2. Ao Centro de Conhecimento, Editoração,
Documentação, Informação e Pesquisa da
FIEC, na pessoa de Rita de Cássia;
a Márcia Vecchio Machado da Silva;
e a meu marido Gil,
porque nenhum livro se escreve sozinho.
3. Sumário
Apresentação - 6
Introdução - 12
O marco inicial - 18
José Célio Gurgel de Castro - 1972-1975 - 28
Airton José Vidal Queiroz - 1975-1978 - 40
Álvaro de Castro Correia Neto - 1978-1981 - 52
Fernando Cirino Gurgel - 1981-1984 - 64
Antonio Carlos Maia Aragão - 1984-1987 - 80
José Frederico Thomé de Saboya e Silva - 1987-1990 - 96
Fernando José Lopes de Castro Alves - 1990-1993 - 122
Mario Walter Saturnino Bravo - 1993-1996 - 140
Guilardo Góes Ferreira Gomes - 1996-1999 - 152
Carlos Gil Alexandre Brasil - 1999-2002 - 166
Valdelírio Pereira Soares Filho - 2002-2005, 2005-2008 - 182
Ricard Pereira Silveira - 2008-2011 - 206
Epílogo - 236
Diretorias - 242
Atuais Associados - 250
Parceiros - 256
Leal, Angela Barros
L435q
40 anos do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e
de Material Elétrico no Estado do Ceará / Angela Barros Leal.--
Fortaleza: SIMEC, 2011.
306 p.: ilust.
1.Indústria Metalúrgica – Ceará
2.Indústria Mecânica – Ceará
3. Indústria de Material Elétrico - Ceará
4.SIMEC – História
5. Organização Patronal
6.Industrial cearense
I. Título
CDD: 338.4
5. Apresentação Apresentação
Ao ser solicitado a assinar a apresentação para o livro comemorativo dos
40 anos do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material
Elétrico no Estado do Ceará reconheci que a indicação se dera não apenas em
função do cargo que ora ocupo, na Presidência da Federação das Indústrias
cearenses, mas também à minha vinculação pessoal com a história do SIMEC,
ao qual sou associado há mais de três décadas, acompanhando as atividades
da empresa iniciada por meu pai, José Macedo, também associado.
Nunca cheguei a ocupar a presidência do SIMEC. Circunstâncias variadas
me conduziram a outros caminhos. Permaneci atento ao trabalho desenvolvido
pelas seguidas diretorias do SIMEC, formadas por empresários comprometidos
com o crescimento de suas empresas, com a eficiência na gestão de negócios,
com a oferta de trabalho, com o bem estar da comunidade, cumprindo com
suas responsabilidades de cidadania num efeito multiplicador.
A FIEC é constituída por 39 instituições sindicais organizadas. Costumo
citar o SIMEC como uma referência para o que se espera de um Sindicato,
especialmente pela intensa participação de seus componentes e pela coe-
rência de suas atitudes, sempre em favor do que se apresente como melhor
à comunidade empresarial. Como afirmei no meu discurso de posse, a FIEC
é dos industriais. De pessoas comprometidas com a harmonia de interesses
que assegura a força competitiva da indústria cearense.
Temos apresentado crescimento firme em um mercado cada vez mais
exigente e sem fronteiras, estabelecendo padrões éticos e qualitativos. Que-
remos prosseguir valorizando todos os Sindicatos que compõem a nossa
Casa. E quanto mais dinâmico for o trabalho em conjunto, maior também
será nossa valorização.
Acompanhei a chegada de Ricard Pereira Silveira à Presidência do SI-
MEC. Empresário jovem que se revelou uma agradável surpresa na direção
sindical. Soube trazer sangue novo, estimular o processo de modernização,
mobilizar ainda mais o grupo para exercitar a participação de todos. Seu
trabalho agregou valor ao que os antecessores haviam feito. Com muita garra
8 9
6. Apresentação
conduziu o SIMEC nos últimos três anos, e é devido a seus próprios méritos
que foi reeleito para um novo mandato, certamente de muitos resultados.
As comemorações dos 40 anos de existência do SIMEC propiciaram
uma série de ações, entre as quais se encontra a publicação do presente
livro histórico. Trata-se de documento referencial baseado em minuciosa
pesquisa e em entrevistas com associados e ex-Presidentes, resgatando as
experiências do passado e preservando as informações produzidas hoje,
para conhecimento dos futuros industriais cearenses.
Novos estágios evolutivos e novos desafios virão. Nosso trabalho pros-
seguirá incansável, incluindo parcerias com órgãos e instituições compro-
metidos com o desenvolvimento do Ceará, promovendo a justiça social e
fortalecendo o papel dos Sindicatos, do qual, mais uma vez, o SIMEC se
coloca como exemplo.
Parabéns aos associados. Parabéns ao Ceará.
Roberto Macedo
Presidente da FIEC
10 11
8. Introdução Introdução
O longo corredor no terceiro andar da Casa da Indústria, em For-
taleza, se comporta como um verdadeiro mostruário da atividade
industrial cearense. De um lado e de outro enfileiram-se as salas que
sediam os Sindicatos dos proprietários de indústrias locais, cobrindo
uma ampla variedade de atividades que vão do granito ao têxtil, da
bebida ao alimento, da reciclagem de resíduos sólidos ao cal, gesso,
cimento e cerâmica. E é exatamente entre estes dois últimos – respec-
tivamente, Sindverde e Sindicerâmica – que desde 1988 se encontra
instalado o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de
Material Elétrico no Estado do Ceará – SIMEC.
Logo à entrada da sala de reuniões do Sindicato, ao lado esquerdo,
há uma tortuosa escultura em metal reciclado, aparentemente inconclu-
sa, justapondo elementos díspares que lembram uma engrenagem, um
edifício, ou suas estruturas, e que se integram para contar uma história
conhecida por apenas duas pessoas: o escultor Caetano Barros e o atual
Presidente. Na parede da mesma sala, bem próximo à escultura, em po-
sição correspondente à cabeceira esquerda da longa mesa que acompa-
nha as janelas abertas para o perfil verticalizado da Aldeota, se destaca
a “certidão de nascimento” da Entidade: a Carta Sindical assinada pelo
Ministro de Estado dos Negócios do Trabalho e Previdência Social, Júlio
Barata, com data de 24 de janeiro de 1972.
É este documento emoldurado que comprova a consolidação de um
movimento associativo iniciado em 1966, fortalecido a partir de 1971,
e formalizado pelo Ministério competente por meio do Processo n° 305
823 de 19 de novembro daquele mesmo ano, dando início oficial no
Ceará às atividades sindicais do setor metalúrgico, mecânico e de ma-
terial elétrico.
A Carta Sindical assinala o começo de uma história surgida em outra
sede que não esta da Aldeota, ainda no Centro da cidade, envolvendo ou-
tros personagens, alguns deles transformados em lembrança, uma história
14 15
9. Introdução
imersa em realidade social, política e econômica tão diversa dos dias atu-
ais, uma história que vem conseguindo atravessar as décadas e enfrentar
os desafios de um mundo novo, globalizado, on line, virtual, noticiado em
tempo real, e se impor como um exemplo de continuidade.
E é justamente para encarar o futuro que daqui, desta sala no terceiro
andar do edifício da Federação das Indústrias do Estado do Ceará, 40 anos
depois, é preciso voltar os olhos para o que está no entorno, e para o que
ficou no passado.
Visão perspectiva do selo de 40 Anos do Sindicato
Carta Sindical do SIMEC, de 1972
16 17
11. O marco inicial O Marco Inicial
No primeiro livro de ata do SIMEC foi colada a página 7 do jornal
Gazeta de Notícias, da terça-feira, 17 de maio de 1966, registrando para a
posteridade o Edital de Convocação necessário à Assembleia de Fundação
da Associação Profissional dos Empregadores das Indústrias Metalúrgicas,
Mecânicas e de Material Elétrico do Estado do Ceará. O nome quilométri-
co da nova instituição era auto-explicável, e resumia de forma clara o seu
propósito.Dizia a nota:
Pela presente, todos os integrantes da categoria econômica das
indústrias metalúrgicas, mecânicas e de material elétrico são
convocados a se reunirem no próximo dia 20 de maio de 1966,
às 17 horas, na sede da FIEC, sita à Rua Major Facundo n° 253,
5° andar, sala 11, a fim de deliberarem sobre a conveniência
da fundação da Associação Profissional dos Empregadores das
Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico, nos
termos das disposições legais e das Instruções vigentes do Mi-
nistério do Trabalho e Previdência Social.
