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ESPORTE NA MÍDIA OU ESPORTE DA MÍDIA?

                                                                                                        Mauro Betti1

RESUMO: partindo do pressuposto de que todo o esporte que está na mídia é, na verdade, um esporte da mídia, o
autor descreve uma série de fatores que assim o caracterizam, concluindo com tópicos do que poderia ser o esporte
(em toda a sua inteireza) na mídia.
ABSTRACT: Assuming that every sport that is in the media is, in reality, a sport of the media, the author describes a
series of factors that characterize sport in this way, concluding with topics in which a sport (in its entirety) may
actually appear in the media.

          A rigor, não existe esporte na mídia, apenas esporte da mídia. Se a mídia enfocasse o esporte como
cooperação, auto-conhecimento, sociabilização etc., em vez da habitual ênfase no binômio vitória-derrota,
recompensa extrínseca, violência etc., ainda assim estaria fragmentando e descontextualizando o fenômeno
esportivo, pois a competição e uma certa agressividade são a ele inerentes. Ou mesmo como diria Elias (1990), o
esporte é um lugar socialmente permitido para a expressão da beligerância e agressão, de maneira controlada.
Evidentemente, estamos nos referindo ao esporte formal, institucionalizado em federações e passível de
espetacularização pela televisão, e, portanto, ignorando a polissemia associada à palavra “esporte” (Betti, 1998).

          Admitir o esporte na mídia exigiria aceitar o pressuposto de que a mídia fosse capaz de abordar o esporte
em sua inteireza, o que não é possível por dois motivos, ao menos: i) pela própria natureza e limitações de cada
mídia; ii) pelo fato de que cada mídia cumpre funções específicas (Santaella, 1996). Quer dizer, inevitavelmente, o
esporte na mídia é sempre mediado pelos olhares interessados dos diversos meios, dentre os quais destaca-se a
televisão, a mais híbrida de todas as mídias, “que absorve e devora todas as outras mídias e formas de cultura”
(Santaella, 1996, p. 42). Por isso, é a televisão a mídia mais importante para entendermos as relações entre as duas
instâncias. De fato, o esporte não teria alcançado a importância política, econômica e cultural de que desfruta hoje
não fosse sua associação com a televisão, associação esta que criou uma “realidade textual autônoma”: o esporte
telespetáculo (Betti, 1998).

          Mas quais são as características do esporte da mídia? Centrando-nos no caso da televisão, algumas delas
são:

1) Ênfase na “falação esportiva”. A falação esportiva (Eco, 1984) informa e atualiza: quem ganhou, quem foi
contratado ou vendido (e por quanto), quem se contundiu, e até sobre aspectos da vida pessoal dos atletas. Conta a
história das partidas, das lutas, das corridas, dos campeonatos; uma história que é sempre construída e reconstruída,
pontuada pelos melhores momentos - os gols, as ultrapassagens, os acidentes etc. cria expectativas: quem será
convocado para a seleção brasileira? A falação faz previsões: qual será o placar, quem deverá vencer. Depois,
explica e justifica: por que tal equipe o atleta ganhou ou perdeu. A falação promete: emoções, vitórias, gols,
medalhas. Cria polêmicas e constrói rivalidades: foi impedimento ou não? A falação critica: "fala mal" dos árbitros,
dos dirigentes, da violência. A falação elege ídolos: o "gênio", o craque fora de série. Por fim, sempre que possível,
a falação dramatiza.

2) Monocultura esportiva. A ênfase quantitativa da “falação” das mídias, assim como da transmissão ao vivo de

1
    Laboratório de Estudos Socioculturais e Históricos da Educação Fïsica. Departamento de Educação Física,
    Faculdade de Ciências - Unesp, campus de Bauru
2


eventos é, no Brasil, evidentemente relacionada ao futebol, tendência que se acentuou nos últimos anos,
provavelmente porque as empresas descobriram naquela modalidade esportiva uma melhor relação custo-benefício
para a publicidade. Uma possível exceção situa-se na TV por assinatura, na qual Betti (1999) encontrou maior
percentagem de programação dedicada aos “esportes radicais”, seguida de futebol e tênis.

