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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
          CENTRO DE EDUCAÇÃO
  DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E
                SOCIEDADE
   CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA




           THIEMERSON DE PAULA BAUTZ




               Ano de eleição:
a Geografia Escolar e a formação da cidadania




                    VITÓRIA
                      2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
         CENTRO DE EDUCAÇÃO
 DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E
               SOCIEDADE
  CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA




          THIEMERSON DE PAULA BAUTZ




               Ano de eleição:
a Geografia Escolar e a formação da cidadania




                             Trabalho de Conclusão de Curso
                             apresentado à disciplina de
                             Projeto de Conclusão de Curso
                             de licenciatura em Geografia da
                             Universidade Federal do Espírito
                             Santo como requisito de obtenção
                             do título de Licenciado em
                             Geografia,     orientado     pela
                             Professora     Doutora    Marisa
                             Valladares.




                   VITÓRIA
                     2010
Aos meus pais, Arlindo e Maria da
Penha, que acreditaram em mim e me
deram o apoio para chegar até aqui.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus pela vida e pela escolha que me
fez tomar ao escolher o curso de Geografia.


À professora orientadora Marisa Terezinha Rosa Valladares que, desde o início
do curso, me incentivou a pesquisar sobre o tema eleição e nunca me fez
desanimar quando percebi as dificuldades, e, pela paciência por me atender
por tantas vezes além do meu tempo de orientação.


À Secretaria de Educação de Viana, por me acolher e me dar apoio para a
formulação prática do meu trabalho, em especial, à Professora Tereza Pollezi
por estar o tempo todo me auxiliando, e, aos professores de Geografia daquele
município, por contribuírem tão generosamente com minhas inquietações
teórico-metodológicas e por permitirem a entrevista filmada.


Novamente, à minha família por ter tido tanta paciência comigo, permitindo-me
ocupar todo o meu tempo, desde cedo até as madrugadas, para concluir este
trabalho.


Aos amigos da turma 2007/1 que até aqui seguiram comigo, nas tolerâncias
mútuas, nas parcerias, na solidariedade, nas brincadeiras, nas conversas, nas
viagens de estudo...



...Á todos vocês a minha sincera admiração!



                                                                Thiemerson
Com a força que Cristo me dá, posso
enfrentar qualquer situação. FP 4-13
(L.H).
Resumo

As questões relativas à cidadania de adolescentes ganham destaque em anos
eleitorais. Contudo, no ensino de Geografia percebe-se uma deficiência na
produção de estudos sobre a temática, em especial no que se refere ao
segmento final do ensino básico. Assim, este trabalho tem como objetivo
problematizar a ação docente relativa à formação política dos adolescentes no
ensino básico, do 6° ao 9° ano, por meio da Geografia, colocando em foco
questões concretas de suas vivências de cidadania. Pretende-se relacionar
formas e tratamentos dados à questão por professores de Geografia,
elaborando e experimentando uma proposta de estudo escolar abordando o
ano eleitoral. Para tanto, utilizou-se Saviani (1983) e Buffa (1988) como base
nas discussões sobre cidadania; Santos (1993) na análise do contexto político
brasileiro, associando-se estes estudos às abordagens relativas ao ensino de
Geografia elaborado por Carlos (1999), numa perspectiva crítica relacionada ao
cotidiano escolar e ao contexto político vivenciado por alunos. A perspectiva da
pesquisa-ação incluiu a conversação como metodologia complementar de
entrevistas, orientando a elaboração e a realização de uma oficina pedagógica,
com professores da rede municipal de Viana. A oficina pedagógica abordou
questões relativas à cidadania na Geografia escolar, com experimentação de
atividades para conexão entre o ano eleitoral e a formação em cidadania, para
estudantes do ensino básico do 6° ao 9°anos. A análise dos dados obtidos
aponta para a velha perspectiva sobre política, da sua descrença e falta de
perspectivas futuras, e que é apresentado nos capítulos deste trabalho.


Palavras chave: 1. Geografia e Cidadania. 2. Geografia e Eleições. 4. Ensino
da Geografia e Política.
Abstract


The questions relatives for teenager‟s citizenship win focus in electoral years.
However, on Geography studies we realize a deficiency on production of
studies about the thematic, in special on reference the final continuation of
elementary school. In this way, this labor has the objective to problematize the
teacher action relative for the politic formation of teenagers from six to nine
years of Elementary School, trough Geography, putting in focus the concrete
questions of their citizenship experiences. Seeks to list forms and treatments
provided for the questions by Geography teachers, elaborating and experienced
one proposal of scholar study, addressing electoral year. For that, used Saviani
(1983) and Buffa (1988) as base on discussions about citizenship; Santos
(1993) on analyses of Brazilian politic context, associate this labors for the
approaches relatives of Geography education elaborated by Carlos (1999), in a
criticizes perspective related of the scholar daily and of the politic context
experienced by the students. The perspective of research/action included the
conversation as complementary methodology of interviews, guiding the
elaboration and the achievement of a pedagogical workshop with Viana‟s
municipal teachers. The pedagogical workshop approached questions relatives
for the citizenship on scholar Geography, with experimentation of activities for
connection behind the electoral year and the citizenship formation, for students
of six and nine years of Elementary School. The analyses of data acquired
show for the old perspectives about politics, your disbelief and the lack of future
perspective and that is showed on the chapter of this labor.


Key words: 1. Geography and Citizenship. 2. Geography and Elections. 4.
Geography teaching e Politic.
Lista de Fotografias

Foto 1- Professores em formação…..………………………...……..….17


Foto 2- Professores realizando trabalhos didáticos..........................20


Foto 3- Construindo legendas políticas..............................................23


Foto 4- Encontro com os professores de Viana................................35


Foto 5- Parte da entrevista...................................................................36


Foto 6- Professores discutindo sobre o tema eleição.......................36


Foto 7- Professor coloca o seu ponto de vista frente a política.......40


Foto 8- Professora cria forma de trabalhar com política em sala de
aula.........................................................................................................42


Foto 9- Conversando com os professores sobre a entrevista e
oficina.....................................................................................................47


Foto 10- Professores estudando um texto de eleições.....................49
Lista de Imagens

Imagem 1- Localização de Viana....................................................................21


Imagem 2- Comparação do crescimento de eleitores do Espírito Santo por
município nos anos de 2000 e 2004 .............................................................27


Imagem 3- Mapa político administrativo do Espírito Santo.........................28


Imagem 4- Perfis de eleitores.........................................................................30


Imagem 5- Em quem votar..............................................................................32


Imagem 6- Texto de Moacir Gadotti...............................................................34
Sumário

1- Da Constituição para a Geografia........................................................10


    1.1- Conceitos necessários..................................................................10


    1.2- Relação Política e Geografia.........................................................14


2- Da geografia para o campo de pesquisa............................................17


3- Do campo de pesquisa para a sala de aula........................................22


4- Da sala de aula ao encontro com os professores..............................35


    4.1- A entrevista....................................................................................36


    4.2- Análise final da entrevista............................................................47


5- Do encontro com professores à solidão das reflexões.....................51


6- Referências............................................................................................56
10

   1. Da Constituição para a Geografia
   1.1. Conceitos necessários

Para muitas pessoas discutir a política não é nada interessante e importante.
Mas até que ponto essa discussão não é interessante e importante para
adolescentes? Que contribuições o ensino de Geografia pode proporcionar à
formação política de adolescentes, numa perspectiva de construção de
cidadania jovem?


Acreditando no potencial geográfico de análise do contexto político cotidiano e
considerando que é papel do professor envidar esforços no enfrentamento
desse desafio, buscou-se reunir bases teóricas e práticas necessárias para
uma proposta de estudo que tornasse essa discussão interessante para jovens
que estão no ensino básico, do 6° ao 9° ano. Como parceiros desta pesquisa,
selecionei um grupo de professores de Geografia que, gentilmente, me
forneceu pistas para elaboração da proposta, experimentando-a e avaliando-a.


Para fundamentação inicial, tomei como base os direitos do cidadão brasileiro
de acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, onde
se elucida:



                                                 TÍTULO I
                                       Dos Princípios Fundamentais

                          Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
                     indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
                     se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

                         I - a soberania;

                         II - a cidadania;

                         III - a dignidade da pessoa humana;

                         IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

                         V - o pluralismo político.

                        Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por
                     meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
                     Constituição.
11

                      Fonte:
                      http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.
                      htm


A Constituição Brasileira é considerada uma das constituições nacionais mais
completas, tendo servido de base para formulações de semelhante documento
de diversos países do mundo.


Com essa representação de lei dos direitos e deveres, é possível instigar a
sociedade a pensar quem não está fazendo o que deveria para universalização
da cidadania no país. Parece-me ser um erro de pensamento da sociedade em
geral, justificar por meio da crítica aos dirigentes e agentes políticos, os desvios
de conduta e de investimentos públicos, que se tornam cada vez mais
rotineiros, sem que nada ou quase nada se efetive para maiores mudanças no
cenário político nacional. Acredito que é preciso investir na educação para se
compreender a real necessidade do saber ser cidadão, principalmente no
momento das eleições, quando se exerce a função apontada no parágrafo
único do Art. 1° da Constituição: votar em um representante que discuta,
analise, avalie e proponha ações governamentais e sociais que atendam às
necessidades coletivas da sociedade.


Com este entendimento e tomando em conta a proposta de intervenção
pretendida, torna-se necessário esclarecer alguns conceitos importantes para
iniciar a discussão do complexo contexto que envolve as questões deste
trabalho.


Os conceitos que vão embasar e permear todo este trabalho, sem dúvida, se
refere ao ser Cidadão e ao exercer Cidadania: um ligado ao outro de forma tão
exigente que se torna impossível tratar de um sem considerar o outro. Ao
admitir a cidadania como direito universal a cada sujeito de quaisquer
categorias de território, admite-se também a cotidianidade desse direito e,
subsequentemente, a sua relação com o saber popular, aquele próximo da vida
ordinária do dia a dia, onde o senso comum orienta o fazer, o querer e o poder.
Assim sendo, busco, em primeiro lugar, a definição do conceito de Cidadão.
Segundo a Declaração dos Direitos Humanos e do Cidadão, sendo este um
12

dos primeiros atos democráticos da história que trata do termo como “os
direitos que a sociedade e o Estado atribuem ao cidadão como membro dessa
sociedade. Destacam-se a liberdade de participar, ou não, de todos os atos e
valores da sociedade, bem como do poder exercido pelo Estado e a proteção
do indivíduo pelo poder público”, e a cidadania “esta relacionado ao cidadão
(...) com os direitos políticos” (Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
de 1789, apud MARTINEZ, 1996, p. 8).

Aprofundando um pouco mais, na atitude de pesquisa científica, rigorosa no
conceituar, resgato em Burdeau, no século XVIII, outra forma de entender o ser
Cidadão:


                     Cidadão é um homem de ordem, suficientemente esclarecido para
                     poder escolher seus representantes com conhecimento de causa,
                     bastante   independente     para   estar   ao   abrigo   das   pressões
                     (BURDEAU, apud BUFFA, 1988, p. 26).



É comum observar o exercício da cidadania somente em situação de eleições,
pois é então que se exerce um dos seus direitos básicos, qual seja a escolha
de representantes legais para as ações políticas numa escala mais ampla.


Ainda sobre o assunto, Damiani afirma:


                     A noção de cidadania envolve o sentido que se tem do lugar e do
                     espaço, já que se trata de materialização das relações de todas as
                     ordens, próximos ou distantes. Conhecer o espaço e conhecer a rede
                     de relações a que se está sujeito, do qual se é sujeito (DAMIANI,
                     1999, p. 50).



A cidadania é um termo muito comum, sendo conhecida pelas pessoas a sua
palavra, mas não totalmente o seu conceito. Sendo assim, tomei a liberdade de
expor a fala de uma professora que participou da entrevista.


                     Quando você nasce e os pais te registram, você se torna um cidadão
                     e este é o seu primeiro ato político (...) (Professora que participou da
                     entrevista no dia 21/05/2010, respondendo a pergunta dois).
13

Fazendo uma ponte entre cidadania e política, Lana de Souza Cavalcanti faz
uma ligação direta, atribuindo a igualdade democrática constituído por lei, como
condição de vida a todos, pensando no coletivo com associação forte aos
direitos e deveres inerentes ao exercício político democrático da vida na
sociedade.


                     A idéia de cidadania ativa que cria seus direitos ao longo da história e
                     a depender da organização, permite pensar criticamente os tipos de
                     direitos mais convencionalmente atribuídos à composição da
                     cidadania    (civis,     políticos,    sociais),   buscando     ampliar   essa
                     composição     a       partir   de    demandas     sociais    democráticas    e
                     contextualizadas (...) (CAVALCANTI, 2002, p. 51-52).


Já para conceituar o termo “política”, rebusco sua invenção por gregos e
romanos segundo CHAUÍ (1997). A palavra vem do grego ta politika vinda de
polis que é a Cidade formada pelos cidadãos ou politikos, com direitos a
cidadania e homens iguais.


                     Ta politika são os negócios públicos dirigidos pelos cidadãos:
                     costumes, leis, erário público, administração dos serviços públicos
                     (abertura de ruas, estradas, portos, aeroportos, obras de prédios de
                     serviços públicos), organização da defesa e da guerra (...).
                     Ta politika (...) corresponde ao que designamos modernamente por
                     práticas políticas, referindo-se ao modo de participação no poder, aos
                     conflitos e acordos na tomada de decisões e na definição das leis e
                     de sua aplicação, no reconhecimento dos direitos e das obrigações
                     dos membros da comunidade política e às decisões concernentes ao
                     erário ao fundo público (CHAUÍ, 1997, p. 371-372).


Em outras palavras, fazer política é participar da organização e da
administração do país, estado, município e comunidade em que se habita.

A política é exercida por cada um, seja de forma não institucional ou
institucional, no exercício de um cargo público ou não. Todos têm o direito e o
dever de fazer política e não só no ramo da questão pública ou dos governos,
mas fazemos política também em casa, no trabalho, na escola, na rua etc.
14

Fazemos política quando ajudamos ao próximo, no sentido do fazer
comunitário.

Já a eleição é considerada o ato de eleger, ou seja, de preferir entre um ou
outro, de escolher ou eleger, e isso ocorre através da votação. As eleições, no
Brasil, acontecem a cada dois anos, para eleger diferentes cargos no decorrer
de 4 (quatro) anos. Segundo a Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988:


                                               CAPÍTULO IV
                                          DOS DIREITOS POLÍTICOS

                        § 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:

                        I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;

                        II - facultativos para:

                        a) os analfabetos;

                        b) os maiores de setenta anos;

                        c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

                     Fonte:
                     http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.
                     htm




Com estes conceitos podemos partir para outra discussão, que envolve
professores e futuros professores de Geografia: a importância do ensino da
política em sala de aula, para alunos que farão parte do eleitorado, tomando
como meta sua formação consciente de política.

   1.2.    Relação Política e Geografia.

A disciplina de Geografia, como é sabida, tem importância fundamental para a
sociedade, no que tange diversos assuntos relacionados à atualidade ou o
espaço em que habitamos e nossas relações com ele.


Sem aprofundar muito nos conceitos de Geografia, pois com certeza isso
poderia ser outro material de pesquisa, o conceito declarado no dicionário
15

britânico The Concise Oxford Dictionary, em seu verbete, “Geografia” é a
“Ciência da superfície da Terra, sua forma, aspecto físico, divisões políticas,
clima, produções, população etc” (The Concise Oxford Dictionary, apud
WOOLDRIDGE; GORDON EAST, 1967, p.13). Ainda tomando como base
Wooldridge e Gordon East:


                     A explicação de suas divisões políticas também (...) decorrem de
                     processo humanos que se desdobram através de largo tempo –
                     migrações, guerras, revoluções e a complicada sequência de
                     mudanças políticas e sociais (WOOLDRIDGE; GORDON EAST,
                     1967, p.13).



O interesse maior do geógrafo e do professor de geografia é entender como se
dão essas relações, como se desenvolvem e como isso tem mudado durante
os diferentes acontecimentos, naturais ou não, na Terra.


O ensino da política pode ser visto dentro da Geografia, onde são estudados
vários processos da interação entre os homens que envolvem aspectos
humanos, políticos, culturais, sociais e econômicos. Wooldridge e Gordon East
aprofundam seu conceito sobre política escrevendo:


                     A Geografia Política concentra sua atenção nas relações externas e
                     internas dos Estados (...). As considerações políticas situam-se entre
                     as muitas que dizem respeito ao homem (...) que deverão ser
                     apreciadas como elementos integrantes da matéria em geral, embora
                     possam constituir-se em temas de estudo particular dos especialistas
                     em política (WOOLDRIDGE; GORDON EAST, 1967, p.130).



Desta forma, o ensino de política também tem grande destaque na disciplina de
Geografia e por isso deve ser trabalhado não só como ensino complementar,
uma vez que na sociedade brasileira existe um preconceito sobre este assunto,
principalmente nas novas gerações que consideram política como coisa suja ou
como coisa distante do seu cotidiano.


O estudo das relações políticas é pensado por Andrade da seguinte forma:
16



                       O geógrafo deve utilizar o seu potencial teórico, o domínio das
                       técnicas modernas e o seu comprometimento com os altos objetivos
                       nacionais para dar uma contribuição positiva à solução dos
                       problemas do país. Ciência é também política, e o cientista deve
                       saber por que é utilizado, como é utilizada e em favor dos interesses
                       de quem ela é utilizada (ANDRADE, 1999, p.13).


Desta maneira, a contribuição da Geografia para a formação cidadã dos
alunos, pode ser entendida como Cavalcanti problematiza:


                       O ensino da Geografia contribui para a formação da cidadania
                       através da prática de construção e reconstrução de conhecimentos,
                       habilidades, valores que ampliam a capacidade de crianças e jovens
                       compreenderem o mundo em que vivem e atuam, numa escola
                       organizada   como    um    espaço    aberto   e   vivo   de   culturas
                       (CAVALCANTI, 2002, p.47).



Por isso, acredito que o ensino da política é de extrema necessidade para
realizar     um   trabalho   educativo,      visando       esclarecer    os     indivíduos,
principalmente os mais jovens, sobre sua condição de cidadãos.


O trabalho do professor, em relação à temática, deve considerar o fato de que
as transformações na nossa sociedade exigem uma mudança comportamental
dos indivíduos e que essa mudança requer um novo tratamento do professor
para com o aluno. É por esse motivo que o professor deve adequar-se a
realidade dos alunos, trabalhando com eles a evolução do conhecimento
humano. Ao discutir essa evolução, que promove constantes modificações no
meio em que vivemos, deve associar à reflexão de que com a política não é
diferente.


Fazer e aprender política e cidadania deveria ser uma prática cotidiana no
currículo dos alunos. É um conhecimento essencial que torna o aluno não só
mais informado, como também mais humano para discernir o certo ou errado, o
bom e o ruim, o que é melhor ou pior.
17

A carga de cultura relacionada a este assunto é grande, criando um
diversificado imaginário juvenil sobre o tema e seus desdobramentos. Por isso,
é preciso que os jovens percebam a importância do entendimento da política e
compreenda que isso é para a vida inteira, que eles são o presente construindo
o futuro, que eles são cidadãos e não somente o „outro‟ que vota.


