Caderno de Resumos do XV Encontro de Pesquisa em Filosofia, VI Encontro de Pós-Graduação em Filosofia da UFU e IV Encontro de Pesquisa em Filosofia no Ensino Médio
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Caderno de Resumos XV ENPFil, VI EPGFil e IV EPFEM
1. RESUMOS DO XV ENCONTRO DE PESQUISA
EM FILOSOFIA DA UFU, VI ENCONTRO DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA DA UFU E
DO IV ENCONTRO DE PESQUISA EM
FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO
ISSN 2358-615X Dezembro
de 2021
Volume 15 – número 15 IFILO - UFU
2. ISSN 2358-615X
Resumos do XV Encontro de Pesquisa em Filosofia da UFU, VI
Encontro de Pós-Graduação em Filosofia da UFU e do IV Encontro de
Pesquisa em Filosofia no Ensino Médio
Volume 15 – número 15
Dezembro de 2021
IFILO – UFU
Organizadores:
Marcos César Seneda
Fernando Tadeu Mondi Galine
Cecilia Lemes Silva
Lucca Fernandes Barroso
Revisores:
Daniel Alves Rodrigues
Gabriela Antoniello de Oliveira
Lucca Fernandes Barroso
Rafael Batista Lopes de Oliveira
Raphael Souza Borges Junior
Talita da Silva Moreau
3. XV ENCONTRO DE PESQUISA EM FILOSOFIA DA UFU
VI ENCONTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA DA UFU
IV ENCONTRO DE PESQUISA EM FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO
O Encontro de Pesquisa em Filosofia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
é um evento regular de pesquisa, que visa a fortalecer a inserção regional e nacional da
comunidade filosófica representada pelos grupos e núcleos de pesquisa agregados ao
Instituto de Filosofia (IFILO). O propósito do evento é a intensificação da integração dos
estudantes – da graduação e da pós-graduação – e dos docentes e discentes do Ensino Médio
com a comunidade filosófica nacional. Ao mesmo tempo, o evento pretende atuar
decisivamente como fonte de incentivo para que os estudantes apresentem seus primeiros
trabalhos e adquiram, por esse meio, um pouco da prática da produção de pesquisa
especializada. Acentua nossa satisfação, ao organizá-lo anualmente, o fato de o evento ter se
ampliado e se tornado uma mostra significativa do diversificado e consistente trabalho de
pesquisa dos estudantes.
Conquanto sejam grandes os impactos da pandemia na organização de eventos,
devendo-se, à primeira vista, esperar uma queda no número de participações, não foi, no
entanto, isso que tem ocorrido. No ano de 2020 conseguimos fazer um evento
bem-organizado e com grande participação dos alunos de graduação e pós-graduação, dando
sequência ao trabalho de mais de uma década de divulgação da investigação científica
produzida no Brasil. Nesse ano, contamos com um pouco mais de experiência, uma vez que
esse é o segundo evento produzido inteiramente online. Trata-se de uma experiência
totalmente nova, que deve, posteriormente, trazer contribuições para a consolidação de
novas práticas de divulgação científica.
É importante ressaltar que, mesmo com os ataques sofridos pela área de filosofia nos
últimos três anos, isso não implicou em uma desorganização da produção de conhecimento
científico dessa área de conhecimento. A área está viva, os pesquisadores continuam
trabalhando e interagindo. E isso mostra a força da pesquisa especializada no país, pois,
atualmente, não temos um quadro ocasional somente de falta de recursos para a pesquisa,
4. mas assistimos de fato a um corte intencional de verbas sem precedentes no âmbito da
ciência brasileira. Em meio a atitudes que procuram fragilizá-la, é importantíssimo o denodo
com que os pesquisadores e pesquisadoras tem reagido, produzindo conhecimento
especializado, divulgando os resultados e publicando em veículos apropriados. A reunião de
esforços pessoais e institucionais coopera fortemente para que a área não se desestruture e
se mantenha na luta por dias melhores, em que a ciência seja reconhecida e acolhida na vida
do país, em que os pesquisadores tenham espaço para trabalhar e condições para fazê-lo, em
que os alunos possam aprimorar as atividades de licenciatura e se agregar em trabalhos de
pesquisa.
No evento realizado em 2020 houve um envolvimento expressivo da comunidade
filosófica nacional, com a aprovação de 146 resumos enviados por pesquisadores de
diversas universidades brasileiras. Neste ano, nós teremos a décima quinta edição do evento,
realização que confirma o compromisso dos estudantes e do corpo docente do Instituto de
Filosofia da UFU com a pesquisa e disseminação do saber filosófico. Será realizado
também, concomitantemente com o XV Encontro de Pesquisa em Filosofia, o VI Encontro
de Pós-Graduação em Filosofia da UFU, encontro esse que recebeu contribuições
significativas de pesquisadores de diversas universidades brasileiras nas cinco edições
anteriores. Trata-se de um evento que tem crescido ano a ano, e agora já se encontra
consolidado como uma grande mostra de divulgação e discussão da pesquisa em filosofia no
Brasil. Temos tido uma participação crescente de mestrandos e doutorandos que, mesmo nas
edições presenciais, vêm até a UFU para apresentar e discutir os seus trabalhos de pesquisa.
Sejam sempre bem-vindos! Além disso, realizaremos também o IV Encontro de Pesquisa
em Filosofia no Ensino Médio, com participação de alunos oriundos de escolas da cidade. É
imensa a nossa satisfação em receber esses alunos no interior do evento de pesquisa,
juntamente com os professores orientadores do Ensino Médio. Esperamos, com essa
experiência, incentivar a pesquisa no Ensino Médio, vindo a ampliar e consolidar a presença
desses alunos nos próximos eventos.
A conferência de abertura dos eventos será proferida pelo Prof. Dr. Bruno Botelho
Costa (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo), que falará
sobre o seguinte tema: “A Filosofia de Paulo Freire e o trabalho de cultura popular”. Essa
5. conferência ocorrerá na segunda-feira, 06 de dezembro de 2021, às 19h. Também teremos a
conferência de encerramento dos eventos, que será proferida pela Profa. Dra. Mitieli Seixas
da Silva (Departamento de Filosofia - UFSM), que falará sobre o seguinte tema: “Alguns
apontamentos sobre o cânone e as mulheres na História da Filosofia”.
Seguindo os protocolos de segurança sanitária para o enfrentamento à pandemia de
Covid-19, tanto as apresentações de trabalhos como as conferências de abertura e de
encerramento dos eventos serão realizadas em salas online, de maneira remota.
O presente caderno apresenta o resultado de duas significativas mostras da pesquisa
acadêmica nacional, às quais se soma o trabalho de pesquisa de estudantes do Ensino
Médio, e pretende ser um incentivo para a produção de conhecimento filosófico e um
veículo para a sua divulgação.
Nesses dois anos temos nos empenhado sobremaneira para que a atividade de
pesquisa continue a ser desenvolvida com todo o vigor, e agradecemos a todos que têm
somado os seus esforços nessa luta pela ciência brasileira. Desejamos à comunidade de
pesquisa um bom evento, e no próximo ano esperamos todos e todas vocês de braços
abertos, para que a UFU possa continuar sua missão de lutar pelo desenvolvimento nacional
e de promover a ciência, com toda a sua força plural, em território brasileiro!
6. ISSN 2358-615X
Comissão Técnico-Científica:
Ana Gabriela Colantoni - Universidade Federal de Goiás (UFG)
Andréa Cachel - Universidade Estadual de Londrina (UEL)
Anselmo Tadeu Ferreira - Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Diego de Souza Avendano - Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Dirceu Fernando Ferreira - Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM)
Fábio Baltazar do Nascimento Júnior - Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Fernando Martins Mendonça - Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Fillipa Carneiro Silveira - Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Franco Nero Antunes Soares - Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS)
Lucas Nogueira Borges - Humboldt Universität zu Berlin
Luiz Carlos Santos da Silva - Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Marcio Tadeu Girotti - Fac. Metropolitana do Estado de São Paulo (FAMEESP)
Marcos César Seneda - Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Maria Aparecida de Paiva Montenegro - Universidade Federal do Ceará (UFC)
Paulo Irineu Barreto Fernandes - Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM)
Vinícius França Freitas - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Comissão Técnica - Ensino Médio
Luís Gustavo Guadalupe Silveira (IFMT)
Paulo Irineu Barreto Fernandes (IFMT)
Raphael Souza Borges Junior (Colégio Dom Bosco Uberlândia)
Periodicidade: Anual
7. INSTITUTO DE FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DE UBERLÂNDIA (IFILO – UFU)
Campus Santa Mônica - Bloco 1U - Sala 125
Av. João Naves de Ávila, 2.121 - Bairro Santa Mônica
Uberlândia - MG - CEP 38408-100
Telefone: (55) 34 3239-4185
http://www.ifilo.ufu.br/
13. 11
Estado de natureza, contrato social e sociedade para Hobbes e Rousseau
Autor: Lara Ribeiro Silva (Colégio Dom Bosco)
Orientação: Raphael Souza Borges Junior
Dentre os contratualistas, destacamos dois: Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau.
Podemos dizer que há uma oposição direta entre eles. O primeiro concebia o homem como um ser
de natureza perversa e violenta, o que prejudica a sua relação com o outro. No estado de natureza,
isto é, em uma situação pré-social, os indivíduos existem em luta permanente, o que reforça a
guerra de todos contra todos: “o homem é o lobo do homem”. Além disso, há, no homem, um
instinto de conservação: quando deixado livre, é um convite à violência e, ao mesmo tempo, uma
abertura para a paz tática que promete conservação. Trata-se de uma lei natural e, portanto, não
existe uma disposição natural para viver em sociedade. Rousseau, por sua vez, pensava no homem
enquanto um “bom selvagem”. Isso significa que, no estado de natureza, o homem primitivo seria
completamente feliz e realizado, por saber viver de acordo com suas necessidades inatas. Somente a
igualdade entre os indivíduos é o que constrói o caminho em direção à felicidade. Contudo, embora
seja naturalmente bom, o homem está submetido a formas de civilização que constantemente o
alienam e transformam em tirano ou escravo. Em vista disso, a concepção do direito político em
Rousseau é, assim, essencialmente democrática, pois faz depender toda autoridade e toda soberania
de sua vinculação com a totalidade populacional. Dessa forma, o objetivo desse trabalho é distinguir
a maneira com que esses dois autores entendem o estado de natureza e o contrato social. Além
disso, pretendemos apontar para algumas questões contemporâneas no que se refere ao conceito de
democracia.
