1) No século XVI, a área da Lagoa Rodrigo de Freitas era ocupada por índios Tamoios e possuía alguns engenhos de cana.
2) No século XVII, o governador Antônio de Salema ergueu o Engenho Del Rei após expulsar os índios com varíola, dando início ao povoamento da região.
3) Ao longo do século XVII, vários engenhos de cana e sesmarias foram estabelecidos na área, incluindo propriedades de Sebastião
1. Gávea" (São Conrado?). Até 1575 esses foram os únicos colonos lusitanos proprietários
por essas bandas.
Nesse ano de 1575 assume o governo da Capitania do Rio de Janeiro e parte sul
do Brasil o Governador Antônio de Salema, natural de Alcácer do Sal (152?-1586). Êsse
tal Salema era um jurista formado em Coimbra, e que odiava os índios. Antônio Salema,
em seu mandato de três anos (1575-1578) descobriu uma lei editada pela Metrópole
isentando de impostos por dez anos quem erguesse engenhos de cana de açúcar no
Brasil. Inclusive, desde 1573, já existia um pioneiro engenho de cana em Magé, erguido
pelo seu antecessor no governo, o Provedor da Fazenda Real Cristóvão de Barros.
Salema decidiu pura e simplesmente extinguir os índios tamoios das aldeias da
Lagoa para lá erguer seu engenho, que seria movido à água, muito abundante haja vista
os inúmeros córregos no local ("Macacos", "Rainha", "Iglésias", etc.). Mandou jogar no
mato adjacente à Lagoa diversas mudas de roupas de doentes de varíola. Os índios
pegaram as roupas, vestiram, pegaram varíola por contágio e morreram.
Foi a primeira guerra bacteriológica nas Américas... .
ENGENHO DEL REI
Uma vez livre dos índios, Salema deu início ao seu engenho. Pediu 3.000
cruzados de empréstimo ao Rei D. Sebastião de Portugal (1554-1578), enfurnou 2.500
cruzados e fez o engenho todo com 500 cruzados (detalhe: este empréstimo nunca foi
pago). Deu-lhe o nome de "Engenho D`El Rei", cuja sede principal ainda existe, mesmo
depois de muito alterada. É onde hoje funciona o "Centro de Recepção aos Visitantes
no Jardim Botânico", com acesso pela rua Jardim Botânico, no. 1008.
O "Engenho D`El Rei", haja vista os parcos recursos empregados, era uma
porcaria e não funcionava. Fato que foi denunciado em 1578, depois de seu governo
pelo Provedor da Fazenda Real Cristóvão de Barros (o tal fundador do engenho de
Magé). A sugestão do Provedor foi privatizar essa "estatal deficitária", decisão tomada
em 1584. Em 1598, o "Engenho D`El Rei" foi vendido ao Vereador que autorizou sua
alienação, Diogo de Amorim Soares, natural de São Vicente (1558?-1609?) o qual, a
única coisa que fez após comprá-lo foi mudar o nome do engenho para o de "Nossa
Senhora da Conceição da Lagoa", tendo igualmente erguido na mesma época uma
capela dedicada à "Nossa Senhora da Conceição", ermida essa que em 1809 foi
designada para sediar a "Freguesia de São João Batista da Lagoa", criada pelo Príncipe
D. João. Esse templete existiu até 1826. Hoje no lugar dela está o prédio da "Embrapa",
"Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias", na entrada secundária do Jardim
Botânico, pelo no. 1008.
Amorim Soares não era famoso por sua ética. Em 1599, Antônio Pacheco
Calheiros (1569?-1634), genro de André de Leão, casado com sua filha Inês, solicitou à
Câmara o aforamento de "todas as terras que houvessem da demarcação de Diogo de
Amorim até entestar com as de André de Leão, e quinhentas braças de comprido
correndo para a Gávea". O foro foi concedido em duas vidas, pagando Calheiros 100
réis por braça. Em 1603, Calheiros pede enfiteuse pelas mesmas quinhentas braças,
bem como toda a terra que houver do engenho de Amorim Soares até a "Costa Brava"
(Leblon), correndo até a Gávea(Vidigal). Pacheco pediu à Câmara confirmação de suas
posses e as de André de Leão, em 1611 e 1616. A confirmação foi concedida pela
Câmara. Parece que seu poderoso vizinho Diogo de Amorim estava derrubando suas
cercas. Que desejava ampliar seus domínios não há dúvidas, pois ainda em 27 de
novembro de 1608 Amorim aforou mais 300 braças de terras com vertentes para a
Tijuca, com foro de 600 réis.
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2. Durante algum tempo a Lagoa foi denominada de "Lagoa de Amorim Soares", por
causa de seu latifundiário mais famoso. Não era lá muito querido esse vereador, que por
causa de seus escândalos, foi expulso da cidade em junho de 1609. Não sem antes
vender seu engenho e terras para seu genro, Sebastião Fagundes Varela (1563-1639),
que se casara pouco antes com sua filha, Da. Maria de Amorim Soares (1589-1676).
Varela não se contentou só com essas terras, solicitou outras à "Câmara de
Vereadores" e, não satisfeito, foi comprando as dos vizinhos e, em alguns casos,
invadindo mesmo, derrubando cercas e agindo com alguma violência. Apesar dos
protestos da vizinhança, a Câmara se omitiu. Uma das proprietárias, Da. Felipa Gomes,
viúva de André de Leão, vendeu as terras a Martim Barbosa em 17 de dezembro de
1612. Compreendia quase toda a atual Marquês de São Vicente. Anos depois, em 1640,
Martim Barbosa aforou 200 braças dessas terras à Pantaleão de Oliveira.
Como já se disse, Varela vivia solicitando terras à Câmara. Expediu petições
neste sentido em 22 e 27 de junho de1609, onde pedia trespasse das terras do sogro e
aforamento por 9 anos de terras desde o Pão de Açúcar até a "praia brava" (Leblon),
com 400 braças para o sertão. Em 23 de setembro de 1611 e 19 de julho de 1617
solicitava mais terras para aumento de seus pastos. Em 1620 ele já era dono de toda a
área que ia do atual bairro do Humaitá ao Leblon, inclusive toda a Lagoa, que nesses
tempos passou a ser denominada de "Lagoa de Fagundes Varela" ("Sic Transit Glória
Mundi"). Só para se ter uma idéia da extensão de suas terras, elas abrangiam 1.700
braças de testada e 4.500.000 braças de área, incluindo a Lagoa. Ele usava a praia de
Copacabana (à época "Praia de Sacopenapan"), obtida por doação da Câmara em
1619, para pasto de seu gado, que ruminava entre cajueiros, pitangueiras e ananases.
Em 1609 Varela finalmente ganhou um vizinho que não conseguia intimidar.
Nada menos que Martim de Sá (1575-1632), Governador do Rio de Janeiro (1602/08 e
1623/32) e então filho do ex-Governador Salvador Corrêa de Sá, nascido em Barcelos
(1542-1631). Martim nesse ano de 1609 obteve trespasso de uma sesmaria obtida em
1606 por Afonso Fernandes e Domingas Mendes. O "Conselho da Cidade" havia
aforado essa terra ao casal três anos antes, com foro de 1000 réis, correspondendo a
"300 braças começadas a medir do Pão de Açúcar ao longo do mar salgado para a
Praia de João de Souza (Botafogo) e para o sertão, costa brava e tudo que houvesse".
Em 1609, Da. Domingas, já viúva, trespassou-lhe o aforamento.
CAPELA DE NOSSA SENHORA DAS CABEÇAS - RUA FARO
Onde hoje está a rua Faro, Martim ergueu um aqueduto em alvenaria, cujas
ruínas ainda existem no fundo de alguns terrenos. Lá também se ergue a "Capela de
Nossa Senhora das Cabeças", o qual muitos asseveram ser obra dos primórdios do
século XVII. Pretendia Martim de Sá alí fundar engenho de cana, o "Engenho de Nossa
Senhora das Cabeças", mas parece que algum tempo depois desinteressou-se por ele e
o vendeu à Varela.
No século XIX a capelinha estava na imensa "Chácara de N. Sra. da Cabeça".
Pertenceu por muitos anos à família Tosta, dos "Barões de Muritiba", sendo vendida
depois de 1860 ao Dr. Luís Pereira Ferreira de Faro, neto do 1o. Barão do Rio Bonito,
Joaquim José Pereira de Faro, Presidente da Província do Rio de Janeiro e grande
cafeicultor (1768-1843), filho do 2o. Visconde com Grandeza do Rio Bonito, João
Pereira Darrigue Faro (1803-1856), e irmão do 3o. Barão do Rio Bonito, José Pereira de
Faro (1832-1899) e sobrinho do Comendador Antônio Martins Lage, do qual depois se
falará. Loteada a chácara e nela aberta a rua Faro em 1870, ficou a dita capela nos
terrenos da "Casa Maternal Mello Mattos", fundada no final do século XIX por este
célebre Juiz de Menores, casado com Da. Francisca "Chiquita" Mattos, que por muitos
50
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3. anos dirigiu a instituição e preservou com carinho a velha capelinha, hoje tombada pelo
“IPHAN” como a relíquia mais vetusta do bairro. Perto dela, em frente ao no. 51, existe
hoje enorme figueira bicentenária, tombada pela municipalidade em 1980.
Outros engenhos surgiram na Lagoa. Baltazar de Seixas Rabelo, Juiz Ordinário
da Câmara, Provedor da Misericórdia, Capitão Mór de São Vicente (1560-1637), aforou
200 braças de terras com um riacho em 1598, entre Felipa Gomes e Diogo de Amorim
Soares. Ali abriu seu engenho de cana e rapadura.
Por essa época, João Martins Monteiro, pedreiro, traspassou 250 braças de
terras na Lagoa para Sebastião Antunes. Essas terras foram antes de Manoel Pinto,
ourives, e iam desde um riacho, onde se achava a divisa do engenho de Martim de Sá,
com 600 braças de fundo, ao longo do caminho que vem do engenho para a cidade.
Deve ser mais ou menos onde hoje se encontra o Parque Lage. Êsse Manoel Pinto, do
qual nada se sabe, obtivera essas terras antes de 1606 para nelas fazer um engenho.
ENGENHOS DA FONTE DA SAUDADE
Mestre Bernardo, arrendou por nove anos 100 braças de terras que estavam
devolutas, por carta de 19 de dezembro de 1612. Eram no fim da "praia da Lagoa", onde
vi veu Baltazar de Aze vedo, até junto ao morro da "Saudade", vindo da Lagoa para a
cidade. É onde hoje existe a região denominada "Fonte da Saudade". A "Fonte da
Saudade" era assim chamada porque no princípio do século XIX alí lava vam roupa
lavadeiras portuguesas, que cantavam fados relembrando com saudades a terra
distante.
Há referências diminutas a outros engenhos na Lagoa, todos de localização
imprecisa e escassas informações. Segundo Mello Moraes, possuíam também
engenhos na região: Martim Gonçalves, rico comerciante com casas na rua da
Alfândega; Pedro de Souza e Brito, Capitão de Infantaria (1584-16??), era filho de João
Pereira de Souza Botafogo (1540?-1590), dono do que é hoje o bairro de Botafogo; e
Pedro Fernandes de Mello. Todos os seus engenhos foram de efêmera duração.
