SlideShare a Scribd company logo
1 of 4
Download to read offline
Principais ideias do texto:

 A proposta Sócio-retórica de John M. Swales para o estudo de Gêneros Textuais.
                                                                          Barbara Hemais
                                                               Bernardete Biasi-Rodrigues


 Introdução:
 Obra de Swales: voltada para aplicações em análise de gêneros textuais em contextos
  acadêmicos e profissionais
 Seus trabalhos: tratam de conceitos-chave na análise de gêneros textuais, delineiam a própria
  área de pesquisa e utilizam a análise textual para iluminar o gênero e as práticas sociais que
  subjazem ao gênero.

As Raízes da Teoria de Swales
 Suas publicações confirmam seu interesse na análise formal e discursiva de gêneros variados.
 Duas publicações: Academic Writing for Graduate Students: Essential Tasks and Skills (1994)
   e English in Today`s Research World: a Writing Guide (2000).
 Swales se mantem fiel a: uma abordagem que se apoia em uma análise linguística que revela
   muito da construção do texto e das práticas sociais (acadêmicas e sociais) que determinam
   as escolhas linguísticas que configuram o texto.
 É uma abordagem de relevância para o ensino, devido ao fato de que a conscientização
   linguística torna o ensino/aprendizagem mais eficaz.

 Concepções Teóricas de Gênero Textual
    1. Fontes do modelo de Swales
  Para Swales o texto deve ser visto em seu contexto e não pode ser completamente entendido
   e interpretado apenas por meio de uma análise de elementos linguísticos.
  O conhecimento em torno do texto em si é insuficiente para quem precisa redigir um texto
   acadêmico.
  O conhecimento do gênero, que depende de conhecimentos além daqueles relevantes ao
   próprio texto, é uma ferramenta primordial.
  A noção de gênero para Swales: resultado do entrelaçamento de tradições de vários campos
   de estudo.
  Influências na abordagem desenvolvida por Swales:
             a. Estudos das variedades funcionais do inglês.
             b. Estudo das quatro habilidades na aprendizagem (mais especificamente
                influência das estratégias usadas para leitura com objetivos variados).
             c. Pesquisa na área da aprendizagem sobre as abordagens de noções e funções, que
                contam para sua visão de gênero, por causa dos fatores do propósito
                comunicativo da linguagem e das necessidades do aprendiz:
  Swales acredita que uma função pode ser realizada por mais de um enunciado e um
   enunciado pode ter mais de uma função, dependendo dos propósitos do falante.
             d. Análise do discurso:
  Os aspectos da estrutura temática, a coesão, a coerência, e os macropadrões de discurso
     (problema-solução, tópico- restrição-ilustração).
             e. Linguística, etnografia e teoria de ensino de produção de texto.
             f. Influência do antropólogo Clifford Geertz.
       Swales percebe na obra de Geertz a pertinência e a adequação de uma perspectiva
  antropológica, pois um antropólogo reconhece que as diferenças representam formas de
  conhecimento do mundo.

