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O Princípio Dia Ano




Por Jean Zurcher (RA, maio, 1981)

Recentemente tive em Jerusalém o privilégio de visitar as escavações que estão sendo
levadas a cabo no canto sudoeste do muro da esplanada do templo, um pouco abaixo
do Muro das Lamentações. Uma vez que o sítio não está aberto ao público, tive de
conseguir uma autorização especial. O guia que me acompanhou havia tomado parte
nas escavações. Como cada pedra lhe era familiar, suas explicações foram fascinantes.

Usando as pedras que estavam ainda em posição e as que estavam espalhadas ao
redor, meu guia procurou ajudar-me a visualizar a vasta escadaria e a ponte de acesso
que levava â entrada principal das cortes do templo. O começo da arcada pode ainda
ser visto no muro. No terreno abaixo os arqueólogos puseram a descoberto os
fundamentos, vários degraus que ainda estão intactos, e a massa de pedras talhadas
que ajudaram a fazer este imponente edifício. Destes artefatos eles, os arqueólogos,
conseguiram reproduzir a planta exata que mostra a grandeza e beleza desta entrada
monumental.

Foi provavelmente quando saíram por esta porta do templo que os discípulos (S. Mat.
24:1) chamaram a atenção de Jesus para as "grandes construções" (S. Mar. 13:2) e as "
belas pedras" (S. Luc. 21:5) de que era composto. Não tive dificuldade em figurar a
cena ao observar aquelas enormes pedras brancas e o remanescente das duas
magníficas colunas de mármore rosa que primitivamente decoravam a entrada
principal que levava ao templo.

Contemplando aquelas pedras reviradas, perguntei ao meu guia: "Como puderam
levar a cabo esta destruição?

Que tarefa titânica deve ter sido mover todas essas pedras, cada uma delas pesando
dezenas de toneladas!"

"Absolutamente", respondeu o arqueólogo. "Nada poderia ter sido mais simples.
Encontramos o segredo nas próprias pedras. Tudo que tinha de ser feito era aquecer a
pedra angular até que ficasse embranquecida de quente, de modo que ela finalmente
se partia e caía. Então toda a estrutura vinha abaixo. Onde quer que tenham
encontrado uma pedra angular, os soldados romanos usaram a mesma técnica."

Assim é que a profecia de Jesus sobre o templo foi cumprida ao pé da letra: "Em
verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra, que não seja derrubada." S.
Mat. 24:2.
Em minha opinião a pedra angular, por assim dizer, de nossa interpretação das
profecias de tempo de Daniel e Apocalipse é o princípio do dia-ano. Se este princípio é
destruído, o maravilhoso edifício das verdades tipicamente adventistas entra em
colapso. A doutrina do santuário, o juízo investigativo, o papel e ensinos de Ellen
White, a origem e crescimento da igrej a adventista — em resumo, nossa raison d'être,
passa a ser questionada.

Há muito que os críticos têm reconhecido isto. Em seu livro Another Look at Seventh-
day Adventists, N. F. Douty escreveu: "Todavia os adventistas do sétimo dia, que se
dizem divinamente chamados para esta obra de finalização, têm esta mesma teoria
como sua pedra angular, de modo que descartá-la seria destruírem-se a si mesmos"
(Grand Rapids, 1962, pág. 95). Ele atacou vigorosamente o que chamou de "falaz teoria
do dia-ano" (pág. 102).

Seja qual for a importância do papel do princípio do dia-ano em nosso sistema de
interpretação, deve-se esclarecer que não foram os pioneiros do movimento do
advento que inventaram o método dia-ano para a exegese de profecias cronológicas
apocalípticas. Antes, eles herdaram a tradição que remonta a mais de mil anos, aos
primeiros séculos de nossa era.

Pensa-se geralmente que o princípio do dia-ano foi aplicado pelos Pais da Igreja na
interpretação das 70 semanas de Daniel, do fim do segundo século em diante. Temos
toda razão para crer que, em vez disto, eles seguiram a tradição judaica do dia-ano,
como se poderá ver no próximo artigo desta série. Seja como for, pelo menos 14
autores judeus são conhecidos como tendo aplicado o princípio do dia-ano ao período
das duas mil e trezentas tardes e manhãs. (Ver A. Vaucher, Lacunziana, vol. 1, págs. 54-
56.)

