1. Principais ideias do texto:
A proposta Sócio-retórica de John M. Swales para o estudo de Gêneros Textuais.
Barbara Hemais
Bernardete Biasi-Rodrigues
Introdução:
Obra de Swales: voltada para aplicações em análise de gêneros textuais em contextos
acadêmicos e profissionais
Seus trabalhos: tratam de conceitos-chave na análise de gêneros textuais, delineiam a própria
área de pesquisa e utilizam a análise textual para iluminar o gênero e as práticas sociais que
subjazem ao gênero.
As Raízes da Teoria de Swales
Suas publicações confirmam seu interesse na análise formal e discursiva de gêneros variados.
Duas publicações: Academic Writing for Graduate Students: Essential Tasks and Skills (1994)
e English in Today`s Research World: a Writing Guide (2000).
Swales se mantem fiel a: uma abordagem que se apoia em uma análise linguística que revela
muito da construção do texto e das práticas sociais (acadêmicas e sociais) que determinam
as escolhas linguísticas que configuram o texto.
É uma abordagem de relevância para o ensino, devido ao fato de que a conscientização
linguística torna o ensino/aprendizagem mais eficaz.
Concepções Teóricas de Gênero Textual
1. Fontes do modelo de Swales
Para Swales o texto deve ser visto em seu contexto e não pode ser completamente entendido
e interpretado apenas por meio de uma análise de elementos linguísticos.
O conhecimento em torno do texto em si é insuficiente para quem precisa redigir um texto
acadêmico.
O conhecimento do gênero, que depende de conhecimentos além daqueles relevantes ao
próprio texto, é uma ferramenta primordial.
A noção de gênero para Swales: resultado do entrelaçamento de tradições de vários campos
de estudo.
Influências na abordagem desenvolvida por Swales:
a. Estudos das variedades funcionais do inglês.
b. Estudo das quatro habilidades na aprendizagem (mais especificamente
influência das estratégias usadas para leitura com objetivos variados).
c. Pesquisa na área da aprendizagem sobre as abordagens de noções e funções, que
contam para sua visão de gênero, por causa dos fatores do propósito
comunicativo da linguagem e das necessidades do aprendiz:
Swales acredita que uma função pode ser realizada por mais de um enunciado e um
enunciado pode ter mais de uma função, dependendo dos propósitos do falante.
d. Análise do discurso:
Os aspectos da estrutura temática, a coesão, a coerência, e os macropadrões de discurso
(problema-solução, tópico- restrição-ilustração).
e. Linguística, etnografia e teoria de ensino de produção de texto.
f. Influência do antropólogo Clifford Geertz.
Swales percebe na obra de Geertz a pertinência e a adequação de uma perspectiva
antropológica, pois um antropólogo reconhece que as diferenças representam formas de
conhecimento do mundo.
2. O gênero textual na perspectiva de Swales
2. 2.1 Swales se vale de quatro perspectivas teóricas sobre gênero textual para balizar
sua visão de gênero:
a. Estudos de folclore:
Classificar os gêneros, para os folcloristas, pode ter alguma utilidade em
termos de oferecer uma tipologia;
Para os folcloristas, uma comunidade percebe e entende os gêneros textuais
como meios para alguma finalidade e,
A percepção que a comunidade tem sobre como interpretar um texto é
muito valiosa para o analista do gênero.
b. Estudos literários: ao contrário dos folcloristas, que dão importância à permanência da
forma, os críticos e teóricos de literatura destacam a sua não-estabilidade. O fato de
um texto se desviar das convenções, ou transgredir as formas, significa que existem
“regulamentos”que estão sofrendo transgressão.
c. Linguística:
Os gêneros realizam propósitos sociais e a realização de um gênero se faz
através do discurso e por isso a análise de estruturas discursivas se integra na
abordagem dos estudos de gênero
d. Estudos de retórica:
Interesse da retórica pela classificação dos diversos tipos de discurso, ilustrado
pelas categorias de expressivo, persuasivo, literário e referencial, propostas
por Kineavy (1971).
Reconhecendo as falhas dessa classificação, Swales se alinha com estudiosos
que consideram o contexto do discurso e prefere uma abordagem analítica que
estuda os exemplos de gêneros para chegar a fatores retóricos que de outra
forma poderiam passar despercebidos.
2.2 Definição de gênero para Swales (sempre com o ensino em mente):
Ideia de Classe: o gênero é uma classe de eventos comunicativos, sendo o evento uma
situação em que a linguagem verbal tem um papel significativo e indispensável.
Propósito comunicativo: os gêneros tem a função de realizar um objetivo ou objetivos.
Obs: Swales sustenta a posição de que o propósito comunicativo é o critério de maior
importância porque o propósito motiva uma ação e é vinculado ao poder. (Swales, 1990,
p.47)
Prototipicidade: um texto será classificado como sendo do gênero se possuir os traços
especificados na definição do gênero.
Razão subjacente: é a lógica do gênero, e nessa lógica, os membros da comunidade
reconhecem o gênero. De acordo com seu entendimento do propósito, os membros
utilizam convenções que realizam o gênero com o propósito apropriado. A razão,
vinculada às convenções do discurso, estabelece restrições em termos de conteúdo,
posicionamento e forma (exemplo: carta administrativa com boas e más notícias).
Terminologia: os termos atribuídos aos gêneros são indicadores de como os membros
mais experientes e ativos da comunidade, que dão nome aos gêneros, entendem a ação
retórica das classes de eventos comunicativos.