     2. O gênero textual na perspectiva de Swales
2.1 Swales se vale de quatro perspectivas teóricas sobre gênero textual para balizar
     sua visão de gênero:
  a. Estudos de folclore:
              Classificar os gêneros, para os folcloristas, pode ter alguma utilidade em
                  termos de oferecer uma tipologia;
              Para os folcloristas, uma comunidade percebe e entende os gêneros textuais
                  como meios para alguma finalidade e,
              A percepção que a comunidade tem sobre como interpretar um texto é
                  muito valiosa para o analista do gênero.
  b. Estudos literários: ao contrário dos folcloristas, que dão importância à permanência da
       forma, os críticos e teóricos de literatura destacam a sua não-estabilidade. O fato de
       um texto se desviar das convenções, ou transgredir as formas, significa que existem
       “regulamentos”que estão sofrendo transgressão.
  c. Linguística:
            Os gêneros realizam propósitos sociais e a realização de um gênero se faz
               através do discurso e por isso a análise de estruturas discursivas se integra na
               abordagem dos estudos de gênero
  d. Estudos de retórica:
            Interesse da retórica pela classificação dos diversos tipos de discurso, ilustrado
               pelas categorias de expressivo, persuasivo, literário e referencial, propostas
               por Kineavy (1971).
            Reconhecendo as falhas dessa classificação, Swales se alinha com estudiosos
               que consideram o contexto do discurso e prefere uma abordagem analítica que
               estuda os exemplos de gêneros para chegar a fatores retóricos que de outra
               forma poderiam passar despercebidos.
2.2 Definição de gênero para Swales (sempre com o ensino em mente):
 Ideia de Classe: o gênero é uma classe de eventos comunicativos, sendo o evento uma
     situação em que a linguagem verbal tem um papel significativo e indispensável.
 Propósito comunicativo: os gêneros tem a função de realizar um objetivo ou objetivos.
     Obs: Swales sustenta a posição de que o propósito comunicativo é o critério de maior
     importância porque o propósito motiva uma ação e é vinculado ao poder. (Swales, 1990,
     p.47)
  Prototipicidade: um texto será classificado como sendo do gênero se possuir os traços
   especificados na definição do gênero.
  Razão subjacente: é a lógica do gênero, e nessa lógica, os membros da comunidade
   reconhecem o gênero. De acordo com seu entendimento do propósito, os membros
   utilizam convenções que realizam o gênero com o propósito apropriado. A razão,
   vinculada às convenções do discurso, estabelece restrições em termos de conteúdo,
   posicionamento e forma (exemplo: carta administrativa com boas e más notícias).
  Terminologia: os termos atribuídos aos gêneros são indicadores de como os membros
   mais experientes e ativos da comunidade, que dão nome aos gêneros, entendem a ação
   retórica das classes de eventos comunicativos.
   Obs: com o passar do tempo, enquanto os nomes dos gêneros se mantém, as atividades
   associadas com os gêneros mudam, como é o caso da palestra, que às vezes deixa de ser
   um monólogo, passando a ser um evento interativo.




2.3 O conceito de comunidade discursiva

 Conceito de comunidade discursiva lançado por Swales com a publicação de Genre
Analysis (1990) provocou debate entre acadêmicos.
 Um dos pontos fracos: está no fato de que a comunidade discursiva era concebida como
um grupo verdadeiro e estável, marcado pelo consenso em suas posições. Swales questiona
se uma comunidade discursiva é de verdade um construto social ou uma ilusão que serve
para generalizações sobre o mundo.
 Swales diz que o conceito de 1990 serviu para validar grupos já existentes, mas não
forneceu meios de analisar o processo de formação de grupos.
 Em Other Floors, Other Voices, Swales elabora uma análise detalhada de três unidades
distintas na universidade (University of Michigan), para repensar o conceito de comunidade
discursiva, e passa a chamá-la de “teoria da comunidade discursiva”.
 Conclusões desta teoria:
   a. A comunidade discursiva possui princípios e práticas que tem uma base linguística,
       retórica, metodológica e ética- visão de James Porter (1992). Swales entende que o
       argumento de Porter é relevante porque propõe a ideia da instabilidade da comunidade
       discursiva e percebe que o enfoque do grupo concentra a força unificadora da
       comunidade.
   b. Distinção entre comunidade discursiva local (os membros trabalham juntos) e global (os
       membros tem compromisso com diversos tipos de ação e discursos)- visão de
       Killingsworth & Gilbertson (1992): A partir dessa discussão Swales propõe o conceito
       de comunidade discursiva de lugar, como um grupo de pessoas que trabalham juntas e
       que tem uma noção estável, embora em evolução, dos objetivos propostos pelo seu
       grupo