Muitos teólogos católicos da Idade Média e dos tempos modernos admitiram também
o princípio do dia-ano sem dúvida, bem assim um grande número de exegetas
protestantes desde a Reforma até o presente. Em The Prophétie Faith of Our Fathers,
LeRoy E. Froom menciona aproximadamente 200 autores que empregaram o princípio
do dia-ano em sua interpretação das profecias de tempo de Daniel e Apocalipse. Não
há dúvida de que nos encontramos em boa companhia.

Não obstante, a precisão de um princípio, para dizer a verdade, não depende do
número de seus oponentes. Ellen White expressou bem este ponto: " O fato de que
certas doutrinas têm sido tidas como verdade por muitos anos pelo nosso povo não é
prova de que nossas idéias sejam infalíveis. O tempo não transforma o erro em
verdade." — Counsels to Writers and Editors, pág. 35. É por isto que os adventistas
jamais tentaram justificar o princípio do dia-ano pela tradição, por mais antiga que
esta possa ser. Corretamente desde o princípio, nossos pioneiros procuraram
fundamentá-lo em base bíblica. Hoje nosso crescente conhecimento ajuda-nos a
consolidá-lo ainda mais.

Segundo os oponentes do princípio do dia-ano, uma das principais objeções é que ele
se firme em dois textos apenas do VT, isto é, Núm. 14: 34 e Eze. 4:6. Prontamente eles
salientam também que nesses textos o princípio é aplicado de modos opostos. No
primeiro exemplo, é uma questão de um ano por um dia, enquanto que no segundo
texto temos o princípio reverso, isto é, um dia por um ano.

Válidas como possam ser estas observações, elas não atendem à realidade. Há mais
exemplos bíblicos de métodos similares de cálculo do que geralmente se pensa. E nem
estão eles limitados à linguagem profética. Encontramos evidencia disto em Gên.
29:27. Este verso contém um interessante conceito. "Decorrida a semana desta, dar-
te-emos também a outra, pelo trabalho de mais sete anos que ainda me servirás."

Talvez nesta conexão devamos considerar também a interpretação do sonho de faraó
por José (Gên. 41:25-30). Admitido sem nenhuma dúvida, os sete anos de fartura e os
sete anos de fome não permanecem em relação a dias ou semanas. Todavia, a mesma
forma de relacionamento existe entre as sete vacas, as sete espigas, e os sete anos.
Cada símbolo separadamente representa um ano.

Um Princípio Bíblico

Embora o princípio do dia-ano não seja afirmado de modo explícito, os vários
exemplos citados mostram que um princípio de cálculo foi empregado desde o período
patriarcal até pelo menos o tempo do exílio, que estabeleceu uma relação de dia-ano,
ano-dia, ou mesmo de semana-ano. Há contudo outras relações baseadas neste
mesmo princípio. Isto torna perfeitamente correto afirmar que há um princípio bíblico
de acordo com o qual '' um dia na profecia vale por um ano " (O Grande Conflito, pág.
323; O Desejado de Todas as Nações, págs. 168 e 169; Profetas e Reis, pág. 698).

O mesmo ponto de vista foi adotado pelos autores das afirmações referidas pela
Comissão de Revisão do Assunto do Santuário: "A relação dia-ano pode ser
biblicamente sustentada, embora não seja explicitamente identificável como princípio
de interpretação profética. ... E mais, o VT provê ilustrações do dia-ano
intercambiavelmente em simbolismos (Gên. 29:27; Núm. 14:34; Eze. 4:6; Dan. 9:24-
27)." — Adventist Review, 4 de setembro de 1980, pág. 14; Ministry, outubro de 1980,
pág. 18.

Somos deixados então com a principal objeção: "Mesmo que pudéssemos provar que
o princípio do dia-ano é um elemento bíblico válido, não há base para aplicar o
princípio em Dan. 8:14 ou 9:24." À primeira vista, isto parece um argumento bem
fundamentado. Todavia, a própria exegese de Dan. 9:24-27 e também Dan. 8:14 e 25
revela, de uma forma ou de outra, no texto ou no contexto, este bem conhecido
princípio bíblico de cálculo. Assim, a interpretação histórica das profecias de tempo de
Daniel e Apocalipse que são a base do movimento do advento, serão vistas como
confirmadas.

