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Grande Porto              Tapada
Lipor convida             das Mercês
cidadãos a                Uma babel
tratar os jardins         de betão onde
em modo bio               cabe o mundo
Pág. 6/9                  inteiro Pág. 10/11




Cidades
Nova Iorque Londres Tóquio Paris Hong Kong
                                           Domingo, 24 de Abril de 2011




Chicago Los Angeles Singapura Sidney Seul
Bruxelas São Francisco Washington D.C. Toronto
Pequim Berlim Madrid Viena Boston Frankfurt
Xangai Buenos Aires Estocolmo Zurique
Moscovo Barcelona Dubai Roma Amesterdão
Cidade do México Montreal Genebra Munique
Miami São Paulo Banguecoque Copenhaga
Houston Taipé Atlanta Istambul Milão Cairo
Dublin Nova Deli Bombaim Osaka Kuala Lumpur
Rio de Janeiro Telavive Manila Joanesburgo
Jacarta Bogotá Caracas Nairobi Guangzhou
Bangalore Lagos Carachi Ho Chi Min Shenzhen
Calcutá Daca Chongqing Lisboa e Porto não
estão na lista das cidades globais. Porquê? Págs. 4/5
4 • Cidades • Domingo 24 Abril 2011




 “Todas as cidades têm
 micro-histórias que podem
 fazer delas cidades globais”
 Como podemos mobilizar cidades com a escala de Lisboa ou do Porto? A socióloga Saskia
 Sassen diz que não devemos ficar obcecados com os lugares nas listas globais, mas procurar
 as particularidades que tornam as cidades atraentes. Uma cidade pequena pode fazer
 história, se souber arriscar. Por Lucinda Canelas (texto) e Pedro Cunha (fotografia)




 a Os teóricos não se cansam            das cidades globais também pode         insistam que foi uma coisa do         explica a socióloga. Tudo se           média que está a capacidade de
 de dizer que o século XXI é o          fazer história, mudar o mundo.”         Facebook. A tecnologia ajudou,        manteve local, porque há a             transformar a sociedade, mas nas
 século das cidades. Saskia Sassen         Nova Iorque, Londres, Paris,         mas não fez tudo. Só na cidade        consciência de que nem tudo            elites e naqueles que à partida
 concorda, mas diz que há ainda         Cairo, Tóquio, Hong Kong, Carachi,      se pode formar uma multidão.          passa pelas grandes cidades,           têm menos acesso ao poder.
 muito a fazer para que elas se         Bogotá, São Paulo, Genebra e            Podemos ter o mesmo número            defende, dando dois exemplos:          “A classe média fez história no
 transformem em territórios de          Telavive integram a lista a que         de pessoas numa fábrica, numa         “A manifestação de 15 Fevereiro        período keynesiano, de construção
 oportunidade para todos. Para          Sassen se refere. Estas e outras        plantação, mas nunca teremos          de 2003, contra a segunda guerra       em massa nos subúrbios norte-
 esta socióloga holandesa que           cidades globais são os lugares          uma multidão. Uma multidão            do Iraque, foi verdadeiramente         americanos, onde podíamos
 foi educada em Buenos Aires            em que quase tudo é decidido.           exige pessoas diferentes, contextos   global [mais de 600 cidades],          encontrar grandes casas com
 e em Roma, e que hoje vive             É a partir delas que se dirige a        diferentes, sem hierarquias. No       com um impacto enorme, e               mulheres solitárias e deprimidas
 entre Nova Iorque e Londres,           economia mundial, que se ditam          campo ou na fábrica a hierarquia      com cidades muito pequenas a           – criou uma cultura, um modo de
 trabalhar o tema da globalização       políticas e estratégias que regulam     persiste.”                            participarem. E houve também           viver. Hoje é nas elites – que se
 faz parte de um compromisso            as relações internacionais. As             O exemplo da Praça Tahir –         aquela movimentação, quando as         relacionam de cidade para cidade,
 social que tem muito a ver com a       cidades globais são centros de          “uma multidão transformadora          empresas farmacêuticas quiseram        independentemente do país, e
 palavra “igualdade” e com uma          poder, são minimundos, espaços          que deitou abaixo um governo          processar o Governo da África do       que representam um por cento
 consciência política que parece        estratégicos para o capital e para      com mais de 30 anos” – é um           Sul, porque os hospitais do país       da população – e nos imigrantes,
 ter começado a formar-se quando        as pessoas, cujo principal desafio é     interessante ponto de partida         vendiam medicamentos para o            que trazem uma espécie de
 era ainda criança e comparava a        alargar a dinâmica de crescimento       para a reflexão sobre o papel que      tratamento da sida muito mais          cosmopolitismo vernacular às
 sua vida – na sua casa não havia       a todos os sectores de actividade,      podem ter os movimentos cívicos       baratos do que nos EUA ou na           cidades, que muito do futuro se
 dificuldades e falavam-se sete          a todas as classes sociais. E é aqui,   num contexto urbano, tenham           Europa. Aí tivemos uma grande          joga.”