Solicita-se outrossim aos que comparecerem o obséquio de virem
munidos dos seus documentos de identificação e qualificação da ati-
vidade que exercem (Registro da firma na Repartição competente).
Fortaleza, 16 de maio de 1966
Célio Gurgel de Castro – pela Comissão Organizadora
Na mesma página, o jornalista Darcy Costa assinava a coluna “Cine-
ma”, tratando, naquele dia, do II Festival de Cinema Amador, a acontecer na
Guanabara; o colunista Lindberg Ramos informava sobre a volta da Panair
do Brasil e a decolagem dos aviões Caravelle, da empresa aérea Cruzeiro
do Sul; e o jornalista Lúcio Brasileiro, na coluna “O Diário”, mostrava foto-
grafia do deputado José Macedo em jantar com o pintor Moacir Andrade.
O panorama no Ceará, no Brasil e no mundo, entrevisto brevemente atra-
vés da página preservada, informava aos leitores sobre a próxima demons-
Folder institucional da Fundição Cearense - 1931
20 21
12. O Marco Inicial
tração em Fortaleza da Esquadrilha da Fumaça, a acontecer de 17 a 24 de
maio, homenageando o primeiro centenário da Batalha de Tuiuti; noticiava
a proposta do governador Virgilio Távora, cumprindo seu primeiro mandato
(1963/1966), de criar em breve a TV Educativa do Estado; tratava do lança-
mento da cápsula espacial Gemini 9, marcado para o dia 18 de maio, e dis-
corria sobre os dramas e tragédias de sempre, como inundações em Argel e
sequestros em Roma. Era ano da oitava edição da Copa do Mundo, sediada
na Inglaterra, com vitória para os donos da casa.
No Brasil vivia-se uma “complexa situação financeira e uma inquietante
crise”, como escrevia o Diretor Geral da referida Gazeta de Notícias, Luis
Campos. Apesar disso, as notícias sobre o Ceará eram promissoras. Iam ser
iniciadas as obras de construção do Armazém A-4 do Porto do Mucuripe, a
estação de passageiros da Esplanada do Mucuripe, e seis fábricas se prepara-
vam para inaugurar o Distrito Industrial de Fortaleza até o final do ano: Pro-
tector, especializada em tintas e vernizes, duas fábricas de cimento amianto
(Eternit e Brasilit), uma de fiação, uma de relógios e uma de arame farpado,
todas elas com as negociações “em entendimentos finais”.
Edifício Jangada - Rua Major Facundo
A reunião convocada pela Associação na Gazeta aconteceu conforme
previsto. O registro em ata permite conhecer o que foi discutido naquele
primeiro encontro do setor.
necessária para melhor defesa dos interesses comuns.
Às 19h30 do dia 20 de maio de 1966 reuniram-se na Federação das
Indústrias do Estado do Ceará, à Rua Major Facundo 253, 5° andar, Assim sendo, cedia a palavra a quem dela quisesse fazer uso, para se
sala 11, os integrantes das atividades metalúrgicas, mecânicas e de pronunciar sobre a proposta que formalizava publicamente.
material elétrico abaixo assinadas, estabelecidos nesta cidade.
Pedindo a palavra, o Sr.Djanir Figueiredo manifestou-se de pleno
Em nome da Comissão Organizadora, assumiu a presidência dos acordo com a proposta, aduzindo que o comparecimento de nú-
trabalhos o Sr. Célio Gurgel de Castro, que convidou para integrar mero expressivo dos integrantes da categoria econômica interes-
a mesa, como Secretário, o Sr. Raimundo de Alencar Pinto. O pre- sada já era, por si mesmo, fato significativo e comprobatório das
sidente agradeceu o comparecimento dos colegas reunidos para possibilidades de vida eficiente da futura associação.
deliberarem sobre a conveniência da fundação da Associação Pro- O texto manuscrito é encerrado sem a prometida assinatura dos em-
fissional dos Empregados das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e presários participantes, impedindo o conhecimento de quais se fizeram
de Material Elétrico que, ao ver da Comissão Organizadora, se fazia
22 23
13. O Marco Inicial
presentes àquela esperançosa reunião – que, entretanto, não teve a conti- dos jornais fortalezenses, que passava a funcionar naquele novo en-
nuidade imediata tão esperada. dereço, sob a direção do próprio James Spears, que se transferira do
Recife para Fortaleza. (...) A Fundição Cearense figurou, desde logo,
No final do ano de 2010, Célio Gurgel de Castro não recorda o que entre as mais importantes do norte do Império.
causou a interrupção das atividades, ou quem eram todos os presentes em
A continuação da história é contada na página de abertura do segundo
1966. Aos 85 anos, completados em fevereiro de 2011, Célio ainda se en-
Catálogo da Fundição, impresso em Berlim em 1901 e preservado pela
contra em plena atividade, voltado principalmente para o setor de agricul-
família Gurgel, no qual são apresentadas ilustrações, dimensões e preços
tura e pecuária, sem deixar de lado as antigas raízes na área de metalurgia.
de venda de “maquinário para lavoura, indústria e objetos de engenharia”.
“A reunião era uma formalidade, para dar início ao Sindicato”, diz ele.
“A Fundição Cearense foi estabelecida em 1855”, confirma o texto,
“Lembro de uns três que estavam lá: o Raimundo Pinto, o Osvaldinho Stu-
embora minimizando a importância daqueles tempos iniciais.
dart, o pessoal da J. Torquato...” O papel de liderança que lhe coube é
modestamente atribuído às amizades criadas na FIEC, em especial com Nos seus primeiros anos [a Fundição] teve pouco desenvolvimento,
Raimundo Pinto e com o presidente Tomás Pompeu de Souza Brasil. E se sendo, porém, adquirida em 1883 por Valdevino S. [Soares] Freire,
justifica, com razão: “Isso tudo faz muito tempo.” de saudosa memória, um cearense que dedicou parte de sua vida à
indústria de ferro em verdadeira luta pela vida em trabalhos mecâni-
Se 1966 é tempo passado, mais tempo ainda se faz da fundação da pri- cos, dando a esta fábrica maior desenvolvimento. Quando, porém,
meira usina metalúrgica do Ceará, a Fundição Cearense, à qual a história começava a usufruir o trabalho de longos anos, faleceu de moléstia
de Célio Gurgel está intimamente ligada, pela força das raízes familiares. adquirida no próprio trabalho, acidente ocorrido na montagem de
uma instalação de máquinas para beneficiar café.
A Fundição Cearense nasceu em 1855, a partir de uma oficina que
trabalhava com ferro batido, como registra o pesquisador Geraldo Nobre O trágico acidente ocorrido com Valdevino abalou, mas não interrom-
no livro “O processo histórico de industrialização do Ceará”. Em 1861 peu as atividades da Fundição.
o empresário José Paulino Hoonholtz, já então proprietário da Fundição,
Isto não desanimou aos irmãos Freire, que adquirindo a fábrica
associou-se ao inglês James Spears, atuante em Recife. Os sócios partiram
por compra deram-lhe ainda maior desenvolvimento, assumindo
para a aquisição de equipamento moderno, adequado ao funcionamento a sua direção J.[José] C.[Cândido] Freire, na parte comercial, e Rai-
vapor, e inauguraram o que seria quase que uma nova indústria, em agosto mundo S. [Soares] Freire na parte técnica, em vista de sua longa
de 1868, conforme publicado no jornal República a 171 daquele mês. Ha- prática na mesma fábrica.
via demanda, e o sucesso foi imediato, como anota Nobre:
O endereço no Catálogo de 1901 indica o Boulevard do Bemfica como
Em poucos meses a Fundição estava abarrotada de encomendas do sede2, e não mais a Rua da Praia mencionada por Nobre. Havia um telefo-
Governo e de particulares, ao ponto de seus proprietários deseja- ne para contato, de número 167, o que apontava para a modernidade da
rem expandir-se. Para isso, alugaram os prédios de números 84 a 98 firma, numa cidade com 50 mil habitantes e poucas centenas de assinantes
da Rua da Praia (atual Avenida Alberto Nepomuceno). Decorridos telefônicos registrados.3
exatamente quatro meses a firma comunicava ao público, através
24 25
14. O Marco Inicial
No “Almanaque do Ceará para “Nós fabricávamos peças”, diz Célio, relembrando os primeiros tempos. “A
1908,”4 referente ao ano anterior, gente fabricava, quebrava, moldava a peça, às vezes aproveitando a peça velha
a Fundição Cearense ainda cons- como modelo para fazer outra peça daquelas, para as máquinas funcionarem”.
ta como pertencente a José Cândi- E acrescenta, sem saudosismo: “Naquela época eu conhecia todas as indústrias.
do Freire. Mas em 1912 é certo que Todas elas eu conhecia. Eu era chamado para dar opinião na manutenção. E eu,
já havia saído das mãos dos irmãos que quase que nasci dentro de uma fábrica, ganhei boa experiência com isso”.