14. 12
O fogo como princípio de tudo: sua influência filosófica e tecnológica
Andrei Martins Scaldelai (IFTM)
Fabricio Nunes de Oliveira (IFTM)
João Paulo Fernandes Faleiros Veloso (IFTM)
Kaio Lima dos Reis (IFTM)
Randhal Reis Moura (IFTM)
Orientação: Paulo Irineu Barreto Fernandes
O objetivo deste trabalho é apresentar uma relação entre o fogo e a filosofia, partindo do
princípio de que o fogo é, também, uma forma primordial de técnica e, em sentido amplo, de
tecnologia, uma vez que oferece, desde a antiguidade até os nossos dias, a capacidade de
intervenção direta em eventos e fenômenos da natureza, conferindo poder a quem pode dominá-lo.
De acordo com Heráclito de Éfeso o fogo é o princípio de tudo. Em seus escritos, dos quais nos
restaram apenas fragmentos, Heráclito retrata o fogo como elemento primordial para definição de
todas as coisas e reafirma sua tese, indicando que o fogo é a representação da tensão, da guerra
perpétua e mudança, princípios que são fortemente defendidos e comentados em sua filosofia.
Diante disso, este estudo apresenta o fogo como forma de tecnologia utilizada desde a época do
Paleolítico, possibilitando aos seres humanos a sua utilização em vários domínios e, sobretudo, para
a sobrevivência, desde o período dos Homo Erectus. Desde então, o fogo se impõe como forma de
energia, simultaneamente com sua forma tecnológica. Apesar da evolução constante em materiais
de estudo e novas tecnologias, Heráclito tem sua tese reafirmada sempre que o fogo é utilizado na
transformação de matéria. Contudo, muitas vezes o fogo foge do alcance dos seres humanos e é
fonte de queimadas prejudiciais, entre outros fatores: “Segundo a medida se acende e segundo a
medida se apaga”. Sendo assim, o estudo parte da análise do mundo atual relacionado à ideia de
Heráclito, buscando, sobretudo, reafirmar que, apesar do desenvolvimento tecnológico, o fogo ainda
é energia determinante, citando o cosmos como um só, cosmo esse que nasce do fogo e pelo fogo é
consumido, em períodos determinados e em ciclos que se repetem por toda a eternidade.
15. 13
Inter-Relação entre Espanto, Filosofia e Folclore
Maria Vitória Nogueira Venâncio (IFTM)
Gabriel Oliveira Santos Viana (IFTM)
Orientador: Paulo Irineu Barreto Fernandes
Todos os povos têm os seus mitos e relatos ancestrais, a exemplo dos gregos antigos e dos
nórdicos, que são amplamente conhecidos e difundidos. O mesmo acontece com a cultura brasileira,
formada a partir da integração de diferentes povos e etnias. O objetivo deste trabalho é estabelecer
um paralelo, de forma introdutória, entre o conceito filosófico de “espanto” e alguns elementos do
folclore brasileiro. Na perspectiva do filósofo Aristóteles, o espanto é um sentimento fundamental
para o surgimento da filosofia, pois antecede a reflexão, apresentando uma inquietação diante da
ignorância. Trata-se de um incômodo com o não saber. Assim, admite-se que o mito e o folclore
sejam atividades que tentam responder inquietações humanas. Podemos entender que o folclore
corresponde às manifestações da cultura popular, que caracteriza a identidade social de um povo,
reproduzindo os costumes e tradições que são passados por gerações. E esses costumes são muito
importantes para a construção da nossa cultura brasileira, no caso. Se as pessoas não passassem
esses costumes adiante, tanto de forma oral, quanto escrita, provavelmente já teriam se perdido. A
nossa cultura é nosso bem mais precioso, ela traz para a sociedade um conhecimento que surge a
partir de indagações, tais como: “Como surgiu o mundo?”; “Como surgiram as pessoas?”. No caso
dos relatos sobre a lenda do “Corpo Seco”, por exemplo, a questão que se busca responder é sobre a
natureza e o destino dos maus. Nesse sentido, é no sentimento de espanto, a princípio, que a
filosofia e o folclore, que é a cultura de um povo, estão ligados. Os fragmentos de mitos e crenças
religiosas são claramente parte da cultura de um determinado povo. E, assim como a filosofia
nasceu do espanto, o folclore tem o poder de renovar nosso espanto diante das nossas indagações
existenciais e cotidianas.
16. 14
A desigualdade social segundo Rousseau e Rawls
Tiago Ferreira Cipriano - (PIVIC/IFTM)
Orientação: Luís Gustavo Guadalupe Silveira
A história da humanidade é marcada por um sistema de hierarquização, onde algumas
pessoas detêm privilégios, enquanto outras são oprimidas. Os corpos presentes nesta sociedade são
hierarquizados a partir da raça e do gênero, além de outros marcadores, facilitando ou impedindo o
acesso aos recursos materiais e simbólicos para determinados grupos de pessoas, o que promove
desigualdade social. Ao longo da história, pensadores discutiram os motivos para a existência dessa
desigualdade social. Para o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), a civilização não trouxe
apenas progressos, mas também foi responsável por direcionar a humanidade para sua própria
deterioração ética, moral e social marcada pela desigualdade social. Segundo ele, a origem dessa
hierarquização entre os homens é dada pela fundação da propriedade privada. Mais recentemente, o
filósofo John Rawls (1921-2002) também discutiu a questão da desigualdade social. Rawls afirma
que existem vários fatores que influenciam nas decisões do homem, e cada pessoa visa sempre
garantir o melhor para si, desconsiderando as condições do outro. Ele desenvolve então a
necessidade de haver um “véu da ignorância”, segundo o qual nenhum indivíduo sabe suas
características e condições. A partir disso eles podem elaborar decisões imparciais que sejam
benéficas a todos. Rawls também elaborou o princípio da diferença, segundo o qual todas as
pessoas devem ser beneficiadas, porém, alguma decisão pode ser desigual desde que traga
benefícios a todos. Nesse sentido, vamos explicitar e comparar como ambos os pensadores
definiram a desigualdade social e a questão da igualdade.
17. 15
A Democracia ontem e hoje sob o olhar da Filosofia
Maria Cecília Ribeiro (PIVIC/IFTM)
Orientação: Luís Gustavo Guadalupe Silveira
Onde surgiu a democracia? E onde estamos agora? O mundo mudou drasticamente desde o
início dessa forma de governo, e essas mudanças a afetaram. A palavra democracia significa
“governo do povo” e surgiu na Grécia Antiga. Os gregos praticavam a democracia direta, na qual os
cidadãos de cada polis votavam por si na Assembleia. A democracia moderna acontece através de
representantes da população, não diretamente, ou seja, uma democracia representativa. Vários
filósofos falaram sobre democracia. Sócrates (470-399 a.C.), considerado o pai da filosofia,
aparentemente não apoiava essa forma de governo, pois ele dizia que o verdadeiro sábio é aquele
que tem consciência de sua ignorância, e o povo não teria esse tipo de consciência, portanto não
seria capaz de ser o sujeito responsável pelas decisões políticas, mesmo que indiretamente.
Aristóteles (385-323 a.C.) classificou a democracia, em sua obra Política, como governo de uma
maioria que só pensa em si mesma e não visa ao bem comum. A democracia também foi citada por
filósofos modernos, como Friedrich Nietzsche (1844-1900), que ia contra todo tipo de Estado, e por
John Stuart Mill, que defendia a democracia representativa. A sociedade afeta a democracia e
vice-versa, então quando ocorrem mudanças na sociedade o sistema de governo acompanha. Um
exemplo é quando passamos de democracia direta para representativa, pois a direta se tornou
inviável principalmente devido ao crescimento territorial e ao conceito de cidadão, que agora abarca
muito mais pessoas. Nas últimas décadas, a interação entre o governo e a sociedade vem sendo
afetada por um novo fator, as mídias sociais digitais. Estudiosos afirmam que já estamos em uma
nova fase democrática, o que significa que a organização política foi alterada. Estaríamos vivendo
uma ciberdemocracia? E como isso nos afeta? São essas as questões que procuramos analisar em
nosso trabalho
19. 17
A Compreensão Sartriana Sobre a Obra de Arte: Dinâmica entre Real e Irreal
Agatha Victoria Cavallari Ferreira (USP/ FNDE MEC)
Orientação: Marcus Sacrini
No capítulo conclusivo de O imaginário, Jean-Paul Sartre se propõe a tratar sobre a
problemática da obra de arte. A partir dos estudos empreendidos sobre a consciência imaginante,
Sartre compreende o objeto artístico como um irreal, fruto do imaginário. Assim, uma vez que a
obra de arte é imaginária, o objeto estético criado pelo artista, embora precise ser representado
através de um suporte material para se manifestar, isto é, de um “analogon”, não se confunde com
ele. O conteúdo próprio à criação artística só pode ser apreendido por uma consciência que supõe a
nadificação do mundo, irrealizando seu objeto. Nesse sentido, Sartre exemplifica suas
considerações tomando o caso da pintura, do romance, da poesia, da arte dramática e da música. Em
nossa exposição, pretendemos colocar em destaque as observações do autor sobre essa última,
levando em conta que, em um primeiro momento, a irrealização musical parece apresentar
particularidades em relação às demais artes, à medida que a música aparenta ser o caso de uma arte
que remete apenas a si mesma; o que inviabilizaria a dinâmica entre realidade e irrealidade
característica da obra de arte, nos termos sartrianos. Isso posto, analisaremos mais de perto o
exemplo da Sétima Sinfonia de Beethoven, fornecido pelo filósofo francês, nos atendo aos aspectos
distintivos da consciência imaginante em contraposição à consciência perspectiva.
20. 18
Dilemas Morais e a Derivação do Princípio de Possibilidades Alternativas do Princípio
“Dever” Implica “Poder”.
