquanto
que o Patrimônio
Imaterial:
	
“O Patrimônio
Imaterial é transmitido
de geração em geração

e constantemente recriado pelas
comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua
história, gerando um sentimento
de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o
respeito à diversidade cultural e à
criatividade humana’’. (Disponível

em:
http://www3.iphan.gov.br/
bibliotecavirtual/?page_id=283,
acesso em 11 de abril de 2011) .

	
Por sua vez, a
UNESCO define como
Patrimônio Cultural Imaterial:
“(...) as práticas, representações,
expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares
culturais que lhes são associados
- que as comunidades, os grupos
e, em alguns casos, os indivíduos
reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”.
(Disponível em http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/
world-heritage/cultural-heritage/,
acesso em 13 de abril de 2011).

	
A proposta metodológica de educação
patrimonial foi introduzida no Brasil em 1983,
balizada por um trabalho
educacional já desenvolvido na Inglaterra,
ao ser desenvolvido foi
adaptada aos contextos
patrimoniais locais. Em
alguns estados este trabalho está bem embasado e se solidifica, no
Rio Grande do Sul, por
exemplo, o tema esta
sendo trabalho por Maria
Beatriz Machado (2004),
José Itaqui entre outros.
Em suas pesquisas, eles
enfatizam a importância
de orientar os professores do ensino fundamental e médio de como
trabalhar e aplicar esta
metodologia no ambiente escolar.
	
Apesar de estar
sendo muito bem sucedida a atividade reali-

zada no Rio Grande
do Sul, esse é um
processo que está
ocorrendo de forma
isolada repercutindo
apenas nas regiões
onde
se
desenvolvem. A proposta
consiste na formação
de grupos de pesquisas para desenvolver
uma forma contínua
de projetos e ações,
que possam ser aplicadas
igualmente
em todo o território
brasileiro.
	 Existem
diversas formas de
se trabalhar com o
patrimônio cultural
dentro de sala de
aula,
articulando
todas as disciplinas do currículo escolar, matemática,
história,
geografia
e ciências podendo
ser elaborados exercícios e textos relacionados à educação
patrimonial. O importante neste caso
é estabelecer a interdisciplinaridade,
com isso os alunos
podem
desenvolver por si só ou juntamente com seus
professores, ações
dentro da escola
que incentivam a
multiplicação deste
conhecimento. Um
ótimo exemplo do
que pode ser gerado
é a construção de
um memorial, um
pequeno
museu,
ou ainda uma roda
de “contação” de
histórias, fazer oficinas e várias outras
atividades, a partir
destes métodos os
alunos desenvolvem

uma visão critica.
	
Ações realizadas
conjuntamente por todos os professores dentro das escolas podem
gerar atividades muito
interessantes - como
investigar em forma de
pesquisa monumentos
da cidade em que mora
isso ajuda a enfatizar
o patrimônio coletivo
e a memória coletiva,
além disso, investigar
a própria casa como
patrimônio
cultural
através de desenhos.
Essa
programação
diferenciada promove
uma identidade em
relação ao patrimônio
coletivo e gera um respeito em relação ao
patrimônio cultural.
	

A
transversalidade
mantém uma relação com a
interdisciplinaridade, bastante
difundida pela Pedagogia. São
maneiras de se trabalhar o
conhecimento buscando uma
reintegração de aspectos que
ficaram isolados uns dos outros
pelo tratamento das disciplinas
(MORAES, s. d., p. 7-8).

	
A Educação patrimonial no ensino de
história é outra forma
que viabiliza formação
de pessoas capazes de
conhecer a sua própria
historia cultural. Levando a educação para
este contexto nos faz
perceber que os indivíduos podem se diferenciar um dos outros,
e com isso podem visualizar a própria vida,
a própria cultura, a
própria história e, construir a sua memória
afetiva, além disso,
sua identidade cultural.

11
O patrimônio
cultural vem sofrendo grandes prejuízos
com a modernização
- um exemplo disso
ocorre aqui em São
João del Rei, onde
durante os anos de
1999 e 2001,muitos casarões históricos foram derrubados para dar lugar
a supermercados, a
casas de venda de
materiais de construção. Outro exemplo
aconteceu
em Araxá-MG, onde
uma praça com mais
de cinqüenta anos
totalmente arborizada, foi substituída por um calçadão
sem nenhuma arborização e sequer
bancos para as pessoas sentarem.
	
Outra questão
muito importante a
ser trabalhada é a
questão da identidade local nas escolas de ensino fundamental. Os alunos
aprendem
muitas
coisas relacionadas
ao mundo, e ao Brasil; mas, na maioria
das vezes, o ensino
é muito generalizado, fazendo com a
história do município
ao qual esses alunos
pertencem,
fique
esquecida o que
causa no individuo
um afastamento em
relação as suas origens perdendo de
vista o processo formador de sua identidade social.
	
Muitos estudiosos acham que é
mais fácil trabalhar
o patrimônio cul-

12

tural no âmbito disciplinar das ciências
humanas, por ela
estar muito próxima
do tema. Em outras
áreas do currículo, o
professor tem certa
dificuldade, porque
o tema não está
presente em suas
analises e reflexões
cotidianas. Contudo,
isso é uma limitação
e não pode ser levada ao pé da letra,
com a criatividade
dos pesquisadores e
professores podem
ser
desenvolvidas
atividades
dentro
da área de exatas,
ciências biológicas,
das ciências da terra, etc..
Metodologia

	
	
Através
das
atividades
extensionistas
desenvolvidas em nosso
projeto (nas Oficinas
de Educação Patrimonial realizadas na Escola Municipal Maria
Tereza bem como nas
oficinas realizadas no
espaço do Fortim dos
Emboabas localizado
no Alto das Mercês)
foi possível perceber
que as pessoas que
participaram dessas
atividades não se
reconhecem como
agentes
culturais
dentro da sociedade
da qual fazem parte.
Isto porque elas
reconhecem como
patrimônio cultural,
apenas aquilo que é
registrado e reconhecido pela chamada cultura erudita.
	 A
distinção

entre cultura popular e cultura erudita
recorrente em nossa
sociedade,
produz
efeitos
catastróficos na construção
da identidade dessas
pessoas. Mesmo expressões fortes como
o congado ou os ofícios e saberes passados de geração
em geração, se tornam eixos de resistência
de
suas
raízes na sociedade,
não são reconhecidos
como tal.
	
Por isso se justifica nosso trabalho
de responder a demanda da lei municipal n° 3.826/2004 que
torna obrigatório o ensino de educação patrimonial nas escolas da rede
municipal. Nosso trabalho é um tanto desafiador
quando aos métodos,
pois eles não podem ser
os métodos tradicionais
que são utilizados para
o ensino da chamada
cultura erudita.
	
Pela
característica mutável do
patrimônio imaterial
não é de nosso interesse
resguardálo tal como é (como
um objeto pronto e
acabado), mas sim
preservá-lo
através
de métodos que se
sintetizam exclusivamente nas vivencias
que A C ultura popular nos oferece. Dar
luzes para que ela por
si mesma se mostre e
se mantenha. Somos
receptáculos dessas
vivências.
	
	
“Se o sistema social é democrático se o povo

vive em condições digamos
razoáveis de sobrevivência ela próprio saberá gerir
as condições para que a
cultura seja conservada,
não pela cultura em si, mais
enquanto expressão da comunidade de grupo e de indivíduos em grupo’’. (BOSI,
Alfredo, 1987, pg. 44).

	
	
Atuando principalmente em São
João del Rei e região
o programa de extensão
“Embornal
de Causos - segundo
ano” é o desdobramento do projeto de
extensão “Embornal
de Causos a imagem
e o som, a escrita,
e o universo virtual
como veículo de registros e preservação
do patrimônio imaterial” sob a orientação da Dra. Glória
Ribeiro, junto com
os bolsistas de extensão Isabela Alline
Oliveira e Etienny
Trindade, e a bolsista atividade Daniela
da Conceição Diniz.
Como já foi mencionado, o trabalho
consiste
atender
á lei municipal n°
3.826/2004 que dispõe sobre a criação do
Programa
Municipal
de Educação Patrimonial em suas escolas
municipais - buscando
através do referencial
teórico
pesquisado,
capacitar os professores para o ensino da
educação patrimonial
dentro das escolas,
voltado para a cultura
regional e local.
Neste sentido, o programa busca utilizar as novas
mídias e redes sociais como ferramentas trazendo para
os professores do
ensino fundamental
a narrativa oral, saberes e fazeres embutidos na cultura
local.
	 Nosso
trabalho também teve
como
produto
a
produção
cartilhas para as escolas
públicas de ensino
fundamental,
os
bolsistas desenvolveram três cartilhas,
uma de culinária,
outra de causos e a
outra de festas religiosas; as quais
ainda
estão
em
processo de avaliação – recebemos a
avaliação apenas de
uma das escolas da
região, como poderá
ser observado nos
anexos do nosso
relatório final.
	 O
material
possui jogos, exercícios para serem
aplicados dentro de
sala de aula, textos e imagens. Cada
cartilha possui uma
peculiaridade diferente: a cartilha de
culinária contém receitas de São João
del Rei e região,
relatos de como o
queijo é fabricado
artesanalmente,
como são fabricados os fornos a partir da utilização do
barro e das fezes de
gado; a cartilha de
causos tem alguns
causos
transcritos

das entrevistas realizadas com moradores
de diferentes regiões,
além da bibliografia de
cada um dos contadores; e por fim a de festas religiosas descreve
manifestações religiosas presentes em São
João Del Rei.
	
Foram realizadas durante o ano de
2013 em parceria com
o programa de Implantação do Centro de
Referência de Cultura
Popular de São João
del Rei, promovemos
atividade
conjuntas
como foram as oficinas
do Inverno cultural,
contando com cerca
de 6 oficinas realizadas
no Fortim dos Emboabas entendendo que
por ser tratar de uma
população de risco ,
que entretanto mantêm uma tradição de
cultura popular muita
arraigada, nossos esforços em atuar principalmente com as crianças se justifica pelo
fato de as oficinas serem para as crianças do
Alto das Mercês uma
possibilidade de acesso, diversão e espaço
de lazer que a comunidade por si só não tem
condições de oferecer.
	
Também foram
oferecidas Oficinas de
Educação
Patrimonial desenvolvidas dos
dias 4 a 8 de Março de
2013 na Escola Municipal Maria Tereza, tendo
como público atingido
cerca de 150 alunos do
ensino fundamental.

to importante para
a
preservação
do
patrimônio
cultural,
as nossas ações ainda se mostram como
uma forma pontual
de se aplicar a educação patrimonial. 	
	
Para que um
trabalho como este
possa se desenvolver
de forma continua no
ensino fundamental
precisaríamos de uma
parceria entre o IPHAN, o governo federal e os órgãos locais
de cada município. O
que observamos na
analise deste conteúdo é que as ações são
desmembradas umas
das outras, não tendo
assim um elo entre as
iniciativas que já estão sendo produzidas
e os órgãos públicos. 	
	
No entanto, o
IPHAN ainda é desorganizado em relação
à educação patrimonial e não existe um
interesse por parte
dos professores em
aplicar o assunto dentro de sala de aula,
criando uma barreira
a este processo.
	
O
patrimônio
cultural ainda se encontra vulnerável. A
ideia que se passa
entre a juventude é
que não existe o novo
sem destruir o velho,
e isso faz com que a
memória caia no esquecimento.
Como
podemos
lembrarnos do passado, das
histórias contadas por
nossos avôs sem passar de geração a gerConclusão
ação? Na atual pós	 Embora
seja modernidade o ser
um
trabalho
mui- humano está sendo

tratado como objeto, uma boa parte
de idosos que fizeram parte da história
são abandonados e
isolados em locais
fora da área de convívio social intenso
(como é o caso dos
abrigos e albergues),
e não paramos para
pensar que através
deles as manifestações
culturais
vem sendo passadas de geração para
geração.
	
Portanto, necessitamos de uma
mudança radical em
relação ao patrimônio,
e por isso justificamos
neste estudo a importância da educação
patrimonial. Esta ação
pode ser comparada
como a “luz no fim
do túnel” porque a
partir dela os indivíduos podem repensar a relação entre a
memória e sua própria
identidade social.

13
MINAS GERAIS: MODOS PROPRIOS DE VIVER E COMER
uma verdadeira colcha de retalhos de influências indígenas, africanas e portuguesas. A mandioca,
o milho, o amendoim, a abóbora, o
feijão são heranças indígenas. O arroz, a pimenta malagueta, o quiabo
foram trazidos pelos africanos. O
trigo, a cana de açúcar, as criações
de animais para consumo da carne,
os doces e os queijos vieram com
os colonizadores. Os modos de
preparo que hoje conhecemos têm
contribuições de ambos.
	
