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O GOVERNO DA IGREJA E O SISTEMA PRESBITERIANO
                                                            ℵ
                                       Roberto Constanza

1. O Governo na Igreja Antiga

Os cristãos que permaneceram em Sião, após o Pentecostes, constituíam a Igreja de
Jerusalém, a igreja-mãe do cristianismo. Os primeiros líderes da igreja foram os apóstolos
sob a liderança de Pedro e João (At. caps.3-5). Tiago, irmão de Jesus, por eleição dos
anciãos ou presbíteros, foi o líder dessa igreja até c.62, quando foi executado. Há registros
de que a autoridade da igreja permaneceu com os familiares do Mestre durante longo
tempo, mesmo após a transferência da igreja para Pela (c.66 AD).

O grupo de cristãos de Jerusalém era constituído basicamente por judeus. Havia um
sentimento de que Jesus era o Messias esperado e que nele se cumpriram as promessas do
Antigo Testamento referentes a um Profeta Libertador de Israel, semelhante a Moisés (cf.
Dt 18. 15-22). A Igreja de Jerusalém não se considerava à parte da religião judaica,
continuando, inclusive, a freqüentar o Templo. Era mais um partido, como o dos saduceus e
fariseus, que uma nova religião. Esse zelo pelos valores essencialmente judaicos fez com
que, inicialmente, a pregação do Evangelho ficasse praticamente restrita a Israel.

Com a conversão de Paulo, e através da instrumentalidade missionária dos apóstolos e
discípulos liderados por Pedro, o evangelho passou a ser levado aos gentios. Em c.49 AD,
Paulo e Barnabé reuniram-se com os chefes da Igreja de Jerusalém, para participar do
primeiro concílio da Igreja. Se os membros da igreja-mãe tivessem se recusado a
reconhecer a conversão dos gentios, o trabalho de Paulo e Barnabé teria sido em vão.

Cristo não organizou estruturalmente sua igreja e tampouco deixou um corpo de doutrinas
definido. Os apóstolos, que eram presbíteros, enquanto viveram, representavam a maior
autoridade na igreja cristã como um todo, independente de local. Sua ação missionária entre
os gentios, plantando, visitando e fortalecendo igrejas, constituía uma viva voz que refletia
a autoridade recebida diretamente de Jesus e à qual poder-se-ia apelar em caso de
necessidade. Mas, uma vez todos mortos, passou a existir um vácuo de poder que precisava
ser preenchido. Essa preocupação consta de diversos documentos produzidos, a partir de
meados do século II, com o tema: qual é a autoridade da hierarquia ministerial?

As congregações apostólicas (até c.100 AD) eram normalmente lideradas por presbíteros ou
bispos e assistidas por diáconos. A esses oficiais cabia a pregação, a administração do
batismo e da eucaristia, e a distribuição de ajuda aos pobres. Em cada cidade, o presidente,
ou o mais antigo membro do colégio de presbíteros que presidia uma igreja local, tinha,
naturalmente, autoridade e deveres especiais; por exemplo: correspondência com outras
igrejas; representação em assembléias ou concílios para tratar de aspectos comuns ligados à
ÀℵJOSÉ ROBERTO DA SILVA COSTANZA (25/10/1944): Presbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil
desde 1987. Doutor em Ciências Navais pela Escola de Guerra Naval, em 1992. Mestre em Teologia pelo
Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, em 2002. Professor do Seminário Teológico do Rio
desde 1999, lecionando atualmente História da Igreja e História da IPB. Coordenador do Departamento de
Teologia Histórica.
doutrina e à vida administrativa da igreja; e, ainda, participação na organização de novas
igrejas. O presbítero ou bispo presidente era um símbolo da catolicidade da igreja de
Cristo, ou seja, de sua universalidade e unidade.

A partir do século II começou a haver distinção entre bispos e presbíteros. Nas igrejas em
que havia um colégio ou conselho de presbíteros, o bispo presidente, que normalmente era
eleito por seus pares, passou a ser chamado de bispo. Por outro lado, como o crescimento
do número de igrejas em uma determinada área geográfica ou distrito romano, também
chamado de Diocese, o presbítero presidente da primeira igreja passou também a ser
chamado exclusivamente de bispo.

Ora, à época, a Igreja sofria dois tipos de ameaças: uma interna, provocada por doutrinas
não condizentes com o Evangelho, das quais a principal era o gnosticismo. E outra, de
natureza externa, a perseguição romana. Para fazer face a esses desafios a igreja
necessidade de uma liderança firme, com autoridade. Os primeiros escritores cristãos,
genericamente chamados de Pais Apostólicos, a partir do final do século I, procuraram
demonstrar que sem autoridade não poderia haver igreja, e essa autoridade deveria repousar
sobre o bispo.

A partir do século III, a antiga noção de que a igreja era uma sociedade constituída de um
povo santo foi dando lugar ao conceito de que ela era, na realidade, um conjunto de fracos
pecadores, que dependia dos bispos e presbíteros para alcançar a salvação. A despeito de
protestos, especialmente por parte da dissidência liderada pelo bispo Novaciano de Roma
(c. 200-c.258), o consenso final foi de que os bispos e presbíteros, pela ordenação, estavam
investidos, assim como Pedro (cf. Mt 16.18-19), do poder para ligar e desligar, excomungar
e absolver.

Os bispos eram eleitos por suas congregações – i.e., pelos clérigos e leigos reunidos
conjuntamente em assembléia. Mas a participação dos leigos no processo de eleição dos
bispos decresceu de valor na medida em que o tamanho e importância das dioceses
aumentava, com o acréscimo de novas igrejas. O metropolitano e outros bispos provinciais
logo se tornaram tão importantes quanto à congregação como um todo.

