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Aula 3: Cubismo e imagética abstrata




Ao final da aula, você será capaz de:

  Discutir qual é o conceito da metodologia triangular – criação, contexto e crítica – a
ser aplicado às artes visuais.
  Criação e análise crítica.
  Receber noções de história da arte.
  Valorizar a apreciação estética e o julgamento crítico.

                      Como estudar a imagem no ensino da arte?




Os exercícios desta unidade são centrados em três elementos que compõem a
Metodologia Triangular do ensino da arte:


Nesta aula, você será introduzido à didática do curso, que visa alfabetizar para a leitura
de imagens modernas e contemporâneas.

Para isso, foi seguido o método de arte-educação intitulado Disciplined Based Art
Education – DBAE (Arte-Educação Baseada na Disciplina), desenvolvido por:

Ana Mae Barbosa in A Imagem no Ensino da Arte. S.P. Perspectiva, 2002.?

Vale a pena anotar!
Para que você analise as obras de arte apresentadas durante este curso, recomenda-se
que você busque aguçar sua capacidade crítica através de:


    Princípios      Centrar-se no ato de ver associado a princípios estéticos, éticos e
históricos.


   Descrição        Prestar atenção ao que vê, ou seja, desenvolver o senso de
descrição.


    Análise      Observar o comportamento do que se vê, ou seja, desenvolver o senso
de análise.


    Interpretação       Dar significado à obra de arte, ou seja, desenvolver o senso de
interpretação.


    Julgamento      Decidir acerca do valor de um objeto de arte, ou seja, desenvolver
o senso de julgamento.


   Exposição        Propor critérios de avaliação de obras de arte moderna e
contemporânea para serem apropriados em produtos midiáticos de Comunicação Social.
Em outras palavras, significa aprender a expor suas idéias e ser participativo ao criar
produtos em jornalismo e publicidade.

Em seguida, serão apresentados alguns exercícios e ações para que você desenvolva
estas capacidades.

Pratique sempre que possível cada exercício apresentado, ao examinar uma obra.
Agora vamos pôr em prática tudo o que foi apresentado! Análise da pintura “Três
Músicos”




                          Por Pablo Picasso, Espanha, 1881.
Pablo Picasso             Sobre o artista:

Picasso, pintor e escultor espanhol, considerado um dos artistas mais importantes do
século vinte. Artista multifacetado, foi único e genial em todas as atividades que
exerceu: inventor de formas, criador de técnicas e de estilos, artista gráfico e escultor.

Foi o artista mais produtivo e o mais constante revolucionário do século passado. Do
tratamento clássico e representacional dos temas ele evolui para as abstrações do
cubismo (que, contudo, nunca chegou a ser completamente abstrato) e no seu
desenvolvimento cria as técnicas de colagem mais tarde utilizadas no dadaísmo. Picasso
empregou igualmente elementos de fantasia e imaginação, em suas cerâmicas e
esculturas.




Responda mentalmente às questões a seguir (Essa atividade não vale nota. Trata-se
apenas de um exercício de sensibilidade)

Cabe a você descrever e identificar os detalhes visuais dos “Três Músicos”, com
propósito interpretativo em relação ao título.

O que você vê nesta pintura?
Pablo Picasso, Três Músicos, 1921, óleo
                       sobre tela, 200.7 x 222.9 cm. Coleção
                       Gallatin, Museu de Arte da Filadélfia.



Atividade 1: Analise as formas, cores, texturas e padrões e categorize-os como sendo
colados ou pintados.

 Que cores ou formas têm texturas ou padrões que parecem com pedaços de papel?
 Quais formas parecem coladas?
 Quais formas ou cores parecem pintadas? Neste contato com Picasso, o que você
sugere para a criação de uma colagem?

Atividade 2: Analise a pintura, relacionando abstrações com a figura humana.

 Que artifício o artista empregou para imprimir, em cada face, um desenho similar?
 Todas as faces têm máscaras? Como ele ao mesmo tempo pintou cada face diferente?
 Como ele representou os braços de cada figura diferentes da outra?
 O que os trajes acrescentam à pintura?
 Como Picasso manteve as pernas dos homens e as pernas da mesa separados?
 Por que você acha que Picasso adicionou formas geométricas em torno dos três
homens?

A partir das propostas dos exercícios de arte educação apresentados na Aula 3, faça uma
pesquisa em websites de arte (sugiro, por exemplo, o website www.ocaiw.com ),
selecione uma imagem artística (pintura, escultura, objeto, fotografia etc) e crie um
produto midiático (jornalismo - matéria para mídia impressa digital ou eletrônica;
publicidade - anúncio para campanha em mídia impressa digital, eletrônica ou outdoor),
inspirando-se em alguma estética que você tenha achado interessante (cubista,
surrealista, fauve, expressionista, dadaísta etc). Use sua criatividade e considere o
exercício como uma preparação para suas futuras tarefas profissionais.


Consulte a apresentação Arte-Educação disponibilizada naBiblioteca Virtual      ,
sessão Material de Aula para conhecer alguns exemplos de atividades realizados.

Cubismo e imagética moderna
O movimento cubista começou em 1907 e terminou em 1914 com a eclosão da 1ª
Guerra Mundial, tendo boa parte dos artistas desse movimento sido recrutada e partido
para o campo de batalha.

Seus principais focos de resistência foram as artes decorativas e a arquitetura do século
20. Considerado como um ato de percepção individual, o movimento inspirou-se na arte
africana e na geometrização das figuras, que resultou em uma arte intuitiva e bastante
abstrata, derivada da experiência visual baseada na luz e na sombra.