Freire e passado para João Gurgel Célio tinha 17 anos quando perdeu a mãe e assumiu, oficialmente, a
Nogueira5, avô de Célio, com uma direção da Fundição Cearense, contribuindo para preservar o que é um
produção “centrada em fundidos, marco indiscutível na história da indústria metalúrgica no Estado e no país.
equipamentos para a indústria agríco-
la, engenhos de cana-de-açúcar e pe-
ças de moendas, alambiques, cister-
Notas:
nas, bombas, tanques, rodas e eixos”.6
1 - Nobre, p.129
“Meu avô faleceu em 1936”, re- 2 - Boulevard Visconde de Cauhype e, mais tarde, Av. da Universidade
lembra Célio. “Minha mãe era filha úni- 3 - Nirez, 10/9/1891
ca, já viúva. E passou a ser a proprietária 4 - Fortaleza, Typo-Lythographia a Vapor, 1908
da firma, juntamente com a mãe dela, 5 - Almanaque do Ceará 1912
que faleceu no ano seguinte, deixando 6 - História da Fundição. São Paulo, 2009
minha mãe sozinha na administração do 7 - Guia da cidade de Fortaleza, 1939
negócio”. A firma assumiu o nome de Viúva
Gurgel & Cia. Era classificada como fundi-
ção e oficina mecânica, com endereço no nú-
mero 2513 do Boulevard Visconde de Cauípe,
atendendo pelo telefone 1831.7
Célio tinha 12 anos de idade. Era o caçula de
quatro filhos, o único que se interessou pela Fundição.
Estudava pela manhã. À tarde fazia companhia à mãe na
fábrica, vendo de perto como eram feitos os consertos das
máquinas de beneficiamento de caroço de algodão, a manuten-
ção das peças criadas quase artesanalmente, a fabricação dos engenhos
para moer cana.
26 27
16. José Célio Gurgel de Castro 1972-1975
Entre 1966 e os primeiros meses de 1970 não há registros na secretaria do Sin-
dicato sobre a movimentação associativa patronal do setor metalmecânico. Mas
em 20 de fevereiro de 1970 o quinto andar do Edifício Jangada voltou a sediar As-
sembleia Geral da Associação Profissional das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas
e de Material Elétrico do Estado do Ceará, com o fim especial de “deliberar sobre
a fundação, eleição da Diretoria provisória e aprovação dos respectivos Estatutos”.
O Edital de convocação, publicado no jornal Tribuna do Ceará (16/2/70) reu-
niu outra vez os interessados. A ata registra que Célio Gurgel de Castro assumiu
a presidência da mesa, em nome da Comissão Organizadora, convidando João
Clemente Fernandes para Secretário. Após agradecer o comparecimento de to-
dos, Célio comunicou a necessidade de fundar a Associação “para melhor defesa
dos interesses da classe” e perguntou se havia algum voto discordante, tendo
como resposta o silêncio. A ausência de manifestações contrárias fez com que
Célio considerasse fundada, a partir daquele momento, a Associação Profissional
das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Estado do Ceará.
Sem perda de tempo, e na forma do Edital, deu-se a eleição da Diretoria
Provisória para a Associação recém nascida, sendo eleitos, por aclamação,
Célio Gurgel, João Clemente, Raimundo Régis de Alencar Pinto, Eduardo
Diogo Gurgel, Tarcisio Guy Andrade Silveira e Augusto Castelo da Cunha,
os três primeiros para ocupar, respectivamente, os cargos de Presidente,
Secretário, Tesoureiro e, os três seguintes, as suas suplências.
Para o Conselho Fiscal e suplência foram indicados Edson Queiroz,
Olavo Magalhães e Ivan Moreira de Castro Alves; Laerte Moreira de Castro
Alves, Osvaldo Studart Neto e João Nogueira Meireles.
Definidos os nomes dos diretores o Presidente submeteu os Estatutos
à consideração dos presentes, obtendo aprovação unânime. E para cobrir
as despesas com instalação e atividades da Associação ficou estabelecida
uma contribuição mensal de NCr$ 100,00 por parte de cada associado.
Nova Assembleia Geral Extraordinária se deu às 11h da manhã do dia 30
de janeiro de 1971 – um sábado, o que justificava o horário matinal – prati-
Mesa onde se davam as primeiras reuniões do SIMEC
30 31
17. 1972-1975
camente com os mesmos objetivos daquela acontecida quase um ano antes. Por fim, a eleição da Diretoria provisória consolidou pela segunda vez a po-
O Edital de convocação aos associados fora veiculado durante três dias, na sição de Célio Gurgel, João Clemente Fernandes e Raimundo Régis de Alencar
semana anterior, no jornal Tribuna do Ceará (13, 15 e 16 de janeiro de 1971). Pinto, nas funções de Presidente, Secretário e Tesoureiro. Constavam também
Diante dos presentes, na chamada sede provisória, e que assim per- dessa lista os nomes de Eduardo Diogo Gurgel, Tarcisio Guy Andrade Silveira e
maneceria por quase duas décadas – o Edifício Jangada, na Rua Major Fa- Augusto Castelo da Cunha como Suplentes da Diretoria, e de Edson Queiroz,
cundo, 253, 5° andar, sala 11 – o secretário João Clemente leu na íntegra o Olavo Magalhães e Ivan de Castro Alves na composição do Conselho Fiscal,
teor do Edital de convocação, que ficou apenas em parte registrado na ata tendo Laerte Castro Alves, Osvaldo Studart Neto e João Nogueira Meireles como
daquela primeira reunião de 1971, e que visava deliberar sobre três pontos Suplentes.
fundamentais: o pedido de reconhecimento da entidade como Sindicato, a O Presidente congratulou-se com os presentes pela decisão de transfor-
aprovação dos Estatutos, e a eleição da Diretoria provisória. mar a Associação em Sindicato, e encerrou a reunião.
Na discussão referente ao tópico de abertura o presidente Célio enfati- Cumpridas as exigências jurídicas, até novembro do ano seguinte,
zou ser esta “a primeira fase para a fundação do Sindicato”, discorrendo em 1972, seguiram-se os contatos e entendimentos necessários, sendo aberto,
seguida sobre as vantagens de transformar a Associação em órgão sindical, junto ao Ministério dos Negócios do Trabalho e da Previdência Social, cujo
o que foi posto em votação e aprovado por unanimidade. titular era o ministro Júlio Barata, o processo que oficializaria a existência
A discussão sobre o segundo item foi ainda mais rápida. Pouco havia do Sindicato, materializado na Carta Sindical, com o seguinte teor:
sobre o que divergir. As normas estatutárias seguiam modelo instituído pela O Ministro de Estado dos Negócios do Trabalho e Previdência So-
Portaria Ministerial n° 126, de 28/6/1958, sendo o primeiro Estatuto forma- cial faz saber a quantos esta carta virem que, atendendo ao que
do por sete capítulos e 39 artigos, o primeiro dos quais estabelecia: requereu a Associação Profissional das Indústrias Metalúrgicas,
Mecânicas e de Material Elétrico do Estado do Ceará, com sede
O Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material em Fortaleza, no Estado do Ceará, e dispensando nos termos do
Elétrico no Estado do Ceará, com sede e foro em Fortaleza, é cons- parágrafo único do artigo 515 da C.L.T. a reunião do terço legal
tituído para fins de estudo, coordenação, proteção e representa- dos exercentes da categoria respectiva, resolve aprovar o res-
ção legal da categoria econômica, na base territorial do Estado do pectivo estatuto e reconhecê-la sob a denominação de Sindicato
Ceará, conforme estabelece a legislação em vigor sobre a matéria, das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico no
e com o intuito de colaboração com os poderes públicos e demais Estado do Ceará como sindicato representativo de todas as ca-
Associações, no sentido da solidariedade social e da sua subordi- tegorias econômicas constantes do 14° grupo – Indústrias meta-
nação aos interesses nacionais. lúrgicas, mecânicas e de material elétrico – do plano da Confe-
deração Nacional da Indústria, na base territorial do Estado do
Ao proceder à leitura dos capítulos e artigos, a Mesa alertou que, se Ceará, com sede em Fortaleza no Estado do Ceará, de acordo
o Plenário desejasse introduzir alguma modificação, permitida em lei, o com o regime instituído pela Consolidação das Leis do Trabalho.
fizesse no decorrer da leitura, comunicado que se mostrou desnecessário: E, para firmeza, mandou passar a presente carta, que vai por ele
o conteúdo foi integralmente aprovado, na forma em que estava redigido. assinada.Brasília, 24 de janeiro de 1972.
