SlideShare a Scribd company logo
1 of 1
A Padeira de Aljubarrota


          Era aquela a batalha decisiva. Terminada que estivesse, o futuro de Portugal

estaria decidido. Nação independente, ou província de Espanha.

          Dom João I mal tivera tempo para se firmar no trono, mas aquele não era o

momento para fraquezas ou hesitações. Havia que vencer os castelhanos de numa

vez por todas.

          O exército castelhano era, no entanto, muito superior ao português.

Superior em número e armamento.

   Aos portugueses restavam outras vantagens. Contavam com o muito jovem, mas já Condestável do reino,

Dom Nuno Álvares Pereira, um estratega militar de excepção. Contavam com a juventude e o entusiasmo dos

elementos do seu exército, nomeadamente a Ala dos Namorados, que naquele dia tórrido de Verão, sem uma

gota de água, quase mortos de sede, conseguiram vencer aquela batalha, e contavam com a vantagem de

estarem combatendo na sua própria terra, conhecendo o terreno e beneficiando de algum apoio por parte da

população local.

          Foi o que aconteceu naquele dia 14 de Agosto de 1385. No campo de batalha os homens pelejavam.

Dentro de uma pequena casa uma mulher amassava o seu pão. Brites de Almeida se chamava, aquela a quem a

tradição popular viria a chamar a Padeira de Aljubarrota. Cá fora os homens continuavam a guerrear. Só que

nem todos os homens nasceram para a guerra. No seio do exército castelhano, onde certamente existiriam

muitos homens de coragem, existiam também alguns cobardes, um pequeno grupo de homens, sete ao todo, sem

disposição para combater. Homens sem valor, como existem em todos os tempos e em todos os lugares.

          O certo é que no momento em que Brites de Almeida se preparava para cozer o seu pão, ouviu um ruído

dentro do forno. Primeiro pensou que se trataria talvez de algum pequeno rato do campo, um ratito de olhos

pretos e vivos, em busca de algum pedaço de côdea. Pôs-se à escuta, e percebeu então que o seu forno tinha

sido o refúgio que os soldados castelhanos haviam escolhido para se esconderem. Eram homens que falavam lá

dentro, sussurrando baixinho.

          Brites de Almeida não era mulher para ter medo do que quer que fosse. Acendeu o forno, por forma a

obrigá-los a fugir do calor e do fumo, e à medida que iam saindo, com a pá do forno, foi-os matando a todos, um

por um.

          Os portugueses vencerem aquela terrível batalha de Aljubarrota. Muitos se terão salvo, alguns terão

morrido. Mas esta padeira que a tradição guardou, e que é talvez a heroína popular mais amada pelos

Portugueses.

      Em memória da sede que os nossos soldados suportaram heroicamente, ainda hoje o viajante que passe

dispõe de uma bilha de água que é mantida sempre limpa e fresca, da qual poderá beber à vontade.

                                                               Martins, David, Lendas de Portugal, Lyon Edições

More Related Content

More from davidjpereira

Pmate 2013 inscrição de alunos
Pmate 2013   inscrição de alunosPmate 2013   inscrição de alunos
Pmate 2013 inscrição de alunosdavidjpereira
 
A história dos números primos
A história dos números primosA história dos números primos
A história dos números primosdavidjpereira
 
Francisco e gonçalo
Francisco e gonçaloFrancisco e gonçalo
Francisco e gonçalodavidjpereira
 
Trabalho do bernardo e do mario 5º e
Trabalho do bernardo e do mario 5º eTrabalho do bernardo e do mario 5º e
Trabalho do bernardo e do mario 5º edavidjpereira
 
As plantas carnívoras
As plantas carnívorasAs plantas carnívoras
As plantas carnívorasdavidjpereira
 
Micróbios beatriz 6 e
Micróbios beatriz 6 eMicróbios beatriz 6 e
Micróbios beatriz 6 edavidjpereira
 
Trabalho final comunicação interpessoal
Trabalho final comunicação interpessoalTrabalho final comunicação interpessoal
Trabalho final comunicação interpessoaldavidjpereira
 
Micróbios beatriz 6 e
Micróbios beatriz 6 eMicróbios beatriz 6 e
Micróbios beatriz 6 edavidjpereira
 
Experiência de plantas
Experiência de plantasExperiência de plantas
Experiência de plantasdavidjpereira
 

More from davidjpereira (20)

Pmate 2013 inscrição de alunos
Pmate 2013   inscrição de alunosPmate 2013   inscrição de alunos
Pmate 2013 inscrição de alunos
 
A história dos números primos
A história dos números primosA história dos números primos
A história dos números primos
 
Cartoes magicos
Cartoes magicosCartoes magicos
Cartoes magicos
 
Isometrias
IsometriasIsometrias
Isometrias
 
Francisco e gonçalo
Francisco e gonçaloFrancisco e gonçalo
Francisco e gonçalo
 
Microscópio (2)
Microscópio (2)Microscópio (2)
Microscópio (2)
 
Plantas carnívoras
Plantas carnívorasPlantas carnívoras
Plantas carnívoras
 
Apresentação1 (2)
Apresentação1 (2)Apresentação1 (2)
Apresentação1 (2)
 