Para tanto é importante que o professor de Geografia esteja preparado para
compartilhar tal assunto que possibilite ao aluno a visualizar a cidadania e a
democracia como algo importante para ele e para todos que estão a sua volta.


   2. Da Geografia para o Campo de Pesquisa




Foto 1: Professores em formação.



Liberdade, igualdade e participação é a fórmula da política democrática assim
como a famosa declaração de Lincoln Von Gettysburg, o “governo do povo,
pelo povo e para o povo” (Holanda, 1951). Porém, o povo da sociedade
democrática está dividido em classes sociais distintas entre si e entre seus
interesses.


O Brasil ainda tem muitos obstáculos à democracia, dentre os quais, os
conflitos de interesses entre aqueles que detêm o poder, aqueles que querem o
poder e a classe mais baixa da sociedade, que sequer ousa querer o poder ou
18

detê-lo, já que no nosso país existiu (e ainda é possível ver seus resquícios)
uma cultura onde os Coronéis e somente aqueles que detinham o
conhecimento, podiam participar.


Essas questões de políticas muitas vezes são extintas de qualquer tema
abordado em sala e por isso, cabe à Geografia trabalhar essas questões, uma
vez que elas estão ligadas diretamente com o espaço geográfico, com as
relações entre as sociedades, objetos da ciência geográfica.


Nos últimos anos ainda se vê, nas políticas públicas no nosso país, o caos nas
questões que deveriam ser resolvidas pelo Estado. Isso é exemplificado
quando vemos a educação pública de baixa qualidade em relação às escolas
privadas, os hospitais públicos super lotados, a segurança pública limitada e
despreparada.


Outro ponto fundamental para a elaboração deste trabalho é sobre o direito da
participação política. Muitas vezes, o valor desta participação não é de extrema
importância a todos. Normalmente, aqueles que detêm maior conhecimento e
interesse pela política, o que no nosso país são poucos, deveriam buscar o
interesse comum. E ainda, são estes também os que dirigem a política, mas,
segundo os seus interesses. Para Vesentini:


                     Cidadania é uma tarefa de aprendizagem para todos, não apenas
                     para o professor. E é uma tarefa que não se „ensina‟, mas se aprende
                     conjuntamente, se aplica nas relações inter-humanas, inclusive no
                     ensino (VESENTINI, 1999, p. 31).


Por isso é importante realizar um trabalho educativo, visando esclarecer os
indivíduos sobre sua condição de cidadãos.


Há de se considerar ainda, que os meios de comunicação em massa,
principalmente a TV, influenciam os eleitores e parciais de forma absurda.
Muitas vezes, essas informações errôneas que passam para a população são
em demasia e ainda duvidáveis e vemos, mais uma vez, o interesse de seus
proprietários com grupos que apóiam partidos e candidatos.
19

E ainda, mesmo acontecendo projetos relacionados às eleições, nas escolas,
com simulação de voto, divisão de cargos políticos, entre outros projetos,
trabalhos estes preocupados com a formação e construção da cidadania, é
notável o número de cidadãos, que já foram ou ainda são alunos descontentes
quanto aos políticos e aos governadores de nosso país.


Como objetivo, buscou-se problematizar a ação docente, relativa à formação
política das crianças e adolescentes do ensino básico do sexto ao nono ano,
por meio da Geografia, em especial nas questões da cidadania no seu espaço
de vivência.


Assim, no trabalho tentou-se experimentar propostas de atividades para o ano
eleitoral e para formação em cidadania, ao mesmo tempo em que se fez a
análise de produções bibliográficas sobre cidadania e sobre Geografia escolar,
buscando-se relacionar o cotidiano escolar com o contexto político vivenciado
por alunos.


A idéia de fazer o trabalho surgiu principalmente da necessidade de resgatar e
de refletir sobre a importância da cidadania dentro da nossa sociedade, que de
certa forma acomodada, não buscam criar cidadãos informados.


Para tanto, foi feita uma pesquisa bibliográfica, tentando relacionar o tema com
recursos didáticos para a realização de atividades em sala de aula. Como parte
da metodologia de pesquisa deste trabalho, realizou-se ainda um encontro com
os professores para entrevistas não estruturadas sobre o que fazem para a
formação da cidadania e como tratam o ano eleitoral nas escolas. Para esse
encontro, foi preparada uma oficina com três atividades para os professores de
Geografia, com alternativas de ação para o trabalho com política e cidadania
na escola. Ao término da oficina, realizou-se uma avaliação da oficina com
instrumentos preenchidos pelos professores e alguns testemunhos orais
narrados, para a elaboração de um relatório final.
20

Esta oficina foi trabalhada com professores de Geografia do Ensino Básico do
município de Viana, município pertencente a Grande Vitória, localizado entre os
municípios de Cariacica, Vila Velha, Domingos Martins e Guarapari.


O município, de acordo com as estimativas populacionais do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatísticas de 2009, possuía 60.829 habitantes e em 2004
tinha um total de 33.343 eleitores. Esse número decresceu em relação ao ano
de 2000 em 17% devido a algumas politicagens internas como duplicidade de
votos, votos de moradores de municípios vizinhos, votos de pessoas já
falecidas entre outras. E isto me motivou a trabalhar ainda mais com os
professores desta localidade, que ainda tem características de uma cidade
pequena, apesar de pertencer a região metropolitana, e que viveu momentos
políticos ruins nos últimos anos.




   Foto 2: Professores realizando trabalhos didáticos.
21

   Localização do município de Viana no Espírito Santo




Imagem 1: Localização de Viana
Fonte: paulosergiomeu.blodspot.com
22

   3. Do Campo de pesquisa para a sala de aula


Muitos professores desacreditam no tema política, alegando que não há muito
que ensinar. Contudo, ao se omitirem estão fazendo a política do silêncio e da
omissão (CHAUI, 1997). Daí, que o objetivo pedagógico deste trabalho não é
ensinar aos professores como tratar do assunto em sala de aula, mas sim
demonstrar a importância da educação para cidadania, política e democracia,
apresentando algumas alternativas didáticas como contribuição para atividades
e ações que poderiam dar certo em sala de aula.


Esse trabalho foi apresentado para os professores efetivos de todas as escolas
públicas de Viana, do Ensino Básico do sexto ao nono ano, na Casa dos
Conselhos, no bairro Viana Sede, onde o desenvolvimento se deu em dois
momentos: um grupo na parte da manhã e outro na parte da tarde. Houve uma
boa representatividade das escolas, pois compareceram pela manhã quatro
dos sete professores e pedagogos e na parte da tarde compareceram catorze
dos dezoito professores e pedagogos, contando um percentual de 72% de
participação.


Para sua apresentação foi feito uma sequência didática, organizando o que
seria trabalhado, de qual forma e qual o tempo para cada atividade proposta.
Todos os materiais expostos na oficina (com exceção da tabela de comparação
do crescimento de eleitores do Espírito Santo por município nos anos de 2004
e 2000 e o mapa político administrativo do Espírito Santo) foram retirados do
Projeto Ano Eleitoral, do acervo do Laboratório de Ensino e Aprendizagem de
Geografia (LEAGEO), do Centro de Educação, situado no campus da
Universidade Federal do Espírito Santo, em Goiabeiras, Vitória, Espírito Santo,
ao acesso de qualquer educador que necessite de materiais didáticos para
auxiliá-lo.


        Oficina Política e cidadania: No voto começa a democracia...
                              Sequência didática:
23




Foto 3: Construindo legendas políticas.


1. Apresentação. 5‟


2. Dinâmica de acolhimento e reflexão:
a) leitura partilhada dos textos Político analfabeto e Analfabeto político: usar
marcador em cada cópia para indicar o que cada um vai ler.
b) discussão sobre o conteúdo dos textos e aproveitamento da dinâmica.
Tempo de leitura: 5‟ Tempo de discussão: 5‟ Tempo total: 10‟


3. Entrevista:
a) organização da sala em meia-lua, favorecendo a filmagem;
b) dinâmica da urna quente: as perguntas (entrevista da pesquisa) serão
colocadas numa caixa (urna) e serão puxadas sequencialmente, tendo em vista
que estarão escritas numa tira, que deverá ser cortada ao término de cada
pergunta. A urna circulará de mão em mão, ao som de duas músicas (Rita Lee
– Vote em mim – e Raul Seixas – Caubói fora da lei) que será interrompida
para que aquele que estiver com a urna na mão retire uma pergunta e a leia
para todos, encaminhando a discussão no grupo. Tempo para cada questão: 8‟
Tempo total: 1h e 5‟.


4. Transformando tabelas em mapas:
24

a) Apresentar dados, indicando como coletá-los: Tabela comparativa de
quantitativo de eleitores no ES em 2000 e 2004.
b) Transformar dados em mapas do ES: entregar mapa político do ES para que
elaborem legendas e mapeiem os dados da tabela.
c) Discutir como essa tarefa pode ser feita com alunos: partidos, reeleição,
gênero do candidato, escolaridade dos eleitores etc. Como tais mapeamentos
influem na formação política dos adolescentes? Tempo de mapeamento: 20‟
Tempo total: 40‟


5. Dinâmica coletiva: Um perfil de eleitores. Pedir que se organizem em grupos
e que preparem, com revistas velhas ou com desenhos, um perfil de eleitor que
notam em seus alunos adolescentes. Exemplificar com o texto – Uma
radiografia das muitas caras do eleitor. Pedir que apresentem suas produções.
Questionar como podem intervir para tentar mudar o retrato para melhor.
Sugerir que façam o mesmo com seus alunos. Tempo: 1 h


6. Apresentar o texto Em quem votar? Apresentar formas de como trabalhar
com ele junto aos alunos. Pedir que apontem por que sim ou não trabalhariam
de uma das formas apresentadas. Tempo: 20‟


7. Reflexão final: Texto de Moacir Gadotti. Tempo 5‟


8. Café eleitoral. Pequena pausa para conversa informal Tempo: 15‟


9. Avaliação. Tempo: 10‟


10. Despedida.


Como materiais propostos para a atividade, foram usados, em ordem, os
seguintes:


O Político Analfabeto
25

       O pior analfabeto é o político analfabeto. Ele não ouve, não fala, nem
participa de nada se não for do seu próprio interesse, e só lembra de aparecer
quando está perto a eleição e se houver divulgação. Muitas vezes até estudou,
mas não aprendeu a ter educação.
       Ele finge que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do
aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas quando na
verdade todo mundo sabe de cor e salteado, que quem decide mesmo são os
outros tipos de poder.
O político analfabeto é tão burro que se orgulha e bate no peito dizendo que “o
pior analfabeto é o analfabeto político”, porque a única coisa que políticos
analfabetos sabem bem fazer é “dizer”.
       Não sabe o imbecil que parece até ter boa intenção, que dos seus
exemplos de arrogância, conivência com os “furos” de seu partido e partidários,
desinformação, falta de tato, ética e educação, nasce a prostituta, o menor
abandonado, o nojo aos políticos e a política, e o pior de todos os bandidos que
é o político analfabeto de fachada, uns vigaristas e pilantras, corruptos que
adoram frases de efeito tipo “exploradores do povo”, que é o que está todo
mundo careca de ver até na TV.
       Pena que os únicos que não sabem disso tudo são os Político
Analfabetos.


                                                                       Deixou a Brecha


Abaixo está a versão original que associada a interesse pelo “emburrecimento” ao povo e a
todo o tipo de maluquice que invariavelmente acontece nas épocas que antecedem as eleições
e anda, atualmente, entulhando email de muita gente. O difícil é imaginar Bertold Brecht,
dramaturgo e poeta consciente de seu tempo, marxista que prezava a existência social como
determinante da consciência, e que viveu num passado (1898-1956), onde o mundo e os
valores morais eram outros, se dirigir de hoje desse jeito.


O Analfabeto Político


       O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem
participa dos acontecimentos políticos.
26

      Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato, e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e bate no peito dizendo que
odeia política.
      Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o
menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista,
pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.


                                                                  Bertold Brecht


O texto acima é um texto de Bertold Brecht, que escreveu diversos textos, até a
década de 50, criticando aqueles que não tinham conhecimento ou
desprezavam a política.


A adaptação, de autoria indefinida, foi uma releitura de Brecht, no qual coloca o
Político que não faz nada para ajudar a sociedade, que simplesmente após ser
eleito, desaparece.


Este texto surge como uma forma de despertar no aluno uma consciência de
que ele deve escolher muito bem seus candidatos antes de votar, pois este é
um caso muito comum visto por pessoas que ocupam cargos, onde muitas
vezes é mais difícil de ver o seu trabalho para criticarmos (como vereador,
senador e deputados).


Os materiais utilizados para as três atividades foram: o mapa político do estado
do Espírito Santo e uma tabela contendo os dados das eleições de 2000 e
2004 e o crescimento por município no Espírito Santo; o texto „um perfil de
eleitores‟ e; o último texto „em quem votar‟.


A primeira atividade foi algo bem prático, onde os professores puderam
transformar os dados da tabela em mapas, tornando as estatísticas visíveis
dentro do território do estado do Espírito Santo.
27


    COMPARAÇÃO DO CRESCIMENTO DE ELEITORES DO ESPÍRITO SANTO
              POR MUNICÍPIO NOS ANOS DE 2004 E 2000
Município       2004  2000   %   Município          2004 2000 %
Vila Velha               246222   217729   13,1   Itaguaçu              11895   11145   6,7
Vitória                  231986   211706   9,6    Piúma                 11517   9982    15,4
Serra                    210394   178619   17,8   João Neiva            11499   11483   0,1
Cariacica                206054   164301   25,4   Boa Esperança         11193   10085   11
Cachoeiro                114265   100561   13,6   Vila Valério          10480   8898    17,8
Linhares                 84470    73122    15,5   Muqui                 10223   10942   -6,5
Colatina                 77495    72273    7,2    Marechal Floriano     10032   10874   -7,7
Guarapari                69512    60270    15,3   Fundão                9983    8674    15,1
São Mateus               62292    55879    11,5   Iconha                9363    8479    10,4
Aracruz                  44761    44655    0,2    Rio Novo do Sul       9298    8599    8,1
Viana                    33433    40138    -17    Alfredo Chaves        9247    10381   -11
Nova Venécia             30923    28118    10     Mantenópolis          9068    10718   -15
Barra de S. Francis.     29401    26622    10,4   Itarana               9023    8372    7,7
Castelo                  25509    22153    15,1   Santa Leopoldina      9007    8109    11
Alegre                   24581    22726    8,1    Laranja da Terra      8677    8310    4,4
Domingos Martins         24415    20999    16,3   Jerônimo Monteiro     8557    9390    -8,9
Afonso Cláudio           23442    21154    10,8   Brejetuba             8168    7458    9,5
Itapemirim               23379    19812    18     Água Doce do Norte    8081    11675   -31
Marataizes               22606    19536    15,7   S. José do Calçado    7962    8686    -8,3
Santa Mª de Jetibá       20652    17377    18,8   S. Roque do Cannã     7859    6796    15,6
São G. da Palha          20546    17942    14,5   Ibiraçu               7790    8895    -12
Mimoso do Sul            20401    19121    6,7    Pres. Kennedy         7781    8391    -7,2
Iuna                     20086    19083    5,2    Águia Branca          7771    6456    20,3
Baixo Guandu             19884    21746    -8,5   Marilândia            7723    7959    -3
Conceição da Barra       19232    17452    10,2   Gov. Lindenberg       7723    6979    10,6
Guaçuí                   19127    17723    7,9    Irupi                 7596    6918    9,8
Ecoporanga               18573    18243    1,8    Bom Jesus do Norte    7245    7653    -5,3
Pinheiros                16965    15776    7,5    Ibitirama             7147    6396    11,7
Pancas                   15568    15049    3,4    Conc. Do Castelo      7112    8656    -18
Ibatiba                  15423    12703    21,4   Atílio Vivacqua       7062    6796    3,9
Jaguaré                  15365    12240    25,5   Vila Pavão            6749    6107    10,5
Santa Teresa             15227    16128    -5,5   Apiacá                6094    5921    2,9
Sooretama                13992    11278    24     Ponto Belo            5242    5817    -9,8
Anchieta                 13962    15544    -10    Dores do R. Preto     5131    4608    11,3
Muniz Freire             13959    12890    8,3    São Domingos          5115    6465    -21
Pedro Canário            13774    18467    -25    Alto Rio Novo         4481    6006    -25
Montanha                 13665    13097    4,3    Mucurici              4055    4980    -19
Rio Bananal              13250    12382    7      Div de São Lourenço   3573    3707    -3,6
 Venda Nova do Imig.  12295 10254 19,9 Total no ES 2004                 2235897
 Vargem Alta          12289 11131 10,4 Total no ES 2000                 2033765        9,9
Imagem 2: Comparação do crescimento de eleitores do Espírito Santo por município nos anos
de 2004 e 2000.
Fonte: IBGE e Jornal A Gazeta.
28




Imagem 3: Mapa político administrativo do Espírito Santo.
29

O trabalho desta atividade foi dividido em grupos para que cada um fizesse
legendas diferentes. Para isso, criei três tipos diferentes para aquela situação:


   1- Legenda em que mostra o número absoluto de votantes
   2- Legenda que mostre o valor do crescimento percentual dos votantes.
   3- Legenda que mostre os municípios onde o crescimento foi alto, estático e
   negativo.


Após esta atividade, pude mostrar outras formas que eles podem aprofundar
este trabalho em sala de aula, podendo criar legendas como:


   a- De partidos ganhadores por município.
   b- De prefeitos reeleitos


Depois ainda foi sugerido um estudo aprofundado para o município de Viana,
como buscar dados das últimas eleições do município, para saber qual foi a
porcentagem do último prefeito(a) a ser eleito(a), qual a porcentagem de
eleitores por faixa etária, qual o grau de satisfação dos eleitores com a gestão
atual, o que a população tem reivindicado etc.


O texto para a segunda atividade foi pedido aos professores que recortassem
em revistas, rostos que parecessem ser perfis deles quanto cidadão. Solicitou-
se que explicassem o porquê da escolha, perguntando-lhes se poderiam
melhorar este perfil e que escrevessem essas mudanças


Sugeriu-se que fizessem o mesmo com os alunos. Como tarefa extra para os
alunos sugeriu-se que perguntassem como participariam das decisões da
comunidade em que moram e que fizessem as mesmas perguntas aos pais.


Essas formas de trabalhar poderiam culminar em um resultado percentual
daquela turma para saber onde a maioria se encaixaria similarmente aos perfis
do texto em destaque.
30




Imagem 4: Perfis de eleitores.
31

A última atividade da oficina seria trabalhada com o texto „Em quem votar‟
poderia trazer diversas idéias que contribuiriam para o aprendizado em sala de
aula. Para a oficina, selecionaram-se exemplos de como poderiam ser
trabalhados em qualquer turma do Ensino Básico do sexto ao nono ano.


Uma delas seria criar dois políticos para as eleições internas da turma: um
candidato iria fundamentar idéias ilusórias, mas que faça o povo acreditar nele,
e este seria um mau político; e o outro candidato seria o honesto e criaria uma
plataforma política com projetos cabíveis ao seu mandato. Depois, pediria para
que os alunos debatessem e fizessem uma votação em sala de aula. Com o
resultado em mãos, explicaria quem eram os dois políticos e daria o resultado.