O cubismo rompeu com o conceito de arte como “imitação da natureza”, que vinha
desde o renascimento, bem como com os principais cânones clássicos de pintura
tradicional:


    A perspectiva, consistindo na ilusão de profundidade em uma superfície plana, base
da pintura européia por mais de 500 anos seguinte à renascença.


    O chiaroscuro (claro-escuro) ou luz-e-sombra, indicando uma nova técnica criada
no renascimento para criar a ilusão de relevo escultural no plano.


    A pirâmide ou configuração piramidal e tridimensional do espaço da tela, tendo
como clímax uma imagem central que substituiu os retratos em perfil e o agrupamento
de figuras em grade horizontal típicas das artes bizantina e medieval.

Pablo Picasso definiu o cubismo como:




                                      “Uma arte que trata de formas, e quando uma
                                      forma é realizada, ela aí está para viver sua
                                      própria vida.”




Apesar da identificação imediata do movimento cubista à figura de Pablo Picasso,
vários outros artistas deram grandes contribuições ao movimento, tais como:

   •   Georges Braque (1882, 1963).
   •   Fernand Léger (1881 - 1908).
   •   Robert Delaunay (1885 - 1941).
   •   Francis Picabia (1879 - 1953).
   •   Juan Gris (1887 - 1927).
   •   Marcel Duchamp (1887 - 1968), fundador do dadaísmo, entre outros.

O mexicano Diego Rivera (1886 - 1957), com seu figurativismo geometrizado, e Piet
Mondrian (1872 - 1944), com sua abstração geométrica, também participaram do
movimento cubista.
As fases definidoras do cubismo podem ser, assim, resumidas:

 Fase 1 Protocubismo, em que a influência da escultura africana revela-se através da
        pesquisa contínua das deformações expressivas do corpo humano.
 Fase 2 Cubismo analítico, definido por representações espaciais abstratas no plano do
        quadro.
 Fase 3 Cubismo sintético policromático, simbolizado pela incorporação de materiais
        estranhos às representações pictóricas, como as colagens.



O cubismo pode ser identificado com o espírito da arte moderna ao buscar deformar,
efetivamente, um rosto verdadeiro, em lugar de só representar a imagem de um rosto
deformado. No entanto, o cubismo, mesmo picassiano, não deixou de ser, na
deformação da imagem ou da figura, uma arte da representação, enquanto na arte tribal
o que era deformado era uma imagem dada ou a própria realidade. As pinturas de
Picasso, Braque, Léger e Gris (entre outros) apresentavam como seus elementos
formais:

  Abandono da iluminação “naturalista” de suas telas e das relações moduladas entre
elementos formais.
  Ênfase nas formas planas de contornos bem marcados.
  Ênfase em relações espaciais condicionadas por relações de cor.
  Ênfase no contexto de uma composição, que permite a leitura de um espaço
consistente ou fechado.
  Ênfase no espaço inteiramente ocupado por formas e planos (como em Léger).
  Ênfase em um espaço real semelhante a uma caixa (como em Picasso ou Braque).
  Ênfase em um espaço identificado com a própria superfície da tela, através da
aplicação de uma base completamente pintada, suave e/ou opaca (como em Gris,
Braque e Picasso).


Acesse a Biblioteca Virtual        , seção Material de Aula, e leia a biografia do
principal artista cubista, Pablo Picasso.

Gabarito de freqüência:

1 - 4.
2 – 2.
3 – 1.
4 – 4.
5 – 4.

Aula 4: Surrealismo e acesso ao inconsciente
Surrealismo como acesso ao inconsciente

Agora serão apresentados alguns dos principais artistas surrealistas:
Max Ernst (1891-1976)
 Salvador Dalí (1904-1989)
 Luis Buñuel (1900-1983)
 André Masson (1896-1987)
 Joan Miró (1893-1983)
 Jean Arp (1886-1966)
 Yves Tanguy (1900-1975)
 René Magritte (1898-1967)
 Paul Delvaux (1897-1994)
 Man Ray (1890-1976)
 Paul Klee (1879-1940)
 Marc Chagall (1887-1985)
 Kurt Schitters (1887-1948)
 Pablo Picasso (1881-1973)
 Wilfredo Lam (1902-1982)


       “puro automatismo psíquico, através do qual se deseja exprimir, por escrito ou verbalmente, a
       verdadeira função do pensamento; pensamento ditado pela ausência de qualquer controle
       exercido pela razão, fora de toda a preocupação estética e moral”.

                                                                     (Manifesto Surrealista, 1924)
O surrealismo foi definido pelo seu próprio criador, o escritor André Breton (1896-1966), como
constituindo um:




Este movimento foi influenciado por escritores simbolistas como Rimbaud e Baudelaire. Nas artes
visuais, encontrou antecedentes históricos nas obras de pintores como Bosch, Brueghel, Blake e sofreu a
influência da obra metafísica de Giorgio de Chirico. Houve, igualmente, uma influência direta do
pensamento de Freud e de Hegel sobre os surrealistas.

Contexto histórico do surrealismo:

O surrealismo foi a última das vanguardas européias do começo do século XX. O movimento surrealista
surgiu em meados dos anos 1920, idealizado por poetas e artistas plásticos liderados por André Breton,
remanescente do dadaísmo, como, aliás, ocorreu com a maioria dos integrantes do surrealismo.

Tanto na literatura como nas artes visuais, o surrealismo foi a principal corrente artística moderna de
representação do irracional e do inconsciente. Em oposição ao impulso anárquico de destruição do
dadaísmo, o qual conduziu à antiarte, ao experimentalismo e à arte conceitual em décadas posteriores,
os artistas surrealistas partilhavam de um projeto utópico de erigir um novo homem em uma nova
sociedade.