 línguas, se contarmos com o latim      precisamente, que para Sassen se        motivações políticas ou sociais,      mobilização na África subsariana,         Isto não quer dizer, no entanto,
 e o grego – com a dos bairros          joga o futuro das cidades e, por        e prova que os países têm muito       mas também nas Filipinas e             que a classe média tenha perdido
 pobres da capital argentina.           isso, do mundo.                         a aprender com a capacidade de        na Indonésia. Dois momentos            a sua importância estrutural na
    “As nossas cidades globais – e as      “Quando falo em igualdade,           mobilização das cidades.              extraordinários, que só foram          orgânica urbana, explica esta
 nossas cidades em geral – podem        não se trata de anular distinções          Quando começou a mais recente      possíveis porque as cidades se         mulher, que momentos anos
 ser hoje profundamente injustas,       sociais, mas de reforçar as             crise laboral nos EUA, houve          organizaram.”                          víramos fazer uma conferência em
 porque são profundamente               condições de integração das             muitas cidades no Middle West           Revoluções como a da Praça           espanhol – o “espanhol esquisito”
 desiguais”, diz ao Cidades na          comunidades de imigrantes, de           que se manifestaram sem começar       Tahir, no Cairo, provam que as         de Buenos Aires –, gesticulando
 sua breve passagem por Lisboa,         atenuar as diferenças gigantescas       a marchar para Washington DC,         cidades globais são mais do que        como uma latina e organizando
 a propósito do congresso               que existem, por exemplo, entre         como teriam feito no passado,         “motores de crescimento dos seus       o discurso como uma holandesa
 internacional de etnologia e           os centros de algumas cidades e                                               países” e “portas de acesso aos        que dá aulas nas universidades da
 folclore e do lançamento da rede       os seus subúrbios em termos de                                                recursos das suas regiões”, como       Ivy League, tem dezenas de livros
 Global City 2.0. Tornar o espaço       infra-estruturas. Porque é que                                                escrevia a revista Foreign Policy em   publicados e escreve habitualmente
 das cidades mais justo e com mais      continuamos a admitir que haja
                                                                                 A elite urbana                       2008. São pontos estratégicos para     para publicações como o Guardian,
 qualidade, explica, passa por um       megacidades que até estão nesta                                               reinventar o futuro, em que nascem     o New York Times, a Newsweek, o
 envolvimento político das pessoas      lista, com centros desenvolvidos,        A lista de cidades que aqui          muitos dos acontecimentos que          Financial Times e a Foreign Policy.