2.4 O conceito de propósito comunicativo revisto

    Concepção original do conceito de propósito comunicativo: é o critério privilegiado
     na definição de gênero, embasa o gênero e determina não apenas sua estrutura
     esquemática, mas também as escolhas em torno de conteúdo e estilo.
    Ao reavaliar o conceito de propósito comunicativo, Askehave & Swales entendem que
     o propósito comunicativo é menos visível do que a forma, e portanto dificilmente
     servirá como critério básico para a conceituação de um gênero. Além disso,
     consideram que, embora membros da comunidade discursiva tenham grande
     conhecimento dos gêneros, podem não concordar quanto ao propósito de determinado
     gênero.
    Procedimentos possíveis para a identificação de gêneros- Askehave &Swales-
         a. Procedimento textual/linguístico: o propósito comunicativo é examinado, em
              uma das etapas, junto com a estrutura do gênero, o estilo e o conteúdo. Em
              seguida, o propósito é uma fator na revisão, ou redefinição, do gênero
              (repurposing the genre).
         b. Procedimento contextual: o propósito comunicativo mantém a sua relevância
              na revisão do gênero, mas as outras etapas no processo constituem-se da
              identificação da comunidade, seus valores, suas expectativas, e seu repertório
              de gêneros, além dos traços dos gêneros que fazem parte do repertório da
              comunidade.




3. O Modelo CARS

  O trabalho de Swales (1984) deu origem ao modelo CARS (create a research space).


    MOVIMENTO 1: Estabelecer território
Passo 1: Estabelecer a importância da pesquisa        e/ou
       Passo 2: Fazer generalização/ões quanto ao tópico    e/ou
       Passo 3: Revisar a literatura (pesquisas prévias )           Diminuindo o esforço retórico

       MOVIMENTO 2: Estabelecer o nicho
       Passo 1A: contra-argumentar                           ou
       Passo 1 B: indicar lacuna/s no conhecimento           ou
       Passo 1C: provocar questionamento                     ou
       Passo 1D: Continuar a tradição                               Enfraquecendo os possíveis
                                                                         questionamentos

       MOVIMENTO 3: Ocupar o nicho
       Passo 1 A: delinear os objetivos                      ou
       Passo 1 B: apresentar a pesquisa
       Passo 2: apresentar os principais resultados
       Passo 3: indicar a estrutura do artigo                        Explicitando o trabalho

       Modelo CARS para introduções de artigos de pesquisa (SWALES, 1990, p. 141).

    3.1 Aplicações do modelo CARS

      Vários pesquisadores testaram o modelo CARS com diferentes peças genéricas:
    seções de métodos e resultados em textos de química, seções de introdução e
    discussão de dissertações de mestrado, textos científicos, resenhas de livros
    resumos de artigos de pesquisa, resumos de dissertações, depoimentos de alcoólicos
    anônimos, resenhas acadêmicas e seções de revisão da literatura.

    4. Discussão e conclusão

 Swales define o gênero como uma classe de eventos comunicativos, com um
  propósito comunicativo realizado por comunidades discursivas que reconhecem
  a lógica subjacente ao gênero, possuem um repertório de gêneros, desenvolvem
  um léxico próprio para o gênero e atribuem ao gênero as convenções discursivas
  e os valores adequados.
 Comunidade discursiva passou a ser caracterizada como um grupo que trabalha
  junto e mantém seu repertório de gêneros, com traços retóricos evidentes e com
  a força que valida as atividades da comunidade.
 O propósito, na revisão da retórica, é o elemento que tem um certo peso quando
  a análise de um gênero leva a uma reavaliação do gênero.
 O modelo CARS como a maior contribuição de Swales para a análise do discurso
  e linguística aplicada.