Essa forma de trabalhar seria para mostrar aos alunos como diferenciar um
bom político de um péssimo, que só aparece na época de eleições, como diz
no texto „O Político Analfabeto‟. A partir disso, poderia ser feito a discussão do
texto e depois dividir os alunos em grupos e pediria que fizessem charges em
que mostrassem maus exemplos de políticos.


Ainda seria possível trabalhar interdisciplinamente com outras matérias como,
por exemplo: as charges poderiam ser estudadas em Educação Artística;
quando fosse usar os cálculos em porcentagem, poderia ser trabalhado com
Matemática; quando trabalhar formas de montar gráficos poderia trabalhar com
a disciplina de informática e; ainda há um leque enorme de como unir o tema
política a outras disciplinas que só acrescentaria mais no conhecimento e nas
discussões em sala de aula.

Lacoste fala da necessidade de conhecimento múltiplo para melhores
resultados:

                     O fato de que os geógrafos consideram elementos de conhecimento
                     elaborados por múltiplas ciências não deve mais ser tomado, hoje,
                     como a prova das carências ou do estatuto epistemológico
                     ultrapassado da geografia. Essa pode ser considerada um saber
                     científico, mas com uma condição formal de que todos esses
                     elementos de conhecimento, mais ou menos disparatados, não sejam
                     mais enumerados, justapostos num discurso do tipo enciclopédico,
                     mas, ao contrário, articulados em função de um fim. De fato, a
                     legitimidade epistemológica de um saber se baseia não mais num
                     quadro acadêmico, seja ele científico, mas sobre práticas sociais
                     providas de resultados tangíveis (LACOSTE, 1988. p, 228).
32




Imagem 5: Em quem votar.
33

Finalizando a respeito da oficina, o último texto de reflexão seria o texto de
Moacir Gadotti, doutor em educação e autor de diversos livros que trata de
política, cidadania e democracia na sala de aula.


O texto, que não tem título, é uma crítica ao modelo/forma de ensino de certos
professores, que se alinham a um ensino imposto, e que não busca trazer ao
aluno uma forma crítica de ver a sociedade em que vive.


Muitas vezes, o aluno toma o professor como alguém em se espelhar, pelo fato
de ser o professor quem passa a maior carga de conhecimento, e a cidadania é
um dos conhecimentos mais importantes a ser passado. Callai afirma que:


                     O conteúdo da Geografia, neste contexto, é o material necessário
                     para que o aluno construa o seu conhecimento, aprenda a pensar.
                     Aprenda a pensar significa elaborar, a partir do senso comum, do
                     conhecimento produzido pela humanidade e do confronto com outros
                     saberes (do professor, de outros interlocutores), o seu conhecimento.
                     Este conhecimento, partindo dos conteúdos da Geografia, significa
                     „uma consciência espacial‟ das coisas, dos fenômenos, das relações
                     sociais que travam no mundo (CALLAI, 2000, p. 93).



O papel que do professor não é o de direcionar o aluno a uma situação que ele
(professor) acha o certo, mas o de colocar ao aluno opções que ele possa
escolher, onde ele poderá ter conhecimento e falar: isso é certo ou isso é
errado.


A crítica é a medida mais correta de transferir ao aluno uma “Ciência com
Consciência” (Gadotti).
34




Imagem 6: Texto de Moacir Gadotti



Esses textos foram uma forma simples e prática de mostrar como é possível
trabalhar diferentes formas de abordar o tema eleições, política, cidadania e
democracia em sala de aula.
35

   4. Da sala de aula ao encontro com professores

Como dito anteriormente, o encontro com os professores aconteceu em dois
momentos, um na parte da manhã com um grupo e outro momento na parte da
tarde com mais um grupo.




Foto 4: Encontro com os professores de Viana



Nos dois momentos houve uma entrevista com estes professores, que se
disponibilizaram a fazer uma gravação em forma de entrevista, que
posteriormente seria utilizado para análise e inserção do mesmo neste
trabalho.


A identidade de cada professor foi mantida em sigilo, a fim de que eles
pudessem ter total liberdade para falar o que pensavam sobre o assunto. Para
tal, foram elaboradas oito perguntas que norteariam a discussão.


Para que houvesse a participação da maior parte do grupo, foi posto uma
pequena urna que passava pelas mãos dos professores enquanto uma música
tocava, e quando a música era interrompida, a pessoa que estava com a urna
na mão teria que ler a pergunta e começar discussão e então, todos também
eram convidados a participar.
36




Foto 5: Parte da entrevista


A partir de agora será feito uma releitura do que esses professores discutiram a
respeito do tema sendo posto em primeiro lugar qual era a pergunta. A
identificação dos professores foi numerada a partir de cada pergunta, não
sendo, por exemplo, o mesmo professor a ter falado em todas as perguntas.

    4.1.    A entrevista




    Foto 6: Professores discutindo sobre o tema eleição.



Pergunta       1-    Você     em     sua     escola        tem   que   seguir   alguma
metodologia/plano de ensino?
37



Professor 1- Sim, normalmente a gente segue.


Professora 2- Temos sim que fazer um planejamento, mas a escola em que
trabalho me dá liberdade para trabalhar com qualquer assunto extra, mas
desde que seja dentro do tema em que eu estou trabalhando naquele momento
e naquela turma. Portanto eu tenho liberdade sim.


Pergunta 2- Você trabalha com questões relacionadas à política no ensino
básico do sexto ao nono ano?


Professora 1- Quando eu trabalhava em sala de aula sim, eu trabalhei. Eu
explicava quem era o prefeito, o vereador, pra que servia a assembléia
legislativa, o que era o poder executivo e judiciário. Pra que servia todas essas
esferas, qual era a importância delas, porque existia o voto. E sempre surgiam
aquelas dúvidas que nós professores já conhecemos desse assunto. E na
época da eleição a gente acostumava trabalhar com “urninha”. E dois alunos
votavam e tudo isso a gente fazia. Mas como eu trabalhava somente com as
séries iniciais eu não trabalhava com a crítica, mas desde antes eu tratava da
política em sala, com os conceitos para os pequenos.


Professora 2- Eu acredito que os professores trabalham com política o tempo
todo, mesmo que ele pense que não. Quando ele trata, por exemplo, a questão
ambiental, ele relaciona o desperdício, com a falta de alimento, ele já está
trabalhando com política. Tudo que a agente trabalha em sala de aula, mesmo
que indiretamente acaba envolvendo a política. Então, a gente não pode dizer
que odeia política. A política está em nós. Inclusive na política educacional.
Porque quando você coloca um líder em sala, tem escolas que tem grêmio, tem
escolas que tem eleição para diretores, então tudo isso está envolvendo a
política. A política está no sangue e não temos como fugir. Você é obrigado de
alguma forma a relacionar o assunto da política.


Professora 3- Quando você nasce e os pais te registram você se torna um
cidadão e é o seu primeiro ato político. E se a gente não conscientizar os
38

jovens a gente vai perder muita coisa. Porque como você (Thiemerson) disse o
jovem vota e alguns meses depois ele já esqueceu pra quem ele votou, por
exemplo. E esses jovens costumam falar que odeiam política, odeiam os
políticos, e só com isso ele já está fazendo é um ato político.


Professora 1- Esse negócio de ser a favor ou não de um político, de tomar
partido ou não de questões políticas nunca é livre, não tem como ser livre.
Algumas pessoas dizem que votam em branco ou que vende voto. Nada disso
é suficiente. Nada disso vai fazer com que ele se redima da responsabilidade
de participação, por quê? De uma forma ou de outra aquilo vai retornar para
ele, seja por meio de sua decisão, ou seja, por meio da decisão dos outros que
eles estão deixando que os outros tomem por meio da sua decisão.


Professora 2- Complementando o que amiga acabou de falar alguns anos
atrás quando eu era estudante, se eu não me engano nas séries iniciais veio a
questão do impeachment e ali o povo teve noção de como nós temos o poder
político forte, só que a gente está esquecendo isso. Isto está se perdendo com
o passar do tempo. Por isso que eu acho que os professores de geografia e
história, quando trabalhar essa fase prática da política brasileira tinha que
enfatizar que nós temos o poder enorme nas mãos. Não basta eleger, eleger é
o mínimo. A gente tem que cobrar sim, a televisão fala isso, que a gente tem
que cobrar. E o povo se esquece disso. A gente tem que voltar isso para a sala
de aula. E olha vocês vão até concordar, eles (candidatos) estão incentivando
pra „caramba‟ esses meninos de dezesseis anos a votar, porque eles acham
que podem colocar qualquer coisa na cabeça desses meninos. E eles vão lá e
vão votar. Eu acho que a gente tem que colocar na cabeça desses meninos
que eles têm o poder na mão, e que podem cobrar. Se não aqueles meninos
vão lá naquela “bagunçinha” votar e vão embora.


Professora 4- A gente ta costumado a tanta coisa suja na política que a gente
se acomoda do que se revolta, aí a gente faz igual a colega que falou ali. Dá
vontade de votar no „menos pior‟, pra dizer que você não votou em branco.
Tem que fazer justamente o outro lado: de votar, de cobrar de quem eu votei,
porque você não está fazendo isso, ainda mais o vereador, que é o político
39

mais próximo, mais acessível. Porque o senador já é alguém mais distante.
Mais por exemplo, nós podemos cobrar do presidente da associação de
moradores do nosso bairro, do diretor da nossa escola, que acabamos de
eleger, mas a gente não faz. Ou seja, a gente acaba se acomodando, só
reclamar e não agir. E a gente vai vendo as coisas sujas da política crescendo
cada vez mais.


Professora 3- Voltando o que a amiga (professora 2) falou ela falou que nós
vemos os alunos fazendo “festinhas” na hora de votar, é porque a nossa cultura
vem desde a colonização, a não ensinar e cobrar. Então o povo em geral não
sabe cobrar do político. Então aquele que tem menos acesso ao estudo e
cultura então quando ele chega perto de um político ele até treme de medo.
Porque ele nem lembra que foi ele que colocou, no poder. Ele não tem
consciência disso. Então eles não vão cobrar.


Professora 5- Eu acho que o voto não é uma arma mais. O voto foi uma arma
quando existiu uma situação de oposição. E quem acompanha os bastidores
da política sabe que não existe mais essa situação de oposição. Existem
conchaves, existem acordos, então o voto deixou de ser arma, não é arma
mais não.


Professora 2- Eu acho que você tem que ensinar a lutar pelos seus ideais.
Tem uma minissérie que passou há alguns anos atrás, chamado “Anos
Rebeldes”, você lembra a história daqueles rapazes? Eles lutaram por um ideal
político deles. Muitos morreram mais ele lutaram. Então qual o nosso problema
hoje? Nós não lutamos por nada, e quando a gente vai lutar, a gente é punida
de alguma forma. Vocês já repararam na nossa greve de professores? A gente
não ta fazendo nada mais do que lutar pelos nossos direitos. Eles não estão
querendo deixar lutar pelos nossos direitos, eles estão querendo pessoas
apáticas. O que ta lá ta bom. Não te cobram, não te dá trabalho, não tem
problema, só que a gente tem que lembrar que o povo pode só que a gente
não pode acomodar, se a gente acomodar acabou.
40

Pergunta 3- Este ano há eleições, vocês pretendem trabalhar de alguma
forma com seus alunos?


Professora 1- Este ano, nós estamos com o calendário completamente
corrido, pedagogicamente falando, por que nós estamos com muitas datas
comemorativas seguidas. A gente não pode esquecer o Dia das Mães, não
pode esquecer-se da Copa, não pode esquecer-se das Eleições. Eu falo como
pedagoga. Então a gente tem que trabalhar um de cada vez. A gente está
trabalhando com a Copa, mas nós não nos esquecemos das Eleições. E pra
falar a verdade, nós sabemos que existem muitos interesses políticos para, por
exemplo, saber quem será o campeão e para os investimentos nas cidades
sede da Copa de 2014. Mas que nós vamos trabalhar isso vamos, mas eu te
confesso que eu ainda não sei como.


Professora 2- Eu, essa semana, estava pensando e dando uma „pincelada‟ no
assunto, porque como eu trabalho com Geografia, faz parte da minha matéria,
eu pensei em trabalhar com sistemas políticos e eu estou agora começando
com este assunto, principalmente com o oitavo e nono ano.


Pergunta 4- Você faz discussões em sala para incentivar o olhar crítico do
aluno?




Foto 7: Professora coloca o seu ponto de vista frente a política.
41

Professora 1- Isso é uma prática cotidiana na sala de aula. Todas as
questões, só pelo fato de você não colocar o aluno para agir, pensar, isso aí já
é uma ação que você faz para ele não avançar. A partir do momento que você
coloca o aluno para fazer uma coisa „mecânica‟ ou não faz nenhuma reflexão,
você está contribuindo para que ele seja letárgico e apático. Essa é a intenção
mesmo, você não ter o dialogo para não tirar a criança da letargia. Isso é ruim.


Professora 2- Com certeza, isso é muito importante. Eu não deixo de fazer os
meus alunos participar. Por exemplo, quando eu trabalho com os dois
sistemas, o Capitalismo e o Socialismo, eu sempre faço um paralelo
comparando e, nesse momento, eu sempre reforço o nosso lado brasileiro que
culturalmente nós não fomos preparados para entender os direitos que nós
temos para exigir.


Professora 3- Eu acho que nós temos que ensinar desde pequenininhos. Até
uma historinha que você vai contar lá na educação infantil, lá nas séries
iniciais, você tem que fazer com que a criança veja alguma coisinha. Você
nunca vai contar uma história por contar. Você já tem que estar colocando para
essas crianças essas questões, porque se você deixar para falar de política só
quando ele estiver lá no sexto ano, no oitavo ano, você já perdeu grande parte
da vida dele que você poderia estar construindo um cidadão melhor. Não
precisa ser exatamente sobre política, mas uma brecha que você tem para
inserir sobre política, cidadania, preconceitos, você já está contribuindo para o
desenvolver daquelas crianças, que pode surtir efeito ou não lá na frente.
Depende de todo um contexto de onde ele vive e tal, mas você tem que
começar cedo.


Professora 1- No início as colegas falaram aqui a questão de que quando
nascemos já estamos inseridos na política. Nós somos políticos. Não tem jeito.
Aquela expressão “a política” é errada. E a questão do posicionamento, como a
colega agora falou. A gente se posiciona fazendo política pra gente ou uma
política coletiva que é a melhor forma de viver. É como ela (professora) falou:
ou você se posiciona de uma forma ou de outra. E formar pessoas conscientes,
pessoas que se posicionem é uma opção. Você (professor) tem uma
42

responsabilidade muito grande. E o que a gente ta vendo é muita gente
irresponsável, muito educador irresponsável.


Nós temos que pensar que estamos envolvendo muitas pessoas, muitas vidas.
E a gente está vendo muita irresponsabilidade nessa questão. Como professor,
como pedagogo, nós temos que prestar muita atenção no que estamos
fazendo ou no que estamos falando, e nas atitudes que estamos tomando.


Pergunta 5- Quando você fala de eleições com seus alunos é sondado de
que forma?




Foto 8: Professor cria forma de trabalhar em sala de aula com política.



Professora 1- Essa questão de falar especificamente de eleições, eu acho
você pode fazer com que ele (aluno) chegue nesse assunto. Você pode
sondar, fazer ele falar, principalmente agora que é ano eleitoral, você pode
pegar assuntos pertinentes e está levando para falar o que ele acha, por
exemplo, se têm políticos na religião dele, no caso estudar qual o papel de
cada político. No caso eles vão abrir a consciência deles para saber os papéis.
Eu me lembro o professor da minha quinta série (do antigo Ensino
Fundamental) dizendo: “gente, o senador não faz obras, ele só aprova as
novas leis. Então se o senador ficar prometendo obras, não acredita nele”.
43

Então, eu acho importante ensinar, quem faz o que (na política), porque esses
políticos vão aos bairros carentes e prometem coisas surreais para se
candidatarem. Então, qualquer assunto que for pertinente que chegue ao
ouvido dele é bom falar, principalmente esse ano.


Muitos alunos perguntam sobre política aos seus pais e muitos dizem não
gostar de política e de políticos, e dentro da escola, o aluno tem maior base.
Igual ao que a professora disse antes: é bom ensinar um pouco de política a
essas crianças desde as séries iniciais. Então, na escola, nós podemos mudar
um pouco essa questão de não gostar de política.


Talvez essa geração que nós temos educado, possa começar a mudar essa
história (dês desgosto com política). Assim como a outra professora disse, nós
sabemos que tem muitos conchavos por trás das „mangas‟, mas não são todos.
Então nós temos que começar a mudar essa realidade dentro da escola. Nós,
como professores, podemos e temos que formar pessoas com consciência. É
um trabalho árduo e que talvez nós só teremos resultados daqui a muitos anos,
mas temos que começar agora, porque se não eu acho que a nossa profissão
não tem sentido.


Professor 2- Eu acho importante a gente colocar na cabeça dessas crianças
uma cultura de cobrança desses políticos, porque isso realmente não existe. E
sobre a questão de falar de política nas escolas, só o fato de este ano você ter
Copa do Mundo de Futebol cassado justamente com o ano eleitoral, isso pra
mim é até certa „aberração‟ para poder desviar o foco não só da criança, de até
nós mesmos já com censo crítico formado. Então eu acho importante explicar
para as crianças que este ano vai ter eleições para governador, senador entre
outros, e fazê-los entender que estas pessoas que eles estão elegendo é que
no futuro irá disponibilizar verba e outras coisas como aposentadoria para o
interesse deles (alunos).


Quando é uma questão local, quando há eleições para vereador e prefeito, eu
acho que você tem que trabalhar mais focado com o aluno. Por exemplo, o
vereador fiscaliza o prefeito e cria leis e o prefeito é o executor disso, mas uma
44

coisa bem crítica que poderia trabalhar com aluno que eu acho que daria certo,
é sobre as necessidades do bairro daquele aluno onde ele mora. Se há posto
de saúde, se ele funciona, se nas escolas públicas precisa de alguma coisa ou
reforma, se há professores para todos, se a rua é pavimentada, se há
saneamento básico, por que todas essas coisas são responsabilidades do
prefeito e do vereador que foi eleito por aquela comunidade e cabe a eles estar
solucionando estes problemas. Aí sim, é mais fácil você estar incentivando o
aluno a estar cobrando algo que está ao alcance deles.


Professora 1- A política comanda em todos os aspectos. E eu vi no jornal
semana passada que as pessoas estão comprando televisores maiores e se
endividando para assistir melhor a Copa. Só que quando chegar na época das
propagandas políticas, essa televisão será desligada. As pessoas não
entendem como é importante ele conhecer os candidatos, o que eles pensam,
qual a postura deles, enfim, não querem saber conhecer melhor o seu
representante.


E outra coisas importante que pensei aqui, é que nas escolas nós podemos
formar também bons candidatos à política. Talvez daqui a alguns anos, esse
aluno pode ser eleito pela sua comunidade e ele pode fazer muito pelo seu
município. E ele pode trazer novamente a idéia de representante do povo que
se perdeu hoje em dia.


Professora 3- Eu concordo que há muitos políticos que acham que a política é
um meio de „vida‟ (de trabalho para sobrevivência). Mas eu acredito que há
pessoas que estão na política para fazer coisas boas, porque se não, como nós
poderíamos chegar aonde chegamos? Será que toda a política acabou? Eu
não posso mais acreditar em nenhum político?


