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FIBRAS VERMELHAS
Escrito por
Danilo Peixoto & Renan David
Revisão Final
14 de junho de 2015
2
O MOTEL
É como uma necessidade, mas não sinto nada. Meu corpo se
atrita sobre o dela, mas não sinto prazer, nada parecido com
matar. Todas as vezes, são os olhos que me fazem pensar o
que ela teria sido se não fosse uma prostituta.
Um último suspiro de prazer para vítima e então posso começar
a sentir algo. O sangue borbulha em minhas mãos e seus
gemidos são sádicos. Apenas eu posso ouvi-los, mesmo que
percorram pelos corredores do motel e passem pelos vidros
finos, não há ninguém lá fora para escutar.
Estou tentando chamar a atenção, sem que seja óbvio demais,
além de uma assinatura.
3
O COSTURADOR
Steven David, como um investigador da Cidade de Prata. Na
maior parte, há algo entre meus lábios e pode acreditar, não
é a língua de uma mulher, eu não poderia tirar uma da caixinha
a cada vez que vejo algo novo.
Eu não entendo a hipocrisia dos locais, mas sei que todos
querem chamar a minha atenção, mostrar o que gostam de fazer.
Se você não quer que alguém te entenda, não crie fatos e se
estou aqui, algo já foi criado.
Esse cara pode estar em qualquer lugar, mas caçar alguém que
está caçando tem suas vantagens, às vezes ele deixa sua caça.
— 32 anos, cabelos castanhos, caucasiana. Mas está faltando
algo...
— Acho que não. Olhe as genitais dela.
Ele se acanhou apenas em ouvir, então não hesitei em fazer
o trabalho de um novato. Removi a calça e lá estava o que
faltará, costurada como os dois últimos casos, era uma
assinatura em série de um patife com extrema frieza.
— Acabamos por aqui. Ligue para a LCC.
— Acho que nem vai precisar, está limpo demais. O serviço de
limpeza de um motel barato não ganha para isso.
Quando a LCC chegasse, deixaríamos mais uma cena de crime,
com as mãos vazias e um corpo.
— O que aconteceu aqui?
— Sexo e morte. Vocês não vão demorar muito.
— Ele é habilidoso para limpar?
— Ele é um maníaco.
— Essa cidade está cheia de maníacos com habilidades.
— Como se chama?
— Me chame de J.J.
— Não há como não deixar nada, J.J.
4
A GAROTA
Ela é diferente, trabalha numa cafeteria perto de onde eu
trabalho. Na verdade, talvez esteja confundindo as coisas,
é a única garota com quem converso todos os dias. Cabelos
castanhos, claros e longos, é melhor observar de longe
tomando café.
— São fotos assustadoras.
— Desculpa, como?
Ela desentortou o pescoço e apanhou do chão as fotos. Agora
suas sobrancelhas pareciam torcidas.
— O que elas são? Tem muito vermelho, mas estão borradas.
Você é algum tipo de artista?
O compreendimento precoce dela havia me curado da euforia.
— O que elas fazem você sentir?
Ela sentou-se na minha frente, olhando os lados
apressadamente.
— Hum... Parece uma pizza gigante de cima.
— Gosta de pizza, senhorita?
— Oh... Catarina, senhorita está no céu.
— Joseph James.
Nós cumprimentamos um ao outro. Minha mão esquerda encontrou
a dela no centro da mesa.
— Gostaria de ir à uma pizzaria?
— Como um encontro?
— Sim. Como um encontro, se você aceitar...
— Claro, eu aceito. Talvez às 7 p.m.
— Talvez às 7 p.m.
Um sorriso riscou meu rosto, interpretei-o de modo que ela
não notasse.
— O que foi?
— É que... Ninguém fala assim.
— Eu falo, p.m.
5
A RECEPÇÃO
Ele está cada vez mais esperto, se um dia ele já foi
desleixado. Outro motel, prostituta, linha de costura e uma
assinatura pela mão esquerda. É só isso, e o chão mais limpo
que já vi.
O tempo limita os humanos, mas não há nenhum limite aqui e
quanto mais tempo, mais coisas acumulam. Alguém viu algo.
— Não há registro?
— Não registramos nossos clientes para garantir a privacidade
deles.
— Descaso. Nenhum registro, toda a discrição possível, mas
uma câmera enorme apontada para o caixa.
O recepcionista passou as mãos lentamente por baixo do
balcão.
— Não! Nem pense nisso ou eu coloco uma bala na sua testa.
Você está preso e tem o direito de permanecer calado.
Dinheiro, o pecado do mundo, mas isso é até onde chegamos
fisicamente. Desejos, medos, todos os tipos de sentimentos
e fetiches humanos, o verdadeiro pecado é o que o dinheiro
pode comprar.
— Senhor Jeffrey. O que ele ofereceu-lhe para que ficasse
tão quieto num interrogatório simples.
