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ARTIGO DE REVISÃO


                                              ANTICOAGULAÇÃO AMBULATORIAL

                                                   OUTPATIENT ANTICOAGULATION

                                                    Jordana Guimarães1, Alcides José Zago2

RESUMO

       Por mais de 50 anos, a disponibilidade de anticoagulantes orais tem tornado possível a prevenção primária e secundária efetiva
de tromboembolismo arterial e venoso. O maior dilema do uso de anticoagulantes na prática clínica é balançar o benefício da prevenção
de eventos tromboembólicos e o risco de complicações hemorrágicas. Apresenta-se neste artigo de revisão um enfoque do uso dos
anticoagulantes orais nas seguintes entidades clínicas: tromboembolismo venoso, síndromes coronarianas agudas, fibrilação atrial e
próteses valvares cardíacas.

        Unitermos: Anticoagulantes orais, varfarina, femprocumona.

ABSTRACT

         For more than 50 years, the availability of oral anticoagulants has promoted effective primary and secondary prevention of arterial
and venous thromboembolism. A major dilemma of using anticoagulants in clinical practice is balancing the benefits of preventing throm-
boembolic events and the risks of hemorrhagic complications. This review article presents an approach to the use of oral anticoagulants
in the following diseases: venous thromboembolism, acute coronary syndromes, atrial fibrillation and prosthetic heart valves.

        Keywords: Oral anticoagulants, warfarin, phenprocoumon.


     PRINCÍPIOS DA ANTICOAGULAÇÃO ORAL                                        com varfarina está fortemente relacionada com aborto,
                                                                              teratogenicidade e sangramento fetal quando usada duran-
       Os anticoagulantes orais, também conhecidos por a-                     te a gestação. A terapia alternativa é com heparina não-
gentes cumarínicos, são antagonistas da vitamina K, um                        fracionada ou com heparinas de baixo peso molecular.
importante co-fator para a síntese hepática dos fatores de                    Não há, entretanto, contra-indicação durante a lactação,
coagulação II (protrombina), VII, IX e X (1-3). Os represen-                  pois a quantidade excretada no leite materno é muito
tantes disponíveis no mercado brasileiro incluem a varfarina                  pequena.
(Warfarin) e a femprocumona (Marcoumar). O uso da fem-                                A eficácia dos ACO geralmente é superior à da as-
procumona tem diminuído progressivamente pelo fato de os                      pirina, mas o uso combinado desses dois agentes anti-
grandes estudos serem realizados com varfarina.                               trombóticos é mais efetivo para doença arterial e permite
                                                                              que a intensidade da ACO seja diminuída. A diferença do
Uso clínico                                                                   tratamento da doença arterial e venosa é explicada pela
        As indicações para terapia anticoagulante permanente                  maior formação de agregados plaquetários no coágulo da
incluem a prevenção primária de tromboembolismo na fibri-                     doença arterial. As condições que apresentam baixo risco
lação atrial (FA) e em pacientes com próteses cardíacas,                      de tromboembolismo podem ser manejadas com aspirina
além da prevenção secundária de tromboembolismo venoso                        apenas.
e síndromes coronarianas agudas. Na doença arterial perifé-                           Em casos de risco elevado de novo tromboembo-
rica, na insuficiência cardíaca com ritmo sinusal e no aneu-                  lismo, a heparina é indicada até a terapia ACO alcançar o
risma e dissecção da aorta, o uso desses fármacos é contro-                   seu efeito, o que é usual ocorrer em 3 a 4 dias. A associa-
versa (1).                                                                    ção de heparina e ACO não está relacionada à maior
        Qualquer evidência clínica de sangramento ativo dos                   ocorrência de sangramentos. Simultaneamente o período
tratos gastrintestinal, respiratório e geniturinário contra-                  de tratamento com heparina é reduzido em cerca de 4
indica o uso dos anticoagulantes orais (ACO). Hemorragia                      dias, diminuindo, com isso, o risco de trombocitopenia
cerebrovascular, aneurisma cerebral, hipertensão arterial                     farmacológica (1).
severa, pericardite e endocardite bacteriana também são                               A dose inicial de varfarina deve ser individualiza-
situações de risco para sangramentos. Via de regra, pacientes                 da. Insuficiência hepática, idade avançada, desnutrição e
alcoólatras, psicopatas ou que não possam ser supervisiona-                   risco de sangramento elevado são situações que requerem
dos não têm indicação para o uso dessa classe de drogas,                      doses iniciais baixas, de 1-5 mg/dia, durante 2 a 4 dias.
pois podem apresentar resultados clínicos graves. A terapia                   Doses de ajuste de 1 mg tanto para mais quanto para

1
 Acadêmica de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS.
2
 Médico cardiologista e hemodinamicista. Professor titular, Departamento de Medicina Interna, Faculdade de Medicina, UFRGS, Porto Alegre, RS. Chefe
do Serviço de Hemodinâmica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Porto Alegre, RS.
Correspondência: Jordana Guimarães, Rua Vinte de Setembro, 351, CEP 94440-300, Viamão, RS, Brasil.
E-mail: jordana_sirius@yahoo.com.br.
Guimarães J et al


menos são recomendadas (2). A dose de manutenção deve                       A varfarina pode ser substituída com segurança
ser ajustada de acordo com o international normalized ratio          pela apresentação genérica. Mas como foram documenta-
(INR), alvo de cada condição clínica. Ela situa-se em geral          das mudanças no INR, é recomendado que durante a
entre 2,5 e 10 mg/dia (4). Alimentos podem diminuir a taxa           primeira semana após a troca se realize a monitorização
de absorção. A varfarina também pode ser administrada por            laboratorial (1).
via endovenosa sem qualquer modificação na dose.
       Quanto à femprocumona, a dose inicial no primeiro             Fatores que afetam a resposta à varfarina
dia é de 12 mg, enquanto no segundo dia são administrados                    Diversas condições clínicas afetam a resposta à
9 mg. É aconselhado medir o INR no terceiro dia. A dose de           varfarina (Tabela 1). Além da lista de interações farmaco-
manutenção é de 1,5-4,5 mg/dia, aproximadamente.                     lógicas ser bastante extensa, seu aumento é contínuo
                                                                     (Tabela 2). Os pacientes devem ser educados para infor-
Controle laboratorial                                                mar a retirada ou a adição de qualquer medicação.
        Os pacientes que fazem uso de ACO têm sua terapia                    Com a progressiva aderência à medicina alternati-
monitorizada por meio da medida do tempo de protrombina              va, alguns fitoterápicos foram relacionados a mudanças
(TP). Esse teste mede o tempo de formação do coágulo des-            na resposta à terapia anticoagulante. Ginko, dong quai e
de a ativação do fator VII até a formação do coágulo de              ipriflavona aumentam o risco de sangramentos. Por outro
fibrina. Devido a variações na metodologia, reagentes e              lado, ginseng antagoniza os efeitos da varfarina.
instrumentos usados em cada laboratório, foi estabelecido                    A ingestão de vitamina K é um fator independente
um índice de normalização para as medidas do TP (INR) (5).           maior que interfere com a estabilidade anticoagulante,
O INR é mais confiável que a simples relação do TP não-              sendo, por isso, um fator clinicamente relevante (8). A
convertida (4).                                                      lista de alimentos ricos em vitamina K inclui abacate,
        O controle laboratorial deve ser feito a cada um ou          brócolis, espinafre, couve-flor (1,4), mas a quantidade
dois dias até o INR terapêutico ser atingido. Quando o INR           necessária para se opor ao efeito anticoagulante é bastante
estabilizar, o controle deve ser semanal e, após, mensal (1,6).      alta. O paciente deve ser informado que apenas a ingestão
O risco de eventos tromboembólicos está aumentado quando             em grande excesso desses alimentos pode ser prejudicial
o INR encontra-se abaixo do nível terapêutico; quando aci-           (1,8).
ma do mesmo, o risco de hemorragias aumenta dramati-
camente, sobretudo em idosos (4,7).

                               Tabela 1 - Condições clínicas que afetam a resposta à varfarina
Resposta elevada             Diarréia, esteatorréia, hipertermia, desnutrição, hipertireoidismo, doença hepática, câncer,
                             insuficiência cardíaca
Resposta reduzida            Edema, dislipidemia, hipotireoidismo

                                            Tabela 2 - Interações farmacológicas
Potencializam o efeito         Acetaminofeno, álcool, amiodarona, andrógenos, aspirina, cefalosporinas, cimetidina,
anticoagulante                 ciprofloxacina, eritromicina, estatinas, fenitoína, fibratos, fluconazol, fluoxetina, hepari-
                               na, hormônio tireoidiano, indometacina, isoniazida, itraconazol, metronidazol, norfloxa-
                               cina, omeprazol, propranolol, sulfametoxazol-trimetoprim, sulfoniluréias, tetraciclinas,
                               vacina para influenza
Diminuem o efeito              Azatioprina, barbitúricos, carbamazepina, ciclosporina, clordiazepóxido, colestiramina,
anticoagulante                 estrógenos, rifampicina, sucralfato


Complicações                                                         flutuação do TP nesse período; após, diminui gradual-
       O problema inerente aos ACO é o risco de sangra-              mente. Outros preditores de hemorragia incluem: pobre
mentos. A incidência anual de hemorragia intracraniana está          controle laboratorial, doença vascular periférica e doença
entre 0,5 e 4,2% nos ensaios clínicos. Episódios menores de          cerebrovascular (1).
sangramento ocorrem com uma incidência anual de 2 a 24                      Os pacientes idosos estão entre os que mais se be-
episódios a cada 100 pacientes. O risco de hemorragia está           neficiam com o tratamento anticoagulante; no entanto,
diretamente relacionado com a intensidade da anticoagula-            também estão entre aqueles com maior risco de complica-
ção, e pode ser maior durante o primeiro mês, pois é maior a         ções hemorrágicas (1,4).


