1. UNIVERSIDADE JOSÉ DO ROSÁRIO VELLANO
CURSO DE BIOMEDICINA
HEMATOLOGIA CLÍNICA
Apostila Teórico-Prática
Belo Horizonte
2011
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HEMATOLOGIA CLÍNICA
CONTEÚDO:
- Sangue – Considerações gerais p. 03
- Câmara de Neubauer p. 04
- Contagem de Hemácias p. 05
- Dosagem de Hemoglobina p. 06
- Hematócrito p. 07
- Contagem Global de Leucócitos p. 08
- Contagem Diferencial de Leucócitos p. 09
- Contagem de Reticulócitos p. 11
Análise e Interpretação de Exames Laboratoriais
Profª Ana Paula Lucas Mota
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Sangue – Considerações Gerais
O sangue é composto de duas fases distintas: fase líquida e fase sólida ou elementos
figurados. A fase líquida é composta principalmente por água (cerca de 90%) e por substâncias
orgânicas e inorgânicas dissolvidas nesta água, tais como eletrólitos, proteínas, hormônios e
fatores da coagulação. Na fase sólida ou elementos figurados estão as hemácias, leucócitos e
plaquetas. A fase líquida também é conhecida como plasma e pode ser definida como “soro”
quando perder os fatores da coagulação logo após a coleta sanguínea.
Plasma = fase líquida (água + todos os elementos dissolvidos)
Soro = Plasma – fatores da coagulação (utilizados para formar o coágulo após a coleta)
O volume sanguíneo total é cerca de 70 mL por quilo de peso, desta forma uma pessoa de 70
Kg possui cerca de 4,9 L de sangue. A perda máxima sanguínea permitida e recomendada é
10% do volume total, para que não ocorram grandes danos ao paciente ou doador.
As principais funções do sangue são: transporte de gases (hemoglobina e hemácias); defesa
imunológica (leucócitos); coagulação (plaquetas e fatores da coagulação); transporte de
nutrientes (plasma); transporte de metabólitos da excreção (plasma); regulação térmica;
regulação da pressão arterial e manutenção do pH sanguíneo.
A hematopoiese é o processo de formação do sangue e começa desde a fase intrauterina de
cada indivíduo. Ainda na vida uterina as células são formadas pela linhagem primitiva e após o
nascimento pela linhagem definitiva (série vermelha ou eritrocítica; série plaquetária ou
megacariocítica; série granulocítica; série linfocitária ou linfocítica e série monocitária ou
monocítica).
a) Hemograma: é a principal ferramenta diagnóstica em Hematologia, constituído pelos
seguintes exames:
- Contagem de Hemácias (Hm)
- Dosagem de Hemoglobina (Hb)
- Determinação do Hematócrito (Ht)
- Índices Hematimétricos (VCM; HCM; CHCM; RDW).
- Contagem Global de Leucócitos
- Contagem Diferencial de Leucócitos
- Hematoscopia
- Contagem de Plaquetas (*opcional)
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b) Coleta de material
O êxito da coleta sanguínea depende de vários fatores, tais como: colhedor bem treinado; veias
do paciente; instrumental utilizado; identificação correta do material (etapa pré-analítica); tipos
de amostras necessárias; relação sangue-anticoagulante; anti-sepsia; tempo de
garroteamento; estancar o sangramento; homogeneização da amostra e biossegurança.
c) Confecção e coloração dos esfregaços sanguíneos
Cabeça Cauda
Corpo
d) Câmara de Neubauer
Utilizada para contagem de células em hematologia. É dividida em 9 quadrantes idênticos em
tamanho, área e profundidade e diferentes de acordo com as subdivisões.
A B
C D
AULA PRÁTICA 01: CONTAGEM DE HEMÁCIAS
1) Fundamento
Diluir a amostra (sangue total) em solução diluidora de hemácias (Líquido de Gower ou Dacie).
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2) Procedimento
Pipetar 4,0 mL do líquido diluidor em um tubo de ensaio ou frasco pequeno.
Pipetar 0,02 mL (20µL) de sangue e transferir para o tubo contendo o líquido diluidor.
Homogeneizar e aguardar cerca de 5 minutos.
Encher a câmara de Neubauer com a solução, tendo o cuidado de homogeneizar novamente antes
da pipetagem.
Levar a câmara ao microscópio para efetuar a contagem de hemácias. Focalizar com a objetiva de
10x e fazer a contagem com a objetiva de 40x, utilizando o retículo central da câmara de Neubauer.
Fazer a contagem de pelo menos 5 quadrados (1/5 da área de contagem) e somar as parcelas.