Professora 4- Eu acho que a preocupação da colega é a mesma que a minha.
É claro que existem políticos bem intencionados. Eu conheço um vereador que
se elegeu e depois de quatro anos ele nunca mais quis saber de cargo político.
Então, há pessoas de boa fé. Então como eleitor nós temos que nos perguntar:
qual a proporção de pessoas bem intencionadas que nós elegemos para
45

trabalhar? Porque também há políticos que quando se elegeu fez muita coisa,
mas quando se elege para um segundo mandato, ele não faz mais nada. Mas a
gente não pode perder a esperança.


Professora 3- Mas quando você perde a esperança, você não deixa de fazer
política, por que você continua fazendo parte da sociedade.


Professora 1- Se eu sou uma pessoa bem intencionada, então na sala de aula
eu posso trabalhar com essa boa intenção e educar os meus alunos de forma
conscientizadora.


Pergunta 6- Quando você fala de política, a „cara‟ dos alunos são sempre
iguais?


Professora 1- Eles detestam, dizem que isto está longe deles. Longe do local
deles, que muitos não prestam.


Professor 2- Já aconteceu em uma escola em que trabalhei onde um aluno
disse que o pai dele foi eleito e disse que agora ele estava morando em um
bairro „digamos‟ mais nobre.


Professora 3- O grande problema é que o nome política está sempre
associado aos cargos que nós elegemos. Eu penso que é por isso que as
pessoas têm pavor de falar sobre política. A partir disso há pessoas que se
intitulam apolíticos. Mas isso pode ser relacionado a outros assuntos dentro da
escola. E acho que é por isso que eleição não deve ser falado só no ano de
eleição. Todo ano de eleição tem Copa do Mundo e ela acaba escondendo
mais ainda a importância da política.
E hoje as pessoas escolhem seus candidatos a partir da TV, e existe muito a
questão da beleza, da imagem da pessoa. Na época que Collor foi eleito minha
vizinha argumentou que votou nele por isso. E Isso é imaturo


Pergunta 7- Você já buscou formas diferentes de abordar o tema eleições
em sala de aula?
46



Professora 1- Na Serra, eu já fiz em uma escola. Eu trabalhei com eles
fazendo cartazes explicativos sobre diversos assuntos envolvendo política.
Pedi para que fizessem entrevistas com os pais, já que eles (alunos) nunca
tinham votado e depois nós expusemos esses cartazes para que todos os
alunos e pessoas que passassem pela escola também poderiam ver.


Professora 2- Eu já trabalhei sim, mais não envolvendo somente o tema
política. Eu já trabalhei com os alunos em sala fazendo votação para líder de
turma, já fiz algumas dinâmicas fazendo que eles votassem por pessoas
diferentes na sala que os representariam como político. Já trabalhei com
alunos criando panfletos educativos sobre eleições para eles distribuírem na
rua. Não necessariamente trabalhando definições.


Professora 1- Eu já trabalhei muito em sala essa questão teórica, de quem é o
prefeito, quem é vereador, quem é o senador, deputado, mas nunca foi algo
muito específico.


Pergunta 8- Você acha importante abordar o tema “Eleições” no ensino
básico do sexto ao nono ano?


Professora 1- Claro que sim. Eles precisam saber o que é política, para quê
serve, o objetivo. Às vezes, muitos alunos não gostam de falar de política,
porque eles não sabem o que podem conseguir com o voto. O problema é que
a gente está vindo com tanto conteúdo que a gente não pode perder tanto
tempo com um tema tão importante. Aí, acaba sendo passado de forma bem
rápida e atropelada. Você não pode ter tempo de focar porque se você passar
muito tempo com aquilo, você não dá conta do seu conteúdo, você não dá
conta da suas provas e tal. Eu sei disso porque as vezes eu vou conversar com
os professores e muitos falam que passam rapidinho e aí eu falo para que eles,
mesmo passando rapidinho, não deixem de falar sobre esse assunto porque a
gente tem pouco tempo. Então, eu acho que coisas tão importantes como
eleição deveriam ter mais tempo, mas nós temos tantas coisas que não
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sabemos o que são mais importantes priorizar para os alunos. Mas que é
falado, isso é, e pra mim é super importante.


   4.2.     Análise final da entrevista




Foto 9: Conversando com os professores sobre a entrevista e oficina.



Achei muito satisfatório a entrevista com os professores, pois além da
participação de grande parte deles no debate livre, diversos assuntos
relacionados às eleições foram destacados.


A princípio a pergunta foi relacionada à política no geral. Muitos embasaram
suas respostas na política não como representativa, mas como algo já
institucionalizado,    lembrando      principalmente      dos     cargos   políticos   que
elegemos, sendo que apenas uma professora tocou no assunto do “eu
escolho”.


Logo depois, eles falaram algo importante. Uma das professoras disse que
“nós já nascemos políticos”. Quando nascemos, estamos sujeitos àquilo que
nossos pais nos oferecem. Além disso, temos o tempo inteiro nos relacionado,
mesmo sem querer, com outras pessoas próximas à nossa família. Essa
relação de convivência é natural desde recém nascidos e nós não podemos
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fazer nada contra isso, até porque essa dependência é necessária para a
nossa sobrevivência.


Ainda na pergunta dois, os professores falaram da questão cultural, lembraram
do Movimento dos Caras Pintadas que conseguiram um impeachment do então
presidente Fernando Collor de Melo e lembraram-se da importância de lutar
pelos direitos como cidadão.


Muitas pessoas hoje desacreditam, mas mais pelo fato de não terem
ferramentas que possam fiscalizar o que os políticos eleitos estão fazendo,
mas mesmo assim, não procuram orientação para exigir mudanças e o que
acontece muito é a acomodação por grande parte da população e com isso
esquecem que o seu papel como cidadão é o de cobrar.


Outro ponto fundamental que foi tocado é a questão cultural da política no
Brasil. Essa acomodação visível da população não é de agora. Já vêm de
algum tempo. Os movimentos contra questões políticas, sempre foram por
motivações que prejudicava uma grande parcela da sociedade brasileira, mas
os problemas locais, que talvez seriam fáceis de resolver, costumam ser os
que demoram uma eternidade para serem resolvidos. O brasileiro tem uma
velha cultura de deixar que outro resolva e só participa de algum movimento se
aquilo for de seu interesse, sendo que a política deveria ser pensada para o
coletivo.


Com isso, os pais que hoje não se interessam por essas questões e que nunca
tocam no assunto de política em casa, tornam os seus filhos como eles, e estes
crescem sem expectativas de mudança. E mais uma vez, porque não pensam
no coletivo e muito menos buscam por seus direitos como cidadão.


Quando perguntado aos professores se eles já estavam se programando para
trabalhar com seus alunos sobre eleições, uma vez que este ano é um ano
eleitoral, apenas duas professoras responderam a essa pergunta, sendo que
uma alegou falta de tempo para uma melhor elaboração do assunto para
trabalhar com os alunos.
49

Essa mesma professora alegou que “há muitas datas comemorativas e que
devem ser colocadas para se trabalhar com os alunos e que quando chegar
próximos a eleição, eles com certeza iriam trabalhar com o tema política”.


O problema para alguns professores é que a falta de tempo e o planejamento a
que são submetidos faça com que eles não deem tanta ênfase no assunto,
uma vez que o conteúdo das turmas já são imensos e os professores se
desdobram para trabalhar tudo, mesmo que para eles é super importante a
conscientização.


Essa conscientização pode ser trabalhada através do olhar crítico dos alunos.
Todos os professores foram unânimes em dizer que isso é importante e
trabalham focando a questão de fazer com que o aluno participe, que dê sua
opinião, que forme sua linha de raciocínio. Isso já contribui para que ele (aluno)
se sinta importante e ele sabe que sua „voz‟ pode ser ouvida. Isso o faz se
sentir importante e cria nele um incentivo maior de participação em decisões na
sala de aula e que depois poderá participar nas decisões da sua escola, de um
grêmio estudantil, do seu bairro, do seu município etc.




Foto 10: Professores estudando um texto de eleições.



Além da conscientização, há a questão da educação em sala de aula. Nós,
“futuros professores” e professores, temos a obrigação de incentivar o aluno a
50

pensar como uma pessoa capaz de formar sua opinião, e isso é uma
responsabilidade tremenda. Uma das professoras cita que “há muitos
professores irresponsáveis nesse sentido”. O professor lida com seres
humanos e suas atitudes podem ajudar ou não na formação destes alunos. Por
isso é importante que o professor esteja preparado para quando abordar este
assunto.


Todos      os   professores   disseram     ser    importantes      começar      com     a
conscientização do aluno desde cedo. Se possível, desde as séries iniciais.
Obviamente que para cada faixa etária, seria necessário criar formas que estes
pudessem compreender melhor e assim evoluir.


Segundo o Plano Decenal de Educação para todos de 1993-2003:


                      Compreender que as melhorias nas condições de vida, os direitos, os
                      avanços técnicos e tecnológicos e as transformações sócio-culturais
                      são decorrentes de conflitos e acordos, que ainda não são usufruídos
                      por todos os seres humanos e, dentro de suas possibilidades,
                      empenhar-se em democratizá-las (BRASIL, 1993, p. 121)


O professor de Geografia tem papel fundamental de tornar o aluno um crítico
da sociedade em que vive principalmente por causa das diferenças sociais e
culturais que fazem de nosso país um lugar onde se devem lutar,
principalmente os mais atingidos por estes fatos, para que consiga uma
mudança real nas condições hoje vivida.


E não somente lutar pelo que eu quero. A democracia só tem sentido quando
lutamos por algo comum, quando vai ao encontro do interesse coletivo. E é
isso que nos torna cidadãos conscientizados.
51

   5. Do encontro com professores à solidão das reflexões...

Este trabalho trouxe-me diversas dúvidas ao começar a elaborá-lo. Trouxe-me
também muito conhecimento a respeito do tema, pois, como aqui foi citado por
diversas vezes, o brasileiro se acomodou em pensar na política como algo
desinteressante. E este trabalho veio como uma forma de alertar e atentar,
principalmente aos educadores de Geografia, que é necessário mudar esse
pensamento, principalmente com os alunos do ensino básico que ainda estão
em formação.


Levi, a partir de Maquiavel, relata em uma passagem o modo como devemos
ver a política:


                     Maquiavel, que inaugura um novo modo de encarar a política, é o
                     primeiro a entendê-la como um jogo de paixões e interesses
                     animados por forças opostas. Na sua obra máxima, ele não se dirige
                     a sabedoria do príncipe, mas exclusivamente a seus interesses
                     (LEVI, introduction, in Maquiavel, apud BUFFA, 1987, p. 20).



Quando nós vemos estes adolescentes crescerem dizendo não gostar de
política, na verdade eles juntam essa idéia geral aos políticos. Esses
adolescentes que estão descontentes estão ainda abrindo sua cabeça para
novos conhecimentos e é nessa época em que ele se interessa por vários
assuntos novos.


O problema aparece quando a sociedade em que ele vive, mostra a política
como algo desnecessário e que não é bom ele perder tempo com isso. A mídia,
por exemplo, mostra o tempo inteiro sobre escândalos políticos, desvios de
dinheiro, licitações apoiadas etc. A respeito disso Santos diz que:


                     Em lugar do cidadão surge o consumidor insatisfeito e, por isso,
                     voltado a permanecer consumidor (SANTOS, 1993, p.17).



Há também os próprios pais e familiares que esses meninos convivem que não
tem uma formação política adequada para passar para eles. E o maior
52

problema de todos são as escolas, seus planejamentos e seus livros didáticos
que não dão importância para o estudo. Pegando como base a fala de uma
pedagoga que participou da entrevista, ela afirma que:


                     O problema é que a gente está vindo com tanto conteúdo que a gente
                     não pode perder tanto tempo com um tema tão importante. Aí, acaba
                     sendo passado de forma bem rápida e atropelada. Você não pode ter
                     tempo de focar porque se você passar muito tempo com aquilo, você
                     não dá conta do seu conteúdo, você não dá conta da suas provas e
                     tal (Pedagoga que participou da entrevista no dia 21/05/2010 em
                     Viana, E.S).


Infelizmente esse ainda é um pensamento comum, não só nas escolas do
município de Viana, mas de todo o Brasil.


Todos sabem que a política tem influência direta muito forte na nossa vida,
porém muitos acreditam que as eleições, ou seja, o voto é a única forma de
participação na política. Um pensamento errôneo.


Não há dúvidas de que a participação nas eleições é fundamental para a
democracia, mas isso não é o bastante. Hoje, como foi também muito citado na
entrevista, há várias formas de participarmos da política. Em muitos municípios,
há o chamado Orçamento Participativo, onde os moradores de certa localidade
podem ter acesso as informações da tesouraria do município e ainda podem
definir as prioridades de obras em seu bairro, juntamente com os líderes que
eles elegeram.


Isso já é um bom caminho para voltarmos a falar de democracia. Mas essa
noção de participação não deve parar por aí. Hoje, muitos meios de
comunicação local dão espaço para a população fazerem reclamações da
prefeitura sobre os problemas e dificuldades que estão passando em sua
localidade. E esses meios fazem um link direto com os órgãos responsáveis a
fim de tentar solucionar o problema.
53

Segundo o professor doutor Pedro Guareschi, (2000) “a palavra chave é
participar”. Esse sistema votar-participar-cobrar deve estar sempre junto e
trabalhado de forma paralela, pois, talvez seja essa a noção de democracia
que muitos brasileiros desconhecem. Nesse sentido, Vesentini escreve:


                     Trata-se de ir em direção a uma nova ética e as novas maneiras de
                     viver. Para nós, isso significa romper com o clientelismo e com as
                     relações de favor, de dependência moral, em referência ao
                     representante. Estabelecer novas relações entre as instituições e as
                     pessoas, por meio das quais estas últimas dominem suas condições
                     de existência, o que equivale dizer que se conviveria com uma de
                     autogestão.   Quaisquer    relações   que   mantenham      posições
                     hierárquicas consolidadas, como verdadeiros estamentos, nos quais
                     uns tem poder o outros não a detêm, comprometem essa idéia de
                     cidadania (VESENTINI, 1999, p. 13).



Quando votamos, estamos elegendo alguém para nos representar para o
nosso benefício coletivo. Então por isso é importante participarmos no voto.
Quando elegemos um candidato, temos que entender que dependemos dele
para tomar as decisões por nós. Então é importante participar junto a ele. E
quando essas decisões não são executadas de forma correta, devemos cobrar
para obtermos resultados.


A cidadania pode ser considerada uma luta constante para retomar perdas
irreparáveis, mas no sentido de lutas por construções novas, resgatando-a.
Isso envolve a geografia, como é possível imaginar o já exposto.


A expressão cidadania que os professores devem passar para seus alunos é
que eles devem pensar, decidir, desejar participar, enfim,.ele deve querer o
bem comum. Santos escreve:


                     A cidadania, sem dúvida, se aprende. É assim que ela se torna um
                     estado de espírito, enraizado na cultura. É nesse sentido, que se
                     costuma dizer que a liberdade não é uma dádiva, mas uma conquista
                     a manter (SANTOS, 1993, p. 7).
54

O votar é apenas uma expressão do seu anseio como cidadão. Isso não quer
dizer que ele participe da política somente de dois em dois anos. Isso é uma
questão a ser rompida e sem sombra de dúvida é na escola que isso deve
começar. Formar cidadãos desde cedo deveria ser obrigatório. Conscientizar e
formar cabeças pensantes já são uma prática comum, mas não no âmbito
político. Saviani propõe cinco passos para a o desenvolvimento do aluno na
escola:


                     O ensino seria o desenvolvimento de uma espécie de projeto, quer
                     dizer uma atividade – vamos aos cinco passos do ensino tradicional:
                     então, o ensino seria uma atividade (1° passo) que, suscitando
                     determinado problema (2° passo), provocaria o levantamento dos
                     dados (3° passo) a partir dos quais seriam formuladas as hipóteses
                     (4° passo) explicativas do problema em questões, empreendendo
                     alunos e professores, conjuntamente, a experimentação (5° passo),
                     que permitiria confirmar ou rejeitar as hipóteses formuladas
                     (SAVIANI, 1983, p. 85).



Essa forma de ensinar seria algo mais fácil de entender a política, pois o
professor instigaria o aluno a pensar sobre o assunto e a partir do
conhecimento do aluno, o professor passaria o conteúdo de forma que o aluno
pudesse compreender melhor. Quando o aluno é chamado a dizer o que
pensa, ele se sente parte daquilo e toma essas verdades para ele, e o
professor faz seu trabalho de conscientizar. E é o professor de Geografia, o
maior responsável por isso. Damiani afirma:


                     A    geografia   deve     participar   dessa   experiência,   enquanto
                     pensamento/ação (DAMIANI, 1999, p. 61).



Portanto, nós devemos pensar em todos esses conceitos aqui estudados,
política, cidadania, eleição, democracia, como um conjunto de idéias
inseparáveis, “apesar de serem distintos e dotados de especificidades próprias”
(SAVIANI, 1983, p. 49).
55

Os políticos brasileiros não acreditam no povo como entidade consciente, sem
capacidade de discernimento e de liberação. E o que precisamos dado ao
atraso de ensino de política e cidadania, é que se eduque e conduza os alunos
para uma maturidade política. Só assim, estaremos garantindo a cidadania e
democracia.


Podemos considerar então que o voto é onde apenas começa a democracia.
Nós, enquanto parte da sociedade brasileira, devemos cobrar dos políticos que
elegemos capacidade de organização, não de opressão do sujeito.


Então, espero que os professores de Geografia do ensino básico do sexto ao
nono ano, possam fornecer todos os conhecimentos necessários sobre esse
conjunto de conceitos para a construção de conhecimentos significativos, que
permitem os alunos a se situarem dentro de uma sociedade politizada, e
principalmente que esses conhecimentos sejam aplicados em seus espaços de
vivências: lar, escola, igreja, comunidade, bairro etc. Só assim estaremos
construindo uma sociedade democratizada de fato.
56

   6. Referências


BRASIL. Ministério da Educação e do Desporte. Secretaria de Educação
Fundamental. Plano Decenal de Educação para todos (1993-2003). Brasília:
MEC, 1993.


BUFFA, Ester; ARROYO, Miguel; NOSELLA, Paolo. Educação e cidadania:
quem educa o cidadão? Editora Cortez/ Autores Associados, 1987. 94 p.


CARLOS, Ana Fani (organizadora). A Geografia na sala de aula. São Paulo:
Contexto, 1999, p. 7-61.


ANDRADE, Manuel Correia de. Trajetória e compromissos da geografia
brasileira IN: CARLOS, Ana Fani (organizadora), A Geografia na sala de aula.
São Paulo: Contexto, 1999, p. 9-13.


DAMIANI, Amélia Luisa. A Geografia e a construção da cidadania IN:
CARLOS, Ana Fani (organizadora). A Geografia na sala de aula. São Paulo:
Contexto, 1999, p. 50-61.


VESENTINI, José Willian. Educação e ensino da Geografia: instrumentos
de dominação e/ou libertação IN: CARLOS, Ana Fani (organizadora). A
Geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1999, p. 14-33.