                                                      Rev.HCPA 2007;27(1)                                                      31
Anticoagulação ambulatorial


Perspectivas                                                              (14). Nos pacientes hospitalizados com insuficiência
        Os desfechos inconvenientes que envolvem os atuais                cardíaca congestiva, sem profilaxia adequada com hepa-
anticoagulantes têm estimulado a pesquisa clínica para o uso              rina, a TVP pode estar presente em mais de 70% dos
de opções que não provoquem os riscos elevados de sangra-                 casos (15).
mento, a extensa interação com outros fármacos, o início
lento de ação e a necessidade de monitoração plasmática,                  Fatores de risco para tromboembolismo venoso
mas que reproduzam efeitos antitrombóticos semelhantes aos                        As situações em que prevaleçam um ou mais com-
dessa droga. As perspectivas para o uso do agente anticoagu-              ponentes da tríade de Virchow (estase venosa, lesão endo-
lante oral, ximelagatran, são extremamente auspiciosas, no                telial e estados de hipercoagulabilidades) são propícias ao
sentido de reproduzir os efeitos satisfatórios da varfarina e             desenvolvimento da trombose. Os principais fatores de
reduzir efeitos adversos, sobretudo eventos hemorrágicos                  risco são citados na Tabela 3 (16,17).
(9,10).                                                                           A ocorrência de tromboembolismo prévio é consi-
        O ximelagatran é uma pró-droga convertida, após                   derada fator de risco importante. A alteração endotelial
administração oral, em melagatran, um inibidor direto da                  provocada pelo episódio inicial predispõe à formação de
trombina. O seu pico de efeito é em 2 horas, a meia-vida de               novos trombos, principalmente na presença de outros
3 horas e a excreção é predominantemente renal. São neces-                fatores de risco persistentes. As neoplasias de pâncreas,
sárias duas administrações diárias. Um dos seus efeitos ad-               pulmão e trato gastrintestinal são aquelas em que a asso-
versos é a elevação das transaminases séricas após 1 mês de               ciação é mais freqüente. O emprego de estrogênios como
uso (10).                                                                 método de anticoncepção ou como terapia de reposição
                                                                          hormonal é correlacionado com maior incidência de
            TROMBOEMBOLISMO VENOSO                                        tromboembolismo. O risco é maior nos quatro primeiros
                                                                          meses após o início do uso do medicamento e desaparece
        O tromboembolismo venoso ainda é associado a sig-                 após 3 meses da sua descontinuação.
nificante morbilidade e mortalidade (11). Envolve duas enti-                      Embora, como foi dito, o TEP e o TVP sejam a-
dades consideradas manifestações clínicas da mesma doen-                  presentações do tromboembolismo venoso, os pacientes
ça: a trombose venosa profunda (TVP) e o tromboembolis-                   com embolia pulmonar parecem estar sob risco aumenta-
mo pulmonar (TEP) ou embolia pulmonar. No Ocidente, a                     do de recorrência de eventos fatais se comparados àqueles
incidência de embolia pulmonar é de 5/10.000 pacientes                    com TVP (18).
(12). A mortalidade nos primeiros três meses é > 15% (13), e
quatro vezes maior quando o tratamento não é instituído

                                     Tabela 3. Fatores de risco para tromboembolismo venoso
               Estase venosa                         Lesão endotelial                   Hipercoagulabilidade
               - Idade maior que 40 anos                - Trauma não-cirúrgico e cirúrgi-        - Doença maligna
               - Imobilização                           co, incluindo parto                      - Obesidade
               - Insuficiência cardíaca                 - Tromboembolismo prévio                 - Tabagismo
               - Infarto do miocárdio                                                            - Gravidez
               - Paralisia de membros inferiores                                                 - Estrogênio
               - Acidente vascular encefálico                                                    - Trombofiliasa
               - Viagens aéreas de longas dis-
               tâncias
a
 Deficiência das proteínas C e S, resistência à proteína C (fator V Leiden), deficiência de antitrombina III, mutação da protrombina,
anticorpo antifosfolipídico / anticardiolipina, desfibrinogenemias e desordens do plasminogênio.

Prevenção secundária de tromboembolismo venoso                            dose (INR de 1,5-2,0) é altamente eficaz na prevenção
       No estudo The Prevention of Recurrence of Venous                   secundária de tromboembolismo venoso (19).
Thromboembolism (PREVENT), que avaliou 508 pacientes                             Recente metanálise, publicada em 2005 pelo
com tromboembolismo idiopático por cerca de 4 anos, a                     JAMA, reuniu estudos randomizados publicados entre
redução do risco de tromboembolismo recorrente foi de 76 a                1969 e 2004. A conclusão foi de que pacientes que rece-
81% no grupo que usou baixas doses de varfarina em relação                beram ACO a longo prazo estão protegidos de trombo-
ao grupo placebo. O INR médio do grupo em uso de varfari-                 embolismo recorrente. E o artigo vai além, ao afirmar que
na foi de 1,5-2,0. O desfecho mostrado foi de que a terapia               o benefício clínico é mantido mesmo após a interrupção
anticoagulante oral com varfarina, a longo prazo e em baixa               da terapia, embora com uma menor eficácia (11).


32                                                      Rev HCPA 2007;27(1)
Guimarães J et al


Terapia anticoagulante oral no tromboembolismo                     mendação grau A). A trombose idiopática, em seu primei-
 venoso                                                            ro episódio, requer tratamento por pelo menos 6 meses.
       O tratamento da TVP é semelhante ao do TEP. Bolus           Nos pacientes com trombose idiopática recorrente ou com
de 80 U/kg seguido de infusão contínua de 18 U/kg/hora de          fatores de risco não-removíveis, o tratamento pode se
heparina não-fracionada é a primeira medida a ser adotada          estender por 12 meses ou mais (recomendação grau B)
após o diagnóstico de tromboembolismo venoso (16). As              (11,20,24). A Figura 1 esquematiza o tratamento com
heparinas de baixo peso molecular podem substituir a hepa-         ACO no TVP e no TEP
rina não-fracionada, com a mesma eficácia e segurança
(13,20,21). A varfarina deve ser iniciada junto com a hepari-      Síndromes coronarianas agudas
na somente em casos confirmados (recomendação grau C)                     Dentre os sobreviventes das síndromes coronaria-
(22). O INR-alvo é de 2,0-3,0 (recomendação grau A)                nas agudas, cerca de 10% morrem dentro do primeiro
(4,16,20,23). Quando o alvo for atingido, a heparina pode ser      ano. Após essa fase, a mortalidade é de 2 a 5%. Proporção
descontinuada (20).                                                adicional apresenta novo infarto ou outras manifestações
       A duração do tratamento com anticoagulantes depen-          de cardiopatia isquêmica (25).
derá fundamentalmente dos fatores de risco e da possibilida-
de de serem removidos. Os pacientes que apresentam apenas          Fatores de risco para ocorrência de novos eventos
fatores considerados removíveis poderão ser tratados por 3          isquêmicos
meses, desde que suspensa a exposição a tais fatores (reco                As evidências atuais preconizam o uso de anticoa-
                                                                   gulantes orais para os pacientes com alto risco de ocor-
                                                                   rência de novos eventos. Os fatores de risco são citados
                                                                   na Tabela 4.




                                                  Diagnóstico de TVP/TEP


                                                          Heparina
                                              Bolus 80 U/kg + Infusão contínua 18
                                                          U/kg/hora




                Paciente com fatores de                Trombose idiopática            Paciente com trombose recorrente
                   risco removíveis                        1º episódio                ou fatores de risco não-removíveis




                  ACO por 3 meses                      ACO por 6 meses                       ACO por 12 meses ou mais
                  Recomendação A                       Recomendação B                           Recomendação B


Figura 1. Terapia anticoagulante oral no tromboembolismo venoso
ACO = anticoagulante oral; TEP = tromboembolismo pulmonar; TVP = trombose venosa profunda.

                         Tabela 4. Fatores de risco para recorrência das síndromes coronarianas agudas
        Infarto agudo do miocárdio anterior extenso
        Angina pós-infarto ou evidência de isquemia em testes funcionais
        Doença coronariana multiarterial
        Trombo intracavitário visível à ecocardiografia
        Disfunção ventricular
        Arritmias ventriculares no fim da fase aguda
        História de outros eventos tromboembólicos



                                                  Rev.HCPA 2007;27(1)                                                      33
Anticoagulação ambulatorial




                                                  Diagnóstico de SCA




                                        Paciente de alto risco para recorrência




                            Varfarina (INR 2,0-3,0) por 3 meses + AAS (80-100 mg/dia)
                                                 Recomendação A

Figura 2. Terapia anticoagulante pós-síndromes coronarianas agudas
AAS = ácido acetilsalicílico; INR = international normalized ratio; SCA = síndrome coronariana aguda.

