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Aluna sob anonimato

      Terça-feira, 27 de Abril

        Acordei numa cama que me não era familiar. Abri os olhos e com a fraca
luz que entrava pelas frestas das persianas, olhei à volta, procurei algum ponto
de referência e descobri então aos meus pés um afro mal amanhado, quase
camuflado com a bombazina do sofá. O afro mexeu-se, alguém acendeu a luz
e, lentamente, tudo começou a fazer sentido. Era uma sala de estar,
dormíamos no sofá em L e a dona da casa entrava matutinamente pela divisão
distribuindo Bons-dias condescendentes. A proprietária do afro levantou-se e
eu segui-lhe o movimento, sentamo-nos as três à espera de despertar. Foi
então que a cadela nº1 – que passará a ser denominada assim a) devido à
minha incapacidade de nomear toda e qualquer personagem (“Tira-lhes o
mérito” – pensa a minha cabeça picuinhas) b) devido à minha fraca e infeliz
relação de amizade com semelhante tipo de animais – ingressou no convívio. A
cadela nº1 possuía uma estranha parecença com uma foca, com movimentos
pachorrentamente semelhantes a esta, era grande e de aspecto obesamente
saudável, com pregas de gordura intermináveis, metros de pele desenroláveis
como lençóis e um dorso farto. Os seus olhos caídos pediam afagos e
meiguices que eu, devido à minha infância única e exclusivamente humana e
às minhas casas desprovidas de animais, não lhe podia dar.

        Esta amena cavaqueira não dura muito porque os nossos estômagos
inquietos cortam-na quase pela raiz. Invadimos a próxima divisão, sentamo-
nos, três taças em cima da mesa, uma colher ao lado de cada uma. Os cereais
ressaltam melodiosamente e vazamos o leite quase ao jeito de shot, tigela 1
tigela 2 tigela 3. A cadela nº1 acompanha-nos sem qualquer embaraço e deita-
se observando-nos, talvez com a secreta esperança que um cereal mais
aventureiro procure um novo mundo debaixo da mesa. Acabamos a última
colher e sorvemos o leite… Acendemos três cigarros e fumamo-los com vagar,
só para começar o dia. Deslocamo-nos agora até ao outro lado da casa para
completarmos a rotina da manhã. A cadela nº2 surge-nos então pelo caminho:
raquiticamente franzina, pequena e eléctrica, com pouco pêlo, muito osso e
pouca expressão. Aparece-nos como uma antítese da cadela nº1, confundindo-
se com a mobília e atrapalhando-nos o caminho. Ao som dos seus passos
eléctricos no chão de madeira, lavamos os dentes e vestimo-nos.

       Saímos à rua. O Sol faz-nos convites irrecusáveis e nós obedecemos-
lhe como se de uma ordem divina se tratasse. O caminho torna-se óbvio,
chinelo no pé, biquíni vestido, toalha ao ombro. Desbravamos caminho e
aterramos na praia, qualquer lugar serve. Despimo-nos atabalhoadamente,
deixamos as coisas ao Deus dará e sentamo-nos à espera que o sol deixe de
ser tão tímido. Obedecendo ao nosso pedido, estendeu os braços e entregou-
se-nos em toda a sua plenitude… Nós fitávamos o mar, irrequietas como
crianças, e a distância que nos separava dele tornava-se a cada segundo
insuportavelmente maior. Deixámos de resistir, molhámos o pé - arrepio
automático na espinha – e mergulhámos. A água estava exactamente como
convinha, nem muito quente nem muito fria, e pedia-nos horas de mergulhos
intermináveis e nós, convencíveis como sempre, voltámos a obedecer.
Passámos a manhã nesta deliciosa rotina: longos minutos no mar, mais longos
minutos na areia, molhar porque temos calor, secar porque estamos molhadas.
Não há inércia mais ociosa e inútil que a inércia praieira mas não encontro
também nenhuma indolência mais aprazível que esta.