Alex Bispo Bastos (Universidade Estadual de Campinas/FAPESP)
Orientação: Marco Ruffino e Pedro Merlussi
Um dilema moral é uma situação de conflito de obrigações em que um agente tem a
obrigação moral de fazer (ao menos) duas ações distintas e igualmente prioritárias, mas não tem a
capacidade de fazê-las conjuntamente. Existe um argumento que mostra que a existência de dilemas
é logicamente incompatível com o princípio “dever” implica “poder” (DIP) e o princípio da
aglomeração (PA). Perante esse resultado, os antirrealistas sobre dilemas defendem que, como DIP
e PA são verdades necessárias, então dilemas não existem. Contudo, existe uma conexão entre DIP
e o Princípio de Possibilidades Alternativas (PAP) que ameaça o argumento antirrealista. DIP é um
princípio que estabelece que se um agente tinha a obrigação moral de fazer uma ação, então ele
tinha a capacidade de fazê-la. PAP é o princípio que estabelece que se um agente é moralmente
responsável por uma ação, então ele tinha a capacidade de agir de outro modo. O filósofo David
Widerker avançou um argumento que mostra que DIP deriva PAP, isto é, DIP implica PAP. Isso
ameaça o antirrealista devido ao seguinte resultado: se DIP implica PAP e se PAP é falso, então DIP
também é falso. E existem contraexemplos ao PAP, os famosos casos de Frankfurt. Logo,
deveríamos abandonar DIP junto com PAP, caso aceitarmos que os contraexemplos de Frankfurt
funcionam contra PAP. É notável, então, o problema para os antirrealistas sobre dilemas, pois não só
DIP não é uma verdade necessária como é falso, caso PAP seja falso. Com base nesse resultado é
que faremos a nossa apresentação. Pretendemos: (i) apresentar o debate sobre dilemas morais, (ii)
apresentar e discutir a tese da derivação e o impacto dela no debate sobre dilemas e (iii) investigar
algumas respostas que restam ao antirrealista sobre dilemas para enfrentar os desafios impostos pela
tese da derivação.
21. 19
A Teoria do Espaço de Immanuel Kant: A “Tese da Subjetividade do Espaço” e Suas
Implicações
Alexandre Pavani da Silva (UFU)
Orientação: Marcos César Seneda
O objetivo principal desse texto será apresentar uma análise sobre a “tese da subjetividade
do espaço” de Immanuel Kant, apontada pelo filósofo prussiano como a conclusão “evidente” da
Exposição Transcendental do conceito de Espaço. A fim de tornar claro o fim para o qual tenderá
esta breve análise, faz-se necessário ressaltar que a “tese da subjetividade do espaço” acaba por se
caracterizar como um dos principais argumentos a favor da proposição kantiana de que o espaço
nada mais é senão a forma do sentido externo de nossa capacidade cognitiva. Com efeito, o espaço
como intuição pura, tal como apresentado por Kant na Estética Transcendental, é caracterizado
como parte de nossa subjetividade, um princípio através do qual os dados fornecidos pela sensação
são ordenados, é a forma da sensibilidade. Neste sentido, buscaremos apresentar tanto os
argumentos e conceitos de que Immanuel Kant se vale para fundar as bases de sua teoria do espaço,
quanto as implicações da “tese da subjetividade do espaço” para a consolidação do Idealismo
Transcendental como teoria metaepistemológica do conhecimento sensível. Para tanto
procuraremos estruturar nossa análise em três passos. Primeiramente apresentaremos brevemente o
que motivou Immanuel Kant a formular uma tese tão radical sobre o espaço, o que irá evidenciar a
forte influência das teorias do espaço de Newton e de Leibniz sobre o pensamento kantiano. Em
seguida, apresentaremos os argumentos do filósofo prussiano em defesa da subjetividade do espaço,
o que deverá evidenciar a forte ruptura de seu Idealismo Transcendental com tradição racionalista
por meio da distinção entre aparecimento e coisa em si. Por fim, procuraremos apresentar as
conclusões da argumentação kantiana sobre a “tese da subjetividade do espaço”, além de destacar o
que estas conclusões implicam.
22. 20
A Jornada do Herói na Eneida
Aline Ferreira Magalhães (UFU)
Orientação: José Benedito de Almeida Júnior
O objetivo é apresentar e analisar as façanhas e a trajetória mitológica do herói troiano
Eneias, no poema épico Eneida escrita pelo poeta PubliusVergilius Maro; situado na primeira parte
odisseica dessa obra. Nosso fundamento teórico serão as ligações entre os conceitos de monomito e
de arquétipo. O monomito é o percurso padrão da aventura arquetípica do herói, proposto pelo
pesquisador e mitólogo Joseph Campbell, especialmente em sua obra “O Herói de Mil Faces”, cuja
estrutura mitológica universal tem base teórica conceitual no arquétipo do inconsciente coletivo que
transcendem o tempo histórico e cultural. Em linhas gerais, o herói passa pelas etapas de separação,
iniciação e retorno, neste caso, fundando uma nova sociedade. Temos a formação do mito universal
do herói, personagem que sempre livra seus semelhantes da destruição ou da morte. Os heróis que
vivem para sua missão são intermediários entre os deuses e os humanos. Símbolo de transformação.
O segundo conceito é o de arquétipo desenvolvido pela psicologia analítica de Carl Gustav Jung,
que serviu de base para a concepção campbelliana de monomito e aponta para determinados
elementos comuns que aparecem em todas as narrativas míticas e de heróis, independentemente da
cultura ou do tempo histórico de cada povo ou nação.
23. 21
Epistemologia Feminista e Materialismo-Histórico-Dialético: Análise da Neutralidade e
Objetividade Científica a Partir da Cognição Situada
Ana Cattarina Dias Rique (UFPA)
Os padrões institucionalizados que as teorias feministas necessitam questionar e reconstruir
não estão isentos da teoria do conhecimento e a filosofia da própria ciência. A investigação das
bases epistemológicas tradicionais e de sua pretensa neutralidade sinaliza resultados interessantes
para a manutenção da lógica dominante. A observação desse impacto a partir de uma identidade
materialmente comprometida é o que propõe a teoria da perspectiva feminista
(feministstandpointview), abordagem epistemológica que interroga as influências do gênero sobre
concepções e práticas do conhecimento a partir do materialismo histórico-dialético e da cognição
situada. Esse trabalho analisará a abordagem epistemológica citada, discutindo a suposta tensão
entre materialismo e identidade, para utilizar o conceito de conhecimento situado como ponto de
partida para a proposição de uma abordagem plural, mas que não abandona a objetividade
científica. Utilizando pesquisa bibliográfica, temos como objetivos principais fomentar o estudo da
epistemologia feminista no Brasil, e lançar luz sobre alternativas epistemológicas comprometidas
com um conceito de identidade que não está apartado do movimento de classes, e que precisa
construir-se não só a partir das conclusões marxianas, mas sim de sua concepção
teórico-metodológica fundada no concreto. As investigações sobre o uso da neutralidade valorativa
como única ferramenta razoável para garantir a objetividade de uma pesquisa, esbarram no
questionamento constante sobre a materialização da figura que decide os conceitos e hipóteses
relevantes, ou o que conta como evidência e como interpretar os dados. Dessa forma, lembrando
que as reivindicações de neutralidade foram feitas tanto a favor quanto contra tendências
democráticas na pesquisa, a questão é como fazer ciência de tal forma que simultaneamente
promova a compreensão e a confiabilidade dos resultados da investigação e, ao mesmo tempo,
responda os tipos de questões que mais importam aos grupos reiteradamente oprimidos na
construção científica.
24. 22
A presença da analogia como um recurso da dialética no Teeteto
Ana Paula de Jesus Carvalho (UFBA)
Orientação: Gislene Vale dos Santos
A arte dialética foi concebida por Platão como o método próprio do fazer filosófico. No
“Teeteto”, apesar de o termo não aparecer, o procedimento maiêutico cumpre a função do que em
outros diálogos é chamado de dialética. Um método capaz de auxiliar a alma a raciocinar a partir de
critérios, entre as vias das múltiplas opiniões, com o objetivo de atingir uma verdade acompanhada
de sua justificação. Assim, um olhar sobranceiro não é suficiente para compreender a orgânica do
diálogo, é preciso se ater também aos recursos que mobilizam o pensamento a alcançar este
objetivo. Desse modo, eu me proponho a investigar as analogias presentes no Teeteto, na condição
de recursos-chave na pesquisa do que seja certa concepção de unidade (ένί) presente na obra.
Assim, sirvo-me da análise de alguns trechos do referido diálogo, precisamente aqueles nos quais
são elaboradas analogias que mobilizam o pensamento por meio das imagens sensíveis. Como
articulado no passo 147c7-10: “assim, quando perguntado a respeito de lama, poderia ter
respondido, por maneira trivial e simples, que lama é terra molhada, sem dar-se ao trabalho de dizer
quem a emprega”. Este passo destaca a importância da analogia na atividade que a alma exerce na
busca pelo conhecimento. Pois é no processo de dividir e unificar, constitutivo do próprio pensar,
que a alma, orientada pelo método dialético, exercita a sua capacidade de raciocinar criticamente.
Por isso, é importante compreender em que medida o ""raciocinar por analogias"" é parte do
método, ou ainda, do caminho investigativo que se desenvolve no “Teeteto” e que recebeu o nome
de dialética.
25. 23
Virtude e Razão na Moral Universal de Holbach
André Pereira da Silva (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB))
OBJETIVO PRINCIPAL: analisar a função atribuída pelo Barão de Holbach (2014) à
virtude e à razão, conceituadas como pressupostos filosóficos para uma moral universal utilitarista,
hedonista e ateia. OS PRINCIPAIS PASSOS DA PROBLEMATIZAÇÃO: caracterizar os conceitos
de virtude e de razão apresentados por Holbach (2014) na obra “A moral universal ou os deveres do
homem fundamentados na sua natureza”; refletir sobre a função da razão e da virtude na construção
da felicidade individual e coletiva e analisar o modo pelo qual uma moral universal pode contribuir
para que os indivíduos usufruam de existências mais felizes, livres da ignorância e dos preconceitos.
OS PRINCIPAIS ARGUMENTOS QUE SUSTENTAM A HIPÓTESE NO CORPO DO TEXTO:
em Holbach (2014), a razão e a virtude são faculdades naturais que compelem os indivíduos a
usufruírem do prazer e a repelirem a dor; os homens se tornam infelizes quando essas faculdades
são obstruídas ou deturpadas pelos preconceitos e pela ignorância, advindos da ausência de
educação ou das doutrinas religiosas; a moral universal proposta pelo filósofo se opõe ao ascetismo
das religiões que condenam o prazer, o desejo e as paixões; a virtude e a razão são meios para a
obtenção coletiva e individual da felicidade e, por isso, são pressupostos fundamentais para uma
moral universal.
