1. Texto argumentativo – Outubro 2011
Laura Carreira – 12ºano-turma N – nº11
Professora Marcela Neves
“Once the people begin to reason, all is lost” *
Voltaire
Já o iluminista Voltaire dizia que assim que as pessoas começassem a pensar, tudo
estaria perdido.
Não se pode negar a uma pessoa o pensar, mas pode-se negar-lhe o acesso ao
conhecimento. Essa poderosa arma que aleija até os mais protegidos. É dela que
nascem as perigosas ideias e os temidos Homens, que embora mortais e passageiros
transportam neles ideais que resistem e prevalecem. Esta característica das ideias
torna o conhecimento algo indesejado por alguns. Um povo instruído questiona,
pensa, reflecte e exige. Um povo por instruir é um povo ignorante, submisso e
obediente. Os regimes ditatoriais, geralmente actuam sobre cidadãos fragilizados,
incultos e intimidados, privados da Arte e do exercício da criatividade. Acredito que
jamais poderia emergir tal regime de um povo culto. Poderíamos pensar na estranheza
do nosso presente, dos nossos cidadãos – o drama de filhos que, impossibilitados de
construírem a sua independência, não saem ou regressam a casa dos pais;
estudantes que se endividam para estudar; pessoas que perdem, procuram ou nunca
tiveram um emprego ou idosos que tanto trabalharam para míseras reformas. Em
nome do “inevitável” todos se curvam e consentem, e é esta uma história passada no
séc. XXI, na era do conhecimento?
Na era do opulento conhecimento, onde somos afrontados pela informação constante
e em acelerado compasso de renovação. Onde o conhecimento de ontem, esta manhã
era já refutado e pela tarde confirmado novamente. Onde o inteligente é quem domina
os meios de procura de conhecimento, e não quem pensa. Onde a volatilidade,
duração e inconsistência da informação a torna descartável e desacreditada. E assim,
se forma o povo que “nada desconhece”, o mais ignorante de todos – o nosso. Um
povo que enaltecendo a “democratização no acesso ao conhecimento” se verga e se
subjuga. Neste ponto, trata-se de acrescentar um novo conceito, a necessidade de um
“espectador emancipado”, isto é, um cidadão que entre toda a encruzilhada de
saberes, seja capaz de seleccionar, analisar e interpretar. Muito se evoluiu desde o
tempo em que os livros proibidos se inflamavam, mas que não descanse quem pense
que esses foram anos passados. Muito neles há de contemporâneo, pois apesar de
mais de 90% da população portuguesa ser alfabetizada, permite-se, por exemplo, a
existência de um ensino obrigatório onde se formam alunos que engolem mas não
mastigam, alunos que assistem mas não perguntam, alunos que ouvem mas não
falam, alunos sentados que nunca se levantam. E enquanto o povo enche a barriga de
“conhecimento”, contente com a sua “democracia”, há quem disso tire proveito para
fazer as maiores e mais condenáveis atrocidades contra um povo tão apaticamente
sereno.
*"Quando as pessoas começam a pensar, está tudo perdido"