Prevenção secundária das síndromes coronarianas agu-           Terapia anticoagulante oral nas síndromes coronarianas
das                                                            agudas
        Os agentes antitrombóticos são componentes impor-              A terapia anticoagulante inclui varfarina e ácido a-
tantes do tratamento e prevenção secundária das síndromes      cetilsalicílico (80-100 mg), durante 3 meses após a ocor-
coronarianas agudas. Indiscutivelmente, eles apresentam        rência do evento isquêmico em pacientes de alto risco de
limitações. Os antiplaquetários como a aspirina e o clopi-     recorrência e não submetidos à solução da coronariopatia
dogrel, isolados ou combinados, muitas vezes falham em         através de intervenção coronariana percutânea (angioplastia
suprimir a ativação da cascata de coagulação e os pacientes    e stent coronário). A dose da varfarina deve ser ajustada
voltam a ter novos episódios isquêmicos. As heparinas          para um INR na faixa entre 2,0 e 3,0 (21,22,26,27) (reco-
(tanto a não-fracionada quanto às de baixo peso molecular)     mendação grau A, nível de evidência II) (27) (Figura 2).
apresentam restrições como a necessidade de uso parenteral
e risco de trombocitopenia, entre outras limitações (26). Os                   FIBRILAÇÃO ATRIAL
ACO, em diversos trials, quando em combinação com a
aspirina, têm mostrado benefício clínico superior na pre-              A FA é uma arritmia freqüente na prática clínica,
venção secundária se comparados ao tratamento com aspi-        com uma prevalência de 0,4% na população geral (2). A
rina apenas (21,22,26,27). Essa classe de antitrombótico       sua maior complicação são os eventos tromboembólicos. A
também tem suas limitações, como o risco de sangramentos       FA é considerada a condição clínica isolada de maior risco
e a necessidade de constante controle laboratorial, confor-    relativo para a ocorrência de acidente vascular cerebral
me já discutidos.                                              (AVC) (9) e a terceira maior causa de morte nos Estados
        Os estudos Antithrombotics in the Prevention of Re-    Unidos (2).
occlusion in Coronary Thrombosis (APRICOT-2), Antit-                   A estase no átrio esquerdo, principalmente no ápice,
hrombotics in the Secondary Prevention of Events in Coro-      favorece a formação de trombos, os quais podem se frag-
nary Thrombosis-2 (ASPECT-2) e Warfarin-Aspirin Rein-          mentar e liberar êmbolos na circulação sistêmica. O apên-
farction (WARIS-2) mostraram coletivamente que a anti-         dice atrial esquerdo é quase que exclusivamente o local de
coagulação de moderada intensidade com varfarina em            origem de trombos intracavitários em pacientes com FA.
combinação com baixas doses de aspirina é superior à           Outro fator que implica o aumento de acidentes isquêmicos
monoterapia com aspirina em pacientes com alto risco de        é o acelerado processo aterosclerótico presente nesses paci-
desenvolver novos eventos (22,26). A anticoagulação de         entes e/ou a coexistência de anormalidades valvares. Esses
baixa intensidade juntamente com a aspirina não oferece        são os mecanismos pelos quais se originam cerca de dois
nenhum benefício na prevenção de eventos isquêmicos. Já        terços de todos os eventos cerebrovasculares isquêmicos
a anticoagulação de alta intensidade (INR > 4) mostra os       (2,23).
mesmos desfechos clínicos da anticoagulação de moderada                Com relação ao flutter atrial, estudos mais recentes
intensidade. Entretanto, o risco de sangramentos aumenta       têm demonstrado ocorrência de eventos tromboembólicos,
de forma drástica (22,26,27).                                  tanto durante a arritmia quanto durante a pós-reversão a
                                                               ritmo sinusal. Assim, para pacientes com flutter atrial,
                                                               recomenda-se anticoagulação, com a utilização dos mes-
                                                               mos critérios indicados para FA (recomendação grau C,
                                                               nível II) (9).




34                                                Rev HCPA 2007;27(1)
Guimarães J et al


                            Tabela 5. Fatores de risco para embolismo em pacientes com fibrilação atrial
         Evento embólico prévio, ataque isquêmico transitório
         Idade
         Diabetes melito
         Hipertensão arterial
         Disfunção ventricular esquerda ou fração de ejeção abaixo de 25%
         Sexo feminino
         Doença cardíaca reumática
         Cardiopatia isquêmica
         Próteses valvares


Fatores de risco e estratificação do paciente com FA                       Embora não designados de modo específico para
        Nem todos os pacientes com FA estão sob o mesmo             avaliar a eficácia dos anticoagulantes após a restauração do
risco de desenvolver fenômenos tromboembólicos. Os                  ritmo sinusal, dois recentes ensaios clínicos mostram a
principais fatores de risco identificados estão listados na         importância da terapia anticoagulante mesmo em pacientes
Tabela 5.                                                           cujo ritmo sinusal foi restaurado com sucesso. Os estudos
        A história de evento isquêmico prévio e idade são os        Rate Control vs. Electrical Cardioversion for Persistent
mais fortes fatores preditores de aumento do risco de novos         Atrial Fibrillation (RACE) e Atrial Fibrillation Follow-up
eventos em pacientes com FA de origem não-valvar (23).              Investigation of Rhythm Management (AFFIRM), com 522
Tireotoxicose, terapia de reposição hormonal, tabagismo e           e 4.099 pacientes, respectivamente, avaliaram a terapia de
alcoolismo são fatores de risco pouco definidos (24).               controle da freqüência cardíaca associada à anticoagulação
        Pacientes com FA diagnosticada devem ser estrati-           em relação à terapia de controle do ritmo em indivíduos
ficados quanto ao seu risco de desenvolver eventos trom-            com FA, com a possibilidade de interrupção da terapia
boembólicos. Considerando que muitas estratificações                ACO (7).
foram propostas, sugere-se a classificação da American
College of Chest Physicians (24):                                   Terapia anticoagulante oral na FA
        - Alto risco: 75 anos ou mais; história de hiperten-               A anticoagulação oral é recomendada para pacientes
são associada a outros fatores de risco listados na Tabela 5.       com FA de qualquer intensidade ou duração e com outros
        - Moderado risco: 65-75 anos; diabetes; doença ar-          fatores de risco para eventos embólicos associados, ou seja,
terial coronariana.                                                 para pacientes de alto risco (7,24,25) (recomendação grau
        - Baixo risco: 60 anos ou menos; FA isolada.                A, nível I) (4). Quanto aos pacientes sob risco moderado,
                                                                    os guidelines diferem. Assim, a diretriz do American Col-
Prevenção de eventos tromboembólicos na FA                          lege of Cardiology / American Heart Association / Europe-
        A opção disponível, hoje, para a prevenção de even-         an Society of Cardiology (ACC/AHA/ESC) recomenda
tos vasculares em pacientes com FA é a terapia antitrombó-          anticoagulação com varfarina; já o American College of
tica (nível de evidência I) (4,23). De modo geral, as evi-          Chest Physicians (ACCP) permite tanto a anticoagulação
dências atuais são de que a anticoagulação nesses pacientes         com varfarina como também o uso de aspirina nesse grupo.
reduz em cerca de 65 a 80% a incidência de AVC (9). O               Pacientes com baixo risco podem ser tratados com aspirina
benefício absoluto da anticoagulação varia nos estudos              (24).
controlados com placebo de acordo com o risco de eventos
embólicos na população envolvida: quanto maior o risco,             1. FA aguda (ou seja, com início há menos de 48 horas).
maior é o benefício preventivo absoluto da anticoagulação           A necessidade de anticoagulação para cardioversão ainda
oral. A mortalidade total também sofre diminuição signifi-          não está bem estudada e a decisão deve ser individualizada,
cativa, com redução do risco relativo de 26% e redução de           conforme a presença de fatores de risco para tromboembo-
risco absoluto de 1,6% por ano. Apesar das evidências e             lismo.
recomendações, apenas metade dos pacientes com FA é                        Quando o quadro for de alto risco, recomenda-se a
corretamente tratada (23).                                          administração prévia de heparina (iniciar com bolus, segui-
        A prevenção antitrombótica primária em pacientes            do de infusão contínua, com ajuste da dose até atingir o
com FA de causa não-valvar foi avaliada no estudo meta-             valor de duas vezes o tempo de tromboplastina parcial
nalítico de Hart et al., que reuniu os seis principais ensaios      ativada – TTPA – basal) e, se necessário, a introdução do
randomizados, comparando varfarina com placebo em uma               ACO no momento da cardioversão.
população total de 2.900 pacientes. A redução de risco de                  Nos casos de FA com instabilidade hemodinâmica
AVC foi de 62% (9,25). Com relação aos pacientes com                (choque ou edema agudo de pulmão), infarto do miocárdio
FA e AVC prévio (prevenção secundária), o estudo Euro-              ou angina do peito, recomenda-se a heparinização imediata
pean Atrial Fibrillation Trial (EAFT), que comparou o uso           e posterior avaliação da necessidade de ACO (recomenda-
de aspirina, placebo e varfarina, demonstrou a superiorida-         ção grau C, nível I).
de da varfarina em relação à aspirina na redução de AVC
(9).

                                                     Rev.HCPA 2007;27(1)                                                     35
Anticoagulação ambulatorial