O surrealismo divide-se em três períodos:

                                      O tema do sonho foi representado, pelos surrealistas,
1º período - Surrealismo              por obras de natureza simbólica obtidas através do
heróico (1924)                        método do automatismo, as quais revelavam ainda um
                                      certo figurativismo.
2º período - Fase política            Seus líderes filiaram-se ao partido comunista,
(1928)                                 vinculando a arte surrealista a uma postura estético-
                                       ideológica de vanguarda.
3º período - Fase de difusão           O surrealismo expandiu-se internacionalmente com
(1930-1950)                            grupos de surrealistas, tendo mesmo se formado no
                                       Brasil.

                          Histórico do surrealismo:

                         Em outubro de 1924, André Breton lançou o manifesto surrealista, no qual
                         defendeu a idéia de que os artistas e escritores deveriam expressar seu
                         pensamento de maneira totalmente livre, espontânea e irracional, sem
qualquer controle de ordem estética, racional ou moral. Dessa maneira, o surrealismo visou subverter a
realidade fragmentária apresentada pela lógica, moral e estética vigente nas primeiras décadas do
século XX, almejando alcançar uma realidade superior.

Para isso, o artista surrealista necessitava abandonar o lado convencional e lograr surgir o lado que
nunca se expressava no homem normal: o inconsciente. Sonhos, desejos e pulsões de morte
transformaram-se na principal temática surrealista. O surrealismo utilizou técnicas destinadas a liberar
o potencial criativo do inconsciente. Conheça essas técnicas:


    Automatismo, técnica posteriormente apropriada pelo expressionismo abstrato.

    Associações livres.

    Fotomontagem.

    Jogos de criação coletiva.

    “Assemblagem” ou superposição de objetos.

    Colagem.

Salvador Dalí e o pensamento “paranóico-crítico”:




As excentricidades e declarações provocadoras fizeram de Salvador Dalí uma das mais polêmicas figuras
da arte contemporânea, mas não impediram que sua obra fosse reconhecida como uma das mais
audaciosas e apuradas da pintura surrealista.

Mais do que qualquer outro surrealista, Dalí amplificou os elementos absurdos da realidade e fez da
insanidade um princípio. O nojento e o obsceno, o satânico e o monstruoso foram apresentados de
maneira verdadeiramente teatral, por este artista espanhol.

A técnica de Dalí era sofisticada e correta, a ponto de revelar a natureza monstruosa e perversa de
sonhos e pesadelos, utilizando, para isso, o pormenor desenhado de maneira realista ou quase “hiper-
realista”. Membros inchados e moribundos formam portais de horror, com chocalhantes esqueletos
cravados em postes, macilentas figuras femininas com barrigas que parecem cômodas e que se recortam
contra agourentos horizontes.




                                                 Salvador Dalí, “A persistência da memória” (Relógios
A essência desta arte, a que Dalí chamou
                                                 moles), 1931, óleo sobre tela, 24 x 33 cm. Coleção MOMA,
“crítica paranóica”, foi um alucinado exagero
                                                 Nova Iorque.
de idéias sexuais, sádicas, masoquistas e compulsivamente neuróticas. O sangue, a decadência e a
putrefação eram os componentes-chaves de uma abordagem pictórica, tal como o surrealismo em geral,
que prolongava e ramificava os princípios antiestéticos do dadaísmo, na medida em que este pretendia
ser compreendido não no sentido tradicional, mas sim no sentido de uma demonstração e de uma
análise.

Uma de suas telas mais famosas é “A persistência da Memória”, sobre a qual Dalí afirmou que “Relógios
moles não são mais do que camemberts paranóico-críticos, suaves e extravagantes, fora do tempo e do
espaço”.

Dalí juntou-se ao movimento surrealista em 1929, tendo pintado “O jogo lúgubre” naquele mesmo ano.
Nesta obra, Dalí empregou a narrativa do sonho e justapôs elementos incongruentes e formas
monstruosas, utilizando motivos tais como um gafanhoto, para compor objetos de sua fobia obsessiva.

Dalí criou uma paisagem fragmentada, através do tratamento desguarnecido dos degraus à direita, do
chão e do monumento que recordam as ruas e cidades despovoadas e vazias de De Chirico.

A figura central desta obra foi explodida em fragmentos, com seu corpo tendo se distendido para cima,
terminando em uma cabeça dilacerada revelando pedras, conchas, cabeças e chapéus. A soma das
partes fragmentadas revela uma técnica semelhante à colagem para agrupar fragmentos e partes.

Dalí lançou mão de um repertório de motivos freudianos e concentrou-se no imaginário sexual,
sugerindo temas como a masturbação e a culpa decorrente que preocupava o artista, sendo sugeridos
pela calça manchada da figura masculina em primeiro plano, a imensa mão da estátua, a mão cobrindo
os olhos da estátua e o simbolismo sexual do qual a pintura está repleta.

André Breton, em um prefácio do catálogo de exibição desta obra, escreveu que:
  “a arte de Dalí, a mais alucinatória conhecida até agora, constitui uma ameaça real,
  ameaça, qual seja, à ordem estabelecida e à aparência das coisas (...) Com a vinda
  de Dalí, é quiçá a primeira vez que as janelas da mente se abrem com amplidão, de
  forma a se poder sentir planando em direção à selvagem armadilha celeste”.
A afirmação de Dalí de que a “beleza é apenas o grau de consciência de nossas perversões” pareceu
corresponder ao tipo de interesse encontrado nos escritos de Georges Bataille, tendo este pintor sido
inegavelmente influenciado pelo romance erótico de Bataille, “História do olho” de 1928.

