1. PRIMEIRA ESTAÇÃO
JESUS É CONDENADO Á MORTE
1º Leitor
Pilatos disse: «eis o homem!» Assim que O viram, os princípios dos
sacerdotes e os guardas gritaram: «Crucifica-O! Crucifica-O!» Tornou
Pilatos a dizer: «tomai-O vós e crucificai-O, que eu não encontro n”Ele
culpa alguma». Responderam os judeus: «Nós temos uma Lei, e segundo a
nossa Lei deve morrer, porque se fez Filho de Deus» (Jo 19,5-7)
2º Leitor
Toda a via dolorosa começa com uma condenação. E a injustiça não cessa
de atormentar-nos e de dilacerar mesmo as grandes almas. Jesus porém
não lhe está sujeito: Ele toma sobre Si a condenação.
A não violência encontra aqui a sua razão de ser. Mas a escolha de Jesus é
muito mais que a simples não-violência.
A condenação de Jesus continua, e pesa ainda num mundo que continua
hipócrita e perito em condenar justos e santos.
Não basta oferecer a outra face. É preciso reagir com mais amor ao ódio
que temos à nossa volta – e dentro de nós.
1º Leitor
Jesus, dá-nos a força
De aceitar cargas pesadas
Sem nos deixarmos esmagar;
De não odiarmos
De não nos escravizarmos
De não nos vingarmos.
Jesus, que eu não seja
Juiz impiedoso de quem erra.
E quem não erra?
2. SEGUNDA ESTAÇÃO
JESUS TOMA A CRUZ AOS OMBROS
1º Leitor
Dirigindo-Se depois a todos, disse: «Se alguém quer vir após Mim, negue-
se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me» (Lc 9,13)
2º Leitor
Toda a condenação é uma cruz. Dilacera a alma. E o espírito geme, mais
que o corpo. Há condenações que humilham, quando a verdade é
escondida pela hipocrisia de leis complacentes. E Jesus caminhava para o
Calvário.
Qualquer cruz nos condena ao sofrimento, e nós somos condenados por
um mal profundo. Um mal que podemos vencer pegando com Cristo na
cruz. Jesus não nos tirou a cruz: deu-nos, não só o exemplo, mas também
a capacidade de a levar.
1º Leitor
Jesus, tomaste às costas o madeiro
E nele estava eu também,
Estávamos todos.
Levas-nos, não ao túmulo
Mas à ressurreição.
Embora nós sintamos
Ainda o peso da cruz,
Tu estás connosco
e isso basta para prosseguirmos.
3. TERCEIRA ESTAÇÃO
JESUS CAI PELA PRIMEIRA VEZ
1º Leitor
Ele tomou sobre si as nossas doenças, carregou as nossas dores; nós o
considerávamos como um leproso, ferido por Deus e humilhado (Is 53,4)
2º Leitor
Todos caem. Cada um tem o seu limite de resistência. Mas poucos caem
como Jesus: Ele cai sob o peso da cruz, e essa cruz é nossa.
Cai porque quer conhecer todas as humilhações, até a de cair por terra, ao
nível dos homens.
Por vezes, cair não é sinal de fraqueza mas de qualquer coisa que esmaga
e oprime até ao limite do suportável. A terra é também sinal de
humildade. Quem cai – e todos caem – deve fazer-se discípulo.
1º Leitor
A tua queda, Jesus,
Diante de todos,
Perante o riso da multidão
Ou o silêncio dos cobardes
É humildade que desconcerta
O meu orgulho.
Dá-me, ó Cristo,
A graça de Te sentir a meu lado
Quando me vejo por terra.
4. QUARTA ESTAÇÃO
JESUS ENCONTRA A SUA MÃE
1º Leitor
Simeão abençoou-os e disse a Maria, Sua Mãe: « Este menino está aqui
para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de
contradição; uma espada trespassará a tua alma a fim de se revelarem os
pensamentos de muitos corações» ( Lc 2,34-35)
2º Leitor
Dois olhares que se cruzam. Em silêncio, que é o encontro mais autêntico.
Jesus desejou este encontro, e Maria ainda mais que seu Filho. Em toda a
via dolorosa há sempre um encontro de graça.
E a Senhora está presente com o seu olhar silencioso.
