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SOARES, Doris de Almeida. O perfil on-line como gênero em um curso a distância.
XV Congresso da ASSEL-Rio (UFRJ), p.1-16. 2009. ISBN 9788587043863
Publicação em CD-ROM.


     O PERFIL ON-LINE COMO GÊNERO EM UM CURSO A DISTÂNCIA
                                  SOARES, DORIS DE A. (Escola Naval/ PUC-Rio)

INTRODUÇÃO


          Nos ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs), é comum a existência
de mecanismos para que os participantes possam se conhecer a distância,
visando ações de comprometimento entre o grupo. No ambiente Teleduc, por
exemplo, essa ferramenta é chamada de perfil e permite que cada participante
escreva um texto sobre si mesmo, acompanhado de uma foto digital, modelo
3x4. Este texto fica disponível para todos os membros daquele curso, bastando
clicar no nome do participante escolhido, em qualquer área do ambiente para
acessá-lo.
          Como se apresentar por escrito de maneira informal em um AVA é uma
prática social recente, nossa proposta é investigar esse tipo de produção
discursiva como um gênero emergente.
          Embasamos essa proposta em Marcuschi (2005, p.14), que aponta três
aspectos que tornam a análise de gêneros emergentes relevantes. Primeiro,
esses estão em franco desenvolvimento e seu uso é cada vez mais
generalizado. Segundo, eles possuem peculiaridades formais, embora possam
ter contraparte em gêneros já estabelecidos. Por últimos, eles oferecem a
possibilidades de se rever e repensar a nossa relação com a oralidade e a
escrita.
          Portanto, buscando definir parâmetros para a caracterização do perfil
como um gênero discursivo emergente, realizamos uma análise macro textual
dos movimentos realizados em dezoito perfis produzidos em curso de curta
duração oferecido totalmente on-line e de modo assíncrono. A noção de gênero
com a qual trabalhamos e os resultados de nossa pesquisa são o foco deste
artigo.
2. GÊNEROS DO DISCURSO: DEFINIÇÃO

        Por mais de um século, a noção de gênero esteve fortemente associada
aos estudos de textos escritos que são a) primariamente literários, b)
inteiramente definidos por regularidades textuais na forma e conteúdo, c) fixos
e imutáveis, e d) classificáveis de forma organizada em categorias e
subcategorias mutuamente exclusivas (JOHNS, 2002, p. 3).
        Contudo, segundo Freedman e Medway (1994, p.1), o termo gênero
também está relacionado ao reconhecimento das regularidades nos discursos,
a partir de um entendimento social e cultural da linguagem em uso. Assim, a
partir das décadas de 70-80, o termo passou a ser utilizado para designar uma
área de estudo cujo interesse é analisar a forma e a função do discurso não-
literário,   bem   como   servir     de   ferramenta   para   desenvolver    práticas
educacionais nos campos da retórica, estudos composicionais, escrita em
contexto profissional, lingüística, e inglês para fins específicos (HYON, 1996, p.
693). Nesta nova conceituação de gênero, as características (a-d), tidas como
tradicionais, abrem espaço para abarcar as noções de contexto, conteúdo,
papéis dos leitores/falantes e escritores/ouvintes, valores da comunidade,
propósito comunicativo, entre outros (JOHNS, 2002, p.3). Deste modo, gênero
passa a ser um termo que se refere às respostas complexas dadas pelos
falantes às demandas do contexto social, sendo que estas podem ser orais ou
escritas.
        Se pensarmos essas respostas a partir do conceito Bakhtiniano de que
todo dizer é uma réplica e não se constitui fora daquilo que chamamos hoje de
memória      discursiva, verificamos      que, para    produzi-las,    recorremos   a
experiências sócio-retóricas anteriores nas quais a linguagem verbal foi
necessária para realizar algo. Conseqüentemente, todos nós costumamos tirar
as palavras de outros enunciados (BAKHTIN, 1979/2003, p. 300) e, nesse
processo,      reconhecemos        similaridades   entre   situações     e   padrões
organizacionais recorrentes, ou seja, o que podemos chamar de gêneros
discursivos.
        Os gêneros são fundamentais para a comunicação humana, pois nos
ajudam a realizar o que queremos dizer/escrever em dada situação, não só em
termos de conteúdo léxico-gramatical, mas, acima de tudo, levando em conta a
adequação do discurso ao interlocutor, ao contexto e ao propósito da
comunicação (MOTTA ROTH, 2006, p.180).
      Nesta linha de pensamento, Swales (1990, p.58) define gênero como
uma

                          classe de eventos comunicativos cujos exemplares partilham os
                      mesmos propósitos comunicativos. Estes propósitos são
                      reconhecidos pelos membros experientes da comunidade e são a
                      razão do gênero. Esta razão modela as estruturas esquemáticas do
                      discurso e influencia e restringe as escolhas com relação ao estilo e
                      conteúdo (..). Além disso, exemplares de um gênero exibem vários
                      padrões de similaridade em termos de estrutura, estilo, conteúdo e
                      público-alvo. Se as expectativas probabilísticas se realizam em uma
                      alta proporção, o exemplar será visto como prototípico do gênero
                      pela comunidade discursiva.


      Neste aspecto, parece haver um ponto de contato entre esta visão de
gênero e aquela apresentada por Martin e White (2005, p.32). Para estes
autores, gêneros são a) processos sociais, pois participamos nos gêneros com
outros interlocutores, b) orientados para um objetivo, pois os usamos para fazer
coisas, e c) realizados em estágios, pois é necessário seguirmos alguns
passos para alcançarmos nosso objetivo comunicativo. Por conseguinte, a
natureza de um texto sempre dependerá do contexto de situação e das
diferentes escolhas lingüísticas que os falantes exercem levando em conta com
quem se fala (a relação), em qual contexto (o campo), e por qual meio (o
modo).
      Contudo, vale ressaltar que, por serem “atividades culturalmente
pertinentes, mediadas pela linguagem” (MOTTA ROTH, 2006, p. 181), os
gêneros estão sujeitos a sofrer um processo que Bakhtin (1979/2003) chama
de transmutação, pois, na medida em que novas práticas sociais surgem,
alguns gêneros primários saem de sua esfera de origem para outras,
materializando-se na escrita.
      Baseando-nos no senso comum, é possível imaginar que, antes da
invenção da escrita, as pessoas já falavam sobre si. Pode-se então concluir
que as apresentações pessoais por escrito seriam gêneros secundários, saídos
da esfera oral para a esfera escrita e, mais recentemente, para o meio digital.
Para corroborar esta visão, cito a idéia de Marcuschi (2005, p.13) de que os
gêneros produzidos no contexto digital, ou gêneros emergentes, em sua
maioria, têm similares em outros ambientes, tanto na oralidade quanto na
escrita. Contudo, as características específicas do meio e o propósito da
comunicação trazem novas possibilidades e restrições para a organização
dessa produção, o que pode torná-la peculiar.
      Portanto é interessante tentar traçar um paralelo entre o discurso
apresentado em forma de perfil, candidato a gênero emergente, e outros
gêneros bem estabelecidos, como a carta.


3. ASPECTOS EM COMUM ENTRE O PERFIL E A CARTA



      O (supra)gênero carta é definido por Paredes Silva (1997, p. 121) como
“uma unidade comunicativa” onde há a “concretização das estruturas de
informação sob uma organização típica, para uso em contextos específicos”.
Este gênero está em circulação desde os primórdios das civilizações e, para
Bazerman (2006, p.83),


                     (...) com sua comunicação direta entre dois indivíduos dentro de uma
                     relação específica em circunstâncias específicas (...) parece ser um
                     meio flexível no qual muitas das funções, relações e práticas
                     institucionais podem se desenvolver - tornado novos usos
                     socialmente inteligíveis, enquanto permite que a forma de
                     comunicação caminhe em novas direções.