Bataille, no entanto, criticou “O jogo lúgubre” em um ensaio, afirmando que “o desespero intelectual
não leva nem à apatia nem ao sonho, mas à violência”. Para Bataille, Dalí estava longe de abrir
amplamente as janelas da mente, como afirmara Breton, mas, ao contrário, viu ele “o abominável
espelho de Dalí” nesta pintura, indicando o inconsciente do “civilizado”.

Identificando a castração como o tema da pintura, Bataille iniciou sua análise pela figura central, cuja
parte superior do corpo foi arrancada da inferior, simbolizando o momento de “emasculação”. O
desmembramento e a fragmentação da pintura de Dalí estão, portanto, vinculados ao cenário edipiano,
e em última instância às origens edipianas da pintura moderna.
Salvador Dalí, “O jogo lúgubre”, 1929, óleo e colagem
                        sobre cartão, 44 x 30 cm. Coleção privada.
O objeto surrealista e a beleza horrível e comestível

A dualidade de “horrível” e “comestível” era um conceito tipicamente daliesco, aplicado às formas de
arte decorativa que representavam a celebração da arquitetura do arquiteto Antonio Gaudí, em
Barcelona.

Dalí ressaltava o modo pelo qual a ‘fórmula do ângulo reto” e a “seção dourada” haviam sido
substituídas pela fórmula da “ondulação convulsiva” na arquitetura gaudiana. Esse era o perfil da
arquitetura de Gaudí que Dalí comparava, por analogia visual, com um paralelo adicional encontrado na
“escultura histérica” de Gaudí, cujas cabeças femininas mostravam o “êxtase erótico”.

A ênfase na histeria feminina, descoberta por Freud, pelo surrealismo representa um protesto ou uma
subversão da lei patriarcal sobre o corpo da mulher, a qual via a sexualidade feminina como
“devoradora” ou “louca”. A estética surrealista, em vez de “desmascarar” a feminilidade, considerava
as máscaras femininas desejáveis e as enfatizava em uma “beleza convulsiva” de simulação da histeria.
Dessa forma, a obsessão masculina com o corpo feminino é um dos temas principais de Dalí, que
retratou a mulher Gala como musa em grande parte de seus quadros. Um dos mais conhecidos é “Sonho
provocado pelo vôo de uma abelha em torno de uma romã, um segundo antes de despertar”, de 1944.
Salvador Dalí, “Sonho provocado pelo vôo de uma abelha em torno de uma
               romã, um segundo antes de despertar”, 1944, óleo sobre tela, 51 x 40,5 cm.
               Museu Thyssen-Bornemisza.
O envolvimento do psicanalista Lacan com o grupo surrealista, nos anos 1930, introduziu a paranóia no
vocabulário visual de Salvador Dalí, para quem “as imagens paranóicas são devidas ao delírio de
interpretação”. Elas podiam também se proliferar infinitamente: “O fenômeno paranóico”, escreveu
Dalí, são “imagens comuns, tendo uma dupla figuração; a figuração pode ser teórica e praticamente
multiplicada”.

Dalí desenvolveu seu próprio “método crítico-paranóico” em pintura. Seu quadro “Subúrbio da cidade
crítico-paranóica” lembra as imagens de De Chirico, da menina solitária correndo em ruas vazias. A
idéia da cidade como um sítio arqueológico de sonhos e memórias, assim como o inconsciente,
constituía um interesse constante para os surrealistas, como já vimos.

Em vez de empregar imagens de Paris, Dalí utilizava vistas panorâmicas de cidades espanholas e os
subúrbios no título francês se referem a áreas marginalizadas e remotas da Europa. As ligações entre as
formas são sugeridas pela semelhança entre os detalhes — as uvas, os crânios e a estátua eqüestre, por
exemplo — ou nos padrões das nuvens que ficam sobre o arco de pedra. Uma “colagem” de imagens
díspares é utilizada, na qual a figura de uma mulher é simbolicamente sobreposta a uma paisagem
suburbana — ou, melhor, a uma série de locais e vistas desconectadas — como a paisagem do
inconsciente.




                 Salvador Dalí, “Subúrbio da cidade crítico-paranóica; Tarde nos
                 Arredores da História Européia”, 1936, óleo sobre painel, 46 x 66 cm.
Coleção privada.
No mesmo ano em que pintou “Subúrbio da cidade crítico-paranóica”, Dalí participou de uma
“Exposição de Objetos Surrealistas” promovida por uma galeria de arte em Paris, a qual procurou exibir
uma idéia da variedade surrealista com mostruários de vidro que lembravam um museu etnográfico.

Máscaras primitivas eram justapostas a trabalhos de Picasso e a objetos surrealistas de Alberto
Giacometti e Meret Oppenheim, os quais se juntavam a ready-mades de Marcel Duchamp.

O “objeto surrealista” representou uma contribuição específica do surrealismo para a escultura.
Enquanto os ready-mades de Duchamp recusaram a emoção, a assinatura do artista e sua autobiografia,
evitando a sua intervenção estética, o objeto surrealista optou por uma abordagem muito diferente de
sondar o inconsciente ao procurar excluir a casualidade, a reflexão e o cálculo do processo de criação
artística.




                           Salvador Dalí, “Telefone-lagosta”, 1936,
                           “assemblagem”, 18 x 12,5 x 30,5 cm. Coleção
                           privada.




O famoso “Objeto xícara de chá forrada de pele”, de Meret Oppenheim, provocou uma concomitante
atração, repugnância, erotismo oral e rejeição durante a mostra de 1936, evocando um fetichismo
freudiano na conotação sexual da pele da xícara, pires e colher, evocando o espírito ambivalente
surrealista para “despertar o proibido”, segundo André Breton.