Ingrediente que vem de um
lado, tempero que vem de outro e
modo de fazer de outro, novas mis-

turas, adequações foram formando
o que hoje se conhece por culinária
mineira: pão de queijo, broa de fubá,
café, pernil de porco assado, bife de
boi, angu, couve. E as combinações!
Arroz com feijão, queijo com goiabada - o famoso Romeu e Julieta-, café
com leite, frango com quiabo, pão
com manteiga, canjiquinha com costelinha, carne com farinha, pinga com
torresmo... Mas qual a importância de
cada um desses elementos no cotidiano, na economia e na nutrição dos
mineiros? Como são produzidos cada
um deles? É o que tentaremos abordar
a partir de agora.

Isaac Josué da Silva

As cozinhas são lugares
privilegiados, o lugar do encontro, da confraternização, da conversa durante o café da manhã e
o almoço. À noite então, na ampla cozinha, à beira do fogão à
lenha, é a hora de beber uma pinga e “quentar” fogo para espantar o frio. Acopladas aos fogões
à lenha existem as serpentinas,
um sistema no qual a água passa
por tubulações metálicas que vão
ao interior do fogão e entram em
contato com o fogo, esquentando
a água para um ótimo banho.
	
A culinária mineira é

14
14
MINAS GERAIS: MODOS PROPRIOS DE VIVER E COMER
MANDIOCA: A FARINHA E O POLVILHO
	
A mandioca é uma
planta nativa do Brasil
que já era muito utilizada
pelos povos indígenas
quando os portugueses
aqui chegaram. Luís da
Câmara Cascudo em seu
História da Alimentação
no Brasil, faz o reconto
de uma das lendas que
explica o surgimento dessa planta:
	

	
‘A filha de um chefe
indígena engravidara sem contato
masculino, como em sonho comunicara um homem branco ao pai
furioso que se acalmou. Nasceu
uma menina deslumbrante, de
nome Mani, morta ao fim de um
ano, sem doença e sem dor. Do
túmulo surgiu arbusto novo. A
terra fendeu-se, como mostrando
o corpo da morta. Encontraram
raízes que eram as primeiras man-

diocas, fortificantes e poderosas.
Mandioca de Mani-oca, a casa de
Mani’. (CASCUDO, 2004)

A mandioca é o alimento
mais popular no Brasil: de
norte a sul, cozida, frita,
na forma de farinha ou de
polvilho, ela é consumida
por todas as camadas sociais.
‘Presente tanto nos
pratos cotidianos mais simples
quanto nos mais elaborados, ocupa
lugar de destaque no sistema culinário nacional e regional desempenhando em algumas regiões do
país relevante papel na construção
de identidades culturais’. (PINTO,
????)

A farinha é o
seu principal produto: seja
fina ou grossa, torrada ou
crua, pura ou temperada.
É ainda produzida arte-

sanalmente nas casas de
farinha, principalmente
no norte e nordeste de
Minas. Além da farinha,
um outro subproduto da
mandioca que é amplamente utilizado é o polvilho. Também conhecida
como goma, o polvilho é
a fécula da mandioca, ou
seja, o amido extraído
dessa planta. Ele pode
ser obtida tanto industrialmente quanto em casas
de farinha. A diferença
do polvilho azedo em
relação ao doce é que o
primeiro sofre uma fermentação antes do processo de secagem, que é
obrigatoriamente solar.
Ele é a base de algumas

das quitandas mineiras mais tradicionais
como as rosquinhas
quebra-quebra, o biscoito de polvilho e o
pão de queijo. Aliás,
o pão de queijo, como
o próprio nome já diz,
tem como segundo
ingrediente mais importante o queijo, que
é um dos principais
produtos do leite.

O COBRE: NO TACHO E NO ALAMBIQUE
Os utensílios em cobre são em sua maioria
produzidos
artesanalmente e são amplamente
utilizados na feitura de
doces. De cobre é também grande parte dos
alambiques.
As doceiras acreditam
que os doces de frutas
feitos em tachos de cobre preservam mais a
cor da fruta e são mais
saudáveis quando comparados aos doces feitos
nos tachos de alumínio.
Além disso, os doces
feitos em tacho de cobre
ganham um sabor par-

ticular.

O tacho de cobre
deve ser bem esfregado
com limão e sal para tirar o “zinabre”, ou seja,
o azinhavre, “camada
verde de carbonato de
cobre que se forma nos
objetos de cobre expostos ao ar e à umidade”
(FERREIRA, 2004), só
depois ele deve ser lavado com água e sabão.
Apesar do uso do
cobre ser tão tradicional
em Minas Gerais, uma
restrição da Vigilância
Sanitária Estadual de
Minas Gerais tem inco-

modado as doceiras e
doceiros. Baseada em
uma resolução da Anvisa - Agência Nacional
de Vigilância Sanitária,
o órgão estadual proibiu
o uso de utensílios de
cobre na produção alimentícia. Segundo a
Anvisa, o excesso de cobre no organismo causa
problemas neurológicos
e psiquiátricos, perda
de glóbulos vermelhos
e problemas no fígado,
nos rins, no sistema nervoso e nos ossos.

15
MINAS GERAIS: MODOS PROPRIOS DE VIVER E COMER
LEITE, QUEIJO E MANTEIGA: DO CURRAL PARA A MESA
	
O estado de Minas Gerais é disparado o
maior produtor de leite
do Brasil. É isso o que
mostra o gráfico abaixo,
disponibilizado
pela
Embrapa Gado de Leite.
O leite é um produto
altamente perecível, por
isso deve ser processado
rápido. Como grande
parte dos produtores de
leite são pequenos proprietários rurais, existe
no estado de Minas Gerais muitas cooperativas e
pequenos laticínios, em
ambos os casos o leite
é recolhido por caminhões e levado para esses
lugares onde é pasteurizado ou transformado
em manteiga, queijos
e iogurtes. No entanto,
muitos desses produtos
são produzidos de forma
artesanal nas propriedades mesmas.

	
Para produzir a
manteiga é necessário
antes recolher a nata, ou
seja, a parte mais gordurosa do leite que sobe quando deixado em repouso. A
nata resfriada deve então
ser batida. Nas fazendas
mineiras é comum pendurar a lata de nata em
uma árvore com cordas e
sacudir até virar manteiga,
tarefa que muitas vezes é
executada pelas crianças.
Quando o barulho do
líquido muda ao bater na
lata é porque a nata se
separou em manteiga e
soro. A manteiga é muito
utilizada na culinária mineira no preparo de bolos,
broas e rosquinhas. E o
soro que sobra é aproveitado na alimentação dos
animais.
O queijo talvez seja
o produto que mais faça
referência a Minas Gerais.

O Modo Artesanal de
fazer o Queijo Minas foi
registrado pelo IPHAN
em 2008 no Livro de
Registro dos Saberes:

Saberes(IPHAN).

(...) O modo artesanal de fazer
queijo constitui um conhecimento tradicional e um traço
marcante da identidade cultural dessas regiões. (...)

LEITE INTEGRAL → FILTRAÇÃO ATRAVÉS DE
TECIDOS → ADIÇÕES DE
PINGO E COALHO LÍQUIDO → COAGULAÇÃO →
QUEBRA MANUAL DO
COALHADA → REPOUSO
E DECANTAÇÃO POR 15
MINUTOS → DESSORAGEM DE 2/3 DO VOLUME DO LEITE EM SORO
→ COLETA DA MASSA
NO FUNDO DA TINA →
MOLDAGEM EM FÔRMAS
SOBRE MESA DESSORADORA → PRENSSAGEM
MANUAL COM “FOFAS”
REPETIDAS → PRIMEIRA SALGA → COLETA
DO PINGO → SEGUNDA
SALGA → REMOÇÃO
DO EXCESSO DE SAL
→
DESENFORMAGEM
E “GROSAGEM” COM
RALO → CURTIMENTO
EM PRATELEIRAS À TEMPERATURA
AMBIENTE
DE 5 A 7 DIAS.
(FURTADO, 1993; REIS,
1998)

	
O modo próprio
de fazer queijo de Minas
sintetiza, no queijo do
Serro, no queijo da Canastra, no queijo do Salitre ou
Alto Paranaíba, ou ainda
Cerrado, um conjunto de
experiências, símbolos e
significados que definem
a identidade do mineiro,
reconhecida por todos os
brasileiros. Por se tratar de
um modo de fazer enraizado na comunidade mineira,
o Modo Artesanal de fazer
Queijo Minas é considerado um patrimonio imaterial dos mineiros registrado
no Livro de Registro dos

	
O processo de
fabricação desse tipo
de queijo segue basicamente o seguinte fluxograma:

	
Luís da Câmara
Cascudo publicou em 14
de junho de 1959 na Folha de São Paulo o texto
“O queijo no céu” no
qual narra suas investigações acerca da ligação
entre uma expressão
popular e uma procissão da cidade do Serro –
MG.
	
A
expressão

16
MINAS GERAIS: MODOS PROPRIOS DE VIVER E COMER
A MADEIRA: NA GAMELA E NA COLHER DE PAU

Continuação
“Aquele vai cortar
o queijo no céu!” se
refere ao casal que
sempre guardou fidelidade e nunca se arrependeu do matrimônio.
A procissão de cinzas
em Serro tem entre os
andores, o andor dos
bem casados, no qual
figura a imagem de um
casal de santos e um
enorme queijo.
	
	
“A refeição comum
no paraíso deve ser raro prêmio maravilhoso para uma
fidelidade que nem um pecado interrompeu. O queijo,
comum e habitual na região,
reapareceria no céu numa

Etienny Natya Fonseca F. Trindade

homenagem reconstituitiva
do ambiente doméstico modelar”. (CASCUDO, 1959)

	
	
E falando em
queijo logo se lembra da goiabada, doce
tradicional que traz
elementos muito característicos do nosso
estado: o açúcar, a
colher de pau e o tacho de cobre.

	
A gamela é uma
espécie de bacia larga e
baixa, podendo ser redonda ou oval, esculpida em madeira. É essencial no preparo do pão
de queijo, pois por ser
pesada e “aberta”, permite que a cozinheira
sove melhor o polvilho,
para preparar o pão de
queijo. É usada também
no preparo de pães e
rosquinhas.
	
A colher de pau,
por sua vez, é utilizada
no preparo de angu e
doces. Isto porque o
mexer contínuo com
colher de metal desgas-

taria o tacho ou a panela liberando resíduos no alimento.
As madeiras mais usadas na
confecção das gamelas e colheres de pau são o caju, a goiaba, a emburama e o jenipapo.
Passada de geração em geração, a técnica usada pelos artesãos para esculpir as peças
conta com instrumentos como
o enxó, a grosa e a lixa.
	
Depois de prontas,
as peças passam por um processo de curtimento com sebo
de vaca para que não ganhe
rachaduras com o uso. Uma
gamela ou uma colher de pau
bem feita podem durar até 20
anos!

CANA DE AÇÚCAR: NA CACHAÇA E NOS DOCES
	
O Brasil é o
maior produtor de
cana-de-açúcar, açúcar e álcool etílico do
mundo. A planta foi
introduzida no Brasil
no período colonial e é
hoje um dos principais
produtos brasileiros.
	
A cachaça é
uma bebida tipicamente brasileira. Seu
nome tem origem
no termo espanhol
cachaza que designava
um vinho inferior. Ela
foi, por muito tempo,
considerada bebida de

pobres, mas tem caído
cada vez mais no gosto
das outras classes. Também conhecida como
pinga, caninha, garapa,
a cachaça é a aguardente
produzida da destilação
de um fermentado de
cana de açúcar moída. A
Constituição Brasileira
faz a seguinte diferenciação entre cachaça e
aguardente de cana:
Art. 52. Aguardente de cana é a
bebida com graduação alcoólica
de trinta e oito a cinqüenta e quatro por cento em volume, a vinte
graus Celsius, obtida de desti-

naqueles em que o cultivo da cana-de-açúcar
não é favorável. Ela
pode ser produzida tanto
em destilarias industriais
quanto em alambiques
artesanais. Considerando ambas as formas de
produção de cachaça,
temos os seguintes dados: São Paulo é o maior
produtor, com 54% de
toda a produção. Pernambuco é o segundo
maior produtor, com
	
A cachaça é pro- 12%, Ceará é o terceiro,
duzida em todos os Es- com 11%, seguidos de
tados brasileiros, mesmo Rio de Janeiro (8%), Milado alcoólico simples de canade-açúcar ou pela destilação do
mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas
por litro, expressos em sacarose.
Art. 53. Cachaça é a denominação
típica e exclusiva da aguardente
de cana produzida no Brasil, com
graduação alcoólica de trinta e
oito a quarenta e oito por cento
em volume, a vinte graus Celsius,
obtida pela destilação do mosto
fermentado do caldo de cana-deaçúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser
adicionada de açúcares até seis
gramas por litro.

17
MINAS GERAIS: MODOS PROPRIOS DE VIVER E COMER

nas Gerais (8%), Goiás
(8%), Paraná (4%), Paraíba (2%) e Bahia (2%).
	
