1. David Marques 11J
O Teatro da Equação
Senti, resumi e resolvi: poderá ser isto amor se é pautado pela
objectividade? Se quando te vi distante, entre a multidão, apenas desejei que
aí permanecesses, longe. Talvez tivesse sido melhor se naquele momento
tivesse virado as costas e ido para outro sítio. Porque de cada vez que nos
encontramos, de cada vez que de tanto me procurar me encontras, de cada
vez que te aproximas e me beijas, engano-me a mim mesmo e na minha
cabeça não há senão mentiras. Olho-te nos olhos e peco outra vez.
O que havia, não há mais, só resta o oposto, essa máquina bem oleada
que cada vez menos cumpre o seu papel. Precisas e mereces mais do que isto
e eu também. Já estou farto de palavras e gestos sem sentido ou emoção.
Caída a fachada, corra-se a cortina. O teatro acabou.
Quando me pergunto não encontro resposta definitiva para tamanha
duração: talvez piedade ou cobardia, pois bem sei como me olhas e como te
sentes. No entanto, este não é um acto irreflectido e se o faço é porque tenho a
certeza que quando o nevoeiro do que não sou se dissipar, embora chova, o
meu céu, a minha consciência estarão limpos.