26. 24
Filosofia e seu Ensino: A Criação de Conceitos para um Ensino Vivo e Ativo
Anne Caroline Freitas Vieira de Aragão (UFAM)
A humanidade, desde seu surgimento, tem tido o contato intrínseco com a Filosofia, e desde
sua gênese, se questiona sobre seu surgimento, comportamento, valores, crenças, sentido da vida, a
origem de tudo etc. Esses questionamentos na vida do homem foram possíveis devido ao processo
da reflexão filosófica. Na contemporaneidade, o processo reflexivo filosófico não é diferente. Tanto
que a sociedade questiona o papel ou o ofício da Filosofia, não é de se estranhar que ainda ouvimos
questionamentos sobre a utilidade da Filosofia no processo de formação humana. Para Deleuze e
Guattari, a Filosofia é compreendida como “arte de formar, de inventar, de fabricar conceitos”, ideia
defendida na obra “O que é a Filosofia”. O que os autores salientam se mostra fora do contexto
tradicional de como a Filosofia vem sendo pensada desde os gregos, ou seja, como uma espécie de
contemplação. Eles afirmam que a filosofia não deve ser pensada como um mero caminho para a
reflexão, pois a filosofia não é reflexão e sim criação, a Filosofia é a criação de conceitos, não os
conceitos tradicionalmente entendidos como essência ou resposta, mas conceitos como “atos do
pensamento”. E é a partir dessa concepção de filosofia, como criação de conceitos, que Silvio Gallo
desenvolve uma metodologia de ensino chamada “Oficina de Conceitos”, em que o estudante,
juntamente com o professor, irá percorrer quatro etapas com o objetivo de promover um movimento
filosófico, de modo que o estudante possa construir conceitos. Essa é uma metodologia que
possibilita ao estudante entrar em contato com a construção do ato de filosofar, ir além do processo
tradicional de transmissão de conhecimentos historicamente construídos.
27. 25
Educação Hermenêutica: O Ensino da Linguagem como (Des)Precarização da Existência
Antonio Augusto Pegado (Universidade Federal do Maranhão (UFMA))
Ao longo dos últimos anos, a pedagogia vem discutindo sobre os crescentes problemas na
formação de crianças e adolescentes: analfabetismo, dificuldade de leitura, escrita inconsistente,
pobreza vocabular, dentre tantas outras deficiências de linguagem. Para uma educação tecnicista e
voltada para o mercado de trabalho, é um grande fracasso ser incapaz de prover habilidades
linguísticas básicas, visto que são fundamentais para a atuação profissional. Alunos com as
deficiências supracitadas possivelmente não adentrarão à universidade e tampouco serão bons
empregados. Bem mais problemático que isso, contudo, é que a linguagem não é mero instrumento,
objeto de manipulação, e sim logos: Hans-Georg Gadamer, em “Verdade e Método” e em ensaios
posteriores, aponta para o caráter dialógico da linguagem enquanto interação do homem consigo
mesmo (pensamento) e do homem com a sociedade (comunicar-se, entender-se, informar-se). Nesse
sentido, a linguagem é o próprio modo de ser do homem no mundo, e um ensino de linguagem que
sequer atenda ao básico, como leitura e escrita, não somente prejudica o futuro financeiro e
profissional dos alunos, como também, e principalmente, precariza suas existências. Quando a
linguagem não é ensinada na estrutura de diálogo, pensamento e conceito, não se torna possível
formar sujeitos que compreendem suas situações no mundo, e tampouco são capazes de se integrar
adequadamente à sociedade, pois a dissolução da capacidade de dialogar e fazer uso da linguagem é
a dissolução do próprio eu em harmonia com a sociedade, assim como a dissolução do eu em
contato consigo próprio. Por conseguinte, o objetivo do presente trabalho é, a partir da
hermenêutica filosófica gadameriana, apresentar a proposta de um ensino de linguagem que, para
além de um mero código ou instrumento técnico, corresponde à sua função existencial enquanto
morada do ser, possibilitando, mais do que habilidades de leitura e escrita, a desprecarização da
existência humana.
28. 26
Entre o Alicerce Da Razão E A Concentração Deliberada Do Sujeito: A Epistemologia
Fundacionista De Descartes
Artur Guilherme dos Santos Furtado (UFPA)
A obra de Descartes pretende imprimir um novo sentido para a filosofia. Este sentido, que se
encontra já em títulos como o “Discurso do Método” e as “Meditações Metafísicas”, faz-nos atentar
para uma ordem de interpretação em que tanto a arquitetônica sobre a construção do alicerce para o
bom conduzir da razão quanto a articulação de uma figura que se expressa em uma concentração
deliberada de investigação dos limites e consequências de suas crenças, respectivamente o
“Discurso” e as “Meditações”, permite-nos considerar o projeto cartesiano como um projeto de
caráter eminentemente epistemológico, uma epistemologia centrada em uma visão subjetivista do
mundo, onde o que importa ao final são as consequências de uma verdade irrefutável (certeza), isto
é, o alicerce mesmo de nossas crenças e juízos a fim de bem proceder no que concerne ao modo de
como julgamos da falsidade ou veracidade do mundo. Deste modo, a epistemologia cartesiana
sustém uma epistemologia fundacionalista, em que as crenças fundamentais devem partir de um
objeto de certeza. Em primeiro plano, há de se considerar, porém, o aspecto dubitativo que perfaz
tanto o “Discurso” quanto as “Meditações”, pois ambas tangem a um aspecto cético apenas para,
em seguida, ou refutar as inquirições daí advindas como meras falsidades ou, uma vez interpelada
pela razão, aderir ao seu produto como fonte de conhecimento seguro. No entanto, ainda que sejam
em Descartes expressivas as referências a uma nova epistemologia centrada no sujeito, tal não se
faria completa sem a presunção do bom proceder das ações, é a esta fricção que este trabalho se
volta.
29. 27
Cinema e Alienação: Uma Análise da Indústria Cinematográfica e seu Papel na Formação dos
Indivíduos
Bruna Beatriz Lemes Carneiro (UFU)
Orientação: Fabiane Santana Previtali
A Alienação é um conceito que foi discutido amplamente em diversos momentos ao longo
de nosso desenvolvimento histórico, no entanto, as discussões acerca do tema estão bem longe de
terem se esgotado. Certamente, a esta altura do século XXI, a maioria dos indivíduos acreditam ser
completamente esclarecidos e dotados de bom senso, e ninguém se considera um sujeito alienado.
No entanto, na atual conjuntura que nos encontramos é difícil acreditar que os sujeitos tenham a
plena consciência da realidade à qual estamos todos submetidos. Por onde quer que olhemos, vemos
que ainda temos muito que avançar enquanto humanidade, pois ainda vivemos em um mundo onde
há guerras, fome, miséria e, como se não bastasse, a não superação de problemas históricos, ainda
vivemos em um momento em que grupos reacionários se levantaram contra todo parco avanço e
progresso que a humanidade já conquistou em relação dos direitos humanos. Ainda vemos no
mundo a naturalização de coisas que no atual estágio de desenvolvimento da humanidade poderiam
ser superadas. Em contraposição a essa realidade de penúria e sofrimento a que esta submetida da
grande maioria da população, vivemos na sociedade do mais alto desenvolvimento tecnológico, em
que convivemos com tecnologias nunca antes imaginadas. O cinema se trata de um desses inventos
que surgiu há mais de cem anos e, no nosso tempo, nos acompanha desde a mais tenra idade até a
vida adulta. Deste modo, no presente trabalho, procuramos compreender mais profundamente o
conceito de alienação, tal qual concebido por Marx em sua obra “Manuscritos econômicos e
filosóficos” de 1844 e procuramos compreender a dimensão dialética do cinema e seu papel na
formação da subjetividade dos sujeitos.
30. 28
Adorno, Memória e Formação: O Que Significa Elaborar o Passado?
Bruno de Novais Oliveira (UFU)
Orientação: Igor Silva Alves
O projeto foi inicialmente pensado para estudar as críticas do filósofo alemão Theodoro
Adorno ao sujeito do século XX, mais especificamente do período pós-guerra. Nesse sentido, as
etapas de trabalho foram divididas em três para melhor compreensão da crítica adorniana: o
primeiro passo é tentar entender como é pensada a relação entre história (passado) e presente, seja
epistemologicamente ao investigar o sujeito, seja politicamente ao pensar em sua herança histórica,
de modo a elucidar como um sujeito socialmente inserido carrega consigo uma relação dialética
entre a adesão ao todo, enquanto normas sociais/institucionais, e, ao mesmo tempo, o esforço de
descolamento e emancipação desse todo; o segundo será dedicado à questão política e à herança
moderna que a época das luzes deixou, como, por exemplo, a promessa de uma época esclarecida
que recaiu no holocausto, ou até na própria situação bélica do século XX, nesse ponto,
destacaremos como um projeto emancipatório pode carregar consigo um elemento de barbárie e
regressão; e, no terceiro e último momento, será a tentativa de pensar a formação como o esforço de
emancipar o sujeito, de como, através de uma boa formação, o sujeito pode combater o que
perpetua, ou instaura, o fascismo. Esse último ponto buscará tratar das questões mais propositivas
de Adorno, enquanto horizonte de um processo que não culmine na mera adesão ao sistema, mas,
pelo contrário, resista e recupere a ideia de sujeito emancipado.
31. 29
Duas Hipóteses para o problema do ἕτερον αἴτιον nos Segundos Analíticos II.9 de Aristóteles
Daniela Fernandes Cruz (UNIFESP/FAPESP)
Orientação: Prof. Dr. Breno Andrade Zuppolini (UNIFESP/UNICAMP)
Em Segundos Analíticos II.8-10, Aristóteles apresenta um modelo de descoberta da essência
pela causa a partir de uma estrutura triádica: a demonstração silogística. Esse modelo
explanatório-causal é aplicado aos casos de processos naturais (e.g. eclipse, trovão) e, apesar de
mencionadas, as substâncias sensíveis (e.g. homem) não são concretamente analisadas – algo que só
se consolida nos livros centrais da Metafísica (especialmente, Z.17) a partir da análise hilemórfica.