A produção de
cachaça em alambiques,
de modo artesanal está
concentrada nos estados de Minas Gerais,
Rio de Janeiro, Bahia e
São Paulo, sendo que os
dois primeiros são responsáveis por cerca de
metade da produção de

cachaça de alambique do
Brasil, sendo Minas Gerais o principal produtor.
O processo artesanal de
fabricação da cachaça
segue as seguintes etapas: moagem, filtragem,
fermentação, destilação
em alambiques de cobre e, por último, envelhecimento em barris
de madeira. O cobre e a
madeira desempenham,

Fonte: Martinelli et al. (2000).
no resultado final da
cachaça, um importantíssimo papel, pois conferem o sabor específico da
cachaça produzida artesanalmente.

A PANELA DE PEDRA SABÃO
Isabela Alline Oliveira
	
As panelas de pedra sabão têm também
um importante papel na
culinária mineira, podendo ser utilizadas no
preparo de arroz, feijão,
frango ensopado, legumes cozidos, etc. As
panelas são esculpidas
pelos artesãos muitas

18

vezes em pequenas oficinas no fundo de suas casas. A técnica, antiga e
tradicional, vai sendo
passada de pai para filho.
Em Minas Gerais, as
principais cidades que
mantêm a centenária
fabricação de panelas
de pedra sabão são Mata

dos Palmitos, Divinópolis, Cláudio, Ouro Preto,
Mariana,
Congonhas,
Santa Rita de Ouro Preto
e Cachoeira do Campo.
Os dois últimos são distritos de Ouro Preto, e
Santa Rita é considerada
a capital mundial da pedra sabão
RECEITAS TRADICIONAIS EM
SAO JOÃO DEL REI
Receita de:
Vera Lúcia Rezende
tem 48 anos, é professora, natural da cidade
de Luminárias – MG.
Aprendeu a fazer essa
goiabada com sua mãe,
pois desde a infância a
ajudava nessa tarefa. Da
mesma forma, ensinou a
seus filhos. Afirma que
a ajuda dos mais jovens
é de muita importância
principalmente na etapa
da colheita das goiabas,
pois eles sobem nas
árvores com mais facilidade e podem assim,
colher todas as goiabas
maduras do pé.

20

Ingredientes
Goiaba (1 medida)
Açúcar (1/2 medida)
Utensílios:
Moedor manual, tacho
de cobre, colher de pau e
caixeta de madeira.

Modo de Preparo

	
Utilize somente
goiabas maduras. Laveas, retire todas as sujeiras da casca (cabinho,
o outro lado, algum defeitinho que tiver...), não
descasque. Corte as goiabas ao meio e retire o
miolo. Separe os miolos
bons e jogue fora os miolos bichados. 		
	
No final desse
processo, você terá somente as poupas das goiabas, sem miolos e sem
defeitos na casca, então
as lave uma a uma. É im-

GOIABADA
portante retirar todas as
sementes, pois elas não
cozinham e prejudicam
seriamente a qualidade
do doce. Depois de lavar
as goiabas, deixe as de
cabeça para baixo para
escorrer bem a água, se
tiverem com muita água,
o doce espirra muito.
	
Depois
passe
as goiabas em uma
máquina de moer carne.
Depois de moer, meça
quanto dessa massa você
obteve. Para cada medida de goiaba, acrescente meia medida de
açúcar cristal. Coloque
o açúcar e a goiaba em
um tacho de cobre e
leve ao fogo mexendo
com colher de pau sem
parar. A colher deve ter
o cabo grande, pois em
certa etapa o doce espirra muito. Numa panela a

parte coloque os miolos, cozinhe bem, coe
e acrescente ao doce,
com a quantidade de
açúcar
correspondente.
	
O ponto do
doce é quando você
começa a ver o fundo
do tacho e começa a
fazer um barulhinho
de fritura no fundo.
Retire do fogo, bata
bem o doce para
engrossar mais e
coloque nas caixetas
de madeira, forradas
com plástico.
RECEITAS TRADICIONAIS EM
SAO JOÃO DEL REI
PÃO DE QUEIJO
Receita de
Vera Lúcia Rezende
tem 48 anos, é professora, natural da cidade
de Luminárias – MG.
Aprendeu a fazer o pão
de queijo com sua mãe
observando e ajudando
desde a infância. Em sua
casa o pão de queijo é
feito principalmente aos
fins de semana e quando
recebem visitas.

Ingredientes
1 Kg de polvilho azedo
4 copos grandes de leite
1 copo americano de
óleo
1 colher de sopa de sal
6 ovos
1 prato de queijo curado
ralado grosso

Utensílios

Gamela, assadeira

Modo de Preparo
	
Despeje o polvilho todo em uma gamela,
coloque meia xícara de
leite e sove bastante até
ficar bem fininho, sem
pelotinhas. Sovar é apertar pequenas quantidades de polvilho entre
a palma das mãos, com
força. Esse processo é
importante para o pão
de queijo ficar liso.
	
Quando o polvilho estiver bem fininho, leve ao fogo um
copo grande de leite, um
copo americano de óleo
e uma colher cheia de
sal. Logo que a mistura
ferver, escalde espal-

hando bem a mistura
sobre o polvilho. Pegue
uma colher grande e
misture para que o calor
da mistura entre em contato com uma quantidade maior de polvilho.
	
Acrescente seis
ovos inteiros e um pouco de leite e amasse. Vá
acrescentando leite aos
poucos, coloque o queijo
e continue acrescentando leite até chegar à
consistência ideal. Para
testar essa consistência,
lave a mão, seque-a e encoste-a na massa, a massa deve grudar na mão,
se não grudar, ainda está
dura. Unte as mãos com
óleo e enrole os pães de
queijo. Asse em forno
quente até dourar.

Fotos: Equipe Embornal

21
RECEITAS TRADICIONAIS EM
SAO JOÃO DEL REI
PÉ DE MOLEQUE COM RAPADURA
Receita de:
Maria de Fátima Diniz
tem 55 anos, é cozinheira, natural da cidade de
São Francisco de Paula –
MG. Aprendeu a receita
com uma patroa. Tem o
hábito de fazer essa receita mais na época das
festas juninas e durante
certo tempo, fazia o pé
de moleque para comercializar em Oliveira
– MG, cidade em que
mora atualmente.

Ingredientes

1 rapadura pura
1 pacote de amendoim

torrado e moído
1 copo de leite (250 ml)

Utensílios

Colher de pau

por completo e fique uma espuma grossa; junte o
amendoim de uma só vez; bata bem, até que o doce
comece a esfriar e endurecer; despeje sobre uma
superfície limpa (pedra ou assadeira), acerte bem
com uma espátula; corte e guarde em recipiente
tampado.

Modo de Preparo

	
Corte a rapadura com uma faca como
se faz com uma barra
de chocolate, leve ao
fogo junto com o leite
e mexa com a colher
de pau, sem parar, até
que a mistura fique
homogênea. Deixe a
mistura ferver, sem parar de mexer até que
a rapadura dissolva

BOLINHO DE FEIJÃO
Receita cedida por:
Márcia Sena
tem 54 anos é técnica
em Nutrição e Dietética,
mora em de Barbacena –
MG, sendo natural da cidade de Senhora de Oliveira– MG. Aprendeu a
fazer o bolinho de feijão
com sua avó e o faz aos
finais de semana, quando
a família está reunida.

22

Ingredientes

2 copos de feijão cozido
2 ovos
Salsinha
Cebolinha
Cebola branca picadinha
Sal a gosto
Farinha de trigo até o
ponto
1 colher (chá) fermento
em pó químico
Óleo para fritar

Modo de Preparo

	
Em uma tigela, coloque o feijão cozido, os
ovos inteiros, cebolinha, salsinha, cebola picada
e sal e mexa bem. Acrescente aos poucos o trigo,
até ficar no ponto de cair da colher, como bolinho
de chuva. Por último acrescente o fermento em
pó e mexa. Frite em óleo não muito quente, como
se fosse bolinho de chuva. Rende 20 porções
RECEITAS TRADICIONAIS EM
SAO JOÃO DEL REI
BISCOITO DE POLVILHO
Receita de:
Anunciação
Resende
tem 75 anos, é professora aposentada, natural
da cidade de Itumirim –
MG. Aprendeu a fazer o
biscoito de polvilho com
sua mãe. Ela lembra que
antigamente as mulheres
de uma mesma família
costumavam se reunir
em mutirão para fazer
grandes quantidades e
variedades de quitandas, que eram assadas
em fornos de areia ou de
tambor e armazenadas
em latas por um período

relativamente longo.
Uma das quitandas que
sempre eram feitas era
o biscoito de polvilho.

Ingredientes
1 Kg de polvilho azedo
2 copos de leite
1 colher de sopa de sal
1 copo de óleo
2 ovos inteiros
Água até atingir o ponto

Utensílios

Saquinho de confeitaria e assadeira

Modo de preparo
	
Sove bem o polvilho misturado com um
copo de leite e o sal. Ferva o outro copo de leite
junto com o copo de óleo
e escalde o polvilho. Espere esfriar e acrescente
os ovos. Amasse tudo
acrescentando água até a
massa virar um creme homogêneo mole.
	
Despeje a massa
em um saco plástico e
corte o cantinho do saco
na espessura que desejar
que fique os biscoitos,
lembrando que eles do-

bram de tamanho depois
de assados. Esprema a
massa em um tabuleiro
untado com óleo fazendo círculos fechados ou
vírgulas.
	
Asse em forno
médio, deixe secar bem
para não murchar.

Fotos: Equipe Embornal

23
RECEITAS TRADICIONAIS EM
SAO JOÃO DEL REI
BISCOITO DE POLVILHO
Receita de:
Márcia Sena
tem 54 anos, é técnica
em Nutrição e Dietética, mora em de Barbacena – MG, sendo
natural da cidade de
Senhora de Oliveira–
MG. Aprendeu a fazer
o doce com sua avó,
que carinhosamente a
ensinava no fogão à
lenha, explicando os
detalhes e enfatizando
que o importante acima
de tudo é o carinho e
dedicação que você
tem com aquilo que

está fazendo, e isto inclui o ato de cozinhar.
Márcia faz o doce de
leite aos finais de semana e principalmente em
datas comemorativas.

Ingredientes

Leite (1 medida)
Açúcar (1/2 medida)
Utensílios: Tacho de cobre e colher de pau

Modo de preparo

	
Colocar o leite no tacho, esperar levantar
fervura e acrescentar o açúcar. Mexer sempre e
para tirar o ponto, colocar água em um recipiente e
colocar um pouquinho do doce. Quando tiver uma
puxa bem firme; retirar do fogo, bater com a colher
e em seguida despejar em um refratário untado com
manteiga. Ao esfriar, corte em quadradinhos.

Fotos: Equipe Embornal

24
RECEITAS TRADICIONAIS EM
SAO JOÃO DEL REI
FRANGO COM QUIABO
Receita de:

Fotos: Equipe Embornal

1 xícara de chá de salsinha pic- do água aos poucos, deixe cozinadinha
har até que você sinta que a carne
1 xícara de chá de cebolinha pic- está macia.
Meire Soares Torres
	
À parte, lave bem o quitem 59 anos, é dona de casa, natu- adinha
abo e seque-o em um pano para
ral de Lavras. Aprendeu a fazer o Pimenta do reino a gosto
evitar a baba, pique em rodelas e
frango com quiabo com sua mãe
refogue em óleo quente, por dez
quando adolescente ajudava no
Utensílios
preparo deste típico prato mineiro. Panela de pedra e colher de pau minutos em uma panela a parte.
	
Depois de o frango e o
Hoje tenta passar à sua filha a imquiabo estarem prontos sepaportância de perpetuar esta receita
Modo de Preparo
radamente, junte os dois em uma
tão tradicional em sua família.
panela de pedra, sem esquecer-se
	
Limpe e corte o frango do resto dos temperos, espere reIngredientes
em pedaços, logo após tempere fogar e está pronto.
1 frango médio
com o alho amassado com sal ( ou
4 dentes de alho
com outros temperos se for de sua
Sal a gosto
preferência ) e deixe descansar por
2 colheres de sopa de açúcar
um dia na geladeira.
1 cebola média picada
	
Em uma panela grande
½ Kg de quiabo
derreta o açúcar, depois coloque o
1 xícara de chá de óleo
frango e a cebola picada mexendo
1 xícara de chá de cheiro verde
até ficar bem moreno. Vá colocan-

25
RECEITAS TRADICIONAIS EM
SAO JOÃO DEL REI
Receita de:

Modo de preparo

Kátia Cristina
de Paula
natural de Bom Sucesso, 27 anos, estudante.
Aprendeu a receita
quando criança com
sua mãe. Ela lembra
que é um costume mineiro servir um cafezinho para as visitas, e
a broa de fubá o acompanha muito bem. A
broa de fubá sempre
esteve presente em sua
casa, desde a sua infância.

26

Ingredientes
3 ovos
1 ½ xícara de açúcar
cristal
1 pitada de sal
1 colher de chá de bicarbonato de sódio
2 colheres de sopa de
manteiga
3 xícaras de fubá
2 xícaras de coalhada
Óleo e farinha de trigo
para untar a assadeira

Bata os ovos e o açúcar.
Acrescente o sal, o bicarbonato e a manteiga
e bata mais. Em seguida, acrescente a coalhada e o fubá e bata até
ficar bem homogêneo.
Despeje em assadeira
untada e asse em forno
pré-aquecido.