3) Cálculos
nº Hm / mm3 = 10.000 x Y*
*Y = soma dos 5 quadrados contados na câmara
4) Valores de Referência
Homem – 4.500.000 a 6.000.000 / mm3
Mulher – 4.000.000 a 5.500.000 / mm3
Rn – 4.000.000 a 6.000.000 / mm3
5) Interpretação
Valores aumentados (policitemias)
Diarréias, desidratação, queimaduras, policitemia Vera, cardiopatia crônica, intoxicações com
álcool etílico ou outras drogas, vômitos profusos, acidose metabólica.
Valores diminuídos
Anemias, leucemias, após hemorragias intensas e nas infecções graves.
AULA PRÁTICA 02: DOSAGEM DE HEMOGLOBINA
1) Fundamento
O ferrocianeto transforma o ferro da hemoglobina do estado ferroso (bivalente) para o estado
férrico (trivalente), formando metahemoglobina que, por sua vez, combina com o cianeto de
potássio para produzir a cianometahemoglobina, que é lida em 540 nm.
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2) Procedimento
Pipetar 5,0 mL do líquido diluidor (Drabkin) em um tubo de ensaio.
Pipetar 0,02 mL (20µL) de sangue e transferir para o tubo contendo o líquido diluidor.
Homogeneizar e aguardar cerca de 10 minutos.
Fazer um tubo BRANCO apenas com o líquido diluidor e um tubo PADRÃO com 5,0 mL do líquido
diluidor e 0,02 mL do padrão de hemoglobina.
Fazer a leitura em espectrofotômetro, no comprimento de onda de 540 nm.
3) Cálculos
[Hb] g/dL = Abs Teste X 10
Abs Padrão
4) Valores de Referência
Homem – 13,5 a 18,0 g/dL
Mulher – 12,0 a 16,0 g/dL
Rn – 13,5 a 19,5 g/dL
5) Interpretação
Valores aumentados e valores diminuídos estão presentes praticamente em todas as condições
que determinam aumento e diminuição das hemácias, respectivamente.
AULA PRÁTICA 03: HEMATÓCRITO (micro)
1) Fundamento
Volume ocupado pelas hemácias numa amostra de 100 mL de sangue total.
2) Procedimento
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Preencher um tubo capilar com sangue total, até cerca de 2/3 do seu comprimento.
Limpar a parede externa do tubo capilar com um papel absorvente.
Vedar a extremidade vazia (limpa) com uma massinha ou fechá-la no calor.
Colocar o tubo capilar na centrífuga de microhematócrito com a parte vedada voltada para fora,
equilibrando-o com outro tubo.
Tampar a centrífuga.
Centrifugar durante 5 minutos numa velocidade de 3.500 rpm ou superior.
Fazer a leitura do resultado, utilizando a tabela própria para microhematócrito.
O menisco inferior (hemácias) deve coincidir com a linha “zero” e o menisco superior (plasma)
deve coincidir com a linha “cem”. A leitura é feita onde ocorre separação entre as duas fases
(interface).
3) Valores de Referência
Homem – 40 a 54%
Mulher – 37 a 47%
Rn – 44 a 64%
4) Interpretação
Valores aumentados ocorrem quando há hemoconcentração como nas policitemias, desidratações,
queimaduras, diarréias e vômitos intensos. Um hematócrito aumentado é sugestivo de
macrocitose.
Valores diminuídos ocorrem quando há redução do número de eritrócitos, como nas anemias,
leucemias e infecções. Um hematócrito reduzido dá idéia de microcitose.
AULA PRÁTICA 04: CONTAGEM GLOBAL DE LEUCÓCITOS
1) Fundamento
Sangue + solução diluidora de leucócitos (dilui o sangue e destrói as hemácias).
2) Procedimento
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Pipetar 0,4 mL do líquido diluidor em um tubo de ensaio ou frasco pequeno.
Pipetar 0,02 mL (20µL) de sangue e transferir para o tubo contendo o líquido diluidor.
Homogeneizar e aguardar cerca de 20 minutos para que haja destruição das hemácias.
Encher a câmara de Neubauer com a solução, tendo o cuidado de homogeneizar novamente antes
da pipetagem.
Levar a câmara ao microscópio para efetuar a contagem de leucócitos. Focalizar com a objetiva de
10x e fazer a contagem com a objetiva de 10 ou 40x, utilizando os 4 retículos laterais da câmara de
Neubauer (A, B, C e D).
Fazer a contagem de todos os quadrados e somar as parcelas.
3) Cálculo
nº leucócitos / mm3 de sangue = Y* x 50
*Y= número de leucócitos contados na câmara
4) Valores de Referência
Adultos – 4.000 a 10.000 / mm3
Rn – 10.000 a 26.000 / mm3
5) Interpretação
Valores aumentados (Leucocitose): ocorrem em associação aos processos inflamatórios,
infecciosos e leucemias. Fisiologicamente temos leucocitose na infância, gravidez, durante o parto,
durante a digestão, variações circadianas e após exercícios físicos extenuantes.