        Almoçámos a correr, porque o tempo já corria demasiado rápido, e
enfiámo-nos no carro. Janelas abertas e cabelos ao vento, o cheiro a Verão era
inteligível e instalara-se decididamente para ficar. Chegamos a Sintra num
ápice quase infeliz e entramos apressadamente no teatro. Fiz um esforço inicial
francamente honesto para lutar contra a minha arrogância intelectual, inventei
desculpas para mim mesma “É só o principio; têm ideias interessantes; pode
ser diferente do que estás à espera (…)”, mas a minha snobeira levou a melhor
e penso que, desta vez, teve toda a razão. O teatro era intragável e, pela
primeira vez na minha vida, levou-me ao sono profundo. A adaptação textual
era uma simples cópia, as intervenções visuais eram incompreensíveis e
distractivas, os actores, a julgar pela quantidade de vezes que se enganaram e
pela sua falta de expressividade, ou eram demasiado verdes ou eram péssimos
no que faziam e toda aquela interpretação antinatural de tão solene obra-prima
da cultura literária portuguesa soava a um trabalho colossalmente amador. No
fim, para não me martirizar por tão baldado uso do tempo, consolei-me
pensando na beleza de ter vindo dormir uma sesta a Sintra (“Chique a valer”,
diria o Dâmaso).

        A greve passa-nos de raspão; o comboio chega com poucos minutos de
atraso e faz o seu caminho tranquilamente proporcionando-nos uma excelente
continuação da anterior sesta teatral. Aterramos em Lisboa no meio da
confusão e somos forçadas a racionar novamente, separamo-nos e cada uma
segue para seu lado. Arrasto-me sem vontade para um explicação de
Geometria que nenhuma satisfação me traz. Perco uma hora e meia a tentar
clarificar coisas que para mim não fazem qualquer sentido ou nexo, a visualizar
situações que nunca me acontecerão na vida real.

        Saio da explicação e como a correr. São agora nove e meia, as luzes
apagam-se, novamente, mas desta vez para valer a pena; chama-se “Eamon”,
o filme, e é de uma realizadora irlandesa. Abordando o complexo de Édipo de
uma forma inovadoramente interessante e com um humor tipicamente inglês,
este filme surpreende-me sem me dar qualquer hipótese de defesa. Ao menos
esta sessão cultural valeu definitivamente a pena!