                           Meret Oppenheim, “Objeto xícara de chá forrada de
                           pele”, 1936, colher, pires e xícara de chá forrada de
                           pele, xícara 10, 9 cm, pires 23,7 cm, colher 20,2 cm,
                           altura: 7,3 cm. MOMA, Nova Iorque.
Gabarito de freqüência:

1 - 2.
2 – 2.
3 – 3.
4 – 4.
5 – 3.

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Cubismo e imagética moderna

  • 1. Aula 3: Cubismo e imagética abstrata Ao final da aula, você será capaz de: Discutir qual é o conceito da metodologia triangular – criação, contexto e crítica – a ser aplicado às artes visuais. Criação e análise crítica. Receber noções de história da arte. Valorizar a apreciação estética e o julgamento crítico. Como estudar a imagem no ensino da arte? Os exercícios desta unidade são centrados em três elementos que compõem a Metodologia Triangular do ensino da arte: Nesta aula, você será introduzido à didática do curso, que visa alfabetizar para a leitura de imagens modernas e contemporâneas. Para isso, foi seguido o método de arte-educação intitulado Disciplined Based Art Education – DBAE (Arte-Educação Baseada na Disciplina), desenvolvido por: Ana Mae Barbosa in A Imagem no Ensino da Arte. S.P. Perspectiva, 2002.? Vale a pena anotar!
  • 2. Para que você analise as obras de arte apresentadas durante este curso, recomenda-se que você busque aguçar sua capacidade crítica através de: Princípios Centrar-se no ato de ver associado a princípios estéticos, éticos e históricos. Descrição Prestar atenção ao que vê, ou seja, desenvolver o senso de descrição. Análise Observar o comportamento do que se vê, ou seja, desenvolver o senso de análise. Interpretação Dar significado à obra de arte, ou seja, desenvolver o senso de interpretação. Julgamento Decidir acerca do valor de um objeto de arte, ou seja, desenvolver o senso de julgamento. Exposição Propor critérios de avaliação de obras de arte moderna e contemporânea para serem apropriados em produtos midiáticos de Comunicação Social. Em outras palavras, significa aprender a expor suas idéias e ser participativo ao criar produtos em jornalismo e publicidade. Em seguida, serão apresentados alguns exercícios e ações para que você desenvolva estas capacidades. Pratique sempre que possível cada exercício apresentado, ao examinar uma obra.
  • 3.
  • 4.
  • 5. Agora vamos pôr em prática tudo o que foi apresentado! Análise da pintura “Três Músicos” Por Pablo Picasso, Espanha, 1881.
  • 6.
  • 7. Pablo Picasso Sobre o artista: Picasso, pintor e escultor espanhol, considerado um dos artistas mais importantes do século vinte. Artista multifacetado, foi único e genial em todas as atividades que exerceu: inventor de formas, criador de técnicas e de estilos, artista gráfico e escultor. Foi o artista mais produtivo e o mais constante revolucionário do século passado. Do tratamento clássico e representacional dos temas ele evolui para as abstrações do cubismo (que, contudo, nunca chegou a ser completamente abstrato) e no seu desenvolvimento cria as técnicas de colagem mais tarde utilizadas no dadaísmo. Picasso empregou igualmente elementos de fantasia e imaginação, em suas cerâmicas e esculturas. Responda mentalmente às questões a seguir (Essa atividade não vale nota. Trata-se apenas de um exercício de sensibilidade) Cabe a você descrever e identificar os detalhes visuais dos “Três Músicos”, com propósito interpretativo em relação ao título. O que você vê nesta pintura?
  • 8. Pablo Picasso, Três Músicos, 1921, óleo sobre tela, 200.7 x 222.9 cm. Coleção Gallatin, Museu de Arte da Filadélfia. Atividade 1: Analise as formas, cores, texturas e padrões e categorize-os como sendo colados ou pintados. Que cores ou formas têm texturas ou padrões que parecem com pedaços de papel? Quais formas parecem coladas? Quais formas ou cores parecem pintadas? Neste contato com Picasso, o que você sugere para a criação de uma colagem? Atividade 2: Analise a pintura, relacionando abstrações com a figura humana. Que artifício o artista empregou para imprimir, em cada face, um desenho similar? Todas as faces têm máscaras? Como ele ao mesmo tempo pintou cada face diferente? Como ele representou os braços de cada figura diferentes da outra? O que os trajes acrescentam à pintura? Como Picasso manteve as pernas dos homens e as pernas da mesa separados? Por que você acha que Picasso adicionou formas geométricas em torno dos três homens? A partir das propostas dos exercícios de arte educação apresentados na Aula 3, faça uma pesquisa em websites de arte (sugiro, por exemplo, o website www.ocaiw.com ), selecione uma imagem artística (pintura, escultura, objeto, fotografia etc) e crie um produto midiático (jornalismo - matéria para mídia impressa digital ou eletrônica; publicidade - anúncio para campanha em mídia impressa digital, eletrônica ou outdoor), inspirando-se em alguma estética que você tenha achado interessante (cubista, surrealista, fauve, expressionista, dadaísta etc). Use sua criatividade e considere o exercício como uma preparação para suas futuras tarefas profissionais. Consulte a apresentação Arte-Educação disponibilizada naBiblioteca Virtual , sessão Material de Aula para conhecer alguns exemplos de atividades realizados. Cubismo e imagética moderna