Aos que pesquisam as Escrituras, sob a guia do Espírito Santo, as palavras de Jesus
ainda constituem abundantes promessas: 4 'Por isso todo escriba versado no reino dos
Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu depósito coisas novas e coisas
velhas." S. Mat. 13:52.

Os períodos proféticos que se encontram em Daniel e Apocalipse nos são dados em
números simbólicos, representando cada um anos literais. Todavia, não creio que o
princípio do dia-ano seja um imperativo absoluto no cálculo de cada um desses
períodos proféticos. Daniel 9 apresenta dois exemplos de particular interesse: a
profecia dos 70 anos de Jeremias e as 70 semanas proféticas de Daniel.

Ao referir-se à profecia de Jeremias, Daniel toma o cuidado de fazer notar: "Eu, Daniel,
entendi pelos livros, que o número de anos, de que falara o Senhor ao profeta
Jeremias, em que haviam de durar as assolações de Jerusalém, era de setenta anos."
Dan. 9:2. Provavelmente Daniel estava aludindo aos rolos em que Jeremias registrou
suas profecias. Em pelo menos duas ocasiões o profeta proclamou a profecia do exílio
de 70 anos — primeiro perante todo o povo de Jerusalém (Jer. 25:11), e mais tarde aos
cativos em Babilônia (cap. 29: 10). Pode ser também que esta profecia tenha sido
escrita "no livro dos reis de Israel e de Judá" a que se refere muitas vezes o autor de
Crônicas (II Crôn. 35:27; 36:8).

E mais, o segundo livro de Crônicas termina precisamente com um comentário dos
acontecimentos preditos por Jeremias. Nessa oportunidade, a profecia do exílio de 70
anos é repetida pela terceira vez, juntamente com minudências outras da maior
importância para o nosso estudo. O relato afirma que essas coisas aconteceram "para
que se cumprisse a palavra do Senhor, por boca de Jeremias, até que a terra se
agradasse dos seus sábados; todos os dias da desolação repousou, até que os setenta
anos se cumpriram" (cap. 36:21).

Em outras palavras, a destruição e desolação que caíram sobre o país, como preditas
por Jeremias (Jer. 25: 11 e 29:10), são aqui consideradas como conseqüência da
infidelidade de Israel e uma aplicação das maldições pronunciadas por Moisés (Lev. 26:
14-45). E mais certo ainda que a referência aqui é ao que está indicado em Lev. 26:34:
"Então a terra folgará nos seus sábados, todos os dias da sua assolação." Visto que "os
estatutos, juízos e leis que deu o Senhor entre Si e os filhos de Israel, no monte Sinai,
pela mão de Moisés" (verso 46), não tinham sido observados, o Senhor executou o
juízo repetido quatro vezes no mesmo capítulo: "Tornarei a castigar-vos sete vezes
mais por causa dos vossos pecados." "Então a terra folgará nos seus sábados" (versos
18, 34; comp. versos 21, 28 e 43).

A que sábados é feita referência aqui? Aqueles durante os quais Israel devia deixar a
terra em repouso, em harmonia com as instruções do Senhor referentes aos anos
sabáticos e do jubileu (Êxo. 23:10 e 11; Lev. 25:1-17). Daí vemos que o período de 70
anos da profecia de Jeremias é resultado de um cálculo similar ao de Eze. 4: 4-6.
Todavia, em vez de ser baseado em um dia por um ano, a contagem é feita na base de
um ano de exílio para cada ano sabático durante o qual a terra esteve privada de seu
repouso. Em outras palavras, se cada um dos 70 anos de exílio representa um ano
sabático, deve ter havido 490 anos de rebelião durante os quais os filhos de Israel
deixaram de observar as leis e estatutos de Deus.

