1. O aluno com Dislexia
São cada vez mais os casos de pais que acorrem até mim para fazer uma avaliação
compreensiva de dislexia do seu filho(a).
Chegam a maior parte das vezes com o coração demasiado apertado dizendo que já não
sabem mais o que fazer. É o acompanhamento dos trabalhos de casa por eles mesmos, são as
explicações, são os apoios escolares e nada parece resultar.
- "O meu filho não aprende como os outros. Tem imensas dificuldades na leitura e a escrita... é
só erros!
Estas perguntas antes de serem feitas pelos pais ou pelos professores já há muito habitam na
cabecinha da criança. Ela é a primeira a constatar que é diferente dos seus pares, ela é a
primeira a perguntar-se: "Se os meus amigos conseguem ler e escrever corretamente, porque
é que eu não sou capaz?"
É a partir desta constatação sofrida que a autoestima do aluno começa a baixar
significativamente ao ponto de se julgar "burro", menos capaz, menos inteligente... Tudo
"menos".
Confirmado o diagnóstico de dislexia urge desmistificar o termo junto dos pais e sobretudo
junto do aluno. Ser disléxico nada tem a ver com inteligência, aliás estes alunos apresentam
um Q.I. igual ou superior ao esperado para a sua faixa etária.
Quando lhes digo isto, eles suspiram sempre "quase" de alívio, como se uma tonelada de
problemas se esbatesse ali mesmo! Digo-lhes, ainda, que a nossa "missão" para além de uma
reeducação especializada é descobrir a sua área forte (normalmente, ligada às artes, música,
desporto...). E eles ficam muito surpreendidos pela possibilidade de descobrir essa "tal área
forte"! E de facto esta "descoberta" é muito importante, será uma forma de eles recuperarem a
sua autoestima, o seu autoconceito e de voltarem a gostar de ir à escola.
O diagnóstico, a desmistificação, a reeducação nos processos da leitura e da escrita acrescida
à descoberta e otimização da área forte de cada um, diz-me a experiência, são fatores-chave
para ultrapassar o sofrimento solitário e silencioso de que estas crianças e jovens são "vítimas"
durante muitos anos, quando não diagnosticadas.
O aluno com dislexia devidamente intervencionado pode fazer tudo o que os outros fazem, com
o dobro do esforço é certo, mas com a firmeza na crença de que nada o impede
intelectualmente.
Estes alunos devem ser referenciados nas escolas pelos pais ou professores ou técnicos de
saúde, terapeutas... o mais precocemente possível, para que seja elaborado um relatório
técnico-pedagógico para poderem usufruir de algumas medidas educativas consagradas no
Decreto-Lei 3/2008, nomeadamente: apoio personalizado (fundamental); adequações no
processo de avaliação (não cotação dos erros tipo, por exemplo, a leitura dos enunciados,
provas escritas mais curtas e frequentes...) e em última estância dependendo caso a caso, as
adequações curriculares. Estas medidas farão parte do programa educativo individual do aluno
e protegê-lo-ão legalmente, incluindo nos exames nacionais.