      Em linhas gerais, a carta é uma unidade funcional utilizada em contextos
onde haja a ausência de contato imediato entre emissor e destinatário. Apesar
de esta apresentar determinadas marcas tais como cabeçalho/data, assinatura,
e expressões para a saudação, fechamento e despedida, o seu corpo permite
uma diversidade de tipos textuais, conteúdos e propósitos comunicativos
(PAREDES SILVA, 1997, p. 121). Deste modo, podemos ter uma tipologia
descritiva em uma carta promocional que anuncia um novo produto, ou uma
tipologia narrativa em uma carta pessoal. Há também a possibilidade de uma
mesma carta abrigar mais de uma tipologia, dependo dos propósitos
comunicativos e intenção do emissário.
No caso do perfil, ao buscarmos em que situações se faz necessária
uma apresentação em primeira pessoa do singular por meio de uma descrição,
dois contextos com propósitos comunicativos um pouco diferentes emergem: a
carta de apresentação formal que acompanha o Currículo Vitae e a carta de
apresentação informal trocada entre estudantes de idiomas em países
diferentes, através de programas do tipo penpal, ou penfriend.
      Com relação às cartas de apresentação formal que acompanha um
currículo, Bhatia (1993; 2004) afirma que estas pertencem a esfera do discurso
promocional e são persuasivas por natureza, pois “almejam obter do leitor uma
dada resposta, neste caso uma convite para uma entrevista de emprego”
(BHATIA, 1993, p.145). Por conseguinte, o propósito comunicativo, as escolhas
léxico-gramaticais e os movimentos realizados têm por objetivo descrever e
avaliar, de modo positivo, o autor da carta.
      Da mesma forma, o propósito do perfil é fornecer uma auto-descrição de
modo a persuadir os outros membros do grupo a interagirem mais diretamente
com o autor, ou pelo menos, aceitarem as suas futuras contribuições no curso
como válidas e pertinentes. Desta forma, o autor negocia o seu acesso à
comunidade discursiva na qual ele pretende ser aceito.
      Visto por este ângulo, há realmente um propósito comunicativo em
comum em ambos os gêneros. Contudo, a informalidade e a não-
competitividade do contexto de produção do perfil faz com que o discurso não
precise ser necessariamente pontuado por um alto grau de adjetivação positiva
para que os sujeitos sejam apreciados. Neste aspecto, o caráter informativo do
perfil se aproxima do das cartas de apresentação informal entre penfriends.
      Segundo o site http://www.ehow.com/how_13423_write-first-letter.html,
que oferece esse serviço, é recomendado que o escritor a) seja amistoso e
educado, b) partilhe informações sobre si mesmo que ele ache interessantes
para os outros, c) diga quem é e o que faz, incluindo informações sobre idade,
educação e carreira, d) mencione seus hobbies favoritos, animais de
estimação, ou qualquer coisa que evoque um interesse partilhado com seu
novo amigo, e) evite tópicos controversos, f) não sobrecarregue o leitor com
muita informação, revelando-se aos pouco, f) faça perguntas que os outros
possam responder, e g) deixe sua personalidade mostrar-se pela escolha das
palavras e das descrições que usar.
      É interessante notar que este guia oferece pistas ao autor sobre com
atingir seu propósito comunicativo, ou seja, estabelecer laços amistosos com o
destinatário e persuadi-lo a levar a interação à diante, mantendo a
correspondência. Assim, é mencionada qual deve ser a escolha do tom do
texto (a) e o que é, ou não, apropriado realizar neste contexto de situação (b-
g).
      Não obstante, assim como na carta de apresentação, o contexto de
produção da carta ao penfriend não é exatamente o mesmo do perfil que
iremos analisar neste estudo, pois enquanto o primeiro envolve membros de
culturas diferentes interagindo em um idioma que, muitas vezes não é o seu, e
com um propósito de propiciar uma prática lingüística, no segundo
encontramos sujeitos que partilham o mesmo contexto cultural, ou seja, são
todos brasileiros, envolvidos com diversas áreas da educação, e que desejam
construir conhecimentos novos a partir das interações no AVA.


4. QUESTÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS


      Segundo recomendação de Berkenkotter e Huckin (1995, p. 2), os
gêneros devem ser estudados nos seus contextos sociais de uso real, cabendo
ao analista prestar atenção às formas pelas quais os usuários manipulam os
gêneros para propósitos retóricos particulares. Portanto, a proposta deste
trabalho, que se encontra na sua fase inicial, é responder a seguinte questão:


                      Em que medida o discurso produzido em forma de perfil tem
                      características que tornam possível descrevê-lo como um gênero
                      emergente derivado do (supra) gênero carta?


      Para buscar responder a esta indagação, iniciamos o estudo pelo
arcabouço apresentado por Swales (1990), que sugere que a análise deve
definir categorias (movimentos) que reflitam os propósitos comunicativos no
texto. Segundo Upton e Connor (2001, p. 317), as formas prototípicas dos
gêneros podem ser geradas e estudadas a partir da análise dos movimentos,
definidos como unidades semântico-funcionais de textos que podem ser
identificáveis a partir de seus propósitos comunicativos e de suas fronteiras
lingüísticas. Assim, “estes movimentos descrevem as funções (ou intenções
comunicativas) que porções particulares do texto realizam em relação à tarefa
como um todo” (UPTON E CONNOR, 2001, p. 317).
      Porém, vale lembrar que os propósitos comunicativos não devem ser
tomados como “um método imediato ou rápido para separar discursos em
categorias genéricas”, mas sim como “resultados analíticos valiosos a longo
prazo” (SWALES, 2004, p. 72), pois “muitos textos ou transcrições podem não
estar fazendo aquilo que parecem, ou aquilo que tradicionalmente assumimos
que estejam fazendo” (SWALES, 2004, p. 73), daí a necessidade de revisitar o
termo “propósito comunicativo” para abarcar não somente a análise textual
(estrutura, estilo, conteúdo e propósito), mas o contexto de produção e quem o
produz.
      Levando em conta a complexidade da análise sugerida por Swales
(2004) e a pequena extensão deste artigo, por ora, concentraremos nossa
análise na identificação da existência, ou não, de marcas típicas do gênero
carta pessoal de apresentação (cabeçalho, saudação, fecho, despedida,
assinatura).
      Porém, antes de iniciarmos uma análise propriamente dita dos gêneros
virtuais, Marcuschi (2005, p.26) recomenda que devemos observar os
ambientes, ou entornos virtuais, em que esses gêneros se situam.
      No caso do perfil, esclarecemos que a sua criação é feita clicando-se no
nome do aluno, disponibilizado em uma lista no AVA, pois esse é um hyperlink
para a tela onde aparecem a) uma caixa de texto na qual o perfil será digitado,
b) o espaço para uma foto 3 x 4, e c) as instruções para que o autor fale um
pouco sobre o seu trabalho, sua família, seus amigos, lugares interessantes, e
o que gosta de fazer.
      Vale ressaltar que este espaço disponibiliza um editor de texto muito
rudimentar, pois não permite alteração tipológica de nenhuma espécie (negrito,
sublinhado, itálico, cores, tamanho e tipo de fonte). Estas alterações poderiam
ser utilizadas como recursos expressivos multimodais pelo autor para
personalizar o seu texto. A foto, recurso nem sempre usado pelo autor, é um
suporte visual que ajuda os participantes a terem uma imagem mais concreta
do interlocutor, especialmente na hora de estabelecer as interações dentro do
curso, pois a abordagem é centrada no aluno.


5. ANÁLISE DOS DADOS


      Para este artigo, analisamos dezoito perfis, sendo quatorze escritos por
mulheres (77,8%) e quatro por homens (22,2%), matriculados em um curso a
distância online de 60 horas de duração. Os participantes têm entre 21 a 62
anos, sendo que a maioria está na faixa entre 30-40 anos e é composta de
pós-graduados.