Há vias dolorosas nas quais é difícil encontrar uma mãe, e os filhos
agonizam. Jesus deixou uma mãe para que ninguém tenha de se sentir
órfão. Uma mãe de esperança.
1º Leitor
Jesus, Tua mãe fitou-te
E no seu olhar
Estava todo o perdão que pedimos
Pelas nossas ofensas
Pelas nossas recusas.
E com o Teu silêncio, Cristo,
Respondeste prosseguindo o caminho da cruz.
5. QUINTA ESTAÇÃO
JESUS É AJUDADO PELO CIRENEU
1º Leitor
Quando O iam conduzindo, lançaram mão de um certo Simão de Cirene,
que voltava do campo, e carregaram-no com a cruz, para a levar atrás de
Jesus (Lc 23,26)
2º Leitor
Até Jesus quis um instante de alívio, talvez para dar ao homem de Cirene a
alegria do bom samaritano. Só um instante, porque não se deve abusar da
bondade alheia… E Cristo retoma a cruz, para se fazer Ele cireneu e bom
samaritano para sempre, dando-nos mais que o alívio de um instante.
Jesus quer-nos cireneus, atentos e sensíveis, sem fazermos pesar a nossa
caridade. E caridade não é fazermos nós o que é dever dos outros fazer.
Caridade é ensinar cada um a andar pelas suas próprias pernas.
1º Leitor
Também Tu, Jesus,
Te permitiste um momento de pausa
Para poderes chegar à cruz.
Existe em nós a tentação, às vezes,
De nos abandonarmos, de nos deixarmos ir, de pararmos,
De fazermos de cada pausa uma meta.
Jesus, que também eu encontre um cireneu
Para ser cireneu dos outros com mais fé.
6. SEXTA ESTAÇÃO
JESUS ENCONTRA A VERÓNICA
1º Leitor
Cresceu na sua presença como um rebento, como raiz em terra árida, sem
figura nem esplendor que pudesse atrair o nosso olhar, nem formosura
capaz de nos deleitar (Is 53,2)
2º Leitor
Outro encontro, e de profundo diálogo. Entre a exaustão dum Deus de
rosto desfigurado e a bondade dum grande coração de mulher. E Cristo
oferece-lhe o seu rosto, o Seu olhar, e deixa-o na História até ao fim dos
tempos.
O rosto de Cristo é o rosto de todos os homens, e quem mais sofre mais
está presente nele. Um rosto que está na natureza de todos, mesmo dos
que nos são antipáticos ou nos querem mal.
Porque não ver nele o convite de Cristo ao perdão?
1ª Leitor
Jesus, foi-te agradável
O doce lenço
Que Te acariciou o rosto,
E o Teu olhar
Impresso na história de cada homem
É de conforto no caminho que nos resta
Até à ressurreição.
7. SÉTIMA ESTAÇÃO
JESUS CAI PELA SEGUNDA VEZ
1º Leitor
Foi castigado pelos nossos crimes, esmagado pelas nossas iniquidades; o
castigo que nos salva pesou sobre Ele, fomos curados na Suas chagas.
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um seguia o seu
caminho; o Senhor carregou sobre Ele a iniquidade de todos nós (Is 53,5-
6).
2º Leitor
Sim, Jesus volta a cair, porque a estrada da cruz não tem fim, nem tão-
pouco o cansaço.
Não basta um bom cireneu para carregar todo o peso. Cristo quis nossa
cruz, e quer levá-la até à morte. Nem as quedas conseguirão detê-Lo.
As quedas repetem-se, porque o homem é egoísta e não quer saber da
conversão. Haverá sempre uma injustiça que pesa, haverá sempre uma
graça que salva. O importante é olhar em frente, sempre, mesmo quando
se está caído por terra.
1º Leitor
Jesus, voltar a ver-Te caído por terra
É sentir em mim o peso
Deste meu cansaço
Em trabalhar pelo Teu reino.
Cansamo-nos de esperar.
Mas Tu caista para ficares à minha altura
Convidando-me a avançar.