No final do terceiro século, o bispo de uma capital provincial, chamado de metropolitano,
passou a exercer autoridade sobre seus colegas, sendo, a partir do século IV, intitulado de
arcebispo. Ele era o responsável pela ordenação e consagração dos bispos de sua área de
jurisdição. As dioceses de Roma, Alexandria, Antioquia, Jerusalém e Constantinopla
tornaram-se patriarcados. O título papa (pai) foi durante 600 anos um termo afetivo
aplicado a qualquer bispo, denotando uma relação paternal entre o pastor e suas ovelhas.
Somente a partir do século VI, os bispos de Roma passaram e ser especialmente chamados
de papa; e, já no século IX, era quase que exclusivamente aplicado a eles.

Em suma, o governo da igreja estava a cargo dos bispos, como demonstra Inácio de
Antioquia, em sua carta aos Efésios, escrita no início do século II, que assim se expressou:
“Segue daí que vos convém avançar junto, de acordo com o pensamento do bispo, como
aliás fazeis. Pois vosso presbitério digno de tão boa reputação, digno que é de Deus,
sintoniza com o bispo como cordas com a cítara. ... O bispo é o único foco de unidade sem
3

o qual a autoridade não é sacramental e, portanto, não há igreja”.

Durante toda a idade média essa situação permaneceu inalterada, com a única exceção do
bispo de Roma, que passou a prevalecer sobre os demais, passando a chefe espiritual da
Igreja, o vigário ou substituto de Cristo.

2. O Governo na Igreja de Genebra

Com a Reforma Protestante do século XVI, o governo dos bispos foi questionado,
especialmente pela chamada Igreja Reformada ou calvinista. Os reformados primitivos
eram os calvinistas do continente, em especial os residentes na Alemanha, França e
Holanda. Sendo Calvino o maior líder e teólogo do movimento, ele foi o principal
articulador das concepções doutrinárias e da forma de governo que vieram caracterizar as
igrejas reformadas ou presbiterianas.

Calvino encontrou nas Escrituras 4 ofícios, que formam a base de governo incorporada nas
Ordenanças Eclesiásticas: 1) Pastor; 2) Mestre; 3) Presbítero; e 4) Diácono.

Ele cria que os ofícios de profeta, apóstolo e evangelista eram temporários e cessaram no
final da era apostólica. Dentre os ofícios que permaneceram, o de pastor é o mais honroso e
o mais necessário para a ordem e o bem-estar da igreja. Depois da aceitação de doutrinas
puras, a nomeação de pastores é a coisa mais importante para a edificação espiritual da
igreja.

Para ser escolhido, o aspirante deve preparar-se e depois ser comissionado publicamente
segundo a ordem prescrita pela igreja. Em Genebra, esse processo incluía a companhia de
pastores, o conselho municipal e a igreja. A ordenação é um rito solene de instalação no
ofício pastoral.

As funções dos pastores são:
1) Ensino -Os pastores devem ter um profundo conhecimento das Escrituras para que
possam instruir corretamente as suas igrejas;
2) Pregação -Sua pregação deve revelar conhecimento e habilidade para ensinar. A
pregação visa a edificação da igreja e deve ser prática e perspicaz; e
3) Governo e Disciplina -A função disciplinar do pastor requer que a sua própria conduta
esteja acima da qualquer suspeita.

Calvino rejeitou o conceito anabatista de que a igreja devia isolar-se da sociedade e cultura
circundantes. A relação entre a igreja e o mundo inclui tanto tensão como interação. O seu
entendimento do governo de Deus e da soberania de Cristo sobre toda a criação, e não
somente sobre a igreja, levou-o a defender a participação na sociedade.

O governo de Cristo deve manifestar-se idealmente através de governantes piedosos. Os
magistrados deveriam manter a ordem cívica e a uniformidade religiosa. Todavia, a igreja e
o estado têm esferas separadas e autônomas de atuação. Os cristãos devem obedecer até
mesmo os governantes que oprimem a igreja, orando por seu bem-estar, porque foram
instruídos por Deus.
Dentre os discípulos de Calvino, destaca-se o escocês John Knox, que levou o calvinismo
para as ilhas britânicas e implantou em seu país a primeira igreja presbiteriana, em 1560.
Essa igreja, que inicialmente manteve os bispos, tornou-se a igreja oficial na Escócia. Quis
o destino que justamente um filho dessa igreja, o Dr. Robert Kalley, fosse o principal
responsável pela luta judicial que possibilitou a abertura de nossa pátria ao protestantismo,
no século XIX.

John Knox é considerado um dos pais do puritanismo que foi um movimento calvinista que
empolgou a Grã-Bretanha, a partir de meados do século XVI.

3. Antecedentes Históricos à Assembléia de Westminster

Em 1570, Tomás Cartwright (1535-1603), na Universidade de Cambridge, propôs que a
Igreja da Inglaterra adotasse um governo presbiteriano ou de concílios locais, compostos de
clérigos e leigos, em substituição ao sistema episcopal. Em 1572, foi organizado o primeiro
presbitério na Inglaterra, em Wandsworth. Não se cogitava uma separação da igreja
nacional. Era mais uma associação de clérigos e leigos para tratar de problemas de suas
congregações.

Cartwright foi demitido, por suas opiniões, e fugiu para Genebra. Em resposta a Cartwright
e simpatizantes, João Whitgift, vice-chanceler de Cambridge, reafirmou que o governo da
Igreja deveria ser o governo do Estado e que o sistema episcopal era o que melhor se
adequava à monarquia.

Os principais líderes do movimento puritano, inclusive Cartwright (que havia retornado à
Inglaterra em 1585) procuraram adaptar o presbiterianismo ao episcopalismo, configurando
um quadro típico de Ecclesiola in Ecclesia, ou seja, visualizavam que poderia haver uma
igreja (presbiteriana) dentro da igreja (episcopal).