More Related Content

What's hot

Cap 8 antropologia social
Cap 8 antropologia socialCap 8 antropologia social
Cap 8 antropologia social
Joao Balbi
 
AS REFORMAS NAS DIRETRIZES CURRICULARES PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCA...
AS REFORMAS NAS DIRETRIZES CURRICULARES PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCA...AS REFORMAS NAS DIRETRIZES CURRICULARES PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCA...
AS REFORMAS NAS DIRETRIZES CURRICULARES PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCA...
cidacandine
 
Respostas do blog personagens
Respostas do blog personagensRespostas do blog personagens
Respostas do blog personagens
Paulo Campos
 
Educação, paradígmas e tendências
Educação, paradígmas e tendênciasEducação, paradígmas e tendências
Educação, paradígmas e tendências
Pedagogiasoft
 
Educação, paradigmas e tendências
Educação, paradigmas e tendênciasEducação, paradigmas e tendências
Educação, paradigmas e tendências
Eduardo Kerner
 
Teoria Crítica do Currículo - Moreira e Silva
Teoria Crítica do Currículo - Moreira e SilvaTeoria Crítica do Currículo - Moreira e Silva
Teoria Crítica do Currículo - Moreira e Silva
Lucila Pesce
 

What's hot (20)

Concepções de Educação
Concepções de EducaçãoConcepções de Educação
Concepções de Educação
 
Trabalho gilberto freyre ebepe
Trabalho gilberto freyre ebepeTrabalho gilberto freyre ebepe
Trabalho gilberto freyre ebepe
 
Veiller en bibliothèque. Pourquoi ? Avec quels outils ? Pour quels résultats ...
Veiller en bibliothèque. Pourquoi ? Avec quels outils ? Pour quels résultats ...Veiller en bibliothèque. Pourquoi ? Avec quels outils ? Pour quels résultats ...
Veiller en bibliothèque. Pourquoi ? Avec quels outils ? Pour quels résultats ...
 
Cap 8 antropologia social
Cap 8 antropologia socialCap 8 antropologia social
Cap 8 antropologia social
 
AS REFORMAS NAS DIRETRIZES CURRICULARES PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCA...
AS REFORMAS NAS DIRETRIZES CURRICULARES PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCA...AS REFORMAS NAS DIRETRIZES CURRICULARES PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCA...
AS REFORMAS NAS DIRETRIZES CURRICULARES PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCA...
 
Respostas do blog personagens
Respostas do blog personagensRespostas do blog personagens
Respostas do blog personagens
 
Elementos da didática do online.Algumas reflexões. .
Elementos da didática do online.Algumas reflexões. .Elementos da didática do online.Algumas reflexões. .
Elementos da didática do online.Algumas reflexões. .
 
Antropologia cultura
Antropologia   culturaAntropologia   cultura
Antropologia cultura
 
Surgimento da sociologia
Surgimento da sociologiaSurgimento da sociologia
Surgimento da sociologia
 
Antropologia e educação2223
Antropologia e educação2223Antropologia e educação2223
Antropologia e educação2223
 
Educação, paradígmas e tendências
Educação, paradígmas e tendênciasEducação, paradígmas e tendências
Educação, paradígmas e tendências
 
Como fazer pesquisa
Como fazer  pesquisaComo fazer  pesquisa
Como fazer pesquisa
 
Educação, paradigmas e tendências
Educação, paradigmas e tendênciasEducação, paradigmas e tendências
Educação, paradigmas e tendências
 
Jogo de Tabuleiro Sociologia - Correntes Sociológicas
Jogo de Tabuleiro Sociologia - Correntes Sociológicas Jogo de Tabuleiro Sociologia - Correntes Sociológicas
Jogo de Tabuleiro Sociologia - Correntes Sociológicas
 
Teoria Crítica do Currículo - Moreira e Silva
Teoria Crítica do Currículo - Moreira e SilvaTeoria Crítica do Currículo - Moreira e Silva
Teoria Crítica do Currículo - Moreira e Silva
 
Avaliação na educação infantil
Avaliação na educação infantilAvaliação na educação infantil
Avaliação na educação infantil
 