 que nele vivem, passa por mudar        que têm subúrbios iguais às cidades      publicamos na capa deste             hoje fazem a História.                    O melhor que pode acontecer a
 a forma como se usa o carro e a        do terceiro mundo?”                      suplemento Cidades é do                                                     uma cidade, sobretudo em termos
 electricidade, por ter conta num                                                ano passado e foi feita pela         Classe média em crise                  económicos, continua, é ter uma
 pequeno banco regional e fazer         O exemplo da Praça Tahir                 consultora A.T. Kearney no           As cidades globais são, por            classe média gigantesca, porque
 compras na loja do bairro.             O momento que hoje vivemos,              âmbito de um projecto com a          definição, cosmopolitas, mas o          ela gastará a maior parte do seu
    Saskia Sassen, 62 anos, esteve      marcado pela crise económica e           revista Foreign Policy. Incluído     cosmopolitismo que as caracteriza      dinheiro na cidade, “coisa que
 segunda-feira entre académicos,        por revoluções no Médio Oriente,         no documento The Urban               não vem apenas das elites, como        os ricos não fazem, porque não
 rodeada de 200 mil livros na Ler       cria instabilidade nos cidadãos,         Elite, este index de 65 cidades      no passado, mas das comunidades        querem, e os pobres não fazem,
 Devagar, para falar de movimentos      mas também pode ser uma grande           globais foi feito com base em        imigrantes, cuja grande fatia          porque não podem”, e assegurará
 cívicos na “cidade global”. Este       oportunidade de mudança.                 25 parâmetros, distribuídos          ocupa, na maioria das vezes, os        que as empresas terão um lucro
 conceito, aliás, tornou-se mais           Sassen estava em Marrocos             por cinco indicadores de             níveis mais baixos da hierarquia       médio constante. “O problema
 popular desde que ela escreveu         em Fevereiro, quando se deu a            globalização: negócios, capital      social, defende esta socióloga         da classe média é que é a menos
 The Global City: New York, London,     revolução no Cairo e a queda do          humano, troca de informação,         da globalização que há 30 anos         internacionalizada, tende a ser
 Tokyo, no início dos anos 90, mas      presidente Hosni Mubarak. Ficou          cultura e envolvimento político.     trabalha sobre os problemas da         instalada, a manter o mesmo tipo
 nem por isso esta professora da        “absolutamente fascinada” com            Neste estudo, a globalização é       imigração nos Estados Unidos.          de empregos, a arriscar pouco, a
 Universidade de Columbia gosta         a mobilização da Praça Tahir,            definida como “a capacidade             Ao contrário do que se passava      ter uma vida previsível. É por esse
 de o usar: “Uma cidade global          epicentro dos protestos que se           de atrair, manter e geral capital    entre as décadas de 1950 e 1970        motivo que nela é tão importante
 é apenas uma cidade com mais           estendiam a toda a cidade. “Foi          global, pessoas e ideias”. A lista   – período de grande consumo na         o uso da tecnologia, como vimos
 responsabilidades. Uma cidade          a cidade que tornou tudo aquilo          está por ordem decrescente.          euforia do pós-Segunda Guerra          no Cairo.” Mas até isso, reconhece
 pequena que não faça parte da lista    possível. Irrita-me que as pessoas                                            Mundial –, já não é na classe          Sassen, está a mudar, devido à
Cidades • Domingo 24 Abril 2011 • 5

                                                                                                                                                   O projecto Global
                                                                                                                                                   City 2.0

                                                                                                                                                   Perceber em que redes
                                                                                                                                                   determinada cidade se insere e
                                                                                                                                                   tirar delas benefícios pode ser
                                                                                                                                                   um dos primeiros passos para o
                                                                                                                                                   seu desenvolvimento, diz Saskia
                                                                                                                                                   Sassen. O projecto Global City 2.0,
                                                                                                                                                   apresentado segunda-feira, a par
                                                                                                                                                   do lançamento do livro Sociologia
                                                                                                                                                   da Globalização (Saskia Sassen,
                                                                                                                                                   Artmed Editora, Brasil), é uma
                                                                                                                                                   iniciativa da sociedade civil que
                                                                                                                                                   “vale a pena apoiar”, defende.
                                                                                                                                                   Quem visitar o link globalcity.
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                                                                                                                                                   cidadãos que gostam de pensar
                                                                                                                                                   as cidades e os seus problemas.