Em 06 de maio de 1614, Francisco Gomes requereu aforamento de mais terras
ao "Conselho da Câmara" para ter mais largura que as que possuía Antônio de Almeida,
porquanto tinha feito casas, roças, canaviais e um engenho de cana. Parece que esse
Francisco Gomes devia alguma, pois os "Oficiais da Câmara" foram à sua fazenda e
botaram tudo abaixo, derrubando o engenho, com pena de seis cruzados de o levantar
de novo. Foi-lhe proibido de plantar cana e dado um prazo de um ano para se mudar.
A 24 de dezembro de 1616, Francisco Caldas, "Cavaleiro Fidalgo D`El Rei",
requereu ao "Conselho da Câmara" aumento de terreno para acréscimo do engenho de
açúcar que ele fundou nas terras da Lagoa. A Câmara deu o aforamento, mas tudo leva
a crer que o engenho não foi adiante e logo tornou-se mais uma extensão das terras de
Varela.
FONTE DA SAUDADE – RESUMO HISTÓRICO
No século XVI, a área em questão era parte da sesmaria de Antônio Francisco
Velho, Mordomo da Confraria de São Sebastião, e que recebeu a doação ainda em
1565 do Governador Estácio de Sá. Em 1590, as terras passaram, por compra, ao juiz
João Pereira de Souza Botafogo, que as manteve até 1605. Alienada a parte da lagoa
neste último ano, tentou-se ali erguer um engenho de cana, mas em 1620 os terrenos
caíram em mão de Sebastião Fagundes Varela, cuja família manteve a posse, através
de seus herdeiros, até a chegada da Côrte, em 1808.
A única construção notável erguida na região durante o período colonial foi feita
pelo Vice-Rei Luís de Vasconcellos, que mandou o engenheiro militar Jean Jacques
51
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4. Funck erguer em 1786 um forte no final da rua São Clemente, onde hoje está o CIEP de
Humaitá, com linhas amuralhadas por toda a Fonte da Saudade, em áreas onde em
época recente se abriu a rua Bogari. O que restava do dito forte foi demolido em 1983
para a construção do preclarado CIEP de Humaitá.
Aí por volta de 1808, quando as terras foram alienadas, surgiram as primeiras
referências à existência de uma fonte de água potável, onde lavadeiras portuguesas
lavavam as roupas dos nobres de Botafogo (fonte desenhada por Maria Graham, em
1823). Elas cantavam fados de saudade à terra distante, surgindo daí a poética
denominação de “Fonte da Saudade” (isso consta em A. J. Mello Moraes, “Crônica
Geral e Minuciosa do Império do Brasil”, Rio, 1879), a nomenclatura foi depois aplicada
ao morro e praia lindeira (desenho de Thomas Ender, de 1817). Essa fonte ainda
sobrevive, com outra arquitetura, no pátio ajardinado fronteiro do prédio no. 111 da rua
Fonte da Saudade.
As condições de péssima salubridade da lagoa, com freqüentes mortandades de
peixes e falta total de saneamento, impediu qualquer ocupação de porte no local. Em
volta da lagoa, surgiram em fins do Império quatro fábricas de tecidos: uma, o
Cotonifício São Félix, na rua Marquês de São Vicente; a segunda, a Fábrica de Tecidos
Corcovado, onde aproximadamente hoje se ergue o Hospital da Lagoa; a terceira, a
Fábrica Carioca, na rua Pacheco Leão, e a quarta, uma pequena fábrica no Humaitá.
Esta ocupação fabril gerou a existência de vilas operárias, casas de cômodos e
pensões, algumas ainda existentes nos bairros de Botafogo, Jardim Botânico e Gávea.
No primeiro recenseamento predial realizado na rua da “Praia da Saudade” (não
confundir com o logradouro de idêntico nome, na Urca, onde hoje existe o Iate Clube do
Rio de Janeiro) em 1879 por J. Cruvello Cavalcanti, constatou a existência de apenas
sete casas térreas, um telheiro e duas ruínas.
Decidido a reverter essa situação e conquistar essa importante área para a
burguesia crescente da cidade, o Prefeito Carlos Sampaio mandou realizar importantes
obras de saneamento na Lagoa Rodrigo de Freitas entre os anos de 1920/22, trabalho o
qual foi encarregado o escritório técnico do competente engenheiro Saturnino de Britto,
que realizou extensas obras de aterro das margens da Lagoa, canalização de rios,
dentre outras. Na área da Fonte da Saudade, fez-se grande aterro de pântanos, o qual
resultou toda a área que vai do lado par da rua Fonte da Saudade (até então somente
existia o lado ímpar. O lado par era a praia) até a av. Epitácio Pessoa, concluída nessa
época. A rua Fonte da saudade possuía, segundo o recenseamento geral de 1920, 87
casas térreas (no lado ímpar), todas residenciais e ocupadas, dois sobrados, sendo um
uma pensão e o outro uma casa-de-cômodos. Existia igualmente, como único comércio,
uma padaria.
Como resultado dessas importantes obras, começou a ocupação da região por
construções de melhor porte, bem como o surgimento das primeiras ruas transversais à
rua Fonte da Saudade. Em 1928, surgiam as ruas Cássias e Madressilva, hoje,
respectivamente ruas Carvalho Aze vedo e Resedá.
Em 1935, é fundada a empresa loteadora DARKE S/A, criada pelo Sr. Jorge
Bhering de Oliveira Mattos e outros, com o fito de lotear dois grandes terrenos onde os
Srs. Jorge e seu finado irmão Darke haviam erguido em 1928/29 dois imensos
palacetes. Foi então elaborado um plano de arruamento e loteamento em duas folhas
de papel ozalid, pelo Consultório Técnico do engenheiro Washington de Aze vedo,
aprovado em 29 de maio de 1935 pelo Prefeito Pedro Ernesto Batista, e que tomou o
número 2396. Desse loteamento resultou a abertura das ruas “A”, hoje Ferreira de
Resende; “B”, hoje ruas Almirante Guilhobel e Vitória Régia; “C”, hoje rua Almeida
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5. Godinho; “D”, hoje Negreiros Lobato e “I”, hoje rua Sacopã. Não foram aprovadas as
ruas “E”, “F”, “G” e “H”.
Em 1938 Da. Maria Augusta Nunes Fleury decidiu lotear sua chácara, surgindo
assim, com o novo projeto de arruamento, aprovado pelo Prefeito Henrique Dodsworth,
a rua Baronesa de Poconé.
Finalmente, nos terrenos da antiga Fábrica David de papéis pintados, de
propriedade de David e Cia., foi aberta em 1940, com o arruamento aprovado pelo
mesmo Prefeito Dodsworth, a rua Alfredo Barcelos, hoje Ildefonso Simões Lopes.
Com o acentuado crescimento populacional da Lagoa, foi criada em 1936 a
Paróquia de Santa Margarida Maria, cuja bela igreja foi projetada anos depois por
Fernando I. Lemos, arquiteto. Foi concluída em 1958 e é ainda o cartão de visitas do
bairro.
A ocupação desordenada da lagoa por prédios de alto gabarito e a abertura do
Túnel Rebouças em 1965 transformaram a Fonte da Saudade em bairro de passagem,
tendo sido demolidas nessa última data a maioria das casas originais da av. Epitácio
Pessoa e rua Fonte da Saudade, com visível queda de qualidade de vida.
A luta pela preservação dos poucos remanescentes da ocupação original da
Fonte da Saudade, impõe-se desde já e é plenamente justificada por consenso popular,
mobilizando a população e associações de bairro. Tanto isso é verdade que a própria
Prefeitura já tombou, em tempos idos, o Espelho da Lagoa Rodrigo de Freitas (em
1988), o Monumento a Quintino Bocayúva, inaugurado em 1944 na Praça Álcio Souto,
antiga Praça da Piaçava; a Obra do Berço, a primeira construção de porte do arquiteto
Oscar Niemeyer, erguida em 1937; e, mais recentemente, tombou, a nível provisório, a
obra da Pequena Cruzada, construída em 1947 por Raul Penna Firme.
PALACETE TAVARES – RUA ALMIRANTE GUILHOBEL, 5 – LAGOA
O bairro da Fonte da Saudade, onde se insere a rua Almirante Guilhobel, foi
criado a partir do Projeto de Alinhamento no. 2396, de 29 de maio de 1935, aprovado
pelo Prefeito Pedro Ernesto. O projeto foi elaborado em duas folhas de papel Ozalid
pelo Consultório Técnico Washington de Azevedo para a Empresa Darke S/A,
proprietária do terreno em questão. O Decreto 5699, de 24 de janeiro de 1936, assinado
pelo próprio Pedro Ernesto, reconheceu as ruas e a denominação.
Segundo José Teixeira Júnior, Diretor Financeiro da Darke S/A e único
funcionário ainda vivo desta empresa, neste mesmo ano o Sr. Jacy Ta vares adquiriu os
lotes 1, 3 e 5 da mesma rua, em posição privilegiada, com fachada confrontante tanto
para a rua Almirante Guilhobel quanto para a rua Fonte da Saudade. O Sr. Jacy Ta vares
era comerciante, dono da Farmácia Jesus, na rua do Catete, com alto prestígio no
mercado, chegando a fornecer por vezes, medicamentos ao Palácio do Catete. Em 1936
foi erguida esta sua residência apalacetada, em estilo eclético, com inspiração na idade
média italiana. Nela residiu por mais de 40 anos, quando então foi alugada para sediar
uma clínica, atividade que manteve por mais de dez anos. Sofreu então algumas
reformas que não a desfiguraram. Presentemente, encontra-se desocupada.
A casa ainda possui rica serralheria em estilo medieval, em ferro batido e fundido,
com brasões heráldicos e raros motivos zoomorfos de dragões. Dentre os detalhes de
serralheria mais interessantes, podemos ressaltar o gradil externo, ainda original e
intacto; as arandelas existentes no hall principal e superior, com motivos de dragões, o
guarda corpo das escadas, em motivos florais e os dois grandes lustres, feitos
especialmente para a casa. Os estuques que formam uma sanca em torno dos
ambientes nobres, em motivos fitomorfos acompanham o estilo da casa. O vão da
escada ainda possui rico vitral com cena de gênero, não assinada, mas contemporânea
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6. da construção da casa. Outros acabamentos em vitral, no banheiro e cômodos nobres
ainda estão intactos. As portas em marcenaria de estilo ainda estão nos vãos originais,
bem como a maioria das janelas antigas. A casa possui ainda dois pequenos chafarizes
com seus tanques, um externo, em azulejo e pedra, faltando a carranca em metal onde
jorrava água. O outro, no patamar da escada, em mármore branco e carranca de
bronze, está intacto. Os banheiros foram reformados em data posterior à construção,
mas manteve-se o ambiente estilo “anos” 40. A casa em geral está em bom estado de
conservação, necessitando de algumas obras de manutenção, poucas, haja vista a
excepcional qualidade dos materiais empregados. A garagem e a residência de
empregados, nos fundos, são obras recentes e improvisadas, destoando do resto da
construção.