32 33
18. 1972-1975
Cerca de um mês depois, a 25 de fevereiro, o Delegado Regional do ser oficializada como a de fundação do Sindicato das Indústrias Metalúrgi-
Trabalho no Ceará, Jefferson Quesado, enviou a Célio Gurgel o ofício n° cas, Mecânicas e de Material Elétrico no Estado do Ceará.
61/72 encaminhando o seguinte despacho ministerial, referente ao pro- ***
cesso MTPS 305 823/71:
Nos termos do parecer do Departamento Nacional do Traba-
Nos 40 anos seguintes José Célio Gurgel de
Castro seria um dos dois únicos associados a repetir As primeiras
lho, fundamentado na Resolução da Comissão do Enquadra-
mento Sindical, e atendendo ao que requereu a Associação
mandato na Presidência, inicialmente ocupando o
cargo na Associação de 1970 a 1971, ainda que de
eleições do
Profissional das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Mate-
rial Elétrico do Estado do Ceará, resolvo, na conformidade do maneira provisória, reelegendo-se em seguida para Sindicato foram
o triênio 1972 a 1975, desta vez no Sindicato. No
disposto no parágrafo único do art.515 da Consolidação das
Leis do Trabalho, reconhecer a postulante, sob a denomina- caso dele, a continuidade se deu talvez pela pró- agendadas
ção de Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de
Material Elétrico no Estado do Ceará, como entidade sindical
pria incipiência da instituição recém-criada, e que,
apesar disto, na reunião do dia 5 de maio de 1972 para 9 de junho
de 1° grau, representativa de todas as categorias econômicas
constantes do 14° grupo – indústrias metalúrgicas, mecânicas
já ganhava uma retrospectiva histórica traçada pelo
próprio Presidente, com os tópicos gerais anotados
de 1972.
e de material elétrico – do plano da Confederação Nacional da
Indústria, na base territorial do Estado do Ceará, aprovados os na ata. Célio recordava desde os tempos de formação da Associação, seis anos
seus Estatutos Sociais, com as correções sugeridas. Transmita- antes, até seu reconhecimento recente como órgão sindical, e aproveitava para
-se e publique-se. “tecer considerações” sobre os objetivos a que esta se propunha.
Ministro Júlio Barata, 24 de janeiro de 1972. As primeiras eleições do Sindicato foram agendadas para o dia 9 de
junho de 1972, quando a Diretoria provisória seria substituída pela oficial.
Acompanhava o despacho o seguinte comunicado: No dia marcado, entre as 13h e 19h compareceram 12 dos 16 sócios aptos
ao exercício do voto. A ata de instalação da Mesa Coletora Eleitoral contou
Sr. Presidente.
com as presenças de Raimundo Eymard Ribeiro de Amoreira, Irenice Gur-
De ordem do Sr. Diretor Geral, encaminho em anexo, para co- gel Freire e Raimunda Maria de Carvalho.
nhecimento de V.Sa., cópia do despacho exarado pelo Sr Ministro
Sob a presidência de César da Silveira Antunes, representante do Pro-
no processo MTPS 305 823/71, de interesse dessa entidade, bem
como a Carta de reconhecimento devidamente assinada e registra- curador Regional da Justiça do Trabalho, tendo como secretário Juvenal
da na Seção Sindical. Lopes Ribeiro e como escrutinadora Norma Alencar Severiano Barreira, o
resultado registrado na ata da apuração não trouxe grandes surpresas. Na
As correções que o despacho havia sugerido para o Estatuto eram de chapa única estavam eleitos Célio, Tarcisio Guy e João Clemente como ti-
pouca monta: cinco tópicos a reeditar, quatro a incluir e um a substituir. tulares da Diretoria Executiva para o triênio de 15 de julho de 1972 a 14 de
Foram realizadas de imediato, e a data de 24 de janeiro de 1972, passava a julho de 1975, mantendo-se Célio no exercício da presidência.
34 35
19. 1972-1975
Complementavam os eleitos: os suplentes de Diretoria, Ivan Morei- Atendendo à exigência do art.4, letra d, dos Estatutos foi aberto um Livro de
ra de Castro Alves, Olavo Magalhães e Airton Queiroz; os titulares do Registro de Associados. O presidente Célio assinou o Termo de Abertura, com data
Conselho Fiscal, Osvaldo Studart Neto, José Djanir Guedes de Figueiredo de 13 de dezembro de 1972, do documento onde seriam listadas as cem primeiras
e Fernando Nogueira Gurgel; tendo como suplentes Augusto Castelo da indústrias que iriam compor o Sindicato, começando, naturalmente, por aquelas
Cunha, Erasmo Rodovalho de Alencar e Raimundo Régis de Alencar Pin- ligadas aos que estavam à frente do movimento.
to. Delegados representantes junto à FIEC eram os titulares Célio Gurgel
e Raimundo Régis de Alencar Pinto, com os suplentes João Clemente Fer- Contém este livro 100 (cem folhas, com todas as suas páginas ti-
pograficamente numeradas, que servirá de Registro de Associados
nandes e Tarcisio Guy Andrade da Silveira.
do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material
A cerimônia de posse aconteceu no dia 14 de julho de 1972, no Audi- Elétrico no Estado do Ceará, com sede nesta cidade, reconhecido
tório Waldir Diogo, da Federação das Indústrias, no 6° andar do Edifício Jan- conforme Carta Sindical expedida em 24 de janeiro de 1972 e ins-
crito no Cadastro Geral de Contribuintes do Ministério da Fazenda
gada. Tomaram assento à mesa os senhores César da Silveira Antunes, Célio
sob o número 07155104/0001.
Gurgel, Tarcisio Guy, João Clemente e Antonio da Silva Guerra, assessor jurí-
dico da FIEC e Superintendente do IEL – Instituto Euvaldo Lodi. O Presidente A Fundição Cearense, com endereço na Avenida da Universidade,
discursou no final da cerimônia, encerrada às 19h40 daquela sexta-feira. 2513, registrada na Junta Comercial em 9 de setembro de 1957, com n°
5.835, abre a lista. É seguida pela Fábrica de Alumínio Ironte, de Clemente
Uma importante reunião decisória se deu às 18h do dia 22 de setembro
& Irmãos, tendo à frente João Clemente Fernandes, e que funcionava na
de 1972. Assembleia Geral Extraordinária, convocada por Edital publicado
Rua Joaquim Lino, 180, registrada na Junta Comercial com n° 20.982, em 8
dia 16 na Tribuna do Ceará teve por objetivo inicial “examinar, apreciar e
de agosto de 1962. A terceira indústria a ser inscrita no livro foi a Cia. Im-
deliberar sobre a Previsão Orçamentária para os exercícios de 1972/1973”,
portadora de Máquinas e Acessórios Irmãos Pinto, Cimaipinto, localizada
sendo seguida por uma rodada de deliberações sobre a filiação da entidade
na vizinhança do Edifício Jangada, Rua Major Facundo, 364, com n° 8.343
à FIEC, o que foi aprovado por unanimidade dos presentes, com destaque
na Junta Comercial, em 20 de fevereiro de 1946.