  • 9. O movimento cubista começou em 1907 e terminou em 1914 com a eclosão da 1ª Guerra Mundial, tendo boa parte dos artistas desse movimento sido recrutada e partido para o campo de batalha. Seus principais focos de resistência foram as artes decorativas e a arquitetura do século 20. Considerado como um ato de percepção individual, o movimento inspirou-se na arte africana e na geometrização das figuras, que resultou em uma arte intuitiva e bastante abstrata, derivada da experiência visual baseada na luz e na sombra. O cubismo rompeu com o conceito de arte como “imitação da natureza”, que vinha desde o renascimento, bem como com os principais cânones clássicos de pintura tradicional: A perspectiva, consistindo na ilusão de profundidade em uma superfície plana, base da pintura européia por mais de 500 anos seguinte à renascença. O chiaroscuro (claro-escuro) ou luz-e-sombra, indicando uma nova técnica criada no renascimento para criar a ilusão de relevo escultural no plano. A pirâmide ou configuração piramidal e tridimensional do espaço da tela, tendo como clímax uma imagem central que substituiu os retratos em perfil e o agrupamento de figuras em grade horizontal típicas das artes bizantina e medieval. Pablo Picasso definiu o cubismo como: “Uma arte que trata de formas, e quando uma forma é realizada, ela aí está para viver sua própria vida.” Apesar da identificação imediata do movimento cubista à figura de Pablo Picasso, vários outros artistas deram grandes contribuições ao movimento, tais como: • Georges Braque (1882, 1963). • Fernand Léger (1881 - 1908). • Robert Delaunay (1885 - 1941). • Francis Picabia (1879 - 1953). • Juan Gris (1887 - 1927). • Marcel Duchamp (1887 - 1968), fundador do dadaísmo, entre outros. O mexicano Diego Rivera (1886 - 1957), com seu figurativismo geometrizado, e Piet Mondrian (1872 - 1944), com sua abstração geométrica, também participaram do movimento cubista.
  • 10. As fases definidoras do cubismo podem ser, assim, resumidas: Fase 1 Protocubismo, em que a influência da escultura africana revela-se através da pesquisa contínua das deformações expressivas do corpo humano. Fase 2 Cubismo analítico, definido por representações espaciais abstratas no plano do quadro. Fase 3 Cubismo sintético policromático, simbolizado pela incorporação de materiais estranhos às representações pictóricas, como as colagens. O cubismo pode ser identificado com o espírito da arte moderna ao buscar deformar, efetivamente, um rosto verdadeiro, em lugar de só representar a imagem de um rosto deformado. No entanto, o cubismo, mesmo picassiano, não deixou de ser, na deformação da imagem ou da figura, uma arte da representação, enquanto na arte tribal o que era deformado era uma imagem dada ou a própria realidade. As pinturas de Picasso, Braque, Léger e Gris (entre outros) apresentavam como seus elementos formais: Abandono da iluminação “naturalista” de suas telas e das relações moduladas entre elementos formais. Ênfase nas formas planas de contornos bem marcados. Ênfase em relações espaciais condicionadas por relações de cor. Ênfase no contexto de uma composição, que permite a leitura de um espaço consistente ou fechado. Ênfase no espaço inteiramente ocupado por formas e planos (como em Léger). Ênfase em um espaço real semelhante a uma caixa (como em Picasso ou Braque). Ênfase em um espaço identificado com a própria superfície da tela, através da aplicação de uma base completamente pintada, suave e/ou opaca (como em Gris, Braque e Picasso). Acesse a Biblioteca Virtual , seção Material de Aula, e leia a biografia do principal artista cubista, Pablo Picasso. Gabarito de freqüência: 1 - 4. 2 – 2. 3 – 1. 4 – 4. 5 – 4. Aula 4: Surrealismo e acesso ao inconsciente Surrealismo como acesso ao inconsciente Agora serão apresentados alguns dos principais artistas surrealistas:
  • 11. Max Ernst (1891-1976) Salvador Dalí (1904-1989) Luis Buñuel (1900-1983) André Masson (1896-1987) Joan Miró (1893-1983) Jean Arp (1886-1966) Yves Tanguy (1900-1975) René Magritte (1898-1967) Paul Delvaux (1897-1994) Man Ray (1890-1976) Paul Klee (1879-1940) Marc Chagall (1887-1985) Kurt Schitters (1887-1948) Pablo Picasso (1881-1973) Wilfredo Lam (1902-1982) “puro automatismo psíquico, através do qual se deseja exprimir, por escrito ou verbalmente, a verdadeira função do pensamento; pensamento ditado pela ausência de qualquer controle exercido pela razão, fora de toda a preocupação estética e moral”. (Manifesto Surrealista, 1924) O surrealismo foi definido pelo seu próprio criador, o escritor André Breton (1896-1966), como constituindo um: Este movimento foi influenciado por escritores simbolistas como Rimbaud e Baudelaire. Nas artes visuais, encontrou antecedentes históricos nas obras de pintores como Bosch, Brueghel, Blake e sofreu a influência da obra metafísica de Giorgio de Chirico. Houve, igualmente, uma influência direta do pensamento de Freud e de Hegel sobre os surrealistas. Contexto histórico do surrealismo: O surrealismo foi a última das vanguardas européias do começo do século XX. O movimento surrealista surgiu em meados dos anos 1920, idealizado por poetas e artistas plásticos liderados por André Breton, remanescente do dadaísmo, como, aliás, ocorreu com a maioria dos integrantes do surrealismo. Tanto na literatura como nas artes visuais, o surrealismo foi a principal corrente artística moderna de representação do irracional e do inconsciente. Em oposição ao impulso anárquico de destruição do dadaísmo, o qual conduziu à antiarte, ao experimentalismo e à arte conceitual em décadas posteriores, os artistas surrealistas partilhavam de um projeto utópico de erigir um novo homem em uma nova sociedade. O surrealismo divide-se em três períodos: O tema do sonho foi representado, pelos surrealistas, 1º período - Surrealismo por obras de natureza simbólica obtidas através do heróico (1924) método do automatismo, as quais revelavam ainda um certo figurativismo. 2º período - Fase política Seus líderes filiaram-se ao partido comunista,