A política de Whitgift, efetivamente colocou um freio em qualquer grande plano para uma
reforma mais ampla na Igreja de Inglaterra, durante o reinado de Elizabete. As esperanças
dos puritanos foram reavivadas, em 1603, quando Tiago VI da Escócia sucedeu a Elizabete,
como Tiago I da Inglaterra. Tiago era tido por calvinista. Com base nesse elemento
indicador, os puritanos apresentaram uma série de petições ao rei, que, consolidadas,
ficaram conhecidas como Petição Milenar. A resposta de Tiago foi como uma pá de cal
para os puritanos: “Sem bispo, sem rei. O sistema presbiteriano se harmoniza tanto com a
monarquia, como Deus com o Diabo”.

No reinado de Carlos I (1625-49), filho e sucessor de Tiago, William Laud, indicado para o
bispado de Londres em 1628, assumiu a posição de líder do partido antipuritano. Como
protegido de Carlos I, Laud se tornou arcebispo de Cantuária em 1633. Arminiano
confesso, Laud tentou introduzir na Igreja da Escócia uma liturgia comparável com a do
Livro de Oração Comum. Na Igreja de São Giles, em Edimburgo, eclodiu uma revolta
popular, clamando pela restauração do presbiterianismo na Escócia. No mesmo ano, a
Assembléia Geral da Igreja da Escócia depôs os bispos e restabeleceu o sistema
presbiteriano.”
5



A revolta se expandiu, alcançando toda a nação escocesa, que, em 1640, ocupou
militarmente todo o norte da Inglaterra. Para fazer face à guerra contra os escoceses, Carlos
foi forçado a convocar o Parlamento, sem o qual ele estava tentando governar desde 1529.
Eclodiu uma Guerra Civil, que forçou o rei a abandonar a cidade de Londres. Os escoceses
aliaram-se com os parlamentares, através de um pacto.

4. A Assembléia de Westminster

Nos anos que se seguiram ao domínio do Parlamento sobre a Coroa, fruto de uma guerra
civil vitoriosa, os puritanos, a partir de 1643, reuniram-se em Assembléia na Abadia de
Westminster, em Londres, e produziram vários documentos, dos quais se destaca a
Confissão de Fé.

O grande motivo gerador da Assembléia de Westminster não era a teologia propriamente
dita, mas a forma de governo que deveria ser adotada para a Igreja da Inglaterra. Essa foi a
principal questão de debate da Assembléia.

Dando início aos debates sobre Sistema de Governo, foi formulada a seguinte questão:
“existe na Escritura uma forma de governo?”

De pronto, surgiram duas opiniões distintas: os presbiterianos queriam que primeiro se
definisse o termo “igreja”, para depois se estabelecer se havia uma forma de governo na
Escritura. Os congregacionais, por seu turno, defendiam a idéia de que a resposta à questão
formulada não prescindia da definição de Igreja.

O Pacto com os escoceses havia estipulado que a nova igreja deveria ser totalmente
presbiteriana. Todavia, o Parlamento inglês estava relutante em estabelecer na Inglaterra
um sistema de governo com a autonomia do presbiterianismo escocês. Na verdade, o que
muitos desejavam era uma igreja que estivesse sob os auspícios e controle do Parlamento.
Assim, nem todos os puritanos eram unânimes quanto à forma de governo.

No que se refere ao episcopado, as opiniões também divergiam. Muitos dos reformadores
ingleses eram bispos e admitiam plenamente a identidade dos ofícios de bispo e de
presbítero. Por outro lado, um grande número de reformadores não se opunha à idéia de os
bispos serem uma espécie de superintendentes sobre seus pares.

Muitos puritanos rejeitavam o episcopado, mas não eram totalmente favoráveis a um
sistema presbiteriano nos moldes escoceses. Outros eram mais tendentes ao
congregacionalismo. Outros, ainda, eram separatistas. Havia aqueles que eram episcopais
moderados, uma espécie de “episcopalismo reduzido”, como o de Richard Baxter, que des
ejava uma espécie de combinação entre o episcopalismo e o presbiterianismo.

O desejo do Parlamento era encontrar uma forma de governo que satisfizesse aos diversos
partidos, razão pela qual tentou reunir imparcialmente os vários segmentos da Igreja da
Inglaterra, selecionando clérigos de todas as tendências eclesiásticas.
Dos 121 teólogos originalmente indicados para a Assembléia de Westminster, 28 não
compareceram, a maioria dos quais porque era episcopais e leais ao rei. Alguns episcopais
compareceram à Reunião de Abertura da Assembléia; entretanto, assim que foi assinado o
Pacto com os escoceses, todos, menos um, se retiraram.

Independentes eram aqueles que se insurgiram contra a tentativa de se implantar o sistema
presbiteriano escocês na igreja da Inglaterra. Eles eram partidários da autonomia das igrejas
locais, ou seja, as igrejas deviam ser independentes dos bispos, dos presbitérios e de outras
autoridades externas. Os congregacionais na Assembléia de Westminster eram minoria,
posto que o grupo era composto por somente cinco homens. Sua influência tornou-se
desproporcional ao seu número, à medida que o tempo passava, devido ao apoio de Oliver
Cromwell, líder do Exército.