Vygotsky
VygotskyVygotsky
Vygotsky
 
Antropologia (2)
Antropologia (2)Antropologia (2)
Antropologia (2)
 
Teoria da aprendizagem de vygotsky
Teoria da aprendizagem de vygotskyTeoria da aprendizagem de vygotsky
Teoria da aprendizagem de vygotsky
 
Antropologia CONCEITOS BÁSICOS
Antropologia CONCEITOS BÁSICOSAntropologia CONCEITOS BÁSICOS
Antropologia CONCEITOS BÁSICOS
 

Similar to Sobre Swales

Gêneros no ensino de línguas Marcuschi
Gêneros no ensino de línguas   MarcuschiGêneros no ensino de línguas   Marcuschi
Gêneros no ensino de línguas Marcuschi
Mauro Toniolo Silva
 
Sintese do texto Um passo para fora da sala de aula
Sintese do texto  Um passo para fora da sala de aulaSintese do texto  Um passo para fora da sala de aula
Sintese do texto Um passo para fora da sala de aula
Sonia Piaya
 
Gêneros textuais marcuschi
Gêneros textuais   marcuschiGêneros textuais   marcuschi
Gêneros textuais marcuschi
Sonia Nudelman
 
PNAIC - Porque ensinar gêneros textuais na escola
PNAIC - Porque ensinar gêneros textuais na escolaPNAIC - Porque ensinar gêneros textuais na escola
PNAIC - Porque ensinar gêneros textuais na escola
ElieneDias
 
Generos e tipos textuais ppt
Generos e tipos textuais pptGeneros e tipos textuais ppt
Generos e tipos textuais ppt
pnaicdertsis
 

Similar to Sobre Swales (20)

swales hemais & biasi-rodrigues
swales   hemais & biasi-rodriguesswales   hemais & biasi-rodrigues
swales hemais & biasi-rodrigues
 
Bonini 2001
Bonini 2001Bonini 2001
Bonini 2001
 
Generos textuais
Generos textuais Generos textuais
Generos textuais
 
Gêneros no ensino de línguas Marcuschi
Gêneros no ensino de línguas   MarcuschiGêneros no ensino de línguas   Marcuschi
Gêneros no ensino de línguas Marcuschi
 
Sintese do texto Um passo para fora da sala de aula
Sintese do texto  Um passo para fora da sala de aulaSintese do texto  Um passo para fora da sala de aula
Sintese do texto Um passo para fora da sala de aula
 
255 4
255 4255 4
255 4
 
Debate em sala de aula práticas de linguagem em um gênero escolar
Debate em sala de aula práticas de linguagem em um gênero escolarDebate em sala de aula práticas de linguagem em um gênero escolar
Debate em sala de aula práticas de linguagem em um gênero escolar
 
Análise de gêneros do discurso na teoria bakhtiniana
Análise de gêneros do discurso na teoria bakhtinianaAnálise de gêneros do discurso na teoria bakhtiniana
Análise de gêneros do discurso na teoria bakhtiniana
 
Análise crítica do discurso
Análise crítica do discursoAnálise crítica do discurso
Análise crítica do discurso
 
Minicurso | Análise de Discurso Crítica e Mídia | Semana de Letras - UFV
Minicurso | Análise de Discurso Crítica e Mídia | Semana de Letras - UFVMinicurso | Análise de Discurso Crítica e Mídia | Semana de Letras - UFV
Minicurso | Análise de Discurso Crítica e Mídia | Semana de Letras - UFV
 
O agrupamento de gêneros argumentativos em diferentes proposta
O agrupamento de gêneros argumentativos em diferentes propostaO agrupamento de gêneros argumentativos em diferentes proposta
O agrupamento de gêneros argumentativos em diferentes proposta
 
AULA 04 (TEXTO 1).pdf
AULA 04 (TEXTO 1).pdfAULA 04 (TEXTO 1).pdf
AULA 04 (TEXTO 1).pdf
 