                                                                                                                                                   O objectivo, explica João Seixas,
                                                                                                                                                   geógrafo e investigador do
                                                                                                                                                   Instituto de Ciências Sociais,
                                                                                                                                                   é reunir num mesmo espaço
                                                                                                                                                   virtual diversas iniciativas e
                                                                                                                                                   “aprender com a experiência dos
                                                                                                                                                   outros”. L.C.




                                                                                                                                                  global, ao contrário do que se
                                                                                                                                                  passava nos velhos impérios, em
                                                                                                                                                  que uma capital bastava, é dar
                                                                                                                                                  poder a várias cidades, porque
                                                                                                                                                  elas são as pontes entre um
Saskia                                                                                                                                            sistema global standardizado e os
Sassen                                                                                                                                            formalismos das economias e das
fotografada                                                                                                                                       culturas nacionais”, explica. “Neste
em Lisboa                                                                                                                                         momento, as especificidades
                                                                                                                                                  das cidades têm muito mais
                                                                                                                                                  importância. É por isso que não
                                                                                                                                                  se trata de olhar para o lugar que
                                                                                                                                                  Lisboa ocupa na lista, nem para o
                                                                                                                                                  seu tamanho. O que temos de fazer
                                                                                                                                                  é procurar a sua particularidade, as
                                                                                                                                                  diferenças que a tornam atraente
                                                                                                                                                  para os investidores e as pessoas.”
                                                                                                                                                     Se vivesse em Lisboa e estivesse a
                                                                                                                                                  conceber estratégias para a cidade,
                                                                                                                                                  Sassen começaria por ler muito
                                                                                                                                                  sobre o seu passado – “Algo que
                                                                                                                                                  nem todos os urbanistas fazem”,
                                                                                                                                                  diz – e depois procuraria perceber
                                                                                                                                                  de que redes internacionais faz
                                                                                                                                                  parte. “Lisboa tem um porto
                                                                                                                                                  importante para o país e isso diz-
                                                                                                                                                  me de imediato que é uma cidade
                                                                                                                                                  com conhecimento acumulado,
                                                                                                                                                  que sabe lidar com a realidade
                                                                                                                                                  complexa de um porto. Esse
                                                                                                                                                  conhecimento é um capital
                                                                                                                                                  importante. Basta ver o exemplo de
                                                                                                                                                  Singapura – um território pequeno,
                                                                                                                                                  com um porto historicamente
                                                                                                                                                  importante que ajudou a incluí-la
                                                                                                                                                  no top ten das cidades globais.”
                                                                                                                                                     Uma cidade pequena, conclui,
                                                                                                                                                  pode fazer história, se souber
                                                                                                                                                  arriscar. Há 30 anos, Curitiba, no
                                                                                                                                                  Brasil, pôs em curso um programa
                                                                                                                                                  radical de protecção ambiental
                                                                                                                                                  que fez dela um paradigma do
                                                                                                                                                  planeamento urbano. “Todas as
                                                                                                                                                  cidades têm micro-histórias que
                                                                                                                                                  podem fazer delas cidades globais.”