3) Sobrevalorização da forma em relação ao conteúdo. É característica marcante da mídia televisiva. O esporte
telespetáculo tende a valorizar a forma em relação ao conteúdo.Isso decorre do fato do discurso televisivo fazer uso
privilegiado da linguagem audiovisual, combinando imagem, som (música, por exemplo) e palavra, com ênfase na
primeira. As possibilidades do audiovisual são levadas cada vez mais adiante, em decorrência dos avanços
tecnológicos associados à informática (mini-câmaras, closes, slow-motion, recursos gráficos etc.). Mas também nas
mídias impressas (jornal, revista), as imagens vêm ganhando espaço em relação à palavra – são fotos, gráficos e
outros recursos produzidos com sofisticação e qualidade cada vez maiores por conta dos avanços da
informática/computação. O poder da linguagem audiovisual é maximizado na TV por assinatura, na qual o esporte
pode apresentar-se como pura imagem (Betti, 1999), o que se justifica no processo de espetacularização, porque a
televisão busca atingir a emoção do espectador, e não a razão. Do outro lado da moeda, o discurso das mídias em
geral propõe uma concepção hegemônica de esporte: esforço, busca da vitória, disciplina, dinheiro. O preço que se
paga pela espetacularização do esporte é a fragmentação e descontextualização do fenômeno esportivo. Os eventos
e fatos são retirados do seu contexto histórico, sociológico, antropológico. A experiência global do ser-atleta é
fragmentada. No caso da televisão, a descontextualização é mais sutil, e o telespectador é vítima de uma ilusão:
julga que está observando a realidade diretamente, como se a “tela” fosse uma “janela”. Na verdade, há diferenças
profundas na experiência de assistir ao esporte como testemunha corporalmente presente nos estádios e ginásios e na
sala de estar, pela TV.

4) Superficialidade. As próprias características das mídias impõem a superficialidade. Como lembra Santaella
(1996) a cultura das mídias é a cultura do efêmero, do breve, do descontínuo; é a cultura "dos eventos em oposição
aos processos" (p.36). Mas como a cultura das mídias caracteriza-se também pela interação entre elas, a mesma
notícia passa de uma mídia a outra, permitindo análises mais aprofundadas nas revistas semanais e no jornalismo
investigativo da TV por assinatura, por exemplo. Idealmente, as mídias seriam intercomplementares
(Santaella1996), e a notícia da TV levaria o espectador ao jornal, daí à revista, etc. Mas quem no Brasil lê jornais,
revistas ou pode pagar por uma TV a cabo? Daí o receio dos efeitos perniciosos que a televisão pode trazer a um
país como o Brasil, com baixo nível educacional, com uma grande massa de analfabetos e semi-analfabetos, e que
estão se expondo diretamente à cultura audiovisual das mídias, sem a mediação anterior da cultura letrada.

5) Prevalência dos interesses econômicos. A lógica das mídias, em última instância, atende a interesses econômicos,
entronizando na televisão os índices de audiência, e criando assim um círculo vicioso: os produtores pressupõem o
que o público (que é visto como homogêneo) quer, e só lhe oferecem isso, portanto, não podem saber se o público
deseja outra coisa. Novidades aparecem, mas sempre sobre os mesmos temas e sob as mesmas formas. Como não há
opções, o público reafirma a audiência das “fórmulas” tradicionais. Daí a mesmice da cobertura futebolística, por
exemplo. A pobreza de conteúdo na TV brasileira é cada vez mais evidente, não obstante o artigo 221 da
Constituição brasileira determinar que a produção e a programação das emissoras de rádio e televisão deverão
conceder prioridade a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas. De uma perspectiva mais ampla,
Walnice Nogueira Galvão, claramente inspirada no conceito de “indústria cultural” da Escola de Frankfurt, refere-se
ao “fundamentalismo do mercado”, que faz imperar uma lógica perversa, a qual privilegia o investimento em
3


novidades que, dada sua facilidade e baixo custo, leva à crescente degradação do gosto dos cidadãos; e assim “os
produtores agiram, enquanto se justificavam dizendo dar ao povo o que ele queria. E não o contrário: os produtores
é que se empenharam numa campanha de deseducação, infantilizando o público (caso do cinema), imbecilizando-o
(caso da televisão)...” (Galvão, 2002, p. 5). Do ponto de vista político, a imposição de limites a esse processo teria
que ser ditada pela própria sociedade civil, nos termos previstos pelo artigo 224 da Constituição brasileira de 1988,
que prevê o funcionamento de um Conselho de Comunicação Social, até hoje não concretizado.