2. FA persistente (ou seja, intervenção requerida para                          PRÓTESES VALVARES
restaurar o ritmo sinusal) há mais de 48 horas. Terapia
com ACO durante 3 semanas antes (recomendação grau B,                 A trombogenicidade difere entre as valvas: as mais
nível I) e durante 4 semanas após a cardioversão elétrica ou   modernas apresentam menor risco (26). A incidência de
farmacológica (recomendação grau C, nível I). Antes da         eventos tromboembólicos com as próteses mecânicas do
cardioversão é imperativo o ecocardiograma transesofágico      tipo ball cage, tilting disk e bileaflet é estimada em 2,5, 0,7
(ECOT) para afastar tromboembolismo atrial esquerdo.           e 0,5% por ano, respectivamente (27). Terapia permanente
       Os mecanismos trombogênicos pré e pós-                  com ACO oferece a mais consistente proteção em pacientes
cardioversão da FA são distintos. Após 48 horas em FA, a       com valva mecânica. Agentes antiplaquetários sozinhos
estase sanguínea intra-atrial, conseqüente à ausência de       não protegem de forma consistente pacientes com esse tipo
contração efetiva, favorece a formação de trombos. Nesse       de prótese (recomendação grau C, nível I). Quando a tera-
caso, a ACO, antes do procedimento, por 3 semanas, com         pia anticoagulante é realizada com adequação, o risco de
INR entre 2,0 e 3,0, estabiliza o trombo na cavidade e im-     tromboembolismo com bioprótese cai para praticamente
pede a formação de novos trombos. Por outro lado, a pró-       zero (26). Entretanto, muitos resultados sobre a profilaxia
pria cardioversão (farmacológica ou elétrica) provoca “a-      antitrombótica advêm de casos não-randomizados ou con-
tordoamento” atrial por 4 semanas e, conseqüentemente,         trolados.
estase atrial, responsável pela formação de novos trombos.
Daí a necessidade de se manter, sempre, a anticoagulação       Fatores de risco para tromboembolismo nas próteses
(INR entre 2,0 e 3,0) durante esse período pós-                cardíacas
cardioversão, independentemente do resultado do ECOT e                Os fatores de risco para eventos tromboembólicos
do tipo de cardioversão.                                       com a presença de valva prostética são apresentados na
       A duração da anticoagulação pré-cardioversão, en-       Tabela 6. Finalmente, o risco é maior durante os primeiros
tretanto, pode ser abreviada, na ausência de trombo intra-     meses, até a prótese ser endotelizada (27).
cavitário, ao ECOT (recomendação grau B, nível II), visto
a comprovação de que a heparinização plena, até atingir        Terapia anticoagulante oral na prótese valvar
TTPA duas vezes o basal, geralmente obtido em menos de                 A terapia anticoagulante no paciente com prótese
24 horas, permite a imediata cardioversão (9).                 valvar varia de acordo o tipo e a posição da mesma.
       Em alguns pacientes, mesmo após a cardioversão, a               Todos os pacientes com valvas metálicas requerem
ACO é aconselhada indefinidamente, devido ao risco de          terapia anticoagulante contínua com varfarina ou outro
recaídas (2).                                                  cumarínico (nível de evidência I). Os guidelines atuais
                                                               recomendam INR de 2,0-3,0 para valvas bileaflet na posi-
3. FA paroxística (intermitente) e crônica. ACO indefi-        ção aórtica e 2,5-3,5 para as demais valvas (incluindo as
nida, sobretudo em pacientes com fatores de risco associa-     valvas disk e Starr Edwards) em posição aórtica ou mitral
dos (recomendação grau A, nível I). Sujeitos com FA paro-      (nível de evidência I) (6,27).
xística parecem estar sob o mesmo risco de eventos trom-               Para a bioprótese, é recomendada a terapia com var-
boembólicos que as formas crônicas. Recomenda-se que os        farina durante os primeiros 3 meses após a substituição da
esquemas de anticoagulação sejam idênticos, bem como a         valva defeituosa, principalmente para pacientes de alto
necessidade do ECOT quando se completar a cardioversão         risco (nível de evidência I). Após esse período, descontinu-
elétrica (9) (Figura 3).                                       ar a varfarina se o paciente for de baixo risco (24,27). A-
       As evidências acumuladas indicam certamente a su-       queles de alto risco devem receber varfarina, e o INR man-
perioridade da varfarina sobre o tratamento com aspirina       tido entre 2,0-3,0 (nível de evidência I) (24). A Figura 4
apenas em pacientes com FA e sob alto risco de AVC (23).       esquematiza o tratamento com varfarina em pacientes com
Os guidelines mais recentes preconizam a faixa de 2,0-3,0,     próteses cardíacas.
com um alvo de 2,5 (9,23).                                             Há evidências de que, na maioria dos casos (exceto
        A aspirina 325 mg/dia é alternativa à ACO crônica      nos pacientes intolerantes à aspirina), a adição diária de
apenas em pacientes com risco leve a moderado de desen-        aspirina 75-100 mg à anticoagulação traz benefício na
volver eventos tromboembólicos ou naqueles cujas contra-       redução dos eventos tromboembólicos (recomendação A,
indicações à terapia com ACO estão presentes (2,23). En-       nível II), com apenas um pequeno aumento do risco de
tretanto, devido às limitações com o uso da varfarina, paci-   sangramento (24,26,27). A adição de aspirina à varfarina
entes sem possibilidade de terem o INR monitorizado peri-      deve ser fortemente considerada em pacientes de alto risco.
odicamente, tem com freqüência usado aspirina 325 mg/dia       O INR deve ser mantido entre 3,5-4,5 em indivíduos de
(grau de recomendação D) (9,23).                               alto risco que não podem receber aspirina (recomendação
        Caso embolismo sistêmico ocorra durante a terapia      A, nível II) (26).
com varfarina, a adição de 80-10 mg/dia de aspirina e clo-
pidogrel 75 mg/dia é recomendado (2).




36                                                Rev HCPA 2007;27(1)
Guimarães J et al


       Em pacientes que apresentam um evento embólico                     (se o nível prévio era de 2,5-3,5). A aspirina deve ser au-
prévio durante adequada terapia antitrombótica, o trata-                  mentada ou adicionada (24).
mento ACO deve ser aumentado para alcançar um INR de
2,5-3,5 (se o nível prévio era de 2,0-3,0) ou mesmo 3,5-4,5

                                 Tabela 6. Fatores de risco para tromboembolismo com próteses cardíacas
      Períodos de insuficiente anticoagulação
      Posição mitral da valva, seja ela mecânica ou biológica (a posição mitral apresenta risco duas vezes maior)
      Baixo débito cardíaco
      Fibrilação atrial
      Episódios embólicos prévios
      Estados de hipercoagulabilidade, incluindo gestação


               Fibrilação aguda                        Fibrilação persistente há                      Fibrilação intermitente e
                                                           mais de 48 horas                                  paroxística



                     Heparina                       ACO (INR 2,0-3,0) durante 3 semanas            Paciente de              Paciente de
               Bolus + infusão contí-                      antes a cardioversão                     alto risco              baixo risco
                 nua até o valor de                       Recomendação B, nível I
                TTPA duas vezes o
                    nível basal                     ACO (INR 2,0-3,0) durante 4 semanas
                                                           após a cardioversão
                                                         Recomendação C, nível I                  ACO contínua              Aspirina 325
                                                                                                   (INR 2,0-3,0)              mg/dia
               Avaliar a necessidade                                                             Recomendação A,
               de ACO em pacientes                                                                    nível I
                    de alto risco                        Considerar ACO contínua em
                                                          pacientes de alto risco para
                                                                 embolização

Figura 3. Terapia anticoagulante na fibrilação atrial
ACO = anticoagulante oral; INR = international normalized ratio; TTPA = tempo de tromboplastina parcial ativada.



                                                      Substituição de valva



                             Prótese biológica                                             Prótese mecânica



              Pacientes de                Pacientes de                                       ACO contínua
               baixo risco                 alto risco                                     Nível de evidência I
                                                                               + AAS 75-100 mg/dia se paciente de alto risco


          ACO (INR 2,0-3,0)             ACO (INR 2,0-3,0)
           durante 3 meses              contínua + AAS 75-
          Nível de evidência I              100 mg/dia                    INR de 2,0-3,0 para                 INR de 2,5-3,5 para
                                        Nível de evidência I               valvas bileaflet ou                demais valvas inde-
                                                                           Medtronic Hall na                  pendente da posição
                                                                            posição aórtica
Figura 4. Terapia anticoagulante nas próteses valvares
AAS = ácido acetilsalicílico; ACO = anticoagulante oral; INR = international normalized ratio.




                                                           Rev.HCPA 2007;27(1)                                                             37
Anticoagulação ambulatorial




                       REFERÊNCIAS                                    14. Goldhaber S, Elliott C. Acute pulmonary embolism: Part II.
                                                                          Risk stratification, treatment, and prevention. Circulation.
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   lant therapy. N Engl J Med. 2003;349:675-83.                       15. Agnelli G, Prandoni P, Becattini C, et al. Extended oral anti-
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   of atrial fibrillation. Curr Opin Cardiol. 2003;18:26-31.              lism. Ann Intern Med. 2003;139:19-25.

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   mechanism of action, clinical effectiveness, and optimal               intensity warfarin therapy for the prevention of recurrent ve-
   therapeutic range. Chest. 2001;119:8S-21S.                             nous thromboembolism. N Engl J Med. 2003;348:1425-34.

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   seadas em evidências. Porto Alegre: Artmed; 2004. p. 735-43.       18. Polanczyk C, Gus M, Fuchs F. Fármacos usados em cardiopa-
5. Xavier RM, Albuquerque GC, Barros E, orgs. Laboratório na              tia isquêmica. In: Fuchs F, Wannmacher L, Ferreira M, edito-
   prática clínica: consulta rápida. Porto Alegre: Artmed; 2005.          res. Farmacologia clínica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara
                                                                          Koogan; 2004. p. 644-67.
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   ecutive summary. A report of the American College of Cardi-            nary disease. Eur Heart J Suppl. 2004;6(B):B2-3.
   ology/American Heart Association Task Force on Practice            20. Harrington R, Becker R, Ezekowitz M, et al. Antithrombotic
   Guidelines (Committee on Management of Patients with Val-              therapy for coronary artery disease. Chest. 2004;126:513S-
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   lant therapy to prevent stroke in patients with atrial fibrilla-       dial infarction and stable angina. BMJ. 2002;325:1287-9.
   tion. Mayo Clin Proc. 2004;79:904-13.
                                                                      22. Anand S, Yusuf S. Oral anticoagulants in patients with coro-
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   mias. Diretrizes de fibrilação atrial. Arq Bras Cardiol.               agulation therapy to optimize stroke prevention in patients
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10. Francis CW. Ximelagatran: a new oral anticoagulant. Best          25. Nixdorff U. Antithrombotic strategies for the management of
    Pract Res Clin Haematol. 2004;17:139-52.                              non-valvular atrial fibrillation. Int J Cardiol. 2005;100:191-8.

11. Ost D, Tepper J, Mihara H, Lander O, Heinzer R, Fein A.           26. Stein PD, Alpert JS, Bussey HI, Dalen JE, Turpie AG. Anti-
    Duration of anticoagulation following venous thromboem-               thrombotic therapy in patient with mechanical and biological
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12. Caramelli B, Gottschall CAM, Blacher C, et al. Diretrizes de      27. Seiler C. Management and follow-up of prosthetic heart
    embolia pulmonar. Arq Bras Cardiol. 2004;83(Supl.1):1-9.              valves. Heart. 2004;90:818-24.