Utensílios
Assadeira

BROA DE FUBÁ
RECEITAS TRADICIONAIS EM
SAO JOÃO DEL REI
Receita cedida por:
José Jorge de Oliveira
tem 75 anos, é pedreiro
aposentado, natural de Andrelândia – MG. Aprendeu a
fazer o torresmo com sua mãe
e desde então ele é a única
pessoa da família que o faz.
O senhor José afirma que se
acostumou tanto a fazer o torresmo que faz quase todos os
dias, mas não o utiliza como
tira gosto da cachaça como
é utilizado tradicionalmente,
pois o senhor José não bebe
cachaça.

Ingredientes
Torresmo
Sal a gosto

Utensílios:

Panela, colher de pau, faca bem
afiada.

TORRESMO
em quando para não grudar um
torresmo no outro. Eles vão soltar mais gordura ainda e quando estiverem opacos, com cara
de que estão fritos, desligue o
fogo, retire daquela gordura os
torresmos para que eles possam
esfriar.

Modo de Preparo

	
	
Tempere os torresmos
com o sal e deixe descansar por
uns 15 minutos. Coloque um
pouco de óleo numa panela e
quando estiver quente, coloque
os cubos do torresmo em uma
panela tampada. Com uma colher de pau vá mexendo de vez

27
MODO DE FAZER O FOGÃO
A LENHA

Isabela Alline Oliveira e José Raimundo da Silva

nado cinzeiro.
	
A primeira carreira
de tijolos tem que ter uma
inclinação de 25° ou mais.
Depois vai tecendo as carreiras de tijolos. Quando
tiver uma altura de 60 cm
deverá deixar uma abertura que será a chaminé (ao
lado).
Usa-se rebocar o forno com
uma mistura de areia e estrume de vaca, pois essa
pasta que faz com que a
temperatura do forno seja
mantida. Essa mistura
deve ser curtida por 8 dias
e passada no forno. Não se
deve usar cimento e cal no
reboco, pois com o aumento do calor eles fazem com
que o forno trinque.
	
Na hora de acender

o fogo é necessário esperar a lenha queimar, para
então, espalhar a brasa de
modo a distribuir as ondas
de calor dentro do forno.
Depois de pronto o forno
deverá ser aceso para que
ele seque por completo,
mas,não é recomendável
usa-lo antes de 15 dias.
No fim de cada uso, aconselha-se jogar sal fino para
conservar o calor.

Fotos: Equipe Embornal

	
Primeiramente fazse a base (alicerce) com
Adobe. Depois de fazer a
base, por dentro faz um
aterro de 40 cm de espaço
(distância). Depois coloca
35 cm de areia grossa e
se coloca sal grosso, em
forma de cruz, fazendo
com que as partes estejam
iguais. O sal é para conservar o calor dentro do forno.
No alicerce tem uma abertura de 20 cm de diâmetro. Em cima coloca ladrilha
com os tijolos que são só
encaixados. Após esse
processo, com uma areia
mais fina vai completando
as aberturas entre os tijolos. Faz-se a porta do forno
nesse momento, e do lado
oposto um orifício denomi-

28
30
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37
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

CASCUDO, Luís da Câmara; ANDRADE, Mario de, Cartas, 1924 – 1944. Organizador:
Marcos Antonio de Moraes. São Paulo: Global, 2010.
______, Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: MEC, 1954.
______, Literatura Oral no Brasil. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora/ MEC,
1978a.
______, Seleta. 2 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976.
DETIENNE, Marcel, Os Mestres da Verdade na Grécia Arcaica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor.
ELIADE, Mircea, O sagrado e o Profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa.
Curitiba: Positivo, 2004.
LE GOFF, Jacques, História e Memória. Tradução Bernardo Leitão... [et al.]. Campinas:
Editora da Unicamp, 2003.
ORIÁ, Ricardo. Memória e ensino de História. BITTENCOURT, Circe (Org.). O saber
histórico na sala-de-aula. São Paulo: Contexto, 1997.
TEIXEIRA, Simonne; VIEIRA, Silviane de Souza... [et al.], Educação patrimonial: novos
caminhos na ação pedagógica. Campos dos Goytacazes: EDUENF. 2006
Informações do IPHAN disponíveis em: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do;jsessionid=092730D01A132E79E32EBCBE412DF280?id=10852&retorno=paginaIp
han