        Todavia, num exercício de imaginação (e esperança...) o que deveríamos ler, ouvir e olhar se houvesse um
outro lado, o do esporte na mídia? :

-   a cobertura de várias modalidades esportivas, inclusive as que ainda são predominantemente amadoras;

-   a presença de informações/conteúdos científicos (biológicos, socioculturais, históricos) sobre a cultura
    esportiva;

-   análises aprofundadas e críticas a respeito dos fatos, acontecimentos e tendências nas várias dimensões que
    envolvem o esporte atualmente (econômica, administrativa, política, treinamento, tática etc), considerando o
    passado, o presente e o futuro;

-   as vozes dos atletas (profissionais e amadores) enquanto seres humanos integrais, e não apenas como máquinas
    de rendimento, nos falando sobre a experiência global de praticar esporte;

-   uma maior interação com os receptores, considerados indivíduos singulares, instaurando um verdadeiro
    processo de comunicação.

        E tudo isso adaptado às características de cada mídia, preservando a forma espetacular que atrai o leitor, o
ouvinte, o telespectador. Quem se arrisca a tentar?



Referências
BETTI, M. A janela de vidro: esporte, televisão e educação física. Campinas: Papirus, 1998.
BETTI, M. Esporte, televisão e espetáculo: o caso da TV a cabo. Conexões: educação, esporte, lazer, n.3, p. 74-91,
1999.
ECO, U. Viagem na irrealidade cotidiana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
ELIAS, N. O processo civilizador. v.1: Uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.
GALVÃO, W. N. Cultura contra cultura. Folha de S. Paulo, São Paulo, 17 mar. 2002. Caderno Mais!, p. 5-11.
SANTAELLA, L. A cultura das mídias. São Paulo: Experimento, 1996.


                                                                          Recebido para publicação em: 10/04/2002
                                                                                         Aprovado em: 05/05/2002

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Esporte na midia e esporte da midia