Os erastianos seguiam as doutrinas defendidas por Erastus, natural de Heidelberg,
Alemanha, que escreveu sobre a forma de governo eclesiástico, em 1568. Erastus defendia
as seguintes idéias:
1) O ofício pastoral é somente persuasivo, igual ao de um professor em relação aos seus
estudantes, sem qualquer poder direto; 2) O batismo, a ceia do Senhor e as outras
ordenanças do Evangelho, eram livres e abertas a todos;
3) O ministro poderia afirmar e explicar quais eram as qualificações próprias, e poderia
dissuadir os desqualificados para a comunhão, mas não tinha o poder de recusá-la ou
infligir qualquer tipo de censura; e
4) A punição de todas as ofensas, seja de natureza civil ou religiosa, pertencia
exclusivamente ao magistrado civil

Houve somente dois teólogos na Assembléia que sustentaram a teoria erastiana. Mas, a
despeito de serem somente dois, as suas opiniões possuíam o apoio da maioria das
autoridades civis da Inglaterra. Eles também contavam com o apoio da realeza, que
sustentava o direito divino dos reis, inclusive o de ter domínio sobre a Igreja.

Existiam diferenças significativas entre o presbiterianismo dos membros ingleses da
Assembléia e o presbiterianismo dos comissários escoceses. O presbiterianismo escocês era
rígido e julgava que a forma de governo presbiteriano era um direito apontado por Deus na
Escritura. Já os ingleses eram moderados; de uma maneira geral, embora concordassem
com o sistema presbiteriano de governo, não aceitavam sua origem divina.

Quando as idéias de Cromwell começaram a prevalecer na Inglaterra, os presbiterianos
escoceses se revoltaram e romperam a aliança com o Parlamento Inglês, aliando-se ao rei
contra Cromwell, que os derrotou em 1648, e colocou a Escócia sob ocupação militar. Em
dezembro desse mesmo ano, Cromwell perseguiu muitos presbiterianos no Parlamento
Inglês, colocando-os para fora. Em janeiro de 1649, o rei Carlos I foi executado.

A Forma de Governo Eclesiástico, embora tenha sido concluída em 1644, só foi aprovada
pelo Parlamento em 29 de agosto de 1648. A Assembléia instituiu a forma de governo
presbiteriana em lugar da episcopal, com seus bispos e arcebispos.

Somente uns poucos presbiterianos restaram na Inglaterra depois de terem sido derrotados
7

por Cromwell. Em conseqüência, os padrões de Westminster, de fato, não tiveram grande
impacto na própria Inglaterra, após o colapso do presbiterianismo puritano.

Apesar dos problemas na Inglaterra, a Igreja da Escócia adotou os padrões de Westminster
e permaneceu fiel ao sistema presbiteriano de governo, embora, ao longo de sua história,
esse ideal nem sempre foi alcançado. Somente em 1689, o presbiterianismo foi estabelecido
definitivamente; embora algumas modificações feitas pelo Parlamento tenham produzido
várias divisões na igreja.

Além das Ilhas Britânicas, as igrejas reformadas do Continente Europeu e dos Estados
Unidos em especial adotaram o sistema de governo presbiteriano com algumas
especificidades locais.

5. O Presbiterianismo

O Presbiterianismo é uma forma de governo da igreja e uma tradição teológica particular
encontrada na denominação presbiteriana e em outras denominações reformadas. As igrejas
que seguem esta tradição constituem um dos quatro maiores grupos derivados da Reforma
do século XVI – luteranos, presbiterianos e reformados, anglicanos e anabatistas. O termo
presbiteriano é derivado do grego presbyteros, e o governo da igreja por presbíteros é
característico das igrejas presbiterianas e reformadas. Existem dois tipos de presbíteros: os
docentes e os regentes, respectivamente, pastores e leigos. Esses oficiais passam
necessariamente por um processo eletivo nas igrejas locais em que pastoreiam ou
congregam.

O governo da igreja presbiteriana é comumente chamado de “sistema misto” de democracia
e elementos hierárquicos, porque o poder é balanceado entre pastores e leigos e entre
congregações e os corpos de governo maiores da igreja. Embora a estrutura de governo da
igreja presbiteriana varie, usualmente consiste de um sistema conciliar ascendente. Cada
congregação é governada por um conselho ou consistório, composto pelo pastor e por
presbíteros, que são eleitos representantes da congregação. A congregação faz parte do
presbitério, ou classe, que coordena e governa as atividades das congregações dentro de
uma determinada área geográfica. São membros de um presbitério todos os pastores e os
presbíteros representantes de cada uma congregação.

O poder para ordenar ministros repousa com o Presbitério, em contraste com a forma
episcopal de governo da Igreja, na qual isto é feito por um bispo, e com o governo da igreja
congregacional, onde a congregação retém o poder para a ordenação. Em um sentido
amplo, o presbitério serve como um bispado comunal, exercendo tanto responsabilidades
pastorais como de disciplina para suas igrejas.

Os presbitérios pertencem aos sínodos, que são as maiores unidades geográficas da igreja.
A Assembléia Geral, ou Sínodo Geral, governa toda a Igreja. Em todos os níveis de
concílio, a igreja é governada por seus presbíteros – pastores e leigos, eleitos como
representantes do povo.

Os presbiterianos crêem firmemente no sacerdócio de todos os fiéis, ou seja, todos os
crentes são iguais em sua dignidade e direitos. Não existe distinção entre clero e leigos:
todo crente é um ministro de Deus. Os ofícios instituídos na igreja (pastor, presbítero,
diácono) visam apenas dar maior ordem e estabilidade ao trabalho e suprir necessidades nas
áreas de liderança, assistência espiritual e beneficência.

O sistema presbiteriano é democrático e representativo. Todos os membros comungantes da
igreja têm o direito e o dever de envolver-se nas atividades e decisões da comunidade,
participando das assembléias, elegendo oficiais, contribuindo para o sustento da igreja e
seus programas, servindo em diferentes áreas conforme os dons e capacidades de cada um.
O conceito do pacto tem muitas implicações para a vida familiar e eclesial.