5.1 A Carta de apresentação pessoal e o perfil: elementos em comum


      Iniciamos esta subseção com uma descrição dos elementos textuais
típicos do (supra)gênero carta pessoal, a saber: cabeçalho/data, saudação
(vocativo), fecho, despedida, assinatura, e a sua presença nos perfis aqui
estudados.
      Sabemos que a função do cabeçalho é estabelecer a data e a cidade
onde o autor se encontra no momento da escrita. No caso do perfil, estas
informações se fazem conhecidas por outros meios. A data aparece assim que
o perfil é preenchido e o local de onde se escreve será, ou não, revelado no
corpo do texto, pois, apesar de este ser um dado pedido nas instruções para o
preenchimento do perfil, fica a cargo do autor seguir a sugestão ou não.
      O uso da saudação nas cartas é elemento obrigatório e é feito em linha
destacada, acima do corpo do texto. Sua função retórica é iniciar um diálogo
com o leitor, pois ao mesmo tempo em que define quem é o destinatário, serve
de cumprimento àquele que lê, iniciando assim um turno que se encerra ao fim
da carta. Geralmente, encontramos termos como caro sr. ou prezada sra. como
saudações mais formais e querido (filho, Pedro), meu (amor, netinho), olá,
(Maria) como saudações informais. No corpus aqui estudado onze (61.2%)
escritores optaram por abrir o perfil com um cumprimento ao leitor, sendo que
esta ocorrência só foi observada nos perfis escritos por mulheres. Nenhum
homem fez uso de saudação alguma, iniciando seu texto diretamente pelo
nome (perfis 3, 8, 9) ou data de nascimento (perfil 5).
        As fórmulas usadas são, na verdade, aquelas mais comuns no contexto
oral, oscilando entre um maior distanciamento entre interlocutores, como em
“olá, colegas!”1 (perfil 13) e maior proximidade como em “Olá meninos e
meninas” (perfil 1); “Olá pessoal,” (perfis 2, 18); “Olá!” (perfis 7, 10, 14); “Olá,”
(perfis 4,11); “Oi, pessoal!” (perfil 12); “ Oi Gente!” (perfil 6); “Oi!” (perfil 17).
Vale à pena notar que “Olá Pessoal,” (perfil 18); “Oi, pessoal!” (perfil 12) e
“Olá!” (perfil 7) se encontram na primeira linha do corpo do texto e que o
primeiro exemplar tem uso de maiúscula em “pessoal”. Desta forma, o uso
destas saudações não está de acordo com as regras formais de uma carta.
        Outro ponto é a escolha entre “oi” ou “olá”, seguidos por ponto de
exclamação. Como nenhuma escolha lingüística é gratuita, percebe-se a
saudação “olá” como menos intimista do que “oi”. Contudo, esta se torna mais
enfática e alegre ao ser seguida por um ponto de exclamação, nos remetendo
a uma situação de interação oral. Estas formas ajudam a estabelecer o tom
informal do texto. Quando não há a saudação, esse estabelecimento de um
vínculo com o leitor-alvo parece não ser tão explícito.
        Outros dois elementos ajudam a criar este vínculo. São eles o fecho e a
despedida. O fecho tem como função retórica sinalizar para o leitor que o
enunciado está chegando ao fim e a despedida sinaliza a partida do
enunciador. No fecho, nas cartas informais, o enunciador pode expressar que
não há nada mais a ser dito por ele em várias expressões tais como “bem, é
isso”, ou “já escrevi de mais”, além de expressar seu desejo de ter uma
resposta em breve usando “escreva logo, tá” ou “mande notícias”, por exemplo.
Para se despedir, pode usar expressões como um abraço, que é mais distante,
ou beijos, que é mais próximo.
        No caso dos perfis, o fecho foi realizado em apenas seis (33,4 %) deles,
sendo que a metade foi realizada por homens. Considerando que na amostra
1
 Nas transcrições apresentadas, mantivemos o uso de maiúsculas e pontuação conforme aparecem nos
exemplares em análise.
temos quatro exemplares produzidos por membros do sexo masculino, é
interessante notar que 75% utilizaram este recurso, enquanto que somente
14,2% das mulheres usaram o fecho nos seus perfis. Com relação a estes seis
perfis, o movimento fecho + despedida foi encontrado na metade deles. Na
verdade, só o perfil 1 apresentou ambos saudação e fecho, sendo este
realizado por uma mulher.
           O fechamento foi realizado de formas diversas. No caso de “Acredito
que é isso pessoal,” (perfil 1), o enunciador complementa o fechamento falando
de suas expectativas com relação a interação no curso, usando o pronomes
“nós” (possessivo de 1ª pessoal do plural) e “juntos’, demonstrando, assim,
estar consciente da sua inserção ativa em uma comunidade colaborativa de
aprendizagem. Observe:

                  Acredito que é isso pessoal, espero que juntos possamos trocar e receber
           informações que servirão de alicerce para a construção e ampliação de nossos
           conhecimentos (perfil 1).


           Além disso, encontramos a despedida “um forte abraço a todos” que
reitera a observação de que há leitores múltiplos (todos), não tão íntimos,
endereçados pelo enunciador.
           Outro perfil onde este reconhecimento de leitores múltiplos ocorre é no
perfil 8, onde o fecho diz: “Bom, estou a vossa disposição e meu MSN é
xxxxx”2.
           O uso de vossa seria de causar estranheza, pois é um pronome muito
formal, se no próprio texto o enunciador não dissesse que mora no Brasil há
poucos anos. Apesar de a sua nacionalidade não ser revelada por ele,
podemos inferir que talvez se trate de um falante de português europeu, pois
neste o uso de tu e vós é mais comum do que no português brasileiro. Mesmo
utilizando uma forma que não é comum no discurso informal, fica clara a sua
intenção de se mostrar como alguém aberto a se corresponder com outros
membros do grupo. Este fecho é seguido pela despedida “abraço a todos”,
mostrando novamente que ele tem interlocutores múltiplos em mente.


2
    Endereço omitido propositadamente por nós para preservar a identidade do autor do perfil.
O perfil 9 também segue o movimento fecho + despedida para leitores
múltiplos, usando o fecho como arremate do enunciado. Ele diz: “Bem,
basicamente é isso” e se despede com “Saudações a todos”. No caso,
“saudações” é um termo mais encontrado em contextos formais e pode
funcionar tanto como vocativo quanto despedida e, portanto, distancia o leitor
do enunciador.
      A noção clara de interlocutor não aparece no perfil 5, que usa o
fechamento como uma conclusão, sendo esta a última linha do texto. Ele diz:
“Bem, acredito que as informações acima ajudaram meus colegas a terem uma
noção ainda que parca de mim”. O uso de “meus colegas” ao invés de “vocês”,
por exemplo, passa a impressão de que ele não tomou os colegas como
leitores-alvo do seu texto e nem se inseriu no grupo, criando um maior
distanciamento.
      No caso do perfil 18 (“Acho que é só...”), o uso de reticências sinaliza
hesitação, e no perfil 16 (“E acho que é isso!”) a exclamação sinaliza que o
enunciador é enfático quanto a sua colocação. Em ambos os casos não há
despedia.
      Com relação ao movimento despedida, além dos três já destacados, ele
também ocorre nos perfis 3 (“Um abraço e um bom curso a todos!”) e 14
(“Abraço a todos. Um bom curso para todos nós”), onde não houve nem
saudações nem fechos, e no perfil 6 (“Um abraço e bom curso!”), onde só
houve a saudação. No cômputo geral, notamos que três despedidas foram
realizadas por mulheres e duas por homens, sendo que a escolha léxico-
gramatical de todos foi muito similar: enviar abraços e votos de bom curso. Isto
talvez sinalize que os participantes tenham lido os perfis dos colegas antes de
escreverem seus próprios, buscando descobrir como os outros membros da
comunidade estavam realizando essa tarefa comunicativa.
      Com relação a esta percepção, observamos que estes perfis foram
preenchidos na seguinte ordem:
DATA                  PERFIL      DESPEDIDA
     04/04/2008 16:13:23   perfil 8    Abraço para todos
     07/04/2008 07:11:47   perfil 3    Um abraço e um bom curso a todos!
     08/04/2008 18:24:15   perfil 14   Abraço a todos. Um bom curso para todos nós.
     11/04/2008 13:02:18   perfil 6    Um abraço e bom curso!
     04/05/2008 17:36:13   perfil 1    Um forte abraço a todos
                                  Tabela 1: despedidas