13. Goldhaber S, Elliott C. Acute pulmonary embolism: Part I.
    Epidemiology, pathophysiology, and diagnosis. Circulation.
    2003;108:2726-9.




38                                                      Rev HCPA 2007;27(1)

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Anticoagulação ambulatorial

  • 1. ARTIGO DE REVISÃO ANTICOAGULAÇÃO AMBULATORIAL OUTPATIENT ANTICOAGULATION Jordana Guimarães1, Alcides José Zago2 RESUMO Por mais de 50 anos, a disponibilidade de anticoagulantes orais tem tornado possível a prevenção primária e secundária efetiva de tromboembolismo arterial e venoso. O maior dilema do uso de anticoagulantes na prática clínica é balançar o benefício da prevenção de eventos tromboembólicos e o risco de complicações hemorrágicas. Apresenta-se neste artigo de revisão um enfoque do uso dos anticoagulantes orais nas seguintes entidades clínicas: tromboembolismo venoso, síndromes coronarianas agudas, fibrilação atrial e próteses valvares cardíacas. Unitermos: Anticoagulantes orais, varfarina, femprocumona. ABSTRACT For more than 50 years, the availability of oral anticoagulants has promoted effective primary and secondary prevention of arterial and venous thromboembolism. A major dilemma of using anticoagulants in clinical practice is balancing the benefits of preventing throm- boembolic events and the risks of hemorrhagic complications. This review article presents an approach to the use of oral anticoagulants in the following diseases: venous thromboembolism, acute coronary syndromes, atrial fibrillation and prosthetic heart valves. Keywords: Oral anticoagulants, warfarin, phenprocoumon. PRINCÍPIOS DA ANTICOAGULAÇÃO ORAL com varfarina está fortemente relacionada com aborto, teratogenicidade e sangramento fetal quando usada duran- Os anticoagulantes orais, também conhecidos por a- te a gestação. A terapia alternativa é com heparina não- gentes cumarínicos, são antagonistas da vitamina K, um fracionada ou com heparinas de baixo peso molecular. importante co-fator para a síntese hepática dos fatores de Não há, entretanto, contra-indicação durante a lactação, coagulação II (protrombina), VII, IX e X (1-3). Os represen- pois a quantidade excretada no leite materno é muito tantes disponíveis no mercado brasileiro incluem a varfarina pequena. (Warfarin) e a femprocumona (Marcoumar). O uso da fem- A eficácia dos ACO geralmente é superior à da as- procumona tem diminuído progressivamente pelo fato de os pirina, mas o uso combinado desses dois agentes anti- grandes estudos serem realizados com varfarina. trombóticos é mais efetivo para doença arterial e permite que a intensidade da ACO seja diminuída. A diferença do Uso clínico tratamento da doença arterial e venosa é explicada pela As indicações para terapia anticoagulante permanente maior formação de agregados plaquetários no coágulo da incluem a prevenção primária de tromboembolismo na fibri- doença arterial. As condições que apresentam baixo risco lação atrial (FA) e em pacientes com próteses cardíacas, de tromboembolismo podem ser manejadas com aspirina além da prevenção secundária de tromboembolismo venoso apenas. e síndromes coronarianas agudas. Na doença arterial perifé- Em casos de risco elevado de novo tromboembo- rica, na insuficiência cardíaca com ritmo sinusal e no aneu- lismo, a heparina é indicada até a terapia ACO alcançar o risma e dissecção da aorta, o uso desses fármacos é contro- seu efeito, o que é usual ocorrer em 3 a 4 dias. A associa- versa (1). ção de heparina e ACO não está relacionada à maior Qualquer evidência clínica de sangramento ativo dos ocorrência de sangramentos. Simultaneamente o período tratos gastrintestinal, respiratório e geniturinário contra- de tratamento com heparina é reduzido em cerca de 4 indica o uso dos anticoagulantes orais (ACO). Hemorragia dias, diminuindo, com isso, o risco de trombocitopenia cerebrovascular, aneurisma cerebral, hipertensão arterial farmacológica (1). severa, pericardite e endocardite bacteriana também são A dose inicial de varfarina deve ser individualiza- situações de risco para sangramentos. Via de regra, pacientes da. Insuficiência hepática, idade avançada, desnutrição e alcoólatras, psicopatas ou que não possam ser supervisiona- risco de sangramento elevado são situações que requerem dos não têm indicação para o uso dessa classe de drogas, doses iniciais baixas, de 1-5 mg/dia, durante 2 a 4 dias. pois podem apresentar resultados clínicos graves. A terapia Doses de ajuste de 1 mg tanto para mais quanto para 1 Acadêmica de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS. 2 Médico cardiologista e hemodinamicista. Professor titular, Departamento de Medicina Interna, Faculdade de Medicina, UFRGS, Porto Alegre, RS. Chefe do Serviço de Hemodinâmica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Porto Alegre, RS. Correspondência: Jordana Guimarães, Rua Vinte de Setembro, 351, CEP 94440-300, Viamão, RS, Brasil. E-mail: jordana_sirius@yahoo.com.br.
  • 2. Guimarães J et al menos são recomendadas (2). A dose de manutenção deve A varfarina pode ser substituída com segurança ser ajustada de acordo com o international normalized ratio pela apresentação genérica. Mas como foram documenta- (INR), alvo de cada condição clínica. Ela situa-se em geral das mudanças no INR, é recomendado que durante a entre 2,5 e 10 mg/dia (4). Alimentos podem diminuir a taxa primeira semana após a troca se realize a monitorização de absorção. A varfarina também pode ser administrada por laboratorial (1). via endovenosa sem qualquer modificação na dose. Quanto à femprocumona, a dose inicial no primeiro Fatores que afetam a resposta à varfarina dia é de 12 mg, enquanto no segundo dia são administrados Diversas condições clínicas afetam a resposta à 9 mg. É aconselhado medir o INR no terceiro dia. A dose de varfarina (Tabela 1). Além da lista de interações farmaco- manutenção é de 1,5-4,5 mg/dia, aproximadamente. lógicas ser bastante extensa, seu aumento é contínuo (Tabela 2). Os pacientes devem ser educados para infor- Controle laboratorial mar a retirada ou a adição de qualquer medicação. Os pacientes que fazem uso de ACO têm sua terapia Com a progressiva aderência à medicina alternati- monitorizada por meio da medida do tempo de protrombina va, alguns fitoterápicos foram relacionados a mudanças (TP). Esse teste mede o tempo de formação do coágulo des- na resposta à terapia anticoagulante. Ginko, dong quai e de a ativação do fator VII até a formação do coágulo de ipriflavona aumentam o risco de sangramentos. Por outro fibrina. Devido a variações na metodologia, reagentes e lado, ginseng antagoniza os efeitos da varfarina. instrumentos usados em cada laboratório, foi estabelecido A ingestão de vitamina K é um fator independente um índice de normalização para as medidas do TP (INR) (5). maior que interfere com a estabilidade anticoagulante, O INR é mais confiável que a simples relação do TP não- sendo, por isso, um fator clinicamente relevante (8). A convertida (4). lista de alimentos ricos em vitamina K inclui abacate, O controle laboratorial deve ser feito a cada um ou brócolis, espinafre, couve-flor (1,4), mas a quantidade dois dias até o INR terapêutico ser atingido. Quando o INR necessária para se opor ao efeito anticoagulante é bastante estabilizar, o controle deve ser semanal e, após, mensal (1,6). alta. O paciente deve ser informado que apenas a ingestão O risco de eventos tromboembólicos está aumentado quando em grande excesso desses alimentos pode ser prejudicial o INR encontra-se abaixo do nível terapêutico; quando aci- (1,8). ma do mesmo, o risco de hemorragias aumenta dramati- camente, sobretudo em idosos (4,7). Tabela 1 - Condições clínicas que afetam a resposta à varfarina Resposta elevada Diarréia, esteatorréia, hipertermia, desnutrição, hipertireoidismo, doença hepática, câncer, insuficiência cardíaca Resposta reduzida Edema, dislipidemia, hipotireoidismo Tabela 2 - Interações farmacológicas Potencializam o efeito Acetaminofeno, álcool, amiodarona, andrógenos, aspirina, cefalosporinas, cimetidina, anticoagulante ciprofloxacina, eritromicina, estatinas, fenitoína, fibratos, fluconazol, fluoxetina, hepari- na, hormônio tireoidiano, indometacina, isoniazida, itraconazol, metronidazol, norfloxa- cina, omeprazol, propranolol, sulfametoxazol-trimetoprim, sulfoniluréias, tetraciclinas, vacina para influenza Diminuem o efeito Azatioprina, barbitúricos, carbamazepina, ciclosporina, clordiazepóxido, colestiramina, anticoagulante estrógenos, rifampicina, sucralfato Complicações flutuação do TP nesse período; após, diminui gradual- O problema inerente aos ACO é o risco de sangra- mente. Outros preditores de hemorragia incluem: pobre mentos. A incidência anual de hemorragia intracraniana está controle laboratorial, doença vascular periférica e doença entre 0,5 e 4,2% nos ensaios clínicos. Episódios menores de cerebrovascular (1). sangramento ocorrem com uma incidência anual de 2 a 24 Os pacientes idosos estão entre os que mais se be- episódios a cada 100 pacientes. O risco de hemorragia está neficiam com o tratamento anticoagulante; no entanto, diretamente relacionado com a intensidade da anticoagula- também estão entre aqueles com maior risco de complica- ção, e pode ser maior durante o primeiro mês, pois é maior a ções hemorrágicas (1,4). Rev.HCPA 2007;27(1) 31