O motivo da omissão das substâncias sensíveis nos Analíticos é alvo de debate entre os intérpretes,
sobretudo a partir da leitura de Segundos Analíticos II.9 – capítulo em que Aristóteles impõe uma
restrição quanto ao domínio de aplicação do modelo: apenas os itens que possuem “causa diferente”
(ἕτερον αἴτιον) são passíveis de análise nesses termos. Se, por um lado, o capítulo parece ser uma
restrição ao caso específico das substâncias, não são explicitados quais itens que possuem e quais
não possuem “causa diferente”. Neste cenário, temos pelo menos duas hipóteses interpretativas: (i)
uma leitura restritiva (ou desenvolvimentista), em que Segundos Analíticos II.9 apresentaria uma
restrição às substâncias sensíveis, e estas estariam excluídas do domínio de aplicação do modelo –
de modo que a utilização deste na Metafísica seria uma reformulação posterior (Ross, 1949; Goldin,
1996, Bronstein, 2016); e (ii) uma leitura não-restritiva, que se opõe à primeira ao defender que a
aplicação do modelo às substâncias já teria sido prevista quando da elaboração dos Segundos
Analíticos, e sua omissão se daria por economia argumentativa. O objetivo do presente trabalho é
apresentar a hipótese não-restritiva como uma solução para o problema do ἕτερον αἴτιον,
defendendo uma aproximação entre a Metafísica e os Segundos Analíticos.
32. 30
As Ideias Abstratas Em Locke Como Solução Para O Problema Dos Universais
Danival Lucas da Silva (UFU)
Orientação: Marcos César Seneda
O objetivo desse artigo é analisar o impacto da teoria das ideias abstratas de Locke nas
discussões que giram em torno do problema dos universais. Com efeito, as implicações decorrentes
do chamado problema dos universais não se limitam às famosas disputas entre os pensadores da
Idade Média, nem aos debates contemporâneos atinentes à filosofia da linguagem. O realismo -
inaugurado pelo essencialismo transcendente de Platão e ratificado pelo essencialismo imanente de
Aristóteles - alicerçou a metafísica e a epistemologia ao longo de toda a história da filosofia. Para
Locke, no entanto, a solução do problema passa justamente pela rejeição do realismo. Nesse artigo,
analisaremos os avanços conquistados pelo empirista inglês bem como os pontos frágeis de seus
argumentos. Ao final, defenderemos que é possível construir uma objeção original ao realismo
baseada nas ideias de Locke e nas evidências de que dispomos hoje, reveladas pelo avanço das
ciências. A metodologia utilizada é a explicação de texto, conforme sugerem Folscheid e
Wunenburger. Como resultado, esperamos contribuir para o avanço da filosofia apresentando um
argumento capaz de sentenciar a impossibilidade dos realismos platônico e aristotélico. Agregando
evidências científicas atuais, como a teoria da evolução das espécies de Darwin, ao problema das
diferenças por gradações contínuas, apontado por Locke, mostraremos a inviabilidade do realismo
como solução metafísica. Apontaremos que espécies complexas, como o homem, não podem ser
consideradas obras da natureza e que a essência dos seres complexos só pode ser fruto de
convenção.
33. 31
Realismo Metaético e Simetria Normativa: Uma Defesa do Quietismo
Deiver Vinícius de Melo (UFSJ)
Orientação: Rogério Antônio Picoli e Rodrigo A. S. Gouvea
O realismo não-naturalista na metaética, segundo o qual há verdades irredutivelmente
normativas a respeito de razões para a ação, levanta a questão do que seriam tais entidades, já que
elas não se reduziriam a fatos e leis naturais, como descritos pela psicologia e demais ciências
naturais. Tal questionamento abre margem para duas posições: o realismo robusto e o realismo
quietista. Os proponentes da primeira vertente sustentam que essas entidades têm um fardo
metafísico próprio; já o quietismo é a afirmação de que perguntar pela carga metafísica de fatos
sobre razões para a ação é um esforço em vão, já que não há, e nem precisa haver, tal carga. O
realista robusto, por sua vez, afirma que ela é necessária; caso contrário, não teríamos como
resolver questões de simetria entre razões contraditórias entre si, o que poderia nos fazer cair no
ficcionalismo, que não é compatível com uma posição realista não-naturalista. Tal simetria se dá
quando há duas posições normativas distintas e um impasse a respeito de qual delas seria a mais
correta a ser adotada. Desse modo, o realista robusto afirmará que o genuíno defensor do realismo
jamais pode ser quietista. Nesta comunicação, demonstrarei como a objeção do paralelismo de
razões não parece decisiva como o realista robusto deseja, já que não descarta o quietismo e ainda
revela um problema que seria inerente a todos os tipos de realismo; a saber, a dificuldade de se
demonstrar, em casos de dilema moral, que algumas razões para a ação são corretas e outras, não.
34. 32
BNCC e Fundamentos Teóricos da Filosofia no Ensino Médio
Douglas Roberto da Silva UFU - Universidade Federal de Uberlândia
Orientação: José Benedito de Almeida Junior
Partindo dos princípios norteadores da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de 2017 e
das especificidades do filosofar, surgem questionamentos relevantes aos subsídios formativos de
Filosofia no Ensino Médio. Deste modo, esta apresentação pretende analisar as bases
epistemológicas e axiológicas do ensino de Filosofia na etapa do Ensino Médio, através de “quatro
recortes” principais, a saber:
• Reflexão sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC);
• Indagações sobre as dimensões e especificidades do filosofar no processo de ensino
de Filosofia;
• Implicações sociais e os limites da organização dos conteúdos/eixos de
aprendizagens em Filosofia;
• É possível pensar numa didática no ensino de Filosofia?
As pretensões teóricas acima expostas vão à direção de compreender as relações entre as
orientações curriculares oficiais com os conteúdos e metodologias do ensino de Filosofia e os
processos de mediações do filosofar no Ensino Médio. Também indagando as coerências e
contradições entre os princípios gerais do Ensino Médio com os princípios propostos para a
disciplina de Filosofia. Portanto, com base nos questionamentos acima, não necessariamente nessa
ordem, proporcionados especificamente pela BNCC e nos seus subsídios formativos para o ensino
de Filosofia. A proposta máxima dessa apresentação é a identificação e a reflexão dos pontos
coerentes e não coerentes da própria práxis filosófica na educação básica brasileira.
35. 33
O Papel da Mulher no Estado Ideal de Platão.
Elisabeth Rocha Bastos (UFU)
Orientação: Rubens Garcia Nunes Sobrinho.
Na obra A República, Sócrates propõe um Estado Ideal, em que o ser humano não só viva de
forma digna, mas também explore seus potenciais ao máximo, utilizando-os para o melhor interesse
do estado como um todo. Para isso, a Cidade Ideal enfrenta uma escolha: deixar que as mulheres
continuem assumindo os papéis domésticos que exercem na polis ateniense contemporânea, ou
permitir que estas assumam os postos de guardiãs assim como os homens, função importante no
auxílio aos governantes e proteção à cidade. Considerando que os guardiões, em tal Estado Ideal,
devem ter acesso à educação desde a infância, assim como características notáveis, como
perspicácia, caráter brando e serem guiados pela sabedoria, a proposta, a princípio modesta, de
Platão sobre a igualdade entre os gêneros se torna muito mais radical do que se imagina. Ainda que
o filósofo em questão não trate de forma abrangente de todas as amarras e restrições designadas às
mulheres, sua tese desafia uma das práticas mais profundas e impregnadas, não só dentro da polis
grega, como também atualmente. O propósito é examinar as minúcias implícitas na proposta
socrática dos papéis de gênero na cidade ideal, sendo o primeiro, e um dos poucos, a ousar
promover tal definição dentro da filosofia política, atendo-se especialmente ao livro V da
República, assim como os ecos de tal pensamento na sociedade atual.
36. 34
O Conflito do Acrático e o Aspecto Desiderativo da Razão na Ética Aristotélica
Felipe Fernandes Vieira Santos (UFU - Universidade Federal de Uberlândia)
Orientação: Fernando Martins Mendonça
Em muitas passagens do corpus aristotélico, especialmente, mas não exclusivamente, em
seus escritos referentes à ética, Aristóteles apresenta o conceito de acrasia: um estado moral
caracterizado pela efetivação de uma ação contrária àquela prescrita pela razão do próprio agente
como uma ação correta. Quando trata desse agente, Aristóteles afirma que existe um conflito entre
as partes de sua alma, em que i) a parte de sua alma dotada de razão exorta o agente para que efetive
a ação moralmente correta, enquanto ii) algo na sua alma oposto à razão o direciona para uma ação
moralmente incorreta (1102b 24-25). Ao longo dos escritos aristotélicos, é possível notar que o
conflito na alma desse agente se apresenta como um conflito de motivos para agir, de tal maneira
que os apetites (epithumiai) se contrapõem à razão (logos), e, a partir desse conflito, a ação
efetivada pelo acrático é contrária àquela exortada pela razão. Ora, Aristóteles afirma que o
pensamento não é capaz, ele mesmo, de realizar uma ação, mas apenas o pensamento em vista de
algo (1139a 35-36), o que levanta o seguinte questionamento: se, de um lado, os apetites constituem
o desejo visado pelo acrático, que desejo constitui aspecto desiderativo da razão? Que tipo de desejo
a razão produz? O objetivo dessa apresentação é discorrer a respeito do conflito de motivos para
agir que caracteriza o agente acrático, além de entender o aspecto desiderativo da razão que motiva
o comportamento moralmente correto, contrário àquele característico da acrasia.