Pauta
PautaPauta
Pauta
 
Leitura e escrita em História
Leitura e escrita em HistóriaLeitura e escrita em História
Leitura e escrita em História
 
Gêneros textuais marcuschi
Gêneros textuais   marcuschiGêneros textuais   marcuschi
Gêneros textuais marcuschi
 
Sequência didática
Sequência didáticaSequência didática
Sequência didática
 
PNAIC - Porque ensinar gêneros textuais na escola
PNAIC - Porque ensinar gêneros textuais na escolaPNAIC - Porque ensinar gêneros textuais na escola
PNAIC - Porque ensinar gêneros textuais na escola
 
Gêneros Textuais
Gêneros TextuaisGêneros Textuais
Gêneros Textuais
 
Encontro do dia 17/04/2012
Encontro do dia 17/04/2012Encontro do dia 17/04/2012
Encontro do dia 17/04/2012
 
Generos e tipos textuais ppt
Generos e tipos textuais pptGeneros e tipos textuais ppt
Generos e tipos textuais ppt
 

Sobre Swales

  • 1. Principais ideias do texto: A proposta Sócio-retórica de John M. Swales para o estudo de Gêneros Textuais. Barbara Hemais Bernardete Biasi-Rodrigues Introdução:  Obra de Swales: voltada para aplicações em análise de gêneros textuais em contextos acadêmicos e profissionais  Seus trabalhos: tratam de conceitos-chave na análise de gêneros textuais, delineiam a própria área de pesquisa e utilizam a análise textual para iluminar o gênero e as práticas sociais que subjazem ao gênero. As Raízes da Teoria de Swales  Suas publicações confirmam seu interesse na análise formal e discursiva de gêneros variados.  Duas publicações: Academic Writing for Graduate Students: Essential Tasks and Skills (1994) e English in Today`s Research World: a Writing Guide (2000).  Swales se mantem fiel a: uma abordagem que se apoia em uma análise linguística que revela muito da construção do texto e das práticas sociais (acadêmicas e sociais) que determinam as escolhas linguísticas que configuram o texto.  É uma abordagem de relevância para o ensino, devido ao fato de que a conscientização linguística torna o ensino/aprendizagem mais eficaz. Concepções Teóricas de Gênero Textual 1. Fontes do modelo de Swales  Para Swales o texto deve ser visto em seu contexto e não pode ser completamente entendido e interpretado apenas por meio de uma análise de elementos linguísticos.  O conhecimento em torno do texto em si é insuficiente para quem precisa redigir um texto acadêmico.  O conhecimento do gênero, que depende de conhecimentos além daqueles relevantes ao próprio texto, é uma ferramenta primordial.  A noção de gênero para Swales: resultado do entrelaçamento de tradições de vários campos de estudo.  Influências na abordagem desenvolvida por Swales: a. Estudos das variedades funcionais do inglês. b. Estudo das quatro habilidades na aprendizagem (mais especificamente influência das estratégias usadas para leitura com objetivos variados). c. Pesquisa na área da aprendizagem sobre as abordagens de noções e funções, que contam para sua visão de gênero, por causa dos fatores do propósito comunicativo da linguagem e das necessidades do aprendiz:  Swales acredita que uma função pode ser realizada por mais de um enunciado e um enunciado pode ter mais de uma função, dependendo dos propósitos do falante. d. Análise do discurso:  Os aspectos da estrutura temática, a coesão, a coerência, e os macropadrões de discurso (problema-solução, tópico- restrição-ilustração). e. Linguística, etnografia e teoria de ensino de produção de texto. f. Influência do antropólogo Clifford Geertz.  Swales percebe na obra de Geertz a pertinência e a adequação de uma perspectiva antropológica, pois um antropólogo reconhece que as diferenças representam formas de conhecimento do mundo. 2. O gênero textual na perspectiva de Swales