  • 3. Anticoagulação ambulatorial Perspectivas (14). Nos pacientes hospitalizados com insuficiência Os desfechos inconvenientes que envolvem os atuais cardíaca congestiva, sem profilaxia adequada com hepa- anticoagulantes têm estimulado a pesquisa clínica para o uso rina, a TVP pode estar presente em mais de 70% dos de opções que não provoquem os riscos elevados de sangra- casos (15). mento, a extensa interação com outros fármacos, o início lento de ação e a necessidade de monitoração plasmática, Fatores de risco para tromboembolismo venoso mas que reproduzam efeitos antitrombóticos semelhantes aos As situações em que prevaleçam um ou mais com- dessa droga. As perspectivas para o uso do agente anticoagu- ponentes da tríade de Virchow (estase venosa, lesão endo- lante oral, ximelagatran, são extremamente auspiciosas, no telial e estados de hipercoagulabilidades) são propícias ao sentido de reproduzir os efeitos satisfatórios da varfarina e desenvolvimento da trombose. Os principais fatores de reduzir efeitos adversos, sobretudo eventos hemorrágicos risco são citados na Tabela 3 (16,17). (9,10). A ocorrência de tromboembolismo prévio é consi- O ximelagatran é uma pró-droga convertida, após derada fator de risco importante. A alteração endotelial administração oral, em melagatran, um inibidor direto da provocada pelo episódio inicial predispõe à formação de trombina. O seu pico de efeito é em 2 horas, a meia-vida de novos trombos, principalmente na presença de outros 3 horas e a excreção é predominantemente renal. São neces- fatores de risco persistentes. As neoplasias de pâncreas, sárias duas administrações diárias. Um dos seus efeitos ad- pulmão e trato gastrintestinal são aquelas em que a asso- versos é a elevação das transaminases séricas após 1 mês de ciação é mais freqüente. O emprego de estrogênios como uso (10). método de anticoncepção ou como terapia de reposição hormonal é correlacionado com maior incidência de TROMBOEMBOLISMO VENOSO tromboembolismo. O risco é maior nos quatro primeiros meses após o início do uso do medicamento e desaparece O tromboembolismo venoso ainda é associado a sig- após 3 meses da sua descontinuação. nificante morbilidade e mortalidade (11). Envolve duas enti- Embora, como foi dito, o TEP e o TVP sejam a- dades consideradas manifestações clínicas da mesma doen- presentações do tromboembolismo venoso, os pacientes ça: a trombose venosa profunda (TVP) e o tromboembolis- com embolia pulmonar parecem estar sob risco aumenta- mo pulmonar (TEP) ou embolia pulmonar. No Ocidente, a do de recorrência de eventos fatais se comparados àqueles incidência de embolia pulmonar é de 5/10.000 pacientes com TVP (18). (12). A mortalidade nos primeiros três meses é > 15% (13), e quatro vezes maior quando o tratamento não é instituído Tabela 3. Fatores de risco para tromboembolismo venoso Estase venosa Lesão endotelial Hipercoagulabilidade - Idade maior que 40 anos - Trauma não-cirúrgico e cirúrgi- - Doença maligna - Imobilização co, incluindo parto - Obesidade - Insuficiência cardíaca - Tromboembolismo prévio - Tabagismo - Infarto do miocárdio - Gravidez - Paralisia de membros inferiores - Estrogênio - Acidente vascular encefálico - Trombofiliasa - Viagens aéreas de longas dis- tâncias a Deficiência das proteínas C e S, resistência à proteína C (fator V Leiden), deficiência de antitrombina III, mutação da protrombina, anticorpo antifosfolipídico / anticardiolipina, desfibrinogenemias e desordens do plasminogênio. Prevenção secundária de tromboembolismo venoso dose (INR de 1,5-2,0) é altamente eficaz na prevenção No estudo The Prevention of Recurrence of Venous secundária de tromboembolismo venoso (19). Thromboembolism (PREVENT), que avaliou 508 pacientes Recente metanálise, publicada em 2005 pelo com tromboembolismo idiopático por cerca de 4 anos, a JAMA, reuniu estudos randomizados publicados entre redução do risco de tromboembolismo recorrente foi de 76 a 1969 e 2004. A conclusão foi de que pacientes que rece- 81% no grupo que usou baixas doses de varfarina em relação beram ACO a longo prazo estão protegidos de trombo- ao grupo placebo. O INR médio do grupo em uso de varfari- embolismo recorrente. E o artigo vai além, ao afirmar que na foi de 1,5-2,0. O desfecho mostrado foi de que a terapia o benefício clínico é mantido mesmo após a interrupção anticoagulante oral com varfarina, a longo prazo e em baixa da terapia, embora com uma menor eficácia (11). 32 Rev HCPA 2007;27(1)
  • 4. Guimarães J et al Terapia anticoagulante oral no tromboembolismo mendação grau A). A trombose idiopática, em seu primei- venoso ro episódio, requer tratamento por pelo menos 6 meses. O tratamento da TVP é semelhante ao do TEP. Bolus Nos pacientes com trombose idiopática recorrente ou com de 80 U/kg seguido de infusão contínua de 18 U/kg/hora de fatores de risco não-removíveis, o tratamento pode se heparina não-fracionada é a primeira medida a ser adotada estender por 12 meses ou mais (recomendação grau B) após o diagnóstico de tromboembolismo venoso (16). As (11,20,24). A Figura 1 esquematiza o tratamento com heparinas de baixo peso molecular podem substituir a hepa- ACO no TVP e no TEP rina não-fracionada, com a mesma eficácia e segurança (13,20,21). A varfarina deve ser iniciada junto com a hepari- Síndromes coronarianas agudas na somente em casos confirmados (recomendação grau C) Dentre os sobreviventes das síndromes coronaria- (22). O INR-alvo é de 2,0-3,0 (recomendação grau A) nas agudas, cerca de 10% morrem dentro do primeiro (4,16,20,23). Quando o alvo for atingido, a heparina pode ser ano. Após essa fase, a mortalidade é de 2 a 5%. Proporção descontinuada (20). adicional apresenta novo infarto ou outras manifestações A duração do tratamento com anticoagulantes depen- de cardiopatia isquêmica (25). derá fundamentalmente dos fatores de risco e da possibilida- de de serem removidos. Os pacientes que apresentam apenas Fatores de risco para ocorrência de novos eventos fatores considerados removíveis poderão ser tratados por 3 isquêmicos meses, desde que suspensa a exposição a tais fatores (reco As evidências atuais preconizam o uso de anticoa- gulantes orais para os pacientes com alto risco de ocor- rência de novos eventos. Os fatores de risco são citados na Tabela 4. Diagnóstico de TVP/TEP Heparina Bolus 80 U/kg + Infusão contínua 18 U/kg/hora Paciente com fatores de Trombose idiopática Paciente com trombose recorrente risco removíveis 1º episódio ou fatores de risco não-removíveis ACO por 3 meses ACO por 6 meses ACO por 12 meses ou mais Recomendação A Recomendação B Recomendação B Figura 1. Terapia anticoagulante oral no tromboembolismo venoso ACO = anticoagulante oral; TEP = tromboembolismo pulmonar; TVP = trombose venosa profunda. Tabela 4. Fatores de risco para recorrência das síndromes coronarianas agudas Infarto agudo do miocárdio anterior extenso Angina pós-infarto ou evidência de isquemia em testes funcionais Doença coronariana multiarterial Trombo intracavitário visível à ecocardiografia Disfunção ventricular Arritmias ventriculares no fim da fase aguda História de outros eventos tromboembólicos Rev.HCPA 2007;27(1) 33
  • 5. Anticoagulação ambulatorial Diagnóstico de SCA Paciente de alto risco para recorrência Varfarina (INR 2,0-3,0) por 3 meses + AAS (80-100 mg/dia) Recomendação A Figura 2. Terapia anticoagulante pós-síndromes coronarianas agudas AAS = ácido acetilsalicílico; INR = international normalized ratio; SCA = síndrome coronariana aguda. Prevenção secundária das síndromes coronarianas agu- Terapia anticoagulante oral nas síndromes coronarianas das agudas Os agentes antitrombóticos são componentes impor- A terapia anticoagulante inclui varfarina e ácido a- tantes do tratamento e prevenção secundária das síndromes cetilsalicílico (80-100 mg), durante 3 meses após a ocor- coronarianas agudas. Indiscutivelmente, eles apresentam rência do evento isquêmico em pacientes de alto risco de limitações. Os antiplaquetários como a aspirina e o clopi- recorrência e não submetidos à solução da coronariopatia dogrel, isolados ou combinados, muitas vezes falham em através de intervenção coronariana percutânea (angioplastia suprimir a ativação da cascata de coagulação e os pacientes e stent coronário). A dose da varfarina deve ser ajustada voltam a ter novos episódios isquêmicos. As heparinas para um INR na faixa entre 2,0 e 3,0 (21,22,26,27) (reco- (tanto a não-fracionada quanto às de baixo peso molecular) mendação grau A, nível de evidência II) (27) (Figura 2). apresentam restrições como a necessidade de uso parenteral e risco de trombocitopenia, entre outras limitações (26). Os FIBRILAÇÃO ATRIAL ACO, em diversos trials, quando em combinação com a aspirina, têm mostrado benefício clínico superior na pre- A FA é uma arritmia freqüente na prática clínica, venção secundária se comparados ao tratamento com aspi- com uma prevalência de 0,4% na população geral (2). A rina apenas (21,22,26,27). Essa classe de antitrombótico sua maior complicação são os eventos tromboembólicos. A também tem suas limitações, como o risco de sangramentos FA é considerada a condição clínica isolada de maior