Plantas carnivoras
Plantas carnivorasPlantas carnivoras
Plantas carnivoras
 
Trabalho do bernardo e do mario 5º e
Trabalho do bernardo e do mario 5º eTrabalho do bernardo e do mario 5º e
Trabalho do bernardo e do mario 5º e
 
As plantas carnívoras
As plantas carnívorasAs plantas carnívoras
As plantas carnívoras
 
Diana doina 5 f
Diana doina 5 fDiana doina 5 f
Diana doina 5 f
 
Bichos da seda
Bichos da sedaBichos da seda
Bichos da seda
 
Micróbios beatriz 6 e
Micróbios beatriz 6 eMicróbios beatriz 6 e
Micróbios beatriz 6 e
 
Trabalho final comunicação interpessoal
Trabalho final comunicação interpessoalTrabalho final comunicação interpessoal
Trabalho final comunicação interpessoal
 
Micróbios beatriz 6 e
Micróbios beatriz 6 eMicróbios beatriz 6 e
Micróbios beatriz 6 e
 
Experiência de plantas
Experiência de plantasExperiência de plantas
Experiência de plantas
 
Cnt
CntCnt
Cnt
 
Infusão
InfusãoInfusão
Infusão
 
Relatório da palha
Relatório da palhaRelatório da palha
Relatório da palha
 

Recently uploaded

Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdflucassilva721057
 
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxAULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxLaurindo6
 
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Vitor Mineiro
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfMarianaMoraesMathias
 
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxSlide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxssuserf54fa01
 
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptxVARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptxMarlene Cunhada
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinhaMary Alvarenga
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreElianeElika
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfFernandaMota99
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdfÁcidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdfJonathasAureliano1
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãIlda Bicacro
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Mary Alvarenga
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManuais Formação
 
Atividades sobre Coordenadas Geográficas
Atividades sobre Coordenadas GeográficasAtividades sobre Coordenadas Geográficas
Atividades sobre Coordenadas Geográficasprofcamilamanz
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaronaldojacademico
 

Recently uploaded (20)

Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
 
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxAULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
 
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
 
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxSlide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
 
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptxVARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinha
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdfÁcidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
Ácidos Nucleicos - DNA e RNA (Material Genético).pdf
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
 
Atividades sobre Coordenadas Geográficas
Atividades sobre Coordenadas GeográficasAtividades sobre Coordenadas Geográficas
Atividades sobre Coordenadas Geográficas
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
 

A padeira de aljubarrota final

  • 1. A Padeira de Aljubarrota Era aquela a batalha decisiva. Terminada que estivesse, o futuro de Portugal estaria decidido. Nação independente, ou província de Espanha. Dom João I mal tivera tempo para se firmar no trono, mas aquele não era o momento para fraquezas ou hesitações. Havia que vencer os castelhanos de numa vez por todas. O exército castelhano era, no entanto, muito superior ao português. Superior em número e armamento. Aos portugueses restavam outras vantagens. Contavam com o muito jovem, mas já Condestável do reino, Dom Nuno Álvares Pereira, um estratega militar de excepção. Contavam com a juventude e o entusiasmo dos elementos do seu exército, nomeadamente a Ala dos Namorados, que naquele dia tórrido de Verão, sem uma gota de água, quase mortos de sede, conseguiram vencer aquela batalha, e contavam com a vantagem de estarem combatendo na sua própria terra, conhecendo o terreno e beneficiando de algum apoio por parte da população local. Foi o que aconteceu naquele dia 14 de Agosto de 1385. No campo de batalha os homens pelejavam. Dentro de uma pequena casa uma mulher amassava o seu pão. Brites de Almeida se chamava, aquela a quem a tradição popular viria a chamar a Padeira de Aljubarrota. Cá fora os homens continuavam a guerrear. Só que nem todos os homens nasceram para a guerra. No seio do exército castelhano, onde certamente existiriam muitos homens de coragem, existiam também alguns cobardes, um pequeno grupo de homens, sete ao todo, sem disposição para combater. Homens sem valor, como existem em todos os tempos e em todos os lugares. O certo é que no momento em que Brites de Almeida se preparava para cozer o seu pão, ouviu um ruído dentro do forno. Primeiro pensou que se trataria talvez de algum pequeno rato do campo, um ratito de olhos pretos e vivos, em busca de algum pedaço de côdea. Pôs-se à escuta, e percebeu então que o seu forno tinha sido o refúgio que os soldados castelhanos haviam escolhido para se esconderem. Eram homens que falavam lá dentro, sussurrando baixinho. Brites de Almeida não era mulher para ter medo do que quer que fosse. Acendeu o forno, por forma a obrigá-los a fugir do calor e do fumo, e à medida que iam saindo, com a pá do forno, foi-os matando a todos, um por um. Os portugueses vencerem aquela terrível batalha de Aljubarrota. Muitos se terão salvo, alguns terão morrido. Mas esta padeira que a tradição guardou, e que é talvez a heroína popular mais amada pelos Portugueses. Em memória da sede que os nossos soldados suportaram heroicamente, ainda hoje o viajante que passe dispõe de uma bilha de água que é mantida sempre limpa e fresca, da qual poderá beber à vontade. Martins, David, Lendas de Portugal, Lyon Edições