UM CERTO CAPITÃO RODRIGO
O castigo de Varela veio literalmente "à cavalo". Em 1702 era herdeira legítima de
suas terras sua única bisneta, Da. Petronilha Fagundes (1671-1717), filha de Isabel
Fagundes (1639-167?) e de Manuel Telles Barreto (1634-1707). Isabel, por sua vez, era
filha de João Fagundes Paris (1605-1662) e de Da. Petronilha Fagundes (1614-1668),
esta filha mais velha de Varela. Sua bisneta era uma solteirona com cerca de 31 anos, o
que a fazia uma valetudinária naqueles tempos, onde a idade de casamento das
mulheres ia dos 12 aos 18 anos, sendo que o limite de vida das jovens mal chegava aos
40 anos. Nesse mesmo ano de 1702 chegou ao Rio de Janeiro um jovem "Capitão de
Cavalos" chamado Rodrigo de Freitas de Carvalho (1686-1748), natural de Suariba,
Freguesia de Sam Payo de Visella, Têrmo da Vila de Guimarães, Arcebispado de Braga,
e que aos 16 anos logo se casou com a Da. Petronilha (êle mudou seu nome após o
casamento para Rodrigo de Freitas Castro).
Foi o "golpe do baú" mais bem dado em terras do Brasil. A partir daquela época,
o engenho passou a chamar-se de "Rodrigo de Freitas", e idem quanto à Lagoa.
Rodrigo autodenominava-se "Senhor do Engenho de Nossa Senhora da Conceição da
Lagoa de Rodrigo de Freitas e da própria Lagoa", como pomposamente se titulava.
Em setembro de 1710 o engenho foi duramente saqueado pelas tropas invasoras
francesas chefiadas por Jean François Duclerc (16??-1711), corsário francês à serviço
do Rei Luís XIV (encontramos muita louça de Duclerc nas escavações arqueológicas
que realizamos na sede do engenho em 1991) e, após 1717, depois de viúvo, Rodrigo
de Freitas arrendou o engenho e casas a um particular e mudou-se para Portugal, onde
passou a viver das rendas de suas terras, indo morar em sua "Quinta" em Suariba, no
Alto Minho, onde morreu em 1748, aos 61 anos, viúvo e muito rico.
Herdou suas terras e casas seu filho João de Freitas Castro (1704-1779), casado
com Da. Leonor Maria de Mello Pereira Sampaio (1714-177?). Seu primogênito, Rodrigo
de Freitas Mello e Castro (1740-1803), morava em Guimarães, onde casou-se em 1770
com Da. Josefa Margarida Soares Tomásia Cardoso e Menezes (1750-18??). Foram
pais de Ayres de Freitas Mello e Castro (1771-1811), que morreu solteiro, e Da. Maria
Leonor de Freitas Mello e Castro (1773-183?), que sobreviveu ao irmão muitos anos.
CHINESES NA ORIGEM DO JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE J ANEIRO
O engenho de cana da Lagoa de Rodrigo de Freitas, fundado em 1575, decaiu
muito durante o século XVIII, só produzindo rapadura e cachaça. Por Decreto Régio de
13 de junho de 1808, suas terras, que abrangiam os atuais bairros de Copacabana,
Ipanema, Leblon, Gávea, Jardim Botânico e Lagoa, foram desapropriadas pelo Príncipe
D. João. Recém chegado com sua Côrte ao Brasil, tencionava nelas instalar uma fábrica
de pólvora. D. João visitou a primeira vez o local em janeiro de 1809, chegando numa
54
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7. canoa pela Lagoa, condução apanhada no Morro da Saudade, pois o Príncipe tinha
muito medo de ir por terra, temendo que uma pedra próxima ao caminho, uma tal de
Pedra Santa, lhe caísse pela cabeça (essa pedra foi removida em 1837). Ao chegar ao
engenho, foi D. João mal recebido pelo feitor do arrendatário do engenho, o qual fez
com que os escravos da casa virassem de costas e abaixassem suas calças quando da
passagem do Príncipe.
D. João ficou furioso e, por ordem escrita ao Ministro da Guerra, Dom Rodrigo de
Souza Coutinho, Conde de Linhares, mandou prender o feitor e os escravos pelo
"inaudito atentado" e fazê-los perder todas as graças e mercês régias. Procedeu-se a
avaliação da propriedade e a indenização de todas as terras, cujos valores foram
arbitrados por muito abaixo do real. Julgado a adjudicação por sentença de 30 de
janeiro de 1810, foi paga a pequena indenização. Após a desapropriação, a família
Freitas entrou na justiça para lutar por seus direitos, nada conseguindo. Basta dizer que
a indenização só foi paga em 1826, por D. Pedro I, à herdeira de Rodrigo de Freitas, Da.
Maria Leonor de Freitas Mello e Castro, filha do titular. Ela recebeu, finalmente, a
indenização no valor de R$: 42:193$430 contos de réis. Após todos esses trâmites, as
terras foram incorporadas aos próprios nacionais com as formalidades da lei de 28 de
setembro de 1835. Os terrenos pertencentes ao Engenho da Lagoa pagavam de foro ao
Senado da Câmara 6$400 réis. O pagamento continuou a ser feito à Ilustríssima
Câmara Municipal até 1869.
Apesar do episódio do feitor, D. João enamorou-se pelo local, mandando ali
erguer uma casa avarandada para sua estadia pessoal, construção esta não mais
existente. Lá passava longas temporadas. Em julho de 1809 mandou plantar uma
palmeira nas cercanias do engenho, cuja semente chegou às suas mãos por meios
rocambolescos.
O Chefe de Divisão português Luís de Abreu Vieira e Silva caíra prisioneiro dos
franceses após o naufrágio de seu navio Princesa do Brasil, perto de Goa, na Índia, em
1808. Levado para Ilha Maurícia, no arquipélago de Madagascar, foi libertado algum
tempo depois, junto com outros duzentos prisioneiros lusitanos após a dita ilha cair em
mãos dos ingleses, aliados dos portugueses. Luís viajou então para o Brasil, não sem
antes aproveitar e roubar sementes de moscadeiro, canforeira, abacate, lechia,
mangueira, cravo da índia, palmeira, noz moscada e outras especiarias (num total de 20
caixotes de sementes) do Jardim Gabrielle, o maior jardim botânico de Madagascar.
Luís de Abreu retornou a bordo do veleiro La Ville d`Autun. Ao chegar ao Rio de Janeiro,
ofertou tais dádivas em junho de 1809 à D. João, o qual aceitou as ditas sementes com
muito grado, e iniciou o plantio pela palmeira no mês seguinte. Depois de crescida, ficou
conhecida pelo apelido de Palma Máter (Palmeira-mãe), haja vista que foi a primeira
Palmeira Real (Palmácea Oleodora Olerácea) do futuro Jardim Botânico do Rio de
Janeiro.
Em 1909, o Diretor do Jardim Botânico João Barbosa Rodrigues, mandou erguer
um busto em bronze de D. João VI, esculpido por Rodolfo Bernardelli, defronte ao
vegetal. O Dr. Guilherme Guinle doou em 1934 o belo gradil que a cerca. A Palma Máter
sobreviveu a tudo e a todos, sendo morta por um raio em outubro de 1972, e abatida
finalmente em janeiro de 1973 para não cair. Na ocasião, a árvore já atingia altura de 35
metros. Em seu lugar o Diretor Dr. Leonan de Azeredo Penna mandou plantar em 1973
uma Palma Filia, que já atingiu presentemente considerável altura.
Além do plantio oriundo das aventuras de Luís de Abreu, D. João mandou vir de
Caiena mais sementes de especiarias e plantas medicinais, e do Ceará a planta
indígena chamada Carnaúba, em 1810.
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8. A Administração da Fábrica de Pólvora da Lagoa foi entregue ao Marechal Carlos
Antônio Galani Napione, nascido em Turim (1758-1814), sendo sua Direção entregue ao
esperto Luís de Abreu Vieira e Silva. Foi esse homem que sugeriu a D. João o
aproveitamento dos terrenos devolutos para ali instalar um Horto Botânico, com o fito de
implementar espécimes vegetais estrangeiros na agricultura brasileira. O Ministro Conde
de Linhares, solicitou então ao Senador de Macau Rafael Botado e Almeida que
mandasse vir agricultores chineses, bem como sementes de chá, noz moscada e fruta
pão, além de outras especiarias para plantarem aqui. Com a chegada de 300 chineses
em princípios de 1811, foi emitido o Alvará Régio no. 5, datado de 11 de março de 1811,
pelo qual D. João mandou criar e instalar o Real Horto Botânico da Lagoa, origem do
Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
As coisas não deram muito certo no início. O Conde de Linhares, principal
animador do projeto, morreu de uma bengalada dada por D. João, durante uma
admoestação, em 1811. Seu sucessor, Antônio de Araújo e Aze vedo, Conde da Barca
(falecido em 1817), não se interessou muito pelo projeto.
Por outro lado, em vez dos portugueses mandarem vir agricultores especializados
da China, vieram, sim, todos os bandidos das prisões de Macau. Eles não plantavam
quase nada, vendiam as mudas e sementes como camelôs pelas ruas da cidade e, com
o dinheiro arrecadado, compravam ópio nas boticas, o qual fumavam no rancho onde
dormiam no Alto da Boa Vista. Os portugueses não entendiam porque esses chineses
ficavam horas e horas a fio sentados ao chão, lá no Alto da Boa Vista, com aquele
cachimbo enorme na boca, olhando para a paisagem. Pensavam que eles ficavam ali
admirando a beleza do lugar e, por esse motivo, batizaram o rancho onde viviam como
Vista dos Chins, ou Vista Chinesa, nome que pegou e foi dado à primeira "boca-de-
fumo" do Rio de Janeiro (e que ainda o é...).
Em 1905/6, o Prefeito Pereira Passos, em lembrança a esses chineses, construiu
um quiosque de ferro fundido no local.
Uma tentativa de aproveitar esses chineses na Real Fazenda de Santa Cruz,
bem como no Arsenal Real de Marinha não logrou sucesso. Muitos se suicidaram de
saudades. Pior, não tinham mulheres. Um deles se casou com uma índia. Apesar de
todos os percalços, o plantio de chá prosperou, e em 1817 já atendia a demanda
nacional do produto. Em 1819, sementes e agricultores foram levados à São Paulo, pelo
engenheiro Varnhagen, e lá a planta prosperou bem. Entretanto, os ingleses não
gostaram nada da notícia do Brasil produzir seu próprio chá e intimaram D. João a
acabar com nossa produção.
O Rei obedeceu e assim terminou nossa experiência com o chá.
PRIMEIROS DIRETORES DO J ARDIM BOTÂNICO
Os primeiros diretores do Jardim Botânico foram políticos: Dr. João Gomes da
Silveira Mendonça, Visconde de Fanado e Marquês de Sabará (1781-1826), Brigadeiro;
Membro do Conselho de Estado (1822); Deputado por Minas Gerais (1823); Ministro da
Guerra (1823); Diretor da Fábrica de Pólvora da Estrela (1825); Senador por Minas
Gerais; possuía parcos conhecimentos de botânica, dirigindo o Jardim de 1811 a 1819.
Foi sucedido por Dr. João Severiano Maciel da Costa, Marquês de Queluz (1769-1833),
Magistrado; Deputado Constituinte (1823); Membro do Conselho de Estado (1823);
Ministro do Império (1823/24); Presidente da Província da Bahia (1825); Senador pela
Paraíba (1826); Ministro dos Estrangeiros (1826/27); dirigiu o Jardim de 1819 a 1824.
Ambos eram mineiros.