E interessante notar que a similitude entre essas duas profecias não está restrita
apenas ao método de cálculo. Ambas têm suas raízes na infidelidade de Israel e
cobrem o mesmo período de sua história. O profeta Ezequiel recebeu a incumbência
de ilustrar de maneira simbólica os 430 anos de infidelidade da parte dos filhos de
Israel sob a monarquia, desde Saul até Zedequias (Eze. 4:5 e 6). A Jeremias ordena-se
que anuncie 70 anos de exílio pelos 490 anos da rebelião de Israel, desde o tempo de
Samuel até a queda de Jerusalém. Daniel alude precisamente-a este período na
história de Israel em sua oração intercessória: "Não demos ouvidos aos Teus servos, os
profetas, que em Teu nome falaram aos nossos reis, nossos príncipes, e nossos pais,
como também a todo o povo da terra.'' Dan. 9:6.

Obviamente, o princípio do dia-ano não pode ser aplicado à profecia dos 70 anos de
Jeremias. Contudo, conforme temos visto, isto não significa que a chave bíblica para a
interpretação não se aplique a esta profecia. Ao contrário, os 70 anos de exílio vêm a
ser o resultado de um cálculo esboçado no próprio texto profético. O mesmo é
verdade em relação à profecia das 70 semanas de Daniel (versos 24-27).

Cálculo das 70 Semanas

Não será certamente por mera coincidência que os 70 anos da profecia de Jeremias
são mencionados no mesmo capítulo que as 70 semanas de Daniel. Os dois períodos
estão vinculados por causa e efeito. Daniel orou em relação à profecia de Jeremias, e o
anjo Gabriel veio imediatamente para o seu lado em resposta a sua petição.

Não é preciso dizer que Daniel conhecia as profundas razões por trás da tragédia de
Israel. Ele as admitiu constantemente em sua oração intercessória, ao confessar os
pecados do seu povo. Como o autor do livro de Crônicas, Daniel provavelmente
conhecia também os outros aspectos da profecia de Jeremias que apresentavam os 70
anos de exílio como resultado dos sábados durante os quais a terra tinha sido privada
de seu repouso. Suas alusões às maldições pronunciadas por Moisés recuam ao
mesmo texto de Levítico 26 (Dan. 9:10-13).

Todavia Daniel tinha o conhecimento do Deus de Israel, que é longanimo, tardio em
ira, e rico em misericórdia. Daí haver ele pleiteado o perdão e suplicado: "Sobre o Teu
santuário assolado faze resplandecer o Teu rosto" (verso 17), ainda mais que os 70
anos da profecia de Jeremias estavam chegando ao fim. "O Senhor, ouve; ó Senhor,
perdoa; ó Senhor, atende-nos ... ó Deus meu ... pelo Teu nome" (verso 19).

Daniel estava ainda falando quando Gabriel subitamente apareceu em resposta a sua
oração, à hora do sacrifício da tarde (versos 20 e 21). Em seguida aos 70 anos de exílio,
resultado das transgressões de Israel, o Senhor proclama agora, pela boca de Gabriel,
70 semanas de graça, finda as quais viria o cumprimento da esperança do povo de
Deus. "Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa
cidade para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a
iniqüidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia, e para ungir o
Santo dos Santos" (verso 24).

A interpretação das 70 semanas depende do significado atribuído a "semanas" a que
se faz referência aqui. No original hebraico, a palavra shabüa designa um grupo de
sete, a que chamaremos heptad ou hebdô-made, segundo o correspondente vocábulo
grego. Os judeus contavam o hebdômade em três maneiras: (1) como uma semana,
formada de sete dias; (2) como ano sabático, formado de sete anos (Lev. 25:1-7); e
finalmente (3) como o ano do jubileu, formado de sete vezes sete anos sabáticos —
isto é, 49 anos (verso 8).

Assim a palavra shabüa — semana — usada aqui e em outros lugares, pode designar
um período de sete dias, de sete anos, ou 49 anos, dependendo de se estar tratando
de semana, do ano sabático, ou do ano do jubileu. O significado só pode ser
determinado pelo contexto. Em Dan. 10:2, por exemplo, lemos sobre um jejum de três
semanas. Claramente, isto significa 21 dias, mas que dizer das 70 semanas de Dan.
9:24?