O desgraçado permaneceu calado, cortando sua própria
respiração.
— Resposta errada. Garanto a você que podemos lhe oferecer
algo melhor, nada mal para um balconista de motel que será
preso por proteger alguém que nem conhece. Me diga, como ele
se registrou?
— Jeffrey Jacobsen.
— Olha só, seu xará. Obrigado, Senhor Jeffrey.
— E minha recompensa?
— Simples, estamos deixando o senhor ficar com o que ele te
deu. Mas acho que terá que gastar pagando a fiança por porte
de arma sem registro. Sem registro, não é?
6
O INTERROGATÓRIO
Eu busquei aquele nome durante semanas. Jeffrey Jacobsen
nunca existiu. Mas havia milhares de J.J.
— Senhor, temos mais uma vítima?
— Dele?
— Sim, ela conseguiu sobreviver por um milagre, mas está em
coma.
Eu segui até aquela cena, a primeira diferente. Ela não havia
sido limpa, nem higienizada. Mas não precisei de nada que
estava lá.
J.J., se alguém trabalha como limpador, vendo todos aqueles
crimes, o quanto ele seria bom limpando a sua própria cena?
— Senhor, Joseph James. Senhor?
— Sabe por que está aqui?
Ele balançou a cabeça dizendo não, mas para mim soava como
um sim.
— Está aqui pelo assassinato de 7 prostitutas e uma tentativa
de homicídio seguido de estupro. Como você faz?
— É preciso traçar uma linha e então coloco minhas mãos por
baixo...
— Não. Sua mãe foi espancada pelo seu pai com as mãos e um
bastão de beisebol até a morte. A mãe atormentada que ganhava
sua vida costurando roupas para operários de indústria.
— Não fale da minha mãe.
— Não temos provas, a não ser pela última vítima.
— Eu sei como funciona, vocês não podem me manter aqui.
A porta esfolou o chão produzindo um zunido estridente sobre
o interrogatório.
— Senhor, o advogado dele está aqui e ele tem um álibi.
Ele se levantou, passou na minha frente. Era como se me
atravessasse. Naquele mesmo dia, 45 minutos depois,
recebemos uma ligação. A garota em coma havia acordado e
descrito um homem tal como ele estava na minha frente, cara
a cara.
Nós criamos nossos próprios demônios, Joseph se refletia na
sua infância. Bom ou mal, tudo está sobre um ponto de vista
e em relação a todas as coisas, apenas diferenças.
Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative
Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0
Internacional. Para ver uma cópia desta licença, visite
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Fibras vermelhas - Danilo Peixoto e Renan David

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  • 1. FIBRAS VERMELHAS Escrito por Danilo Peixoto & Renan David Revisão Final 14 de junho de 2015
  • 2. 2 O MOTEL É como uma necessidade, mas não sinto nada. Meu corpo se atrita sobre o dela, mas não sinto prazer, nada parecido com matar. Todas as vezes, são os olhos que me fazem pensar o que ela teria sido se não fosse uma prostituta. Um último suspiro de prazer para vítima e então posso começar a sentir algo. O sangue borbulha em minhas mãos e seus gemidos são sádicos. Apenas eu posso ouvi-los, mesmo que percorram pelos corredores do motel e passem pelos vidros finos, não há ninguém lá fora para escutar. Estou tentando chamar a atenção, sem que seja óbvio demais, além de uma assinatura.
  • 3. 3 O COSTURADOR Steven David, como um investigador da Cidade de Prata. Na maior parte, há algo entre meus lábios e pode acreditar, não é a língua de uma mulher, eu não poderia tirar uma da caixinha a cada vez que vejo algo novo. Eu não entendo a hipocrisia dos locais, mas sei que todos querem chamar a minha atenção, mostrar o que gostam de fazer. Se você não quer que alguém te entenda, não crie fatos e se estou aqui, algo já foi criado. Esse cara pode estar em qualquer lugar, mas caçar alguém que está caçando tem suas vantagens, às vezes ele deixa sua caça. — 32 anos, cabelos castanhos, caucasiana. Mas está faltando algo... — Acho que não. Olhe as genitais dela. Ele se acanhou apenas em ouvir, então não hesitei em fazer o trabalho de um novato. Removi a calça e lá estava o que faltará, costurada como os dois últimos casos, era uma assinatura em série de um patife com extrema frieza. — Acabamos por aqui. Ligue para a LCC. — Acho que nem vai precisar, está limpo demais. O serviço de limpeza de um motel barato não ganha para isso. Quando a LCC chegasse, deixaríamos mais uma cena de crime, com as mãos vazias e um corpo. — O que aconteceu aqui? — Sexo e morte. Vocês não vão demorar muito. — Ele é habilidoso para limpar? — Ele é um maníaco. — Essa cidade está cheia de maníacos com habilidades. — Como se chama? — Me chame de J.J. — Não há como não deixar nada, J.J.