37. 35
Aspectos da Consciência e da Moral em Nietzsche e Dostoiévski
Gabriel Viviani Tagliacozzi (Universidade Federal de Uberlândia)
Orientação: Humberto Aparecido de Oliveira Guido
Debruçando-se sobre a obra Crime e Castigo de Fiódor Dostoiévski, identifica-se, através da
ideologia da personagem Raskólnikov, um estranhamento em relação à cultura realista francesa do
século XIX, que, com forte imposição filosófica e literária, abalou as estruturas da consciência e fez
com que o individuo russo tencionasse dialeticamente as influências culturais até então recebidas e
as tradições nascentes do povo eslavo. Com um afastamento social e uma introjeção completa
em si mesmo, Raskólnikov cria uma teoria que tem como base objetiva a tensão entre o que seriam
indivíduos ordinários e extraordinários, para com isso identificar quais tomadas de ação seriam
validas entre os mesmos, remetendo dessa forma a um questionamento moral sobre quem segue a
ordem imposta como escravo contrapondo quem infere, julga e cria as possíveis novas ordens
morais como senhores. Considerando Alexandre o Grande e Napoleão como extraordinários e o
rebanho popular como ordinário, Raskólnikov coloca sua teoria especulativa na prática. Negando o
imperativo categórico cristão do “não matarás”, o estudante de direito comete um crime para
afirmar em sua consciência particular que, após uma ação amoral em vista de um beneficio social
concreto, seria justificável romper qualquer imperativo categórico. Através da Genealogia da Moral
de Nietzsche, com seus apontamentos sobre as imposições morais do cristianismo, o filósofo aponta
para um enfraquecimento do homem e sua vontade de potência. Ao colocar a perspectiva
nietzschiana em contraste com a quebra moral feita por Raskólnikov, tanto no âmbito teórico quanto
prático, tem-se uma afirmação do ego individual e sua ideologia que rejeita qualquer imposição
ideológica externa. Entretanto, Raskólnikov retorna ao cristianismo por não aguentar o sentimento
de culpa em sua consciência, afirmando o retorno do individuo ao alicerce moral em que foi
instruído. Desse modo, tem-se como objetivo a relação direta entre Nietzsche e a obra de
Dostoiévski.
38. 36
Repensando a Memória Autobiográfica
Gabriel Zaccaro de Oliveira Freitas dos Reis (UFSM)
Orientação: César Schirmer dos Santos
A memória episódica é definida na literatura filosófica e psicológica sobre a memória como
uma representação perceptual de eventos do nosso passado. O conceito de memória autobiográfica,
no entanto, é um pouco mais controverso e possui diversas definições através da literatura. Diversos
autores defendem que o termo “memória autobiográfica” pode ser identificado com o termo
“memória episódica”, pois os episódios que experimentamos durante nossa vida seriam
responsáveis pela constituição de nossa autobiografia (BREWER, 1986; MCCARROLL, 2018;
TULVING, 1989). Contudo, também existem autores que consideram a memória autobiográfica
como uma categoria mais ampla de memória, que abarca tanto representações perceptuais quanto
conhecimentos proposicionais autobiográficos (CONWAY, 1996; STANILOIU; MARKOWITSCH;
BRAND, 2010). O que proponho neste trabalho é que o estudo do caso de um paciente amnésico, o
paciente K.C., pode nos mostrar uma nova maneira de definir as memórias autobiográficas,
diferenciando-as das memórias episódicas por meio do estudo do caráter fenomenológico de cada
memória no momento da evocação. Mais especificamente, argumento que existem razões
suficientes para dizer que memórias autobiográficas diferem substancialmente de memórias
episódicas, pois enquanto a memória episódica se apresenta como uma experiência subjetiva de
viagem no tempo mental com a necessidade da consciência autonoética, as memórias
autobiográficas não necessariamente, pois estas são constituídas por conhecimentos proposicionais
relativos ao self acompanhados pela consciência noética.
39. 37
O Papel da Mousiké na Formação n Modificação do Éthos Humano n’A República de Platão
Gabryella Couto Ferreira Pacheco (Universidade Federal de Uberlândia (UFU))
Orientação: Prof. Dr. Rubens Garcia Nunes Sobrinho
Através da leitura dos livros II, III, e IV da República de Platão, fica evidente a apresentação
e o desenvolvimento do projeto de uma paideia voltada exclusivamente para a cidade ideal
(kallipolis). Neste projeto, que leva em consideração a educação do corpo (soma) e da alma
(psykhé), a mousiké é indicada como um importante elemento para a formação, modificação e
constituição do éthos (caráter, comportamento) dos seres humanos. Em minha análise, mesmo que
esse termo grego denote e envolva vários assuntos, já que mousiké para Platão também pode estar
relacionada, por exemplo, aos discursos e aos mitos, atentar-me-ei a sua noção mais próxima do que
é entendido atualmente por “música”. Essa minha escolha se encontra fundamentada no fato de
Platão, n’A República, abordar o ritmo, a melodia e a harmonia como sendo meios essenciais para a
organização da pólis ideal, já que esses elementos podem provocar, na alma, um movimento
(kinesis) específico. Este afeta os seres humanos psicofisicamente, podendo ser benéfico ou
maléfico para a alma humana, isto é, consegue gerar ou conduzir a alma à virtude ou, em
contrapartida, pode corrompê-la levando-a ao mal. Mesmo delimitando a minha análise aos livros
supracitados, é válido ressaltar que a questão da mosuiké se faz presente em toda A República;
nota-se que ela finaliza esse diálogo com o mito da harmonia das esferas, reforçando ainda mais a
ideia de uma conexão entre as leis da música e a vida social e política da pólis. Entretanto, apesar
das diversas possibilidades de abordagem da música na filosofia platônica, deter-me-ei nos livros já
mencionados anteriormente, buscando compreender como a mousiké, sendo um elemento da
paideia, interage com o corpo humano e afeta sua psykhé, estando, assim, diretamente relacionada
com a teoria da tripartição da alma e contribuindo para a formação e modificação do éthos humano.
40. 38
A Interpretação Arendtiana do Ser
Gustavo Bemvenuto da Silva Pereira (UFSJ)
O presente trabalho tem por objetivo buscar um entendimento acerca do Ser na concepção
da pensadora alemã Hannah Arendt. Para tanto, faremos uma investigação de suas obras, tais como
A vida do Espírito (2000) e The Human Condition (1998), nas quais a autora parte de uma análise
das características básicas do Ser e empreende uma investigação sobre este no âmbito político, que
vai desde o período clássico até a modernidade. Tal análise nos fornece elementos para a
interpretação do Ser arendtiano. Trata-se de um Ser fenomênico, isto é, que aparece na esfera
pública, que se dá na pluralidade da vida política e se expressa por meio da ação e do discurso.
Depreende-se, portanto, que o Ser arendtiano é um Ser que se revela na superfície, perceptível a
todos os sentidos. Sujeito a um mundo fenomênico – este mundo que habitamos – e à vista disso,
possuidor de características que se alinham a tal mundo. Trata-se de um Ser que aparece, e mais que
isso, que “quer” aparecer, pois sua revelação aos outros seres mundanos é o que garante sua
existência no mundo, existência essa que, segundo a autora, só se dá no âmbito da pluralidade. Uma
pergunta recorrente na obra de Arendt é acerca da questão do “quem”. Esse quem que, por vezes, o
ser mais esconde do que revela. Arendt diz que ele não é revelado de maneira explícita e completa.
Tais definições gerais não nos permitem alcançar um entendimento de sua unicidade. Temos acesso
apenas a vislumbres desse agente [do Ser]. Essa incerteza sobre a “identidade’’ do “quem” se dá em
todos os âmbitos da ação humana em que o homem não dispõe de uma coisa física para estabelecer
ou fundamentar suas ações (ARENDT, 1998, p. 180). Nesse sentido, nunca podemos saber de
maneira peremptória “quem’’ alguém é.
41. 39
O Conceito de Masoquismo em Freud: O Conflito Edípico e a Moral
Helena Zoneti Rodrigues (UFSCar/CNPq)
Orientação: Ana Carolina Soliva Soria
A apresentação pretende situar o conceito de masoquismo de acordo com a perspectiva
psicanalítica freudiana, ao analisar os principais ensaios e obras que tratam do conceito, desde as
perversões analisadas por Freud no 1º ensaio sobre a Teoria da sexualidade (1905) até o ensaio O
problema econômico do masoquismo (1924); trata-se, portanto, de explanar o percurso do conceito
na perspectiva da Primeira Tópica e na Segunda Tópica. Ao redobrar seu olhar ao conceito de
masoquismo sob a pedra de toque na moral, com a nova teoria pulsional tratada no ensaio Além do
princípio de prazer (1920), observa-se que o conceito de masoquismo emerge semelhante a um
“mecanismo” pulsional que participa na elaboração de “uma culpa inconsciente e universal”, ou
necessidade de punição do comportamento neurótico intrínseca ao Complexo de Édipo, pertencente
ao Eu que extraí prazer de maneira masoquista destas punições do Supereu (o atuante sádico). Todo
este compêndio se mostrará necessário ao advento da cultura, senso ético individual e moral: “O
complexo de Édipo mostra assim ser - como já foi conjecturado num sentido histórico - a fonte de
nosso senso ético individual, de nossa moralidade” (FREUD, 1924, p. 99). Há, portanto, a
possibilidade de se pensar a culpa masoquista como marca da cultura e da civilização, e ainda, da
própria moral e “normatividade” (MONZANI, 2011, p. 246). Desse modo, a apresentação terá
como objetivo o percurso do conceito de masoquismo na psicanálise freudiana intentando o conflito
edípico.
42. 40
Freud, a Genialidade Ante a Negligência: O Homem dos Lobos.
Ian Abrahão (UFU)
O presente trabalho busca analisar (estritamente, sem levar em consideração o que se seguiu
do processo clínico inicial) o caso do Homem dos Lobos, redigido por Freud em 1915. O criador da
psicanálise identifica variedades de sintomas no paciente, ao qual se enquadrariam nas três grandes
estruturas do inconsciente: neurose, como o título da obra demonstra (“História de uma Neurose
Infantil”); psicose, como a seguinte citação indica: “Desse mesmo paciente (...), uma alucinação que
teve aos cinco anos de idade (...)”; e perversão, “(...) não restou dúvida de que estas tendências
passivas tinham aparecido ao mesmo tempo ou logo em seguidas das sádico-ativas.”), mas - falando
em vocabulário esquizoanalítico - insiste em neurotizá-lo, fazendo uso do modelo de triangulação
edipiana ao qual ainda estava desenvolvendo-se. Jacques Lacan, em seu décimo seminário
(1962-1963), menciona en passant que tal analisando seria, então, um “borderline” - diagnóstico
que ainda estava em processo de criação na época. Seguindo rumo a estudos psicanalíticos atuais,
como de Mauro Hegenberg (Borderline), o comentário filosófico feito por Deleuze e Guattari (Um
só ou vários lobos?) e também o aparato conceitual de O Anti-Édipo, buscaremos traçar um esboço
crítico da análise - já de caráter esboçal - de Freud; como o que fora identificado somente como
uma “neurose obsessiva” permite compreensões mais profundas acerca da subjetividade, bem como
um delineamento vitoriano de um perfil personalístico sistematizado apenas com o
desenvolvimento do neoliberalismo. Tendo em vista tal paralelo histórico, utilizaremos Foucault
(sobretudo a História da Sexualidade vol. 1) e Canguilhem (""O Normal e o Patológico"") para
compreensão do processo de formação epistêmico-político do tempo de Freud; bem como o Testo
Junkie de Preciado para o paralelo com a psicopatologia no neoliberalismo.