  • 2. 2.1 Swales se vale de quatro perspectivas teóricas sobre gênero textual para balizar sua visão de gênero: a. Estudos de folclore:  Classificar os gêneros, para os folcloristas, pode ter alguma utilidade em termos de oferecer uma tipologia;  Para os folcloristas, uma comunidade percebe e entende os gêneros textuais como meios para alguma finalidade e,  A percepção que a comunidade tem sobre como interpretar um texto é muito valiosa para o analista do gênero. b. Estudos literários: ao contrário dos folcloristas, que dão importância à permanência da forma, os críticos e teóricos de literatura destacam a sua não-estabilidade. O fato de um texto se desviar das convenções, ou transgredir as formas, significa que existem “regulamentos”que estão sofrendo transgressão. c. Linguística:  Os gêneros realizam propósitos sociais e a realização de um gênero se faz através do discurso e por isso a análise de estruturas discursivas se integra na abordagem dos estudos de gênero d. Estudos de retórica:  Interesse da retórica pela classificação dos diversos tipos de discurso, ilustrado pelas categorias de expressivo, persuasivo, literário e referencial, propostas por Kineavy (1971).  Reconhecendo as falhas dessa classificação, Swales se alinha com estudiosos que consideram o contexto do discurso e prefere uma abordagem analítica que estuda os exemplos de gêneros para chegar a fatores retóricos que de outra forma poderiam passar despercebidos. 2.2 Definição de gênero para Swales (sempre com o ensino em mente):  Ideia de Classe: o gênero é uma classe de eventos comunicativos, sendo o evento uma situação em que a linguagem verbal tem um papel significativo e indispensável.  Propósito comunicativo: os gêneros tem a função de realizar um objetivo ou objetivos. Obs: Swales sustenta a posição de que o propósito comunicativo é o critério de maior importância porque o propósito motiva uma ação e é vinculado ao poder. (Swales, 1990, p.47)  Prototipicidade: um texto será classificado como sendo do gênero se possuir os traços especificados na definição do gênero.  Razão subjacente: é a lógica do gênero, e nessa lógica, os membros da comunidade reconhecem o gênero. De acordo com seu entendimento do propósito, os membros utilizam convenções que realizam o gênero com o propósito apropriado. A razão, vinculada às convenções do discurso, estabelece restrições em termos de conteúdo, posicionamento e forma (exemplo: carta administrativa com boas e más notícias).  Terminologia: os termos atribuídos aos gêneros são indicadores de como os membros mais experientes e ativos da comunidade, que dão nome aos gêneros, entendem a ação retórica das classes de eventos comunicativos. Obs: com o passar do tempo, enquanto os nomes dos gêneros se mantém, as atividades associadas com os gêneros mudam, como é o caso da palestra, que às vezes deixa de ser um monólogo, passando a ser um evento interativo. 2.3 O conceito de comunidade discursiva  Conceito de comunidade discursiva lançado por Swales com a publicação de Genre Analysis (1990) provocou debate entre acadêmicos.  Um dos pontos fracos: está no fato de que a comunidade discursiva era concebida como um grupo verdadeiro e estável, marcado pelo consenso em suas posições. Swales questiona
  • 3. se uma comunidade discursiva é de verdade um construto social ou uma ilusão que serve para generalizações sobre o mundo.  Swales diz que o conceito de 1990 serviu para validar grupos já existentes, mas não forneceu meios de analisar o processo de formação de grupos.  Em Other Floors, Other Voices, Swales elabora uma análise detalhada de três unidades distintas na universidade (University of Michigan), para repensar o conceito de comunidade discursiva, e passa a chamá-la de “teoria da comunidade discursiva”.  