A tradição reformada também dá grande valor à participação do crente na comunidade mais
ampla, a sociedade. Calvino, a partir das suas convicções teológicas e da sua experiência
em Genebra, insistiu que o cristão deve viver responsavelmente no mundo, como cidadão,
como profissional e em outras capacidades. Deus é o senhor de todas as coisas; portanto,
todas as esferas da vida devem refletir os valores do seu reino.

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33636183 roberto-constanza-o-governo-da-igreja-e-o-sistema-presbiteriano

  • 1. 1 O GOVERNO DA IGREJA E O SISTEMA PRESBITERIANO ℵ Roberto Constanza 1. O Governo na Igreja Antiga Os cristãos que permaneceram em Sião, após o Pentecostes, constituíam a Igreja de Jerusalém, a igreja-mãe do cristianismo. Os primeiros líderes da igreja foram os apóstolos sob a liderança de Pedro e João (At. caps.3-5). Tiago, irmão de Jesus, por eleição dos anciãos ou presbíteros, foi o líder dessa igreja até c.62, quando foi executado. Há registros de que a autoridade da igreja permaneceu com os familiares do Mestre durante longo tempo, mesmo após a transferência da igreja para Pela (c.66 AD). O grupo de cristãos de Jerusalém era constituído basicamente por judeus. Havia um sentimento de que Jesus era o Messias esperado e que nele se cumpriram as promessas do Antigo Testamento referentes a um Profeta Libertador de Israel, semelhante a Moisés (cf. Dt 18. 15-22). A Igreja de Jerusalém não se considerava à parte da religião judaica, continuando, inclusive, a freqüentar o Templo. Era mais um partido, como o dos saduceus e fariseus, que uma nova religião. Esse zelo pelos valores essencialmente judaicos fez com que, inicialmente, a pregação do Evangelho ficasse praticamente restrita a Israel. Com a conversão de Paulo, e através da instrumentalidade missionária dos apóstolos e discípulos liderados por Pedro, o evangelho passou a ser levado aos gentios. Em c.49 AD, Paulo e Barnabé reuniram-se com os chefes da Igreja de Jerusalém, para participar do primeiro concílio da Igreja. Se os membros da igreja-mãe tivessem se recusado a reconhecer a conversão dos gentios, o trabalho de Paulo e Barnabé teria sido em vão. Cristo não organizou estruturalmente sua igreja e tampouco deixou um corpo de doutrinas definido. Os apóstolos, que eram presbíteros, enquanto viveram, representavam a maior autoridade na igreja cristã como um todo, independente de local. Sua ação missionária entre os gentios, plantando, visitando e fortalecendo igrejas, constituía uma viva voz que refletia a autoridade recebida diretamente de Jesus e à qual poder-se-ia apelar em caso de necessidade. Mas, uma vez todos mortos, passou a existir um vácuo de poder que precisava ser preenchido. Essa preocupação consta de diversos documentos produzidos, a partir de meados do século II, com o tema: qual é a autoridade da hierarquia ministerial? As congregações apostólicas (até c.100 AD) eram normalmente lideradas por presbíteros ou bispos e assistidas por diáconos. A esses oficiais cabia a pregação, a administração do batismo e da eucaristia, e a distribuição de ajuda aos pobres. Em cada cidade, o presidente, ou o mais antigo membro do colégio de presbíteros que presidia uma igreja local, tinha, naturalmente, autoridade e deveres especiais; por exemplo: correspondência com outras igrejas; representação em assembléias ou concílios para tratar de aspectos comuns ligados à ÀℵJOSÉ ROBERTO DA SILVA COSTANZA (25/10/1944): Presbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil desde 1987. Doutor em Ciências Navais pela Escola de Guerra Naval, em 1992. Mestre em Teologia pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, em 2002. Professor do Seminário Teológico do Rio desde 1999, lecionando atualmente História da Igreja e História da IPB. Coordenador do Departamento de Teologia Histórica.
  • 2. doutrina e à vida administrativa da igreja; e, ainda, participação na organização de novas igrejas. O presbítero ou bispo presidente era um símbolo da catolicidade da igreja de Cristo, ou seja, de sua universalidade e unidade. A partir do século II começou a haver distinção entre bispos e presbíteros. Nas igrejas em que havia um colégio ou conselho de presbíteros, o bispo presidente, que normalmente era eleito por seus pares, passou a ser chamado de bispo. Por outro lado, como o crescimento do número de igrejas em uma determinada área geográfica ou distrito romano, também chamado de Diocese, o presbítero presidente da primeira igreja passou também a ser chamado exclusivamente de bispo. Ora, à época, a Igreja sofria dois tipos de ameaças: uma interna, provocada por doutrinas não condizentes com o Evangelho, das quais a principal era o gnosticismo. E outra, de natureza externa, a perseguição romana. Para fazer face a esses desafios a igreja necessidade de uma liderança firme, com autoridade. Os primeiros escritores cristãos, genericamente chamados de Pais Apostólicos, a partir do final do século I, procuraram demonstrar que sem autoridade não poderia haver igreja, e essa autoridade deveria repousar sobre o bispo. A partir do século III, a antiga noção de que a igreja era uma sociedade constituída de um povo santo foi dando lugar ao conceito de que ela era, na realidade, um conjunto de fracos pecadores, que dependia dos bispos e presbíteros para alcançar a salvação. A despeito de protestos, especialmente por parte da dissidência liderada pelo bispo Novaciano de Roma (c. 200-c.258), o consenso final foi de que os bispos e presbíteros, pela ordenação, estavam investidos, assim como Pedro (cf. Mt 16.18-19), do poder para ligar e desligar, excomungar e absolver. Os bispos eram eleitos por suas congregações – i.e., pelos clérigos e leigos reunidos