43. 41
O Estatuto Científico do Espaço na Filosofia Crítica de Kant
Islane Viana de Souza (UFG)
O objetivo principal desse trabalho é compreender a exposição do espaço, na filosofia crítica
de Kant, como demarcação científica da matemática e fundamentação dos juízos da geometria
euclidiana. Existem diferentes interpretações acerca da exposição do espaço na “Estética
Transcendental”. Esse fato pode ser percebido no tocante à sua originalidade, como é apontado por
Michel Fichant, em “Espaço estético e espaço geométrico em Kant” (FICHANT, 2000, P.12) ao se
referir à estética transcendental como o novo projeto kantiano que tem como fundamento seu estudo
ontológico. Mas também pode ser apreendido pela natureza dessa investigação, como é apresentada
por Gérard Lebrun, em “O papel do espaço na elaboração do pensamento kantiano” (LEBRUN,
2010), que leva ao questionamento se seria a exposição do espaço apresentada por Kant um estudo
filosófico ou uma investigação científica. Defendendo, assim, uma leitura epistemológica, proposta
na qual se baseia o presente trabalho. Sendo assim, é com base nessas hipóteses de leitura que se
chega ao questionamento norteador dessa pesquisa, o de saber se é possível defender que a
exposição kantiana de espaço tenha como resultado uma filosofia da ciência cuja função seja a
demarcação científica da matemática. Em resposta a essa questão, acredita-se que a teoria do espaço
de Kant não pertença unicamente ao campo filosófico, uma vez que a investigação encontra-se em
debate com a ciência da época, principalmente com as teorias espaciais de Leibniz e Newton, de
modo a realizar um estudo rigoroso sobre os métodos do conhecimento científico.
44. 42
John McDowell de Kant a Hegel
Iuri Slavov (CNPq)
Orientação: Michela Bordignon
A presente comunicação tem como objetivo mostrar como, no projeto filosófico de John
McDowell apresentado em Mente e Mundo (1994), se dá a passagem de uma abordagem kantiana
para uma hegeliana do problema da ligação entre mente e mundo. Ou seja, tendo em vista que a
preocupação central da filosofia mcdowelliana em geral é oferecer um cenário no qual estados
mentais acerca do mundo exterior são possíveis, mostraremos como uma abordagem kantiana desse
problema é, de início, necessária, mas somente uma abordagem hegeliana é suficiente. Para tanto,
iremos, (I) esboçar, em linhas gerais, como McDowell se apropria da filosofia kantiana para lidar
com os problemas do Mito do Dado e do Coerentismo nas primeiras conferências de Mente e
Mundo. Em seguida, (II) mostraremos como, para McDowell, apesar de Kant conseguir dar um
primeiro passo na dissolução de posições que impedem uma relação justificada entre mente e
mundo, ele, por fim, admite também um dado injustificado em sua filosofia, a saber, as “formas
puras da sensibilidade”. Por fim, (III) iremos indicar que um aperfeiçoamento da posição kantiana,
tal como McDowell a concebe, só pode ser efetuado através de uma passagem a uma determinada
abordagem hegeliana do problema, isto é, enquanto em Kant ainda restava algum dado
injustificado, em Hegel, por meio de uma concepção de que a razão se autodesenvolve livremente,
não há em nenhuma parte da experiência um dado injustificado, ao mesmo tempo que se deixa
aberta a possibilidade de que experienciemos o mundo exterior sem que este seja apenas uma
extensão do pensamento do indivíduo.
45. 43
Trabalho Alienado na Perspectiva de Marx e Engels
Jeane Carla Tavares e Silva (CAPES)
Orientação: Maria Socorro Ramos Militão
O tipo de trabalho desenvolvido pelo modo de produção capitalista foi objeto de análise dos
filósofos Karl Marx e Friedrich Engels, os quais, por meio de estudos aprofundados sobre as formas
de trabalhos existentes ao longo da história, apresentaram a concepção de trabalho alienado, como
específico do sistema capitalista. Em razão disso, a análise desta concepção exige um estudo
aprofundado sobre as diferentes concepções de trabalho existentes na história da civilização
ocidental, para que se possa compreender não apenas a concepção de trabalho marxiano, mas
também a de alienação do trabalho na sociedade burguesa. O objetivo desta apresentação é analisar
filosoficamente o conceito de alienação do trabalho capitalista e, para isso, é necessário entender a
contradição capital / trabalho e o seu impacto sobre a classe trabalhadora. Nesse sentido, a
comunicação partirá da consideração do trabalho como a mais verdadeira atividade humana, que se
desenvolve pela necessidade de suprir demandas básicas de sobrevivência humana, com o intuito de
compreender, no final, como surge a exploração capitalista, representada pela mais-valia, sobre a
classe trabalhadora e como ela pode ser solucionada. Assim, a análise do objeto de estudos proposto
se situa no campo da filosofia política e tem como método de pesquisa, o materialismo
histórico-dialético.
46. 44
Campos de Concentração: Uma Experiência da Superfluidade do Humano
Jhonatan Relher (Universidade Federal de São João del-Rei/PIDAC-Af)
Orientação: José Luiz de Oliveira
Hannah Arendt, enquanto pensadora atenta ao seu período histórico, propõe-se a analisar o
domínio total sob a ótica da novidade, devido à originalidade emergente do movimento totalitário.
Um dos elementos centrais do totalitarismo é a superfluidade do humano, isto é, quando o sujeito se
torna supérfluo. Esse conceito será traçado pela autora em duas circunstâncias que o perpassam: a
sociedade de massas atomizadas e os integrantes dos campos de concentração. Neste trabalho,
objetivamos examinar os elementos que contribuíram, segundo Arendt, para a origem e fundamento
da superfluidade do humano, especificamente a partir da experiência dos campos de concentração.
Para a pensadora alemã, os campos tornaram-se laboratórios que demonstram que no totalitarismo
tudo é possível. Alicerçado nessa realidade, o escopo do domínio total, como forma de governo, é
sucumbir à infinita pluralidade e diferenciação dos seres humanos, de modo que possibilite a
configuração de toda humanidade a apenas um indivíduo. Nesse sentido, Arendt salienta que,
embora não haja uma destruição física do homem, a psique pode ser destruída, pois tanto a psique
quanto o caráter e a individualidade, em algumas situações, podem manifestar-se somente pela
rapidez ou lentidão que se desintegram; resultando em homens inanimados e incompreendidos
psicologicamente. Evidencia-se, dessa maneira, que o totalitarismo opera por meio do risco
iminente de o ser humano, singular, irrepetível e com igualdade perante os outros, tornar-se
supérfluo. Em outras palavras, o risco de se tornar desarraigado do mundo e não ter raízes nele
significa, portanto, não o pertencer de forma alguma. Isso se dá especialmente quando grupos
populacionais são tratados com base em visões utilitárias de mundo, como os grupos de migrantes
que, sem lar e Estado, se tornavam apátridas sem direitos, portanto, o “refugo da terra” após a
Primeira Guerra Mundial.
47. 45
Antropofagia ou Ideia Fora de Lugar? O Marxismo de Álvaro Vieira Pinto sob Análise.
José Roberto Nogueira de Sousa Carvalho (Universidade de Brasília (UnB))
Orientação: Pedro Ergnaldo Gontijo
Álvaro Vieira Pinto, em "Por que os ricos não fazem greve?", desenvolveu, tomando
conceitos da tradição marxista, apontamentos acerca da luta de classes no Brasil. O autor em
questão utilizou de ideias geradas na Europa para descrever como a greve afeta a luta de classes no
contexto de um país em desenvolvimento, portanto, uma nação sobre o jugo e influência de poderes
hegemônicos internacionais. Diante disso, para o autor, é possível uma aliança momentânea entre a
burguesia nacional e o proletariado contra a burguesia internacional. Perante o exposto, repousa o
questionamento sobre a apropriação de Vieira Pinto ser um caso de "ideia fora de lugar",
contraditórias e alheias às suas condições materiais de origem, como se depreende dos escritos de
Roberto Schwarz, ou, um caso de "antropofagia", logo, uma incorporação bem sucedida de
qualidades estrangeiras, nos termos de Oswald de Andrade. O ponto crucial culmina na ponderação
da aplicação de conceitos estrangeiros na realidade brasileira, podendo ser bem sucedida ou
naturalmente falha, tendo, como caso específico de análise, as teses de Vieira Pinto sobre a prática
da luta de classes e suas possíveis alianças. Analisado conforme a proposta de qualificar ideias
filosóficas nacionais enquanto “ideias fora de lugar” ou casos de “antropofagia”, conclui-se que
Vieira Pinto, portanto, é um exemplo de êxito da adaptação brasileira da tradição filosófica, afinal,
não faz uso de uma apropriação irrefletida de conceitos estrangeiros e busca, logo, sua
aplicabilidade ao contexto nacional.
48. 46
O Ser em Aristóteles: Aspectos da Essência Sensível
Laís Araújo Lino (UFSJ)
Orientação: Luiz Paulo Rouanet
O objetivo desse trabalho consiste em investigar acerca do Ser em Aristóteles; em particular,
busca compreender como o movimento propicia a existência de uma multiplicidade de Ser.
Possuímos a essência sensível, sendo essa essência a única suscetível à mudança por intermédio dos
contrários (Met. Ʌ, 1069b3). Segundo Aristóteles, o que existe, existe por sequência, então a
essência é o que existe em primeiro, sendo assim, ele a classifica em três: a sensível, a material, e a
que diz respeito às coisas da natureza. A essência sensível se modifica pelos contrários, que mudam
de uma coisa para outra, não sendo a coisa que muda em si, ou seja, o que muda é a matéria uma
vez que “todas as coisas que sofrem mudanças têm matéria” (Met. Ʌ 1069b7). O movimento
também permite a passagem da forma para a sua existência efetiva, a matéria muda em direção à
forma, e não ao contrário. Mas destacamos aqui que essa passagem realizada através do movimento
diz respeito ao pensamento, pois, no que diz respeito aos seres humanos, somente seres humanos
podem realizar essa mudança (Met. Ʌ 1070b30). E destacamos também que é universal os seres
humanos serem a causa de outros seres humanos, mas os seres humanos em si não são universais.