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Terca, 27 de Abril

  • 1. Aluna sob anonimato Terça-feira, 27 de Abril Acordei numa cama que me não era familiar. Abri os olhos e com a fraca luz que entrava pelas frestas das persianas, olhei à volta, procurei algum ponto de referência e descobri então aos meus pés um afro mal amanhado, quase camuflado com a bombazina do sofá. O afro mexeu-se, alguém acendeu a luz e, lentamente, tudo começou a fazer sentido. Era uma sala de estar, dormíamos no sofá em L e a dona da casa entrava matutinamente pela divisão distribuindo Bons-dias condescendentes. A proprietária do afro levantou-se e eu segui-lhe o movimento, sentamo-nos as três à espera de despertar. Foi então que a cadela nº1 – que passará a ser denominada assim a) devido à minha incapacidade de nomear toda e qualquer personagem (“Tira-lhes o mérito” – pensa a minha cabeça picuinhas) b) devido à minha fraca e infeliz relação de amizade com semelhante tipo de animais – ingressou no convívio. A cadela nº1 possuía uma estranha parecença com uma foca, com movimentos pachorrentamente semelhantes a esta, era grande e de aspecto obesamente saudável, com pregas de gordura intermináveis, metros de pele desenroláveis como lençóis e um dorso farto. Os seus olhos caídos pediam afagos e meiguices que eu, devido à minha infância única e exclusivamente humana e às minhas casas desprovidas de animais, não lhe podia dar. Esta amena cavaqueira não dura muito porque os nossos estômagos inquietos cortam-na quase pela raiz. Invadimos a próxima divisão, sentamo- nos, três taças em cima da mesa, uma colher ao lado de cada uma. Os cereais ressaltam melodiosamente e vazamos o leite quase ao jeito de shot, tigela 1 tigela 2 tigela 3. A cadela nº1 acompanha-nos sem qualquer embaraço e deita- se observando-nos, talvez com a secreta esperança que um cereal mais aventureiro procure um novo mundo debaixo da mesa. Acabamos a última colher e sorvemos o leite… Acendemos três cigarros e fumamo-los com vagar, só para começar o dia. Deslocamo-nos agora até ao outro lado da casa para completarmos a rotina da manhã. A cadela nº2 surge-nos então pelo caminho: raquiticamente franzina, pequena e eléctrica, com pouco pêlo, muito osso e pouca expressão. Aparece-nos como uma antítese da cadela nº1, confundindo- se com a mobília e atrapalhando-nos o caminho. Ao som dos seus passos eléctricos no chão de madeira, lavamos os dentes e vestimo-nos. Saímos à rua. O Sol faz-nos convites irrecusáveis e nós obedecemos- lhe como se de uma ordem divina se tratasse. O caminho torna-se óbvio, chinelo no pé, biquíni vestido, toalha ao ombro. Desbravamos caminho e aterramos na praia, qualquer lugar serve. Despimo-nos atabalhoadamente, deixamos as coisas ao Deus dará e sentamo-nos à espera que o sol deixe de ser tão tímido. Obedecendo ao nosso pedido, estendeu os braços e entregou- se-nos em toda a sua plenitude… Nós fitávamos o mar, irrequietas como
  • 2. crianças, e a distância que nos separava dele tornava-se a cada segundo insuportavelmente maior. Deixámos de resistir, molhámos o pé - arrepio automático na espinha – e mergulhámos. A água estava exactamente como convinha, nem muito quente nem muito fria, e pedia-nos horas de mergulhos intermináveis e nós, convencíveis como sempre, voltámos a obedecer. Passámos a manhã nesta deliciosa rotina: longos minutos no mar, mais longos minutos na areia, molhar porque temos calor, secar porque estamos molhadas. Não há inércia mais ociosa e inútil que a inércia praieira mas não encontro também nenhuma indolência mais aprazível que esta. Almoçámos a correr, porque o tempo já corria demasiado rápido, e enfiámo-nos no carro. Janelas abertas e cabelos ao vento, o cheiro a Verão era inteligível e instalara-se decididamente para ficar. Chegamos a Sintra num ápice quase infeliz e entramos apressadamente no teatro. Fiz um esforço inicial francamente honesto para lutar contra a minha arrogância intelectual, inventei desculpas para mim mesma “É só o principio; têm ideias interessantes; pode ser diferente do que estás à espera (…)”, mas a minha snobeira levou a melhor e penso que, desta vez, teve toda a razão. O teatro era intragável e, pela primeira vez na minha vida, levou-me ao sono profundo. A adaptação textual era uma simples cópia, as intervenções visuais eram incompreensíveis e distractivas, os actores, a julgar pela quantidade de vezes que se enganaram e pela sua falta de expressividade, ou eram demasiado verdes ou eram péssimos no que faziam e toda aquela interpretação antinatural de tão solene obra-prima da cultura literária portuguesa soava a um trabalho colossalmente amador. No fim, para não me martirizar por tão baldado uso do tempo, consolei-me pensando na beleza de ter vindo dormir uma sesta a Sintra (“Chique a valer”, diria o Dâmaso). A greve passa-nos de raspão; o comboio chega com poucos minutos de atraso e faz o seu caminho tranquilamente proporcionando-nos uma excelente continuação da anterior sesta teatral. Aterramos em Lisboa no meio da confusão e somos forçadas a racionar novamente, separamo-nos e cada uma segue para seu lado. Arrasto-me sem vontade para um explicação de Geometria que nenhuma satisfação me traz. Perco uma hora e meia a tentar clarificar coisas que para mim não fazem qualquer sentido ou nexo, a visualizar situações que nunca me acontecerão na vida real. Saio da explicação e como a correr. São agora nove e meia, as luzes apagam-se, novamente, mas desta vez para valer a pena; chama-se “Eamon”, o filme, e é de uma realizadora irlandesa. Abordando o complexo de Édipo de uma forma inovadoramente interessante e com um humor tipicamente inglês, este filme surpreende-me sem me dar qualquer hipótese de defesa. Ao menos esta sessão cultural valeu definitivamente a pena!