FGV/IBRE - Seminário "Eleições 2014: Panoramas Político e Eleitoral" - 25 de julho de 2014 - Apresentação de Marcio Grijó Vilarouca, da FGV/CPDOC
A proximidade das eleições de outubro deste ano abre uma oportunidade única para debater o panorama político e eleitoral do país. Neste
sentido, o Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBRE), promoveu, no dia 25 de julho, um encontro com especialistas da área de Ciência Política. Confira a apresentação de Marcio Grijó Vilarouca, da FGV/CPDOC.
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FGV / IBRE – Seminário "Eleições 2014: Panoramas Político e Eleitoral" - #NãoMeRepresentam! Os protestos de junho
1. Eleições 2014
Márcio Grijó Vilarouca | 2014
ELEIÇÕES2014Panoramas Político e Eleitoral
#NãoMeRepresentam! Os protestos de junho
e a crítica à representação política?
2. 25 de julho de 2014
#NãoMeRepresentam!
Os protestos de junho e a crítica à
representação política?
MÁRCIO GRIJÓ VILAROUCA (CPDOC/FGV-OPINIÃO)
3. Metodologia
Pesquisa de opinião
Com 316 questionários, na Presidente Vargas, dia 20 de junho
ENTREVISTAS EM PROFUNDIDADE
Duração de 1 hora com 28 manifestantes.
Roteiro
1) QUEM? “perfil” dos manifestantes;
2) POR QUE? As condições gerais do país e os motivos que justificam a contestação;
3) COMO? Relato sobre o ritual de participação no ato.
4) PERCEPÇÕES? Sobre a política, a representação democrática e os partidos políticos.
4. Perfis dos manifestantes
Idade
Média de 23 anos – Entre 18 e 29 anos,
a maioria estudantes.
Escolaridade
Nível superior
Público(s) heterogêneo(s)
Auto percepção de classe e ideologia!
36,2% de esquerda
30,7% de centro
20,7% de direita
Filtro de análise
Participação política prévia?
5. Por que protestam?
Avaliando experiências subjetivas
Perguntamos, se as pessoas poderiam mencionar experiências cotidianas suas, nas
quais costumam se sentir injustiçados, desrespeitados ou que causem indignação.
Como veremos os alvos são múltiplos, e em boa parte francamente compartilhados,
independentemente de classe social.
mobilidade urbana;
a agenda pós-materialista;
o acesso à serviços públicos*, saúde e educação,
comportamentos “predatórios” da própria sociedade
A menção a “corrupção dos costumes” aparece de forma recorrente:
“Não corrupção, mas uma desonestidade generalizada. Da sociedade como
um todo. O Brasil é muito hipócrita, muito fácil e clichê falar de político. O
político representa a gente, mas muitos se tivessem oportunidade fariam
igual ou pior”
6. Por que protestam?
As condições atuais do país
Como avaliam as atuais condições do país? Com a ebulição de demandas seria
de se esperar que carregassem na avaliação com cores extremamente negativas!
Em geral, fazem alguma avaliação positiva da situação do país, para em seguida
ponderar com algum outro adendo de insatisfação como referência à um
processo inconcluso.
“O país cresce, mas não se desenvolve”;
“O desenvolvimento econômico gera uma ilusão de que tudo está bem”;
“Tem muito a melhorar ainda” ou “Avançando devagar, mas avançando pouco”.
Um estudante relata que vê a sua volta ascensão em vários aspectos, mas
pondera que “não sabe se viverá para ver tantas mudanças assim.”
Situação melhorou -> expectativas crescentes
-> sobre a qualidade e velocidade das mudanças
7. Por que protestam?
O que motivou você a participar do protesto?
SEM PARTICIPAÇÃO PRÉVIA
Percebiam um engajamento acima do normal de pessoas convidando e “incentivando”
como se as redes estivessem funcionando como um termômetro de um grande
acontecimento por vir.
O “aquecimento da rede” foi a primeira justificativa da ida a rua, sendo complementado
por adendos racionais, p. ex. contra a PEC 32.
As redes sociais em fervorosa, meus amigos insistindo, dizendo que não ia ser perigoso”
“Curiosidade, o pessoal me convenceu”
“Coisa nova, que todo mundo foi incentivado”
COM PARTICIPAÇÃO PRÉVIA. O tipo ideal aqui proposto é, obviamente, imperfeito.
“Qual o intuito dessas pessoas? E qual o nosso... Porque essa coisa do Facebook foi
muito forte.”
Identificam a presença “tardia” de um tipo de público diferente nos atos.
Cerveja, micareta, coreografias, marchinhas e cartazes irônicos, mas sem
conteúdo.
8. O ritual da participação
Manifestantes sem participação política prévia
9. O ritual da participação
1. Preparação prévia que envolvia símbolos nacionais,
Bandeira ou camiseta do Brasil, pintar o rosto de verde e amarelo;
2. Relatos mais performáticos da participação no “evento”.
Respondente fez e postou cartazes nas redes sociais avisando que estava saindo.
“Fui num clima meio de festinha, batia fotos, nada muito dedicado”
“Estava desanimado”.