Nota-se que o primeiro perfil só apresenta na despedida abraço, já o segundo
expande esta e deseja bom curso. O terceiro segue a mesma tônica, mas
organiza a enunciação em dois períodos simples. O quarto e o quinto
apresentam o movimento inverso, encurtando a informação apresentada,
sendo que o perfil 6 ainda mantém os votos enquanto o último, escrito um mês
após o início do curso, retoma a forma do primeiro perfil preenchido.
       Destaco ainda que os perfis 3 e 14 apresentam o pronome “todos”,
indicando a consciência de leitores múltiplos. O enunciador do perfil 14 vai
além e se insere no grupo usando nós. O reforço dos votos é realizado nos
perfis 3 e 6 por meio do ponto de exclamação.
      A assinatura na carta formal é feita uma linha abaixo do fim do corpo do
texto e serve para ratificar quem é o autor do texto. No caso dos perfis, este foi
o elemento menos utilizado, sendo identificado em apenas quatro exemplares,
todos escritos por mulheres, nas seguintes combinações:


                      Perfil 1: saudação/ fecho/ despedida/assinatura
                      Perfil 6: saudação/despedida/ assinatura
                      Perfil 10: saudação/assinatura
                      Perfil14: saudação/ despedida/assinatura


      Apesar de seu uso pouco expressivo, nota-se que em todos os casos,
quem optou por assinar fez uso de uma saudação. Porém, na maioria dos
exemplares onde houve saudação, a assinatura não se faz presente.


5.2 Considerações gerais sobre a análise


      Os exemplares analisados neste trabalho parecem indicar que não há
um consenso por parte dos usuários sobre como o perfil deve ser apresentado
no que concerne os elementos de abertura e fecho, daí a presença das
diferentes combinações dos movimentos obrigatórios no gênero carta, que foi o
parâmetro para esta análise. Isto pode se dever ao fato de o perfil escrito em
um AVA, como prática social, ser uma forma discursiva recente onde as
comunidades que fazem uso dele ainda estão buscando nos gêneros mais bem
estabelecidos, como a carta de apresentação e, possivelmente, nas
apresentações orais informais, uma forma de realizar os seus propósitos
comunicativos. O resultado é um texto que pode conter estes em maior ou
menor escala, conforme ilustra a tabela 2.


                  Número do PERFIL                   Elementos do gênero carta
                             1                            Todos os 4
                            6, 14                          3 dos 4
                          3, 8, 10                         2 dos 4
         2, 4, 5, 7, 9, 11, 12, 13, 15, 16, 17, 18         1 dos 4




       Tabela 2: presença das aberturas, despedidas, fechos e assinaturas nos perfis


      Também é observável nas amostras uma flexibilidade com relação à
apresentação formal, especialmente no que concernem as regras de
pontuação e paragrafação. Notamos em alguns exemplares a falta de ponto
final nos enunciados aqui destacados (perfis1, 8, 10), o uso de letra maiúscula
de forma não usual (perfil 15) e a saudação junto ao corpo do texto (perfis
7,12, 15), o que pode indicar que neste gênero não há uma preocupação em
demonstrar um domínio formal da língua materna para que o sujeito seja
apreciado pela comunidade a qual deseja pertencer.
      Destacamos ainda o fato de todas as saudações observadas terem sido
escritas por mulheres, o que é um dado interessante, e que, no nosso
entender, talvez tenha algum tipo de relação com a natureza mais emocional
da mulher. Também é interessante o fato de que, apesar de os homens não
fazerem uso das saudações, a maioria faz uso de fechamento, enquanto as
mulheres não. Estas evidências podem ser melhor analisadas se relacionadas
aos estudos do discurso ligados à questão da representação da voz masculina/
feminina, e a representação do self, o que é inviável neste pequeno artigo.


6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E ENCAMINHAMENTOS FUTUROS


      A análise ora apresentada representa, apenas, a fase inicial da tentativa
de caracteriza o perfil como gênero. Destacamos que, segundo o modelo de
Swales (1990), identificar os propósitos comunicativos e os movimentos
retóricos realizados não é o suficiente para a determinação de um gênero. Há
também de se cuidar das realizações léxico-gramaticais típicas destes
movimentos, pois, dentro da visão de gênero aqui apresentada, estas escolhas
estão diretamente ligadas ao sucesso ou fracasso do exemplar em atender as
expectativas da comunidade discursiva, do contexto de produção e dos seus
propósitos comunicativos.
      Deixamos registrado, porém, que a próxima fase de análise já se
encontra em andamento, tendo por objetivo observar os movimentos retóricos
em cada um dos exemplares bem como as ocorrências léxico-gramaticais
recorrentes.
      Contudo, devido ao escopo deste artigo, as considerações acerca de os
demais aspectos observados serão alvo de escritas futuras.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAKHTIN, M. (1979). Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes,
2003.

BERKENKOTTER, C; HUCKIN, T. Suffer the little children: learning the
curriculum genres of school and university. In: Berkenkotter, C; Huckin,T.:
Genre knowledge in disciplinary communication: cognition/culture/power.
Hillsdale, N.J.: Lawrence Erlbaum, 1995. p.151-163.

BHATIA, V.K. Description to explanation in English for professional
communication-application of genre analysis. In: Boswood, T., Hoffman, R. and
Tung, P., (eds.) Perspectives on English for professional communication, City
Polytechnic of Hong Kong: Hong Kong, 1993. p.133-157.
BHATIA, V.K. Worlds of written discourse: a genre-based view.            London:
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CAMPOS, F. C. A.; SANTORO, F. M.; BORGES, M. R. S.; SANTOS, N.
Cooperação e aprendizagem online. Rio de Janeiro: DPeA Editora, 2003.

FREEDMAN, A.; MEADWAY, P. Locating Genre Studies: Antecedents and
Prospects. In: FREEDMAN, A.; MEADWAY, P.(eds). Genre and the New
Rhetoric. London: Taylor & Francis, 1994. p.1-22.

HYON, S. Genre in three traditions: implications for ESL. TESOL Quarterly, 30:
4, p. 693-722, 1996.
JOHNS, A. M. Introduction: Genre in the classroom. In: JOHNS, A. M. (ed).
Genre in the classroom: Multiple Perspectives. Mahawah, N.J: Lawrence
Erlbaum, 2002. p. 3-13.

JONÁSSON, J. On-line distance education - a feasible choice in teacher
education in Iceland? M. Phil. thesis, University of Strathclyde, 2001. Disponível
em http://starfsfolk.khi.is/jonj/en/skrif/mphil/thesis.pdf e acessado em 20 de
junho de 2009.

MAINGUENEAU, Dominique. Termos-chave da análise do discurso. Trad.
Márcio Venício Barbosa e Maria Emília Amarante Torres Lima. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 1998.

MARCUSCHI, L. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia
digital. In: MARCUSCHI, L A.; XAVIER, A. C. (orgs.) Hipertexto e gêneros
digitais. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

MARTIN, J. R.; WHITE, P. R. R. The Language of Evaluation: Appraisal in
English. London: Palgrave, 2005.

MOTTA-ROTH, D. Questões metodológicas em análise de gêneros. In:
Karwoski, A.M; Gaydeczka, B; Britto, K.S (orgs) Gêneros textuais:reflexões e
ensino, 2ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006. p.179-202.

PAREDES SILVA,V. L. P. Variações tipológicas no gênero textual carta. In:
KOCH, I. V.; BARROS, K. S. M. de (orgs.) Tópicos em lingüística de texto e
análise de conversação. Natal: EDUFRN,1997. p.118-124.

SWALES, J. M. Genre Analysis: English in Academic and Research Settings.
Cambridge: CUP, 1990.

SWALES, J. M. Research genres: exploration and applications. Cambridge:
CUP, 2004.
UPTON, T. A.; CONNOR, U. Using computerized corpus analysis to investigate
the linguistic discourse moves of a genre. English for Specific Purposes. 20:4,
p. 313-329, 2001.

