1. Cap 1.
Brincar de viver
Uma vez eu havia decidido para a minha vida o caminho religioso. Ser padre era de
longe uma ideia que eu almejava mesmo que tivesse que abdicar muitas coisas que
tinha pela frente.
Eu tinha apenas 10 anos, eu não me considerava jovem, eu era uma criança, uma
verdadeira criança que estava com uma ideia fixa na cabeça. Naquela idade eu queria
dormir até tarde, assistir os programas da madrugada, ouvir as conversas dos adultos
e ser ouvido e tratado como um. Hoje aquela inocência não passa de uma outra época.
Afinal os tempos são outros. Assistíamos o TV Cruj (Disney Club), riamos com o 101
dálmatas, as garotas da minha escola queriam ser chiquititas e dançavam com as
paquitas da Xuxa, hoje, sorte do marsupilami se passar no horário infantil. Até aonde
podem ir as nossas lembranças? A sociedade está perdendo uma coisa única qual eu
costumo chamar de brincar de viver. As crianças tem que sonhar coisas impossíveis,
pensar milhões de possibilidades, errar, cair, se levantar. E mais fácil comprar um
presente barato do que ter que esperar o papai noel chegar? Porque arrancar algo
imprescindível para uma criança? A sua infância. Atrevo-me a dizer que as crianças
de hoje são mini adultos, elas crescem mais rápido, se relacionam com mais
facilidade, e acabam entrando em um nível de independência extraordinário, escuto
muitas das vezes a frase que diz “educai as crianças e não será preciso punir os
adultos”. Será que saberemos impor limites a essa nova geração?
Impor limites nem sempre é uma forma de sufocar a liberdade, ao contrário disso.
Liberdade excessiva causa um grave dano a uma pessoa. Quando colocamos o limite,
significa que estamos delimitando “um certo alcance” a alguém, seja ele, na hora de
dormir, ou de comer, de brincar, estudar, ou qualquer outra coisa. Limite é o que nos
mantem em equilíbrio. Como uma criança saberia o que certo e errado se crescer sem
limites? Que especie de profissional, ou melhor, que espécie de ser humano ela seria?
Posso dizer que poderia classificá-lo como uma “praga social”.
Quando mantinha a ideia de ser padre na cabeça, lembro-me do que a minha mãe me
disse:
-Se é o que você quer corra atrás, mas pense bem se é isso que você quer.
No início era obvio que eu disse que era o que eu realmente queria, meus amigos me
chamavam de louco. Lembro-me que um professor se abismou quando disse que era
o que eu queria ser.
Mas a minha mãe nunca me impediu nas minhas escolhas. Eu cresci com limites,
sendo ameaçado caso viesse notas baixas, brincando quando tinha que brincar,
estudando o dobro caso ficasse de recuperação. E é o que o mundo precisa hoje.
Resgatar certas formas de pensar. Saber impor limites e demarcar a liberdade, se
sentir seguro e inseguro nas suas escolhas, e o mais importante, saber que vai acertar
no final. Mas por enquanto, seria um bom começo se deixar BRINCAR DE VIVER.