1. OPINIÃO
PIPELINES, FUNIS, STAGE-GATES:
BOM OU RUIM PARA A INOVAÇÃO?
C
ada vez mais as empresas estão usando um ins- ções, fornecedores, desenvolvimento etc.
trumento chamado “pipeline” ou “funil”, pas- • Compliance – acordo com normas, regras, leis, e acei-
sando por um processo de “stage-gates”, para tação do mercado, adquirido por autorizações, concessões,
gerenciar esforços de inovação. Esta ferramenta pesquisas, focus groups, experimentos, testes etc.
tornou-se tão comum, que parece ter virado um O “stage-gate” busca criar pontos de tomada de decisão ao
padrão. Mas será este, de fato, o melhor instru- longo do processo, para ajudar os gestores a alocarem recursos e
mento para gerenciar este processo? Acredito que não. priorizá-los nas melhores ideias. Para fazer isto, o processo pre-
Em 1999 assumi a linha de frente do cisa de métricas bem definidas em tais
trabalho que levou a empresa Whirpo- pontos de decisão. Porém, ideias verda-
ol (Brastemp/Consul) a ser considerada deiramente inovadoras carecem de mé-
a empresa mais inovadora do Brasil e tricas durante seu desenvolvimento.
uma das mais inovadoras do mundo. Por exemplo, como conseguiría-
O “funil” de inovação, com seus “gates”, mos uma métrica que ajudasse o funil a
foi parte central deste processo. Em tomar a decisão quanto a se desenvolver
2001/2002, minha consultoria foi con- um “browser” 20 anos atrás? Não ha-
tratada para encontrar soluções para via no mercado nenhum dado quanto
as deficiências deste mesmo funil, na ao número de pessoas que usariam tal
Foto: Ricardo Benichio
mesma Whirlpool: falta de ideias, velo- inovação, fundamental em nossos dias.
cidade do pipeline, e falta de capacida- Ideias inovadoras não obedecem a uma
des adequadas para acompanhamento métrica adequada aos “4 Cs” para passar
dos projetos. Enfim, o que aprendi nos pelo crivo do “gate” e, infelizmente, são
últimos 12 anos é que a capacidade dos Kip Garland é o fundador da filtradas fora de um processo de funil.
funis de inovação é bem mais limitada innovationSEED - "Better Thinking Hoje em dia, faço uso do “funil” e
do que podíamos imaginar. About Growth" e pode ser seu processo de “gates” em casos mui-
Esta ferramenta tem por base o contatado em to específicos - normalmente subor-
processo de “stage gates” – lançado por
kgarland@iseed.com.br dinado-o ao framework de portfólios
Robert Cooper no livro “Winning at internos e externos de crescimento. A
New Products” (1986). Os “gates” são etapas do processo de Inovação, afinal de contas, não é uma atividade com fim em
desenvolvimento de uma oportunidade. Há muitas variações si mesma, mas uma ferramenta de crescimento. Só quando o
de “gates” mas, normalmente, estas etapas consideram de for- processo de gestão da inovação está subordinado ao processo
ma sequencial os quatro Cs (elementos principais, que, ao lon- de crescimento, que conseguimos dar orientação ao conjunto.
go do projeto, reduziriam os riscos do investimento na ideia): Esta coordenação deve ser explícita, feita por meio de portfó-
• Conhecimento – que conhecimentos que temos sobre a lios que analisem pela ótica interna das incertezas organiza-
ideia (pode ser tecnológico, ou conhecimento do negócio) fei- cionais de crescimento, e pela ótica externa das oportunidades
to por meio de pesquisas, tendências, descobertas, enquetes, que possam atender a necessidades significativas da empresa.
open innovation, insights, etc. Concluindo, o funil de inovação força tomadas de deci-
• Capital – recursos necessários (financeiro, ativos etc), são precipitadas baseadas em métricas já conhecidas, ma-
alocados em business plans, venture outlines, opportunity tando o verdadeiro potencial de descoberta, ou seja, a parte
briefings etc. realmente inovadora do processo. Acredito que, usada de
• Competência – quais habilidades, processos, atividades maneira generalizada, essa ferramenta acaba matando a ino-
e condições são necessários, adquiridos por parcerias, aquisi- vação em seu nascedouro.
44 2ª QUINZENA DE MARÇO 2011 n WWW.CRN.COM.BR