Sobre a autora
Doris de Almeida Soares é Doutora em Estudos da Linguagem (PUC-Rio) e
Professora Assistente de Língua Inglesa no Centro de Ciências Sociais da
Escola Naval, onde também atua no curso de inglês on-line oferecido por essa
instituição. Com Mestrado em Interdisciplinar de Lingüística Aplicada (UFRJ), é
autora do livro Produção e Revisão Textual: Um guia para professores de
português e de língua estrangeira (Ed. Vozes, 2009). É também pesquisadora
externa do Projeto LingNet.

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O perfil online como gênero em um curso a distância

  • 1. SOARES, Doris de Almeida. O perfil on-line como gênero em um curso a distância. XV Congresso da ASSEL-Rio (UFRJ), p.1-16. 2009. ISBN 9788587043863 Publicação em CD-ROM. O PERFIL ON-LINE COMO GÊNERO EM UM CURSO A DISTÂNCIA SOARES, DORIS DE A. (Escola Naval/ PUC-Rio) INTRODUÇÃO Nos ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs), é comum a existência de mecanismos para que os participantes possam se conhecer a distância, visando ações de comprometimento entre o grupo. No ambiente Teleduc, por exemplo, essa ferramenta é chamada de perfil e permite que cada participante escreva um texto sobre si mesmo, acompanhado de uma foto digital, modelo 3x4. Este texto fica disponível para todos os membros daquele curso, bastando clicar no nome do participante escolhido, em qualquer área do ambiente para acessá-lo. Como se apresentar por escrito de maneira informal em um AVA é uma prática social recente, nossa proposta é investigar esse tipo de produção discursiva como um gênero emergente. Embasamos essa proposta em Marcuschi (2005, p.14), que aponta três aspectos que tornam a análise de gêneros emergentes relevantes. Primeiro, esses estão em franco desenvolvimento e seu uso é cada vez mais generalizado. Segundo, eles possuem peculiaridades formais, embora possam ter contraparte em gêneros já estabelecidos. Por últimos, eles oferecem a possibilidades de se rever e repensar a nossa relação com a oralidade e a escrita. Portanto, buscando definir parâmetros para a caracterização do perfil como um gênero discursivo emergente, realizamos uma análise macro textual dos movimentos realizados em dezoito perfis produzidos em curso de curta duração oferecido totalmente on-line e de modo assíncrono. A noção de gênero com a qual trabalhamos e os resultados de nossa pesquisa são o foco deste artigo.
  • 2. 2. GÊNEROS DO DISCURSO: DEFINIÇÃO Por mais de um século, a noção de gênero esteve fortemente associada aos estudos de textos escritos que são a) primariamente literários, b) inteiramente definidos por regularidades textuais na forma e conteúdo, c) fixos e imutáveis, e d) classificáveis de forma organizada em categorias e subcategorias mutuamente exclusivas (JOHNS, 2002, p. 3). Contudo, segundo Freedman e Medway (1994, p.1), o termo gênero também está relacionado ao reconhecimento das regularidades nos discursos, a partir de um entendimento social e cultural da linguagem em uso. Assim, a partir das décadas de 70-80, o termo passou a ser utilizado para designar uma área de estudo cujo interesse é analisar a forma e a função do discurso não- literário, bem como servir de ferramenta para desenvolver práticas educacionais nos campos da retórica, estudos composicionais, escrita em contexto profissional, lingüística, e inglês para fins específicos (HYON, 1996, p. 693). Nesta nova conceituação de gênero, as características (a-d), tidas como tradicionais, abrem espaço para abarcar as noções de contexto, conteúdo, papéis dos leitores/falantes e escritores/ouvintes, valores da comunidade, propósito comunicativo, entre outros (JOHNS, 2002, p.3). Deste modo, gênero passa a ser um termo que se refere às respostas complexas dadas pelos falantes às demandas do contexto social, sendo que estas podem ser orais ou escritas. Se pensarmos essas respostas a partir do conceito Bakhtiniano de que todo dizer é uma réplica e não se constitui fora daquilo que chamamos hoje de memória discursiva, verificamos que, para produzi-las, recorremos a experiências sócio-retóricas anteriores nas quais a linguagem verbal foi necessária para realizar algo. Conseqüentemente, todos nós costumamos tirar as palavras de outros enunciados (BAKHTIN, 1979/2003, p. 300) e, nesse processo, reconhecemos similaridades entre situações e padrões organizacionais recorrentes, ou seja, o que podemos chamar de gêneros discursivos. Os gêneros são fundamentais para a comunicação humana, pois nos ajudam a realizar o que queremos dizer/escrever em dada situação, não só em
  • 3. termos de conteúdo léxico-gramatical, mas, acima de tudo, levando em conta a adequação do discurso ao interlocutor, ao contexto e ao propósito da comunicação (MOTTA ROTH, 2006, p.180). Nesta linha de pensamento, Swales (1990, p.58) define gênero como uma classe de eventos comunicativos cujos exemplares partilham os mesmos propósitos comunicativos. Estes propósitos são reconhecidos pelos membros experientes da comunidade e são a razão do gênero. Esta razão modela as estruturas esquemáticas do discurso e influencia e restringe as escolhas com relação ao estilo e conteúdo (..). Além disso, exemplares de um gênero exibem vários padrões de similaridade em termos de estrutura, estilo, conteúdo e público-alvo. Se as expectativas probabilísticas se realizam em uma alta proporção, o exemplar será visto como prototípico do gênero pela comunidade discursiva. Neste aspecto, parece haver um ponto de contato entre esta visão de gênero e aquela apresentada por Martin e White (2005, p.32). Para estes autores, gêneros são a) processos sociais, pois participamos nos gêneros com outros interlocutores, b) orientados para um objetivo, pois os usamos para fazer coisas, e c) realizados em estágios, pois é necessário seguirmos alguns passos para alcançarmos nosso objetivo comunicativo. Por conseguinte, a natureza de um texto sempre dependerá do contexto de situação e das diferentes escolhas lingüísticas que os falantes exercem levando em conta com quem se fala (a relação), em qual contexto (o campo), e por qual meio (o modo). Contudo, vale ressaltar que, por serem “atividades culturalmente pertinentes, mediadas pela linguagem” (MOTTA ROTH, 2006, p. 181), os gêneros estão sujeitos a sofrer um processo que Bakhtin (1979/2003) chama de transmutação, pois, na medida em que novas práticas sociais surgem, alguns gêneros primários saem de sua esfera de origem para outras, materializando-se na escrita. Baseando-nos no senso comum, é possível imaginar que, antes da invenção da escrita, as pessoas já falavam sobre si. Pode-se então concluir que as apresentações pessoais por escrito seriam gêneros secundários, saídos da esfera oral para a esfera escrita e, mais recentemente, para o meio digital.
  • 4. Para corroborar esta visão, cito a idéia de Marcuschi (2005, p.13) de que os gêneros produzidos no contexto digital, ou gêneros emergentes, em sua maioria, têm similares em outros ambientes, tanto na oralidade quanto na escrita. Contudo, as características específicas do meio e o propósito da comunicação trazem novas possibilidades e restrições para a organização dessa produção, o que pode torná-la peculiar. Portanto é interessante tentar traçar um paralelo entre o discurso apresentado em forma de perfil, candidato a gênero emergente, e outros gêneros bem estabelecidos, como a carta. 3. ASPECTOS EM COMUM ENTRE O PERFIL E A CARTA O (supra)gênero carta é definido por Paredes Silva (1997, p. 121) como “uma unidade comunicativa” onde há a “concretização das estruturas de informação sob uma organização típica, para uso em contextos específicos”. Este gênero está em circulação desde os primórdios das civilizações e, para Bazerman (2006, p.83), (...) com sua comunicação direta entre dois indivíduos dentro de uma relação específica em circunstâncias específicas (...) parece ser um meio flexível no qual muitas das funções, relações e práticas institucionais podem se desenvolver - tornado novos usos socialmente inteligíveis, enquanto permite que a forma de comunicação caminhe em novas direções. Em linhas gerais, a carta é uma unidade funcional utilizada em contextos onde haja a ausência de contato imediato entre emissor e destinatário. Apesar de esta apresentar determinadas marcas tais como cabeçalho/data, assinatura, e expressões para a saudação, fechamento e despedida, o seu corpo permite uma diversidade de tipos textuais, conteúdos e propósitos comunicativos (PAREDES SILVA, 1997, p. 121). Deste modo, podemos ter uma tipologia descritiva em uma carta promocional que anuncia um novo produto, ou uma tipologia narrativa em uma carta pessoal. Há também a possibilidade de uma mesma carta abrigar mais de uma tipologia, dependo dos propósitos comunicativos e intenção do emissário.