Conclusões desta teoria: a. A comunidade discursiva possui princípios e práticas que tem uma base linguística, retórica, metodológica e ética- visão de James Porter (1992). Swales entende que o argumento de Porter é relevante porque propõe a ideia da instabilidade da comunidade discursiva e percebe que o enfoque do grupo concentra a força unificadora da comunidade. b. Distinção entre comunidade discursiva local (os membros trabalham juntos) e global (os membros tem compromisso com diversos tipos de ação e discursos)- visão de Killingsworth & Gilbertson (1992): A partir dessa discussão Swales propõe o conceito de comunidade discursiva de lugar, como um grupo de pessoas que trabalham juntas e que tem uma noção estável, embora em evolução, dos objetivos propostos pelo seu grupo 2.4 O conceito de propósito comunicativo revisto  Concepção original do conceito de propósito comunicativo: é o critério privilegiado na definição de gênero, embasa o gênero e determina não apenas sua estrutura esquemática, mas também as escolhas em torno de conteúdo e estilo.  Ao reavaliar o conceito de propósito comunicativo, Askehave & Swales entendem que o propósito comunicativo é menos visível do que a forma, e portanto dificilmente servirá como critério básico para a conceituação de um gênero. Além disso, consideram que, embora membros da comunidade discursiva tenham grande conhecimento dos gêneros, podem não concordar quanto ao propósito de determinado gênero.  Procedimentos possíveis para a identificação de gêneros- Askehave &Swales- a. Procedimento textual/linguístico: o propósito comunicativo é examinado, em uma das etapas, junto com a estrutura do gênero, o estilo e o conteúdo. Em seguida, o propósito é uma fator na revisão, ou redefinição, do gênero (repurposing the genre). b. Procedimento contextual: o propósito comunicativo mantém a sua relevância na revisão do gênero, mas as outras etapas no processo constituem-se da identificação da comunidade, seus valores, suas expectativas, e seu repertório de gêneros, além dos traços dos gêneros que fazem parte do repertório da comunidade. 3. O Modelo CARS  O trabalho de Swales (1984) deu origem ao modelo CARS (create a research space). MOVIMENTO 1: Estabelecer território
  • 4. Passo 1: Estabelecer a importância da pesquisa e/ou Passo 2: Fazer generalização/ões quanto ao tópico e/ou Passo 3: Revisar a literatura (pesquisas prévias ) Diminuindo o esforço retórico MOVIMENTO 2: Estabelecer o nicho Passo 1A: contra-argumentar ou Passo 1 B: indicar lacuna/s no conhecimento ou Passo 1C: provocar questionamento ou Passo 1D: Continuar a tradição Enfraquecendo os possíveis questionamentos MOVIMENTO 3: Ocupar o nicho Passo 1 A: delinear os objetivos ou Passo 1 B: apresentar a pesquisa Passo 2: apresentar os principais resultados Passo 3: indicar a estrutura do artigo Explicitando o trabalho Modelo CARS para introduções de artigos de pesquisa (SWALES, 1990, p. 141). 3.1 Aplicações do modelo CARS  Vários pesquisadores testaram o modelo CARS com diferentes peças genéricas: seções de métodos e resultados em textos de química, seções de introdução e discussão de dissertações de mestrado, textos científicos, resenhas de livros resumos de artigos de pesquisa, resumos de dissertações, depoimentos de alcoólicos anônimos, resenhas acadêmicas e seções de revisão da literatura. 4. Discussão e conclusão  Swales define o gênero como uma classe de eventos comunicativos, com um propósito comunicativo realizado por comunidades discursivas que reconhecem a lógica subjacente ao gênero, possuem um repertório de gêneros, desenvolvem um léxico próprio para o gênero e atribuem ao gênero as convenções discursivas e os valores adequados.  Comunidade discursiva passou a ser caracterizada como um grupo que trabalha junto e mantém seu repertório de gêneros, com traços retóricos evidentes e com a força que valida as atividades da comunidade.  O propósito, na revisão da retórica, é o elemento que tem um certo peso quando a análise de um gênero leva a uma reavaliação do gênero.  O modelo CARS como a maior contribuição de Swales para a análise do discurso e linguística aplicada.