para os pontos principais dos Estatutos federativos e “sobre a necessidade
de congraçamento com os Sindicatos irmãos”. A Mecesa – Metalgráfica Cearense S/A, de Fernando Nogueira Gurgel,
ocupou o quarto lugar. Era registrada na Junta Comercial em 15 de junho
Ao tempo de sua própria fundação, em 1950, a
de 1965, n° 27.364. Em quinto lugar veio a Organização Silveira Alencar
FIEC incluía apenas cinco sindicatos: da Indústria de
Fiação e Tecelagem em Geral do Estado do Ceará, da
A cerimônia de S/A, conduzida por Tarcísio Guy Andrade Silveira, com endereço na ainda
Rua Monsenhor Tabosa, 578, e dona do número de registro 2.312, na Junta
Construção Civil de Fortaleza, da Indústria de Calçados
de Fortaleza, da Indústria de Tipografia de Fortaleza, e
posse aconteceu Comercial, em 31 de agosto de 1926.
de Alfaiataria e Confecção de Roupas para Homens de no dia 14 de Complementando a primazia de se colocar entre as dez primeiras, as-
Fortaleza. O Sindicato do setor eletrometalmecânico sinaram o Livro de Registro a Tecnomecânica Esmaltec S/A, de Edson Quei-
surgia dentro de uma estrutura que se fortalecia. julho de 1972. roz (n° 07.982, em 23/10/63); Indústria Nordestina de Aço S/A – Inasa, de
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20. 1972-1975
Olavo Magalhães (n° 22.841, em 20/8/63); Bombas King, de Ivan Moreira
de Castro Alves (n° 19.873, em 27/1/61); Studart & Cia Ltda, de Osvaldo
Studart Neto (n° 2.393, em 17/10/29); e Ângelo Figueiredo S/A, administra-
da por José Djanir Guedes de Figueiredo (n° 19.492, em 7/7/61).
Eram todos industriais no vigor dos 30 aos 50 anos, todos sediados em
Fortaleza, fundadores de seus próprios negócios ou responsáveis pela mis-
são de dar prosseguimento ao trabalho de seus antecessores, dispostos para
contribuir com o desenvolvimento econômico do Estado.
Até 1975 Célio dirigiu os trabalhos de todas as Assembleias Ordinárias
e Extraordinárias, com algumas exceções, como a reunião de 8 de abril de
1974, dirigida por Fernando Nogueira Gurgel, titular do Conselho Fiscal e
fundador da Mecesa. As Assembleias Gerais Ordinárias tinham como tema
apresentação e aprovação de relatórios, prestação de contas, previsão de
despesas para o ano seguinte, suplementação de verba que se fizesse ne-
ThomásPompeu (Presidente da CNI), Min. Mário Henrique Simonsen e
cessária ao desenvolvimento das atividades do Sindicato e demais delibe- Francisco José Andrade Silveira (Presidente da FIEC) na sede da Federação das Indústrias
rações de ordem administrativa interna.
As Assembleias Extraordinárias examinavam matérias quase sempre re-
O mundo sofria o impacto da crise do petróleo, do aumento dos juros,
lacionadas a dissídio coletivo e questões trabalhistas, como na Assembleia
e mergulhava numa recessão que afetaria o desenvolvimento das indús-
de 23 de outubro de 1974, tendo sido o assunto provocado pelo Sindicato
trias, explodiria os índices de desemprego1, e naturalmente traria reflexos
dos Trabalhadores na Indústria Metalúrgica, Mecânica e de Material Elétri-
negativos para o microcosmo que era o panorama industrial cearense. O
co de Fortaleza. A decisão do Sindicato dos proprietários foi “conceder au-
Presidente que sucederia Célio Gurgel iria lidar com tudo isso.
mento salarial de acordo com os índices a serem dispostos pela Secretaria
Regional do Trabalho da 7ª Região”.
Não se fazia ainda muito evidente, mas o período do chamado Notas:
“milagre econômico” brasileiro aproximava-se do fim. A sombra da 1 - Almanaque Abril 2000
hiperinflação delineava-se no horizonte para a próxima década. Ia fi-
car como saudosa lembrança o desempenho apresentado entre 1969 e
1973, quando o PIB nacional crescia quase 12% ano e a inflação média
anual não superava os 18%. O quadro já não era mais o mesmo em
1974, nem o seria daí em diante.
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22. Airton José Vidal Queiroz 1975-1978
A data de 14 de julho, tão ligada à Revolução Francesa, tornou-se a
data oficial de posse das Diretorias do Sindicato das Indústrias Metalúr-
gicas, Mecânicas e de Material Elétrico no Estado do Ceará. Foram 13 os
associados a aptos votar na chapa única de 1975, o ano em que César Cals
deixava o Governo do Ceará para dar lugar a Adauto Bezerra, igualmente
indicado pelo processo de eleição indireta.
As eleições do Sindicato mantinham-se democraticamente diretas. Na-
quele ano, a Mesa Coletora Eleitoral deu início ao recebimento dos votos
ao meio-dia de 12 de junho. Juvenal Lopes Ribeiro presidiu os procedimen-
tos, tendo como mesárias Raimunda Maria de Carvalho e Solange Pio de
Alencar Araripe. Encerrada a votação, às 18h30 do mesmo dia, sob a pre-
sidência do representante da Procuradoria Regional da Justiça do Trabalho,
João Nazareth Pereira Cardoso, e tendo como escrutinadores César da Sil-
veira Antunes e a secretária da FIEC, Irenice Gurgel Freire, foram apurados
os votos. Estava eleita a segunda Diretoria oficial do Sindicato.
Os nomes efetivados eram os de Airton Queiroz, Célio Gurgel e Rai-
mundo Régis de Alencar Pinto, tendo por suplentes Augusto Castelo da
Cunha, Ivan de Castro Alves e José Aragão de Albuquerque. No Conselho
Fiscal efetivavam-se Osvaldo Studart Neto, José Djanir Figueiredo e Edson
Queiroz Filho, com os suplentes Fernando Cirino Gurgel, Álvaro de Castro
Correia Neto e Pedro Jorge Clemente Soares. Célio Gurgel e Raimundo de
Alencar Pinto eram os delegados efetivos junto à FIEC. A suplência deles
coube a João Clemente Fernandes e Evandro Pessoa de Andrade.
Na ata de distribuição dos cargos, datada do dia seguinte, 13 de junho,
uma sexta-feira, coube a Airton José Vidal Queiroz a presidência para o
triênio 1975-1978, tendo como Secretário Célio Gurgel e como Tesoureiro
Raimundo de Alencar Pinto.
No citado dia 14 de julho Célio Gurgel deu posse ao novo Presidente
e apresentou relato da administração finda, comunicando que o Sindicato
dispunha de um saldo de Cr$ 95.483,00, sendo Cr$ 91.464,00 referentes
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23. 1975-1978
Columbia, Tropicana Quartz e Tropicana Electronic Line, com mercado no
Ceará, Piauí e Maranhão.
Produziam também tambores e tanques para derivados de petróleo, si-
los e minisilos para cereais, caçambas basculantes, carros de mão e estrutu-
ras metálicas, ampliando mercado de vendas, a partir de 1976, para países
das Américas Latina e Central, como Bolívia, Equador, Guianas, Martinica,
Panamá, Paraguai e Porto Rico.1 Poucos anos mais tarde, em 1986, a Es-
maltec representaria cerca de 80% do mercado consumidor local de lâmi-
nas de aço a quente e a frio,2 numa escalada que conduziria a patamares
sequer sonhados à época.
No Sindicato das Indústrias do setor eletrometalmecânico o dissídio
coletivo entrou regularmente em pauta, na Assembleia Geral Extraordinária
de 25 de setembro de 1975, tratando sobre o aumento nas bases dos índi-
ces salariais de outubro para os trabalhadores que recebiam até 10 salários
Thomás Pompeu, Hélio Idelburque (atrás), Carneiro Leal (superintendente do SESI) e Edson Queiroz em visita à Tecnorte mínimos regionais. Acima disso, ficou decidida recomendação de “acordo
entre empresa e empregado, não inferior a 20%”.