  • 1. ESPORTE NA MÍDIA OU ESPORTE DA MÍDIA? Mauro Betti1 RESUMO: partindo do pressuposto de que todo o esporte que está na mídia é, na verdade, um esporte da mídia, o autor descreve uma série de fatores que assim o caracterizam, concluindo com tópicos do que poderia ser o esporte (em toda a sua inteireza) na mídia. ABSTRACT: Assuming that every sport that is in the media is, in reality, a sport of the media, the author describes a series of factors that characterize sport in this way, concluding with topics in which a sport (in its entirety) may actually appear in the media. A rigor, não existe esporte na mídia, apenas esporte da mídia. Se a mídia enfocasse o esporte como cooperação, auto-conhecimento, sociabilização etc., em vez da habitual ênfase no binômio vitória-derrota, recompensa extrínseca, violência etc., ainda assim estaria fragmentando e descontextualizando o fenômeno esportivo, pois a competição e uma certa agressividade são a ele inerentes. Ou mesmo como diria Elias (1990), o esporte é um lugar socialmente permitido para a expressão da beligerância e agressão, de maneira controlada. Evidentemente, estamos nos referindo ao esporte formal, institucionalizado em federações e passível de espetacularização pela televisão, e, portanto, ignorando a polissemia associada à palavra “esporte” (Betti, 1998). Admitir o esporte na mídia exigiria aceitar o pressuposto de que a mídia fosse capaz de abordar o esporte em sua inteireza, o que não é possível por dois motivos, ao menos: i) pela própria natureza e limitações de cada mídia; ii) pelo fato de que cada mídia cumpre funções específicas (Santaella, 1996). Quer dizer, inevitavelmente, o esporte na mídia é sempre mediado pelos olhares interessados dos diversos meios, dentre os quais destaca-se a televisão, a mais híbrida de todas as mídias, “que absorve e devora todas as outras mídias e formas de cultura” (Santaella, 1996, p. 42). Por isso, é a televisão a mídia mais importante para entendermos as relações entre as duas instâncias. De fato, o esporte não teria alcançado a importância política, econômica e cultural de que desfruta hoje não fosse sua associação com a televisão, associação esta que criou uma “realidade textual autônoma”: o esporte telespetáculo (Betti, 1998). Mas quais são as características do esporte da mídia? Centrando-nos no caso da televisão, algumas delas são: 1) Ênfase na “falação esportiva”. A falação esportiva (Eco, 1984) informa e atualiza: quem ganhou, quem foi contratado ou vendido (e por quanto), quem se contundiu, e até sobre aspectos da vida pessoal dos atletas. Conta a história das partidas, das lutas, das corridas, dos campeonatos; uma história que é sempre construída e reconstruída, pontuada pelos melhores momentos - os gols, as ultrapassagens, os acidentes etc. cria expectativas: quem será convocado para a seleção brasileira? A falação faz previsões: qual será o placar, quem deverá vencer. Depois, explica e justifica: por que tal equipe o atleta ganhou ou perdeu. A falação promete: emoções, vitórias, gols, medalhas. Cria polêmicas e constrói rivalidades: foi impedimento ou não? A falação critica: "fala mal" dos árbitros, dos dirigentes, da violência. A falação elege ídolos: o "gênio", o craque fora de série. Por fim, sempre que possível, a falação dramatiza. 2) Monocultura esportiva. A ênfase quantitativa da “falação” das mídias, assim como da transmissão ao vivo de 1 Laboratório de Estudos Socioculturais e Históricos da Educação Fïsica. Departamento de Educação Física, Faculdade de Ciências - Unesp, campus de Bauru
  • 2. 2 eventos é, no Brasil, evidentemente relacionada ao futebol, tendência que se acentuou nos últimos anos, provavelmente porque as empresas descobriram naquela modalidade esportiva uma melhor relação custo-benefício para a publicidade. Uma possível exceção situa-se na TV por assinatura, na qual Betti (1999) encontrou maior percentagem de programação dedicada aos “esportes radicais”, seguida de futebol e tênis. 3) Sobrevalorização da forma em relação ao conteúdo. É característica marcante da mídia televisiva. O esporte telespetáculo tende a valorizar a forma em relação ao conteúdo.Isso decorre do fato do discurso televisivo fazer uso privilegiado da linguagem audiovisual, combinando imagem, som (música, por exemplo) e palavra, com ênfase na primeira. As possibilidades do audiovisual são levadas cada vez mais adiante, em decorrência dos avanços tecnológicos associados à informática (mini-câmaras, closes, slow-motion, recursos gráficos etc.). Mas também nas mídias impressas (jornal, revista), as imagens vêm ganhando espaço em relação à palavra – são fotos, gráficos e outros recursos produzidos com sofisticação e qualidade cada vez maiores por conta dos avanços da informática/computação. O poder da linguagem audiovisual é maximizado na TV por assinatura, na qual o esporte pode apresentar-se como pura imagem (Betti, 1999), o que se justifica no processo de espetacularização, porque a televisão busca atingir a emoção do espectador, e não a razão. Do outro lado da moeda, o discurso das mídias em geral propõe uma concepção hegemônica de esporte: esforço, busca da