1. Especificidade da
Psicofarmacologia com Crianças e
Adolescentes
Dr. Cláudio Costa
Preceptor Chefe da Residência de
Psiquiatria da Infância e Adolescência
Centro Psicopedagógico-CPP-FHEMIG
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
2. Noções básicas
Farmacocinética:
Processo biológico que leva a alterações – no
decorrer do tempo – na concentração das
drogas nos fluidos cerebrais e tecidos
corporais.
Variáveis:
Tempo para alcançar a concentração efetiva
Duração do tempo em que essa concentração é
mantida
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3. Noções básicas
Farmacodinâmica:
Efeitos fisiológicos e bioquímicos das drogas:
Efeitos específicos de cada droga
Mecanismos de ação
Relação entre concentração e efeitos
Meia vida: o tempo necessário para a concentração de
uma droga diminuir pela metade. Isso é importante para
se definirem os intervalos de administração.
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4. Noções básicas
Fatores que afetam a disponibilidade de uma
droga:
Absorção: 1a. passagem pelo fígado.
Distribuição: líquidos; sistema cardiovascular,
membros, equilíbrio ácido-base, proporção.
Metabolismo: a maioria das drogas é lipossolúvel,
condição necessária para absorção, distribuição e
disponibilidade nos receptores.
Excreção: devem ser metabolizadas até que se tornem
hidrofílicas, pois o rim é o órgão mais importante na
tarefa de excretar as drogas.
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5. Noções básicas
Particularidades de alguns psicofármacos:
Neurolépticos: eliminação dependente do
fígado.
ADT: metabolização extensa no fígado (por
isso, em crianças, as doses devem ser
proporcionalmente maiores do que em adultos).
Psicoestimulantes (metilfenidato): meia vida
curta – doses plasmáticas menores quando o
intervalo for menor do que 4 horas.
Benzodiazepínicos: meia vida maior em adultos.
Lítio - íon hidrófilo: eliminação via renal.
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6. Noções básicas
Crianças e adolescentes requerem doses por
quilo maiores que adultos para alcançarem níveis
plasmáticos e efeitos terapêuticos comparáveis.
Entretanto, de acordo com a idade, há
diferenças na distribuição corporal das drogas
(alterações hormonais da adolescência, por
exemplo).
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7. Princípios gerais
1. O ideal científico da farmacoterapia é “sempre
usar o medicamento como decorrente de um
plano racional de tratamento, em função de
um dado diagnóstico, após avaliação adequada.
2. De acordo com este ideal, o tratamento
deveria ser etiológico, o que nos coloca de
frente com a grande questão da Psiquiatria:
quais as causas últimas de grande parte das
doenças psiquiátricas?
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8. Princípios gerais
3. Às vezes, drogas semelhantes agem em doenças
diferentes:
Os sintomas são semelhantes
Os neurotransmissores são mais ou menos os mesmos
A localização dos eventos cerebrais pode ser próxima
As vias de transmissão confluem parcialmente
4. Muitas vezes, as mesmas drogas podem provocar
efeitos diferentes por mecanismos diferentes em
diferentes patologias. Ex.: imipramina, indicada
para depressão, enurese, TDAH, TOC.
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9. Princípios gerais
5. Algumas drogas podem ser utilizadas para
sintomas-alvo em outras patologias, tais como
o Lítio:
Mania (transtorno bipolar)
Hétero e auto-agressividade em Transtorno de
Conduta, Retardo Mental e Transtorno
Autístico.
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10. Princípios para escolha da
medicação:
1. Diagnóstico correto: o que nem sempre se
consegue, seja por imperícia, seja por
semelhança de sintomatologia, seja por critérios
diagnósticos pouco consistentes.
2. Sintomas-alvo: muitas vezes os sintomas são a
principal justificativa para uso da medicação,
pois interferem na vida do paciente, na sua
relação com o mundo e no seu desenvolvimento.
Verificar se os benefícios justificam os riscos.
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11. Princípios para escolha da
medicação:
3. Outras vezes, o fármaco está indicado em função
do diagnóstico e dos sintomas ao mesmo tempo
(ex.: antipsicóticos para Esquizofrenia e, ao
mesmo tempo, para alguns de seus sintomas:
alucinações, distúrbios do pensamento, etc).
4. Entretanto, deve-se ter cuidado em medicar
sintomas comuns a transtornos totalmente
diferentes (ex.: agitação em TDAH # agitação
em ansiedade.)
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12. Cuidados especiais ao medicar
crianças e adolescentes:
1. Fatores fisiológicos: crianças e adolescentes geralmente
necessitam de dosagens proporcionalmente maiores, em
comparação com adultos, para alcançarem níveis sanguíneos e
eficácia terapêutica:
Metabolismo hepático mais rápido
Velocidade de filtração glomerular mais rápida
Alterações da famarcodinâmica dependentes da
idade:
ADT-nortriptilina: menos efeitos anticolinérgicos em pré-
púberes
ADT: geralmente, crianças respondem menos que os adultos
Hipótese: nível elevado dos hormônios sexuais.
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13. Cuidados especiais ao medicar
crianças e adolescentes:
2. É necessário levar em conta os fatores cognitivos, psicológicos e as
experiências de vida de cada paciente:
Avaliação psiquiátrica deve ser acurada, mas depende da
maturação neuro-psicológica do paciente. Muitas informações
dependem da capacidade do sujeito.