São poucos e lacônicos os registros em ata sobre o período: Assembleia
à arrecadação da contribuição sindical, e os restantes Cr$ 4.019,00 proce-
Geral Ordinária, de 14 de junho de 1976, para apreciação de Relatório da
dentes de “rendas próprias”, tudo devidamente depositado na Caixa Eco-
Diretoria, prestação de contas do ano anterior e previsão orçamentária para
nômica Federal do Ceará.
o ano vindouro; Assembleia Geral Extraordinária, dia 3 de dezembro, para
Airton Queiroz discursou para os presentes. Antes de serem empos- tratar da suplementação de verbas do orçamento do ano em curso. E o mes-
sados os diretores cumpriram com a exigência legal de apresentar suas mo se repetiu em 1977, até meados de 1978, sempre no Edifício Jangada,
declarações de bens à Secretaria do Sindicato. na Rua Major Facundo.
O novo Presidente atuava intensamente na área metalmecânica, sen- Conforme o Guia Turístico e Informativo de Fortaleza para 1974/75, o
do filho de um dos pioneiros da metalurgia no Ceará, o empresário Edson Ceará administrado pelo engenheiro e militar César Cals de Oliveira Filho
Queiroz, fundador, entre outras empresas, da Tecnorte – Tecnomecânica ganhara “três anos de profícuas realizações”. As exportações haviam cres-
Norte Ltda e da Esmaltec – Estamparia e Esmaltação Nordeste S/A. Em ope- cido mais de 40% somente em 1973, não apenas ancorada nos tradicionais
rações desde 1963, ambas produziam botijões para GLP (o familiar gás produtos primários, mas sim “em artigos manufaturados”, para o qual o
butano), os indispensáveis fogões Jangada (“o fogão de todo mundo”, se- setor industrial colaborava intensamente,
gundo o slogan publicitário), e mais adiante os modelos Alvorada, Iracema,
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24. 1975-1978
Era ainda modesto o número de empresas locais, atuantes no seg-
mento eletrometalmecânico, que anunciavam sua atuação nas páginas
do referido Anuário: Grupo J.Macedo. Grupo Ângelo Figueiredo. Grupo
Castro Alves. Metadil – Metalúrgica Diana Ltda. Indubras – Indústria Bra-
sileira de Metais S/A. Inelsa – Indústrias Elétricas Elite S/A. Cemag – Ceará
Máquinas Agrícolas S/A.
Entre as indústrias que preencheram ficha de filiação ao Sindicato
Fábrica Móveis de Aço Confiança, do Grupo Ângelo Figueiredo
naquele período estavam Fortaleza Aços S/A, de Raimundo Machado de
Araújo (20/8/75); CELENE – Cia. Eletrocerâmica do Nordeste, de Adalberto
Benevides Magalhães (20/8/75); ESMEL – Indústria de Estruturas Mecânicas
obedecendo os perfis, visando a utilização da matéria prima local
e mão de obra intensiva, com aumento na oferta de empregos, Ltda, de Eudes Macedo Queiroz Lima (9/9/75); Frota Mello S/A – Indústria e
tanto nas áreas rurais quanto nas urbanas. Comércio, de José Firmo Frota Mello (28/1/76); FAE – Ferragens e Aparelhos
Elétricos S/A, de Acácio Araújo de Vasconcelos (29/4/77); CEMEC Constru-
A população de Fortaleza alcançava o primeiro milhão, ostentando o ções Eletromecânicas S/A, de José Dias de Macedo (22/12/78).
título de sexta maior metrópole brasileira. Os setores de agropecuária e
serviços encabeçavam a composição do PIB, com a indústria – mais for- Transformadores produzidos na CEMEC
temente a agroindústria – assumindo o terceiro lugar, o que não impedia
o surgimento de grandes projetos na área metalmecânica, para a qual o
Anuário do Ceará 1979/1980, editado por Dorian Sampaio, informava as
metas buscadas:
O Pólo Metalmecânico trará:
A) implantação de uma unidade produtiva de chapas e bobinas
finas a frio e folhas de embalagem;
B) implantação de uma unidade de laminação de aços planos;
C) o estabelecimento de condições de implantação de uma série
de outras empresas no setor;
D) criação de 3.743 empregos diretos, 1.310 dos quais na unidade
de laminação. Os investimentos destinados a esse programa estão or-
çados em Cr$ 8,7 bilhões.
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25. 1975-1978
Aumentava o número de associados. Por outro lado, aumentava tam- cearenses consumidoras dos produtos de fabricação da CSN”, como docu-
bém a inflação, e os salários inalterados funcionavam como ingredientes mentou o jornal O Povo (10/6/78), e não poupou elogios.
explosivos para a insatisfação dos trabalhadores, em especial dos metalúr- Seu intuito era conhecer as necessidades do setor siderúrgico cea-
gicos do chamado ABCD de São Paulo, que em 1978 deflagrariam o maior rense. E confessou-se “impressionado com o progresso das indústrias vi-
ciclo grevista que o Brasil vivenciara até então. sitadas,” entre as quais a Esmaltec. Destacou “o sentido da evolução da
Em março de 1978 o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecâ- economia do Ceará, que ocupa posição de relevo no contexto nacional”,
nicas e de Material Elétrico do Ceará se mobilizava para novo processo gerida por empresários “altamente dedicados ao seu papel na economia
eleitoral, o terceiro da história da entidade. Como viria a ser de praxe, e na sociedade”, e concluiu afirmando caber ao Ceará “um papel impor-
era apresentada chapa única, que seria eleita por unanimidade e sem tante a cumprir no desenvolvimento do Nordeste”.
conflitos. No dia 22 daquele mês a Tribuna do Ceará comunicava o re- As palavras elogiosas não impediram Catanhede de ouvir o questio-
gistro da chapa concorrente à eleição, confirmando nota publicada no namento do associado Sebastião Arruda Gomes, presidente da Norfrio,
mês anterior, no mesmo jornal. falando em nome de muitos, quanto às dificuldades para aquisição de
Compunham o quadro, como efetivos da Diretoria, Álvaro de Castro chapas galvanizadas. Era este um real impedimento ao avanço de grande
Correia Neto, Fernando Cirino Gurgel e Raimundo Régis de Alencar parte do setor, e não só no Ceará.
Pinto. Seus suplentes eram Augusto Castelo da Cunha, Ivan de Castro A preocupação elencava-se entre os propósitos justificativos da cria-
Alves e Adalberto Benevides Magalhães Filho. O Conselho Fiscal seria ção da ASIMEC – Associação das Indústrias Mecânicas, Metalúrgicas e de
composto por Amândio Bezerra Rolim, José Djacir Guedes de Figueire- Material Elétrico do Norte e Nordeste, entidade de caráter reivindicativo
do e Edson Queiroz Filho, tendo como suplentes Sebastião de Arruda criada em novembro de 1977, visando congregar as lideranças metalmecâ-
Gomes, Nelson Prado e Pedro Jorge Clemente Soares. nicas nos estados da Bahia, Ceará, Pará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande
Airton Queiroz permaneceu na do Norte, interessando-se principalmente em regularizar o abastecimento
presidência até julho. Juntamente com Como de praxe, de matérias-primas essenciais à atividade.
José Flávio Costa Lima, presidente da
FIEC, estava à frente da recepção ofe- era apresentada Com o Brasil sob a presidência do nordestino José Sarney, e o Ceará go-
vernado por Adauto Bezerra, a ASIMEC, tendo como presidente o cearense
recida a Plínio Catanhede, presiden-
te da CSN – Companhia Siderúrgica chapa única, que Adalberto Magalhães Filho, conduzia a discussão sobre o início de estudos
técnicos que viabilizassem o Polo Metal-Mecânico do Nordeste, propondo
Nacional em junho de 1978. Ao final
da reunião com os representantes das
seria eleita por também uma Portaria capaz de facilitar a participação de indústrias regionais
metalúrgicas locais, Catanhede afir- unanimidade e em concorrências públicas ou administrativas, preferenciando os produtos
nordestinos, o que ainda provocaria um sem fim de debates e discussões.
mou que ficara “com uma impressão
altamente animadora das empresas sem conflitos. O processo de renovação de Diretoria do Sindicato teve início no dia 9
de junho de 1978. A secretária Irenice Gurgel Freire assumiu a presidência
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26. 1975-1978
da instalação da Mesa Coletora Eleitoral, obedecendo a Portaria n° 92/78,
de 24 de maio de 1978, da Delegacia Regional do Trabalho no Ceará, e
deu início aos trabalhos. Junto com as companheiras de Mesa, Raimunda
Maria de Carvalho e Zulene Bezerra de Figueiredo, verificou que o material
necessário para a eleição estava “em perfeita ordem”.