crise económica. Hoje há uma         abrangente poderia melhorar        cidade é urgente e mais informal.   regulamentos capazes de garantir         É caminhando pelas ruas e
nova geração na classe média que é   significativamente a vida nas       Ela tem em si a capacidade de       uma melhor qualidade do ar.           conversando com as pessoas que
menos instalada, porque tem mais     cidades: “Acredito que há          gerar consensos, porque é mais                                            Saskia Sassen gosta de ir à procura
dificuldades do que a dos pais,       aspectos cruciais para o bem-      concreta e os seus problemas mais   O que fazer com Lisboa?               destas micro-histórias. Para esta
menos empregos qualificados,          estar na cidade – como a questão   específicos do que os do país.”      Alguns problemas parecem mais         mulher que passa boa parte do ano
menos poder de compra. “E é          ambiental, por exemplo, a             Mais um exemplo norte-           fáceis de resolver, quando se trata   a viajar para dar aulas e participar
essa classe média descontente que    qualidade do ar – que serão        americano. Quando há uns anos       de cidades globais, mas como          em conferências, a noção de
está a fazer as praças Tahir por     mais importantes no futuro do      600 governos municipais pediram     podem mobilizar-se cidades com        pertença a um lugar é ainda muito
todo o lado. É um grande grupo       que as nossas diferenças. E as     ao governo federal que criasse      a escala de Lisboa ou do Porto?       importante, mesmo que não consiga
de pessoas, com formação e sem       pessoas que vivem nos grandes      leis mais fortes de controlo das    Saskia Sassen não conhece bem         dizer onde é que ele fica: “Sou uma
futuro, que está a fazer a mudança   centros urbanos terão de           emissões de CO2, a resposta foi     estas cidades, mas garante que        nómada contemporânea. A minha
nas cidades.”                        arregaçar as mangas e resolver     negativa. E que fizeram esses        o tamanho não é tudo e que os         casa é onde monto a minha tenda,
   Ainda assim, esta especialista    os seus problemas. As cidades      poderes locais? Juntaram-se e       centros urbanos competem muito        por um dia ou umas horas. E isso
em globalização garante que          são territórios impacientes,       processaram o governo. Resultado?   menos entre si do que à partida       pode ser simplesmente num bom
falta envolvimento político e        exigem respostas rápidas, porque   Em seguida, cidades como Los        pode parecer.                         café, com uma bela vista para uma
que um compromisso social            são sistemas abertos. Tudo na      Angeles adoptaram por si mesmas        “O que interessa nesta economia    rua movimentada e confusa.”

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Cidades globais e a importância da classe média

  • 1. Grande Porto Tapada Lipor convida das Mercês cidadãos a Uma babel tratar os jardins de betão onde em modo bio cabe o mundo Pág. 6/9 inteiro Pág. 10/11 Cidades Nova Iorque Londres Tóquio Paris Hong Kong Domingo, 24 de Abril de 2011 Chicago Los Angeles Singapura Sidney Seul Bruxelas São Francisco Washington D.C. Toronto Pequim Berlim Madrid Viena Boston Frankfurt Xangai Buenos Aires Estocolmo Zurique Moscovo Barcelona Dubai Roma Amesterdão Cidade do México Montreal Genebra Munique Miami São Paulo Banguecoque Copenhaga Houston Taipé Atlanta Istambul Milão Cairo Dublin Nova Deli Bombaim Osaka Kuala Lumpur Rio de Janeiro Telavive Manila Joanesburgo Jacarta Bogotá Caracas Nairobi Guangzhou Bangalore Lagos Carachi Ho Chi Min Shenzhen Calcutá Daca Chongqing Lisboa e Porto não estão na lista das cidades globais. Porquê? Págs. 4/5