conjuntamente em assembléia. Mas a participação dos leigos no processo de eleição dos bispos decresceu de valor na medida em que o tamanho e importância das dioceses aumentava, com o acréscimo de novas igrejas. O metropolitano e outros bispos provinciais logo se tornaram tão importantes quanto à congregação como um todo. No final do terceiro século, o bispo de uma capital provincial, chamado de metropolitano, passou a exercer autoridade sobre seus colegas, sendo, a partir do século IV, intitulado de arcebispo. Ele era o responsável pela ordenação e consagração dos bispos de sua área de jurisdição. As dioceses de Roma, Alexandria, Antioquia, Jerusalém e Constantinopla tornaram-se patriarcados. O título papa (pai) foi durante 600 anos um termo afetivo aplicado a qualquer bispo, denotando uma relação paternal entre o pastor e suas ovelhas. Somente a partir do século VI, os bispos de Roma passaram e ser especialmente chamados de papa; e, já no século IX, era quase que exclusivamente aplicado a eles. Em suma, o governo da igreja estava a cargo dos bispos, como demonstra Inácio de Antioquia, em sua carta aos Efésios, escrita no início do século II, que assim se expressou: “Segue daí que vos convém avançar junto, de acordo com o pensamento do bispo, como aliás fazeis. Pois vosso presbitério digno de tão boa reputação, digno que é de Deus, sintoniza com o bispo como cordas com a cítara. ... O bispo é o único foco de unidade sem
  • 3. 3 o qual a autoridade não é sacramental e, portanto, não há igreja”. Durante toda a idade média essa situação permaneceu inalterada, com a única exceção do bispo de Roma, que passou a prevalecer sobre os demais, passando a chefe espiritual da Igreja, o vigário ou substituto de Cristo. 2. O Governo na Igreja de Genebra Com a Reforma Protestante do século XVI, o governo dos bispos foi questionado, especialmente pela chamada Igreja Reformada ou calvinista. Os reformados primitivos eram os calvinistas do continente, em especial os residentes na Alemanha, França e Holanda. Sendo Calvino o maior líder e teólogo do movimento, ele foi o principal articulador das concepções doutrinárias e da forma de governo que vieram caracterizar as igrejas reformadas ou presbiterianas. Calvino encontrou nas Escrituras 4 ofícios, que formam a base de governo incorporada nas Ordenanças Eclesiásticas: 1) Pastor; 2) Mestre; 3) Presbítero; e 4) Diácono. Ele cria que os ofícios de profeta, apóstolo e evangelista eram temporários e cessaram no final da era apostólica. Dentre os ofícios que permaneceram, o de pastor é o mais honroso e o mais necessário para a ordem e o bem-estar da igreja. Depois da aceitação de doutrinas puras, a nomeação de pastores é a coisa mais importante para a edificação espiritual da igreja. Para ser escolhido, o aspirante deve preparar-se e depois ser comissionado publicamente segundo a ordem prescrita pela igreja. Em Genebra, esse processo incluía a companhia de pastores, o conselho municipal e a igreja. A ordenação é um rito solene de instalação no ofício pastoral. As funções dos pastores são: 1) Ensino -Os pastores devem ter um profundo conhecimento das Escrituras para que possam instruir corretamente as suas igrejas; 2) Pregação -Sua pregação deve revelar conhecimento e habilidade para ensinar. A pregação visa a edificação da igreja e deve ser prática e perspicaz; e 3) Governo e Disciplina -A função disciplinar do pastor requer que a sua própria conduta esteja acima da qualquer suspeita. Calvino rejeitou o conceito anabatista de que a igreja devia isolar-se da sociedade e cultura circundantes. A relação entre a igreja e o mundo inclui tanto tensão como interação. O seu entendimento do governo de Deus e da soberania de Cristo sobre toda a criação, e não somente sobre a igreja, levou-o a defender a participação na sociedade. O governo de Cristo deve manifestar-se idealmente através de governantes piedosos. Os magistrados deveriam manter a ordem cívica e a uniformidade religiosa. Todavia, a igreja e o estado têm esferas separadas e autônomas de atuação. Os cristãos devem obedecer até mesmo os governantes que oprimem a igreja, orando por seu bem-estar, porque foram instruídos por Deus.
  • 4. Dentre os discípulos de Calvino, destaca-se o escocês John Knox, que levou o calvinismo para as ilhas britânicas e implantou em seu país a primeira igreja presbiteriana, em 1560. Essa igreja, que inicialmente manteve os bispos, tornou-se a igreja oficial na Escócia. Quis o destino que justamente um filho dessa igreja, o Dr. Robert Kalley, fosse o principal responsável pela luta judicial que possibilitou a abertura de nossa pátria ao protestantismo, no século XIX. John Knox é considerado um dos pais do puritanismo que foi um movimento calvinista que empolgou a Grã-Bretanha, a partir de meados do século XVI. 3. Antecedentes Históricos à Assembléia de Westminster Em 1570, Tomás Cartwright (1535-1603), na Universidade de Cambridge, propôs que a Igreja da Inglaterra adotasse um governo presbiteriano ou de concílios locais, compostos de clérigos e leigos, em substituição ao sistema episcopal. Em 1572, foi organizado o primeiro presbitério na Inglaterra, em Wandsworth. Não se cogitava uma separação da igreja nacional. Era mais uma associação de clérigos e leigos para tratar de problemas de suas congregações. Cartwright foi demitido, por suas opiniões, e fugiu para Genebra. Em resposta a Cartwright e simpatizantes, João Whitgift, vice-chanceler de Cambridge, reafirmou que o governo da Igreja deveria ser o governo do Estado e que o sistema episcopal era o que melhor se adequava à monarquia. Os principais líderes do movimento puritano, inclusive Cartwright (que havia retornado à Inglaterra em 1585) procuraram adaptar o presbiterianismo