CASTROGIOVANNI, A. C. (org.) Apreensão e compreensão do espaço
geográfico. IN: Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano.
Porto Alegre: Mediação, 2000.p 11-22.


CALLAI, H. C.; CASTROGIOVANNI, A. C (org.). Estudar o lugar para
compreender o mundo. IN: Ensino de Geografia: práticas e textualizações no
cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2000. p. 83-92.


CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia e práticas de ensino. Goiânia:
editora Alternativa, 2002, volume 1, 127 p.
57

CHAUÍ, Marilena: Convite à Filosofia. São Paulo: editora Ática, 6° Ed, 1997. p.
367-435.


Educação e Sociedade. Revista de Ciência da Educação. Volume 28.
Jan/Abr 2007.


LACOSTE, Y. A geografia – isso serve, em primeiro lugar, para fazer a
guerra. Tradução de Maria Cecíllia França. Campinas: Papirus, 1988. 263 p.


MARTINEZ, Paulo. Direitos de cidadania: um lugar ao sol. São Paulo:
Scipione, 1996, p. 6-49.


SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1993, 142 p.


SAVIANI, Demerval. Escola e democracia. São Paulo: editora Cortez, 1983.
96 p.


WOOLDRIDGE, S. W. ; GORDON EAST, W. Espírito e propósitos da
Geografia, 2° Ed. Zahar Editores, 1967. P.13-24; 127-147.


Entrevista com Pedro Guareschi ao Jornal Mundo Jovem. No voto começa a
democracia. São Paulo, p. 12, setembro de 2000.


Site da Presidência da República onde se encontra a Constituição da
Republica       Federativa      do      Brasil   de      1988.      Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>
Acesso em: 05 de abril de 2010.


HOLANDA, Sérgio Buarque de. Introdução à democracia. 18 de setembro de
1956.                      Disponível                 em:                    <
http://almanaque.folha.uol.com.br/sergiobuarque_democracia.htm>.     Data    do
acesso: 28 de maio de 2010.

