SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
O sentido da vida humana em um Universo sem Deus
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UNIVERSO, DEUS E O SENTIDO DA VIDA HUMANA
Fernando Alcoforado*
Os cosmólogos consideram que o Universo surgiu com o "Big Bang" por volta de 13,3 a
13,9 bilhões de anos atrás e o planeta Terra há aproximadamente 4,6 bilhões de anos e
que, durante muito tempo, permaneceu como um ambiente inóspito. Inúmeras pessoas
acreditam que o Universo, incluindo o planeta Terra e todos os seres humanos foram
criados por Deus com base em suas crenças religiosas. Alguns acreditam que o destino
do Universo e de cada ser humano teria sido traçado por Deus e, outros, admitem que
Deus teria concedido o “livre arbítrio” aos seres humanos. Apesar de acreditarem que
Deus criou o Universo, poucos são os que perguntam sobre os seus propósitos ao criá-
lo. Em oposição à concepção de que o Universo teria sido criado por Deus, surgiram
recentemente as teses dos físicos Lawrence Krauss, Stephen Hawking e Leonard
Mlodinow de que o mesmo prescindiria de Deus para surgir.
Segundo Lawrence Krauss, físico norte-americano, autor do livro A Universe from
nothing (Editora Simon & Schuster, New York, 2012), o nada produziu não apenas um
Universo, mas multiversos (universos diferentes) passados, presentes e futuros. Esta
tese se apoia na mecânica quântica que nos mostra que mesmo em um espaço vazio, há
partículas saindo do nada, constantemente. O Universo seria, portanto, um acidente que
aconteceu sem a supervisão de um ser superior, Deus. No seu livro, Krauss teoriza que
talvez não existam leis universais da física e que as leis da física podem ser diferentes
para cada universo. Krauss não identifica nenhum propósito ou objetivo evidente para o
Universo em que vivemos, além de afirmar que o surgimento da vida em nosso
Universo pode ter sido apenas um acidente. Isto significa dizer que nossas vidas podem
ser guiadas por cada um de nós, ao invés de sermos governados por um ente superior
(Deus) que supostamente seria criador da vida.
Os físicos Stephen Hawking e Leonard Mlodinow, autores do livro The Grand Design
(Bantam Books, New York, 2010), afirmam que não é preciso um Deus para criar o
Universo, pois o “Big Bang” seria uma consequência de leis da Física. O fato de que
nosso Universo pareça milagrosamente ajustado em suas leis físicas, para que possa
haver vida, não seria uma demonstração conclusiva de que foi criado por Deus com a
intenção de que a vida exista, mas um resultado do acaso. Hawking e Mlodinow
afirmam que a física moderna descarta a participação de Deus na origem do Universo e
diz que, aparentemente, o “Big Bang” foi uma consequência natural das leis da física e
que a criação espontânea é a razão pela qual existe algo em vez de nada e que, devido à
existência de uma lei como a da gravidade, que é uma força fundamental de atração que
age entre todos os objetos por causa de suas massas de que são constituídos, o Universo
criou a si mesmo do nada.
Hawking e Mlodinow afirmam que as leis naturais nos dizem como o Universo
funciona, mas estas não respondem às questões colocadas no livro The Grand Design:
Por que há algo em vez de nada? Por que existimos? Por que existe este conjunto
particular de leis naturais e não outro? Alguns poderiam assegurar que a resposta a estas
questões é que há um Deus que escolheu criar o Universo desse modo. Quando é
apresentada a questão de quem criou Deus, a resposta de várias correntes religiosas é a
de que se trata de uma entidade que não necessita de criador. Esse é o conhecido
argumento de várias crenças religiosas sobre a existência de Deus. Em contrapartida, os
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físicos Lawrence Krauss, Stephen Hawking e Leonard Mlodinow contestam a tese do
Universo como criação de Deus afirmando que ele foi criado do nada com base nas leis
da gravidade.
Cientificamente, é sabido que toda a vida na Terra será varrida quando nosso Sol chegar
ao fim de sua existência dentro de 5 bilhões de anos ao tornar-se uma gigante vermelha
que engolirá a Terra. Finalmente, o Universo tornar-se-á incapaz de permitir a
existência de qualquer tipo de vida devido à sua eterna expansão, deixando apenas calor
residual e buracos negros, ou senão se contrairá novamente unindo toda a matéria e
energia num único Grande Buraco Negro. De qualquer forma, toda a vida no Universo
desaparecerá para sempre. Isto significa dizer que, além da morte no plano do indivíduo,
nos defrontaremos com a morte de nossa espécie com o desaparecimento do Sol, da
Terra e do próprio Universo.
O livro The Grand Design aborda as questões últimas da própria condição humana,
como por exemplo, “porque existimos?”, “O que é o Universo, a natureza e a própria
realidade como a conhecemos?”. É oportuno observar que, na escala do tempo da
história da Terra, nascemos, vivemos e morremos. Diante da inevitabilidade da morte, a
vida só terá sentido, para alguns, quando o indivíduo puder gozar de tudo que ela
oferece de positivo durante sua existência. Para outros, em um Universo criado por
Deus, o sentido da vida de um indivíduo, na perspectiva de várias correntes religiosas,
se materializaria na prática de boas ações para ter acesso ao “paraíso celeste” após sua
morte. Qual é o sentido da vida humana se o Universo não foi criado por Deus e não há
a perspectiva do “paraíso celeste” após a morte do indivíduo?
Para haver sentido em nossas vidas, não basta desfrutar do que a vida oferece de bom,
nem esperar que a morte chegue para alcançar o “paraíso celeste” como preconiza
várias correntes religiosas. É preciso construir o “paraíso terrestre” em vida com todos
os indivíduos se empenhando na construção de um mundo novo baseado na cooperação
entre todos os seres humanos a fim de que o progresso econômico e social seja
compartilhado por todos e na defesa do meio ambiente natural do planeta Terra que
beneficie a todos os seres vivos que nele habita. A vida não terá sentido, se cada
indivíduo e todos os seres humanos mantiverem a barbárie que vem caracterizando a
história da humanidade até a era contemporânea.
*Fernando Alcoforado, 72, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem
Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000),
Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010) e Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil
e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) ,
entre outros.