38
Número de ISBN
978-85-8141-047-0

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Cartilha Culinária

  • 1.
  • 2.
  • 3. UFSJ – UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI REITOR Valéria Heloísa Kemp VICE-REITORA Sérgio Augusto Araújo da Gama Cerqueira PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO E ASSUNTOS COMUNITÁRIOS Prof. Paulo Henrique Caetano CHEFE DE DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E MÉTODOS Prof. Dr. Antônio Rogério Picoli COORDENADOR DO CURSO DE FILOSOFIA Prof. Dr. Fábio Barros Silva COORDENAÇÃO GERAL DO PROJETO Prof. Drª. Glória Maria Ferreira Ribeiro (DFIME) EQUIPE DE EXECUÇÃO Daniela da Conceição Diniz Débora Cristina Resende Etienny Natya Fonseca F. Trindade Isabela Alline Oliveira Isaac José da Silva Lucas Bertolino dos Santos Nilson Anderson Lemos EQUIPE DE APOIO Fernanda Senna Monique Kelly da Cunha AGRADECIMENTOS Balbino de Souza Rezende Beatriz de Castro Teixeira Geralda Campos da Silva José Omar Junqueira José Raimundo da Silva Juvenal José de Sousa Lazarino Francisco de Sousa Luiz de Ávila e Silva Maria Aparecida Sales Ribeiro Maria José Ribeiro Nagibe Francisco Murad Otaviano Saulo de Castro Teixeira Raul Nogueira do Nascimento Rosângela Aparecida da Silva Teixeira Sebastião Vicente da Silva.
  • 4. O ato de comer é extremamente cultural. Se é cultural, é construído pelas pessoas e é diferente em cada grupo humano. Ao abordar as diferenças alimentares entre as sociedades humanas, o professor deverá levar o aluno a perceber o quanto é importante respeitar o modo das outras pessoas habitarem o mundo e agirem nas situações mais cotidianas, como é o ato de se alimentar. “Toda a existência humana decorre do binômio Estômago e Sexo. A Fome e o Amor governam o mundo”, essa é uma máxima do filósofo Friedrich Schiller citada por Luís da Câmara Cascudo em seu livro História da Alimentação no Brasil. Porém, acrescenta Cascudo, o estômago é muito mais imperioso que o sexo. A fome é inadiável, é dominadora. No entanto, o homem não se alimenta daquilo que tem em maior abundância, nem daquilo que sabe ser mais nutritivo, ele come o que está acostumado a comer. O homem se alimenta daquilo de que seus pais se alimentavam e daquilo que a sua religião permite. No Brasil comemos bois, porcos e galinhas e achamos no mínimo estranho que se comam cães, gatos, cavalos, gafanhotos e ratos. “Carne de gato, pastel de ratazana, gafanhoto torrado, larva cozida estão fora dos nossos padrões. São, entretanto, iguarias normais e provadamente limpas e saborosas quando ingeridas sem identificação.” (CASCUDO, 2004). Para os hinduístas e budistas comer a carne dos bovinos é totalmente inaceitável. O mesmo ocorre com a carne de porco, que é proibida entre muçulmanos e judeus. Ao contrário do que muitas vezes temos tendência a pensar, as pessoas que comem, por exemplo, gafanhotos, não o fazem por escassez de alimento, elas comem gafanhotos porque apreciam o sa- Debora Resende bor. Na Angola se come cachorro, não por falta de outra carne. O caso dos esquimós é um exemplo disso: “O esquimó, sustentado pela foca e ruminantes, vai buscar no estômago do caribu (rena) a papa gelatinosa de raízes, vagens e gramíneas, absorvida como regalo precioso” (CASCUDO, 2004). E vale ressaltar que os Inuits são chamados pejorativamente de esquimós, pois esse termo significa “comedor de carne crua”! Os costumes alimentares, dizia Câmara Cascudo, estão muito mais vinculados a fatores espirituais que fisiológicos. Os tabus alimentares decorrentes da religião se tornam costumes e os costumes se tornam verdadeiras leis, praticamente irrevogáveis que moldam a alimentação de cada grupo humano. Com as interações culturais entre esses grupos os costumes como um todo, inclusive os costumes alimentares, vão, muito lentamente, se modificando. É justamente o mesmo que ocorre com o patrimônio imaterial O patrimônio imaterial é definido pela Unesco como sendo “as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”. O IPHAN acrescenta que esse tipo de patrimônio “é transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana”. A culinária, portanto, figura entre os elementos que compõem o patrimônio imaterial, uma vez que abarca práticas, conhecimentos e técnicas transmitidas de geração em geração. A característica fundamental do patrimônio imaterial é a mutabilidade, por ser preservado na memória e transmitido oralmente, ele vai aos poucos sofrendo pequenas modificações. Por isso, o patrimônio imaterial não pode ser tombado como o patrimônio material, pois o tombamento “congela” a coisa como ela é. A preservação do patrimônio imaterial só tem sentido como cotidiano, como vivência. O professor pode contribuir na preservação do patrimônio imaterial, inclusive da culinária, inserindo esses elementos nas atividades comuns no dia-a-dia da escola e mostrando ao aluno que o simples almoço que sua mãe faz, diz muito da história de seu povo e de sua família.
  • 5. SUMÁRIO 6 EDITORIAL 8 APRESENTAÇÃO 14 MINAS GERAIS: MODOS PROPRIOS DE VIVER E COMER 19 RECEITAS TRADICIONAIS 28 MODO DE FAZER UM FOGÃO DE LENHA 29 INTERDISCIPLINARIDADE 35 JOGOS E BRINCADEIRAS 38 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
  • 6. EDITORIAL EXISTÊNCIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO A memória deve ser antes a dimensão de celebração de comemoração da própria existência. Isto porque para podermos preservar o patrimônio cultural de um povo é preciso, antes de mais nada preservar a própria existência humana, a própria dinâmica de manifestação da vida. “O Senhor ... mire veja: o mais importante e bonito , do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam” ( Rosa, Guimarães. Grande Sertão: Veredas”). Existência que está sempre se fazendo, se retomando desde o jogo do tempo que a constitui. Tempo que escreve a história na qual os destinos se cruzam, se entrecruzam e se realizam. A cada época dessa história a existência se retoma, se reapropria de si mesma, de seu ser, de um modo novo e sempre velho. Velho porque são sempre as mesmas possibilidades de ser e novo porque a existência sempre descobre um outro modo de se apropriar de si mesma, de interpretar-se. Deste modo, cada uma época da história se mostra como um modo possível de elaborar a questão sobre a existência do homem. Existência compreendida desde a relação íntima e indissociável do homem com o seu mundo – mundo que se revela no comércio cotidiano com as coisas e com os outros. A cidade se mostra como a trama concreta na qual esse comércio com o mundo se deixa ver, tornando-o tangível. Trama que sempre de novo se renova, se utilizando sempre dos mesmos fios. Sendo assim,todo trabalho que vise a preservação do patrimonio cultural de um povo deve, antes de mais nada, viabilizar condições para que essa existência se mantenha. Por isso, em nossas reflexões sobre a Educação Patrimonial, estamos tendo sempre como elemento norteador o próprio cultivo da existência humana, ao propormos ações que celebrem (lembrem em conjunto, que co-memorem) a nossa condição que é a de estarmos sempre “afinando e desafinando”. As nossas cartilhas são uma tentativa de celebração desse nosso modo de ser cotidiano – do qual faz parte o ato de comer, de celebrar o divino, de contar estórias. É celebrar isso é deixar que as pessoas brilhem porque “gente é feita para brilhar” – seja o mediante o suor no corpo do trabalhador, seja no brilho nos olhos da criança ao perceber o caráter extraordinário do mundo, que faz com que ele possa sempre ser reinventado (reinventado pelas brincadeiras de fundo de quintal, pelo trabalho dos homens, pelo esforço e empenho dos meus iestimáveis bolsistas de extensão. Gente é para brilhar! Glória Ribeiro “O Senhor ... mire veja: o mais importante e bonito , do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam” (Rosa,Guimarães. Grande Sertão: Veredas”) 6
  • 7. “Quando eu estiver velho, gostaria de ter no corredor da minha casa Um mapa de Berlim com legenda Pontos azuis designariam as ruas onde morei Pontos amarelos, os lugares onde moravam minhas Namoradas Triângulos marrons, os túmulos nos cemitérios de Berlim onde jazem os que foram próximos a mim E linhas pretas redesenhariam os caminhos no Zoológico ou no Tiergarten que percorri conversando com as garotas E flechas de todas as cores apontariam os lugares nos arredores onde repensava as semanas berlinenses E muitos quadrados vermelhos marcariam os aposentos Do amor da mais baixa espécie ou do amor mais abrigado do vento”. Walter Benjamin, “Fragmento”, 1932 “Quando eu morrer quero ficar, Não contem aos meus inimigos, Sepultado em minha cidade, Saudade. Meus pés enterrem na rua Aurora, No Paiçandu deixem meu sexo Na Lopes Chaves a cabeça Esqueçam O nariz guardem nos rosais, A língua no alto do Ipiranga Para cantar a Liberdade. Saudade... Os olhos lá no Jaraguá Assistirão ao que há de vir, O joelho na Universidade, Saudade As mãos atirem por aí, Que desvivam como viveram, As tripas atirem pro Diabo, Que o espírito será de Deus Adeus”. (Mario de Andrade, ao escrever sua Lira Paulistana (1944) 7
  • 8. APRESENTAÇÃO Em diferentes contextos sociais e em distintas épocas históricas o termo cultura foi, e vem sendo utilizado de diferentes formas, para falar dos hábitos de vida do homem, entretanto seu uso indistintamente carrega uma concepção ideológica de seu significado. Dentre essas concepções de cultura podemos perceber que muitas pessoas associam a cultura a algo que se adquire ou que se pode obter. O perigo desse tipo de compreensão e de que a cultura acabe assumindo um caráter de mercadoria na sociedade. Quando se pensa a cultura desde essa concepção, ela deixa de ser associada aos hábitos de vida do homem que lhe são naturais, e passa a ser associada à algo que o homem pode adquirir como um simples conjunto de bens. Adquirir cultura significa o mesmo que poder possuir um carro, uma casa, ou ter uma rica biblioteca. Logo aque- 8 les que não podem ter capital financeiro o suficiente para enriquecer seu legado cultural são tidos como ignorantes, pessoas sem cultura, que estão separadas das outras na sociedade por essa condição. Daí surge os desníveis de cultura, que são fruto da divisão cultural entre as pessoas. Sobre isso Alfredo Bosi em seu livro Cultura Brasileira: tradição/ contradição nos diz: “Quer dizer que as pessoas que tem cultura devem exibir certos tipos de comportamento, e devem ser poupadas de certas ações. Logo aprece a divisão, os que tem cultura de um lado, e os que não tem cultura de outro. A cultura dá a aureola da diferença’’. (BOSI, Alfredo, 1987, pg. 35). Considerar a cultura como um conjunto de coisas que se pode possuir é a principal característica da chamada cultura reificada, pois a cultura deixa de ser entendida como um processo que segue a linha sutil da existência humana, para ter seu significado concebido fora dessas vivências humanas. Logo o que antes se remetia as relações sociais entre os homens passa a ser associado a uma relação entre homens e coisas. Assim sendo, o que era uma ideia fruto da relação entre homem e a sociedade, passa a ser apenas uma relação entre homens e objetos. E a cultura que era a pura e simples expressão da minha condição humana, passa a ser vista como um objeto fora de mim. “Na sociedade de massa as pessoas sempre estão diante de objetos da tecnologia mesmo que não sejam a obras de arte. O fato delas não participarem da construção do objeto, porque são obra de uma indústria especializada, apesar delas comprarem vender e, estabelecer relação de uso, elas não compreendem seu mecanismo interno, alienação. Eu possuo um objeto mais não compreendo como ele funciona”. (BOSI, Alfredo, 1987, pg. 37). Podemos ver expressa em várias esferas da sociedade essa concepção, pois a cultura está sempre ligada ao que tem que ser visto, apreciado, preservado e mantido tal como é sem que se leve em consider- ação a relação direta com o cotidiano, porque nesse tipo de compreensão do que seja a cultura, as coisas e ações do cotidiano não são consideradas bens culturais.Cultura como ação e trabalho. Repensar o ideário de cultura difundido em nossa sociedade é essencial para que possamos falar de uma sociedade democrática, e assumir dessa forma uma prática coerente. Para isso nossos esforços devem direcionar-se em desconstruir, em nosso espírito e na sociedade, a ideia de cultura como objeto. É necessário repensarmos essa terminação de cultura como mercadoria, pois ela é segregadora, e faz com que existam níveis de cultura e distinção entre aqueles que possuem cultura e os outros que dela são destituídos. Por isso, ao repensarmos a noção de cultura desde a própria condição da existência humana, estaremos indiretamente contribuindo para repensar a distinção de classes.
  • 9. Isto porque desde essa concepção de cultura como mercadoria, teríamos que somente aqueles que possuem bens culturais, seriam cultos;enquanto que aqueles que não possuem condições financeiras para possuí-los, não têm cultura. Para que torne possível redimensionar a noção de cultura é necessário considerar todos os momentos do processo produtivo e não somente ao produto (o bem) cultural que é seu resultado. A concepção que nos guia em nossas atividades extensionistas, é aquela que desloca a ideia de cultura como mercadoria, para uma concepção de cultura que diga respeito diretamente à relação que o homem estabelece com o meio onde vive – meio no qual ele estabelece as relações sociais que propriamente o constitui. Portanto a obra (enquanto o produto cultural elaborado nas relações sociais entre homens) é aquela que exprime exatamente o próprio trabalho enquanto processo e resultado. Um projeto de cultura explicito através das dimensões da memória e identidade O termo cultura diz respeito de ao conjunto de saberes, crenças, leis, costumes e todos os outros hábitos e modos de vida de um povo. De origem latina, a palavra cultura deriva do verbo colo, significando, “eu cultivo”, referenciando particularmente, o cultivo do solo e da terra, sendo, portanto, o cuidado que se mantinha com aquilo que se pretendia cultivar. Quando se pensa em cultura, pensa-se em um processo que vem sendo trabalhado há muitos anos, há séculos, que se recebe e se transmite de geração a geração. Do mesmo modo a palavra cultus, diz respeito ao verbo colo, que traz em si a determinação de cultura que nos interessa, pois nos remete a importância da memória no processo de constituição da identidade do individuo. A cultura é compreendida como o conjunto de técnicas, práticas e valores que se devem transmitir às novas gerações. No uso cotidiano, falamos em memória nos referindo ao arquivamento de fatos passados, a “faculdade de reter as ideias, impressões e conhecimentos adquiridos anteriormente”. Dessa forma, lembrar é um fenômeno individual. Porém, podemos compreender a memória fora de seu conceito usual, como um fenômeno coletivo; a memória como o fruto da construção coletiva e submetida a transformações e mudanças constantes. Se a cultura é algo que se busca transmitir às novas gerações, e necessário que tenhamos um projeto, um caminho a oferecer as “novas gerações”, e isso acontece, na junção do que foi com o que é, e o que se pretende ser, da mesma forma, o ponto de encontro entre passado, presente e futuro. Por isso, Bosi nos fala sobre o verbo cultus, não sendo somente a lembrança do labor presente, mais do conjunto de coisas que possibilitaram que esse labor, se tornasse presente, e de um projeto implícito na sua realização. A respeito disso o historiador Alfredo Bosi em seu livro Dialética da Colonização nos diz: Quando os camponeses do Lácio chamavam culta às suas plantações, queriam dizer algo de cumulativo: o ato em si de cultivar e o efeito de incontáveis tarefas, o que torna o particípio cultus, esse nome que é verbo, uma forma sig- nificante mais densa e vivida que a simples nomeação do labor presente. O ager cultus, a lavra, o nosso roçado (também um deverbal), junta a denotação de trabalho sistemático a, qualidade obtida, e funde-se com esta no sentimento de quem fala. Cultus é sinal de que a sociedade que produziu o seu alimento já tem memória. (BOSI, 1992, p.13). Nesse processo a identidade ganha seu lugar; pois, da mesma forma que nos identificamos com um lugar marcado por uma experiência individual, também acontece com as experiências coletivas que ganham um aspecto marcante para um determinado grupo, fazendo com que indivíduos se identifiquem e tenham coesão a partir de experiências e vivências comuns. No dicionário Aurélio, identidade é definida como: 1. Qualidade de idêntico; 2. Conjunto de caracteres próprios e exclusivos de uma pessoa: nome, idade, estado, profissão, sexo, defeitos físicos, impressões digitais, etc.; 3. O aspecto coletivo de um conjunto de característicos pelas quais algo é definitivamente reconhecível, ou conhecido. (FERREIRA, 2004, p.1066). Identidade é aquilo que faz com que uma coisa seja exatamente aquilo que ela é, e não seja outra coisa. Desta forma, a identidade só pode ser concebida em comparação com o diferente: “eu sei o que sou à medida que percebo que sou diferente, desse ou daquele outro”. 9