ao episcopalismo, configurando um quadro típico de Ecclesiola in Ecclesia, ou seja, visualizavam que poderia haver uma igreja (presbiteriana) dentro da igreja (episcopal). A política de Whitgift, efetivamente colocou um freio em qualquer grande plano para uma reforma mais ampla na Igreja de Inglaterra, durante o reinado de Elizabete. As esperanças dos puritanos foram reavivadas, em 1603, quando Tiago VI da Escócia sucedeu a Elizabete, como Tiago I da Inglaterra. Tiago era tido por calvinista. Com base nesse elemento indicador, os puritanos apresentaram uma série de petições ao rei, que, consolidadas, ficaram conhecidas como Petição Milenar. A resposta de Tiago foi como uma pá de cal para os puritanos: “Sem bispo, sem rei. O sistema presbiteriano se harmoniza tanto com a monarquia, como Deus com o Diabo”. No reinado de Carlos I (1625-49), filho e sucessor de Tiago, William Laud, indicado para o bispado de Londres em 1628, assumiu a posição de líder do partido antipuritano. Como protegido de Carlos I, Laud se tornou arcebispo de Cantuária em 1633. Arminiano confesso, Laud tentou introduzir na Igreja da Escócia uma liturgia comparável com a do Livro de Oração Comum. Na Igreja de São Giles, em Edimburgo, eclodiu uma revolta popular, clamando pela restauração do presbiterianismo na Escócia. No mesmo ano, a Assembléia Geral da Igreja da Escócia depôs os bispos e restabeleceu o sistema presbiteriano.”
  • 5. 5 A revolta se expandiu, alcançando toda a nação escocesa, que, em 1640, ocupou militarmente todo o norte da Inglaterra. Para fazer face à guerra contra os escoceses, Carlos foi forçado a convocar o Parlamento, sem o qual ele estava tentando governar desde 1529. Eclodiu uma Guerra Civil, que forçou o rei a abandonar a cidade de Londres. Os escoceses aliaram-se com os parlamentares, através de um pacto. 4. A Assembléia de Westminster Nos anos que se seguiram ao domínio do Parlamento sobre a Coroa, fruto de uma guerra civil vitoriosa, os puritanos, a partir de 1643, reuniram-se em Assembléia na Abadia de Westminster, em Londres, e produziram vários documentos, dos quais se destaca a Confissão de Fé. O grande motivo gerador da Assembléia de Westminster não era a teologia propriamente dita, mas a forma de governo que deveria ser adotada para a Igreja da Inglaterra. Essa foi a principal questão de debate da Assembléia. Dando início aos debates sobre Sistema de Governo, foi formulada a seguinte questão: “existe na Escritura uma forma de governo?” De pronto, surgiram duas opiniões distintas: os presbiterianos queriam que primeiro se definisse o termo “igreja”, para depois se estabelecer se havia uma forma de governo na Escritura. Os congregacionais, por seu turno, defendiam a idéia de que a resposta à questão formulada não prescindia da definição de Igreja. O Pacto com os escoceses havia estipulado que a nova igreja deveria ser totalmente presbiteriana. Todavia, o Parlamento inglês estava relutante em estabelecer na Inglaterra um sistema de governo com a autonomia do presbiterianismo escocês. Na verdade, o que muitos desejavam era uma igreja que estivesse sob os auspícios e controle do Parlamento. Assim, nem todos os puritanos eram unânimes quanto à forma de governo. No que se refere ao episcopado, as opiniões também divergiam. Muitos dos reformadores ingleses eram bispos e admitiam plenamente a identidade dos ofícios de bispo e de presbítero. Por outro lado, um grande número de reformadores não se opunha à idéia de os bispos serem uma espécie de superintendentes sobre seus pares. Muitos puritanos rejeitavam o episcopado, mas não eram totalmente favoráveis a um sistema presbiteriano nos moldes escoceses. Outros eram mais tendentes ao congregacionalismo. Outros, ainda, eram separatistas. Havia aqueles que eram episcopais moderados, uma espécie de “episcopalismo reduzido”, como o de Richard Baxter, que des ejava uma espécie de combinação entre o episcopalismo e o presbiterianismo. O desejo do Parlamento era encontrar uma forma de governo que satisfizesse aos diversos partidos, razão pela qual tentou reunir imparcialmente os vários segmentos da Igreja da Inglaterra, selecionando clérigos de todas as tendências eclesiásticas.
  • 6. Dos 121 teólogos originalmente indicados para a Assembléia de Westminster, 28 não compareceram, a maioria dos quais porque era episcopais e leais ao rei. Alguns episcopais compareceram à Reunião de Abertura da Assembléia; entretanto, assim que foi assinado o Pacto com os escoceses, todos, menos um, se retiraram. Independentes eram aqueles que se insurgiram contra a tentativa de se implantar o sistema presbiteriano escocês na igreja da Inglaterra. Eles eram partidários da autonomia das igrejas locais, ou seja, as igrejas deviam ser independentes dos bispos, dos presbitérios e de outras autoridades externas. Os congregacionais na Assembléia de Westminster eram minoria, posto que o grupo era composto por somente cinco homens. Sua influência tornou-se desproporcional ao seu número, à medida que o tempo passava, devido ao apoio de Oliver Cromwell, líder do Exército. Os erastianos seguiam as doutrinas defendidas por Erastus, natural de Heidelberg, Alemanha, que escreveu sobre a forma de governo eclesiástico, em 1568. Erastus defendia as seguintes idéias: 1) O ofício pastoral é somente persuasivo, igual ao de um professor em relação aos seus estudantes, sem qualquer poder direto; 2) O batismo, a ceia do Senhor e as outras ordenanças do Evangelho, eram livres e abertas a todos; 3) O ministro poderia afirmar e explicar quais eram as qualificações próprias, e poderia dissuadir os desqualificados para a comunhão, mas não tinha o poder de recusá-la ou infligir qualquer tipo de censura; e 4) A punição de todas as ofensas, seja