Tanto no texto como no contexto tudo se refere à mensagem dos anos sabáticos e
jubileu. A tradição judaica, os talmudistas, o autor do Seder-Olam, e os interpretadores
judeus em geral têm estimado que as semanas da profecia de Daniel só podem ser
semanas de anos. Há evidências de que os Pais da Igreja usaram a mesma base para
interpretar as 70 semanas.

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00 prefácio
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O princípio dia ano

  • 1. O Princípio Dia Ano Por Jean Zurcher (RA, maio, 1981) Recentemente tive em Jerusalém o privilégio de visitar as escavações que estão sendo levadas a cabo no canto sudoeste do muro da esplanada do templo, um pouco abaixo do Muro das Lamentações. Uma vez que o sítio não está aberto ao público, tive de conseguir uma autorização especial. O guia que me acompanhou havia tomado parte nas escavações. Como cada pedra lhe era familiar, suas explicações foram fascinantes. Usando as pedras que estavam ainda em posição e as que estavam espalhadas ao redor, meu guia procurou ajudar-me a visualizar a vasta escadaria e a ponte de acesso que levava â entrada principal das cortes do templo. O começo da arcada pode ainda ser visto no muro. No terreno abaixo os arqueólogos puseram a descoberto os fundamentos, vários degraus que ainda estão intactos, e a massa de pedras talhadas que ajudaram a fazer este imponente edifício. Destes artefatos eles, os arqueólogos, conseguiram reproduzir a planta exata que mostra a grandeza e beleza desta entrada monumental. Foi provavelmente quando saíram por esta porta do templo que os discípulos (S. Mat. 24:1) chamaram a atenção de Jesus para as "grandes construções" (S. Mar. 13:2) e as " belas pedras" (S. Luc. 21:5) de que era composto. Não tive dificuldade em figurar a cena ao observar aquelas enormes pedras brancas e o remanescente das duas magníficas colunas de mármore rosa que primitivamente decoravam a entrada principal que levava ao templo. Contemplando aquelas pedras reviradas, perguntei ao meu guia: "Como puderam levar a cabo esta destruição? Que tarefa titânica deve ter sido mover todas essas pedras, cada uma delas pesando dezenas de toneladas!" "Absolutamente", respondeu o arqueólogo. "Nada poderia ter sido mais simples. Encontramos o segredo nas próprias pedras. Tudo que tinha de ser feito era aquecer a pedra angular até que ficasse embranquecida de quente, de modo que ela finalmente se partia e caía. Então toda a estrutura vinha abaixo. Onde quer que tenham encontrado uma pedra angular, os soldados romanos usaram a mesma técnica." Assim é que a profecia de Jesus sobre o templo foi cumprida ao pé da letra: "Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra, que não seja derrubada." S. Mat. 24:2.
  • 2. Em minha opinião a pedra angular, por assim dizer, de nossa interpretação das profecias de tempo de Daniel e Apocalipse é o princípio do dia-ano. Se este princípio é destruído, o maravilhoso edifício das verdades tipicamente adventistas entra em colapso. A doutrina do santuário, o juízo investigativo, o papel e ensinos de Ellen White, a origem e crescimento da igrej a adventista — em resumo, nossa raison d'être, passa a ser questionada. Há muito que os críticos têm reconhecido isto. Em seu livro Another Look at Seventh- day Adventists, N. F. Douty escreveu: "Todavia os adventistas do sétimo dia, que se dizem divinamente chamados para esta obra de finalização, têm esta mesma teoria como sua pedra angular, de modo que descartá-la seria destruírem-se a si mesmos" (Grand Rapids, 1962, pág. 95). Ele atacou vigorosamente o que chamou de "falaz teoria do dia-ano" (pág. 102). Seja qual for a importância do papel do princípio do dia-ano em nosso sistema de interpretação, deve-se esclarecer que não foram os pioneiros do movimento do advento que inventaram o método dia-ano para a exegese de profecias cronológicas apocalípticas. Antes, eles herdaram a tradição que remonta a mais de mil anos, aos primeiros séculos de nossa era. Pensa-se geralmente que o princípio