FREI LEANDRO DO SACRAMENTO
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9. Após a Independência, D. Pedro I nomeou o terceiro diretor e primeiro botânico
para ocupar o cargo, Frei Leandro do Sacramento (1779-1829), pernambucano, frade
carmelita e primo de Tiradentes (1746-1792); "Professor de Botânica na "Escola
Anatômica, Cirúrgica e Médica"; Membro das academias de ciências de Munique e
Londres; Membro da "Sociedade de Agricultura de Gand". Dirigiu o estabelecimento de
1824 a 29. Foi quem deu a configuração atual do Jardim Botânico. Frei Leandro mandou
abrir o lago que depois se chamou "Frei Leandro", onde estão as famosas Vitórias
Régias e Nenúfares, e com a terra retirada fez um morrote e mirante, a "Casa dos
Cedros", ambos ainda lá. Foi com Frei Leandro que o Jardim Botânico foi franqueado
pela primeira vez ao público, em 1824. Inicialmente a visita era muito restrita pela
proximidade da Fábrica de Pólvora, que de vez em quando teimava em explodir.
Faleceu Frei Leandro em plena atividade no seu Jardim Botânico. A jaqueira
onde descansava e fiscalizava as obras ainda hoje se ergue na proximidade da "Casa
dos Cedros" (e ainda dá jacas).
Outro que igualmente faleceu de comoção cerebral quando passeava no Jardim
Botânico foi o historiador Monsenhor José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo, autor
das "Memórias Históricas do Rio de Janeiro", morto em 14 de maio de 1830 após comer
uma carambola.
JOAQUIM SERPA BRANDÃO
O quarto diretor, Dr. Bernardo Joaquim de Serpa Brandão, que dirigiu de 1829 a
1851, plantou as duas primeiras aléias de Palmeiras Reais em 1842, as quais ambas
ainda sobrevivem praticamente intactas (chamam-se, respectivamente "Cândido
Baptista" e "Barbosa Rodrigues"). Inicialmente as sementes de "Palmeira Real" foram
colhidas pela primeira vez em 1822 e desde 1829 constituíam um monopólio do Estado.
Mandavam queimar as que não se usassem para o plantio no Jardim. Mas, naquela
época, os interessados subornavam os escravos que tratavam do plantio e logo todo
palacete particular passou a ostentar seu vigoroso renque de "Palmeiras Reais" nos
jardins... . A proibição caiu por terra no “Segundo Império”, após a administração de
Serpa Brandão. As aléias foram restauradas em 1951 pelo Diretor Paulo de Campos
Pôrto.
A "Fábrica de Pólvora da Lagoa" começou a funcionar por Decreto de 13 de maio
de 1813 e, desde o princípio, era muito insegura, e conta-se ter sofrido três grandes
explosões. Já a 23 de outubro de 1824 era formada uma comissão para escolha de um
novo local para a fábrica. Em 1826, quando era dirigida pelo Major Graduado Manuel
Joaquim Pardal, houve tal explosão que D. Pedro I preferiu transferi-la para a Serra da
Estrela, em Magé, onde ainda existe funcionando como "Fábrica de Pólvora da Estrela",
agora arrendada pelo exército brasileiro a particulares.
CONSELHEIRO CÂNDIDO BAPTISTA DE OLIVEIRA
Depois de transferida a fábrica, em suas abandonadas instalações, foi fundado
nelas uma fábrica de “Chapéus do Chile” pelo quinto diretor do Jardim Botânico,
Conselheiro Cândido Batista de Oliveira, natural do Rio Grande do Sul(1801-1865),
“Lente de Matemática da Escola Militar”; “Ministro da Fazenda e Estrangeiros”(1839);
Senador pelo Ceará(1848); Concessionário de Linha de Bondes(1856-62); “Presidente
do Banco do Brasil”(1859-62); dirigiu o Jardim Botânico de 1851 a 59. Esse tal de
"Chapéu do Chile" eram uns chapéus finos, que se podiam dobrar e colocar no bolso, e
que usava como matéria prima as folhas de palmeira "Bombonassa", do Peru. Não
funcionou por muito tempo. Inaugurada em 1855, fechou em 1859.
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10. Hoje, no prédio principal da velha "Fábrica de Pólvora", está o museu
arqueológico "Casa dos Pilões", criado pelo "SPHAN" em 1996, instalado na
administração Sérgio Bruni, e contendo maquete das antigas máquinas, bem como
cacos de antigas louças encontradas nas escavações, cachimbos de escravos, etc. O
depósito da pólvora com seu belo portal colonial hoje abriga um play ground ecológico e
a seção do Jardim Botânico que pesquisa o plantio e o poder curativo de ervas
medicinais.
ADMINISTRAÇÃO DO JARDIM BOTÂNICO
Se D. João VI apreciava seu Jardim Botânico, a ponto de ampliá-lo de muito, por
Decreto Régio datado de 11 de maio de 1819, que também regularizava seu
funcionamento; D. Pedro I(1798-1834); Da. Leopoldina(que estudava botânica), sua
esposa(1797-1826); e D. Pedro II(1825-1891) muito freqüentaram-no, sendo que o
último fazia concorridos piqueniques lá com as irmãs Francisca e Januária, onde usava
para seus convescotes uma mesa de cimento que ainda existe atrás da "Casa dos
Cedros".
O Jardim foi inicialmente uma dependência do "Museu Real", fundado em 1818
por D. João VI no Campo de Santana. Ambos pertenciam administrativamente ao
"Ministério de Estado e Negócios do Reino", quando era seu titular Tomás Antônio de
Vilanova Portugal(1745-1839), que era também encarregado da "Presidência do Real
Erário"(1817-1821). O Decreto de 22 de fevereiro de 1822 sujeitou o Jardim à
"Secretaria de Estado dos Negócios de Interior" e, depois da Independência, ao
"Ministério do Império". Em 1860, com a criação do "Ministério da Agricultura e Obras
Públicas", foi para lá sua administração. Em 1861 o Jardim Botânico foi anexado ao
"Imperial Instituto Fluminense de Agricultura", fundado ano anterior, onde ficou até sua
desanexação, já na República, por Portaria do Ministro da Agricultura, General
Francisco Glicério, assinada a 25 de março de 1890.
Essa anexação foi feita não sem protestos do então diretor, o Frade Carmelita
Frei Custódio Alves Serrão, nascido em Alcântara(1799-1873), e que administrou de
1859 a 1861. Ele pediu e obteve sua exoneração. Por sua vez, o "Instituto Fluminense"
substituiu o trabalho escravo no Jardim Botânico por aprendizes livres, geralmente
crianças carentes recuperadas pela escola do Instituto. Parte da mão de obra e do
trabalho especializado era ocupado por aprendizes egressos de orfanatos da “Santa
Casa de Misericórdia”.
Entretanto, uma das conseqüências negativas dessas mudanças administrativas
foi a diminuição dos trabalhos de pesquisa, transformando-se o Jardim Botânico em
área de piqueniques e festas, assim permanecendo durante todo o "Segundo Império".
Segundo relatos de 1865, estava o Jardim Botânico muito mal cuidado.
Em 1869, o "Governo Imperial" comprou por escritura de 18 de dezembro de
1869, por 50 apólices à "Ilustríssima Câmara Municipal" o domínio direto de todas as
terras do Jardim Botânico, deixando assim de pagar os foros tal como se fazia desde o
século XVI.
O JARDIM BOTÂNICO NA REPÚBLICA
Somente em 1890 foram as pesquisas retomadas pelo Diretor Barbosa
Rodrigues, que proibiu os piqueniques e deu um caráter de centro de estudos à
instituição. Para se ter uma idéia do que se haviam transformado seus jardins, basta
dizer que um cronista de época informa que, das 5 da manhã às 7 da noite, o Jardim
Botânico assemelhava-se à um "saguão de hotel", haja vista as inúmeras famílias que
para lá se deslocavam a fazer piqueniques.
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11. Pelo Decreto no. 1142, assinado pelo Marechal Floriano Peixoto em 22 de
novembro de 1892, os serviços do "Ministério da Agricultura" foram transferidos para o
"Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas". O Decreto no. 1606, assinado pelo
Presidente Afonso pena em 29 de dezembro de 1906, recriou o "Ministério da
Agricultura, Indústria e Comércio", para lá sendo transferido o Jardim Botânico. Depois
de muitas peripécias, foi o Jardim, já nos idos de 1961, subordinado ao Parque Nacional
da Tijuca e ao "Instituto Brasileiro de Defesa Florestal". Em 1989, o "IBDF" foi
substituído pelo "IBAMA", sendo este subordinado à uma Secretaria de Govêrno. No
ano de 1992, sob impacto da "Conferência Internacional de Meio Ambiente", realizada
no Rio de Janeiro, foi criado o "Ministério do Meio Ambiente", ao qual o "IBAMA" e o
Jardim Botânico do Rio de Janeiro foram anexados.
TRANSPORTES COLETIVOS NA ZONA SUL
Os primeiros transportes coletivos para a zona sul logo vislumbraram aos homens
empreendedores a possibilidade de transportar pessoas de outros arrabaldes para o
Jardim Botânico e vice-versa, haja vista a potencialidade de lazer que o jardim oferecia,
tão rara no Rio de então.
Ainda no ano de 1837, foi dada concessão ao francês Jean Lecoq para fazer
funcionar no Rio de Janeiro uma “Companhia de Omnibus” puxados à cavalos, com
capacidade de transportar 20 a 24 passageiros. O tráfego foi inaugurado em julho de
1838 com quatro carros. Logo inaugurou-se uma linha para Botafogo em janeiro de
1839. Em 1847 alugavam-se “omnibus” extraordinários para o Jardim Botânico e outros
arrabaldes. Em 1868, com o sucesso do bonde, extinguem-se todas as linhas do centro,
só sobrevivendo uma linha da Praia de Botafogo ao “Largo das Três Vendas”, hoje
Praça Santos Dumont. Em 1882 a “Companhia de Omnibus” era vendida à “Botanical
Garden Rail Road Company”.
No ano de 1838 foi fundada a “Companhia das Gôndolas Fluminenses”, que era,
em verdade, uma carrimpana fechada com nove lugares, menor que o “omnibus”, porém
mais rápida. Em 1865 foi criada uma linha de “Gôndolas que passava pela Praia de
Botafogo, Rua São Clemente, “Rua Berquó”, atual General Polidoro, e Jardim botânico.
Essa linha manteve-se até a década de 1870, quando acabou pela concorrência com os
bondes da “Jardim Botânico”.
Uma grande linha de “diligências” foi criada em 1854, ligando o centro comercial
ao Jardim Botânico. Era a “Companhia Sociedade Lagoense”, criada pelos diretores
Antônio de Pádua e Silva e José Maria Targine.
BONDES PARA A ZONA SUL
Ainda em 12 de março de 1856, o Diretor do Jardim Botânico, Conselheiro
Cândido Baptista de Oliveira e seu filho Luiz Plínio de Oliveira, obtiveram do “Governo
Imperial” a primeira concessão de uma linha de carris puxados à burro no Rio de Janeiro
pelo decreto no. 1733. Essa linha passaria defronte de seu Jardim Botânico,
aumentando a freqüência. Entretanto, nomeado Diretor do Banco do Brasil em 1859,
Cândido repassou essa concessão por quarenta contos de réis pelo decreto no. 2927,
de 21 de maio de 1862 ao seu amigo Ireneu Evangelista de Souza, Barão e depois
Visconde de Mauá(1813-1889) e este, por cem contos de réis pelo decreto no. 3738, de
21 de novembro de 1866 ao engenheiro americano Charles B. Greenough(1825-1880).