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Ano de

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADE CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA THIEMERSON DE PAULA BAUTZ Ano de eleição: a Geografia Escolar e a formação da cidadania VITÓRIA 2010
  • 2. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADE CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA THIEMERSON DE PAULA BAUTZ Ano de eleição: a Geografia Escolar e a formação da cidadania Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à disciplina de Projeto de Conclusão de Curso de licenciatura em Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo como requisito de obtenção do título de Licenciado em Geografia, orientado pela Professora Doutora Marisa Valladares. VITÓRIA 2010
  • 3. Aos meus pais, Arlindo e Maria da Penha, que acreditaram em mim e me deram o apoio para chegar até aqui.
  • 4. AGRADECIMENTOS Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus pela vida e pela escolha que me fez tomar ao escolher o curso de Geografia. À professora orientadora Marisa Terezinha Rosa Valladares que, desde o início do curso, me incentivou a pesquisar sobre o tema eleição e nunca me fez desanimar quando percebi as dificuldades, e, pela paciência por me atender por tantas vezes além do meu tempo de orientação. À Secretaria de Educação de Viana, por me acolher e me dar apoio para a formulação prática do meu trabalho, em especial, à Professora Tereza Pollezi por estar o tempo todo me auxiliando, e, aos professores de Geografia daquele município, por contribuírem tão generosamente com minhas inquietações teórico-metodológicas e por permitirem a entrevista filmada. Novamente, à minha família por ter tido tanta paciência comigo, permitindo-me ocupar todo o meu tempo, desde cedo até as madrugadas, para concluir este trabalho. Aos amigos da turma 2007/1 que até aqui seguiram comigo, nas tolerâncias mútuas, nas parcerias, na solidariedade, nas brincadeiras, nas conversas, nas viagens de estudo... ...Á todos vocês a minha sincera admiração! Thiemerson
  • 5. Com a força que Cristo me dá, posso enfrentar qualquer situação. FP 4-13 (L.H).
  • 6. Resumo As questões relativas à cidadania de adolescentes ganham destaque em anos eleitorais. Contudo, no ensino de Geografia percebe-se uma deficiência na produção de estudos sobre a temática, em especial no que se refere ao segmento final do ensino básico. Assim, este trabalho tem como objetivo problematizar a ação docente relativa à formação política dos adolescentes no ensino básico, do 6° ao 9° ano, por meio da Geografia, colocando em foco questões concretas de suas vivências de cidadania. Pretende-se relacionar formas e tratamentos dados à questão por professores de Geografia, elaborando e experimentando uma proposta de estudo escolar abordando o ano eleitoral. Para tanto, utilizou-se Saviani (1983) e Buffa (1988) como base nas discussões sobre cidadania; Santos (1993) na análise do contexto político brasileiro, associando-se estes estudos às abordagens relativas ao ensino de Geografia elaborado por Carlos (1999), numa perspectiva crítica relacionada ao cotidiano escolar e ao contexto político vivenciado por alunos. A perspectiva da pesquisa-ação incluiu a conversação como metodologia complementar de entrevistas, orientando a elaboração e a realização de uma oficina pedagógica, com professores da rede municipal de Viana. A oficina pedagógica abordou questões relativas à cidadania na Geografia escolar, com experimentação de atividades para conexão entre o ano eleitoral e a formação em cidadania, para estudantes do ensino básico do 6° ao 9°anos. A análise dos dados obtidos aponta para a velha perspectiva sobre política, da sua descrença e falta de perspectivas futuras, e que é apresentado nos capítulos deste trabalho. Palavras chave: 1. Geografia e Cidadania. 2. Geografia e Eleições. 4. Ensino da Geografia e Política.
  • 7. Abstract The questions relatives for teenager‟s citizenship win focus in electoral years. However, on Geography studies we realize a deficiency on production of studies about the thematic, in special on reference the final continuation of elementary school. In this way, this labor has the objective to problematize the teacher action relative for the politic formation of teenagers from six to nine years of Elementary School, trough Geography, putting in focus the concrete questions of their citizenship experiences. Seeks to list forms and treatments provided for the questions by Geography teachers, elaborating and experienced one proposal of scholar study, addressing electoral year. For that, used Saviani (1983) and Buffa (1988) as base on discussions about citizenship; Santos (1993) on analyses of Brazilian politic context, associate this labors for the approaches relatives of Geography education elaborated by Carlos (1999), in a criticizes perspective related of the scholar daily and of the politic context experienced by the students. The perspective of research/action included the conversation as complementary methodology of interviews, guiding the elaboration and the achievement of a pedagogical workshop with Viana‟s municipal teachers. The pedagogical workshop approached questions relatives for the citizenship on scholar Geography, with experimentation of activities for connection behind the electoral year and the citizenship formation, for students of six and nine years of Elementary School. The analyses of data acquired show for the old perspectives about politics, your disbelief and the lack of future perspective and that is showed on the chapter of this labor. Key words: 1. Geography and Citizenship. 2. Geography and Elections. 4. Geography teaching e Politic.
  • 8. Lista de Fotografias Foto 1- Professores em formação…..………………………...……..….17 Foto 2- Professores realizando trabalhos didáticos..........................20 Foto 3- Construindo legendas políticas..............................................23 Foto 4- Encontro com os professores de Viana................................35 Foto 5- Parte da entrevista...................................................................36 Foto 6- Professores discutindo sobre o tema eleição.......................36 Foto 7- Professor coloca o seu ponto de vista frente a política.......40 Foto 8- Professora cria forma de trabalhar com política em sala de aula.........................................................................................................42 Foto 9- Conversando com os professores sobre a entrevista e oficina.....................................................................................................47 Foto 10- Professores estudando um texto de eleições.....................49
  • 9. Lista de Imagens Imagem 1- Localização de Viana....................................................................21 Imagem 2- Comparação do crescimento de eleitores do Espírito Santo por município nos anos de 2000 e 2004 .............................................................27 Imagem 3- Mapa político administrativo do Espírito Santo.........................28 Imagem 4- Perfis de eleitores.........................................................................30 Imagem 5- Em quem votar..............................................................................32 Imagem 6- Texto de Moacir Gadotti...............................................................34
  • 10. Sumário 1- Da Constituição para a Geografia........................................................10 1.1- Conceitos necessários..................................................................10 1.2- Relação Política e Geografia.........................................................14 2- Da geografia para o campo de pesquisa............................................17 3- Do campo de pesquisa para a sala de aula........................................22 4- Da sala de aula ao encontro com os professores..............................35 4.1- A entrevista....................................................................................36 4.2- Análise final da entrevista............................................................47 5- Do encontro com professores à solidão das reflexões.....................51 6- Referências............................................................................................56
  • 11. 10 1. Da Constituição para a Geografia 1.1. Conceitos necessários Para muitas pessoas discutir a política não é nada interessante e importante. Mas até que ponto essa discussão não é interessante e importante para adolescentes? Que contribuições o ensino de Geografia pode proporcionar à formação política de adolescentes, numa perspectiva de construção de cidadania jovem? Acreditando no potencial geográfico de análise do contexto político cotidiano e considerando que é papel do professor envidar esforços no enfrentamento desse desafio, buscou-se reunir bases teóricas e práticas necessárias para uma proposta de estudo que tornasse essa discussão interessante para jovens que estão no ensino básico, do 6° ao 9° ano. Como parceiros desta pesquisa, selecionei um grupo de professores de Geografia que, gentilmente, me forneceu pistas para elaboração da proposta, experimentando-a e avaliando-a. Para fundamentação inicial, tomei como base os direitos do cidadão brasileiro de acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, onde se elucida: TÍTULO I Dos Princípios Fundamentais Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui- se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
  • 12. 11 Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao. htm A Constituição Brasileira é considerada uma das constituições nacionais mais completas, tendo servido de base para formulações de semelhante documento de diversos países do mundo. Com essa representação de lei dos direitos e deveres, é possível instigar a sociedade a pensar quem não está fazendo o que deveria para universalização da cidadania no país. Parece-me ser um erro de pensamento da sociedade em geral, justificar por meio da crítica aos dirigentes e agentes políticos, os desvios de conduta e de investimentos públicos, que se tornam cada vez mais rotineiros, sem que nada ou quase nada se efetive para maiores mudanças no cenário político nacional. Acredito que é preciso investir na educação para se compreender a real necessidade do saber ser cidadão, principalmente no momento das eleições, quando se exerce a função apontada no parágrafo único do Art. 1° da Constituição: votar em um representante que discuta, analise, avalie e proponha ações governamentais e sociais que atendam às necessidades coletivas da sociedade. Com este entendimento e tomando em conta a proposta de intervenção pretendida, torna-se necessário esclarecer alguns conceitos importantes para iniciar a discussão do complexo contexto que envolve as questões deste trabalho. Os conceitos que vão embasar e permear todo este trabalho, sem dúvida, se refere ao ser Cidadão e ao exercer Cidadania: um ligado ao outro de forma tão exigente que se torna impossível tratar de um sem considerar o outro. Ao admitir a cidadania como direito universal a cada sujeito de quaisquer categorias de território, admite-se também a cotidianidade desse direito e, subsequentemente, a sua relação com o saber popular, aquele próximo da vida ordinária do dia a dia, onde o senso comum orienta o fazer, o querer e o poder. Assim sendo, busco, em primeiro lugar, a definição do conceito de Cidadão. Segundo a Declaração dos Direitos Humanos e do Cidadão, sendo este um
  • 13. 12 dos primeiros atos democráticos da história que trata do termo como “os direitos que a sociedade e o Estado atribuem ao cidadão como membro dessa sociedade. Destacam-se a liberdade de participar, ou não, de todos os atos e valores da sociedade, bem como do poder exercido pelo Estado e a proteção do indivíduo pelo poder público”, e a cidadania “esta relacionado ao cidadão (...) com os direitos políticos” (Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, apud MARTINEZ, 1996, p. 8). Aprofundando um pouco mais, na atitude de pesquisa científica, rigorosa no conceituar, resgato em Burdeau, no século XVIII, outra forma de entender o ser Cidadão: Cidadão é um homem de ordem, suficientemente esclarecido para poder escolher seus representantes com conhecimento de causa, bastante independente para estar ao abrigo das pressões (BURDEAU, apud BUFFA, 1988, p. 26). É comum observar o exercício da cidadania somente em situação de eleições, pois é então que se exerce um dos seus direitos básicos, qual seja a escolha de representantes legais para as ações políticas numa escala mais ampla. Ainda sobre o assunto, Damiani afirma: A noção de cidadania envolve o sentido que se tem do lugar e do espaço, já que se trata de materialização das relações de todas as ordens, próximos ou distantes. Conhecer o espaço e conhecer a rede de relações a que se está sujeito, do qual se é sujeito (DAMIANI, 1999, p. 50). A cidadania é um termo muito comum, sendo conhecida pelas pessoas a sua palavra, mas não totalmente o seu conceito. Sendo assim, tomei a liberdade de expor a fala de uma professora que participou da entrevista. Quando você nasce e os pais te registram, você se torna um cidadão e este é o seu primeiro ato político (...) (Professora que participou da entrevista no dia 21/05/2010, respondendo a pergunta dois).
  • 14. 13 Fazendo uma ponte entre cidadania e política, Lana de Souza Cavalcanti faz uma ligação direta, atribuindo a igualdade democrática constituído por lei, como condição de vida a todos, pensando no coletivo com associação forte aos direitos e deveres inerentes ao exercício político democrático da vida na sociedade. A idéia de cidadania ativa que cria seus direitos ao longo da história e a depender da organização, permite pensar criticamente os tipos de direitos mais convencionalmente atribuídos à composição da cidadania (civis, políticos, sociais), buscando ampliar essa composição a partir de demandas sociais democráticas e contextualizadas (...) (CAVALCANTI, 2002, p. 51-52). Já para conceituar o termo “política”, rebusco sua invenção por gregos e romanos segundo CHAUÍ (1997). A palavra vem do grego ta politika vinda de polis que é a Cidade formada pelos cidadãos ou politikos, com direitos a cidadania e homens iguais. Ta politika são os negócios públicos dirigidos pelos cidadãos: costumes, leis, erário público, administração dos serviços públicos (abertura de ruas, estradas, portos, aeroportos, obras de prédios de serviços públicos), organização da defesa e da guerra (...). Ta politika (...) corresponde ao que designamos modernamente por práticas políticas, referindo-se ao modo de participação no poder, aos conflitos e acordos na tomada de decisões e na definição das leis e de sua aplicação, no reconhecimento dos direitos e das obrigações dos membros da comunidade política e às decisões concernentes ao erário ao fundo público (CHAUÍ, 1997, p. 371-372). Em outras palavras, fazer política é participar da organização e da administração do país, estado, município e comunidade em que se habita. A política é exercida por cada um, seja de forma não institucional ou institucional, no exercício de um cargo público ou não. Todos têm o direito e o dever de fazer política e não só no ramo da questão pública ou dos governos, mas fazemos política também em casa, no trabalho, na escola, na rua etc.
  • 15. 14 Fazemos política quando ajudamos ao próximo, no sentido do fazer comunitário. Já a eleição é considerada o ato de eleger, ou seja, de preferir entre um ou outro, de escolher ou eleger, e isso ocorre através da votação. As eleições, no Brasil, acontecem a cada dois anos, para eleger diferentes cargos no decorrer de 4 (quatro) anos. Segundo a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: CAPÍTULO IV DOS DIREITOS POLÍTICOS § 1º - O alistamento eleitoral e o voto são: I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; II - facultativos para: a) os analfabetos; b) os maiores de setenta anos; c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao. htm Com estes conceitos podemos partir para outra discussão, que envolve professores e futuros professores de Geografia: a importância do ensino da política em sala de aula, para alunos que farão parte do eleitorado, tomando como meta sua formação consciente de política. 1.2. Relação Política e Geografia. A disciplina de Geografia, como é sabida, tem importância fundamental para a sociedade, no que tange diversos assuntos relacionados à atualidade ou o espaço em que habitamos e nossas relações com ele. Sem aprofundar muito nos conceitos de Geografia, pois com certeza isso poderia ser outro material de pesquisa, o conceito declarado no dicionário
  • 16. 15 britânico The Concise Oxford Dictionary, em seu verbete, “Geografia” é a “Ciência da superfície da Terra, sua forma, aspecto físico, divisões políticas, clima, produções, população etc” (The Concise Oxford Dictionary, apud WOOLDRIDGE; GORDON EAST, 1967, p.13). Ainda tomando como base Wooldridge e Gordon East: A explicação de suas divisões políticas também (...) decorrem de processo humanos que se desdobram através de largo tempo – migrações, guerras, revoluções e a complicada sequência de mudanças políticas e sociais (WOOLDRIDGE; GORDON EAST, 1967, p.13). O interesse maior do geógrafo e do professor de geografia é entender como se dão essas relações, como se desenvolvem e como isso tem mudado durante os diferentes acontecimentos, naturais ou não, na Terra. O ensino da política pode ser visto dentro da Geografia, onde são estudados vários processos da interação entre os homens que envolvem aspectos humanos, políticos, culturais, sociais e econômicos. Wooldridge e Gordon East aprofundam seu conceito sobre política escrevendo: A Geografia Política concentra sua atenção nas relações externas e internas dos Estados (...). As considerações políticas situam-se entre as muitas que dizem respeito ao homem (...) que deverão ser apreciadas como elementos integrantes da matéria em geral, embora possam constituir-se em temas de estudo particular dos especialistas em política (WOOLDRIDGE; GORDON EAST, 1967, p.130). Desta forma, o ensino de política também tem grande destaque na disciplina de Geografia e por isso deve ser trabalhado não só como ensino complementar, uma vez que na sociedade brasileira existe um preconceito sobre este assunto, principalmente nas novas gerações que consideram política como coisa suja ou como coisa distante do seu cotidiano. O estudo das relações políticas é pensado por Andrade da seguinte forma:
  • 17. 16 O geógrafo deve utilizar o seu potencial teórico, o domínio das técnicas modernas e o seu comprometimento com os altos objetivos nacionais para dar uma contribuição positiva à solução dos problemas do país. Ciência é também política, e o cientista deve saber por que é utilizado, como é utilizada e em favor dos interesses de quem ela é utilizada (ANDRADE, 1999, p.13). Desta maneira, a contribuição da Geografia para a formação cidadã dos alunos, pode ser entendida como Cavalcanti problematiza: O ensino da Geografia contribui para a formação da cidadania através da prática de construção e reconstrução de conhecimentos, habilidades, valores que ampliam a capacidade de crianças e jovens compreenderem o mundo em que vivem e atuam, numa escola organizada como um espaço aberto e vivo de culturas (CAVALCANTI, 2002, p.47). Por isso, acredito que o ensino da política é de extrema necessidade para realizar um trabalho educativo, visando esclarecer os indivíduos, principalmente os mais jovens, sobre sua condição de cidadãos. O trabalho do professor, em relação à temática, deve considerar o fato de que as transformações na nossa sociedade exigem uma mudança comportamental dos indivíduos e que essa mudança requer um novo tratamento do professor para com o aluno. É por esse motivo que o professor deve adequar-se a realidade dos alunos, trabalhando com eles a evolução do conhecimento humano. Ao discutir essa evolução, que promove constantes modificações no meio em que vivemos, deve associar à reflexão de que com a política não é diferente. Fazer e aprender política e cidadania deveria ser uma prática cotidiana no currículo dos alunos. É um conhecimento essencial que torna o aluno não só mais informado, como também mais humano para discernir o certo ou errado, o bom e o ruim, o que é melhor ou pior.
  • 18. 17 A carga de cultura relacionada a este assunto é grande, criando um diversificado imaginário juvenil sobre o tema e seus desdobramentos. Por isso, é preciso que os jovens percebam a importância do entendimento da política e compreenda que isso é para a vida inteira, que eles são o presente construindo o futuro, que eles são cidadãos e não somente o „outro‟ que vota. Para tanto é importante que o professor de Geografia esteja preparado para compartilhar tal assunto que possibilite ao aluno a visualizar a cidadania e a democracia como algo importante para ele e para todos que estão a sua volta. 2. Da Geografia para o Campo de Pesquisa Foto 1: Professores em formação. Liberdade, igualdade e participação é a fórmula da política democrática assim como a famosa declaração de Lincoln Von Gettysburg, o “governo do povo, pelo povo e para o povo” (Holanda, 1951). Porém, o povo da sociedade democrática está dividido em classes sociais distintas entre si e entre seus interesses. O Brasil ainda tem muitos obstáculos à democracia, dentre os quais, os conflitos de interesses entre aqueles que detêm o poder, aqueles que querem o poder e a classe mais baixa da sociedade, que sequer ousa querer o poder ou
  • 19. 18 detê-lo, já que no nosso país existiu (e ainda é possível ver seus resquícios) uma cultura onde os Coronéis e somente aqueles que detinham o conhecimento, podiam participar. Essas questões de políticas muitas vezes são extintas de qualquer tema abordado em sala e por isso, cabe à Geografia trabalhar essas questões, uma vez que elas estão ligadas diretamente com o espaço geográfico, com as relações entre as sociedades, objetos da ciência geográfica. Nos últimos anos ainda se vê, nas políticas públicas no nosso país, o caos nas questões que deveriam ser resolvidas pelo Estado. Isso é exemplificado quando vemos a educação pública de baixa qualidade em relação às escolas privadas, os hospitais públicos super lotados, a segurança pública limitada e despreparada. Outro ponto fundamental para a elaboração deste trabalho é sobre o direito da participação política. Muitas vezes, o valor desta participação não é de extrema importância a todos. Normalmente, aqueles que detêm maior conhecimento e interesse pela política, o que no nosso país são poucos, deveriam buscar o interesse comum. E ainda, são estes também os que dirigem a política, mas, segundo os seus interesses. Para Vesentini: Cidadania é uma tarefa de aprendizagem para todos, não apenas para o professor. E é uma tarefa que não se „ensina‟, mas se aprende conjuntamente, se aplica nas relações inter-humanas, inclusive no ensino (VESENTINI, 1999, p. 31). Por isso é importante realizar um trabalho educativo, visando esclarecer os indivíduos sobre sua condição de cidadãos. Há de se considerar ainda, que os meios de comunicação em massa, principalmente a TV, influenciam os eleitores e parciais de forma absurda. Muitas vezes, essas informações errôneas que passam para a população são em demasia e ainda duvidáveis e vemos, mais uma vez, o interesse de seus proprietários com grupos que apóiam partidos e candidatos.
  • 20. 19 E ainda, mesmo acontecendo projetos relacionados às eleições, nas escolas, com simulação de voto, divisão de cargos políticos, entre outros projetos, trabalhos estes preocupados com a formação e construção da cidadania, é notável o número de cidadãos, que já foram ou ainda são alunos descontentes quanto aos políticos e aos governadores de nosso país. Como objetivo, buscou-se problematizar a ação docente, relativa à formação política das crianças e adolescentes do ensino básico do sexto ao nono ano, por meio da Geografia, em especial nas questões da cidadania no seu espaço de vivência. Assim, no trabalho tentou-se experimentar propostas de atividades para o ano eleitoral e para formação em cidadania, ao mesmo tempo em que se fez a análise de produções bibliográficas sobre cidadania e sobre Geografia escolar, buscando-se relacionar o cotidiano escolar com o contexto político vivenciado por alunos. A idéia de fazer o trabalho surgiu principalmente da necessidade de resgatar e de refletir sobre a importância da cidadania dentro da nossa sociedade, que de certa forma acomodada, não buscam criar cidadãos informados. Para tanto, foi feita uma pesquisa bibliográfica, tentando relacionar o tema com recursos didáticos para a realização de atividades em sala de aula. Como parte da metodologia de pesquisa deste trabalho, realizou-se ainda um encontro com os professores para entrevistas não estruturadas sobre o que fazem para a formação da cidadania e como tratam o ano eleitoral nas escolas. Para esse encontro, foi preparada uma oficina com três atividades para os professores de Geografia, com alternativas de ação para o trabalho com política e cidadania na escola. Ao término da oficina, realizou-se uma avaliação da oficina com instrumentos preenchidos pelos professores e alguns testemunhos orais narrados, para a elaboração de um relatório final.
  • 21. 20 Esta oficina foi trabalhada com professores de Geografia do Ensino Básico do município de Viana, município pertencente a Grande Vitória, localizado entre os municípios de Cariacica, Vila Velha, Domingos Martins e Guarapari. O município, de acordo com as estimativas populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas de 2009, possuía 60.829 habitantes e em 2004 tinha um total de 33.343 eleitores. Esse número decresceu em relação ao ano de 2000 em 17% devido a algumas politicagens internas como duplicidade de votos, votos de moradores de municípios vizinhos, votos de pessoas já falecidas entre outras. E isto me motivou a trabalhar ainda mais com os professores desta localidade, que ainda tem características de uma cidade pequena, apesar de pertencer a região metropolitana, e que viveu momentos políticos ruins nos últimos anos. Foto 2: Professores realizando trabalhos didáticos.