  • 4. 4 A GAROTA Ela é diferente, trabalha numa cafeteria perto de onde eu trabalho. Na verdade, talvez esteja confundindo as coisas, é a única garota com quem converso todos os dias. Cabelos castanhos, claros e longos, é melhor observar de longe tomando café. — São fotos assustadoras. — Desculpa, como? Ela desentortou o pescoço e apanhou do chão as fotos. Agora suas sobrancelhas pareciam torcidas. — O que elas são? Tem muito vermelho, mas estão borradas. Você é algum tipo de artista? O compreendimento precoce dela havia me curado da euforia. — O que elas fazem você sentir? Ela sentou-se na minha frente, olhando os lados apressadamente. — Hum... Parece uma pizza gigante de cima. — Gosta de pizza, senhorita? — Oh... Catarina, senhorita está no céu. — Joseph James. Nós cumprimentamos um ao outro. Minha mão esquerda encontrou a dela no centro da mesa. — Gostaria de ir à uma pizzaria? — Como um encontro? — Sim. Como um encontro, se você aceitar... — Claro, eu aceito. Talvez às 7 p.m. — Talvez às 7 p.m. Um sorriso riscou meu rosto, interpretei-o de modo que ela não notasse. — O que foi? — É que... Ninguém fala assim. — Eu falo, p.m.
  • 5. 5 A RECEPÇÃO Ele está cada vez mais esperto, se um dia ele já foi desleixado. Outro motel, prostituta, linha de costura e uma assinatura pela mão esquerda. É só isso, e o chão mais limpo que já vi. O tempo limita os humanos, mas não há nenhum limite aqui e quanto mais tempo, mais coisas acumulam. Alguém viu algo. — Não há registro? — Não registramos nossos clientes para garantir a privacidade deles. — Descaso. Nenhum registro, toda a discrição possível, mas uma câmera enorme apontada para o caixa. O recepcionista passou as mãos lentamente por baixo do balcão. — Não! Nem pense nisso ou eu coloco uma bala na sua testa. Você está preso e tem o direito de permanecer calado. Dinheiro, o pecado do mundo, mas isso é até onde chegamos fisicamente. Desejos, medos, todos os tipos de sentimentos e fetiches humanos, o verdadeiro pecado é o que o dinheiro pode comprar. — Senhor Jeffrey. O que ele ofereceu-lhe para que ficasse tão quieto num interrogatório simples. O desgraçado permaneceu calado, cortando sua própria respiração. — Resposta errada. Garanto a você que podemos lhe oferecer algo melhor, nada mal para um balconista de motel que será preso por proteger alguém que nem conhece. Me diga, como ele se registrou? — Jeffrey Jacobsen. — Olha só, seu xará. Obrigado, Senhor Jeffrey. — E minha recompensa? — Simples, estamos deixando o senhor ficar com o que ele te deu. Mas acho que terá que gastar pagando a fiança por porte de arma sem registro. Sem registro, não é?
  • 6. 6 O INTERROGATÓRIO Eu busquei aquele nome durante semanas. Jeffrey Jacobsen nunca existiu. Mas havia milhares de J.J. — Senhor, temos mais uma vítima? — Dele? — Sim, ela conseguiu sobreviver por um milagre, mas está em coma. Eu segui até aquela cena, a primeira diferente. Ela não havia sido limpa, nem higienizada. Mas não precisei de nada que estava lá. J.J., se alguém trabalha como limpador, vendo todos aqueles crimes, o quanto ele seria bom limpando a sua própria cena? — Senhor, Joseph James. Senhor? — Sabe por que está aqui? Ele balançou a cabeça dizendo não, mas para mim soava como um sim. — Está aqui pelo assassinato de 7 prostitutas e uma tentativa de homicídio seguido de estupro. Como você faz? — É preciso traçar uma linha e então coloco minhas mãos por baixo... — Não. Sua mãe foi espancada pelo seu pai com as mãos e um bastão de beisebol até a morte. A mãe atormentada que ganhava sua vida costurando roupas para operários de indústria. — Não fale da minha mãe. — Não temos provas, a não ser pela última vítima. — Eu sei como funciona, vocês não podem me manter aqui. A porta esfolou o chão produzindo um zunido estridente sobre o interrogatório. — Senhor, o advogado dele está aqui e ele tem um álibi. Ele se levantou, passou na minha frente. Era como se me atravessasse. Naquele mesmo dia, 45 minutos depois, recebemos uma ligação. A garota em coma havia acordado e descrito um homem tal como ele estava na minha frente, cara a cara. Nós criamos nossos próprios demônios, Joseph se refletia na sua infância. Bom ou mal, tudo está sobre um ponto de vista e em relação a todas as coisas, apenas diferenças.
  • 7. Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional. Para ver uma cópia desta licença, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/.