risco e a necessidade de constante controle laboratorial, confor- relativo para a ocorrência de acidente vascular cerebral me já discutidos. (AVC) (9) e a terceira maior causa de morte nos Estados Os estudos Antithrombotics in the Prevention of Re- Unidos (2). occlusion in Coronary Thrombosis (APRICOT-2), Antit- A estase no átrio esquerdo, principalmente no ápice, hrombotics in the Secondary Prevention of Events in Coro- favorece a formação de trombos, os quais podem se frag- nary Thrombosis-2 (ASPECT-2) e Warfarin-Aspirin Rein- mentar e liberar êmbolos na circulação sistêmica. O apên- farction (WARIS-2) mostraram coletivamente que a anti- dice atrial esquerdo é quase que exclusivamente o local de coagulação de moderada intensidade com varfarina em origem de trombos intracavitários em pacientes com FA. combinação com baixas doses de aspirina é superior à Outro fator que implica o aumento de acidentes isquêmicos monoterapia com aspirina em pacientes com alto risco de é o acelerado processo aterosclerótico presente nesses paci- desenvolver novos eventos (22,26). A anticoagulação de entes e/ou a coexistência de anormalidades valvares. Esses baixa intensidade juntamente com a aspirina não oferece são os mecanismos pelos quais se originam cerca de dois nenhum benefício na prevenção de eventos isquêmicos. Já terços de todos os eventos cerebrovasculares isquêmicos a anticoagulação de alta intensidade (INR > 4) mostra os (2,23). mesmos desfechos clínicos da anticoagulação de moderada Com relação ao flutter atrial, estudos mais recentes intensidade. Entretanto, o risco de sangramentos aumenta têm demonstrado ocorrência de eventos tromboembólicos, de forma drástica (22,26,27). tanto durante a arritmia quanto durante a pós-reversão a ritmo sinusal. Assim, para pacientes com flutter atrial, recomenda-se anticoagulação, com a utilização dos mes- mos critérios indicados para FA (recomendação grau C, nível II) (9). 34 Rev HCPA 2007;27(1)
  • 6. Guimarães J et al Tabela 5. Fatores de risco para embolismo em pacientes com fibrilação atrial Evento embólico prévio, ataque isquêmico transitório Idade Diabetes melito Hipertensão arterial Disfunção ventricular esquerda ou fração de ejeção abaixo de 25% Sexo feminino Doença cardíaca reumática Cardiopatia isquêmica Próteses valvares Fatores de risco e estratificação do paciente com FA Embora não designados de modo específico para Nem todos os pacientes com FA estão sob o mesmo avaliar a eficácia dos anticoagulantes após a restauração do risco de desenvolver fenômenos tromboembólicos. Os ritmo sinusal, dois recentes ensaios clínicos mostram a principais fatores de risco identificados estão listados na importância da terapia anticoagulante mesmo em pacientes Tabela 5. cujo ritmo sinusal foi restaurado com sucesso. Os estudos A história de evento isquêmico prévio e idade são os Rate Control vs. Electrical Cardioversion for Persistent mais fortes fatores preditores de aumento do risco de novos Atrial Fibrillation (RACE) e Atrial Fibrillation Follow-up eventos em pacientes com FA de origem não-valvar (23). Investigation of Rhythm Management (AFFIRM), com 522 Tireotoxicose, terapia de reposição hormonal, tabagismo e e 4.099 pacientes, respectivamente, avaliaram a terapia de alcoolismo são fatores de risco pouco definidos (24). controle da freqüência cardíaca associada à anticoagulação Pacientes com FA diagnosticada devem ser estrati- em relação à terapia de controle do ritmo em indivíduos ficados quanto ao seu risco de desenvolver eventos trom- com FA, com a possibilidade de interrupção da terapia boembólicos. Considerando que muitas estratificações ACO (7). foram propostas, sugere-se a classificação da American College of Chest Physicians (24): Terapia anticoagulante oral na FA - Alto risco: 75 anos ou mais; história de hiperten- A anticoagulação oral é recomendada para pacientes são associada a outros fatores de risco listados na Tabela 5. com FA de qualquer intensidade ou duração e com outros - Moderado risco: 65-75 anos; diabetes; doença ar- fatores de risco para eventos embólicos associados, ou seja, terial coronariana. para pacientes de alto risco (7,24,25) (recomendação grau - Baixo risco: 60 anos ou menos; FA isolada. A, nível I) (4). Quanto aos pacientes sob risco moderado, os guidelines diferem. Assim, a diretriz do American Col- Prevenção de eventos tromboembólicos na FA lege of Cardiology / American Heart Association / Europe- A opção disponível, hoje, para a prevenção de even- an Society of Cardiology (ACC/AHA/ESC) recomenda tos vasculares em pacientes com FA é a terapia antitrombó- anticoagulação com varfarina; já o American College of tica (nível de evidência I) (4,23). De modo geral, as evi- Chest Physicians (ACCP) permite tanto a anticoagulação dências atuais são de que a anticoagulação nesses pacientes com varfarina como também o uso de aspirina nesse grupo. reduz em cerca de 65 a 80% a incidência de AVC (9). O Pacientes com baixo risco podem ser tratados com aspirina benefício absoluto da anticoagulação varia nos estudos (24). controlados com placebo de acordo com o risco de eventos embólicos na população envolvida: quanto maior o risco, 1. FA aguda (ou seja, com início há menos de 48 horas). maior é o benefício preventivo absoluto da anticoagulação A necessidade de anticoagulação para cardioversão ainda oral. A mortalidade total também sofre diminuição signifi- não está bem estudada e a decisão deve ser individualizada, cativa, com redução do risco relativo de 26% e redução de conforme a presença de fatores de risco para tromboembo- risco absoluto de 1,6% por ano. Apesar das evidências e lismo. recomendações, apenas metade dos pacientes com FA é Quando o quadro for de alto risco, recomenda-se a corretamente tratada (23). administração prévia de heparina (iniciar com bolus, segui- A prevenção antitrombótica primária em pacientes do de infusão contínua, com ajuste da dose até atingir o com FA de causa não-valvar foi avaliada no estudo meta- valor de duas vezes o tempo de tromboplastina parcial nalítico de Hart et al., que reuniu os seis principais ensaios ativada – TTPA – basal) e, se necessário, a introdução do randomizados, comparando varfarina com placebo em uma ACO no momento da cardioversão. população total de 2.900 pacientes. A redução de risco de Nos casos de FA com instabilidade hemodinâmica AVC foi de 62% (9,25). Com relação aos pacientes com (choque ou edema agudo de pulmão), infarto do miocárdio FA e AVC prévio (prevenção secundária), o estudo Euro- ou angina do peito, recomenda-se a heparinização imediata pean Atrial Fibrillation Trial (EAFT), que comparou o uso e posterior avaliação da necessidade de ACO (recomenda- de aspirina, placebo e varfarina, demonstrou a superiorida- ção grau C, nível I). de da varfarina em relação à aspirina na redução de AVC (9). Rev.HCPA 2007;27(1) 35
  • 7. Anticoagulação ambulatorial 2. FA persistente (ou seja, intervenção requerida para PRÓTESES VALVARES restaurar o ritmo sinusal) há mais de 48 horas. Terapia com ACO durante 3 semanas antes (recomendação grau B, A trombogenicidade difere entre as valvas: as mais nível I) e durante 4 semanas após a cardioversão elétrica ou modernas apresentam menor risco (26). A incidência de farmacológica (recomendação grau C, nível I). Antes da eventos tromboembólicos com as próteses mecânicas do cardioversão é imperativo o ecocardiograma transesofágico tipo ball cage, tilting disk e bileaflet é estimada em 2,5, 0,7 (ECOT) para afastar tromboembolismo atrial esquerdo. e 0,5% por ano, respectivamente (27). Terapia permanente Os mecanismos trombogênicos pré e pós- com ACO oferece a mais consistente proteção em pacientes cardioversão da FA são distintos. Após 48 horas em FA, a com valva mecânica. Agentes antiplaquetários sozinhos estase sanguínea intra-atrial, conseqüente à ausência de não protegem de forma consistente pacientes com esse tipo contração efetiva, favorece a formação de trombos. Nesse de prótese (recomendação grau C, nível I). Quando a tera- caso, a ACO, antes do procedimento, por 3 semanas, com pia anticoagulante é realizada com adequação, o risco de INR entre 2,0 e 3,0, estabiliza o trombo na cavidade e im- tromboembolismo com bioprótese cai para praticamente pede a formação de novos trombos. Por outro lado, a pró- zero (26). Entretanto, muitos resultados sobre a profilaxia pria cardioversão (farmacológica ou elétrica) provoca “a- antitrombótica advêm de casos não-randomizados ou con- tordoamento” atrial por 4 semanas e, conseqüentemente, trolados. estase atrial, responsável pela formação de novos trombos. Daí a necessidade de se manter, sempre, a anticoagulação Fatores de risco para tromboembolismo nas próteses (INR entre 2,0 e 3,0) durante esse período pós- cardíacas cardioversão, independentemente do resultado do ECOT e Os fatores de risco para eventos tromboembólicos do tipo de cardioversão. com a presença de valva prostética são apresentados na A duração da anticoagulação pré-cardioversão, en- Tabela 6. Finalmente, o risco é maior durante os primeiros tretanto, pode ser abreviada, na ausência de trombo intra- meses, até a prótese ser endotelizada (27). cavitário, ao ECOT (recomendação grau B, nível II), visto a comprovação de que a heparinização