  • 2. 4 • Cidades • Domingo 24 Abril 2011 “Todas as cidades têm micro-histórias que podem fazer delas cidades globais” Como podemos mobilizar cidades com a escala de Lisboa ou do Porto? A socióloga Saskia Sassen diz que não devemos ficar obcecados com os lugares nas listas globais, mas procurar as particularidades que tornam as cidades atraentes. Uma cidade pequena pode fazer história, se souber arriscar. Por Lucinda Canelas (texto) e Pedro Cunha (fotografia) a Os teóricos não se cansam das cidades globais também pode insistam que foi uma coisa do explica a socióloga. Tudo se média que está a capacidade de de dizer que o século XXI é o fazer história, mudar o mundo.” Facebook. A tecnologia ajudou, manteve local, porque há a transformar a sociedade, mas nas século das cidades. Saskia Sassen Nova Iorque, Londres, Paris, mas não fez tudo. Só na cidade consciência de que nem tudo elites e naqueles que à partida concorda, mas diz que há ainda Cairo, Tóquio, Hong Kong, Carachi, se pode formar uma multidão. passa pelas grandes cidades, têm menos acesso ao poder. muito a fazer para que elas se Bogotá, São Paulo, Genebra e Podemos ter o mesmo número defende, dando dois exemplos: “A classe média fez história no transformem em territórios de Telavive integram a lista a que de pessoas numa fábrica, numa “A manifestação de 15 Fevereiro período keynesiano, de construção oportunidade para todos. Para Sassen se refere. Estas e outras plantação, mas nunca teremos de 2003, contra a segunda guerra em massa nos subúrbios norte- esta socióloga holandesa que cidades globais são os lugares uma multidão. Uma multidão do Iraque, foi verdadeiramente americanos, onde podíamos foi educada em Buenos Aires em que quase tudo é decidido. exige pessoas diferentes, contextos global [mais de 600 cidades], encontrar grandes casas com e em Roma, e que hoje vive É a partir delas que se dirige a diferentes, sem hierarquias. No com um impacto enorme, e mulheres solitárias e deprimidas entre Nova Iorque e Londres, economia mundial, que se ditam campo ou na fábrica a hierarquia com cidades muito pequenas a – criou uma cultura, um modo de trabalhar o tema da globalização políticas e estratégias que regulam persiste.” participarem. E houve também viver. Hoje é nas elites – que se faz parte de um compromisso as relações internacionais. As O exemplo da Praça Tahir – aquela movimentação, quando as relacionam de cidade para cidade, social que tem muito a ver com a cidades globais são centros de “uma multidão transformadora empresas farmacêuticas quiseram independentemente do país, e palavra “igualdade” e com uma poder, são minimundos, espaços que deitou abaixo um governo processar o Governo da África do que representam um por cento consciência política que parece estratégicos para o capital e para com mais de 30 anos” – é um Sul, porque os hospitais do país da população – e nos imigrantes, ter começado a formar-se quando as pessoas, cujo principal desafio é interessante ponto de partida vendiam medicamentos para o que trazem uma espécie de era ainda criança e comparava a alargar a dinâmica de crescimento para a reflexão sobre o papel que tratamento da sida muito mais cosmopolitismo vernacular às sua vida – na sua casa não havia a todos os sectores de actividade, podem ter os movimentos cívicos baratos do que nos EUA ou na cidades, que muito do futuro se dificuldades e falavam-se sete a todas as classes sociais. E é aqui, num contexto urbano, tenham Europa. Aí tivemos uma grande joga.” línguas, se contarmos com o latim precisamente, que para Sassen se motivações políticas ou sociais, mobilização na África subsariana, Isto não quer dizer, no entanto, e o grego – com a dos bairros joga o futuro das cidades e, por e prova que os países têm muito mas também nas Filipinas e que a classe média tenha perdido pobres da capital argentina. isso, do mundo. a aprender com a capacidade de na Indonésia. Dois momentos a sua importância estrutural na “As nossas cidades globais – e as “Quando falo em igualdade, mobilização das cidades. extraordinários, que só foram orgânica urbana, explica esta nossas cidades em geral – podem não se trata de anular distinções Quando começou a mais recente possíveis porque as cidades se mulher, que momentos anos ser hoje profundamente injustas, sociais, mas de reforçar as crise laboral nos EUA, houve organizaram.” víramos fazer uma conferência em porque são profundamente condições de integração das muitas cidades no Middle West Revoluções como a da Praça espanhol – o “espanhol esquisito” desiguais”, diz ao Cidades na comunidades de imigrantes, de que se manifestaram sem começar Tahir, no Cairo, provam que as de Buenos Aires –, gesticulando sua breve passagem por Lisboa, atenuar as diferenças gigantescas a marchar para Washington DC, cidades globais são mais do que como uma latina e organizando a propósito do