de natureza civil ou religiosa, pertencia exclusivamente ao magistrado civil Houve somente dois teólogos na Assembléia que sustentaram a teoria erastiana. Mas, a despeito de serem somente dois, as suas opiniões possuíam o apoio da maioria das autoridades civis da Inglaterra. Eles também contavam com o apoio da realeza, que sustentava o direito divino dos reis, inclusive o de ter domínio sobre a Igreja. Existiam diferenças significativas entre o presbiterianismo dos membros ingleses da Assembléia e o presbiterianismo dos comissários escoceses. O presbiterianismo escocês era rígido e julgava que a forma de governo presbiteriano era um direito apontado por Deus na Escritura. Já os ingleses eram moderados; de uma maneira geral, embora concordassem com o sistema presbiteriano de governo, não aceitavam sua origem divina. Quando as idéias de Cromwell começaram a prevalecer na Inglaterra, os presbiterianos escoceses se revoltaram e romperam a aliança com o Parlamento Inglês, aliando-se ao rei contra Cromwell, que os derrotou em 1648, e colocou a Escócia sob ocupação militar. Em dezembro desse mesmo ano, Cromwell perseguiu muitos presbiterianos no Parlamento Inglês, colocando-os para fora. Em janeiro de 1649, o rei Carlos I foi executado. A Forma de Governo Eclesiástico, embora tenha sido concluída em 1644, só foi aprovada pelo Parlamento em 29 de agosto de 1648. A Assembléia instituiu a forma de governo presbiteriana em lugar da episcopal, com seus bispos e arcebispos. Somente uns poucos presbiterianos restaram na Inglaterra depois de terem sido derrotados
  • 7. 7 por Cromwell. Em conseqüência, os padrões de Westminster, de fato, não tiveram grande impacto na própria Inglaterra, após o colapso do presbiterianismo puritano. Apesar dos problemas na Inglaterra, a Igreja da Escócia adotou os padrões de Westminster e permaneceu fiel ao sistema presbiteriano de governo, embora, ao longo de sua história, esse ideal nem sempre foi alcançado. Somente em 1689, o presbiterianismo foi estabelecido definitivamente; embora algumas modificações feitas pelo Parlamento tenham produzido várias divisões na igreja. Além das Ilhas Britânicas, as igrejas reformadas do Continente Europeu e dos Estados Unidos em especial adotaram o sistema de governo presbiteriano com algumas especificidades locais. 5. O Presbiterianismo O Presbiterianismo é uma forma de governo da igreja e uma tradição teológica particular encontrada na denominação presbiteriana e em outras denominações reformadas. As igrejas que seguem esta tradição constituem um dos quatro maiores grupos derivados da Reforma do século XVI – luteranos, presbiterianos e reformados, anglicanos e anabatistas. O termo presbiteriano é derivado do grego presbyteros, e o governo da igreja por presbíteros é característico das igrejas presbiterianas e reformadas. Existem dois tipos de presbíteros: os docentes e os regentes, respectivamente, pastores e leigos. Esses oficiais passam necessariamente por um processo eletivo nas igrejas locais em que pastoreiam ou congregam. O governo da igreja presbiteriana é comumente chamado de “sistema misto” de democracia e elementos hierárquicos, porque o poder é balanceado entre pastores e leigos e entre congregações e os corpos de governo maiores da igreja. Embora a estrutura de governo da igreja presbiteriana varie, usualmente consiste de um sistema conciliar ascendente. Cada congregação é governada por um conselho ou consistório, composto pelo pastor e por presbíteros, que são eleitos representantes da congregação. A congregação faz parte do presbitério, ou classe, que coordena e governa as atividades das congregações dentro de uma determinada área geográfica. São membros de um presbitério todos os pastores e os presbíteros representantes de cada uma congregação. O poder para ordenar ministros repousa com o Presbitério, em contraste com a forma episcopal de governo da Igreja, na qual isto é feito por um bispo, e com o governo da igreja congregacional, onde a congregação retém o poder para a ordenação. Em um sentido amplo, o presbitério serve como um bispado comunal, exercendo tanto responsabilidades pastorais como de disciplina para suas igrejas. Os presbitérios pertencem aos sínodos, que são as maiores unidades geográficas da igreja. A Assembléia Geral, ou Sínodo Geral, governa toda a Igreja. Em todos os níveis de concílio, a igreja é governada por seus presbíteros – pastores e leigos, eleitos como representantes do povo. Os presbiterianos crêem firmemente no sacerdócio de todos os fiéis, ou seja, todos os
  • 8. crentes são iguais em sua dignidade e direitos. Não existe distinção entre clero e leigos: todo crente é um ministro de Deus. Os ofícios instituídos na igreja (pastor, presbítero, diácono) visam apenas dar maior ordem e estabilidade ao trabalho e suprir necessidades nas áreas de liderança, assistência espiritual e beneficência. O sistema presbiteriano é democrático e representativo. Todos os membros comungantes da igreja têm o direito e o dever de envolver-se nas atividades e decisões da comunidade, participando das assembléias, elegendo oficiais, contribuindo para o sustento da igreja e seus programas, servindo em diferentes áreas conforme os dons e capacidades de cada um. O conceito do pacto tem muitas implicações para a vida familiar e eclesial. A tradição reformada também dá grande valor à participação do crente na comunidade mais ampla, a sociedade. Calvino, a partir das suas convicções teológicas e da sua experiência em Genebra, insistiu que o cristão deve viver responsavelmente no mundo, como cidadão, como profissional e em outras capacidades. Deus é o senhor de todas as coisas; portanto, todas as esferas da vida devem refletir os valores do seu reino.