Conseguindo apoio financeiro nos Estados Unidos, rodava já em 09 de outubro
de 1868 a linha de bondes da "Cia. Botanical Garden Rail Road", fundada pelo tal
engenheiro Greenough que inaugurou seus serviços de transportes coletivos para a
Zona Sul, indo a primeira linha da rua Gonçalves Dias, no Centro, até o Largo do
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12. Machado. Logo foi extendida até a rua “Nova de São Joaquim” (Voluntários da Pátria),
em Botafogo e, em 1o. de janeiro de 1871, passou a circular pela rua Jardim Botânico,
com ponto na porta do Jardim, aumentando de muito a freqüência à instituição e a
popularização do Bairro, já chamado assim(em 1o. de abril de 1873, o bonde chegaria
até a “Olaria”, na rua Marquês de São Vicente).
A rua Jardim Botânico foi retificada, sendo um trecho tortuoso dela cortado por
um atalho. Esse trecho ficou conhecido como "Estrada Velha do Jardim". Foi depois a
rua Frei Leandro, em 1922 incorporada ao "Jocquei Clube". A atual rua Frei Leandro
resulta de um loteamento feito em 1921/22.
Em frente ao portão principal do Jardim Botânico foi construída uma estação de
bondes em 1874 para conforto dos visitantes. O portão original do Jardim Botânico foi
projetado em 1848 pelo arquiteto da "Missão Artística Francesa" e professor da
"Academia Imperial de Belas Artes", Auguste Henry Victor Grandjean de Montigny(1776-
1850), que morava na Gávea, em chácara ainda existente dentro do Campus da PUC.
Mas o artístico portão foi demolido no século XX, substituído pelo atual em 1908. Para
se fazer o novo portão, foi necessário que o Diretor Barbosa Rodrigues ordenasse o
abate de uma árvore "Carrapateiro", ou "Itó", que contava mais de duzentos anos.
Seria tal o crescimento populacional ocasionado pelo bonde, que por Decreto
Legislativo no. 2297, de 18 de junho de 1873, foi criada a "Freguesia da Gávea",
separando-a da "Lagoa", que datava ainda de 13 de maio de 1809, com sede na Capela
de N. Sra. da Conceição, erguida em 1852/56 pelo Capitão Manuel dos Anjos Vitorino
do Amaral no princípio da rua "da Boa Vista da Lagoa", atual Marquês de São Vicente.
Foi seu primeiro Vigário Monsenhor Francisco Martins do Monte (183?-1909), e que era
também Vigário da "Freguesia da Lagoa" e modesto acionista da "Botanical Garden Rail
Road Company".
Quanto à companhia de bondes, seria nacionalizada em 1883, quando passou a
ter razão social de "Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico" e continuou a prestar
bons serviços por muitos anos ao Rio de Janeiro. Em 1909 foi parcialmente arrendada
por contrato à "Light", empresa fundada dois anos antes por um grupo canadense e que
ficou responsável pelo fornecimento de energia elétrica à cidade. Entretanto, continuou
a companhia de bondes funcionando independentemente até 1946, quando foi
definitivamente incorporada à "Light". Depois de 1950 desinteressou-se a companhia
canadense pelos bondes, cujo serviço foi decaindo até sua extinção definitiva em 1963
pelo Governador Carlos Lacerda.
Em 1890 surgiu o projeto mais curioso, proposto pela "Companhia
Melhoramentos da Lagoa Rodrigo de Freitas e Botafogo", que projetava, dentre outros
melhoramentos, uma "Estrada de Ferro Elevada", partindo da Lagoa e terminando na
rua Primeiro de Março. No Leblon seria erguido um cemitério, proposto por André
Rebouças, idéia logo enterrada. Anos depois, nas terras do comerciante português José
Guimarães Seixas, próximo ao Morro dos Dois Irmãos, foi proposto um prado de
corridas, idéia que não andou. A companhia foi encampada pelo Governo Federal em
1891.
OBRAS DE ARTE NO JARDIM BOTÂNICO
De 1890 a 1909 dirigiu o Jardim Botânico o cientista João Barbosa Rodrigues,
mineiro(1842-1909), que era também historiador e esteta, pois usou de sua influência
pessoal junto ao Govêrno da República para levar ao seu Jardim Botânico, várias
estátuas, monumentos e chafarizes que estavam abandonados pela prefeitura nas ruas
da cidade do Rio de Janeiro. Foi ele quem levou para a "Aléia Barbosa Rodrigues" o
velho chafariz francês em ferro fundido comprado por D. Pedro II e que desde 1878
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13. estava esquecido no "Largo da Lapa". Também levou para o Jardim as duas estátuas
em liga de bronze feitas por Mestre Valentim da Fonseca e Silva(1745-1813), que
haviam sido fundidas para o "Chafariz das Marrecas" em 1785. A "Ninfa Eco" e o
"Caçador Narciso", pois o dito artístico chafariz fôra demolido impiedosamente em 1896
para se ampliar um quartel na rua dos "Barbonos"(atual Evaristo da Veiga). Em época
recente(1992) o chafariz pôde ser reconstituído pelo arquiteto Glauco Campello, do
"IPHAN", junto à "Aléia de Paus Mulatos". No ano de 1938, recebeu o Jardim seu último
presente, o Pórtico Neoclássico em mármore e estuque da antiga "Academia Imperial de
Belas Artes", projetada por Grandjean de Montigny em 1816/26 na "Travessa das Belas
Artes", próxima ao "Largo do Rossio"(Praça Tiradentes) e burramente demolida em
1938, quando nela já funcionava desde 1908 o "Ministério da Fazenda". Foi colocado no
final da "Aléia Barbosa Rodrigues", pelo arquiteto do "IPHAN", Dr. José de Souza Reis.
Em 1922 sofreu o Jardim Botânico seu maior atentado. O Presidente da
República, Epitácio da Silva Pessôa(1919-1922), mandou desapropriar grande parte do
lado ímpar da rua Jardim Botânico, abrangendo parte dos terrenos onde continuava o
Jardim Botânico, que naquele trecho margeava a Lagoa. Lá ficavam as plantas da
Região Amazônica. Tudo resultou de uma consulta feita pelo Dr. Linneu de Paula
Machado ao engenheiro Eugênio Dodsworth, encarregado do atêrro das margens da
Lagoa, sobre a possibilidade de alí se instalar o prado de corridas do Jocquei Clube,
então ocupando terras no Maracanã. Dodsworth deu carta branca e Linneu usou de sua
influência e amizade junto aos Presidente e Prefeito, obtendo permuta com a Prefeitura,
que ficava com as terras do velho prado, levando Linneu o trecho mais nobre da Lagoa
como "troca". A destruição de parte do Jardim teve a justificativa oficial que as plantas
dalí atraíam muitos mosquitos, tornando a Gávea inabitável.
O terreno que foi permutado ao seu amigo particular, Dr. Linneu de Paula
Machado, Vice-Presidente do "Jocquei Clube do Rio de Janeiro"(1880-1942), e seu
Presidente depois de 1921. Foi onde se ergueu de 1919 a 1926 o conjunto monumental
do "Jocquei Clube", sob projeto dos arquitetos Prof. Archimedes Memória e Francisco
Cuchet, com supervisão do engenheiro Mário Aze vedo Ribeiro e apoio irrestrito do
Prefeito Carlos César de Oliveira Sampaio(1920-1922), que permitiu, inclusive, um
grande aterro na Lagoa com terras oriundas do arrazado "Morro do Castelo" e de obras
que realizara na cidade, matando os manguezais. Isso deu tal desgosto ao Diretor do
Jardim Botânico, Dr. Antônio Pacheco Leão, nascido no Rio(1872-1931, e que dirigiu o
Jardim de 1915 a 1931. Tal destruição marcou sua vida que, afirma sua família, acabou
matando-o de desgosto em 1931. Hoje a área do Jardim Botânico é de 117 hectares.
Eram originalmente 171!
Depois da vitória de Vargas em 1930, foi o Jardim Botânico tratado com melhor
respeito. Em 1934 foi nomeado o botânico Paulo de Campos Pôrto, neto de João
Barbosa Rodrigues, que em sua longa administração, conseguiu restituir de muito a
grandeza perdida, restaurando danos que já haviam ocorrido em muitos anos(1934 a
1938, e depois voltou a administrar de 1951 a 1961).
Vale aqui assinalar a curiosidade que em 1963, o paisagista Roberto Burle Marx,
conhecedor da história da mutilação do Jardim e visivelmente inspirado nos anseios de
Pacheco Leão e, doutro modo, impossibilitado de corrigir as amputações praticadas de
1922 em diante, projetou uma ilha à ser construída no centro da Lagoa, constituída de
ripado e cultivo para as espécies de plantas marginais lacustres e aquáticas da flora
brasileira, juntamente com instalações laboratoriais para estudo e controle da ictiologia.
SANEAMENTO DA LAGOA RODRIGO DE FREITAS
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14. Durante o século XIX, a ocupação do bairro restringia-se a poucas chácaras na
rua Jardim Botânico, outras tantas na Dona Castorina, ficando a população com a
preferência por Botafogo e Gávea. Nem a chegada do bonde interferiu nessa escolha
para moradia, haja vista que a Lagoa Rodrigo de Freitas era considerada insalubre.
Dominava a idéia de que a persistência da febre amarela no Rio de Janeiro estava
intimamente ligada às exalações miasmáticas. Dentro dessa perspectiva, sanear a
Lagoa Rodrigo de Freitas era obra prioritária. Mas os altos custos da empreitada e o
pouco estudo científico realizado para solucionar o problema das águas estagnadas da
Lagoa não justificavam o investimento em tão avultadas obras. Assim, nada foi feito
para melhorar as condições da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Data de 1880 o primeiro estudo realizado para saneamento da Lagoa, executado
pelo engenheiro Antônio Luís Von Honholtz, Barão com Grandeza de Teffé(1837-1921).
Propunha ele renovar a água da Lagoa por uma comporta e uma bateria de 40 bombas
acionadas por moinhos de vento. Seguiram-se vários projetos de engenheiros
contemporâneos, todos pecando pela falta de suporte científico para suas conclusões.
Uns propunham tornar a água da Lagoa doce, eliminando o canal de ligação com o
oceano, deixando para os rios adjacentes a tarefa de manter o nível do espelho d`água.
Outros pregavam o contrário, propondo o desvio dos rios para o oceano e a ampliação
do canal de ligação entre a Lagoa e o oceano.
Até 1893, a limpeza da Lagoa era feita de forma muito deficitária pela União.
Nesse ano, a municipalidade assumiu essa incumbência, mas em 1896, ela foi
repassada para a "Companhia de Melhoramentos da Lagoa e Botafogo", que continuou
os serviços de forma rudimentar por alguns anos.
Em 1920/1922, foi a orla da Lagoa saneada por ordem do Prefeito Carlos
Sampaio, tendo o engenheiro Francisco Saturnino de Brito, após criterioso estudo das
condições locais, canalizado os rios e retificado o canal da Lagoa com o oceano(hoje
Jardim de Alah), criando duas ilhas artificiais para regularização das correntes
("Piraquê" e "Caiçaras"), eliminando por muitos anos a mortandade de peixes e as
cheias que assolavam o bairro durante as grandes chuvas. Passou então a Lagoa a
possuir água salobra, já que antes era doce.