  • 10. Assim também é possível a construção da identidade de grupo. Isto acontece quando percebo que divido com outras pessoas a mesma origem ou os mesmos costumes. É esse sentimento de compartilhamento que faz com que eu me sinta integrante daquele grupo. Essa noção de identificação nos remete novamente para a ideia de cultura como “cultivo de”, pois eu cuido e busco manter e preservar aquilo do qual eu faço parte, onde consigo me perceber numa relação de semelhança, no qual eu me reconheço. Desenvolvimento A Educação Patrimonial Com o processo de modernização das cidades, percebese a constante desvalorização e desconhecimento em relação ao patrimônio cultural. Portanto, desde que em 1930 foi criado o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), uma nova percepção em relação a patrimônio, ampliou os instrumentos e meios de atuação, e estão diretamente aliados á criação das instancias estaduais 10 e municipais de preservação. O campo de educação patrimonial no Brasil tem uma produção acadêmica ainda incipiente, são muitas as publicações utilizadas em ações de educação patrimonial - e, em sua maioria, essas publicações, não levam em consideração o aspecto central da existência humana – que é o fato de ela estar num processo contínuo de realização que só acaba com a morte. Dentre os trabalhos acadêmicos que discutem o tema, a maioria trata de atividades pontuais e estão ligadas a uma análise circunscrita de casos. Embora a educação patrimonial seja consensualmente considerada como peça chave para uma política pública efetiva de preservação do patrimônio cultural, ainda é um tema pouco estudado, principalmente se tratando de práticas institucionais. Dentro da temática, a educação patrimonial pode ser basicamente entendida como um processo durável que busca levar os indivíduos a um processo acionado de conhecimento, apropriação e valorização do patrimônio cultural, com o intuito de que sejam agentes da preservação. Neste aspecto, devemos pensar o patrimônio de forma ampliada. As escolas ao longo dos tempos estão tendo sua estrutura depredada, e desvalorizada dia após dia, pelos seus próprios beneficiários, com isso acreditamos que para a efetivação da Educação Patrimonial no contexto escolar devemos partir da realidade dos alunos, possibilitando sua participação nas soluções dos problemas. “Chamamos de Educação Patrimonial o processo permanente e sistemático de trabalho educativo, que tem como ponto de partida e centro o Patrimônio Cultural com todas as suas manifestações.” (GRUNBERG, 2007, p. 02). Consideramos a partir do conceito de educação patrimonial, que esse tipo de ação utiliza os bens culturais como fonte primária do conhecimento. Gerando um diálogo permanente entre os indivíduos e os bens culturais. Portanto, o maior desafio é fazer com que o individuo crie o hábito de valorizar e preservar o patrimônio cultural, pondo em prática a própria noção de cidadania. Fazendo com que as pessoas possam desenvolver um conhecimento crítico e uma apropriação consciente de seu patrimônio. Um fator indispensável no processo de preservação sustentável desses bens culturais é o fortalecimento do sentimento de identidade e lugar no espaço estudado. Uma das maiores dificuldades encontradas em se estabelecer um ensino eficiente em relação a patrimônio é o complexo relacionamento entre a comunidade e os órgãos de preservação. O IPHAN na maioria dos casos é tachado como um inimigo da sociedade, um dos principais motivos deste impasse é o desconhecimento das pessoas sobre suas metodologias e ações utilizadas por esse órgão do governo federal. Acredita-se que com a realização de boas práticas educativas voltadas para a comunidade, esse quadro pode ser revertido. Apesar da importância do tema retratado, na história nunca houve uma visão e atuação por parte do IPHAN e outros órgãos de preservação patrimonial que colocasse como política publica exclusiva visando a educação patrimonial, ou mesmo como um processo de importância equivalente ás demais atividades essenciais por eles desempenhadas (tombamento, fiscalização, identificação, etc.).
  • 11. Assim, a educação patrimonial vem sendo tratada apenas como atividade complementar no currículo escolar, que se reflete diretamente no Iphan, e isso ocorre devido a sua pouca estruturação e institucionalização no setor responsável pela educação patrimonial. Além disso, a comunidade dá ao patrimônio cultural pouca importância por não possuir um entendimento aprofundado em relação aos bens culturais. Segundo o IPHAN: “O Patrimônio material (...) é composto por um conjunto de bens culturais classificados segundo sua natureza nos quatro Livros do Tombo: arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas. Eles estão divididos em bens imóveis como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais; e móveis como coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos’’. (Disponível em: http:// www3.iphan.gov.br/ bibliotecavirtual/ ?page_ id=283) Enquanto que o Patrimônio Imaterial: “O Patrimônio Imaterial é transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana’’. (Disponível em: http://www3.iphan.gov.br/ bibliotecavirtual/?page_id=283, acesso em 11 de abril de 2011) . Por sua vez, a UNESCO define como Patrimônio Cultural Imaterial: “(...) as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”. (Disponível em http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/ world-heritage/cultural-heritage/, acesso em 13 de abril de 2011). A proposta metodológica de educação patrimonial foi introduzida no Brasil em 1983, balizada por um trabalho educacional já desenvolvido na Inglaterra, ao ser desenvolvido foi adaptada aos contextos patrimoniais locais. Em alguns estados este trabalho está bem embasado e se solidifica, no Rio Grande do Sul, por exemplo, o tema esta sendo trabalho por Maria Beatriz Machado (2004), José Itaqui entre outros. Em suas pesquisas, eles enfatizam a importância de orientar os professores do ensino fundamental e médio de como trabalhar e aplicar esta metodologia no ambiente escolar. Apesar de estar sendo muito bem sucedida a atividade reali- zada no Rio Grande do Sul, esse é um processo que está ocorrendo de forma isolada repercutindo apenas nas regiões onde se desenvolvem. A proposta consiste na formação de grupos de pesquisas para desenvolver uma forma contínua de projetos e ações, que possam ser aplicadas igualmente em todo o território brasileiro. Existem diversas formas de se trabalhar com o patrimônio cultural dentro de sala de aula, articulando todas as disciplinas do currículo escolar, matemática, história, geografia e ciências podendo ser elaborados exercícios e textos relacionados à educação patrimonial. O importante neste caso é estabelecer a interdisciplinaridade, com isso os alunos podem desenvolver por si só ou juntamente com seus professores, ações dentro da escola que incentivam a multiplicação deste conhecimento. Um ótimo exemplo do que pode ser gerado é a construção de um memorial, um pequeno museu, ou ainda uma roda de “contação” de histórias, fazer oficinas e várias outras atividades, a partir destes métodos os alunos desenvolvem uma visão critica. Ações realizadas conjuntamente por todos os professores dentro das escolas podem gerar atividades muito interessantes - como investigar em forma de pesquisa monumentos da cidade em que mora isso ajuda a enfatizar o patrimônio coletivo e a memória coletiva, além disso, investigar a própria casa como patrimônio cultural através de desenhos. Essa programação diferenciada promove uma identidade em relação ao patrimônio coletivo e gera um respeito em relação ao patrimônio cultural. A transversalidade mantém uma relação com a interdisciplinaridade, bastante difundida pela Pedagogia. São maneiras de se trabalhar o conhecimento buscando uma reintegração de aspectos que ficaram isolados uns dos outros pelo tratamento das disciplinas (MORAES, s. d., p. 7-8). A Educação patrimonial no ensino de história é outra forma que viabiliza formação de pessoas capazes de conhecer a sua própria historia cultural. Levando a educação para este contexto nos faz perceber que os indivíduos podem se diferenciar um dos outros, e com isso podem visualizar a própria vida, a própria cultura, a própria história e, construir a sua memória afetiva, além disso, sua identidade cultural. 11
  • 12. O patrimônio cultural vem sofrendo grandes prejuízos com a modernização - um exemplo disso ocorre aqui em São João del Rei, onde durante os anos de 1999 e 2001,muitos casarões históricos foram derrubados para dar lugar a supermercados, a casas de venda de materiais de construção. Outro exemplo aconteceu em Araxá-MG, onde uma praça com mais de cinqüenta anos totalmente arborizada, foi substituída por um calçadão sem nenhuma arborização e sequer bancos para as pessoas sentarem. Outra questão muito importante a ser trabalhada é a questão da identidade local nas escolas de ensino fundamental. Os alunos aprendem muitas coisas relacionadas ao mundo, e ao Brasil; mas, na maioria das vezes, o ensino é muito generalizado, fazendo com a história do município ao qual esses alunos pertencem, fique esquecida o que causa no individuo um afastamento em relação as suas origens perdendo de vista o processo formador de sua identidade social. Muitos estudiosos acham que é mais fácil trabalhar o patrimônio cul- 12 tural no âmbito disciplinar das ciências humanas, por ela estar muito próxima do tema. Em outras áreas do currículo, o professor tem certa dificuldade, porque o tema não está presente em suas analises e reflexões cotidianas. Contudo, isso é uma limitação e não pode ser levada ao pé da letra, com a criatividade dos pesquisadores e professores podem ser desenvolvidas atividades dentro da área de exatas, ciências biológicas, das ciências da terra, etc.. Metodologia Através das atividades extensionistas desenvolvidas em nosso projeto (nas Oficinas de Educação Patrimonial realizadas na Escola Municipal Maria Tereza bem como nas oficinas realizadas no espaço do Fortim dos Emboabas localizado no Alto das Mercês) foi possível perceber que as pessoas que participaram dessas atividades não se reconhecem como agentes culturais dentro da sociedade da qual fazem parte. Isto porque elas reconhecem como patrimônio cultural, apenas aquilo que é registrado e reconhecido pela chamada cultura erudita. A distinção entre cultura popular e cultura erudita recorrente em nossa sociedade, produz efeitos catastróficos na construção da identidade dessas pessoas. Mesmo expressões fortes como o congado ou os ofícios e saberes passados de geração em geração, se tornam eixos de resistência de suas raízes na sociedade, não são reconhecidos como tal. Por isso se justifica nosso trabalho de responder a demanda da lei municipal n° 3.826/2004 que torna obrigatório o ensino de educação patrimonial nas escolas da rede municipal. Nosso trabalho é um tanto desafiador quando aos métodos, pois eles não podem ser os métodos tradicionais que são utilizados para o ensino da chamada cultura erudita. Pela característica mutável do patrimônio imaterial não é de nosso interesse resguardálo tal como é (como um objeto pronto e acabado), mas sim preservá-lo através de métodos que se sintetizam exclusivamente nas vivencias que A C ultura popular nos oferece. Dar luzes para que ela por si mesma se mostre e se mantenha. Somos receptáculos dessas vivências. “Se o sistema social é democrático se o povo vive em condições digamos razoáveis de sobrevivência ela próprio saberá gerir as condições para que a cultura seja conservada, não pela cultura em si, mais enquanto expressão da comunidade de grupo e de indivíduos em grupo’’. (BOSI, Alfredo, 1987, pg. 44). Atuando principalmente em São João del Rei e região o programa de extensão “Embornal de Causos - segundo ano” é o desdobramento do projeto de extensão “Embornal de Causos a imagem e o som, a escrita, e o universo virtual como veículo de registros e preservação do patrimônio imaterial” sob a orientação da Dra. Glória Ribeiro, junto com os bolsistas de extensão Isabela Alline Oliveira e Etienny Trindade, e a bolsista atividade Daniela da Conceição Diniz. Como já foi mencionado, o trabalho consiste atender á lei municipal n° 3.826/2004 que dispõe sobre a criação do Programa Municipal de Educação Patrimonial em suas escolas municipais - buscando através do referencial teórico pesquisado, capacitar os professores para o ensino da educação patrimonial dentro das escolas, voltado para a cultura regional e local.