  • 5. No caso do perfil, ao buscarmos em que situações se faz necessária uma apresentação em primeira pessoa do singular por meio de uma descrição, dois contextos com propósitos comunicativos um pouco diferentes emergem: a carta de apresentação formal que acompanha o Currículo Vitae e a carta de apresentação informal trocada entre estudantes de idiomas em países diferentes, através de programas do tipo penpal, ou penfriend. Com relação às cartas de apresentação formal que acompanha um currículo, Bhatia (1993; 2004) afirma que estas pertencem a esfera do discurso promocional e são persuasivas por natureza, pois “almejam obter do leitor uma dada resposta, neste caso uma convite para uma entrevista de emprego” (BHATIA, 1993, p.145). Por conseguinte, o propósito comunicativo, as escolhas léxico-gramaticais e os movimentos realizados têm por objetivo descrever e avaliar, de modo positivo, o autor da carta. Da mesma forma, o propósito do perfil é fornecer uma auto-descrição de modo a persuadir os outros membros do grupo a interagirem mais diretamente com o autor, ou pelo menos, aceitarem as suas futuras contribuições no curso como válidas e pertinentes. Desta forma, o autor negocia o seu acesso à comunidade discursiva na qual ele pretende ser aceito. Visto por este ângulo, há realmente um propósito comunicativo em comum em ambos os gêneros. Contudo, a informalidade e a não- competitividade do contexto de produção do perfil faz com que o discurso não precise ser necessariamente pontuado por um alto grau de adjetivação positiva para que os sujeitos sejam apreciados. Neste aspecto, o caráter informativo do perfil se aproxima do das cartas de apresentação informal entre penfriends. Segundo o site http://www.ehow.com/how_13423_write-first-letter.html, que oferece esse serviço, é recomendado que o escritor a) seja amistoso e educado, b) partilhe informações sobre si mesmo que ele ache interessantes para os outros, c) diga quem é e o que faz, incluindo informações sobre idade, educação e carreira, d) mencione seus hobbies favoritos, animais de estimação, ou qualquer coisa que evoque um interesse partilhado com seu novo amigo, e) evite tópicos controversos, f) não sobrecarregue o leitor com muita informação, revelando-se aos pouco, f) faça perguntas que os outros
  • 6. possam responder, e g) deixe sua personalidade mostrar-se pela escolha das palavras e das descrições que usar. É interessante notar que este guia oferece pistas ao autor sobre com atingir seu propósito comunicativo, ou seja, estabelecer laços amistosos com o destinatário e persuadi-lo a levar a interação à diante, mantendo a correspondência. Assim, é mencionada qual deve ser a escolha do tom do texto (a) e o que é, ou não, apropriado realizar neste contexto de situação (b- g). Não obstante, assim como na carta de apresentação, o contexto de produção da carta ao penfriend não é exatamente o mesmo do perfil que iremos analisar neste estudo, pois enquanto o primeiro envolve membros de culturas diferentes interagindo em um idioma que, muitas vezes não é o seu, e com um propósito de propiciar uma prática lingüística, no segundo encontramos sujeitos que partilham o mesmo contexto cultural, ou seja, são todos brasileiros, envolvidos com diversas áreas da educação, e que desejam construir conhecimentos novos a partir das interações no AVA. 4. QUESTÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS Segundo recomendação de Berkenkotter e Huckin (1995, p. 2), os gêneros devem ser estudados nos seus contextos sociais de uso real, cabendo ao analista prestar atenção às formas pelas quais os usuários manipulam os gêneros para propósitos retóricos particulares. Portanto, a proposta deste trabalho, que se encontra na sua fase inicial, é responder a seguinte questão: Em que medida o discurso produzido em forma de perfil tem características que tornam possível descrevê-lo como um gênero emergente derivado do (supra) gênero carta? Para buscar responder a esta indagação, iniciamos o estudo pelo arcabouço apresentado por Swales (1990), que sugere que a análise deve definir categorias (movimentos) que reflitam os propósitos comunicativos no texto. Segundo Upton e Connor (2001, p. 317), as formas prototípicas dos gêneros podem ser geradas e estudadas a partir da análise dos movimentos,
  • 7. definidos como unidades semântico-funcionais de textos que podem ser identificáveis a partir de seus propósitos comunicativos e de suas fronteiras lingüísticas. Assim, “estes movimentos descrevem as funções (ou intenções comunicativas) que porções particulares do texto realizam em relação à tarefa como um todo” (UPTON E CONNOR, 2001, p. 317). Porém, vale lembrar que os propósitos comunicativos não devem ser tomados como “um método imediato ou rápido para separar discursos em categorias genéricas”, mas sim como “resultados analíticos valiosos a longo prazo” (SWALES, 2004, p. 72), pois “muitos textos ou transcrições podem não estar fazendo aquilo que parecem, ou aquilo que tradicionalmente assumimos que estejam fazendo” (SWALES, 2004, p. 73), daí a necessidade de revisitar o termo “propósito comunicativo” para abarcar não somente a análise textual (estrutura, estilo, conteúdo e propósito), mas o contexto de produção e quem o produz. Levando em conta a complexidade da análise sugerida por Swales (2004) e a pequena extensão deste artigo, por ora, concentraremos nossa análise na identificação da existência, ou não, de marcas típicas do gênero carta pessoal de apresentação (cabeçalho, saudação, fecho, despedida, assinatura). Porém, antes de iniciarmos uma análise propriamente dita dos gêneros virtuais, Marcuschi (2005, p.26) recomenda que devemos observar os ambientes, ou entornos virtuais, em que esses gêneros se situam. No caso do perfil, esclarecemos que a sua criação é feita clicando-se no nome do aluno, disponibilizado em uma lista no AVA, pois esse é um hyperlink para a tela onde aparecem a) uma caixa de texto na qual o perfil será digitado, b) o espaço para uma foto 3 x 4, e c) as instruções para que o autor fale um pouco sobre o seu trabalho, sua família, seus amigos, lugares interessantes, e o que gosta de fazer. Vale ressaltar que este espaço disponibiliza um editor de texto muito rudimentar, pois não permite alteração tipológica de nenhuma espécie (negrito, sublinhado, itálico, cores, tamanho e tipo de fonte). Estas alterações poderiam ser utilizadas como recursos expressivos multimodais pelo autor para