CIDADE J ARDIM CORCOVADO
Foi feito em 1921/22 o loteamento desses terrenos saneados, surgindo as ruas
que vão do Humaitá ao "Jócquei Clube". Como a idéia vingou, logo muitas dessas
antigas chácaras foram loteadas, surgindo pitorescos arruamentos. Em 1926, num
deles, o "Cidade Jardim Corcovado", resultou nas ruas Frei Veloso, Getúlio das Neves,
Professor Saldanha e Eurico Cruz. Como logo se venderam, o projetista J. O. Sabóia
Ribeiro traçou no mesmo ano de 1926 uma extensão pelas faldas do Corcovado, que
resultou nas ruas Engenheiro Alfredo Duarte, Ministro Arthur Ribeiro, Senador Lúcio
Bitencourt, Caio de Melo Franco, Ministro João Alberto, e Praça Luís Mignone. Alguns
lotes estavam em terrenos de tal inclinação que receberam críticas ferinas do
Engenheiro José de Oliveira Reis, Diretor do Plano da Cidade, para que não fossem
mais autorizados arruamentos em áreas como esta, em perigo potencial de
desbarrancamento.
AVENIDA EPITÁCIO PESSOA
Na ocasião foi completada a avenida que margeava a Lagoa, a qual inicialmente
denominou-se Epitácio Pessôa em toda a extensão. Nos anos 60, o trecho do Jócquei
foi batizado de Borges de Medeiros, em homenagem ao político gaúcho Antônio
Augusto Borges de Medeiros (1863-1961). Novos aterros nos anos 30, durante a
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15. administração do Prefeito Henrique Dodsworth (1937/1945) deram origem à "Vila
Hípica" e ao "Clube Militar".
Uma das curiosidades da Lagoa nessa época é que em idos de 1935, o arquiteto
Lúcio Costa chegou a sugerir ao Ministro da Educação Cultura e Saúde Pública, o
mineiro Gustavo Capanema, a construção da "Universidade do Brasil" na Lagoa Rodrigo
de Freitas, não nas margens, mas no próprio espelho d`agua, com prédios flutuantes!
Claro, tudo não passou de uma sugestão, logo esquecida...
EPITÁCIO DA SILVA PESSOA – DADOS BIOGRÁFICOS
Magistrado, jurista e político, nasceu em Umbuzeiro, Paraíba, em 1865.
Bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Recife. Foi promotor público e secretário
geral do Governo em seu Estado. Em 1890, elegeu-se deputado à Assembléia
Constituinte e à primeira legislatura ordinária da Câmara Federal. No Governo Campos
Sales, ocupou a Pasta da Justiça e Negócios Interiores, presidindo à elaboração dos
projetos do Código Cível e do Código do Ensino. Foi Ministro do Supremo Tribunal
Federal e procurador geral da República, presidente da comissão incumbida de preparar
o projeto de Código de Direito Internacional Público, senador pelo seu Estado natal e
chefe da delegação brasileira ao Congresso de Paz de Versalhes. Em 1919, sucedendo
a Delfim Moreira, elegeu-se presidente da República, e governou o país até 1922. A
partir de 1924, foi membro da Corte de Justiça Internacional de Haia. Nesse mesmo
ano, voltou a eleger-se senador pela Paraíba, exercendo o mandato até 1930. Cassado
pela Revolução, retirou-se à vida privada e passou a residir no Alto da Boa Vista,
alternando-se com sua casa em Petrópolis, onde, aliás, veio a falecer em 1942. Quando
Presidente da República, o Prefeito do Rio de Janeiro André Gustavo Paulo de Frontin
abriu a famosa avenida que circunda a Lagoa Rodrigo de Freitas, batizada em seu
nome.
UNIVERCIDADE – CAMPUS IPANEMA – AVENIDA EPITÁCIO PESSOA, 1.664 -
IPANEMA
Os alunos da Unidade Ipanema, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas,
usufruem da localização privilegiada em um dos pontos mais valorizados da Zona Sul do
Rio de Janeiro. Com três prédios, situados próximos ao centro do bairro, onde estão
localizadas livrarias, cinemas e teatros, a UniverCidade dá a seus alunos a vantagem de
passarem horas em uma das áreas de maior efervescência cultural da cidade do Rio de
Janeiro.
BAR LAGOA – AVENIDA EPITÁCIO PESSOA, 1.674 – LAGOA
Em 1934, o arquiteto e pintor Eugênio de Proença Sigaud, formado dois anos
antes pela Escola Nacional de Belas Artes; projetou e construiu um pequeno edifício
residencial com três pavimentos em estilo art-déco na orla da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Era à época, uma das primeiras habitações multifamiliares do bairro. No térreo,
projetado com esmerado acabamento em mármore de Carrara nas paredes para sediar
um estabelecimento comercial, se instalou no mesmo ano o Bar Berlim, fundado por
alemães, o primeiro do lugar. Antes dele, só existia uma padaria metida a bar, a
Sacopam, e mesmo assim próxima do Humaitá. O bar deu certo e passou a contar com
seleta freguesia que ali podia experimentar um bom chope, cerveja e a típica culinária
alemã.
Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, em 1942, o bar foi fechado,
sendo reaberto dois anos depois com o novo e imparcial nome de Bar Lagoa. Naquela
época, num mezzanino especialmente projetado para isso, dava espetáculos noturnos
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16. um quarteto de cordas. A contrário de muitos bares, a freguesia sempre foi familiar
devido à pequena e seleta vizinhança. Em 1957 os donos alemães fizeram sociedade
com um brasileiro, que é o atual dono. Nos anos 60 e 70 foi muito freqüentado pelos
ícones da Bossa Nova e do Tropicalismo, como Ton Jobim, Vinícius de Morais, Chico
Buarque de Hollanda, Miúcha, etc.
Mas nem a decoração art-déco, os lustres modernistas, a sacada interna
superior, nem o grande balcão no fundo do salão ou o mármore de Carrara nas
paredes, nada dessa estrutura física, tombada desde 9 de setembro de 1987 pela
Prefeitura, é mais importante que o patrimônio palatável do Bar Lagoa.
Entre todas as muitas qualidades do Lagoa, nada do que se diga ou escreva é
mais marcante do que o sabor de seu chopp, um dos melhores da cidade. Tirado com
maestria desde 1982 pelo competente Fernando, o chopp do Lagoa é uma instituição.
Sempre na temperatura certa, com espuma consistente e frescor incomparável, o chopp
jorra ao final de uma serpentina de quarenta metros, o que, de uma vez por todas, prova
que tamanho não é documento.
Nas mesas da aconchegante varanda ou do histórico salão, o chopp chega
trazido por garçons, alguns com quase 30 anos de serviço, cuja fama de rabugentos é
muitas vezes produto de um excesso de fregueses ávidos pelo precioso líquido.
VIADUTO AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT – CORTE DO CANTAGALO – LAGOA
Em 1938, o Prefeito Henrique Dodsworth mandou abrir uma via de comunicação
entre os bairros de Copacabana e Lagoa Rodrigo de Freitas pelo Morro do Cantagalo. A
obra, apelidada à época de Corte do Cantagalo e hoje de Avenida Henrique Dodsworth,
resolveu o problema de forma satisfatória. Entretanto, o crescimento dos bairros de
Copacabana e Lagoa levou ao surgimento de um ponto de estrangulamento de tráfego,
justamente no entroncamento das avenidas Henrique Dodsworth e Epitácio Pessoa.
Para resolver o problema, a Superintendência de Urbanização e Saneamento do Estado
da Guanabara (SURSAN), elaborou, em 1966, o projeto de um viaduto em concreto
protendido, criando um trevo rodoviário. Inaugurado em 1967 pelo Governador
Francisco Negrão de Lima, o viaduto com 94 metros, eliminou o cruzamento à saída do
Cantagalo, facilitou e deu fluidez ao tráfego em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas.
AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT – DADOS BIOGRÁFICOS
Editor, comerciante, industrial, jornalista e poeta, Augusto Frederico Schmidt
nasceu no Rio de Janeiro, a 18 de abril de 1906. Fez seus estudos primários na Suíça e
o secundário no Brasil. Trabalhou desde cedo no comércio e mais tarde, no decênio de
1930, fundou uma casa editora que se distinguiu pela qualidade das publicações. Como
editor, lançou os livros de estréia de alguns de nossos melhores escritores modernos,
como Lúcio Cardoso e Graciliano Ramos. A seguir dedicou-se também aos negócios,
em empresas mais vastas, tornando-se um homem importante na política e nas finanças
do país, em cujo desenvolvimento teve oportunidade de colaborar, sem nunca ter, no
entanto, abandonado a composição dos poemas que o tornaram um verdadeiro poeta e
um legítimo representante de uma das linhas permanentes da poesia brasileira.
Como poeta, foi acentuada a sua importância na segunda fase do Modernismo,
quando se voltou contra o pitoresco e o malabarismo, buscando uma poesia quase
direta, espontânea e espiritualista, de aparente simplicidade, que exerceu grande
influência no decênio de 1930 e parte do de 1940. Dele procede o verso livre amplo e
melodioso, com um toque bíblico, cheio de ressonância, marcado pela repetição quase
obsessiva, que assalta e domina a sensibilidade do leitor.
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17. Obras: Poesia: Canto do Brasileiro (1928); Canto do Liberto (1928); Navio
Perdido (1929); Pássaro Cego (1930); Desaparição da Amada (1931); Canto da Noite
(1934); Estrela Solitária (1940); Mar Desconhecido (1942); Poesias Escolhidas (1946);
Fonte Invisível (1949); Mensagem aos Poetas Novos (1950); Poesias Completas (1956);
Aurora Lívida (1958); Babilônia (1959). Prosa: Ensaio sobre Mauriac (1931); O Galo
Branco (1948); Paisagens e Seres (1950); Discurso aos Jovens Brasileiros (1956); As
Florestas (1958).
Schmidt foi representante do Brasil na Operação Pan-Americana e presidente do
Conselho dos 21, na Conferência de Bogotá. O poeta faleceu a 8 de fevereiro de 1965.
MONUMENTO A JOSÉ DE SAN MARTÍN – LAGOA
Monumento eqüestre de grandes proporções, representa o autor da
independência da Argentina, Chile e Peru sobre um cavalo empinado, e apontado para
oeste, direção tomada pelo “Libertador” após o início da marcha triunfal sobre os
espanhóis.
A estátua foi doada pelo Banco Municipal da Cidade de Buenos Aires. Obra dos
artistas argentinos Sarubbi Y Barili de Buenos Aires. Erguida no sítio definitivo em 1971,
pela Companhia Construtora Pederneiras, foi oficialmente inaugurada a 13 de março de
1972, com a presença do Governador do Estado da Guanabara, Chagas Freitas, bem
como representantes dos presidentes do Brasil e Argentina.
Mesmo sendo a Argentina uma antiga e tradicional inimiga política do Brasil, os
generais portenhos procuravam, com essa estátua, selar um acordo de respeito mútuo
entre os governos militares da Argentina (General Alejandro Lanusse) e Brasil (General
Emílio Médici). Entretanto, a eleição de Hector Cámpora no mesmo ano, seguida logo
depois pela chegada de Juan Perón ao poder na Casa Rosada, reacendeu a velha
inimizade, hoje mantida principalmente no futebol.