  • 22. 21 Localização do município de Viana no Espírito Santo Imagem 1: Localização de Viana Fonte: paulosergiomeu.blodspot.com
  • 23. 22 3. Do Campo de pesquisa para a sala de aula Muitos professores desacreditam no tema política, alegando que não há muito que ensinar. Contudo, ao se omitirem estão fazendo a política do silêncio e da omissão (CHAUI, 1997). Daí, que o objetivo pedagógico deste trabalho não é ensinar aos professores como tratar do assunto em sala de aula, mas sim demonstrar a importância da educação para cidadania, política e democracia, apresentando algumas alternativas didáticas como contribuição para atividades e ações que poderiam dar certo em sala de aula. Esse trabalho foi apresentado para os professores efetivos de todas as escolas públicas de Viana, do Ensino Básico do sexto ao nono ano, na Casa dos Conselhos, no bairro Viana Sede, onde o desenvolvimento se deu em dois momentos: um grupo na parte da manhã e outro na parte da tarde. Houve uma boa representatividade das escolas, pois compareceram pela manhã quatro dos sete professores e pedagogos e na parte da tarde compareceram catorze dos dezoito professores e pedagogos, contando um percentual de 72% de participação. Para sua apresentação foi feito uma sequência didática, organizando o que seria trabalhado, de qual forma e qual o tempo para cada atividade proposta. Todos os materiais expostos na oficina (com exceção da tabela de comparação do crescimento de eleitores do Espírito Santo por município nos anos de 2004 e 2000 e o mapa político administrativo do Espírito Santo) foram retirados do Projeto Ano Eleitoral, do acervo do Laboratório de Ensino e Aprendizagem de Geografia (LEAGEO), do Centro de Educação, situado no campus da Universidade Federal do Espírito Santo, em Goiabeiras, Vitória, Espírito Santo, ao acesso de qualquer educador que necessite de materiais didáticos para auxiliá-lo. Oficina Política e cidadania: No voto começa a democracia... Sequência didática:
  • 24. 23 Foto 3: Construindo legendas políticas. 1. Apresentação. 5‟ 2. Dinâmica de acolhimento e reflexão: a) leitura partilhada dos textos Político analfabeto e Analfabeto político: usar marcador em cada cópia para indicar o que cada um vai ler. b) discussão sobre o conteúdo dos textos e aproveitamento da dinâmica. Tempo de leitura: 5‟ Tempo de discussão: 5‟ Tempo total: 10‟ 3. Entrevista: a) organização da sala em meia-lua, favorecendo a filmagem; b) dinâmica da urna quente: as perguntas (entrevista da pesquisa) serão colocadas numa caixa (urna) e serão puxadas sequencialmente, tendo em vista que estarão escritas numa tira, que deverá ser cortada ao término de cada pergunta. A urna circulará de mão em mão, ao som de duas músicas (Rita Lee – Vote em mim – e Raul Seixas – Caubói fora da lei) que será interrompida para que aquele que estiver com a urna na mão retire uma pergunta e a leia para todos, encaminhando a discussão no grupo. Tempo para cada questão: 8‟ Tempo total: 1h e 5‟. 4. Transformando tabelas em mapas:
  • 25. 24 a) Apresentar dados, indicando como coletá-los: Tabela comparativa de quantitativo de eleitores no ES em 2000 e 2004. b) Transformar dados em mapas do ES: entregar mapa político do ES para que elaborem legendas e mapeiem os dados da tabela. c) Discutir como essa tarefa pode ser feita com alunos: partidos, reeleição, gênero do candidato, escolaridade dos eleitores etc. Como tais mapeamentos influem na formação política dos adolescentes? Tempo de mapeamento: 20‟ Tempo total: 40‟ 5. Dinâmica coletiva: Um perfil de eleitores. Pedir que se organizem em grupos e que preparem, com revistas velhas ou com desenhos, um perfil de eleitor que notam em seus alunos adolescentes. Exemplificar com o texto – Uma radiografia das muitas caras do eleitor. Pedir que apresentem suas produções. Questionar como podem intervir para tentar mudar o retrato para melhor. Sugerir que façam o mesmo com seus alunos. Tempo: 1 h 6. Apresentar o texto Em quem votar? Apresentar formas de como trabalhar com ele junto aos alunos. Pedir que apontem por que sim ou não trabalhariam de uma das formas apresentadas. Tempo: 20‟ 7. Reflexão final: Texto de Moacir Gadotti. Tempo 5‟ 8. Café eleitoral. Pequena pausa para conversa informal Tempo: 15‟ 9. Avaliação. Tempo: 10‟ 10. Despedida. Como materiais propostos para a atividade, foram usados, em ordem, os seguintes: O Político Analfabeto
  • 26. 25 O pior analfabeto é o político analfabeto. Ele não ouve, não fala, nem participa de nada se não for do seu próprio interesse, e só lembra de aparecer quando está perto a eleição e se houver divulgação. Muitas vezes até estudou, mas não aprendeu a ter educação. Ele finge que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas quando na verdade todo mundo sabe de cor e salteado, que quem decide mesmo são os outros tipos de poder. O político analfabeto é tão burro que se orgulha e bate no peito dizendo que “o pior analfabeto é o analfabeto político”, porque a única coisa que políticos analfabetos sabem bem fazer é “dizer”. Não sabe o imbecil que parece até ter boa intenção, que dos seus exemplos de arrogância, conivência com os “furos” de seu partido e partidários, desinformação, falta de tato, ética e educação, nasce a prostituta, o menor abandonado, o nojo aos políticos e a política, e o pior de todos os bandidos que é o político analfabeto de fachada, uns vigaristas e pilantras, corruptos que adoram frases de efeito tipo “exploradores do povo”, que é o que está todo mundo careca de ver até na TV. Pena que os únicos que não sabem disso tudo são os Político Analfabetos. Deixou a Brecha Abaixo está a versão original que associada a interesse pelo “emburrecimento” ao povo e a todo o tipo de maluquice que invariavelmente acontece nas épocas que antecedem as eleições e anda, atualmente, entulhando email de muita gente. O difícil é imaginar Bertold Brecht, dramaturgo e poeta consciente de seu tempo, marxista que prezava a existência social como determinante da consciência, e que viveu num passado (1898-1956), onde o mundo e os valores morais eram outros, se dirigir de hoje desse jeito. O Analfabeto Político O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
  • 27. 26 Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato, e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e bate no peito dizendo que odeia política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo. Bertold Brecht O texto acima é um texto de Bertold Brecht, que escreveu diversos textos, até a década de 50, criticando aqueles que não tinham conhecimento ou desprezavam a política. A adaptação, de autoria indefinida, foi uma releitura de Brecht, no qual coloca o Político que não faz nada para ajudar a sociedade, que simplesmente após ser eleito, desaparece. Este texto surge como uma forma de despertar no aluno uma consciência de que ele deve escolher muito bem seus candidatos antes de votar, pois este é um caso muito comum visto por pessoas que ocupam cargos, onde muitas vezes é mais difícil de ver o seu trabalho para criticarmos (como vereador, senador e deputados). Os materiais utilizados para as três atividades foram: o mapa político do estado do Espírito Santo e uma tabela contendo os dados das eleições de 2000 e 2004 e o crescimento por município no Espírito Santo; o texto „um perfil de eleitores‟ e; o último texto „em quem votar‟. A primeira atividade foi algo bem prático, onde os professores puderam transformar os dados da tabela em mapas, tornando as estatísticas visíveis dentro do território do estado do Espírito Santo.
  • 28. 27 COMPARAÇÃO DO CRESCIMENTO DE ELEITORES DO ESPÍRITO SANTO POR MUNICÍPIO NOS ANOS DE 2004 E 2000 Município 2004 2000 % Município 2004 2000 % Vila Velha 246222 217729 13,1 Itaguaçu 11895 11145 6,7 Vitória 231986 211706 9,6 Piúma 11517 9982 15,4 Serra 210394 178619 17,8 João Neiva 11499 11483 0,1 Cariacica 206054 164301 25,4 Boa Esperança 11193 10085 11 Cachoeiro 114265 100561 13,6 Vila Valério 10480 8898 17,8 Linhares 84470 73122 15,5 Muqui 10223 10942 -6,5 Colatina 77495 72273 7,2 Marechal Floriano 10032 10874 -7,7 Guarapari 69512 60270 15,3 Fundão 9983 8674 15,1 São Mateus 62292 55879 11,5 Iconha 9363 8479 10,4 Aracruz 44761 44655 0,2 Rio Novo do Sul 9298 8599 8,1 Viana 33433 40138 -17 Alfredo Chaves 9247 10381 -11 Nova Venécia 30923 28118 10 Mantenópolis 9068 10718 -15 Barra de S. Francis. 29401 26622 10,4 Itarana 9023 8372 7,7 Castelo 25509 22153 15,1 Santa Leopoldina 9007 8109 11 Alegre 24581 22726 8,1 Laranja da Terra 8677 8310 4,4 Domingos Martins 24415 20999 16,3 Jerônimo Monteiro 8557 9390 -8,9 Afonso Cláudio 23442 21154 10,8 Brejetuba 8168 7458 9,5 Itapemirim 23379 19812 18 Água Doce do Norte 8081 11675 -31 Marataizes 22606 19536 15,7 S. José do Calçado 7962 8686 -8,3 Santa Mª de Jetibá 20652 17377 18,8 S. Roque do Cannã 7859 6796 15,6 São G. da Palha 20546 17942 14,5 Ibiraçu 7790 8895 -12 Mimoso do Sul 20401 19121 6,7 Pres. Kennedy 7781 8391 -7,2 Iuna 20086 19083 5,2 Águia Branca 7771 6456 20,3 Baixo Guandu 19884 21746 -8,5 Marilândia 7723 7959 -3 Conceição da Barra 19232 17452 10,2 Gov. Lindenberg 7723 6979 10,6 Guaçuí 19127 17723 7,9 Irupi 7596 6918 9,8 Ecoporanga 18573 18243 1,8 Bom Jesus do Norte 7245 7653 -5,3 Pinheiros 16965 15776 7,5 Ibitirama 7147 6396 11,7 Pancas 15568 15049 3,4 Conc. Do Castelo 7112 8656 -18 Ibatiba 15423 12703 21,4 Atílio Vivacqua 7062 6796 3,9 Jaguaré 15365 12240 25,5 Vila Pavão 6749 6107 10,5 Santa Teresa 15227 16128 -5,5 Apiacá 6094 5921 2,9 Sooretama 13992 11278 24 Ponto Belo 5242 5817 -9,8 Anchieta 13962 15544 -10 Dores do R. Preto 5131 4608 11,3 Muniz Freire 13959 12890 8,3 São Domingos 5115 6465 -21 Pedro Canário 13774 18467 -25 Alto Rio Novo 4481 6006 -25 Montanha 13665 13097 4,3 Mucurici 4055 4980 -19 Rio Bananal 13250 12382 7 Div de São Lourenço 3573 3707 -3,6 Venda Nova do Imig. 12295 10254 19,9 Total no ES 2004 2235897 Vargem Alta 12289 11131 10,4 Total no ES 2000 2033765 9,9 Imagem 2: Comparação do crescimento de eleitores do Espírito Santo por município nos anos de 2004 e 2000. Fonte: IBGE e Jornal A Gazeta.
  • 29. 28 Imagem 3: Mapa político administrativo do Espírito Santo.
  • 30. 29 O trabalho desta atividade foi dividido em grupos para que cada um fizesse legendas diferentes. Para isso, criei três tipos diferentes para aquela situação: 1- Legenda em que mostra o número absoluto de votantes 2- Legenda que mostre o valor do crescimento percentual dos votantes. 3- Legenda que mostre os municípios onde o crescimento foi alto, estático e negativo. Após esta atividade, pude mostrar outras formas que eles podem aprofundar este trabalho em sala de aula, podendo criar legendas como: a- De partidos ganhadores por município. b- De prefeitos reeleitos Depois ainda foi sugerido um estudo aprofundado para o município de Viana, como buscar dados das últimas eleições do município, para saber qual foi a porcentagem do último prefeito(a) a ser eleito(a), qual a porcentagem de eleitores por faixa etária, qual o grau de satisfação dos eleitores com a gestão atual, o que a população tem reivindicado etc. O texto para a segunda atividade foi pedido aos professores que recortassem em revistas, rostos que parecessem ser perfis deles quanto cidadão. Solicitou- se que explicassem o porquê da escolha, perguntando-lhes se poderiam melhorar este perfil e que escrevessem essas mudanças Sugeriu-se que fizessem o mesmo com os alunos. Como tarefa extra para os alunos sugeriu-se que perguntassem como participariam das decisões da comunidade em que moram e que fizessem as mesmas perguntas aos pais. Essas formas de trabalhar poderiam culminar em um resultado percentual daquela turma para saber onde a maioria se encaixaria similarmente aos perfis do texto em destaque.
  • 31. 30 Imagem 4: Perfis de eleitores.
  • 32. 31 A última atividade da oficina seria trabalhada com o texto „Em quem votar‟ poderia trazer diversas idéias que contribuiriam para o aprendizado em sala de aula. Para a oficina, selecionaram-se exemplos de como poderiam ser trabalhados em qualquer turma do Ensino Básico do sexto ao nono ano. Uma delas seria criar dois políticos para as eleições internas da turma: um candidato iria fundamentar idéias ilusórias, mas que faça o povo acreditar nele, e este seria um mau político; e o outro candidato seria o honesto e criaria uma plataforma política com projetos cabíveis ao seu mandato. Depois, pediria para que os alunos debatessem e fizessem uma votação em sala de aula. Com o resultado em mãos, explicaria quem eram os dois políticos e daria o resultado. Essa forma de trabalhar seria para mostrar aos alunos como diferenciar um bom político de um péssimo, que só aparece na época de eleições, como diz no texto „O Político Analfabeto‟. A partir disso, poderia ser feito a discussão do texto e depois dividir os alunos em grupos e pediria que fizessem charges em que mostrassem maus exemplos de políticos. Ainda seria possível trabalhar interdisciplinamente com outras matérias como, por exemplo: as charges poderiam ser estudadas em Educação Artística; quando fosse usar os cálculos em porcentagem, poderia ser trabalhado com Matemática; quando trabalhar formas de montar gráficos poderia trabalhar com a disciplina de informática e; ainda há um leque enorme de como unir o tema política a outras disciplinas que só acrescentaria mais no conhecimento e nas discussões em sala de aula. Lacoste fala da necessidade de conhecimento múltiplo para melhores resultados: O fato de que os geógrafos consideram elementos de conhecimento elaborados por múltiplas ciências não deve mais ser tomado, hoje, como a prova das carências ou do estatuto epistemológico ultrapassado da geografia. Essa pode ser considerada um saber científico, mas com uma condição formal de que todos esses elementos de conhecimento, mais ou menos disparatados, não sejam mais enumerados, justapostos num discurso do tipo enciclopédico, mas, ao contrário, articulados em função de um fim. De fato, a legitimidade epistemológica de um saber se baseia não mais num quadro acadêmico, seja ele científico, mas sobre práticas sociais providas de resultados tangíveis (LACOSTE, 1988. p, 228).
  • 33. 32 Imagem 5: Em quem votar.
  • 34. 33 Finalizando a respeito da oficina, o último texto de reflexão seria o texto de Moacir Gadotti, doutor em educação e autor de diversos livros que trata de política, cidadania e democracia na sala de aula. O texto, que não tem título, é uma crítica ao modelo/forma de ensino de certos professores, que se alinham a um ensino imposto, e que não busca trazer ao aluno uma forma crítica de ver a sociedade em que vive. Muitas vezes, o aluno toma o professor como alguém em se espelhar, pelo fato de ser o professor quem passa a maior carga de conhecimento, e a cidadania é um dos conhecimentos mais importantes a ser passado. Callai afirma que: O conteúdo da Geografia, neste contexto, é o material necessário para que o aluno construa o seu conhecimento, aprenda a pensar. Aprenda a pensar significa elaborar, a partir do senso comum, do conhecimento produzido pela humanidade e do confronto com outros saberes (do professor, de outros interlocutores), o seu conhecimento. Este conhecimento, partindo dos conteúdos da Geografia, significa „uma consciência espacial‟ das coisas, dos fenômenos, das relações sociais que travam no mundo (CALLAI, 2000, p. 93). O papel que do professor não é o de direcionar o aluno a uma situação que ele (professor) acha o certo, mas o de colocar ao aluno opções que ele possa escolher, onde ele poderá ter conhecimento e falar: isso é certo ou isso é errado. A crítica é a medida mais correta de transferir ao aluno uma “Ciência com Consciência” (Gadotti).
  • 35. 34 Imagem 6: Texto de Moacir Gadotti Esses textos foram uma forma simples e prática de mostrar como é possível trabalhar diferentes formas de abordar o tema eleições, política, cidadania e democracia em sala de aula.
  • 36. 35 4. Da sala de aula ao encontro com professores Como dito anteriormente, o encontro com os professores aconteceu em dois momentos, um na parte da manhã com um grupo e outro momento na parte da tarde com mais um grupo. Foto 4: Encontro com os professores de Viana Nos dois momentos houve uma entrevista com estes professores, que se disponibilizaram a fazer uma gravação em forma de entrevista, que posteriormente seria utilizado para análise e inserção do mesmo neste trabalho. A identidade de cada professor foi mantida em sigilo, a fim de que eles pudessem ter total liberdade para falar o que pensavam sobre o assunto. Para tal, foram elaboradas oito perguntas que norteariam a discussão. Para que houvesse a participação da maior parte do grupo, foi posto uma pequena urna que passava pelas mãos dos professores enquanto uma música tocava, e quando a música era interrompida, a pessoa que estava com a urna na mão teria que ler a pergunta e começar discussão e então, todos também eram convidados a participar.
  • 37. 36 Foto 5: Parte da entrevista A partir de agora será feito uma releitura do que esses professores discutiram a respeito do tema sendo posto em primeiro lugar qual era a pergunta. A identificação dos professores foi numerada a partir de cada pergunta, não sendo, por exemplo, o mesmo professor a ter falado em todas as perguntas. 4.1. A entrevista Foto 6: Professores discutindo sobre o tema eleição. Pergunta 1- Você em sua escola tem que seguir alguma metodologia/plano de ensino?
  • 38. 37 Professor 1- Sim, normalmente a gente segue. Professora 2- Temos sim que fazer um planejamento, mas a escola em que trabalho me dá liberdade para trabalhar com qualquer assunto extra, mas desde que seja dentro do tema em que eu estou trabalhando naquele momento e naquela turma. Portanto eu tenho liberdade sim. Pergunta 2- Você trabalha com questões relacionadas à política no ensino básico do sexto ao nono ano? Professora 1- Quando eu trabalhava em sala de aula sim, eu trabalhei. Eu explicava quem era o prefeito, o vereador, pra que servia a assembléia legislativa, o que era o poder executivo e judiciário. Pra que servia todas essas esferas, qual era a importância delas, porque existia o voto. E sempre surgiam aquelas dúvidas que nós professores já conhecemos desse assunto. E na época da eleição a gente acostumava trabalhar com “urninha”. E dois alunos votavam e tudo isso a gente fazia. Mas como eu trabalhava somente com as séries iniciais eu não trabalhava com a crítica, mas desde antes eu tratava da política em sala, com os conceitos para os pequenos. Professora 2- Eu acredito que os professores trabalham com política o tempo todo, mesmo que ele pense que não. Quando ele trata, por exemplo, a questão ambiental, ele relaciona o desperdício, com a falta de alimento, ele já está trabalhando com política. Tudo que a agente trabalha em sala de aula, mesmo que indiretamente acaba envolvendo a política. Então, a gente não pode dizer que odeia política. A política está em nós. Inclusive na política educacional. Porque quando você coloca um líder em sala, tem escolas que tem grêmio, tem escolas que tem eleição para diretores, então tudo isso está envolvendo a política. A política está no sangue e não temos como fugir. Você é obrigado de alguma forma a relacionar o assunto da política. Professora 3- Quando você nasce e os pais te registram você se torna um cidadão e é o seu primeiro ato político. E se a gente não conscientizar os
  • 39. 38 jovens a gente vai perder muita coisa. Porque como você (Thiemerson) disse o jovem vota e alguns meses depois ele já esqueceu pra quem ele votou, por exemplo. E esses jovens costumam falar que odeiam política, odeiam os políticos, e só com isso ele já está fazendo é um ato político. Professora 1- Esse negócio de ser a favor ou não de um político, de tomar partido ou não de questões políticas nunca é livre, não tem como ser livre. Algumas pessoas dizem que votam em branco ou que vende voto. Nada disso é suficiente. Nada disso vai fazer com que ele se redima da responsabilidade de participação, por quê? De uma forma ou de outra aquilo vai retornar para ele, seja por meio de sua decisão, ou seja, por meio da decisão dos outros que eles estão deixando que os outros tomem por meio da sua decisão. Professora 2- Complementando o que amiga acabou de falar alguns anos atrás quando eu era estudante, se eu não me engano nas séries iniciais veio a questão do impeachment e ali o povo teve noção de como nós temos o poder político forte, só que a gente está esquecendo isso. Isto está se perdendo com o passar do tempo. Por isso que eu acho que os professores de geografia e história, quando trabalhar essa fase prática da política brasileira tinha que enfatizar que nós temos o poder enorme nas mãos. Não basta eleger, eleger é o mínimo. A gente tem que cobrar sim, a televisão fala isso, que a gente tem que cobrar. E o povo se esquece disso. A gente tem que voltar isso para a sala de aula. E olha vocês vão até concordar, eles (candidatos) estão incentivando pra „caramba‟ esses meninos de dezesseis anos a votar, porque eles acham que podem colocar qualquer coisa na cabeça desses meninos. E eles vão lá e vão votar. Eu acho que a gente tem que colocar na cabeça desses meninos que eles têm o poder na mão, e que podem cobrar. Se não aqueles meninos vão lá naquela “bagunçinha” votar e vão embora. Professora 4- A gente ta costumado a tanta coisa suja na política que a gente se acomoda do que se revolta, aí a gente faz igual a colega que falou ali. Dá vontade de votar no „menos pior‟, pra dizer que você não votou em branco. Tem que fazer justamente o outro lado: de votar, de cobrar de quem eu votei, porque você não está fazendo isso, ainda mais o vereador, que é o político
  • 40. 39 mais próximo, mais acessível. Porque o senador já é alguém mais distante. Mais por exemplo, nós podemos cobrar do presidente da associação de moradores do nosso bairro, do diretor da nossa escola, que acabamos de eleger, mas a gente não faz. Ou seja, a gente acaba se acomodando, só reclamar e não agir. E a gente vai vendo as coisas sujas da política crescendo cada vez mais. Professora 3- Voltando o que a amiga (professora 2) falou ela falou que nós vemos os alunos fazendo “festinhas” na hora de votar, é porque a nossa cultura vem desde a colonização, a não ensinar e cobrar. Então o povo em geral não sabe cobrar do político. Então aquele que tem menos acesso ao estudo e cultura então quando ele chega perto de um político ele até treme de medo. Porque ele nem lembra que foi ele que colocou, no poder. Ele não tem consciência disso. Então eles não vão cobrar. Professora 5- Eu acho que o voto não é uma arma mais. O voto foi uma arma quando existiu uma situação de oposição. E quem acompanha os bastidores da política sabe que não existe mais essa situação de oposição. Existem conchaves, existem acordos, então o voto deixou de ser arma, não é arma mais não. Professora 2- Eu acho que você tem que ensinar a lutar pelos seus ideais. Tem uma minissérie que passou há alguns anos atrás, chamado “Anos Rebeldes”, você lembra a história daqueles rapazes? Eles lutaram por um ideal político deles. Muitos morreram mais ele lutaram. Então qual o nosso problema hoje? Nós não lutamos por nada, e quando a gente vai lutar, a gente é punida de alguma forma. Vocês já repararam na nossa greve de professores? A gente não ta fazendo nada mais do que lutar pelos nossos direitos. Eles não estão querendo deixar lutar pelos nossos direitos, eles estão querendo pessoas apáticas. O que ta lá ta bom. Não te cobram, não te dá trabalho, não tem problema, só que a gente tem que lembrar que o povo pode só que a gente não pode acomodar, se a gente acomodar acabou.
  • 41. 40 Pergunta 3- Este ano há eleições, vocês pretendem trabalhar de alguma forma com seus alunos? Professora 1- Este ano, nós estamos com o calendário completamente corrido, pedagogicamente falando, por que nós estamos com muitas datas comemorativas seguidas. A gente não pode esquecer o Dia das Mães, não pode esquecer-se da Copa, não pode esquecer-se das Eleições. Eu falo como pedagoga. Então a gente tem que trabalhar um de cada vez. A gente está trabalhando com a Copa, mas nós não nos esquecemos das Eleições. E pra falar a verdade, nós sabemos que existem muitos interesses políticos para, por exemplo, saber quem será o campeão e para os investimentos nas cidades sede da Copa de 2014. Mas que nós vamos trabalhar isso vamos, mas eu te confesso que eu ainda não sei como. Professora 2- Eu, essa semana, estava pensando e dando uma „pincelada‟ no assunto, porque como eu trabalho com Geografia, faz parte da minha matéria, eu pensei em trabalhar com sistemas políticos e eu estou agora começando com este assunto, principalmente com o oitavo e nono ano. Pergunta 4- Você faz discussões em sala para incentivar o olhar crítico do aluno? Foto 7: Professora coloca o seu ponto de vista frente a política.
  • 42. 41 Professora 1- Isso é uma prática cotidiana na sala de aula. Todas as questões, só pelo fato de você não colocar o aluno para agir, pensar, isso aí já é uma ação que você faz para ele não avançar. A partir do momento que você coloca o aluno para fazer uma coisa „mecânica‟ ou não faz nenhuma reflexão, você está contribuindo para que ele seja letárgico e apático. Essa é a intenção mesmo, você não ter o dialogo para não tirar a criança da letargia. Isso é ruim. Professora 2- Com certeza, isso é muito importante. Eu não deixo de fazer os meus alunos participar. Por exemplo, quando eu trabalho com os dois sistemas, o Capitalismo e o Socialismo, eu sempre faço um paralelo comparando e, nesse momento, eu sempre reforço o nosso lado brasileiro que culturalmente nós não fomos preparados para entender os direitos que nós temos para exigir. Professora 3- Eu acho que nós temos que ensinar desde pequenininhos. Até uma historinha que você vai contar lá na educação infantil, lá nas séries iniciais, você tem que fazer com que a criança veja alguma coisinha. Você nunca vai contar uma história por contar. Você já tem que estar colocando para essas crianças essas questões, porque se você deixar para falar de política só quando ele estiver lá no sexto ano, no oitavo ano, você já perdeu grande parte da vida dele que você poderia estar construindo um cidadão melhor. Não precisa ser exatamente sobre política, mas uma brecha que você tem para inserir sobre política, cidadania, preconceitos, você já está contribuindo para o desenvolver daquelas crianças, que pode surtir efeito ou não lá na frente. Depende de todo um contexto de onde ele vive e tal, mas você tem que começar cedo. Professora 1- No início as colegas falaram aqui a questão de que quando nascemos já estamos inseridos na política. Nós somos políticos. Não tem jeito. Aquela expressão “a política” é errada. E a questão do posicionamento, como a colega agora falou. A gente se posiciona fazendo política pra gente ou uma política coletiva que é a melhor forma de viver. É como ela (professora) falou: ou você se posiciona de uma forma ou de outra. E formar pessoas conscientes, pessoas que se posicionem é uma opção. Você (professor) tem uma