  • 12. (1928) vinculando a arte surrealista a uma postura estético- ideológica de vanguarda. 3º período - Fase de difusão O surrealismo expandiu-se internacionalmente com (1930-1950) grupos de surrealistas, tendo mesmo se formado no Brasil. Histórico do surrealismo: Em outubro de 1924, André Breton lançou o manifesto surrealista, no qual defendeu a idéia de que os artistas e escritores deveriam expressar seu pensamento de maneira totalmente livre, espontânea e irracional, sem qualquer controle de ordem estética, racional ou moral. Dessa maneira, o surrealismo visou subverter a realidade fragmentária apresentada pela lógica, moral e estética vigente nas primeiras décadas do século XX, almejando alcançar uma realidade superior. Para isso, o artista surrealista necessitava abandonar o lado convencional e lograr surgir o lado que nunca se expressava no homem normal: o inconsciente. Sonhos, desejos e pulsões de morte transformaram-se na principal temática surrealista. O surrealismo utilizou técnicas destinadas a liberar o potencial criativo do inconsciente. Conheça essas técnicas: Automatismo, técnica posteriormente apropriada pelo expressionismo abstrato. Associações livres. Fotomontagem. Jogos de criação coletiva. “Assemblagem” ou superposição de objetos. Colagem. Salvador Dalí e o pensamento “paranóico-crítico”: As excentricidades e declarações provocadoras fizeram de Salvador Dalí uma das mais polêmicas figuras da arte contemporânea, mas não impediram que sua obra fosse reconhecida como uma das mais audaciosas e apuradas da pintura surrealista. Mais do que qualquer outro surrealista, Dalí amplificou os elementos absurdos da realidade e fez da insanidade um princípio. O nojento e o obsceno, o satânico e o monstruoso foram apresentados de maneira verdadeiramente teatral, por este artista espanhol. A técnica de Dalí era sofisticada e correta, a ponto de revelar a natureza monstruosa e perversa de sonhos e pesadelos, utilizando, para isso, o pormenor desenhado de maneira realista ou quase “hiper- realista”. Membros inchados e moribundos formam portais de horror, com chocalhantes esqueletos cravados em postes, macilentas figuras femininas com barrigas que parecem cômodas e que se recortam contra agourentos horizontes. Salvador Dalí, “A persistência da memória” (Relógios A essência desta arte, a que Dalí chamou moles), 1931, óleo sobre tela, 24 x 33 cm. Coleção MOMA, “crítica paranóica”, foi um alucinado exagero Nova Iorque.
  • 13. de idéias sexuais, sádicas, masoquistas e compulsivamente neuróticas. O sangue, a decadência e a putrefação eram os componentes-chaves de uma abordagem pictórica, tal como o surrealismo em geral, que prolongava e ramificava os princípios antiestéticos do dadaísmo, na medida em que este pretendia ser compreendido não no sentido tradicional, mas sim no sentido de uma demonstração e de uma análise. Uma de suas telas mais famosas é “A persistência da Memória”, sobre a qual Dalí afirmou que “Relógios moles não são mais do que camemberts paranóico-críticos, suaves e extravagantes, fora do tempo e do espaço”. Dalí juntou-se ao movimento surrealista em 1929, tendo pintado “O jogo lúgubre” naquele mesmo ano. Nesta obra, Dalí empregou a narrativa do sonho e justapôs elementos incongruentes e formas monstruosas, utilizando motivos tais como um gafanhoto, para compor objetos de sua fobia obsessiva. Dalí criou uma paisagem fragmentada, através do tratamento desguarnecido dos degraus à direita, do chão e do monumento que recordam as ruas e cidades despovoadas e vazias de De Chirico. A figura central desta obra foi explodida em fragmentos, com seu corpo tendo se distendido para cima, terminando em uma cabeça dilacerada revelando pedras, conchas, cabeças e chapéus. A soma das partes fragmentadas revela uma técnica semelhante à colagem para agrupar fragmentos e partes. Dalí lançou mão de um repertório de motivos freudianos e concentrou-se no imaginário sexual, sugerindo temas como a masturbação e a culpa decorrente que preocupava o artista, sendo sugeridos pela calça manchada da figura masculina em primeiro plano, a imensa mão da estátua, a mão cobrindo os olhos da estátua e o simbolismo sexual do qual a pintura está repleta. André Breton, em um prefácio do catálogo de exibição desta obra, escreveu que: “a arte de Dalí, a mais alucinatória conhecida até agora, constitui uma ameaça real, ameaça, qual seja, à ordem estabelecida e à aparência das coisas (...) Com a vinda de Dalí, é quiçá a primeira vez que as janelas da mente se abrem com amplidão, de forma a se poder sentir planando em direção à selvagem armadilha celeste”. A afirmação de Dalí de que a “beleza é apenas o grau de consciência de nossas perversões” pareceu corresponder ao tipo de interesse encontrado nos escritos de Georges Bataille, tendo este pintor sido inegavelmente influenciado pelo romance erótico de Bataille, “História do olho” de 1928. Bataille, no entanto, criticou “O jogo lúgubre” em um ensaio, afirmando que “o desespero intelectual não leva nem à apatia nem ao sonho, mas à violência”. Para Bataille, Dalí estava longe de abrir amplamente as janelas da mente, como afirmara Breton, mas, ao contrário, viu ele “o abominável espelho de Dalí” nesta pintura, indicando o inconsciente do “civilizado”. Identificando a castração como o tema da pintura, Bataille iniciou sua análise pela figura central, cuja parte superior do corpo foi arrancada da inferior, simbolizando o momento de “emasculação”. O desmembramento e a fragmentação da pintura de Dalí estão, portanto, vinculados ao cenário edipiano, e em última instância às origens edipianas da pintura moderna.