  • 13. Neste sentido, o programa busca utilizar as novas mídias e redes sociais como ferramentas trazendo para os professores do ensino fundamental a narrativa oral, saberes e fazeres embutidos na cultura local. Nosso trabalho também teve como produto a produção cartilhas para as escolas públicas de ensino fundamental, os bolsistas desenvolveram três cartilhas, uma de culinária, outra de causos e a outra de festas religiosas; as quais ainda estão em processo de avaliação – recebemos a avaliação apenas de uma das escolas da região, como poderá ser observado nos anexos do nosso relatório final. O material possui jogos, exercícios para serem aplicados dentro de sala de aula, textos e imagens. Cada cartilha possui uma peculiaridade diferente: a cartilha de culinária contém receitas de São João del Rei e região, relatos de como o queijo é fabricado artesanalmente, como são fabricados os fornos a partir da utilização do barro e das fezes de gado; a cartilha de causos tem alguns causos transcritos das entrevistas realizadas com moradores de diferentes regiões, além da bibliografia de cada um dos contadores; e por fim a de festas religiosas descreve manifestações religiosas presentes em São João Del Rei. Foram realizadas durante o ano de 2013 em parceria com o programa de Implantação do Centro de Referência de Cultura Popular de São João del Rei, promovemos atividade conjuntas como foram as oficinas do Inverno cultural, contando com cerca de 6 oficinas realizadas no Fortim dos Emboabas entendendo que por ser tratar de uma população de risco , que entretanto mantêm uma tradição de cultura popular muita arraigada, nossos esforços em atuar principalmente com as crianças se justifica pelo fato de as oficinas serem para as crianças do Alto das Mercês uma possibilidade de acesso, diversão e espaço de lazer que a comunidade por si só não tem condições de oferecer. Também foram oferecidas Oficinas de Educação Patrimonial desenvolvidas dos dias 4 a 8 de Março de 2013 na Escola Municipal Maria Tereza, tendo como público atingido cerca de 150 alunos do ensino fundamental. to importante para a preservação do patrimônio cultural, as nossas ações ainda se mostram como uma forma pontual de se aplicar a educação patrimonial. Para que um trabalho como este possa se desenvolver de forma continua no ensino fundamental precisaríamos de uma parceria entre o IPHAN, o governo federal e os órgãos locais de cada município. O que observamos na analise deste conteúdo é que as ações são desmembradas umas das outras, não tendo assim um elo entre as iniciativas que já estão sendo produzidas e os órgãos públicos. No entanto, o IPHAN ainda é desorganizado em relação à educação patrimonial e não existe um interesse por parte dos professores em aplicar o assunto dentro de sala de aula, criando uma barreira a este processo. O patrimônio cultural ainda se encontra vulnerável. A ideia que se passa entre a juventude é que não existe o novo sem destruir o velho, e isso faz com que a memória caia no esquecimento. Como podemos lembrarnos do passado, das histórias contadas por nossos avôs sem passar de geração a gerConclusão ação? Na atual pós Embora seja modernidade o ser um trabalho mui- humano está sendo tratado como objeto, uma boa parte de idosos que fizeram parte da história são abandonados e isolados em locais fora da área de convívio social intenso (como é o caso dos abrigos e albergues), e não paramos para pensar que através deles as manifestações culturais vem sendo passadas de geração para geração. Portanto, necessitamos de uma mudança radical em relação ao patrimônio, e por isso justificamos neste estudo a importância da educação patrimonial. Esta ação pode ser comparada como a “luz no fim do túnel” porque a partir dela os indivíduos podem repensar a relação entre a memória e sua própria identidade social. 13
  • 14. MINAS GERAIS: MODOS PROPRIOS DE VIVER E COMER uma verdadeira colcha de retalhos de influências indígenas, africanas e portuguesas. A mandioca, o milho, o amendoim, a abóbora, o feijão são heranças indígenas. O arroz, a pimenta malagueta, o quiabo foram trazidos pelos africanos. O trigo, a cana de açúcar, as criações de animais para consumo da carne, os doces e os queijos vieram com os colonizadores. Os modos de preparo que hoje conhecemos têm contribuições de ambos. Ingrediente que vem de um lado, tempero que vem de outro e modo de fazer de outro, novas mis- turas, adequações foram formando o que hoje se conhece por culinária mineira: pão de queijo, broa de fubá, café, pernil de porco assado, bife de boi, angu, couve. E as combinações! Arroz com feijão, queijo com goiabada - o famoso Romeu e Julieta-, café com leite, frango com quiabo, pão com manteiga, canjiquinha com costelinha, carne com farinha, pinga com torresmo... Mas qual a importância de cada um desses elementos no cotidiano, na economia e na nutrição dos mineiros? Como são produzidos cada um deles? É o que tentaremos abordar a partir de agora. Isaac Josué da Silva As cozinhas são lugares privilegiados, o lugar do encontro, da confraternização, da conversa durante o café da manhã e o almoço. À noite então, na ampla cozinha, à beira do fogão à lenha, é a hora de beber uma pinga e “quentar” fogo para espantar o frio. Acopladas aos fogões à lenha existem as serpentinas, um sistema no qual a água passa por tubulações metálicas que vão ao interior do fogão e entram em contato com o fogo, esquentando a água para um ótimo banho. A culinária mineira é 14 14
  • 15. MINAS GERAIS: MODOS PROPRIOS DE VIVER E COMER MANDIOCA: A FARINHA E O POLVILHO A mandioca é uma planta nativa do Brasil que já era muito utilizada pelos povos indígenas quando os portugueses aqui chegaram. Luís da Câmara Cascudo em seu História da Alimentação no Brasil, faz o reconto de uma das lendas que explica o surgimento dessa planta: ‘A filha de um chefe indígena engravidara sem contato masculino, como em sonho comunicara um homem branco ao pai furioso que se acalmou. Nasceu uma menina deslumbrante, de nome Mani, morta ao fim de um ano, sem doença e sem dor. Do túmulo surgiu arbusto novo. A terra fendeu-se, como mostrando o corpo da morta. Encontraram raízes que eram as primeiras man- diocas, fortificantes e poderosas. Mandioca de Mani-oca, a casa de Mani’. (CASCUDO, 2004) A mandioca é o alimento mais popular no Brasil: de norte a sul, cozida, frita, na forma de farinha ou de polvilho, ela é consumida por todas as camadas sociais. ‘Presente tanto nos pratos cotidianos mais simples quanto nos mais elaborados, ocupa lugar de destaque no sistema culinário nacional e regional desempenhando em algumas regiões do país relevante papel na construção de identidades culturais’. (PINTO, ????) A farinha é o seu principal produto: seja fina ou grossa, torrada ou crua, pura ou temperada. É ainda produzida arte- sanalmente nas casas de farinha, principalmente no norte e nordeste de Minas. Além da farinha, um outro subproduto da mandioca que é amplamente utilizado é o polvilho. Também conhecida como goma, o polvilho é a fécula da mandioca, ou seja, o amido extraído dessa planta. Ele pode ser obtida tanto industrialmente quanto em casas de farinha. A diferença do polvilho azedo em relação ao doce é que o primeiro sofre uma fermentação antes do processo de secagem, que é obrigatoriamente solar. Ele é a base de algumas das quitandas mineiras mais tradicionais como as rosquinhas quebra-quebra, o biscoito de polvilho e o pão de queijo. Aliás, o pão de queijo, como o próprio nome já diz, tem como segundo ingrediente mais importante o queijo, que é um dos principais produtos do leite. O COBRE: NO TACHO E NO ALAMBIQUE Os utensílios em cobre são em sua maioria produzidos artesanalmente e são amplamente utilizados na feitura de doces. De cobre é também grande parte dos alambiques. As doceiras acreditam que os doces de frutas feitos em tachos de cobre preservam mais a cor da fruta e são mais saudáveis quando comparados aos doces feitos nos tachos de alumínio. Além disso, os doces feitos em tacho de cobre ganham um sabor par- ticular. O tacho de cobre deve ser bem esfregado com limão e sal para tirar o “zinabre”, ou seja, o azinhavre, “camada verde de carbonato de cobre que se forma nos objetos de cobre expostos ao ar e à umidade” (FERREIRA, 2004), só depois ele deve ser lavado com água e sabão. Apesar do uso do cobre ser tão tradicional em Minas Gerais, uma restrição da Vigilância Sanitária Estadual de Minas Gerais tem inco- modado as doceiras e doceiros. Baseada em uma resolução da Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o órgão estadual proibiu o uso de utensílios de cobre na produção alimentícia. Segundo a Anvisa, o excesso de cobre no organismo causa problemas neurológicos e psiquiátricos, perda de glóbulos vermelhos e problemas no fígado, nos rins, no sistema nervoso e nos ossos. 15
  • 16. MINAS GERAIS: MODOS PROPRIOS DE VIVER E COMER LEITE, QUEIJO E MANTEIGA: DO CURRAL PARA A MESA O estado de Minas Gerais é disparado o maior produtor de leite do Brasil. É isso o que mostra o gráfico abaixo, disponibilizado pela Embrapa Gado de Leite. O leite é um produto altamente perecível, por isso deve ser processado rápido. Como grande parte dos produtores de leite são pequenos proprietários rurais, existe no estado de Minas Gerais muitas cooperativas e pequenos laticínios, em ambos os casos o leite é recolhido por caminhões e levado para esses lugares onde é pasteurizado ou transformado em manteiga, queijos e iogurtes. No entanto, muitos desses produtos são produzidos de forma artesanal nas propriedades mesmas. Para produzir a manteiga é necessário antes recolher a nata, ou seja, a parte mais gordurosa do leite que sobe quando deixado em repouso. A nata resfriada deve então ser batida. Nas fazendas mineiras é comum pendurar a lata de nata em uma árvore com cordas e sacudir até virar manteiga, tarefa que muitas vezes é executada pelas crianças. Quando o barulho do líquido muda ao bater na lata é porque a nata se separou em manteiga e soro. A manteiga é muito utilizada na culinária mineira no preparo de bolos, broas e rosquinhas. E o soro que sobra é aproveitado na alimentação dos animais. O queijo talvez seja o produto que mais faça referência a Minas Gerais. O Modo Artesanal de fazer o Queijo Minas foi registrado pelo IPHAN em 2008 no Livro de Registro dos Saberes: Saberes(IPHAN). (...) O modo artesanal de fazer queijo constitui um conhecimento tradicional e um traço marcante da identidade cultural dessas regiões. (...) LEITE INTEGRAL → FILTRAÇÃO ATRAVÉS DE TECIDOS → ADIÇÕES DE PINGO E COALHO LÍQUIDO → COAGULAÇÃO → QUEBRA MANUAL DO COALHADA → REPOUSO E DECANTAÇÃO POR 15 MINUTOS → DESSORAGEM DE 2/3 DO VOLUME DO LEITE EM SORO → COLETA DA MASSA NO FUNDO DA TINA → MOLDAGEM EM FÔRMAS SOBRE MESA DESSORADORA → PRENSSAGEM MANUAL COM “FOFAS” REPETIDAS → PRIMEIRA SALGA → COLETA DO PINGO → SEGUNDA SALGA → REMOÇÃO DO EXCESSO DE SAL → DESENFORMAGEM E “GROSAGEM” COM RALO → CURTIMENTO EM PRATELEIRAS À TEMPERATURA AMBIENTE DE 5 A 7 DIAS. (FURTADO, 1993; REIS, 1998) O modo próprio de fazer queijo de Minas sintetiza, no queijo do Serro, no queijo da Canastra, no queijo do Salitre ou Alto Paranaíba, ou ainda Cerrado, um conjunto de experiências, símbolos e significados que definem a identidade do mineiro, reconhecida por todos os brasileiros. Por se tratar de um modo de fazer enraizado na comunidade mineira, o Modo Artesanal de fazer Queijo Minas é considerado um patrimonio imaterial dos mineiros registrado no Livro de Registro dos O processo de fabricação desse tipo de queijo segue basicamente o seguinte fluxograma: Luís da Câmara Cascudo publicou em 14 de junho de 1959 na Folha de São Paulo o texto “O queijo no céu” no qual narra suas investigações acerca da ligação entre uma expressão popular e uma procissão da cidade do Serro – MG. A expressão 16
  • 17. MINAS GERAIS: MODOS PROPRIOS DE VIVER E COMER A MADEIRA: NA GAMELA E NA COLHER DE PAU Continuação “Aquele vai cortar o queijo no céu!” se refere ao casal que sempre guardou fidelidade e nunca se arrependeu do matrimônio. A procissão de cinzas em Serro tem entre os andores, o andor dos bem casados, no qual figura a imagem de um casal de santos e um enorme queijo. “A refeição comum no paraíso deve ser raro prêmio maravilhoso para uma fidelidade que nem um pecado interrompeu. O queijo, comum e habitual na região, reapareceria no céu numa Etienny Natya Fonseca F. Trindade homenagem reconstituitiva do ambiente doméstico modelar”. (CASCUDO, 1959) E falando em queijo logo se lembra da goiabada, doce tradicional que traz elementos muito característicos do nosso estado: o açúcar, a colher de pau e o tacho de cobre. A gamela é uma espécie de bacia larga e baixa, podendo ser redonda ou oval, esculpida em madeira. É essencial no preparo do pão de queijo, pois por ser pesada e “aberta”, permite que a cozinheira sove melhor o polvilho, para preparar o pão de queijo. É usada também no preparo de pães e rosquinhas. A colher de pau, por sua vez, é utilizada no preparo de angu e doces. Isto porque o mexer contínuo com colher de metal desgas- taria o tacho ou a panela liberando resíduos no alimento. As madeiras mais usadas na confecção das gamelas e colheres de pau são o caju, a goiaba, a emburama e o jenipapo. Passada de geração em geração, a técnica usada pelos artesãos para esculpir as peças conta com instrumentos como o enxó, a grosa e a lixa. Depois de prontas, as peças passam por um processo de curtimento com sebo de vaca para que não ganhe rachaduras com o uso. Uma gamela ou uma colher de pau bem feita podem durar até 20 anos! CANA DE AÇÚCAR: NA CACHAÇA E NOS DOCES O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar, açúcar e álcool etílico do mundo. A planta foi introduzida no Brasil no período colonial e é hoje um dos principais produtos brasileiros. A cachaça é uma bebida tipicamente brasileira. Seu nome tem origem no termo espanhol cachaza que designava um vinho inferior. Ela foi, por muito tempo, considerada bebida de pobres, mas tem caído cada vez mais no gosto das outras classes. Também conhecida como pinga, caninha, garapa, a cachaça é a aguardente produzida da destilação de um fermentado de cana de açúcar moída. A Constituição Brasileira faz a seguinte diferenciação entre cachaça e aguardente de cana: Art. 52. Aguardente de cana é a bebida com graduação alcoólica de trinta e oito a cinqüenta e quatro por cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida de desti- naqueles em que o cultivo da cana-de-açúcar não é favorável. Ela pode ser produzida tanto em destilarias industriais quanto em alambiques artesanais. Considerando ambas as formas de produção de cachaça, temos os seguintes dados: São Paulo é o maior produtor, com 54% de toda a produção. Pernambuco é o segundo maior produtor, com A cachaça é pro- 12%, Ceará é o terceiro, duzida em todos os Es- com 11%, seguidos de tados brasileiros, mesmo Rio de Janeiro (8%), Milado alcoólico simples de canade-açúcar ou pela destilação do mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro, expressos em sacarose. Art. 53. Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de trinta e oito a quarenta e oito por cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida pela destilação do mosto fermentado do caldo de cana-deaçúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro. 17