8. OITAVA ESTAÇÃO
JESUS E AS SANTAS MULHERES
1º Leitor
Seguiam-n”O uma grande massa de povo e umas mulheres que se
lamentavam e choravam por Ele. Jesus voltou-se para elas e disse-lhes:
«Filhas de Jerusalém, não choreis por mim. Chorai antes por vós mesmas e
pelos vossos filhos, pois dias virão em que se dirá: “ Felizes as estéreis, os
ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram!”. Hão-de
então dizer aos montes: Caí sobre nós! E às colinas: “Cobri-nos!” Porque
se Tratam assim a madeira verde, o que acontecerá à seca?» (Lc 23, 27-
31).
2º Leitor
Desta vez Cristo quebra o silêncio com uma censura. Não é Ele que deve
ser lamentado, o Seu sofrimento, a Sua solidão. Cristo que sofre é uma
censura à indiferença com que deixamos crucificar a justiça e os direitos
dos povos, limitando-nos a murmurar o nosso desacordo.
Pôr-se em questão em busca da verdadeira identidade do homem é um
dever quotidiano pessoal e colectivo. Uma questão, isto é, que nos faça
ultrapassar esquemas rígidos, vistas curtas, preconceitos ideológicos.
1º Leitor
A tua censura às santas mulheres, ó Cristo
Atinge-nos a todos.
No fundo, agrada-nos viver
De saudades confortáveis
E lágrimas vazias:
Por isso somos terreno tão seco e duro
À semente da Tua palavra, Jesus
9. NONA ESTAÇÃO
JESUS CAI PELA TERCEIRA VEZ
1º Leitor
Salvai-me, ó Deus, porque as águas quase me submergem.
Estou-me afundando no abismo profundo, onde não há ponto de apoio;
entrei no abismo de águas profundas e já as vagas me cobrem. Estou
exausto de tanto gritar, enrouqueceu a minha garganta, cansaram-se os
meus olhos à espera do meu Deus (SI 69, 2-4).
2º Leitor
Jesus cai mais vezes? Ser-nos-á sempre impossível sabê-lo. Mas também
pouco importa.
Jesus caiu, e volta a cair porque a nossa obstinação é grande. E levanta-Se
pela terceira vez porque o amor não se detém perante nenhum obstáculo,
nenhum cansaço.
Cada via dolorosa é uma estrada de incontáveis quedas.
A esperança incita-nos a prosseguir, mesmo quando o sol desaparece.
1ºLeitor
Não é tanto a Tua queda, ó Cristo,
Que fere o meu sentir humano
Quanto a minha imobilidade
Perante a queda silenciosa de espíritos desalentados,
De almas exaustas.
E Tu, Jesus, voltas a erguer-Te
E contigo a minha esperança
de recomeçar outra vez.
10. DÉCIMA ESTAÇÃO
JESUS É DESPOJADO DAS SUAS VESTES
1º Leitor
Foi maltratado e resignou-se. Não abriu a boca, como cordeiro levado ao
matadouro, como ovelha emudecida nas mãos do tosquiador (Is 53,7).
2ª Leitor
O condenado não tem direito a nada. A própria vida já não lhe pertence.
De que serve agora uma peça de roupa? A cruz não suporta o supérfluo.
Quer tudo. Qualquer humilhação cabe nesta lógica do dom total.
Começamos a ser realmente pobres quando libertamos do supérfluo o
coração e as mãos. Claro que as humilhações não deixarão nunca de nos
ferir.
1º Leitor
Jesus, sem vestes
Sem formalidades
Sem estruturas
Assim no fundo me atrais,
abraçando a cruz
pobre em tudo
rico apenas de amor universal.
Amar-Te assim na Tua dádiva total
Sem sombras
É a graça que quero.
11. DÉCIMA PRIMEIRA ESTAÇÃO
JESUS É PREGADO NA CRUZ
1º Leitor
Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-no a Ele e aos
malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: « Perdoa-lhes, ó
Pai, porque não sabem o que fazem». Depois deitaram sortes para
dividirem entre si as Suas vestes (Lc 23, 33-34).
2º Leitor
Bastam três ou quatro pregos e Jesus fica imobilizado, preso a duas traves
de madeira.
Mas o amor não se prende. Da cruz descem palavras de paz, de perdão,
abalando profundamente o homem, e infinitos raios de graça divina
iluminando os corações. Esse é o crucifixo eterno.