vitória, disciplina, dinheiro. O preço que se paga pela espetacularização do esporte é a fragmentação e descontextualização do fenômeno esportivo. Os eventos e fatos são retirados do seu contexto histórico, sociológico, antropológico. A experiência global do ser-atleta é fragmentada. No caso da televisão, a descontextualização é mais sutil, e o telespectador é vítima de uma ilusão: julga que está observando a realidade diretamente, como se a “tela” fosse uma “janela”. Na verdade, há diferenças profundas na experiência de assistir ao esporte como testemunha corporalmente presente nos estádios e ginásios e na sala de estar, pela TV. 4) Superficialidade. As próprias características das mídias impõem a superficialidade. Como lembra Santaella (1996) a cultura das mídias é a cultura do efêmero, do breve, do descontínuo; é a cultura "dos eventos em oposição aos processos" (p.36). Mas como a cultura das mídias caracteriza-se também pela interação entre elas, a mesma notícia passa de uma mídia a outra, permitindo análises mais aprofundadas nas revistas semanais e no jornalismo investigativo da TV por assinatura, por exemplo. Idealmente, as mídias seriam intercomplementares (Santaella1996), e a notícia da TV levaria o espectador ao jornal, daí à revista, etc. Mas quem no Brasil lê jornais, revistas ou pode pagar por uma TV a cabo? Daí o receio dos efeitos perniciosos que a televisão pode trazer a um país como o Brasil, com baixo nível educacional, com uma grande massa de analfabetos e semi-analfabetos, e que estão se expondo diretamente à cultura audiovisual das mídias, sem a mediação anterior da cultura letrada. 5) Prevalência dos interesses econômicos. A lógica das mídias, em última instância, atende a interesses econômicos, entronizando na televisão os índices de audiência, e criando assim um círculo vicioso: os produtores pressupõem o que o público (que é visto como homogêneo) quer, e só lhe oferecem isso, portanto, não podem saber se o público deseja outra coisa. Novidades aparecem, mas sempre sobre os mesmos temas e sob as mesmas formas. Como não há opções, o público reafirma a audiência das “fórmulas” tradicionais. Daí a mesmice da cobertura futebolística, por exemplo. A pobreza de conteúdo na TV brasileira é cada vez mais evidente, não obstante o artigo 221 da Constituição brasileira determinar que a produção e a programação das emissoras de rádio e televisão deverão conceder prioridade a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas. De uma perspectiva mais ampla, Walnice Nogueira Galvão, claramente inspirada no conceito de “indústria cultural” da Escola de Frankfurt, refere-se ao “fundamentalismo do mercado”, que faz imperar uma lógica perversa, a qual privilegia o investimento em
  • 3. 3 novidades que, dada sua facilidade e baixo custo, leva à crescente degradação do gosto dos cidadãos; e assim “os produtores agiram, enquanto se justificavam dizendo dar ao povo o que ele queria. E não o contrário: os produtores é que se empenharam numa campanha de deseducação, infantilizando o público (caso do cinema), imbecilizando-o (caso da televisão)...” (Galvão, 2002, p. 5). Do ponto de vista político, a imposição de limites a esse processo teria que ser ditada pela própria sociedade civil, nos termos previstos pelo artigo 224 da Constituição brasileira de 1988, que prevê o funcionamento de um Conselho de Comunicação Social, até hoje não concretizado. Todavia, num exercício de imaginação (e esperança...) o que deveríamos ler, ouvir e olhar se houvesse um outro lado, o do esporte na mídia? : - a cobertura de várias modalidades esportivas, inclusive as que ainda são predominantemente amadoras; - a presença de informações/conteúdos científicos (biológicos, socioculturais, históricos) sobre a cultura esportiva; - análises aprofundadas e críticas a respeito dos fatos, acontecimentos e tendências nas várias dimensões que envolvem o esporte atualmente (econômica, administrativa, política, treinamento, tática etc), considerando o passado, o presente e o futuro; - as vozes dos atletas (profissionais e amadores) enquanto seres humanos integrais, e não apenas como máquinas de rendimento, nos falando sobre a experiência global de praticar esporte; - uma maior interação com os receptores, considerados indivíduos singulares, instaurando um verdadeiro processo de comunicação. E tudo isso adaptado às características de cada mídia, preservando a forma espetacular que atrai o leitor, o ouvinte, o telespectador. Quem se arrisca a tentar? Referências BETTI, M. A janela de vidro: esporte, televisão e educação física. Campinas: Papirus, 1998. BETTI, M. Esporte, televisão e espetáculo: o caso da TV a cabo. Conexões: educação, esporte, lazer, n.3, p. 74-91, 1999. ECO, U. Viagem na irrealidade cotidiana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. ELIAS, N. O processo civilizador. v.1: Uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990. GALVÃO, W. N. Cultura contra cultura. Folha de S. Paulo, São Paulo, 17 mar. 2002. Caderno Mais!, p. 5-11. SANTAELLA, L. A cultura das mídias. São Paulo: Experimento, 1996. Recebido para publicação em: 10/04/2002 Aprovado em: 05/05/2002