  • 18. MINAS GERAIS: MODOS PROPRIOS DE VIVER E COMER nas Gerais (8%), Goiás (8%), Paraná (4%), Paraíba (2%) e Bahia (2%). A produção de cachaça em alambiques, de modo artesanal está concentrada nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo, sendo que os dois primeiros são responsáveis por cerca de metade da produção de cachaça de alambique do Brasil, sendo Minas Gerais o principal produtor. O processo artesanal de fabricação da cachaça segue as seguintes etapas: moagem, filtragem, fermentação, destilação em alambiques de cobre e, por último, envelhecimento em barris de madeira. O cobre e a madeira desempenham, Fonte: Martinelli et al. (2000). no resultado final da cachaça, um importantíssimo papel, pois conferem o sabor específico da cachaça produzida artesanalmente. A PANELA DE PEDRA SABÃO Isabela Alline Oliveira As panelas de pedra sabão têm também um importante papel na culinária mineira, podendo ser utilizadas no preparo de arroz, feijão, frango ensopado, legumes cozidos, etc. As panelas são esculpidas pelos artesãos muitas 18 vezes em pequenas oficinas no fundo de suas casas. A técnica, antiga e tradicional, vai sendo passada de pai para filho. Em Minas Gerais, as principais cidades que mantêm a centenária fabricação de panelas de pedra sabão são Mata dos Palmitos, Divinópolis, Cláudio, Ouro Preto, Mariana, Congonhas, Santa Rita de Ouro Preto e Cachoeira do Campo. Os dois últimos são distritos de Ouro Preto, e Santa Rita é considerada a capital mundial da pedra sabão
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  • 20. RECEITAS TRADICIONAIS EM SAO JOÃO DEL REI Receita de: Vera Lúcia Rezende tem 48 anos, é professora, natural da cidade de Luminárias – MG. Aprendeu a fazer essa goiabada com sua mãe, pois desde a infância a ajudava nessa tarefa. Da mesma forma, ensinou a seus filhos. Afirma que a ajuda dos mais jovens é de muita importância principalmente na etapa da colheita das goiabas, pois eles sobem nas árvores com mais facilidade e podem assim, colher todas as goiabas maduras do pé. 20 Ingredientes Goiaba (1 medida) Açúcar (1/2 medida) Utensílios: Moedor manual, tacho de cobre, colher de pau e caixeta de madeira. Modo de Preparo Utilize somente goiabas maduras. Laveas, retire todas as sujeiras da casca (cabinho, o outro lado, algum defeitinho que tiver...), não descasque. Corte as goiabas ao meio e retire o miolo. Separe os miolos bons e jogue fora os miolos bichados. No final desse processo, você terá somente as poupas das goiabas, sem miolos e sem defeitos na casca, então as lave uma a uma. É im- GOIABADA portante retirar todas as sementes, pois elas não cozinham e prejudicam seriamente a qualidade do doce. Depois de lavar as goiabas, deixe as de cabeça para baixo para escorrer bem a água, se tiverem com muita água, o doce espirra muito. Depois passe as goiabas em uma máquina de moer carne. Depois de moer, meça quanto dessa massa você obteve. Para cada medida de goiaba, acrescente meia medida de açúcar cristal. Coloque o açúcar e a goiaba em um tacho de cobre e leve ao fogo mexendo com colher de pau sem parar. A colher deve ter o cabo grande, pois em certa etapa o doce espirra muito. Numa panela a parte coloque os miolos, cozinhe bem, coe e acrescente ao doce, com a quantidade de açúcar correspondente. O ponto do doce é quando você começa a ver o fundo do tacho e começa a fazer um barulhinho de fritura no fundo. Retire do fogo, bata bem o doce para engrossar mais e coloque nas caixetas de madeira, forradas com plástico.
  • 21. RECEITAS TRADICIONAIS EM SAO JOÃO DEL REI PÃO DE QUEIJO Receita de Vera Lúcia Rezende tem 48 anos, é professora, natural da cidade de Luminárias – MG. Aprendeu a fazer o pão de queijo com sua mãe observando e ajudando desde a infância. Em sua casa o pão de queijo é feito principalmente aos fins de semana e quando recebem visitas. Ingredientes 1 Kg de polvilho azedo 4 copos grandes de leite 1 copo americano de óleo 1 colher de sopa de sal 6 ovos 1 prato de queijo curado ralado grosso Utensílios Gamela, assadeira Modo de Preparo Despeje o polvilho todo em uma gamela, coloque meia xícara de leite e sove bastante até ficar bem fininho, sem pelotinhas. Sovar é apertar pequenas quantidades de polvilho entre a palma das mãos, com força. Esse processo é importante para o pão de queijo ficar liso. Quando o polvilho estiver bem fininho, leve ao fogo um copo grande de leite, um copo americano de óleo e uma colher cheia de sal. Logo que a mistura ferver, escalde espal- hando bem a mistura sobre o polvilho. Pegue uma colher grande e misture para que o calor da mistura entre em contato com uma quantidade maior de polvilho. Acrescente seis ovos inteiros e um pouco de leite e amasse. Vá acrescentando leite aos poucos, coloque o queijo e continue acrescentando leite até chegar à consistência ideal. Para testar essa consistência, lave a mão, seque-a e encoste-a na massa, a massa deve grudar na mão, se não grudar, ainda está dura. Unte as mãos com óleo e enrole os pães de queijo. Asse em forno quente até dourar. Fotos: Equipe Embornal 21
  • 22. RECEITAS TRADICIONAIS EM SAO JOÃO DEL REI PÉ DE MOLEQUE COM RAPADURA Receita de: Maria de Fátima Diniz tem 55 anos, é cozinheira, natural da cidade de São Francisco de Paula – MG. Aprendeu a receita com uma patroa. Tem o hábito de fazer essa receita mais na época das festas juninas e durante certo tempo, fazia o pé de moleque para comercializar em Oliveira – MG, cidade em que mora atualmente. Ingredientes 1 rapadura pura 1 pacote de amendoim torrado e moído 1 copo de leite (250 ml) Utensílios Colher de pau por completo e fique uma espuma grossa; junte o amendoim de uma só vez; bata bem, até que o doce comece a esfriar e endurecer; despeje sobre uma superfície limpa (pedra ou assadeira), acerte bem com uma espátula; corte e guarde em recipiente tampado. Modo de Preparo Corte a rapadura com uma faca como se faz com uma barra de chocolate, leve ao fogo junto com o leite e mexa com a colher de pau, sem parar, até que a mistura fique homogênea. Deixe a mistura ferver, sem parar de mexer até que a rapadura dissolva BOLINHO DE FEIJÃO Receita cedida por: Márcia Sena tem 54 anos é técnica em Nutrição e Dietética, mora em de Barbacena – MG, sendo natural da cidade de Senhora de Oliveira– MG. Aprendeu a fazer o bolinho de feijão com sua avó e o faz aos finais de semana, quando a família está reunida. 22 Ingredientes 2 copos de feijão cozido 2 ovos Salsinha Cebolinha Cebola branca picadinha Sal a gosto Farinha de trigo até o ponto 1 colher (chá) fermento em pó químico Óleo para fritar Modo de Preparo Em uma tigela, coloque o feijão cozido, os ovos inteiros, cebolinha, salsinha, cebola picada e sal e mexa bem. Acrescente aos poucos o trigo, até ficar no ponto de cair da colher, como bolinho de chuva. Por último acrescente o fermento em pó e mexa. Frite em óleo não muito quente, como se fosse bolinho de chuva. Rende 20 porções
  • 23. RECEITAS TRADICIONAIS EM SAO JOÃO DEL REI BISCOITO DE POLVILHO Receita de: Anunciação Resende tem 75 anos, é professora aposentada, natural da cidade de Itumirim – MG. Aprendeu a fazer o biscoito de polvilho com sua mãe. Ela lembra que antigamente as mulheres de uma mesma família costumavam se reunir em mutirão para fazer grandes quantidades e variedades de quitandas, que eram assadas em fornos de areia ou de tambor e armazenadas em latas por um período relativamente longo. Uma das quitandas que sempre eram feitas era o biscoito de polvilho. Ingredientes 1 Kg de polvilho azedo 2 copos de leite 1 colher de sopa de sal 1 copo de óleo 2 ovos inteiros Água até atingir o ponto Utensílios Saquinho de confeitaria e assadeira Modo de preparo Sove bem o polvilho misturado com um copo de leite e o sal. Ferva o outro copo de leite junto com o copo de óleo e escalde o polvilho. Espere esfriar e acrescente os ovos. Amasse tudo acrescentando água até a massa virar um creme homogêneo mole. Despeje a massa em um saco plástico e corte o cantinho do saco na espessura que desejar que fique os biscoitos, lembrando que eles do- bram de tamanho depois de assados. Esprema a massa em um tabuleiro untado com óleo fazendo círculos fechados ou vírgulas. Asse em forno médio, deixe secar bem para não murchar. Fotos: Equipe Embornal 23
  • 24. RECEITAS TRADICIONAIS EM SAO JOÃO DEL REI BISCOITO DE POLVILHO Receita de: Márcia Sena tem 54 anos, é técnica em Nutrição e Dietética, mora em de Barbacena – MG, sendo natural da cidade de Senhora de Oliveira– MG. Aprendeu a fazer o doce com sua avó, que carinhosamente a ensinava no fogão à lenha, explicando os detalhes e enfatizando que o importante acima de tudo é o carinho e dedicação que você tem com aquilo que está fazendo, e isto inclui o ato de cozinhar. Márcia faz o doce de leite aos finais de semana e principalmente em datas comemorativas. Ingredientes Leite (1 medida) Açúcar (1/2 medida) Utensílios: Tacho de cobre e colher de pau Modo de preparo Colocar o leite no tacho, esperar levantar fervura e acrescentar o açúcar. Mexer sempre e para tirar o ponto, colocar água em um recipiente e colocar um pouquinho do doce. Quando tiver uma puxa bem firme; retirar do fogo, bater com a colher e em seguida despejar em um refratário untado com manteiga. Ao esfriar, corte em quadradinhos. Fotos: Equipe Embornal 24
  • 25. RECEITAS TRADICIONAIS EM SAO JOÃO DEL REI FRANGO COM QUIABO Receita de: Fotos: Equipe Embornal 1 xícara de chá de salsinha pic- do água aos poucos, deixe cozinadinha har até que você sinta que a carne 1 xícara de chá de cebolinha pic- está macia. Meire Soares Torres À parte, lave bem o quitem 59 anos, é dona de casa, natu- adinha abo e seque-o em um pano para ral de Lavras. Aprendeu a fazer o Pimenta do reino a gosto evitar a baba, pique em rodelas e frango com quiabo com sua mãe refogue em óleo quente, por dez quando adolescente ajudava no Utensílios preparo deste típico prato mineiro. Panela de pedra e colher de pau minutos em uma panela a parte. Depois de o frango e o Hoje tenta passar à sua filha a imquiabo estarem prontos sepaportância de perpetuar esta receita Modo de Preparo radamente, junte os dois em uma tão tradicional em sua família. panela de pedra, sem esquecer-se Limpe e corte o frango do resto dos temperos, espere reIngredientes em pedaços, logo após tempere fogar e está pronto. 1 frango médio com o alho amassado com sal ( ou 4 dentes de alho com outros temperos se for de sua Sal a gosto preferência ) e deixe descansar por 2 colheres de sopa de açúcar um dia na geladeira. 1 cebola média picada Em uma panela grande ½ Kg de quiabo derreta o açúcar, depois coloque o 1 xícara de chá de óleo frango e a cebola picada mexendo 1 xícara de chá de cheiro verde até ficar bem moreno. Vá colocan- 25
  • 26. RECEITAS TRADICIONAIS EM SAO JOÃO DEL REI Receita de: Modo de preparo Kátia Cristina de Paula natural de Bom Sucesso, 27 anos, estudante. Aprendeu a receita quando criança com sua mãe. Ela lembra que é um costume mineiro servir um cafezinho para as visitas, e a broa de fubá o acompanha muito bem. A broa de fubá sempre esteve presente em sua casa, desde a sua infância. 26 Ingredientes 3 ovos 1 ½ xícara de açúcar cristal 1 pitada de sal 1 colher de chá de bicarbonato de sódio 2 colheres de sopa de manteiga 3 xícaras de fubá 2 xícaras de coalhada Óleo e farinha de trigo para untar a assadeira Bata os ovos e o açúcar. Acrescente o sal, o bicarbonato e a manteiga e bata mais. Em seguida, acrescente a coalhada e o fubá e bata até ficar bem homogêneo. Despeje em assadeira untada e asse em forno pré-aquecido. Utensílios Assadeira BROA DE FUBÁ
  • 27. RECEITAS TRADICIONAIS EM SAO JOÃO DEL REI Receita cedida por: José Jorge de Oliveira tem 75 anos, é pedreiro aposentado, natural de Andrelândia – MG. Aprendeu a fazer o torresmo com sua mãe e desde então ele é a única pessoa da família que o faz. O senhor José afirma que se acostumou tanto a fazer o torresmo que faz quase todos os dias, mas não o utiliza como tira gosto da cachaça como é utilizado tradicionalmente, pois o senhor José não bebe cachaça. Ingredientes Torresmo Sal a gosto Utensílios: Panela, colher de pau, faca bem afiada. TORRESMO em quando para não grudar um torresmo no outro. Eles vão soltar mais gordura ainda e quando estiverem opacos, com cara de que estão fritos, desligue o fogo, retire daquela gordura os torresmos para que eles possam esfriar. Modo de Preparo Tempere os torresmos com o sal e deixe descansar por uns 15 minutos. Coloque um pouco de óleo numa panela e quando estiver quente, coloque os cubos do torresmo em uma panela tampada. Com uma colher de pau vá mexendo de vez 27
  • 28. MODO DE FAZER O FOGÃO A LENHA Isabela Alline Oliveira e José Raimundo da Silva nado cinzeiro. A primeira carreira de tijolos tem que ter uma inclinação de 25° ou mais. Depois vai tecendo as carreiras de tijolos. Quando tiver uma altura de 60 cm deverá deixar uma abertura que será a chaminé (ao lado). Usa-se rebocar o forno com uma mistura de areia e estrume de vaca, pois essa pasta que faz com que a temperatura do forno seja mantida. Essa mistura deve ser curtida por 8 dias e passada no forno. Não se deve usar cimento e cal no reboco, pois com o aumento do calor eles fazem com que o forno trinque. Na hora de acender o fogo é necessário esperar a lenha queimar, para então, espalhar a brasa de modo a distribuir as ondas de calor dentro do forno. Depois de pronto o forno deverá ser aceso para que ele seque por completo, mas,não é recomendável usa-lo antes de 15 dias. No fim de cada uso, aconselha-se jogar sal fino para conservar o calor. Fotos: Equipe Embornal Primeiramente fazse a base (alicerce) com Adobe. Depois de fazer a base, por dentro faz um aterro de 40 cm de espaço (distância). Depois coloca 35 cm de areia grossa e se coloca sal grosso, em forma de cruz, fazendo com que as partes estejam iguais. O sal é para conservar o calor dentro do forno. No alicerce tem uma abertura de 20 cm de diâmetro. Em cima coloca ladrilha com os tijolos que são só encaixados. Após esse processo, com uma areia mais fina vai completando as aberturas entre os tijolos. Faz-se a porta do forno nesse momento, e do lado oposto um orifício denomi- 28
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  • 38. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS CASCUDO, Luís da Câmara; ANDRADE, Mario de, Cartas, 1924 – 1944. Organizador: Marcos Antonio de Moraes. São Paulo: Global, 2010. ______, Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: MEC, 1954. ______, Literatura Oral no Brasil. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora/ MEC, 1978a. ______, Seleta. 2 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976. DETIENNE, Marcel, Os Mestres da Verdade na Grécia Arcaica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. ELIADE, Mircea, O sagrado e o Profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 2001. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. Curitiba: Positivo, 2004. LE GOFF, Jacques, História e Memória. Tradução Bernardo Leitão... [et al.]. Campinas: Editora da Unicamp, 2003. ORIÁ, Ricardo. Memória e ensino de História. BITTENCOURT, Circe (Org.). O saber histórico na sala-de-aula. São Paulo: Contexto, 1997. TEIXEIRA, Simonne; VIEIRA, Silviane de Souza... [et al.], Educação patrimonial: novos caminhos na ação pedagógica. Campos dos Goytacazes: EDUENF. 2006 Informações do IPHAN disponíveis em: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do;jsessionid=092730D01A132E79E32EBCBE412DF280?id=10852&retorno=paginaIp han 38