  • 14. Salvador Dalí, “O jogo lúgubre”, 1929, óleo e colagem sobre cartão, 44 x 30 cm. Coleção privada. O objeto surrealista e a beleza horrível e comestível A dualidade de “horrível” e “comestível” era um conceito tipicamente daliesco, aplicado às formas de arte decorativa que representavam a celebração da arquitetura do arquiteto Antonio Gaudí, em Barcelona. Dalí ressaltava o modo pelo qual a ‘fórmula do ângulo reto” e a “seção dourada” haviam sido substituídas pela fórmula da “ondulação convulsiva” na arquitetura gaudiana. Esse era o perfil da arquitetura de Gaudí que Dalí comparava, por analogia visual, com um paralelo adicional encontrado na “escultura histérica” de Gaudí, cujas cabeças femininas mostravam o “êxtase erótico”. A ênfase na histeria feminina, descoberta por Freud, pelo surrealismo representa um protesto ou uma subversão da lei patriarcal sobre o corpo da mulher, a qual via a sexualidade feminina como “devoradora” ou “louca”. A estética surrealista, em vez de “desmascarar” a feminilidade, considerava as máscaras femininas desejáveis e as enfatizava em uma “beleza convulsiva” de simulação da histeria. Dessa forma, a obsessão masculina com o corpo feminino é um dos temas principais de Dalí, que retratou a mulher Gala como musa em grande parte de seus quadros. Um dos mais conhecidos é “Sonho provocado pelo vôo de uma abelha em torno de uma romã, um segundo antes de despertar”, de 1944.
  • 15. Salvador Dalí, “Sonho provocado pelo vôo de uma abelha em torno de uma romã, um segundo antes de despertar”, 1944, óleo sobre tela, 51 x 40,5 cm. Museu Thyssen-Bornemisza. O envolvimento do psicanalista Lacan com o grupo surrealista, nos anos 1930, introduziu a paranóia no vocabulário visual de Salvador Dalí, para quem “as imagens paranóicas são devidas ao delírio de interpretação”. Elas podiam também se proliferar infinitamente: “O fenômeno paranóico”, escreveu Dalí, são “imagens comuns, tendo uma dupla figuração; a figuração pode ser teórica e praticamente multiplicada”. Dalí desenvolveu seu próprio “método crítico-paranóico” em pintura. Seu quadro “Subúrbio da cidade crítico-paranóica” lembra as imagens de De Chirico, da menina solitária correndo em ruas vazias. A idéia da cidade como um sítio arqueológico de sonhos e memórias, assim como o inconsciente, constituía um interesse constante para os surrealistas, como já vimos. Em vez de empregar imagens de Paris, Dalí utilizava vistas panorâmicas de cidades espanholas e os subúrbios no título francês se referem a áreas marginalizadas e remotas da Europa. As ligações entre as formas são sugeridas pela semelhança entre os detalhes — as uvas, os crânios e a estátua eqüestre, por exemplo — ou nos padrões das nuvens que ficam sobre o arco de pedra. Uma “colagem” de imagens díspares é utilizada, na qual a figura de uma mulher é simbolicamente sobreposta a uma paisagem suburbana — ou, melhor, a uma série de locais e vistas desconectadas — como a paisagem do inconsciente. Salvador Dalí, “Subúrbio da cidade crítico-paranóica; Tarde nos Arredores da História Européia”, 1936, óleo sobre painel, 46 x 66 cm.
  • 16. Coleção privada. No mesmo ano em que pintou “Subúrbio da cidade crítico-paranóica”, Dalí participou de uma “Exposição de Objetos Surrealistas” promovida por uma galeria de arte em Paris, a qual procurou exibir uma idéia da variedade surrealista com mostruários de vidro que lembravam um museu etnográfico. Máscaras primitivas eram justapostas a trabalhos de Picasso e a objetos surrealistas de Alberto Giacometti e Meret Oppenheim, os quais se juntavam a ready-mades de Marcel Duchamp. O “objeto surrealista” representou uma contribuição específica do surrealismo para a escultura. Enquanto os ready-mades de Duchamp recusaram a emoção, a assinatura do artista e sua autobiografia, evitando a sua intervenção estética, o objeto surrealista optou por uma abordagem muito diferente de sondar o inconsciente ao procurar excluir a casualidade, a reflexão e o cálculo do processo de criação artística. Salvador Dalí, “Telefone-lagosta”, 1936, “assemblagem”, 18 x 12,5 x 30,5 cm. Coleção privada. O famoso “Objeto xícara de chá forrada de pele”, de Meret Oppenheim, provocou uma concomitante atração, repugnância, erotismo oral e rejeição durante a mostra de 1936, evocando um fetichismo freudiano na conotação sexual da pele da xícara, pires e colher, evocando o espírito ambivalente surrealista para “despertar o proibido”, segundo André Breton. Meret Oppenheim, “Objeto xícara de chá forrada de pele”, 1936, colher, pires e xícara de chá forrada de pele, xícara 10, 9 cm, pires 23,7 cm, colher 20,2 cm, altura: 7,3 cm. MOMA, Nova Iorque. Gabarito de freqüência: 1 - 2. 2 – 2.
  • 17. 3 – 3. 4 – 4. 5 – 3.