Valores diminuídos (Leucopenia): ocorrem quando há redução na produção dos leucócitos
(deficiência de vitamina A; depressão dos tecidos leucopoiéticos por infecção ou intoxicação; uso
de medicamentos) ou no caso de aumento da destruição celular, provavelmente por anticorpos.
Algumas infecções podem cursar com leucopenia, principalmente de um único tipo de leucócito:
febre tifóide, dengue, rubéola, caxumba e tripanossomose.
AULA PRÁTICA 05: CONTAGEM DIFERENCIAL DE LEUCÓCITOS
1) Fundamento
É a contagem de 100 leucócitos em esfregaço sanguíneo, diferenciando-os segundo suas
variedades morfológicas.
2) Procedimento
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A) CONFECÇÃO DO ESFREGAÇO SANGUÍNEO
Colocar uma gotícula de sangue em uma lâmina limpa e seca.
Com o auxílio de outra lâmina, colocar a gota de sangue em contato com sua borda, formando um
ângulo de 45°, esfregar uma lâmina sobre a outra rapidamente, antes que o sangue seque ou
coagule.
Esperar o esfregaço secar.
Identificar a lâmina pela cabeça do esfregaço com o auxilio de outra lâmina ou lápis.
Fazer a coloração.
B) COLORAÇÃO DO ESFREGAÇO SANGUÍNEO
Colocar a lâmina sobre um suporte de coloração com o esfregaço voltado para cima.
Cobrir todo o esfregaço com o corante May-Grünwald. Aguardar 2 a 3 minutos.
Após este tempo, gotejar sobre o corante água de torneira ou tampão fosfato (pH 7,2). Aguardar 2
minutos.
Desprezar o corante e o tampão.
Cobrir a lâmina com o corante Giemsa diluído (Giemsa de uso). Aguardar 12 minutos.
Desprezar o corante e enxaguar a lâmina com água de torneira.
Esperar secar e limpar o verso da lâmina com álcool.
Examinar com objetiva de imersão, fazendo a contagem diferencial de 100 leucócitos.
3) Resultado
Expresso em número relativo (%) e absoluto (/mm3)
4) Valores de Referência
Neutrófilos bastonetes (b) 3 a 5% 150 a 400 / mm3
Neutrófilos Segmentados (S) 55 a 65% 3.000 a 5.000 /mm3
Eosinófilos (E) 2 a 4% 100 a 300 / mm3
Basófilos (B) 0 a 1% 50 a 80 / mm3
Monócitos (M) 4 a 8% 200 a 650 /mm3
Linfócitos (L) 20 a 30% 1.500 a 2.500 / mm3
5) Interpretação
Neutrofilia: frequente nas infecções bacterianas, leucemias, processos inflamatórios.
Eosinofilia: frequente nas parasitoses, processos imunoalérgicos e leucemias.
Basofilia: processos imunoalérgicos e leucemias.
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Monocitose: infecções (septicemia, mononucleose e tuberculose).
Linfocitose: infecções virais agudas e infecções crônicas (tuberculose e sífilis), leucemias,
amigdalites e processos ganglionares.
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AULA PRÁTICA 06: CONTAGEM DE RETICULÓCITOS
1) Fundamento
Sangue + corante supravital (Azul de Cresil Brilhante – ACB)
2) Procedimento
Pipetar 0,2 mL (200 µL) do corante ACB em um tubo de hemólise ou tubo de ensaio pequeno.
Adicionar 0,2 mL (200 µL) de sangue total e homogeneizar.
Levar ao banho-maria 37°C durante 20 minutos.
Homogeneizar e fazer um esfregaço em lâmina limpa e seca.
Fazer a contagem de 1.000 hemácias com objetiva de imersão, anotando os reticulócitos
encontrados em cada campo.
3) Resultado
Expresso em % e /mm3
4) Valores de Referência
Rn – até 6%
Adultos – 0,5 a 1,5%
5) Interpretação
Redução da porcentagem: anemias carenciais, aplasias medulares, anemias não-hemolíticas.
Aumento da porcentagem: anemias hemolíticas, hiperplasia medular, doença hemolítica do recém-
nascido, hemorragias intensas após acidentes ou cirurgias.
Impotância clínica: discriminar entre as anemias hemolíticas e não-hemolíticas. Verificar a eficácia
do tratamento nas anemias carenciais (crise reticulocitária).
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REFERÊNCIAS
CARVALHO, M. G.; SILVA, M. B. S. Hematologia – Técnicas laboratoriais e
Interpretação. Belo Horizonte, 1988.
Manual de Exames do Laboratório Clínico.
LORENZI, T.F. Manual de Hematologia – Propedêutica e clínica. Rio de Janeiro:
Medsi, 2003. 655 p.
ZAGO, M. A. et al. Hematologia – Fundamentos e Prática. São Paulo: Atheneu, 2001.
1081p.