do dia-ano foi aplicado pelos Pais da Igreja na interpretação das 70 semanas de Daniel, do fim do segundo século em diante. Temos toda razão para crer que, em vez disto, eles seguiram a tradição judaica do dia-ano, como se poderá ver no próximo artigo desta série. Seja como for, pelo menos 14 autores judeus são conhecidos como tendo aplicado o princípio do dia-ano ao período das duas mil e trezentas tardes e manhãs. (Ver A. Vaucher, Lacunziana, vol. 1, págs. 54- 56.) Muitos teólogos católicos da Idade Média e dos tempos modernos admitiram também o princípio do dia-ano sem dúvida, bem assim um grande número de exegetas protestantes desde a Reforma até o presente. Em The Prophétie Faith of Our Fathers, LeRoy E. Froom menciona aproximadamente 200 autores que empregaram o princípio do dia-ano em sua interpretação das profecias de tempo de Daniel e Apocalipse. Não há dúvida de que nos encontramos em boa companhia. Não obstante, a precisão de um princípio, para dizer a verdade, não depende do número de seus oponentes. Ellen White expressou bem este ponto: " O fato de que certas doutrinas têm sido tidas como verdade por muitos anos pelo nosso povo não é prova de que nossas idéias sejam infalíveis. O tempo não transforma o erro em verdade." — Counsels to Writers and Editors, pág. 35. É por isto que os adventistas jamais tentaram justificar o princípio do dia-ano pela tradição, por mais antiga que esta possa ser. Corretamente desde o princípio, nossos pioneiros procuraram fundamentá-lo em base bíblica. Hoje nosso crescente conhecimento ajuda-nos a consolidá-lo ainda mais. Segundo os oponentes do princípio do dia-ano, uma das principais objeções é que ele se firme em dois textos apenas do VT, isto é, Núm. 14: 34 e Eze. 4:6. Prontamente eles salientam também que nesses textos o princípio é aplicado de modos opostos. No
  • 3. primeiro exemplo, é uma questão de um ano por um dia, enquanto que no segundo texto temos o princípio reverso, isto é, um dia por um ano. Válidas como possam ser estas observações, elas não atendem à realidade. Há mais exemplos bíblicos de métodos similares de cálculo do que geralmente se pensa. E nem estão eles limitados à linguagem profética. Encontramos evidencia disto em Gên. 29:27. Este verso contém um interessante conceito. "Decorrida a semana desta, dar- te-emos também a outra, pelo trabalho de mais sete anos que ainda me servirás." Talvez nesta conexão devamos considerar também a interpretação do sonho de faraó por José (Gên. 41:25-30). Admitido sem nenhuma dúvida, os sete anos de fartura e os sete anos de fome não permanecem em relação a dias ou semanas. Todavia, a mesma forma de relacionamento existe entre as sete vacas, as sete espigas, e os sete anos. Cada símbolo separadamente representa um ano. Um Princípio Bíblico Embora o princípio do dia-ano não seja afirmado de modo explícito, os vários exemplos citados mostram que um princípio de cálculo foi empregado desde o período patriarcal até pelo menos o tempo do exílio, que estabeleceu uma relação de dia-ano, ano-dia, ou mesmo de semana-ano. Há contudo outras relações baseadas neste mesmo princípio. Isto torna perfeitamente correto afirmar que há um princípio bíblico de acordo com o qual '' um dia na profecia vale por um ano " (O Grande Conflito, pág. 323; O Desejado de Todas as Nações, págs. 168 e 169; Profetas e Reis, pág. 698). O mesmo ponto de vista foi adotado pelos autores das afirmações referidas pela Comissão de Revisão do Assunto do Santuário: "A relação dia-ano pode ser biblicamente sustentada, embora não seja explicitamente identificável como princípio de interpretação profética. ... E mais, o VT provê ilustrações do dia-ano intercambiavelmente em simbolismos (Gên. 29:27; Núm. 14:34; Eze. 4:6; Dan. 9:24- 27)." — Adventist Review, 4 de setembro de 1980, pág. 14; Ministry, outubro de 1980, pág. 18. Somos deixados então com a principal objeção: "Mesmo que pudéssemos provar que o princípio do dia-ano é um elemento bíblico válido, não há base para aplicar o princípio em Dan. 8:14 ou 