(Met. Ʌ 1071a17).
49. 47
Immanuel Kant e Christine Korsgaard: Interpretações Possíveis dos Deveres Imperfeitos em
Relação aos Animais Não Humanos
Laís Oliveira Rios (Universidade Federal de Uberlândia)
Orientação: Prof. Dr. Marcos César Seneda
Na Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Immanuel Kant propõe a formulação e a
distinção entre deveres considerados como diretos ou perfeitos e aqueles considerados deveres
indiretos ou imperfeitos. Os primeiros são os deveres que temos com os seres humanos, ou seja,
seres considerados racionais e os segundos são aqueles que, segundo Kant, temos com os animais
não humanos, considerados como coisas que compõe a natureza. Por exemplo, segundo a
perspectiva dos deveres imperfeitos, os animais não humanos devem por certo ser levados em
consideração ao pensar ações, porém não moralmente, por sua finalidade em si mesmos ou pela
possibilidade de dano a eles, mas por serem propriedades de seres humanos e, consequentemente,
pelo possível prejuízo acarretado ao seu proprietário. Entretanto, tal posição é questionada por
diversos autores da literatura em ética animal, inclusive por kantianos, como a filósofa Christine
Korsgaard, cujo posicionamento será também ponto de referência para a execução deste trabalho.
Diferentemente de Kant, Korsgaard defende o critério da senciência como suficiente para que os
seres humanos possuam deveres diretos em relação aos animais, que passam a ser considerados
como fins em si mesmos. Ainda que esta posição desafie o critério de reciprocidade e outros
conceitos centrais da ética de Kant, Korsgaard, como outros filósofos que se propõem a pensar a
relação entre humanos e animais não humanos a partir de conceitos kantianos, contribuem para
desenvolver maior clareza conceitual sobre a teoria ética de Kant. Logo, o objetivo deste trabalho é
explicitar os conceitos kantianos de deveres perfeitos e imperfeitos, explicitar as contraposições
propostas a essa teoria por Korsgaard e analisar a teoria moral formulada pela filósofa para a
compreensão da moralidade presente na relação entre humanos e animais não humanos.
50. 48
O Sertão é do tamanho do mundo: o Grande Sertão: Veredas enquanto uma Tragédia
Sertaneja
Lucca Fernandes Barroso (UFU/CNPq)
Orientação: Humberto Aparecido Oliveira Guido
Aristóteles, em sua obra Poética, sistematizou algo que era comum da ambiência grega: as
tragédias. O filósofo elencou quais são os elementos que constituem a obra trágica; a análise
aristotélica interessa-se pela forma, pela estrutura formal, pela organização interna da tragédia. Uma
Tragédia compõe-se de seis qualidades, quais sejam: caráter, pensamento, elocução, espetáculo
cênico, melopéia e mito, sendo este último o elemento fundamental da Tragédia, uma vez que a
obra trágica, em sua definição, é mímesis de ações e de vida, de felicidade e infelicidade que reside
nas ações; além de que é a partir do mito, ou seja, da trama de ações, que se resulta o efeito da
Tragédia: a catarse. Deste modo, certamente Aristóteles preocupava-se também com a finalidade da
obra trágica, já que a sistematização elaborada por ele tem em vista indicar quais são os elementos
que uma obra trágica deve conter para atingir sua finalidade, isto é, o efeito catártico. Assim sendo,
trabalhando com Filosofia e Literatura, o objetivo deste trabalho se faz em uma tentativa de analisar
a obra Grande Sertão: Veredas a partir de uma perspectiva trágico-aristotélica. Partindo das
considerações e conceituações realizadas por Riobaldo em seu relato presente no romance, no qual
narra as suas ações ao longo da travessia pelas veredas do grande sertão e, amparando-nos na obra
Poética, procuraremos elucidar as seguintes questões: a possibilidade de um romance escrito no
século XX ter um caráter trágico, pois, ainda que não haja mais as condições históricas que
permitiram o florescimento da Tragédia, consideramos que há certas características trágicas que
ultrapassam os limites temporais e culturais da pólis grega; e, por fim, indicaremos quais são os
elementos constitutivos do romance Grande Sertão: Veredas que o permitem ser lido a partir de um
topos trágico.
51. 49
Da Instrumentalização da Vida à Violência de Estado: A Produção da Vida Matável à Luz da
Biopolítica
Marcelo Henrique de Souza Carvalho (Universidade Federal do Maranhão)
Orientação: Luis Hernán Uribe Miranda
O presente trabalho tem como objetivo compreender, a partir do pensamento de Michel
Foucault, a dinâmica através da qual a vida reduzida a sua condição de mero ser vivente se insere
no interior dos cálculos estratégicos do poder na modernidade, ressaltando a violência intrínseca
derivada desse movimento de instrumentalização da vida pela gestão política estatal, como também
o papel central do racismo nesse processo. Ou seja, propõe-se analisar o paradoxo estrutural
decorrente da administração planificada da vida que empreende a regulação das suas forças vitais,
com a pretensão de assegurar sua subsistência, submetendo-a a mecanismos de poder cada vez mais
violentos, que decidem qual vida deve viver e qual vida pode morrer. Para isso, pretende-se
apresentar a compreensão foucaultiana do conceito de biopolítica. Essa noção foi formulada pelo
autor com intuito de evidenciar a constituição de uma nova modalidade de exercício do poder nas
sociedades modernas. Caracterizada pelo processo de “estatização do biológico”, a biopolítica se
refere à proliferação de técnicas de gestão políticas que tomam como objeto central de seus cálculos
a instância da vida enquanto espécie. Foucault situa as técnicas biopolíticas nas ramificadas táticas
de regulação estatais, identificando-as como uma prática positiva sobre uma multiplicidade de
corpos, isto é, são estratégias de administração que tem por objetivo promover e majorar a vida de
uma população. Contudo, destaca o filósofo, essa economia do poder comporta uma função
assassina, atualizada pelo racismo. Essa tecnologia é responsável por distribuir a morte e a potência
criminosa do poder no regime biopolítico. Portanto, a instrumentalização da vida é atravessada por
uma ambiguidade, ela é intrinsecamente formada por um poder assassino, que está subordinado à
necessidade de defender a vida, justificado pelo funcionamento do racismo, de modo que o cuidado
com a vida não cessa a violência soberana nos dispositivos de governo.
52. 50
O Caso Eichmann Mediante aos Conceitos de DisrupçãoSimpatética e A-Simpatia
Mariane Rezende Cardoso (Universidade Federal de São João Del Rei - UFSJ)
Orientação: Profª. Dra. Nara Lúcia de Melo Lemos Rela
Nosso propósito nesse trabalho é analisar os conceitos de DisrupçãoSimpatética e
A-simpatia, os quais foram fundamentados pela Filosofia do Comportamento Econômico, a partir
da obra de Adam Smith, a saber: A teoria dos sentimentos morais (1999). À vista disso, tomaremos
como referencial a análise da figura de Adolf Eichmann, um oficial do regime nazista que era
responsável pela deportação de judeus para campos de extermínio. Posteriormente, Eichmann
começa a ser perseguido e foge para a Argentina. Nessa circunstância, foi capturado e levado a
Jerusalém para ser julgado. Surpreendentemente, o que se via no tribunal era um indivíduo que,
mesmo cometendo tamanhas monstruosidades, possuía um comportamento comedido e
descarregado de convicções ideológicas. Posto isso, vale ressaltar que diversos intelectuais tecem
importantes considerações sobre o caso, dentre eles, a pensadora alemã Hannah Arendt, importante
expoente da Filosofia Política Contemporânea. A função de Eichmann durante o regime nazista era
o de autorizar a deportação dos judeus para a execução em massa destes. Analisando suas ações,
cumpridas de forma burocrática, era como se ele tivesse cortado os “fios” que permitissem a
existência de qualquer vínculo emocional e ético com os judeus condenados. Uma forma de
“disrupçãosimpatética”. Por outro lado, Eichman, em seu julgamento, não se sentia culpado pelo
crime que era acusado, pois afirmava que estava simplesmente cumprindo ordens. Como
consequência da disrupçãosimpatética, o nazista se eximia de qualquer reflexão ética sobre os atos
que cometia, ou seja, era através da a-simpatia que sua função burocrática era cumprida. Os
conceitos de disrupçãosimpatética e a-simpatia introduzidos pela Filosofia do Comportamento
Econômico, ampliam o conceito de simpatia de Adam Smith para explicar algumas ações em que o
rompimento do vínculo emocional e/ou ético é utilizado como instrumento para a ausência de
reflexão.
53. 51
Análise do Argumento Evidencial pelo Mal Contra a Existência de Deus de William L. Rowe
(1979)
Mateus Henriques Patrício (CNPQ)
Orientação: Alcino Eduardo Bonella
O teísmo tradicional está comprometido com existência de um Deus todo bom, onipotente e
onisciente. No século XX, filósofos (as) da religião formularam argumentos com o objetivo de
provar que o teísmo clássico seria inconsistente, pois poderia ser desaprovado a partir de crenças
internas do próprio teísmo. Algumas dessas tentativas mais promissoras foram os argumentos
lógicos pelo mal contra a existência de Deus, os quais defendiam que a existência do mal (admitido
pelos teístas) acarretava, logicamente, na inexistência de Deus. William L. Rowe, em 1979,
apresentou um argumento contra a crença no Deus teísta a partir do mal que se difere dos
argumentos lógicos até então disponíveis. Ao invés de argumentar que Deus e o mal são
logicamente incompatíveis, Rowe defendeu que dada a existência de alguns males no mundo, a
crença em Deus torna-se mais improvável. Em linhas gerais, o argumento procede da seguinte
forma: Deus, caso exista, só permite a existência dos males que ou levariam a um bem maior ou
evitariam um mal tão ruim quanto ou pior. Todavia, há boas razões para pensar que alguns males
que se conhece não são de tal tipo. Como consequência, é racionalmente fundamentado a crença na
inexistência divina em luz da existência variada e difundida de alguns males. A apresentação
proposta tem o objetivo de realizar uma análise desse argumento: suas premissas são verdadeiras?
Quão forte é o argumento? Quais alternativas o teísta pode tomar?