plena, até atingir Terapia anticoagulante oral na prótese valvar TTPA duas vezes o basal, geralmente obtido em menos de A terapia anticoagulante no paciente com prótese 24 horas, permite a imediata cardioversão (9). valvar varia de acordo o tipo e a posição da mesma. Em alguns pacientes, mesmo após a cardioversão, a Todos os pacientes com valvas metálicas requerem ACO é aconselhada indefinidamente, devido ao risco de terapia anticoagulante contínua com varfarina ou outro recaídas (2). cumarínico (nível de evidência I). Os guidelines atuais recomendam INR de 2,0-3,0 para valvas bileaflet na posi- 3. FA paroxística (intermitente) e crônica. ACO indefi- ção aórtica e 2,5-3,5 para as demais valvas (incluindo as nida, sobretudo em pacientes com fatores de risco associa- valvas disk e Starr Edwards) em posição aórtica ou mitral dos (recomendação grau A, nível I). Sujeitos com FA paro- (nível de evidência I) (6,27). xística parecem estar sob o mesmo risco de eventos trom- Para a bioprótese, é recomendada a terapia com var- boembólicos que as formas crônicas. Recomenda-se que os farina durante os primeiros 3 meses após a substituição da esquemas de anticoagulação sejam idênticos, bem como a valva defeituosa, principalmente para pacientes de alto necessidade do ECOT quando se completar a cardioversão risco (nível de evidência I). Após esse período, descontinu- elétrica (9) (Figura 3). ar a varfarina se o paciente for de baixo risco (24,27). A- As evidências acumuladas indicam certamente a su- queles de alto risco devem receber varfarina, e o INR man- perioridade da varfarina sobre o tratamento com aspirina tido entre 2,0-3,0 (nível de evidência I) (24). A Figura 4 apenas em pacientes com FA e sob alto risco de AVC (23). esquematiza o tratamento com varfarina em pacientes com Os guidelines mais recentes preconizam a faixa de 2,0-3,0, próteses cardíacas. com um alvo de 2,5 (9,23). Há evidências de que, na maioria dos casos (exceto A aspirina 325 mg/dia é alternativa à ACO crônica nos pacientes intolerantes à aspirina), a adição diária de apenas em pacientes com risco leve a moderado de desen- aspirina 75-100 mg à anticoagulação traz benefício na volver eventos tromboembólicos ou naqueles cujas contra- redução dos eventos tromboembólicos (recomendação A, indicações à terapia com ACO estão presentes (2,23). En- nível II), com apenas um pequeno aumento do risco de tretanto, devido às limitações com o uso da varfarina, paci- sangramento (24,26,27). A adição de aspirina à varfarina entes sem possibilidade de terem o INR monitorizado peri- deve ser fortemente considerada em pacientes de alto risco. odicamente, tem com freqüência usado aspirina 325 mg/dia O INR deve ser mantido entre 3,5-4,5 em indivíduos de (grau de recomendação D) (9,23). alto risco que não podem receber aspirina (recomendação Caso embolismo sistêmico ocorra durante a terapia A, nível II) (26). com varfarina, a adição de 80-10 mg/dia de aspirina e clo- pidogrel 75 mg/dia é recomendado (2). 36 Rev HCPA 2007;27(1)
  • 8. Guimarães J et al Em pacientes que apresentam um evento embólico (se o nível prévio era de 2,5-3,5). A aspirina deve ser au- prévio durante adequada terapia antitrombótica, o trata- mentada ou adicionada (24). mento ACO deve ser aumentado para alcançar um INR de 2,5-3,5 (se o nível prévio era de 2,0-3,0) ou mesmo 3,5-4,5 Tabela 6. Fatores de risco para tromboembolismo com próteses cardíacas Períodos de insuficiente anticoagulação Posição mitral da valva, seja ela mecânica ou biológica (a posição mitral apresenta risco duas vezes maior) Baixo débito cardíaco Fibrilação atrial Episódios embólicos prévios Estados de hipercoagulabilidade, incluindo gestação Fibrilação aguda Fibrilação persistente há Fibrilação intermitente e mais de 48 horas paroxística Heparina ACO (INR 2,0-3,0) durante 3 semanas Paciente de Paciente de Bolus + infusão contí- antes a cardioversão alto risco baixo risco nua até o valor de Recomendação B, nível I TTPA duas vezes o nível basal ACO (INR 2,0-3,0) durante 4 semanas após a cardioversão Recomendação C, nível I ACO contínua Aspirina 325 (INR 2,0-3,0) mg/dia Avaliar a necessidade Recomendação A, de ACO em pacientes nível I de alto risco Considerar ACO contínua em pacientes de alto risco para embolização Figura 3. Terapia anticoagulante na fibrilação atrial ACO = anticoagulante oral; INR = international normalized ratio; TTPA = tempo de tromboplastina parcial ativada. Substituição de valva Prótese biológica Prótese mecânica Pacientes de Pacientes de ACO contínua baixo risco alto risco Nível de evidência I + AAS 75-100 mg/dia se paciente de alto risco ACO (INR 2,0-3,0) ACO (INR 2,0-3,0) durante 3 meses contínua + AAS 75- Nível de evidência I 100 mg/dia INR de 2,0-3,0 para INR de 2,5-3,5 para Nível de evidência I valvas bileaflet ou demais valvas inde- Medtronic Hall na pendente da posição posição aórtica Figura 4. Terapia anticoagulante nas próteses valvares AAS = ácido acetilsalicílico; ACO = anticoagulante oral; INR = international normalized ratio. Rev.HCPA 2007;27(1) 37
  • 9. Anticoagulação ambulatorial REFERÊNCIAS 14. Goldhaber S, Elliott C. Acute pulmonary embolism: Part II. Risk stratification, treatment, and prevention. Circulation. 1. Schulman S. Care of patients receiving long-term anticoagu- 2003;108:2834-8. lant therapy. N Engl J Med. 2003;349:675-83. 15. Agnelli G, Prandoni P, Becattini C, et al. Extended oral anti- 2. Ezekowitz MD, Netrebko PI. Anticoagulation in management coagulant therapy after a first episode of pulmonary embo- of atrial fibrillation. Curr Opin Cardiol. 2003;18:26-31. lism. Ann Intern Med. 2003;139:19-25. 3. Hirsh J, Dalen JE, Anderson DR, et al. Oral anticoagulants: 16. Ridker P, Goldhaber S, Danielson E, et al. Long-term, low- mechanism of action, clinical effectiveness, and optimal intensity warfarin therapy for the prevention of recurrent ve- therapeutic range. Chest. 2001;119:8S-21S. nous thromboembolism. N Engl J Med. 2003;348:1425-34. 4. Amon LC, Gazzana MB. Manejo ambulatorial do paciente 17. Ramzi D, Leeper K. DVT and pulmonary embolism: Parte II. anticoagulado. In: Duncan B, Schmidt MI, Giugliani E, edito- Treatment and prevention. Am Fam Physician. 2004;69:2841- res. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária ba- 8. seadas em evidências. Porto Alegre: Artmed; 2004. p. 735-43. 18. Polanczyk C, Gus M, Fuchs F. Fármacos usados em cardiopa- 5. Xavier RM, Albuquerque GC, Barros E, orgs. Laboratório na tia isquêmica. In: Fuchs F, Wannmacher L, Ferreira M, edito- prática clínica: consulta rápida. Porto Alegre: Artmed; 2005. res. Farmacologia clínica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. p. 644-67. 6. Bonow RO, Carabello B, de Leon AC Jr, et al. Guidelines for the management of patients with valvular heart disease: ex- 19. Antman EM. The re-emergence of anticoagulation in coro- ecutive summary. A report of the American College of Cardi- nary disease. Eur Heart J Suppl. 2004;6(B):B2-3. ology/American Heart Association Task Force on Practice 20. Harrington R, Becker R, Ezekowitz M, et al. Antithrombotic Guidelines (Committee on Management of Patients with Val- therapy for coronary artery disease. Chest. 2004;126:513S- vular Heart Disease). Circulation. 1998;98:1949-84. 48S. 7. Ezekowitz MD, Falk RH. The increasing need for anticoagu- 21. Lip G, Chin B, Prasad N. Antithrombotic therapy in myocar- lant therapy to prevent stroke in patients with atrial fibrilla- dial infarction and stable angina. BMJ. 2002;325:1287-9. tion. Mayo Clin Proc. 2004;79:904-13. 22. Anand S, Yusuf S. Oral anticoagulants in patients with coro- 8. Franco V, Polanczyk CA, Clausell N, Rohde LE. Role of nary artery disease. J Am Coll Cardiol. 2003;41:62S-9S. dietary vitamin k intake in chronic oral anticoagulation: pro- spective evidence from observational and randomized proto- 23. Crystal E, Connolly SJ. Role of oral anticoagulation in man- cols. Am J Med. 2004;116:651-6. agement of atrial fibrillation. Heart. 2004;90:813-7. 9. Sociedade Brasileira de Cardiologia, Departamento de Arrit- 24. Rockson SG, Albers GW. Comparing the guidelines: antico- mias. Diretrizes de fibrilação atrial. Arq Bras Cardiol. agulation therapy to optimize stroke prevention in patients 2006.81:1-24. with atrial fibrillation. J Am Coll Cardiol. 2004;43:929-35. 10. Francis CW. Ximelagatran: a new oral anticoagulant. Best 25. Nixdorff U. Antithrombotic strategies for the management of Pract Res Clin Haematol. 2004;17:139-52. non-valvular atrial fibrillation. Int J Cardiol. 2005;100:191-8. 11. Ost D, Tepper J, Mihara H, Lander O, Heinzer R, Fein A. 26. Stein PD, Alpert JS, Bussey HI, Dalen JE, Turpie AG. Anti- Duration of anticoagulation following venous thromboem- thrombotic therapy in patient with mechanical and biological bolism. JAMA. 2005;294:706-15. prosthetic heart valves. Chest. 2001;119(1 Suppl):220S-7S. 12. Caramelli B, Gottschall CAM, Blacher C, et al. Diretrizes de 27. Seiler C. Management and follow-up of prosthetic heart embolia pulmonar. Arq Bras Cardiol. 2004;83(Supl.1):1-9. valves. Heart. 2004;90:818-24. 13. Goldhaber S, Elliott C. Acute pulmonary embolism: Part I. Epidemiology, pathophysiology, and diagnosis. Circulation. 2003;108:2726-9. 38 Rev HCPA 2007;27(1)