Às 13h os associados começaram a depositar seus votos na urna, a favor da
única chapa registrada, encerrando-se o processo às 19h, quando 17 dos 20 as-
sociados aptos a votar cumpriram seu dever classista. A apuração se deu na meia
hora seguinte. Até às 19h30 o Presidente e o suplente da Mesa Apuradora, César
da Silveira Antunes, Chefe do Departamento Sindical da FIEC, e Juvenal Lopes
Ribeiro, designados pelas Portarias 200/78 e 201/78 da Procuradoria Regional
do Trabalho, retiraram as cédulas da urna confirmando a Diretoria eleita.
Efetivos eram Álvaro de Castro Correia Neto, Fernando Cirino Gurgel
e Raimundo Régis de Alencar Pinto, com os suplentes Augusto Castelo da
Cunha, Ivan de Castro Alves e Adalberto Magalhães Filho. Efetivos no Con- Visita dos participantes da 11ª Semana Regional de Prevenção de Acidentes às instalações da Tecnomecânica Esmaltec
selho Fiscal: Amândio Bezerra Rolim, José Djanir Guedes de Figueiredo e
Edson Queiroz Filho, tendo Sebastião de Arruda Gomes, Nélson Prado e
respeitar, no exercício do mandato, a Constituição Federal, as leis
Pedro Jorge Clemente na suplência. Como Delegados representantes junto vigentes e os Estatutos da Entidade, nos termos do parágrafo 5° do
à FIEC, efetivos, foram escolhidos o Presidente que saía, Airton Queiroz, art. 532 da CLT, combinado com o art. 74 da Portaria 3.447, de
e Adalberto Magalhães Filho, e os suplentes Victor José Macedo Queiroz 20/12/74.
Lima e José Sérgio Cunha Figueiredo.
Airton Vidal Queiroz prestou contas de sua atuação à frente da en-
Pelo avançado da hora da sexta-feira, a reunião para distribuição tidade. Álvaro Correia também se manifestou. Todos os novos Diretores
dos cargos aconteceu somente na segunda-feira seguinte, definindo-se apresentaram suas declarações de bens, atendendo ao disposto na Portaria
presidente Álvaro de Castro Correia Neto, secretário Fernando Cirino e Ministerial n°3.161, de 20 de maio de 1971. Começava outro mandato,
tesoureiro Raimundo Régis Pinto. que iria entrar na movimentada década de 1980.
No aprazado dia 14 de julho deu-se a cerimônia de posse dessa ter-
ceira Diretoria. Na ata foram preservados o registro dos componentes da
mesa, César da Silveira Antunes, Airton Queiroz e o novo titular, e os com- Notas:
promissos por eles solenemente assumidos de 1 - Edson Queiroz: um homem e seu tempo. SP, CL-A Comunicações, 1986
2 - DN 18/12/86
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28. Álvaro de Castro Correia Neto 1978-1981
Airton Queiroz deu lugar a Álvaro de Castro Correia Neto em julho de
1978, consolidando um modelo de titularidade renovável, sem repetições
personalizadas, possibilitando a cada três anos a criação de novas lideran-
ças e um constante revigoramento no espírito associativo.
Álvaro foi o primeiro executivo, não proprietário de indústria, a assu-
mir a presidência do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de
Material Elétrico no Estado do Ceará, cargo que ocuparia de 1978 a 1981,
eleito por 17 dos 20 associados aptos a votar. Engenheiro-mecânico e
administrador de empresas, era diretor industrial da empresa Mecesa – Me-
talgráfica Cearense S/A, de Fernando Nogueira Gurgel. De lá partiria para
a IMEC – Indústria de Material Elétrico e Mecânico, trocando Fortaleza por
Belém do Pará em 1983. Retornaria ao Ceará 15 anos mais tarde, não mais
no setor metalúrgico, mas sim no de papel e embalagens.
Como Diretor Financeiro da FIEC, Correia Neto mantém inalterada a
admiração pelo Sindicato que presidiu: “O SIMEC tem se destacado no ce-
nário econômico do Estado por sua competência e por sua postura proativa
na defesa de interesses dos seus associados”, é o que declara no portal do
Sindicato. “Na FIEC, é notável o seu empenho nas ações ligadas ao Progra-
ma de Desenvolvimento Associativo – PDA, que culminou, recentemente,
na elevação do número de associados. É reconhecido enquanto um Sindi-
cato atuante, sério, ético e transparente”.
Durante a administração de Álvaro Correia Neto, o Departamento de
Documentação e Informação Industrial da FIEC deu início a um paciente
trabalho de coleta de dados publicados na imprensa sobre o Sindicato das
Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico no Estado do Cea-
rá, possibilitando ao curioso ou ao pesquisador uma visão mais ampla que as
atas oferecem, e bem mais segura que a sempre traiçoeira memória humana.
Assim é que se acompanha, a partir daquela época, o sonho dourado
da implantação de uma usina siderúrgica em território cearense, tantas ve-
zes prometido e outras tantas negado, ao ponto de levar um dos associados
Alguns dos produtos da Mecesa
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29. 1978-1981
a responder, cheio de ironia, devolvendo a pergunta sobre as vantagens que Com tal propósito é que o governador
seriam trazidas ao Estado com a chegada de uma usina como essa: “Qual Virgilio Távora, em seu segundo período
das siderúrgicas? Já fui ao lançamento da pedra fundamental de tantas...” administrativo (março de 1979 a março de
Editorial publicado no jornal Estado de Minas (7/3/1979) permite a 1982), muito iria contribuir para a quase
compreensão do poder multiplicador da siderurgia. “É talvez o segmento concretização do sonho, como compro-
industrial mais importante dentro do processo de desenvolvimento de vam as matérias jornalísticas da época.
Virgílio Távora, governador do Ceará
qualquer país”, dizia o redator. Segundo o jornal Diário do Nordes- de 1963 a 1966 e de 1979 a 1982
te (jan/80), o país apresentava “escas-
A análise dos períodos de maior progresso econômico dos princi- sez e encarecimento do dinheiro”, num
pais países do mundo demonstra, cristalinamente, que ele [o pro-
momento em que a inflação ganhava fôlego para um salto gigantesco.
gresso] foi impulsionado por um crescimento vertiginoso da indús-
tria siderúrgica e do consumo do aço. O Governo dos militares previa para 1980 uma inflação acumulada de
45%. Chegou, de fato, a 110%, mais que o dobro do previsto, superan-
Não sem razão se faziam tão constantes os esforços para atrair ao Ceará do em muito a inflação do ano anterior, que ficara em 77%.
um equipamento desse porte. Se uma usina siderúrgica representava tudo
isso no âmbito de países, o que não representaria no contexto de um Estado Queixas à parte, 1980 se mostrou um “ano de glória” para a fundi-
como o Ceará, com seu desenvolvimento historicamente sujeito aos capri- ção do Brasil (Tribuna do Ceará, 13/2/89), com a produção de 1.798
chos e variações do clima, tendo como necessidade vital encontrar outros milhões de toneladas, recorde que só seria quebrado em 1986, na
meios de subsistência, e como desafio comprovar o potencial de seu povo. esteira do Plano Cruzado. Foi também o ano em que se assinalou um
“acontecimento histórico” (TC, 6/9/80): o Estado já fazia parte do
“círculo fechado da comunidade siderúrgica brasileira” na produção
de laminados planos, graças a dois convênios de cooperação técnica
assinados a 5 de setembro entre a Siderbras – Siderurgia Brasileira S/A,
empresa holding do setor siderúrgico brasileiro, e o governo estadual,
tendo à frente o governador Virgilio Távora e seu secretário de Indús-
tria e Comércio, Firmo de Castro.