SAN MARTÍN – DADOS BIOGRÁFICOS
Militar e autor da Independência da Argentina. José de San Martín nasceu a 25
de fevereiro de 1778 em Yapeyu, povoado jesuítico, às margens do Rio Uruguay, na
atual Província de Corrientes. De família nobre espanhola, San Martín atendeu às
exigências de sua casta e, em plena adolescência, seguiu para a Espanha, sentando
praça no exército espanhol e incorporando-se ao Regimento de Múrcia. Ainda jovem,
combateu na África e, duas décadas após, trava sua última batalha em Alvuera, onde
espanhóis, ingleses e portugueses derrotam as forças francesas.
Abandonou então o exército espanhol, no posto de tenente-coronel, e rumou para
Buenos Aires, onde em, 1813, com sua experiência militar conquistada na cavalaria,
fundou o Corpo de Granaderos a Caballo. Quando eclodiu a luta pela independência
portenha, em maio, San Martín partiu com essa unidade do quartel de Retiro, em
Buenos Aires, e percorreu parte do continente em triunfo, vencendo em várias batalhas
os exércitos espanhóis, alcançando até Quito, capital do Equador. São os Granaderos a
Caballo que selaram o fim do jugo.
Compreendeu San Martín que, para vencer o domínio estrangeiro, seria preciso
formar um verdadeiro exército, nas províncias de Cuyo. Uma vez conseguido seu
intento, partiu, cruzando os Andes para socorrer o Chile, e prosseguindo, pelo mar, até o
Peru, onde faria desabar o último vice-reinado de Espanha na América.
Em 1824, após grave crise política, San Martin renunciou aos seus encargos e
exilou-se voluntariamente. Viajou, então, para a França, onde passou a residir, afastado
da vida militar.
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18. A 17 de agosto de 1850, em Boulogne-Sur-Mer, França, morria Dom José de San
Martín, general de brigada das Províncias Unidas do Rio da Prata; capitão-general da
República do Chile, e generalíssimo do Exército do Peru.
Seu corpo hoje repousa na Catedral Metropolitana de Buenos Aires.
PARQUE MARCOS TAMOYO (PARQUE DA CATACUMBA) - LAGOA
Situado na avenida Epitácio Pessoa, entre o Corte do Cantagalo e a Curva do
Calombo, o parque foi criado em 1975, sob projeto de Lúcio Costa e Roberto Burle
Marx, no local da antiga Favela da Catacumba (erradicada em 1969), e ocupa uma área
de 300 mil m2.
Com uma belíssima vista da Lagoa Rodrigo de Freitas, o local é cercado por uma
vegetação tropical, com árvores frutíferas e 29 esculturas de consagrados artistas
contemporâneos, como Bruno Giorgi, Roberto Moriconi, Caribé, Franz Weismann, Franz
Caribé; bem como uma antiga escultura de H. Peyrol. No local também há constantes
apresentações de grupos musicais e existe a sede da subprefeitura da Grande Lagoa,
criada em 1992.
PAVILHÃO VICTOR BRECHERET - PARQUE DA CATACUMBA - LAGOA
O Parque da Catacumba foi resultado da erradicação na década de 60, da
imensa favela que cobria a área, motivada por interesses imobiliários. Todo o entorno e
áreas vizinhas foram liberados para empreendimentos imobiliários, e a parte central
entregue ao Departamento de Parques e Jardins, que ativou a criação de uma área
verde com espaços voltados para o lazer e convívio cultural. O Pavilhão Victor Brecheret
foi projetado em 1979 pelo arquiteto Carlos Porto para atender às atividades culturais e
de vigilância do próprio parque e recebeu prêmio na categoria Edificações para Fins
Culturais na XVII Premiação do IAB/RJ, em 1980. O perfil do terreno sugeriu a
conformação do traçado do muro de arrimo, resolvendo o programa em dois níveis: no
inferior, com acesso independente, estão as dependências de serviço(vestiários,
depósitos e sanitários) e no patamar superior o setor de conservação, depósito e copa;
e o salão, administração e sanitários, acessíveis pela rampa de entrada. O maior
interesse plástico do projeto reside na cobertura, que adota um aspecto dinâmico devido
à movimentação dos planos que propiciam iluminação e aeração adequadas ao interior.
Em época recente, foi instalada neste pavilhão a Subprefeitura da Grande Lagoa,
desvirtuando o objetivo inicial da construção.
POSTO DE ABASTECIMENTO CATACUMBA- AV. EPITÁCIO PESSOA
No final da década de 60 a Petrobrás se lançou no competitivo mercado de
fornecimento de combustível. A programação visual da empresa foi entregue a Aloísio
Magalhães, e os projetos dos postos confiados a equipe de arquitetos Dilson Gestal
Pereira, Waldyr A . Figueiredo, Paulo Roberto M. de Souza e Alfredo Lemos, com total
liberdade de criação. A idéia era associar à nova subsidiária uma imagem dinâmica e
moderna, utilizando cores e formas de impacto para atrair clientela. O posto da
Catacumba, de 1968, foi um dos primeiros projetos elaborados com esta finalidade e foi
premiado na Universidade de Munique, Alemanha, em 1970. A localização do terreno,
numa faixa central da av. Epitácio Pessoa, cercado por vegetação e emoldurado pela
Lagoa Rodrigo de Freitas, foi determinante para o partido adotado. O elemento
dominante da composição é a cobertura, uma casca em concreto aparente, de grande
plasticidade, com as quatro extremidades pousadas sobre pequenos espelhos d`água,
cercados por jardins. Para abrigar setores de escritório e vendas foi criada uma caixa de
vidro elevada em relação ao nível do terreno, e sob a qual se localiza, semi-enterrado, o
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19. pavimento de serviço com depósito, sanitários, vestiários e casa de bombas.
Posteriormente foram feitas reformas, para abrigar salão de exposições, escritório e
depósito.
EDIFÍCIOS SONATA DA LAGOA E RAPSODY - AV. EPITÁCIO PESSOA
A produção arquitetônica dos irmãos Edison e Edmundo Musa, centralizada no
eixo Rio-São Paulo, compreende programas os mais diversificados. Sem dúvida, é no
campo imobiliário, com edifícios residenciais destinados às classes média e alta, que se
concentra o maior número de obras desses arquitetos gaúchos radicados no Rio. Este
conjunto de dois blocos de apartamentos, situado num terreno de 10.800m2 na orla da
Lagoa Rodrigo de Freitas, evidencia uma preocupação funcional e plástica característica
de seus projetos. A implantação, a volumetria e os materiais adotados procuram
resolver o espaço vazio criado por uma antiga pedreira. Compreendendo quatro
apartamentos por andar, o projeto, de 1983, tira partido da vista privilegiada, voltando
todas as salas para a Lagoa. As varandas, nas quatro fachadas, funcionam como
proteção à insolação e ao ruído provocado pelo tráfego intenso da av. Epitácio Pessoa.
É interessante a solução criada para o embasamento dos edifícios, onde se localizam
quatro pavimentos de garagem, que foram recuados e fechados por “curtain-wall” de
10m de altura. Os elevadores foram posicionados de modo a se tornarem panorâmicos
nos primeiros pavimentos. Todas as fachadas receberam tratamento semelhante, com
esquadrias em alumínio anodizado, vidro bronze e composição de granito Juparanã
lustrado e pastilhas cerâmicas.
CHÁCARAS NA ORLA DA LAGOA
Existiram chácaras famosas na rua Jardim Botânico, se bem que poucas.
Próximo ao "Largo das Três Vendas" (depois N. Sra. da Conceição, Ferreira Viana,
Arthur Bernardes, atualmente Praça Santos Dumont), era o local da enorme chácara do
Comendador paulista Joaquim José de Souza Breves, o "Rei do Café"(1804-1889),
amigo de D. Pedro I, grande produtor de café, dono de 37 fazendas e 27 chácaras,
cujas terras iam de Sepetiba às Minas Gerais. Morava normalmente em São Cristóvão,
próximo ao palácio. Usava eventualmente a casa do Jardim Botânico, principalmente
depois de 1863, quando caiu em desgraça perante o imperador, haja vista que mantinha
empresa clandestina de importação de escravos da África, atividade desbaratada neste
ano. Breves igualmente controlava a "Empresa de Navegação da Piedade", com
escritório na rua São Bento, 22. Todas sua fortuna, oriunda de seus cafezais,
despencou quando da "Abolição da Escravatura", em 1888. Hoje, os terrenos de sua
demolida chácara estão incorporados aos do "Jocquei Clube".
PARQUE LAGE
A chácara do "Parque Lage" também tem história. Em meados do século XIX era
essa chácara, então uma casa assobradada, possuindo o número 10 da rua Jardim
Botânico, com bonito parque arborizado projetado pelo arquiteto paisagista inglês John
Tyndale (cujo projeto do jardim substituiu um outro, feito por um pintor inglês, que não
vingou), quando foi adquirida pelo Comendador Antônio Martins Lage Júnior, armador,
Diretor da "Empresa de Barcas Ferry", da qual assumiu o controle em 1877. As
atividades da família Lage começaram em 1822, quando o patriarca Comendador
Antônio Martins Lage montou negócios com armazéns de carvão de pedra e pequena
oficina de reparos de embarcações na "Ilha das Enxadas". Ele arrendou essa ilha de
1825 a 1832, comprando-a em 1840. Nesse mesmo ano, Lage ganhou a "Ilha do Viana"
numa rifa e, quando a Marinha requisitou a "Ilha das Enxadas" para nela instalar a
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20. "Escola Naval", Lage arrendou "Enxadas" para a Marinha e mudou-se para sua nova
ilha com suas instalações em 1845. Posteriormente, a Marinha compraria a Ilha das
Enxadas em 1870, lá instalando um hospital e hoje uma academia.
Quando morreu, sua viúva fundou a "Empresa Viúva Lage & Campos", até que o
filho Antônio Martins Lage Júnior (1850?-1900?), homônimo do pai e igualmente
"Comendador da Ordem da Rosa", pudesse tomar rumo dos negócios. Foi Antônio
Júnior quem instituiu em 1881 o serviço regular de barcas para Paquetá, pois lá possuía
moradia desde 1878, num palacete da "Praia Grossa", onde hoje se ergue o "Hotel
Flamboyant". Em 1884 torna-se, enfim, o Presidente dessa Companhia, constituindo em
1889 sociedade com o Ministro Manuel Buarque de Macedo, quando então fundaram a
"Companhia Cantareira", da qual o Comendador Lage era Diretor. Foi casado desde
1878 com Da. Cecília Braconnot Lage (1859-192?), filha do famoso engenheiro de
máquinas, o Capitão-de-Fragata e Comendador Carlos Braconnot (1831-1894). Cecília
era famosa por seu comportamento extrovertido, cantando e dando récitas em italiano e
francês nas festas em casa do Barão de Cotegipe. Como extravagância, usava uma
tornozeleira no pé esquerdo, atributo incomum para mulheres de família, tendo causado
na época algum escândalo.
Tiveram quatro filhos: Antônio (vulgo "Antonico"), Henrique, Renaud e Jorge,
sendo que "Antonico" e Jorge morreram em 1918 da "Gripe Espanhola". Antônio Júnior
fundou a "Empresa Lage & Filhos", depois de sua morte rebatizada para "Lage &
Irmãos". A Antônio e seu filho "Antonico" também são devidas a reconstrução da "Matriz
do Bom Jesus do Monte", em Paquetá (1898-1900), bem como outras melhorias na Ilha.