congresso que existem, por exemplo, entre como teriam feito no passado, “motores de crescimento dos seus o discurso como uma holandesa internacional de etnologia e os centros de algumas cidades e países” e “portas de acesso aos que dá aulas nas universidades da folclore e do lançamento da rede os seus subúrbios em termos de recursos das suas regiões”, como Ivy League, tem dezenas de livros Global City 2.0. Tornar o espaço infra-estruturas. Porque é que escrevia a revista Foreign Policy em publicados e escreve habitualmente das cidades mais justo e com mais continuamos a admitir que haja A elite urbana 2008. São pontos estratégicos para para publicações como o Guardian, qualidade, explica, passa por um megacidades que até estão nesta reinventar o futuro, em que nascem o New York Times, a Newsweek, o envolvimento político das pessoas lista, com centros desenvolvidos, A lista de cidades que aqui muitos dos acontecimentos que Financial Times e a Foreign Policy. que nele vivem, passa por mudar que têm subúrbios iguais às cidades publicamos na capa deste hoje fazem a História. O melhor que pode acontecer a a forma como se usa o carro e a do terceiro mundo?” suplemento Cidades é do uma cidade, sobretudo em termos electricidade, por ter conta num ano passado e foi feita pela Classe média em crise económicos, continua, é ter uma pequeno banco regional e fazer O exemplo da Praça Tahir consultora A.T. Kearney no As cidades globais são, por classe média gigantesca, porque compras na loja do bairro. O momento que hoje vivemos, âmbito de um projecto com a definição, cosmopolitas, mas o ela gastará a maior parte do seu Saskia Sassen, 62 anos, esteve marcado pela crise económica e revista Foreign Policy. Incluído cosmopolitismo que as caracteriza dinheiro na cidade, “coisa que segunda-feira entre académicos, por revoluções no Médio Oriente, no documento The Urban não vem apenas das elites, como os ricos não fazem, porque não rodeada de 200 mil livros na Ler cria instabilidade nos cidadãos, Elite, este index de 65 cidades no passado, mas das comunidades querem, e os pobres não fazem, Devagar, para falar de movimentos mas também pode ser uma grande globais foi feito com base em imigrantes, cuja grande fatia porque não podem”, e assegurará cívicos na “cidade global”. Este oportunidade de mudança. 25 parâmetros, distribuídos ocupa, na maioria das vezes, os que as empresas terão um lucro conceito, aliás, tornou-se mais Sassen estava em Marrocos por cinco indicadores de níveis mais baixos da hierarquia médio constante. “O problema popular desde que ela escreveu em Fevereiro, quando se deu a globalização: negócios, capital social, defende esta socióloga da classe média é que é a menos The Global City: New York, London, revolução no Cairo e a queda do humano, troca de informação, da globalização que há 30 anos internacionalizada, tende a ser Tokyo, no início dos anos 90, mas presidente Hosni Mubarak. Ficou cultura e envolvimento político. trabalha sobre os problemas da instalada, a manter o mesmo tipo nem por isso esta professora da “absolutamente fascinada” com Neste estudo, a globalização é imigração nos Estados Unidos. de empregos, a arriscar pouco, a Universidade de Columbia gosta a mobilização da Praça Tahir, definida como “a capacidade Ao contrário do que se passava ter uma vida previsível. É por esse de o usar: “Uma cidade global epicentro dos protestos que se de atrair, manter e geral capital entre as décadas de 1950 e 1970 motivo que nela é tão importante é apenas uma cidade com mais estendiam a toda a cidade. “Foi global, pessoas e ideias”. A lista – período de grande consumo na o uso da tecnologia, como vimos responsabilidades. Uma cidade a cidade que tornou tudo aquilo está por ordem decrescente. euforia do pós-Segunda Guerra no Cairo.” Mas até isso, reconhece pequena que não faça parte da lista possível. Irrita-me que as pessoas Mundial –, já não é na classe Sassen, está a mudar, devido à