Crianças menores ou adolescentes deprimidos, por exemplo, têm
dificuldade para referir-se a noções de tempo, para descrever o
humor basal ou a severidade dos próprios sintomas. (Podemos
recorrer a artifícios como: imagens, referências a datas festivas,
acontecimentos marcantes da vida, etc.).
Levar em conta a capacidade ou não da criança em verbalizar ou
compreender conceitos como: “concentração”,
“distractibilidade”, “impulsividade”...
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14. Pré-requisitos para iniciar uma
psicofarmacoterapia
1. Avaliação psiquiátrica completa e, muitas vezes,
avaliação neuro-psicológica (testes).
2. Exames:
Físico: temperatura, pressão arterial, freqüência
cardíaca e respiratória, peso, altura, teste de gravidez
em adolescentes que poderiam estar grávidas (alguns
medicamentos são contra-indicados ou oferecem risco
durante a gestação).
Laboratoriais: hemograma, rotina de urina, dosagem
de eletrólitos, função hepática (dependendo da
substância a ser prescrita).
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15. Pré-requisitos para iniciar uma
psicofarmacoterapia
3. Exames especiais:
Função tireoidiana: a função anormal da tireóide pode
agravar arritmias cardíacas causadas pelos ADT’s. O
Lítio pode causar hipotireoidismo com baixa de T3 e T4
e aumento da recaptação do I131.
Função renal: por exemplo, quando medicar com
Lítio.
ECG: antes de ADT e Lítio
EEG: antes de ADT e Lítio, principalmente em
pacientes com história prévia de crises convulsivas e
que estejam em uso de anticonvulsivantes, bem como
pacientes submetidos a neurocirurgia ou que sofreram
traumatismo craniano.
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16. Pré-requisitos para iniciar uma
psicofarmacoterapia
4. Conhecimento do comportamento habitual
(basal) da criança. Anamnese cuidadosa.
5. Discussão do tratamento com os pais ou
responsáveis, bem como com o paciente,
respeitando seus limites (idade, capacidade
cognitiva, etc.
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17. Orientações sobre “plano de
tratamento”
Discutir com pais e crianças:
Qual o medicamento e seus efeitos benéficos
Quais os efeitos colaterais mais comuns
Qual a duração do tratamento
Obter consentimento informado
Fazer boa aliança com o paciente e com o responsável
pela administração do medicamento
Instruir sobre cuidados no manuseio e estocagem (p.ex.:
cuidados com pacientes em risco de suicídio)
Relativizar a importância dos aspectos biológicos,
salientando as causalidades psicológicas, as
interferências do ambiente e dos relacionamentos.
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18. Problemas de adesão ao tratamento na
clínica com crianças e adolescentes
1. Adesão mais complexa que nos adultos
2. Cuidar para que o remédio seja administrado
corretamente (os benefícios dependem da continuidade)
3. Considerar a possibilidade de resistência por parte dos
pais (muitas vezes, estes levam o filho à consulta por
pressão de parentes e professores)
4. Avaliar a interferência de fatores financeiros na aquisição
de medicamentos
5. Considerar os medos dos pacientes e suas fantasias de
que “se tomam remédios isso configura que são loucos”
6. Prevenir efeitos adversos (ex.: impregnação, náuseas,
etc.)
7. Fornecer explicações compreensíveis sobre mecanismo
de ação, efeitos esperados, tempo de utilização, etc.
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19. Explicando a medicação para
crianças e adolescentes
Respeitar a idade mental e capacidade de compreensão do
paciente
Dar oportunidade ao paciente de participar ativamente do
próprio tratamento: responsabilização
Reforçar as tendências à autonomia (adolescentes)
Prever possíveis efeitos colaterais e garantir a pronta
intervenção (p.ex.: impregnação neuroléptica)
Orientar sobre atividades a serem evitadas (dirigir veículos,
usar bebidas alcoólicas) e quais são liberadas (tomar
“refrigerantes”, jogar bola, estudar, etc.).
Estar atento à possibilidade de gravidez, nas adolescentes
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20. Cuidados prévios à prescrição
Exame clínico – saúde em geral
Avaliação de movimentos involuntários já
presentes no paciente
Conhecer uso prévio de medicamentos –
cuidados na interação
Estar atento a efeitos adversos específicos (p.
exemplo: cardiotoxidade dos ADT’s).
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21. Consentimento Informado
Informar aos pais ou responsáveis:
Diagnóstico
Riscos e benefícios
Informar aos pacientes maiores de 12 anos
(USA)
Comunicar – se houver – tratamentos
alternativos
Esclarecer sobre o prognóstico com e sem
tratamento
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22. Consentimento Informado
Alguns advogados aconselham a informar até
sobre “riscos desconhecidos” (há bulas que já
colocam isso aqui no Brasil)
Nas urgências, admite-se medicar
involuntariamente (verificar as regras da
instituição)
Anotar tudo no prontuário: condições do paciente,
razões para medicação, evolução, efeitos adversos
que ocorrerem, cuidados ministrados, necessidade
de vigilância e conferência se tomou a medicação,
etc.
Pedir assinatura dos pais ou responsáveis
Dr. Cláudio Costa - Psiquiatria
23. Muito obrigado.
Cláudio Costa
clcosta@ipvip.com.br
9176-7596
3291-9878
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