Obs: com o passar do tempo, enquanto os nomes dos gêneros se mantém, as atividades
associadas com os gêneros mudam, como é o caso da palestra, que às vezes deixa de ser
um monólogo, passando a ser um evento interativo.
2.3 O conceito de comunidade discursiva
Conceito de comunidade discursiva lançado por Swales com a publicação de Genre
Analysis (1990) provocou debate entre acadêmicos.
Um dos pontos fracos: está no fato de que a comunidade discursiva era concebida como
um grupo verdadeiro e estável, marcado pelo consenso em suas posições. Swales questiona
3. se uma comunidade discursiva é de verdade um construto social ou uma ilusão que serve
para generalizações sobre o mundo.
Swales diz que o conceito de 1990 serviu para validar grupos já existentes, mas não
forneceu meios de analisar o processo de formação de grupos.
Em Other Floors, Other Voices, Swales elabora uma análise detalhada de três unidades
distintas na universidade (University of Michigan), para repensar o conceito de comunidade
discursiva, e passa a chamá-la de “teoria da comunidade discursiva”.
Conclusões desta teoria:
a. A comunidade discursiva possui princípios e práticas que tem uma base linguística,
retórica, metodológica e ética- visão de James Porter (1992). Swales entende que o
argumento de Porter é relevante porque propõe a ideia da instabilidade da comunidade
discursiva e percebe que o enfoque do grupo concentra a força unificadora da
comunidade.
b. Distinção entre comunidade discursiva local (os membros trabalham juntos) e global (os
membros tem compromisso com diversos tipos de ação e discursos)- visão de
Killingsworth & Gilbertson (1992): A partir dessa discussão Swales propõe o conceito
de comunidade discursiva de lugar, como um grupo de pessoas que trabalham juntas e
que tem uma noção estável, embora em evolução, dos objetivos propostos pelo seu
grupo
2.4 O conceito de propósito comunicativo revisto
Concepção original do conceito de propósito comunicativo: é o critério privilegiado
na definição de gênero, embasa o gênero e determina não apenas sua estrutura
esquemática, mas também as escolhas em torno de conteúdo e estilo.
Ao reavaliar o conceito de propósito comunicativo, Askehave & Swales entendem que
o propósito comunicativo é menos visível do que a forma, e portanto dificilmente
servirá como critério básico para a conceituação de um gênero. Além disso,
consideram que, embora membros da comunidade discursiva tenham grande
conhecimento dos gêneros, podem não concordar quanto ao propósito de determinado
gênero.
Procedimentos possíveis para a identificação de gêneros- Askehave &Swales-
a. Procedimento textual/linguístico: o propósito comunicativo é examinado, em
uma das etapas, junto com a estrutura do gênero, o estilo e o conteúdo. Em
seguida, o propósito é uma fator na revisão, ou redefinição, do gênero
(repurposing the genre).
b. Procedimento contextual: o propósito comunicativo mantém a sua relevância
na revisão do gênero, mas as outras etapas no processo constituem-se da
identificação da comunidade, seus valores, suas expectativas, e seu repertório
de gêneros, além dos traços dos gêneros que fazem parte do repertório da
comunidade.
3. O Modelo CARS
O trabalho de Swales (1984) deu origem ao modelo CARS (create a research space).
MOVIMENTO 1: Estabelecer território
4. Passo 1: Estabelecer a importância da pesquisa e/ou
Passo 2: Fazer generalização/ões quanto ao tópico e/ou
Passo 3: Revisar a literatura (pesquisas prévias ) Diminuindo o esforço retórico
MOVIMENTO 2: Estabelecer o nicho
Passo 1A: contra-argumentar ou
Passo 1 B: indicar lacuna/s no conhecimento ou
Passo 1C: provocar questionamento ou
Passo 1D: Continuar a tradição Enfraquecendo os possíveis
questionamentos
MOVIMENTO 3: Ocupar o nicho
Passo 1 A: delinear os objetivos ou
Passo 1 B: apresentar a pesquisa
Passo 2: apresentar os principais resultados
Passo 3: indicar a estrutura do artigo Explicitando o trabalho
Modelo CARS para introduções de artigos de pesquisa (SWALES, 1990, p. 141).
3.1 Aplicações do modelo CARS
Vários pesquisadores testaram o modelo CARS com diferentes peças genéricas:
seções de métodos e resultados em textos de química, seções de introdução e
discussão de dissertações de mestrado, textos científicos, resenhas de livros
resumos de artigos de pesquisa, resumos de dissertações, depoimentos de alcoólicos
anônimos, resenhas acadêmicas e seções de revisão da literatura.
4. Discussão e conclusão
Swales define o gênero como uma classe de eventos comunicativos, com um
propósito comunicativo realizado por comunidades discursivas que reconhecem
a lógica subjacente ao gênero, possuem um repertório de gêneros, desenvolvem
um léxico próprio para o gênero e atribuem ao gênero as convenções discursivas
e os valores adequados.
Comunidade discursiva passou a ser caracterizada como um grupo que trabalha
junto e mantém seu repertório de gêneros, com traços retóricos evidentes e com
a força que valida as atividades da comunidade.
O propósito, na revisão da retórica, é o elemento que tem um certo peso quando
a análise de um gênero leva a uma reavaliação do gênero.
O modelo CARS como a maior contribuição de Swales para a análise do discurso
e linguística aplicada.