A chácara do "Parque Lage" foi herdada em fins do século XIX pelo seu filho Antônio
"Antonico" Martins Lage, nascido no Rio (1879-1918), casado com Da. Eugênia Noêmia
de Sá Azevedo "Baby" (1886-194?). Tiveram quatro filhos.
Moravam na Ilha do "Viana", só usando a chácara do Jardim Botânico
eventualmente. Com o falecimento prematuro de "Antonico", em 1918, ficou com a
chácara do Jardim Botânico seu irmão e herdeiro, Henrique Lage (1881-1941), que
então morava em casa modesta na rua São Clemente, onde hoje é o prédio da "Fiat
Lux".
Era Henrique, rico armador como seu irmão, pai e avô, dono da "Empresa
Henrique Lage", sucessora da "Lage & Irmãos", onde herdou a "Companhia Nacional de
Navegação Costeira". Dono de verdadeiro império, fundou e dirigiu 23 empresas que
incluíam o "Banco Sul do Brasil", companhia de seguro, companhia de navegação, dois
estaleiros, empresa de exploração de carvão de pedra, "Empresa Docas de Imbituba",
transporte de combustíveis, "Empresa Sociedade Anônima Gaz de Niterói"(1925), usina
siderúrgica no sul de Minas Gerais, fábrica de cerâmica em Santa Catarina e fábrica de
aviões(a primeira da América Latina) e outras. Além de tudo, homem patriota(fez
doações à "Escola de Guerra", ganhando por isso o título de "Cadete no. 1"), foi
fundador do "Hospital Central dos Acidentados" e da "Companhia Nacional Civilidro",
para construções civis e hidráulicas.
Amante e cultor do "bel canto”, apaixonou-se pela cantora lírica, a contralto
italiana Gabriela Bezanzoni, que viera pela primeira vez ao Brasil, no Teatro Municipal
ainda em 1918, integrando a "Companhia Lírica da Empresa La Teatral", do empresário
italiano Walter Mocchi. Não fez sucesso nessa primeira apresentação, pois ficou com
papéis secundários. Retornou ao Brasil em 1922 pela mesma companhia, onde Gabriela
"arrasou" no papel principal da ópera "Carmem". Foi quando Henrique apaixonou-se por
ela. Quando Gabriela retornou pela terceira vez ao Brasil em 1924, para outra
temporada, ficou de vez. Henrique não mediu gastos para satisfazer os caprichos de
sua amada, a qual, de certa forma, lembrava um pouco sua finada mãe. Para ela,
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21. mandou fazer o magnífico palacete eclético italiano, encomendado em 1924 ao arquiteto
italiano Mário Vodred. Também levantou suntuária residência na "Ilha de Santa Cruz" e,
rompendo com tradição familiar, vendeu em 1930 a chácara que seu avô erguera em
Paquetá ao Conde Modesto Leal (1860?-1936).
Henrique largou sua primeira esposa, uma pianista italiana, passando a residir
em Laranjeiras até ficar pronto o palácio no Jardim Botânico. Lá, na nova casa, cercada
de explêndidos jardins, foram dadas inúmeras festas, onde Henrique, muito tímido,
pouco aparecia (dizia-se que ele sofria de grave doença de pele, o que só piorou sua
introspecção). Henrique foi Deputado à Assembléia Constituinte de 1934, e morreu em
1941. Deixou fortuna avaliada em 1 bilhão de cruzeiros, não sem antes colocar à
disposição do governo Vargas seu império industrial para o esforço de guerra.
Entretanto, o Governo Vargas declarou guerra ao "Eixo" ano seguinte e, temeroso de
que tantas e importantes indústrias caíssem no controle de uma italiana, cujo país natal
estava em guerra com o Brasil, interpretou literalmente o último desejo de Henrique e
confiscou o império industrial dos Lage por Decreto Lei, assinado pelo Presidente
Getúlio Vargas em 1942. A administração federal foi desastrosa, bastando dizer que
todas as empresas confiscadas davam lucro em 1941 estavam falidas em 1943.
Gabriela, muito ressentida, vendeu em 1945 as empresas que não tinham sido
confiscadas ao Governo, retornando anos depois à Itália, onde faleceu nos idos de
1960. Como não tiveram filhos, a casa ficou fechada alguns anos. Nos anos 60, o
terreno da chácara foi cobiçado pela "Ordem Terceira do Carmo", que alí pretendia
fazer seu "cemitério vertical". Outro que também cobiçou tais chãos foi o empresário das
comunicações jornalista Roberto Marinho (1908-2.003), que chegou a negociar com a
família o terreno, para nele instalar a "Rede Globo", que estava sendo criada (1965).
Mas o Governador do “Estado da Guanabara”, jornalista Carlos Lacerda (1914-1977),
desafeto de Roberto Marinho, tomou a dianteira e desapropriou tudo, pagou indenização
irrisória de um cruzeiro a Marinho, e transformou a chácara em formoso parque,
dependência do Jardim Botânico. No palacete, o cineasta Gláuber Rocha filmou em
1967 sua obra prima: "Terra em Transe", com Paulo Autran, Glauce Rocha, Jardel Filho,
José Lewgoy e Paulo Gracindo. Alí era o país "Eldorado", cercado de políticos
corruptos, onde as analogias eram óbvias. Foi no palacete Lage que acabou se
instalando em 1971 a "Escola de Artes Visuais do Parque Lage", hoje um importante
estabelecimento cultural da cidade.
SOLAR DO MONJOPE
Em frente ao “Parque Lage”, existiu até os idos de 1977 o casarão do "Solar do
Monjope". Era a antiga "Chácara da Bica", que pertenceu em meados do século XIX ao
Comendador português Ribeiro de Carvalho, casado com Da. Umbelina Luiza de
Medeiros Guimarães, irmã do Barão de Oliveira Castro. Foram pais do célebre Dr.
Miguel Joaquim Ribeiro de Carvalho, Provedor da “Santa Casa de Misericórdia” em
1902/38. A chácara foi vendida no princípio da década de vinte ao médico e crítico de
arte José Mariano Carneiro da Cunha Filho(vulgo "Yoyô"), nascido em Pernambuco
(1887-1948), fundador do "Instituto Central de Arquitetos" defensor da arte colonial
brasileira e seu grande divulgador, irmão do poeta Olegário Mariano. Foi a casa
extensamente reconstruída, ganhando azulejos portugueses, chafarizes coloniais e
estátuas antigas, frutos da paixão de colecionador de José Mariano. Reformou o belo
casarão em 1928 o arquiteto Lúcio Costa(1902-1998), então em princípio de carreira,
para que parecesse uma fazenda colonial. Após sua morte, a viúva, filhos e netos
continuaram a habitá-lo até a década de setenta. Foi destruída sem piedade em 1976
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22. para que alí subisse um feio condomínio residencial de edifícios da "Concal". Hoje só
resiste de pé o velho portal brasonado e o altaneiro muro caiado.
Ao lado da "Chácara da Bica", existiu em meados do século XIX a "Chácara do
Padeiro", ocupada em 1879 pelo Sr. José de Araújo Motta Júnior, onde, depois de 1889,
seria incorporada pelo Sr. José da Cruz às terras que formaram a "Fábrica Corcovado".
Alienados em 1920, alí surgiu o loteamento "Vila Floresta", do qual depois se falará.
CHÁCARA DA IMPERATRIZ
A família Oliveira Castro, importantes moradores do bairro, começou quando, em
c. 1840, transferiu-se para o Brasil Da. Castorina Angélica de Oliveira Castro (1820?-
1880?), uma portuguesa baixinha, gorda, bigoduda e feiosa, atributos que não a
impediram de arrumar rico namorado durante a viagem de navio para o Brasil, o Fidalgo
português Antônio Mendes de Oliveira Castro, e com ele noivar e casar antes de aqui
aportar. Foram morar no número 12 (1878) da estrada atrás do Jardim Botânico
(justamente hoje estrada Dona Castorina), numa sede de fazenda que vinha do século
XVIII, a "Fa zenda dos Macacos", e que pertenceu por dilatados anos aos Padres
Jesuítas até sua expulsão do Brasil em 1759. Depois de 1760 foi adquirida pelo Juiz e
"Provedor da Fazenda Real" Francisco Cordovil de Siqueira e Mello, nascido em Irajá
(1707-1775). Após sua morte e de sua esposa, Da. Catarina Vaz Moreno (1711-1787),
seus herdeiros venderam-na em 1828 ao Imperador D. Pedro I (1798-1835). Êle a deu
em 1829 como presente de casamento para a princesa Da. Maria Amélia Napoleona de
Leutchemberg, sua segunda esposa e Imperatriz (1812-1876). Ela vendeu-a em 1872
ao empresário José de Vianna Drummond, Barão de Drummond, fundador de Vila Isabel
e do "Jogo do Bicho" (1825-1897), que vendeu a casa-grande em 1874 ao "Imperial
Instituto Fluminense de Agricultura", e este a arrendou em 1876 aos Oliveira Castro.
Nessa casa morou um dos homens mais ricos do Brasil nos primeiros anos da
República, José Mendes de Oliveira Castro, Barão de Oliveira Castro (1842-1896),
grande comerciante, filho mais velho de Da. Castorina. José Mendes era "Diretor
Tesoureiro" da "Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico" em 1883, "Conselheiro
Fiscal" da mesma Companhia no ano seguinte, sendo oito anos depois seu maior
acionista. Também era o maior acionista da "Companhia Ferro Carril Vila Isabel" em
1892. Membro da "Comissão de Obras da Igreja da Candelária" e seu "Relator"
(1884/86). Era também "Presidente da Comissão Fiscal da Irmandade do Santíssimo
Sacramento da Candelária" (1886). Barão, por Decreto Imperial de 13 de novembro de
1889, foi o último nobre da monarquia. Foi também grande cafeicultor, adquirindo em
1891 de Da. Rita Arnalda de Menezes Barros, "Baronesa de Vista Alegre", as fazendas
"Chacrinha", "Campo Alegre" e "Vista Alegre", todas em Valença. Eram espólio do
finado "Barão de Vista Alegre" (1849-1891). Era casado, tendo a Baronesa de Oliveira
Castro (1852-1942) sobrevivido muitos anos ao marido, morrendo aos noventa anos em
Nice, onde residia. Sua prole foi de dezoito filhos.
Desses filhos, vários lidaram com transportes coletivos.
Octávio Mendes de Oliveira Castro, que morava em bela casa na Lagoa, próximo
ao "Corte do Cantagalo"(é a atual "Fundação Eva Klabin Rappaport"), fundou em 1911 a
segunda empresa de ônibus do Rio, a "Empresa Auto-Avenida". Álvaro Mendes de
Oliveira Castro, que herdou as fazendas do pai, era engenheiro, tendo fundado em 1912
a "Empresa Brasileira Auto-Viação", de aluguel de veículos. José Mendes de Oliveira
Castro, comerciante, foi Presidente da "Associação Comercial do Rio de Janeiro" e
acionista da "Companhia Jardim Botânico". Antônio e Francisco, seus filhos mais novos,
também foram acionistas da poderosa empresa de bondes da zona sul.
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