9:24." À primeira vista, isto parece um argumento bem fundamentado. Todavia, a própria exegese de Dan. 9:24-27 e também Dan. 8:14 e 25 revela, de uma forma ou de outra, no texto ou no contexto, este bem conhecido princípio bíblico de cálculo. Assim, a interpretação histórica das profecias de tempo de Daniel e Apocalipse que são a base do movimento do advento, serão vistas como confirmadas. Aos que pesquisam as Escrituras, sob a guia do Espírito Santo, as palavras de Jesus ainda constituem abundantes promessas: 4 'Por isso todo escriba versado no reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu depósito coisas novas e coisas velhas." S. Mat. 13:52. Os períodos proféticos que se encontram em Daniel e Apocalipse nos são dados em números simbólicos, representando cada um anos literais. Todavia, não creio que o princípio do dia-ano seja um imperativo absoluto no cálculo de cada um desses
  • 4. períodos proféticos. Daniel 9 apresenta dois exemplos de particular interesse: a profecia dos 70 anos de Jeremias e as 70 semanas proféticas de Daniel. Ao referir-se à profecia de Jeremias, Daniel toma o cuidado de fazer notar: "Eu, Daniel, entendi pelos livros, que o número de anos, de que falara o Senhor ao profeta Jeremias, em que haviam de durar as assolações de Jerusalém, era de setenta anos." Dan. 9:2. Provavelmente Daniel estava aludindo aos rolos em que Jeremias registrou suas profecias. Em pelo menos duas ocasiões o profeta proclamou a profecia do exílio de 70 anos — primeiro perante todo o povo de Jerusalém (Jer. 25:11), e mais tarde aos cativos em Babilônia (cap. 29: 10). Pode ser também que esta profecia tenha sido escrita "no livro dos reis de Israel e de Judá" a que se refere muitas vezes o autor de Crônicas (II Crôn. 35:27; 36:8). E mais, o segundo livro de Crônicas termina precisamente com um comentário dos acontecimentos preditos por Jeremias. Nessa oportunidade, a profecia do exílio de 70 anos é repetida pela terceira vez, juntamente com minudências outras da maior importância para o nosso estudo. O relato afirma que essas coisas aconteceram "para que se cumprisse a palavra do Senhor, por boca de Jeremias, até que a terra se agradasse dos seus sábados; todos os dias da desolação repousou, até que os setenta anos se cumpriram" (cap. 36:21). Em outras palavras, a destruição e desolação que caíram sobre o país, como preditas por Jeremias (Jer. 25: 11 e 29:10), são aqui consideradas como conseqüência da infidelidade de Israel e uma aplicação das maldições pronunciadas por Moisés (Lev. 26: 14-45). E mais certo ainda que a referência aqui é ao que está indicado em Lev. 26:34: "Então a terra folgará nos seus sábados, todos os dias da sua assolação." Visto que "os estatutos, juízos e leis que deu o Senhor entre Si e os filhos de Israel, no monte Sinai, pela mão de Moisés" (verso 46), não tinham sido observados, o Senhor executou o juízo repetido quatro vezes no mesmo capítulo: "Tornarei a castigar-vos sete vezes mais por causa dos vossos pecados." "Então a terra folgará nos seus sábados" (versos 18, 34; comp. versos 21, 28 e 43). A que sábados é feita referência aqui? Aqueles durante os quais Israel devia deixar a terra em repouso, em harmonia com as instruções do Senhor referentes aos anos sabáticos e do jubileu (Êxo. 23:10 e 11; Lev. 25:1-17). Daí vemos que o período de 70 anos da profecia de Jeremias é resultado de um cálculo similar ao de Eze. 4: 4-6. Todavia, em vez de ser baseado em um dia por um ano, a contagem é feita na base de um ano de exílio para cada ano sabático durante o qual a terra esteve privada de seu repouso. Em outras palavras, se cada um dos 70 anos de exílio representa um ano sabático, deve ter havido 490 anos de rebelião durante os quais os filhos de Israel deixaram de observar as leis e estatutos de Deus. E interessante notar que a similitude entre essas duas profecias não está restrita apenas ao método de cálculo. Ambas têm suas raízes na infidelidade de Israel e cobrem o mesmo período de sua história. O profeta Ezequiel recebeu a incumbência de ilustrar de maneira simbólica os 430 anos de infidelidade da parte dos filhos de Israel sob a monarquia, desde Saul até Zedequias (Eze. 4:5 e 6). A Jeremias ordena-se que anuncie 70 anos de exílio pelos 490 anos da rebelião de Israel, desde o tempo de Samuel até a queda de Jerusalém. Daniel alude precisamente-a este período na