  • 3. Cidades • Domingo 24 Abril 2011 • 5 O projecto Global City 2.0 Perceber em que redes determinada cidade se insere e tirar delas benefícios pode ser um dos primeiros passos para o seu desenvolvimento, diz Saskia Sassen. O projecto Global City 2.0, apresentado segunda-feira, a par do lançamento do livro Sociologia da Globalização (Saskia Sassen, Artmed Editora, Brasil), é uma iniciativa da sociedade civil que “vale a pena apoiar”, defende. Quem visitar o link globalcity. blogs.sapo.pt pode aceder a uma série de sites e blogues nacionais e estrangeiros promovidos por cidadãos que gostam de pensar as cidades e os seus problemas. O objectivo, explica João Seixas, geógrafo e investigador do Instituto de Ciências Sociais, é reunir num mesmo espaço virtual diversas iniciativas e “aprender com a experiência dos outros”. L.C. global, ao contrário do que se passava nos velhos impérios, em que uma capital bastava, é dar poder a várias cidades, porque elas são as pontes entre um Saskia sistema global standardizado e os Sassen formalismos das economias e das fotografada culturas nacionais”, explica. “Neste em Lisboa momento, as especificidades das cidades têm muito mais importância. É por isso que não se trata de olhar para o lugar que Lisboa ocupa na lista, nem para o seu tamanho. O que temos de fazer é procurar a sua particularidade, as diferenças que a tornam atraente para os investidores e as pessoas.” Se vivesse em Lisboa e estivesse a conceber estratégias para a cidade, Sassen começaria por ler muito sobre o seu passado – “Algo que nem todos os urbanistas fazem”, diz – e depois procuraria perceber de que redes internacionais faz parte. “Lisboa tem um porto importante para o país e isso diz- me de imediato que é uma cidade com conhecimento acumulado, que sabe lidar com a realidade complexa de um porto. Esse conhecimento é um capital importante. Basta ver o exemplo de Singapura – um território pequeno, com um porto historicamente importante que ajudou a incluí-la no top ten das cidades globais.” Uma cidade pequena, conclui, pode fazer história, se souber arriscar. Há 30 anos, Curitiba, no Brasil, pôs em curso um programa radical de protecção ambiental que fez dela um paradigma do planeamento urbano. “Todas as cidades têm micro-histórias que podem fazer delas cidades globais.” crise económica. Hoje há uma abrangente poderia melhorar cidade é urgente e mais informal. regulamentos capazes de garantir É caminhando pelas ruas e nova geração na classe média que é significativamente a vida nas Ela tem em si a capacidade de uma melhor qualidade do ar. conversando com as pessoas que menos instalada, porque tem mais cidades: “Acredito que há gerar consensos, porque é mais Saskia Sassen gosta de ir à procura dificuldades do que a dos pais, aspectos cruciais para o bem- concreta e os seus problemas mais O que fazer com Lisboa? destas micro-histórias. Para esta menos empregos qualificados, estar na cidade – como a questão específicos do que os do país.” Alguns problemas parecem mais mulher que passa boa parte do ano menos poder de compra. “E é ambiental, por exemplo, a Mais um exemplo norte- fáceis de resolver, quando se trata a viajar para dar aulas e participar essa classe média descontente que qualidade do ar – que serão americano. Quando há uns anos de cidades globais, mas como em conferências, a noção de está a fazer as praças Tahir por mais importantes no futuro do 600 governos municipais pediram podem mobilizar-se cidades com pertença a um lugar é ainda muito todo o lado. É um grande grupo que as nossas diferenças. E as ao governo federal que criasse a escala de Lisboa ou do Porto? importante, mesmo que não consiga de pessoas, com formação e sem pessoas que vivem nos grandes leis mais fortes de controlo das Saskia Sassen não conhece bem dizer onde é que ele fica: “Sou uma futuro, que está a fazer a mudança centros urbanos terão de emissões de CO2, a resposta foi estas cidades, mas garante que nómada contemporânea. A minha nas cidades.” arregaçar as mangas e resolver negativa. E que fizeram esses o tamanho não é tudo e que os casa é onde monto a minha tenda, Ainda assim, esta especialista os seus problemas. As cidades poderes locais? Juntaram-se e centros urbanos competem muito por um dia ou umas horas. E isso em globalização garante que são territórios impacientes, processaram o governo. Resultado? menos entre si do que à partida pode ser simplesmente num bom falta envolvimento político e exigem respostas rápidas, porque Em seguida, cidades como Los pode parecer. café, com uma bela vista para uma que um compromisso social são sistemas abertos. Tudo na Angeles adoptaram por si mesmas “O que interessa nesta economia rua movimentada e confusa.”