3. Cartazes e canções com temas mais genéricos. [Qual o alvo?]
“Ou para a roubalheira ou paramos o Brasil"
“O gigante acordou” - “Copa das manifestações” - “Basta de corrupção”
“Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor” e “moro num país tropical abençoado por Deus (...).”
4. Interpretações “orgânicas” do evento – negação do pluralismo político!
“As pessoas dividiam as mesmas opiniões”
“Tinha gente mais velha e criança e (...) todo mundo acredita na mesma coisa”
“Feliz de estar todo mundo ali junto, em prol de um objetivo”
11. “Sem partido!”
SEM PARTICIPAÇÃO PRÉVIA -> Há uma posição ponderada (1), que considera
desnecessária a participação dos partidos “naquele momento” e apresenta uma concepção
cética sobre sua atuação.
“O objetivo é atingir quem está no poder, mas aqueles que estão na oposição iriam fazer
igualzinho”.
“A rejeição é natural, porque partidos tem trajetória manchada ao longo dos anos. O
PSDB tem a privataria tucana, o PT tem o mensalão. Mas fazem parte da democracia.”
(2) A posição mais negativa, reforça a importância da ideia de “união do povo” e de um ato
apartidário.
“O que o cara de esquerda quer mudar é exatamente o mesmo que o cara de direita, só
que os ideais são outros (...). O que adianta juntar, se no final você vai dividir ... Você tem
que ir pelo Brasil, não pelo partido.”
COM PARTICIPAÇÃO PRÉVIA -> Os movimentos sociais e os partidos de esquerda
sempre estiveram presentes nas ruas, “há muito mais tempo”, em contraposição a “quem
chegou agora”, fato que desautoriza a crítica de oportunismo político.
12. Política e representação
Manifestantes sem participação política prévia
Baixo nível de investimento cognitivo em política. “Sou analfabeto político!”
(1) Identificação de discurso anti-petista -> Bolsa família.
(2) outros ainda não completaram seu processo de formação de preferências
e mencionam referências fragmentadas e genéricas para tratar de temas
políticos.
“Interessante estado regulador, privado exerça a maioria e o estado fiscalize - ideia
FHC, mas não me representa. Lula ideias interessantes, mesmo senso crítico que
nós, mas se venderam.”
(1) e (2) Interpretam a política como um espaço de contaminação, que
alimenta a desconfiança, ceticismo e a reiterada deserção.
Respondente que queria impedir que o pai “entrasse na política”.
“Se os manifestantes estivessem lá, provavelmente fariam o mesmo”.
13. Política e representação
Com participação política prévia
Metade nesse grupo assume baixo grau de investimento cognitivo em política.
(1) A visão de falência do sistema representativo é minoritária.
“Sistema representativo parlamentar não nos serve mais (...) A população não se
sente representada.”
(2) Parte dos que veem desgaste do PT não resignificam a oposição como
alternativa.
Respondente faz uma análise equilibrada entre os governos FHC e Lula, acha que a
governabilidade do PT está gasta. Conclui “Dilma é um tiro no pé, oposição é tiro na
cabeça!”
“Lula merece respeito, fez coisas negativas para conseguir coisas boas”
(3) Em proporção menor, alguns mencionam formas de participação direta.
“o diretório acadêmico daqui não é uma chapa ele é aberto, todo mundo contribui de alguma
forma, ele é horizontal, a gente faz grupos temáticos para organizar coisas (...).”
14. Política e representação
Com e sem participação política prévia
Vários respondentes vocalizam esperança na delegação política, com reforço na
importância do voto – aposta cética na representação!
Há expectativa de que a delegação política funcione por conta própria - que “os
políticos façam!”
o “Ser humano é corruptível (...) Política para mim é muito uma questão de crença,
você acreditar em uma pessoa, você depositar suas esperanças de que ela vai te
representar".
o “eleição é coisa séria (...) a corrupção existe mas não por causa do governo,
independe, vai ser em qualquer governo. Acho que está no sangue.”
o “A votação é mais importante para mudar do que as manifestações. Que consigamos
eleger bons políticos, que façam melhorias e que pelo menos tentem lutar pelos
nossos direitos. Acho que falar que não sejam corruptos é complicado... política são
formas de o governo tentar melhorias para a gente.”
15. Considerações finais
Infrutífero buscar ou atribuir “o sentido” das manifestações de junho.
Avaliação “positiva” da situação do país! Representação gera efeitos positivos?
Crítica ao sistema representativo?
(1) Política institucional como “espaço de contaminação”;
(2) Ao mesmo tempo, a corrupção “está no sangue”, na sociedade -> #Não me representam?
(1) + (2) APOSTA CÉTICA NA REPRESENTAÇÃO - que funcione sem participação, sem custos de
informação e de monitoramento.
Novos horizontes? A formação de um público mais reflexivo?
o “Era perceptível nas redes uma politização tremenda, tudo era política, inclusive
aqueles que nunca tinham falado sobre”
o “Despertei meu interesse em saber o que um deputado faz, como funciona a
separação de poderes”