Este trabalho visa tipificar, explicar e entender um dos caminhos escolhido pelo Movimento de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais – a Parada do Orgulho LGBT -, para gerar visibilidade a suas demandas, cultura e reivindicações por direitos civis. A partir da análise do traço político-estratégico do Movimento LGBT, que perpassa pela espetacularização de sua cultura, o trabalho conseguirá entender os motivos dessa escolha e sugerir novos formatos.
2. RESUMO
Este trabalho visa tipificar, explicar e entender um dos caminhos
escolhido pelo Movimento de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
transexuais – a Parada do Orgulho LGBT -, para gerar visibilidade a
suas demandas, cultura e reivindicações por direitos civis. A partir da
análise do traço político-estratégico do Movimento LGBT, que
perpassa pela espetacularização de sua cultura, o trabalho conseguirá
entender os motivos dessa escolha e sugerir novos formatos.
Palavras-chave: cultura; LGBT; visibilidade; política; mídia.
4. Liquidez e hipermodernidade
• Questionamento
das instituições
rígidas;
• Liquidez como
meio de
imprevisibilidade
e transformação;
• Individualismo,
hedonismo e
exacerbação do eu.
5. Mídia
Quando as pessoas aprendem a perceber o modo como a
cultura da mídia transmite representações opressivas de
classe, raça, sexo, sexualidade, etc. capazes de influenciar
pensamentos e comportamentos, são capazes de manter
uma distância crítica em relação às obras da cultura da
mídia e assim adquirir poder sobre a cultura em que
vivem. Tal aquisição de poder pode ajudar a promover um
questionamento mais geral da organização da sociedade e
ajudar a induzir os indivíduos a participarem de
movimentos políticos radicais que lutem pela
transformação social.
KELLNER, 2001, p. 83.
6.
7. FAN PAGE RIO SEM HOMOFOBIA
Sugiro que entendamos os grandes
eventos como mídia, principalmente
porque eles conseguem representar e
comunicar culturas, além de viabilizar
uma conectividade entre seus
participantes e propiciar uma
transformação de corações e mentes.
8. Evento-mídia
Entendemos esses eventos como mídia por exporem os
cosmopolitismos, as culturas nacionais e as culturas
locais, propondo traduções interculturais a cada dado.
(...) Esse quadro é especialmente importante para o
campo das relações públicas devido ao novo conjunto
de dados e de ações a serem pensados nas organizações
e nos poderes públicos quanto ao diálogo entre
cidadania e espetáculo.
FREITAS, 2011, p.
2.
9. Mas por que uma Parada?
É carnaval fora de época!
Os gays vão só pra fazer
pegação!
Orgia a céu aberto!
Ninguém vai pra reivindicar
direitos. É uma zona!
Deus me livre, me misturar
com aquele povo pobre!
Não me sinto representado!
É rave de drogado, com um
bando de promíscuos.
10. Mas por que uma Parada?
O ganho maior é a visibilidade. Não se consegue
ignorar uma manifestação pacífica de três milhões de
humanos no planeta. Então, essa foi a coisa que mais
chamou a atenção e as pessoas percebem. E isso é uma
coisa curiosa: nós checamos sempre como está isso ao
redor do mundo e nós encontramos, no ano passado
[2007] e retrasado [2006], questões de homofobia
levadas para a mídia na China e no Japão. Em lugares
que nem se falava a palavra, de repente, ela surge. As
pessoas já começam se questionar, se tornando um
ganho para nós; o que é o principal: as pessoas ao redor
do mundo estão ouvindo falar de homofobia e do que
se trata isso.
SARNO, 2008, p.
4.
11. [...] a instalação de uma outra dimensão do popular, a da expressividade do tumulto feito
de gargalhada e descontração, assovios e ruídos obscenos, grosserias por meios das quais
as pessoas liberam, misturadas, a rebeldia política e a energia erótica. (...) Para além do
peso específico que essas “expressões” do popular podem assumir em cada situação
nacional, o decisivo é o assinalamento do sentido que elas adquirem: são as massas
tornando-se socialmente visíveis, configurando sua fome de ascensão a uma visibilidade
que lhes confira um espaço social.
MARTIN-BARBERO, 2009, p.269.
12. A possibilidade do invisível
Em outras palavras: pergunto se o
homossexual não pode e deve ser
mais astucioso? Se formas sutis de
militância não são mais rentáveis do
que as formas agressivas? Se a
subversão através do anonimato
corajoso das subjetividades em jogo,
processo mais lento de
conscientização, não condiciona
melhor o futuro diálogo entre
heterossexuais e homossexuais, do
que o afrontamento aberto por parte
de um grupo que se automarginaliza,
processo dado pela cultura norte-americana
como mais rápido e
eficiente?
SANTIAGO, 2004, p. 201.
A desaparição seria, então, uma outra
maneira de viver, de se reinventar e
de pertencer. A desaparição está
sempre em constante tensão com a
visibilidade, nos seus vários sentidos,
seja político, cultural, comercial ou
existencial. (...) Trata-se de buscar
menos confronto e mais sutileza
diante do crescente uso conservador
das políticas de representação por
movimentos religiosos e étnicos
fundamentalistas, uma estratégia que
privilegie e amplie o necessário
diálogo com outros sujeitos na esfera
pública. Onde é esperado um
confronto, uma luta, mudar de
posição. Onde é esperado o grito,
baixar a voz.
LOPES, 2007, s.p.
13. Considerações finais
• Não considero que haja um esvaziamento político das Paradas do Orgulho
LGBT. É uma forma peculiar de reivindicação de direitos, com uma estética
própria e irreverente;
• O evento-mídia gera a visibilidade pretendida e faz emergir os conflitos
sociais sobre o tema, pois questiona representações tácitas e naturalizadas
que ratificam ideologias opressivas de classe, raça, sexo e
(homo)sexualidades;
• A invisibilidade, como propõem Lopes e Santiago, em tempos
hipermodernos propostos por Lipovetsky e líquidos, por Bauman, seria um
contrassenso e/ou um sepultamento de todo esforço perpetrado por anos de
luta e ativismo do Movimento LGBT, que já delineou e construiu uma forma
peculiar e estética de se fazer política.
• A época de afirmação pela quantidade já passou e agora a Parada do
Orgulho LGBT necessita de uma “qualificação”, além de uma maior
sensibilização com demandas mais específicas do grupo, como as (os) das
(dos) transexuais, e a aproximação do Movimento LGBT com outras
bandeiras e demandas da contemporaneidade;