Ser totalmente pobre: estar nu sobre uma cruz e ter no coração infinita
capacidade de paz e de perdão. Ainda hoje há demasiadas cruzes de ouro
em que nenhum coração palpita.
1º Leitor
Jesus, és ainda hoje o Crucificado.
E eu estou aqui a contemplar-Te
Vendo o Teu coração bater por mim também,
Ouvindo-Te dizer: « Vê como te amo!
E tu?»…
E eu, ó Crucificado,
Eu contemplo-Te e rezo: « Perdoa-me!».
12. DÁCIMA SEGUNDA ESTAÇÃO
JESUS MORRE NA CRUZ
1º Leitor
Por volta da hora sexta as trevas cobriram toda a terra, até à hora nona,
por o Sol se ter Eclipsado.
O véu do Templo rasgou-se ao meio, e Jesus exclamou, dando um grande
grito: « Pai, nas Tuas mãos entrego o meu espírito». Dito isto, expirou ( Lc
23, 44-46).
2º Leitor
A morte é uma cruz que sangra. É o mistério. O medo que tudo seja um
engano. Até os espíritos eleitos sentem esse medo, e só uma grande fé
leva à esperança.
Também Jesus morre, e quem poderia imaginar um Deus que morresse?
É preciso fé, muita fé, para ter esperança num amanhã melhor, e a morte
afasta-se. Mas por pouco.
A cruz é Jesus Cristo morto para ressuscitar. A cruz, qualquer cruz, é
iluminada por essa glória divina.
1º Leitor
Na Tua morte, ó Crucificado,
Há já toda uma nova humanidade
Que está para nascer.
E do peito trespassado sai a Tua Igreja,
mãe de todos os vivos.
O amor terá sempre a última palavra
Ainda que todo o ódio deste pobre mundo
Crucifique milhões de seres humanos.
Tu, ó Cristo, garantes-nos a vida.
13. DÉCIMA TERCEIRA ESTAÇÃO
JESUS É DESCIDO DA CRUZ
1º Leitor
Depois disto, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, ainda que
ocultamente por medo dos judeus, pediu a Pilatos para levar o corpo de
Jesus. Pilatos permitiu-lho. Veio, pois, e tirou o corpo (Jo 19,38).
2º Leitor
Jesus é despregado da cruz. Sim, duma trave de madeira. E só dessa trave
de madeira, porque toda a cruz se torna de hoje em diante uma cruz de
salvação e ninguém poderá separá-la de Cristo. Cristo não se deixa apartar
do nosso sofrimento.
Por muito duro que seja tomar a cruz e aceitá-la, é consolador saber que
ela é parte da cruz de Cristo. Nenhuma cruz está separada da cruz de
Cristo, e por isso todo o sofrimento é redentor.
1º Leitor
Ó Crucificado,
Tu não inventaste nenhuma cruz
E pensá-lo é desalento e dúvida.
Entenda-se, porém:
Tu inventaste a cruz da salvação
Da qual nasce toda a força,
Toda a capacidade de suportar as cruzes humanas.
14. DÉCIMA QUARTA ESTAÇÃO
JESUS É COLOCADO NO SEPULCRO
1º Leitor
Respondeu-lhes Ele: « Chegou a hora de ser glorificado o Filho do Homem.
Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindona terra, não
morrer, fica ele só; mas se morrer dá muito fruto» ( Jo 12, 23-24).
2º Leitor
Como qualquer homem que morre, assim Cristo deposto num sepulcro.
Também a semente precisa de ser lançada à terra para renascer e dar
fruto. Tal como o meu sofrimento. Um pouco derrota. De morte. E depois
a Primavera. Um novo dia despontará sobre tantos hojes que parecem de
morte.
Há sempre um amanhã para tudo. Até para tanto sofrimento e tanta
injustiça que oprimem este mundo de forma asfixiante. Ninguém poderá
aniquilar o Espírito de vida e de liberdade.
1º Leitor
Ó Jesus.
Tu sabes como somos fracos
E prontos a desesperar de tudo.
Mas o dia de hoje é já Teu,
E o de amanhã ainda mais.
É preciso acreditar num Deus vivo
E tudo, mas tudo,
Cedo ou tarde ressuscitará,
Mesmo o meu sofrimento de hoje.
Eu creio, ó Cristo!