  • 5. história de Israel em sua oração intercessória: "Não demos ouvidos aos Teus servos, os profetas, que em Teu nome falaram aos nossos reis, nossos príncipes, e nossos pais, como também a todo o povo da terra.'' Dan. 9:6. Obviamente, o princípio do dia-ano não pode ser aplicado à profecia dos 70 anos de Jeremias. Contudo, conforme temos visto, isto não significa que a chave bíblica para a interpretação não se aplique a esta profecia. Ao contrário, os 70 anos de exílio vêm a ser o resultado de um cálculo esboçado no próprio texto profético. O mesmo é verdade em relação à profecia das 70 semanas de Daniel (versos 24-27). Cálculo das 70 Semanas Não será certamente por mera coincidência que os 70 anos da profecia de Jeremias são mencionados no mesmo capítulo que as 70 semanas de Daniel. Os dois períodos estão vinculados por causa e efeito. Daniel orou em relação à profecia de Jeremias, e o anjo Gabriel veio imediatamente para o seu lado em resposta a sua petição. Não é preciso dizer que Daniel conhecia as profundas razões por trás da tragédia de Israel. Ele as admitiu constantemente em sua oração intercessória, ao confessar os pecados do seu povo. Como o autor do livro de Crônicas, Daniel provavelmente conhecia também os outros aspectos da profecia de Jeremias que apresentavam os 70 anos de exílio como resultado dos sábados durante os quais a terra tinha sido privada de seu repouso. Suas alusões às maldições pronunciadas por Moisés recuam ao mesmo texto de Levítico 26 (Dan. 9:10-13). Todavia Daniel tinha o conhecimento do Deus de Israel, que é longanimo, tardio em ira, e rico em misericórdia. Daí haver ele pleiteado o perdão e suplicado: "Sobre o Teu santuário assolado faze resplandecer o Teu rosto" (verso 17), ainda mais que os 70 anos da profecia de Jeremias estavam chegando ao fim. "O Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos ... ó Deus meu ... pelo Teu nome" (verso 19). Daniel estava ainda falando quando Gabriel subitamente apareceu em resposta a sua oração, à hora do sacrifício da tarde (versos 20 e 21). Em seguida aos 70 anos de exílio, resultado das transgressões de Israel, o Senhor proclama agora, pela boca de Gabriel, 70 semanas de graça, finda as quais viria o cumprimento da esperança do povo de Deus. "Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniqüidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia, e para ungir o Santo dos Santos" (verso 24). A interpretação das 70 semanas depende do significado atribuído a "semanas" a que se faz referência aqui. No original hebraico, a palavra shabüa designa um grupo de sete, a que chamaremos heptad ou hebdô-made, segundo o correspondente vocábulo grego. Os judeus contavam o hebdômade em três maneiras: (1) como uma semana, formada de sete dias; (2) como ano sabático, formado de sete anos (Lev. 25:1-7); e finalmente (3) como o ano do jubileu, formado de sete vezes sete anos sabáticos — isto é, 49 anos (verso 8). Assim a palavra shabüa — semana — usada aqui e em outros lugares, pode designar um período de sete dias, de sete anos, ou 49 anos, dependendo de se estar tratando
  • 6. de semana, do ano sabático, ou do ano do jubileu. O significado só pode ser determinado pelo contexto. Em Dan. 10:2, por exemplo, lemos sobre um jejum de três semanas. Claramente, isto significa 21 dias, mas que dizer das 70 semanas de Dan. 9:24? Tanto no texto como no contexto tudo se refere à mensagem dos anos sabáticos e jubileu. A tradição judaica, os talmudistas, o autor do Seder-Olam, e os interpretadores judeus em geral têm estimado que as semanas da profecia de Daniel só podem ser semanas de anos. Há evidências de que os Pais da Igreja usaram a mesma base para interpretar as 70 semanas.