  • 8. personalizar o seu texto. A foto, recurso nem sempre usado pelo autor, é um suporte visual que ajuda os participantes a terem uma imagem mais concreta do interlocutor, especialmente na hora de estabelecer as interações dentro do curso, pois a abordagem é centrada no aluno. 5. ANÁLISE DOS DADOS Para este artigo, analisamos dezoito perfis, sendo quatorze escritos por mulheres (77,8%) e quatro por homens (22,2%), matriculados em um curso a distância online de 60 horas de duração. Os participantes têm entre 21 a 62 anos, sendo que a maioria está na faixa entre 30-40 anos e é composta de pós-graduados. 5.1 A Carta de apresentação pessoal e o perfil: elementos em comum Iniciamos esta subseção com uma descrição dos elementos textuais típicos do (supra)gênero carta pessoal, a saber: cabeçalho/data, saudação (vocativo), fecho, despedida, assinatura, e a sua presença nos perfis aqui estudados. Sabemos que a função do cabeçalho é estabelecer a data e a cidade onde o autor se encontra no momento da escrita. No caso do perfil, estas informações se fazem conhecidas por outros meios. A data aparece assim que o perfil é preenchido e o local de onde se escreve será, ou não, revelado no corpo do texto, pois, apesar de este ser um dado pedido nas instruções para o preenchimento do perfil, fica a cargo do autor seguir a sugestão ou não. O uso da saudação nas cartas é elemento obrigatório e é feito em linha destacada, acima do corpo do texto. Sua função retórica é iniciar um diálogo com o leitor, pois ao mesmo tempo em que define quem é o destinatário, serve de cumprimento àquele que lê, iniciando assim um turno que se encerra ao fim da carta. Geralmente, encontramos termos como caro sr. ou prezada sra. como saudações mais formais e querido (filho, Pedro), meu (amor, netinho), olá, (Maria) como saudações informais. No corpus aqui estudado onze (61.2%)
  • 9. escritores optaram por abrir o perfil com um cumprimento ao leitor, sendo que esta ocorrência só foi observada nos perfis escritos por mulheres. Nenhum homem fez uso de saudação alguma, iniciando seu texto diretamente pelo nome (perfis 3, 8, 9) ou data de nascimento (perfil 5). As fórmulas usadas são, na verdade, aquelas mais comuns no contexto oral, oscilando entre um maior distanciamento entre interlocutores, como em “olá, colegas!”1 (perfil 13) e maior proximidade como em “Olá meninos e meninas” (perfil 1); “Olá pessoal,” (perfis 2, 18); “Olá!” (perfis 7, 10, 14); “Olá,” (perfis 4,11); “Oi, pessoal!” (perfil 12); “ Oi Gente!” (perfil 6); “Oi!” (perfil 17). Vale à pena notar que “Olá Pessoal,” (perfil 18); “Oi, pessoal!” (perfil 12) e “Olá!” (perfil 7) se encontram na primeira linha do corpo do texto e que o primeiro exemplar tem uso de maiúscula em “pessoal”. Desta forma, o uso destas saudações não está de acordo com as regras formais de uma carta. Outro ponto é a escolha entre “oi” ou “olá”, seguidos por ponto de exclamação. Como nenhuma escolha lingüística é gratuita, percebe-se a saudação “olá” como menos intimista do que “oi”. Contudo, esta se torna mais enfática e alegre ao ser seguida por um ponto de exclamação, nos remetendo a uma situação de interação oral. Estas formas ajudam a estabelecer o tom informal do texto. Quando não há a saudação, esse estabelecimento de um vínculo com o leitor-alvo parece não ser tão explícito. Outros dois elementos ajudam a criar este vínculo. São eles o fecho e a despedida. O fecho tem como função retórica sinalizar para o leitor que o enunciado está chegando ao fim e a despedida sinaliza a partida do enunciador. No fecho, nas cartas informais, o enunciador pode expressar que não há nada mais a ser dito por ele em várias expressões tais como “bem, é isso”, ou “já escrevi de mais”, além de expressar seu desejo de ter uma resposta em breve usando “escreva logo, tá” ou “mande notícias”, por exemplo. Para se despedir, pode usar expressões como um abraço, que é mais distante, ou beijos, que é mais próximo. No caso dos perfis, o fecho foi realizado em apenas seis (33,4 %) deles, sendo que a metade foi realizada por homens. Considerando que na amostra 1 Nas transcrições apresentadas, mantivemos o uso de maiúsculas e pontuação conforme aparecem nos exemplares em análise.
  • 10. temos quatro exemplares produzidos por membros do sexo masculino, é interessante notar que 75% utilizaram este recurso, enquanto que somente 14,2% das mulheres usaram o fecho nos seus perfis. Com relação a estes seis perfis, o movimento fecho + despedida foi encontrado na metade deles. Na verdade, só o perfil 1 apresentou ambos saudação e fecho, sendo este realizado por uma mulher. O fechamento foi realizado de formas diversas. No caso de “Acredito que é isso pessoal,” (perfil 1), o enunciador complementa o fechamento falando de suas expectativas com relação a interação no curso, usando o pronomes “nós” (possessivo de 1ª pessoal do plural) e “juntos’, demonstrando, assim, estar consciente da sua inserção ativa em uma comunidade colaborativa de aprendizagem. Observe: Acredito que é isso pessoal, espero que juntos possamos trocar e receber informações que servirão de alicerce para a construção e ampliação de nossos conhecimentos (perfil 1). Além disso, encontramos a despedida “um forte abraço a todos” que reitera a observação de que há leitores múltiplos (todos), não tão íntimos, endereçados pelo enunciador. Outro perfil onde este reconhecimento de leitores múltiplos ocorre é no perfil 8, onde o fecho diz: “Bom, estou a vossa disposição e meu MSN é xxxxx”2. O uso de vossa seria de causar estranheza, pois é um pronome muito formal, se no próprio texto o enunciador não dissesse que mora no Brasil há poucos anos. Apesar de a sua nacionalidade não ser revelada por ele, podemos inferir que talvez se trate de um falante de português europeu, pois neste o uso de tu e vós é mais comum do que no português brasileiro. Mesmo utilizando uma forma que não é comum no discurso informal, fica clara a sua intenção de se mostrar como alguém aberto a se corresponder com outros membros do grupo. Este fecho é seguido pela despedida “abraço a todos”, mostrando novamente que ele tem interlocutores múltiplos em mente. 2 Endereço omitido propositadamente por nós para preservar a identidade do autor do perfil.
  • 11. O perfil 9 também segue o movimento fecho + despedida para leitores múltiplos, usando o fecho como arremate do enunciado. Ele diz: “Bem, basicamente é isso” e se despede com “Saudações a todos”. No caso, “saudações” é um termo mais encontrado em contextos formais e pode funcionar tanto como vocativo quanto despedida e, portanto, distancia o leitor do enunciador. A noção clara de interlocutor não aparece no perfil 5, que usa o fechamento como uma conclusão, sendo esta a última linha do texto. Ele diz: “Bem, acredito que as informações acima ajudaram meus colegas a terem uma noção ainda que parca de mim”. O uso de “meus colegas” ao invés de “vocês”, por exemplo, passa a impressão de que ele não tomou os colegas como leitores-alvo do seu texto e nem se inseriu no grupo, criando um maior distanciamento. No caso do perfil 18 (“Acho que é só...”), o uso de reticências sinaliza hesitação, e no perfil 16 (“E acho que é isso!”) a exclamação sinaliza que o enunciador é enfático quanto a sua colocação. Em ambos os casos não há despedia. Com relação ao movimento despedida, além dos três já destacados, ele também ocorre nos perfis 3 (“Um abraço e um bom curso a todos!”) e 14 (“Abraço a todos. Um bom curso para todos nós”), onde não houve nem saudações nem fechos, e no perfil 6 (“Um abraço e bom curso!”), onde só houve a saudação. No cômputo geral, notamos que três despedidas foram realizadas por mulheres e duas por homens, sendo que a escolha léxico- gramatical de todos foi muito similar: enviar abraços e votos de bom curso. Isto talvez sinalize que os participantes tenham lido os perfis dos colegas antes de escreverem seus próprios, buscando descobrir como os outros membros da comunidade estavam realizando essa tarefa comunicativa. Com relação a esta percepção, observamos que estes perfis foram preenchidos na seguinte ordem:
  • 12. DATA PERFIL DESPEDIDA 04/04/2008 16:13:23 perfil 8 Abraço para todos 07/04/2008 07:11:47 perfil 3 Um abraço e um bom curso a todos! 08/04/2008 18:24:15 perfil 14 Abraço a todos. Um bom curso para todos nós. 11/04/2008 13:02:18 perfil 6 Um abraço e bom curso! 04/05/2008 17:36:13 perfil 1 Um forte abraço a todos Tabela 1: despedidas Nota-se que o primeiro perfil só apresenta na despedida abraço, já o segundo expande esta e deseja bom curso. O terceiro segue a mesma tônica, mas organiza a enunciação em dois períodos simples. O quarto e o quinto apresentam o movimento inverso, encurtando a informação apresentada, sendo que o perfil 6 ainda mantém os votos enquanto o último, escrito um mês após o início do curso, retoma a forma do primeiro perfil preenchido. Destaco ainda que os perfis 3 e 14 apresentam o pronome “todos”, indicando a consciência de leitores múltiplos. O enunciador do perfil 14 vai além e se insere no grupo usando nós. O reforço dos votos é realizado nos perfis 3 e 6 por meio do ponto de exclamação. A assinatura na carta formal é feita uma linha abaixo do fim do corpo do texto e serve para ratificar quem é o autor do texto. No caso dos perfis, este foi o elemento menos utilizado, sendo identificado em apenas quatro exemplares, todos escritos por mulheres, nas seguintes combinações: Perfil 1: saudação/ fecho/ despedida/assinatura Perfil 6: saudação/despedida/ assinatura Perfil 10: saudação/assinatura Perfil14: saudação/ despedida/assinatura Apesar de seu uso pouco expressivo, nota-se que em todos os casos, quem optou por assinar fez uso de uma saudação. Porém, na maioria dos exemplares onde houve saudação, a assinatura não se faz presente. 5.2 Considerações gerais sobre a análise Os exemplares analisados neste trabalho parecem indicar que não há um consenso por parte dos usuários sobre como o perfil deve ser apresentado
  • 13. no que concerne os elementos de abertura e fecho, daí a presença das diferentes combinações dos movimentos obrigatórios no gênero carta, que foi o parâmetro para esta análise. Isto pode se dever ao fato de o perfil escrito em um AVA, como prática social, ser uma forma discursiva recente onde as comunidades que fazem uso dele ainda estão buscando nos gêneros mais bem estabelecidos, como a carta de apresentação e, possivelmente, nas apresentações orais informais, uma forma de realizar os seus propósitos comunicativos. O resultado é um texto que pode conter estes em maior ou menor escala, conforme ilustra a tabela 2. Número do PERFIL Elementos do gênero carta 1 Todos os 4 6, 14 3 dos 4 3, 8, 10 2 dos 4 2, 4, 5, 7, 9, 11, 12, 13, 15, 16, 17, 18 1 dos 4 Tabela 2: presença das aberturas, despedidas, fechos e assinaturas nos perfis Também é observável nas amostras uma flexibilidade com relação à apresentação formal, especialmente no que concernem as regras de pontuação e paragrafação. Notamos em alguns exemplares a falta de ponto final nos enunciados aqui destacados (perfis1, 8, 10), o uso de letra maiúscula de forma não usual (perfil 15) e a saudação junto ao corpo do texto (perfis 7,12, 15), o que pode indicar que neste gênero não há uma preocupação em demonstrar um domínio formal da língua materna para que o sujeito seja apreciado pela comunidade a qual deseja pertencer. Destacamos ainda o fato de todas as saudações observadas terem sido escritas por mulheres, o que é um dado interessante, e que, no nosso entender, talvez tenha algum tipo de relação com a natureza mais emocional da mulher. Também é interessante o fato de que, apesar de os homens não fazerem uso das saudações, a maioria faz uso de fechamento, enquanto as mulheres não. Estas evidências podem ser melhor analisadas se relacionadas
  • 14. aos estudos do discurso ligados à questão da representação da voz masculina/ feminina, e a representação do self, o que é inviável neste pequeno artigo. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E ENCAMINHAMENTOS FUTUROS A análise ora apresentada representa, apenas, a fase inicial da tentativa de caracteriza o perfil como gênero. Destacamos que, segundo o modelo de Swales (1990), identificar os propósitos comunicativos e os movimentos retóricos realizados não é o suficiente para a determinação de um gênero. Há também de se cuidar das realizações léxico-gramaticais típicas destes movimentos, pois, dentro da visão de gênero aqui apresentada, estas escolhas estão diretamente ligadas ao sucesso ou fracasso do exemplar em atender as expectativas da comunidade discursiva, do contexto de produção e dos seus propósitos comunicativos. Deixamos registrado, porém, que a próxima fase de análise já se encontra em andamento, tendo por objetivo observar os movimentos retóricos em cada um dos exemplares bem como as ocorrências léxico-gramaticais recorrentes. Contudo, devido ao escopo deste artigo, as considerações acerca de os demais aspectos observados serão alvo de escritas futuras. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAKHTIN, M. (1979). Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003. BERKENKOTTER, C; HUCKIN, T. Suffer the little children: learning the curriculum genres of school and university. In: Berkenkotter, C; Huckin,T.: Genre knowledge in disciplinary communication: cognition/culture/power. Hillsdale, N.J.: Lawrence Erlbaum, 1995. p.151-163. BHATIA, V.K. Description to explanation in English for professional communication-application of genre analysis. In: Boswood, T., Hoffman, R. and Tung, P., (eds.) Perspectives on English for professional communication, City Polytechnic of Hong Kong: Hong Kong, 1993. p.133-157.
  • 15. BHATIA, V.K. Worlds of written discourse: a genre-based view. London: Continuum, 2004. p.115-133. CAMPOS, F. C. A.; SANTORO, F. M.; BORGES, M. R. S.; SANTOS, N. Cooperação e aprendizagem online. Rio de Janeiro: DPeA Editora, 2003. FREEDMAN, A.; MEADWAY, P. Locating Genre Studies: Antecedents and Prospects. In: FREEDMAN, A.; MEADWAY, P.(eds). Genre and the New Rhetoric. London: Taylor & Francis, 1994. p.1-22. HYON, S. Genre in three traditions: implications for ESL. TESOL Quarterly, 30: 4, p. 693-722, 1996. JOHNS, A. M. Introduction: Genre in the classroom. In: JOHNS, A. M. (ed). Genre in the classroom: Multiple Perspectives. Mahawah, N.J: Lawrence Erlbaum, 2002. p. 3-13. JONÁSSON, J. On-line distance education - a feasible choice in teacher education in Iceland? M. Phil. thesis, University of Strathclyde, 2001. Disponível em http://starfsfolk.khi.is/jonj/en/skrif/mphil/thesis.pdf e acessado em 20 de junho de 2009. MAINGUENEAU, Dominique. Termos-chave da análise do discurso. Trad. Márcio Venício Barbosa e Maria Emília Amarante Torres Lima. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998. MARCUSCHI, L. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: MARCUSCHI, L A.; XAVIER, A. C. (orgs.) Hipertexto e gêneros digitais. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. MARTIN, J. R.; WHITE, P. R. R. The Language of Evaluation: Appraisal in English. London: Palgrave, 2005. MOTTA-ROTH, D. Questões metodológicas em análise de gêneros. In: Karwoski, A.M; Gaydeczka, B; Britto, K.S (orgs) Gêneros textuais:reflexões e ensino, 2ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006. p.179-202. PAREDES SILVA,V. L. P. Variações tipológicas no gênero textual carta. In: KOCH, I. V.; BARROS, K. S. M. de (orgs.) Tópicos em lingüística de texto e análise de conversação. Natal: EDUFRN,1997. p.118-124. SWALES, J. M. Genre Analysis: English in Academic and Research Settings. Cambridge: CUP, 1990. SWALES, J. M. Research genres: exploration and applications. Cambridge: CUP, 2004.
  • 16. UPTON, T. A.; CONNOR, U. Using computerized corpus analysis to investigate the linguistic discourse moves of a genre. English for Specific Purposes. 20:4, p. 313-329, 2001. Sobre a autora Doris de Almeida Soares é Doutora em Estudos da Linguagem (PUC-Rio) e Professora Assistente de Língua Inglesa no Centro de Ciências Sociais da Escola Naval, onde também atua no curso de inglês on-line oferecido por essa instituição. Com Mestrado em Interdisciplinar de Lingüística Aplicada (UFRJ), é autora do livro Produção e Revisão Textual: Um guia para professores de português e de língua estrangeira (Ed. Vozes, 2009). É também pesquisadora externa do Projeto LingNet.