As assinaturas pavimentavam o caminho para que o Ceará viesse a
se firmar como o terceiro polo industrial do Nordeste e o maior centro
metalmecânico da área. A implantação da unidade de laminados planos
se fazia “irreversível”, asseguravam os dirigentes políticos. A inauguração
aconteceria no final de 1984. A produção prevista para o estágio inicial
era de 200 mil toneladas, saltando para 25 milhões de toneladas no ano
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30. 1978-1981
seguinte, e 35 milhões em 1990. O bônus especial seria a desconcentra- O otimismo se devia, talvez, ao alinhamento de tantos cearenses em
ção dos investimentos do eixo Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, pontos-chave de decisão, talvez à insistência de Virgilio, e sua proximidade
trazendo-os para o Nordeste. com os dirigentes máximos nacionais, ou ainda às próprias características
Havia projetos ainda para outra unidade, de não planos, cuja carta- do ser humano. Por outro lado, a realidade pressionava com indefinições
-consulta havia sido aprovada junto à SUDENE, e que possivelmente seria básicas quanto à localização da unidade de laminados planos, a ser er-
localizada no Distrito Industrial, sob responsabilidade do poderoso Grupo guida ou em Sítios Novos, próximo ao município de Caucaia, através de
Gerdau. A estratégia era clara: laminados planos caberiam às empresas do uma operação joint-venture entre Governo do Estado e CSN, ou no Distrito
sistema Siderbras; não planos – vergalhões, barras, arames, tubos, trilhos, Industrial de Maracanaú.
perfis – ficariam a cargo da iniciativa privada. Como se pressentisse que não chegaria a ver a usina concluída,
O ponto de vista técnico era favorável. O Ceará se posicionava como Virgilio Távora inquietava-se com a morosidade das negociações. A
o maior consumidor de laminados planos na região Nordeste, e se locali- economia cearense era fortemente baseada no setor primário, insistia
zava estrategicamente no ponto médio entre as regiões Norte e Nordeste, ele, e isso precisava mudar. “O setor industrial é ainda insignificante,
o que sem dúvida facilitaria o atendimento a estados como Pará, Amazo- sobretudo ao se considerar o processo de urbanização que o Estado
nas, Piauí e Maranhão. vem passando, tendo Fortaleza como quinta cidade do Brasil em termos
populacionais”, declarava o Governador ao jornal O Povo (jan/81). A
O ponto de vista político não ficava atrás. O Consider – Conselho de Me- industrialização era prioritária, “única alternativa para a transformação
tais Não Ferrosos e de Siderurgia, órgão interministerial responsável pelo es- e modernização da economia do Ceará”, representando “a meta-síntese
tabelecimento das políticas globais do setor, composto pelos ministros Delfim da política governamental para o setor”, numa lógica que seria retoma-
Neto, do Planejamento, César Cals, das Minas e Energia, Camilo Penna, da In- da mais adiante, em fins do século XX, nas três administrações de Tasso
dústria e Comércio, e Ernani Galvêas, da Fazenda – acenara promissoramente, Jereissati (1987-1991, 1995-2002).
por meio do Secretário Executivo do Conselho,
Aloísio Marins, confirmando de público a aloca- Havia outra boa notícia prometida para o Ceará naquele mês de
O Ceará se ção de recursos no orçamento de 1981 para dar
suporte ao desenvolvimento da Unidade.
janeiro de 1981, no qual a ASIMEC – Associação das Indústrias Mecâni-
cas, Metalúrgicas e de Material Elétrico do Norte e Nordeste, realizava
reunião ordinária em Fortaleza: o Mucuripe teria seu porto industrial,
posicionava como O Superintendente da SUDENE, Valfrido Sal- um porto externo, offshore, “destinado a atender movimentação de des-
mito Filho, cearense de São Benedito, declarava carga, principalmente de laminados de aço adquiridos pelas indústrias
o maior consumidor em entrevistas que metalúrgicas cearenses”, informava O Povo. Mais um passo para con-
solidar o Pólo Metal-Mecânico do Ceará, “já em franco andamento,”
de laminados a decisão de instalar usina siderúrgica de laminados
planos representa momento marcante para a história prevendo até 1985 estarem concluídas não apenas uma, mas as duas
do Nordeste, especialmente do Ceará, graças princi- unidades de produção já mencionadas (de aços planos, com a Sider-
planos no Nordeste palmente à tenacidade do governador Virgilio Távora. bras, e de aços não planos, com o Grupo Gerdau).
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31. 1978-1981
O jornal apresentava croquis facilitando ao leitor visualizar como fi- A Gerdau tem tradição em trabalho com mini-steels. O Ceará está
caria o Porto do Mucuripe após a realização das importantes obras, que em expansão no setor metalmecânico. Inexiste siderúrgica desse
permitiriam “a atracação de navios de grande calado, como os transporta- tipo no Nordeste. O histórico comercial que tem o Estado com a
região. E o argumento definitivo: a resposta imediata dada pelo
dores de laminados de aço, vindos do Porto da Cosipa, em São Paulo”. Ou, governador Virgilio às proposições do Grupo.
melhor ainda, “a exportação dos laminados de aço que seriam produzidos
pelas duas futuras siderúrgicas cearenses”. Uma equação que tinha tudo para ser de fácil resultado.
Em março, antes de deixar a presidência do Sindicato, Álvaro de Castro Conforme prometido, no dia 30 de março de 1981 aconteceu o
Correia Neto ainda teve tempo para entusiasmar-se com o fato de que, a lançamento da pedra fundamental da COSICE – Companhia Siderúrgica
partir de outubro de 1982, o Ceará entraria na “corrida do aço”. Na abali- Cearense, dando início à desejada “corrida do Ceará pelo aço”. Jorge
zada palavra do governador Virgilio Távora, publicada no O Povo (27/3/81), Gerdau Johannpeter pronunciou-se no evento, afirmando ser “imperati-
“estamos vivendo toda uma semana de eventos siderúrgicos, primeiro por- vo manter o crescimento do Nordeste a 50% acima do restante do país,
que temos hoje, em Fortaleza, todo um staff da Siderbras, tratando da fu- para que possa ocorrer, nos próximos anos, o desejo do nivelamento do
tura siderúrgica de laminação de aço. Segundo, porque dia 30 [de março] progresso brasileiro”. Seu Grupo estava presente no Nordeste pratica-
teremos o lançamento da pedra fundamental da Siderúrgica Cearense, do mente do tempo em que havia sido fundado, em 1901, o que lhe dava
Grupo Gerdau, no Distrito Industrial”. segurança para afirmar que a “redenção do Nordeste” poderia custar
bem menos do que se pensava.
Era atirada a primeira pedra.
O Superintendente da SUDENE, Valfrito Salmito, enfatizou que nunca
Os planos desciam aos detalhes. De início, a Siderúrgica Cearense iria antes o Ceará tivera “tantos projetos na pauta da SUDENE”. Seguindo o
ocupar uma área de apenas 130 mil m² de um total de 50 hectares dispo- protocolo, o governador Virgilio Távora encerrou os pronunciamentos.
níveis no Distrito Industrial, produzindo anualmente 58 milhões de tone-
ladas, a partir de investimento procedente, em 22%, do BNDE, em 55,2% Desde o Plameg II recomendara a definição do polo metalmecânico
do Finor, e o restante de recursos próprios do Grupo Gerdau, principal como a “meta-síntese da política de industrialização do Ceará”. Nesse
produtor privado brasileiro de aço. seu terceiro ano de governo, imbuíra-se ainda mais da certeza de que não
se poderia viver “sob o constante domínio das forças da Natureza”, e de
A Siderúrgica ofereceria 400 empregos diretos. Dois mil empregos in- que no Ceará havia, sim, uma vocação natural para o desenvolvimento
diretos. “Se estivesse operando hoje”, animava-se o redator do jornal O da metalurgia e da mecânica, “comprovada pelo elevado número de pe-
Povo, “a Siderúrgica da Gerdau estaria descontando 20% de tributos sobre quenas empresas desses ramos, pela existência de grandes e modernas
um faturamento bruto/ano de Cr$ 2 bilhões, cabendo ao Tesouro estadual indústrias de ponta”, e por se constituir, o Ceará, “no maior consumidor
Cr$ 250 milhões só de ICM”. de laminados planos do Nordeste”.
As razões pelas quais o Ceará havia sido o escolhido eram enumeradas A solenidade de lançamento da pedra inaugural era “prenúncio do iní-
pelo jornalista: cio, em outubro de 1982, da produção de aço cearense e o ingresso oficial
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