  • 43. 42 responsabilidade muito grande. E o que a gente ta vendo é muita gente irresponsável, muito educador irresponsável. Nós temos que pensar que estamos envolvendo muitas pessoas, muitas vidas. E a gente está vendo muita irresponsabilidade nessa questão. Como professor, como pedagogo, nós temos que prestar muita atenção no que estamos fazendo ou no que estamos falando, e nas atitudes que estamos tomando. Pergunta 5- Quando você fala de eleições com seus alunos é sondado de que forma? Foto 8: Professor cria forma de trabalhar em sala de aula com política. Professora 1- Essa questão de falar especificamente de eleições, eu acho você pode fazer com que ele (aluno) chegue nesse assunto. Você pode sondar, fazer ele falar, principalmente agora que é ano eleitoral, você pode pegar assuntos pertinentes e está levando para falar o que ele acha, por exemplo, se têm políticos na religião dele, no caso estudar qual o papel de cada político. No caso eles vão abrir a consciência deles para saber os papéis. Eu me lembro o professor da minha quinta série (do antigo Ensino Fundamental) dizendo: “gente, o senador não faz obras, ele só aprova as novas leis. Então se o senador ficar prometendo obras, não acredita nele”.
  • 44. 43 Então, eu acho importante ensinar, quem faz o que (na política), porque esses políticos vão aos bairros carentes e prometem coisas surreais para se candidatarem. Então, qualquer assunto que for pertinente que chegue ao ouvido dele é bom falar, principalmente esse ano. Muitos alunos perguntam sobre política aos seus pais e muitos dizem não gostar de política e de políticos, e dentro da escola, o aluno tem maior base. Igual ao que a professora disse antes: é bom ensinar um pouco de política a essas crianças desde as séries iniciais. Então, na escola, nós podemos mudar um pouco essa questão de não gostar de política. Talvez essa geração que nós temos educado, possa começar a mudar essa história (dês desgosto com política). Assim como a outra professora disse, nós sabemos que tem muitos conchavos por trás das „mangas‟, mas não são todos. Então nós temos que começar a mudar essa realidade dentro da escola. Nós, como professores, podemos e temos que formar pessoas com consciência. É um trabalho árduo e que talvez nós só teremos resultados daqui a muitos anos, mas temos que começar agora, porque se não eu acho que a nossa profissão não tem sentido. Professor 2- Eu acho importante a gente colocar na cabeça dessas crianças uma cultura de cobrança desses políticos, porque isso realmente não existe. E sobre a questão de falar de política nas escolas, só o fato de este ano você ter Copa do Mundo de Futebol cassado justamente com o ano eleitoral, isso pra mim é até certa „aberração‟ para poder desviar o foco não só da criança, de até nós mesmos já com censo crítico formado. Então eu acho importante explicar para as crianças que este ano vai ter eleições para governador, senador entre outros, e fazê-los entender que estas pessoas que eles estão elegendo é que no futuro irá disponibilizar verba e outras coisas como aposentadoria para o interesse deles (alunos). Quando é uma questão local, quando há eleições para vereador e prefeito, eu acho que você tem que trabalhar mais focado com o aluno. Por exemplo, o vereador fiscaliza o prefeito e cria leis e o prefeito é o executor disso, mas uma
  • 45. 44 coisa bem crítica que poderia trabalhar com aluno que eu acho que daria certo, é sobre as necessidades do bairro daquele aluno onde ele mora. Se há posto de saúde, se ele funciona, se nas escolas públicas precisa de alguma coisa ou reforma, se há professores para todos, se a rua é pavimentada, se há saneamento básico, por que todas essas coisas são responsabilidades do prefeito e do vereador que foi eleito por aquela comunidade e cabe a eles estar solucionando estes problemas. Aí sim, é mais fácil você estar incentivando o aluno a estar cobrando algo que está ao alcance deles. Professora 1- A política comanda em todos os aspectos. E eu vi no jornal semana passada que as pessoas estão comprando televisores maiores e se endividando para assistir melhor a Copa. Só que quando chegar na época das propagandas políticas, essa televisão será desligada. As pessoas não entendem como é importante ele conhecer os candidatos, o que eles pensam, qual a postura deles, enfim, não querem saber conhecer melhor o seu representante. E outra coisas importante que pensei aqui, é que nas escolas nós podemos formar também bons candidatos à política. Talvez daqui a alguns anos, esse aluno pode ser eleito pela sua comunidade e ele pode fazer muito pelo seu município. E ele pode trazer novamente a idéia de representante do povo que se perdeu hoje em dia. Professora 3- Eu concordo que há muitos políticos que acham que a política é um meio de „vida‟ (de trabalho para sobrevivência). Mas eu acredito que há pessoas que estão na política para fazer coisas boas, porque se não, como nós poderíamos chegar aonde chegamos? Será que toda a política acabou? Eu não posso mais acreditar em nenhum político? Professora 4- Eu acho que a preocupação da colega é a mesma que a minha. É claro que existem políticos bem intencionados. Eu conheço um vereador que se elegeu e depois de quatro anos ele nunca mais quis saber de cargo político. Então, há pessoas de boa fé. Então como eleitor nós temos que nos perguntar: qual a proporção de pessoas bem intencionadas que nós elegemos para
  • 46. 45 trabalhar? Porque também há políticos que quando se elegeu fez muita coisa, mas quando se elege para um segundo mandato, ele não faz mais nada. Mas a gente não pode perder a esperança. Professora 3- Mas quando você perde a esperança, você não deixa de fazer política, por que você continua fazendo parte da sociedade. Professora 1- Se eu sou uma pessoa bem intencionada, então na sala de aula eu posso trabalhar com essa boa intenção e educar os meus alunos de forma conscientizadora. Pergunta 6- Quando você fala de política, a „cara‟ dos alunos são sempre iguais? Professora 1- Eles detestam, dizem que isto está longe deles. Longe do local deles, que muitos não prestam. Professor 2- Já aconteceu em uma escola em que trabalhei onde um aluno disse que o pai dele foi eleito e disse que agora ele estava morando em um bairro „digamos‟ mais nobre. Professora 3- O grande problema é que o nome política está sempre associado aos cargos que nós elegemos. Eu penso que é por isso que as pessoas têm pavor de falar sobre política. A partir disso há pessoas que se intitulam apolíticos. Mas isso pode ser relacionado a outros assuntos dentro da escola. E acho que é por isso que eleição não deve ser falado só no ano de eleição. Todo ano de eleição tem Copa do Mundo e ela acaba escondendo mais ainda a importância da política. E hoje as pessoas escolhem seus candidatos a partir da TV, e existe muito a questão da beleza, da imagem da pessoa. Na época que Collor foi eleito minha vizinha argumentou que votou nele por isso. E Isso é imaturo Pergunta 7- Você já buscou formas diferentes de abordar o tema eleições em sala de aula?
  • 47. 46 Professora 1- Na Serra, eu já fiz em uma escola. Eu trabalhei com eles fazendo cartazes explicativos sobre diversos assuntos envolvendo política. Pedi para que fizessem entrevistas com os pais, já que eles (alunos) nunca tinham votado e depois nós expusemos esses cartazes para que todos os alunos e pessoas que passassem pela escola também poderiam ver. Professora 2- Eu já trabalhei sim, mais não envolvendo somente o tema política. Eu já trabalhei com os alunos em sala fazendo votação para líder de turma, já fiz algumas dinâmicas fazendo que eles votassem por pessoas diferentes na sala que os representariam como político. Já trabalhei com alunos criando panfletos educativos sobre eleições para eles distribuírem na rua. Não necessariamente trabalhando definições. Professora 1- Eu já trabalhei muito em sala essa questão teórica, de quem é o prefeito, quem é vereador, quem é o senador, deputado, mas nunca foi algo muito específico. Pergunta 8- Você acha importante abordar o tema “Eleições” no ensino básico do sexto ao nono ano? Professora 1- Claro que sim. Eles precisam saber o que é política, para quê serve, o objetivo. Às vezes, muitos alunos não gostam de falar de política, porque eles não sabem o que podem conseguir com o voto. O problema é que a gente está vindo com tanto conteúdo que a gente não pode perder tanto tempo com um tema tão importante. Aí, acaba sendo passado de forma bem rápida e atropelada. Você não pode ter tempo de focar porque se você passar muito tempo com aquilo, você não dá conta do seu conteúdo, você não dá conta da suas provas e tal. Eu sei disso porque as vezes eu vou conversar com os professores e muitos falam que passam rapidinho e aí eu falo para que eles, mesmo passando rapidinho, não deixem de falar sobre esse assunto porque a gente tem pouco tempo. Então, eu acho que coisas tão importantes como eleição deveriam ter mais tempo, mas nós temos tantas coisas que não
  • 48. 47 sabemos o que são mais importantes priorizar para os alunos. Mas que é falado, isso é, e pra mim é super importante. 4.2. Análise final da entrevista Foto 9: Conversando com os professores sobre a entrevista e oficina. Achei muito satisfatório a entrevista com os professores, pois além da participação de grande parte deles no debate livre, diversos assuntos relacionados às eleições foram destacados. A princípio a pergunta foi relacionada à política no geral. Muitos embasaram suas respostas na política não como representativa, mas como algo já institucionalizado, lembrando principalmente dos cargos políticos que elegemos, sendo que apenas uma professora tocou no assunto do “eu escolho”. Logo depois, eles falaram algo importante. Uma das professoras disse que “nós já nascemos políticos”. Quando nascemos, estamos sujeitos àquilo que nossos pais nos oferecem. Além disso, temos o tempo inteiro nos relacionado, mesmo sem querer, com outras pessoas próximas à nossa família. Essa relação de convivência é natural desde recém nascidos e nós não podemos
  • 49. 48 fazer nada contra isso, até porque essa dependência é necessária para a nossa sobrevivência. Ainda na pergunta dois, os professores falaram da questão cultural, lembraram do Movimento dos Caras Pintadas que conseguiram um impeachment do então presidente Fernando Collor de Melo e lembraram-se da importância de lutar pelos direitos como cidadão. Muitas pessoas hoje desacreditam, mas mais pelo fato de não terem ferramentas que possam fiscalizar o que os políticos eleitos estão fazendo, mas mesmo assim, não procuram orientação para exigir mudanças e o que acontece muito é a acomodação por grande parte da população e com isso esquecem que o seu papel como cidadão é o de cobrar. Outro ponto fundamental que foi tocado é a questão cultural da política no Brasil. Essa acomodação visível da população não é de agora. Já vêm de algum tempo. Os movimentos contra questões políticas, sempre foram por motivações que prejudicava uma grande parcela da sociedade brasileira, mas os problemas locais, que talvez seriam fáceis de resolver, costumam ser os que demoram uma eternidade para serem resolvidos. O brasileiro tem uma velha cultura de deixar que outro resolva e só participa de algum movimento se aquilo for de seu interesse, sendo que a política deveria ser pensada para o coletivo. Com isso, os pais que hoje não se interessam por essas questões e que nunca tocam no assunto de política em casa, tornam os seus filhos como eles, e estes crescem sem expectativas de mudança. E mais uma vez, porque não pensam no coletivo e muito menos buscam por seus direitos como cidadão. Quando perguntado aos professores se eles já estavam se programando para trabalhar com seus alunos sobre eleições, uma vez que este ano é um ano eleitoral, apenas duas professoras responderam a essa pergunta, sendo que uma alegou falta de tempo para uma melhor elaboração do assunto para trabalhar com os alunos.
  • 50. 49 Essa mesma professora alegou que “há muitas datas comemorativas e que devem ser colocadas para se trabalhar com os alunos e que quando chegar próximos a eleição, eles com certeza iriam trabalhar com o tema política”. O problema para alguns professores é que a falta de tempo e o planejamento a que são submetidos faça com que eles não deem tanta ênfase no assunto, uma vez que o conteúdo das turmas já são imensos e os professores se desdobram para trabalhar tudo, mesmo que para eles é super importante a conscientização. Essa conscientização pode ser trabalhada através do olhar crítico dos alunos. Todos os professores foram unânimes em dizer que isso é importante e trabalham focando a questão de fazer com que o aluno participe, que dê sua opinião, que forme sua linha de raciocínio. Isso já contribui para que ele (aluno) se sinta importante e ele sabe que sua „voz‟ pode ser ouvida. Isso o faz se sentir importante e cria nele um incentivo maior de participação em decisões na sala de aula e que depois poderá participar nas decisões da sua escola, de um grêmio estudantil, do seu bairro, do seu município etc. Foto 10: Professores estudando um texto de eleições. Além da conscientização, há a questão da educação em sala de aula. Nós, “futuros professores” e professores, temos a obrigação de incentivar o aluno a
  • 51. 50 pensar como uma pessoa capaz de formar sua opinião, e isso é uma responsabilidade tremenda. Uma das professoras cita que “há muitos professores irresponsáveis nesse sentido”. O professor lida com seres humanos e suas atitudes podem ajudar ou não na formação destes alunos. Por isso é importante que o professor esteja preparado para quando abordar este assunto. Todos os professores disseram ser importantes começar com a conscientização do aluno desde cedo. Se possível, desde as séries iniciais. Obviamente que para cada faixa etária, seria necessário criar formas que estes pudessem compreender melhor e assim evoluir. Segundo o Plano Decenal de Educação para todos de 1993-2003: Compreender que as melhorias nas condições de vida, os direitos, os avanços técnicos e tecnológicos e as transformações sócio-culturais são decorrentes de conflitos e acordos, que ainda não são usufruídos por todos os seres humanos e, dentro de suas possibilidades, empenhar-se em democratizá-las (BRASIL, 1993, p. 121) O professor de Geografia tem papel fundamental de tornar o aluno um crítico da sociedade em que vive principalmente por causa das diferenças sociais e culturais que fazem de nosso país um lugar onde se devem lutar, principalmente os mais atingidos por estes fatos, para que consiga uma mudança real nas condições hoje vivida. E não somente lutar pelo que eu quero. A democracia só tem sentido quando lutamos por algo comum, quando vai ao encontro do interesse coletivo. E é isso que nos torna cidadãos conscientizados.
  • 52. 51 5. Do encontro com professores à solidão das reflexões... Este trabalho trouxe-me diversas dúvidas ao começar a elaborá-lo. Trouxe-me também muito conhecimento a respeito do tema, pois, como aqui foi citado por diversas vezes, o brasileiro se acomodou em pensar na política como algo desinteressante. E este trabalho veio como uma forma de alertar e atentar, principalmente aos educadores de Geografia, que é necessário mudar esse pensamento, principalmente com os alunos do ensino básico que ainda estão em formação. Levi, a partir de Maquiavel, relata em uma passagem o modo como devemos ver a política: Maquiavel, que inaugura um novo modo de encarar a política, é o primeiro a entendê-la como um jogo de paixões e interesses animados por forças opostas. Na sua obra máxima, ele não se dirige a sabedoria do príncipe, mas exclusivamente a seus interesses (LEVI, introduction, in Maquiavel, apud BUFFA, 1987, p. 20). Quando nós vemos estes adolescentes crescerem dizendo não gostar de política, na verdade eles juntam essa idéia geral aos políticos. Esses adolescentes que estão descontentes estão ainda abrindo sua cabeça para novos conhecimentos e é nessa época em que ele se interessa por vários assuntos novos. O problema aparece quando a sociedade em que ele vive, mostra a política como algo desnecessário e que não é bom ele perder tempo com isso. A mídia, por exemplo, mostra o tempo inteiro sobre escândalos políticos, desvios de dinheiro, licitações apoiadas etc. A respeito disso Santos diz que: Em lugar do cidadão surge o consumidor insatisfeito e, por isso, voltado a permanecer consumidor (SANTOS, 1993, p.17). Há também os próprios pais e familiares que esses meninos convivem que não tem uma formação política adequada para passar para eles. E o maior
  • 53. 52 problema de todos são as escolas, seus planejamentos e seus livros didáticos que não dão importância para o estudo. Pegando como base a fala de uma pedagoga que participou da entrevista, ela afirma que: O problema é que a gente está vindo com tanto conteúdo que a gente não pode perder tanto tempo com um tema tão importante. Aí, acaba sendo passado de forma bem rápida e atropelada. Você não pode ter tempo de focar porque se você passar muito tempo com aquilo, você não dá conta do seu conteúdo, você não dá conta da suas provas e tal (Pedagoga que participou da entrevista no dia 21/05/2010 em Viana, E.S). Infelizmente esse ainda é um pensamento comum, não só nas escolas do município de Viana, mas de todo o Brasil. Todos sabem que a política tem influência direta muito forte na nossa vida, porém muitos acreditam que as eleições, ou seja, o voto é a única forma de participação na política. Um pensamento errôneo. Não há dúvidas de que a participação nas eleições é fundamental para a democracia, mas isso não é o bastante. Hoje, como foi também muito citado na entrevista, há várias formas de participarmos da política. Em muitos municípios, há o chamado Orçamento Participativo, onde os moradores de certa localidade podem ter acesso as informações da tesouraria do município e ainda podem definir as prioridades de obras em seu bairro, juntamente com os líderes que eles elegeram. Isso já é um bom caminho para voltarmos a falar de democracia. Mas essa noção de participação não deve parar por aí. Hoje, muitos meios de comunicação local dão espaço para a população fazerem reclamações da prefeitura sobre os problemas e dificuldades que estão passando em sua localidade. E esses meios fazem um link direto com os órgãos responsáveis a fim de tentar solucionar o problema.
  • 54. 53 Segundo o professor doutor Pedro Guareschi, (2000) “a palavra chave é participar”. Esse sistema votar-participar-cobrar deve estar sempre junto e trabalhado de forma paralela, pois, talvez seja essa a noção de democracia que muitos brasileiros desconhecem. Nesse sentido, Vesentini escreve: Trata-se de ir em direção a uma nova ética e as novas maneiras de viver. Para nós, isso significa romper com o clientelismo e com as relações de favor, de dependência moral, em referência ao representante. Estabelecer novas relações entre as instituições e as pessoas, por meio das quais estas últimas dominem suas condições de existência, o que equivale dizer que se conviveria com uma de autogestão. Quaisquer relações que mantenham posições hierárquicas consolidadas, como verdadeiros estamentos, nos quais uns tem poder o outros não a detêm, comprometem essa idéia de cidadania (VESENTINI, 1999, p. 13). Quando votamos, estamos elegendo alguém para nos representar para o nosso benefício coletivo. Então por isso é importante participarmos no voto. Quando elegemos um candidato, temos que entender que dependemos dele para tomar as decisões por nós. Então é importante participar junto a ele. E quando essas decisões não são executadas de forma correta, devemos cobrar para obtermos resultados. A cidadania pode ser considerada uma luta constante para retomar perdas irreparáveis, mas no sentido de lutas por construções novas, resgatando-a. Isso envolve a geografia, como é possível imaginar o já exposto. A expressão cidadania que os professores devem passar para seus alunos é que eles devem pensar, decidir, desejar participar, enfim,.ele deve querer o bem comum. Santos escreve: A cidadania, sem dúvida, se aprende. É assim que ela se torna um estado de espírito, enraizado na cultura. É nesse sentido, que se costuma dizer que a liberdade não é uma dádiva, mas uma conquista a manter (SANTOS, 1993, p. 7).
  • 55. 54 O votar é apenas uma expressão do seu anseio como cidadão. Isso não quer dizer que ele participe da política somente de dois em dois anos. Isso é uma questão a ser rompida e sem sombra de dúvida é na escola que isso deve começar. Formar cidadãos desde cedo deveria ser obrigatório. Conscientizar e formar cabeças pensantes já são uma prática comum, mas não no âmbito político. Saviani propõe cinco passos para a o desenvolvimento do aluno na escola: O ensino seria o desenvolvimento de uma espécie de projeto, quer dizer uma atividade – vamos aos cinco passos do ensino tradicional: então, o ensino seria uma atividade (1° passo) que, suscitando determinado problema (2° passo), provocaria o levantamento dos dados (3° passo) a partir dos quais seriam formuladas as hipóteses (4° passo) explicativas do problema em questões, empreendendo alunos e professores, conjuntamente, a experimentação (5° passo), que permitiria confirmar ou rejeitar as hipóteses formuladas (SAVIANI, 1983, p. 85). Essa forma de ensinar seria algo mais fácil de entender a política, pois o professor instigaria o aluno a pensar sobre o assunto e a partir do conhecimento do aluno, o professor passaria o conteúdo de forma que o aluno pudesse compreender melhor. Quando o aluno é chamado a dizer o que pensa, ele se sente parte daquilo e toma essas verdades para ele, e o professor faz seu trabalho de conscientizar. E é o professor de Geografia, o maior responsável por isso. Damiani afirma: A geografia deve participar dessa experiência, enquanto pensamento/ação (DAMIANI, 1999, p. 61). Portanto, nós devemos pensar em todos esses conceitos aqui estudados, política, cidadania, eleição, democracia, como um conjunto de idéias inseparáveis, “apesar de serem distintos e dotados de especificidades próprias” (SAVIANI, 1983, p. 49).
  • 56. 55 Os políticos brasileiros não acreditam no povo como entidade consciente, sem capacidade de discernimento e de liberação. E o que precisamos dado ao atraso de ensino de política e cidadania, é que se eduque e conduza os alunos para uma maturidade política. Só assim, estaremos garantindo a cidadania e democracia. Podemos considerar então que o voto é onde apenas começa a democracia. Nós, enquanto parte da sociedade brasileira, devemos cobrar dos políticos que elegemos capacidade de organização, não de opressão do sujeito. Então, espero que os professores de Geografia do ensino básico do sexto ao nono ano, possam fornecer todos os conhecimentos necessários sobre esse conjunto de conceitos para a construção de conhecimentos significativos, que permitem os alunos a se situarem dentro de uma sociedade politizada, e principalmente que esses conhecimentos sejam aplicados em seus espaços de vivências: lar, escola, igreja, comunidade, bairro etc. Só assim estaremos construindo uma sociedade democratizada de fato.
  • 57. 56 6. Referências BRASIL. Ministério da Educação e do Desporte. Secretaria de Educação Fundamental. Plano Decenal de Educação para todos (1993-2003). Brasília: MEC, 1993. BUFFA, Ester; ARROYO, Miguel; NOSELLA, Paolo. Educação e cidadania: quem educa o cidadão? Editora Cortez/ Autores Associados, 1987. 94 p. CARLOS, Ana Fani (organizadora). A Geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1999, p. 7-61. ANDRADE, Manuel Correia de. Trajetória e compromissos da geografia brasileira IN: CARLOS, Ana Fani (organizadora), A Geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1999, p. 9-13. DAMIANI, Amélia Luisa. A Geografia e a construção da cidadania IN: CARLOS, Ana Fani (organizadora). A Geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1999, p. 50-61. VESENTINI, José Willian. Educação e ensino da Geografia: instrumentos de dominação e/ou libertação IN: CARLOS, Ana Fani (organizadora). A Geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1999, p. 14-33. CASTROGIOVANNI, A. C. (org.) Apreensão e compreensão do espaço geográfico. IN: Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2000.p 11-22. CALLAI, H. C.; CASTROGIOVANNI, A. C (org.). Estudar o lugar para compreender o mundo. IN: Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2000. p. 83-92. CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia e práticas de ensino. Goiânia: editora Alternativa, 2002, volume 1, 127 p.
  • 58. 57 CHAUÍ, Marilena: Convite à Filosofia. São Paulo: editora Ática, 6° Ed, 1997. p. 367-435. Educação e Sociedade. Revista de Ciência da Educação. Volume 28. Jan/Abr 2007. LACOSTE, Y. A geografia – isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Tradução de Maria Cecíllia França. Campinas: Papirus, 1988. 263 p. MARTINEZ, Paulo. Direitos de cidadania: um lugar ao sol. São Paulo: Scipione, 1996, p. 6-49. SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1993, 142 p. SAVIANI, Demerval. Escola e democracia. São Paulo: editora Cortez, 1983. 96 p. WOOLDRIDGE, S. W. ; GORDON EAST, W. Espírito e propósitos da Geografia, 2° Ed. Zahar Editores, 1967. P.13-24; 127-147. Entrevista com Pedro Guareschi ao Jornal Mundo Jovem. No voto começa a democracia. São Paulo, p. 12, setembro de 2000. Site da Presidência da República onde se encontra a Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 05 de abril de 2010. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Introdução à democracia. 18 de setembro de 1956. Disponível em: < http://almanaque.folha.uol.com.br/sergiobuarque_democracia.htm>. Data do acesso: 28 de maio de 2010.