SlideShare a Scribd company logo
1 of 49
Download to read offline
Departamento de Filosofia

                 Universidade Federal de Ouro Preto




A PRENDER A FILOSOFAR
A CONCEPÇÃO SOCRÁTICA
O QUE A FILOSOFIA É

1.   O telos do estudo da filosofia é saber
     filosofar

2.   A filosofia é a crítica fundamentada de todas
     as nossas ideias

3.   Não é uma investigação empírica nem
     matemática

4.   É uma disciplina sobre problemas em aberto
O       QUE A FILOSOFIA NÃO É


   A filosofia não é história da filosofia
       O estudo da filosofia não se reduz à leitura e
        interpretação de textos clássicos

       O telos do estudo não é apenas a
        compreensão dos textos dos filósofos

   A filosofia não é cultura geral
       Não é um elogio de um certo tipo de
        assuntos

       Não é uma discussão de senso comum
OS      ELEMENTOS DA
                     FILOSOFIA



            Argumentos



      Conceitos

Problemas                Teorias
A filosofia não permitirá que crença alguma passe a
 inspecção só porque tem sido venerada pela tradição
 ou porque as pessoas acham que é emocionalmente
 compensador aceitar essa crença. A filosofia não
 aceitará uma crença só porque se pensa que é
 “simples senso comum” ou porque foi proclamada por
 homens sábios. A filosofia tenta nada tomar como
 “garantido” e nada aceitar “por fé.” Dedica-se à
 investigação persistente e de espírito aberto, para
 descobrir se as nossas crenças são justificadas, e até
 que ponto o são.




J EROME S TOLNITZ
Estaríamos a trair a confiança que o público nos dispensa se, em
vez de alargar a capacidade de entendimento dos jovens
entregues ao nosso cuidado e em vez de os educar de modo a
que no futuro consigam adquirir uma perspectiva própria mais
amadurecida, se em vez disso os enganássemos com uma
filosofia alegadamente já acabada e cogitada por outras pessoas
em seu benefício. [...] O método de instrução próprio da filosofia
é zetético, como o disseram alguns filósofos da antiguidade (de
ζητειν). Por outras palavras, o método da filosofia é o método da
investigação. [...] Por exemplo, o autor sobre o qual baseamos a
nossa instrução não deve ser considerado o paradigma do juízo.
Ao invés, deve ser encarado como uma ocasião para cada um de
nós formar um juízo sobre ele, e até mesmo, na verdade, contra
ele. O que o aluno realmente procura é proficiência no método de
reflectir e fazer inferências por si.




I MMANUEL K ANT
P ROBLEMAS
                       FILOSÓFICOS

   Será que a vida tem sentido?
   O que é o conhecimento?
   Os animais têm direitos?
   Haverá uma justificação para a autoridade
    do estado?
   Como poderemos saber que o mundo não é
    uma ilusão?
   Será que tudo é relativo?
M AIS      PROBLEMAS
                         FILOSÓFICOS


   O que é a arte?

   O que são os números?

   Será a existência de Deus compatível com o
    sofrimento?

   O que é uma lei da física?
F ILOSOFIA E COGNIÇÃO

1.    Os problemas filosóficos são insusceptíveis
      de solução experimental ou formal

2.    Mas apesar disso são cognitivamente
      relevantes

     O cientismo nega 2 por entender que sem
      resultados não há progresso cognitivo
P ROBLEMAS               NÃO
                         FILOSÓFICOS


   Será que os crentes são mais felizes que os
    ateus? Sociologia
   Qual é o significado de “A Tabacaria,” de
    Álvaro de Campos? Teoria da literatura
   Será um pecado tomar a pílula? Religião
   Será o último teorema de Fermat
    verdadeiro? Matemática
   Qual é a composição química da atmosfera
    de Júpiter? Astrofísica
P ROBLEMAS             NÃO
                        FILOSÓFICOS


   Como evoluiu o conceito de arte ao longo do
    tempo? História das ideias

   Como concebiam os gregos a verdade?
    História das ideias

   O que entende Nietzsche por Übermensch?
    História da filosofia

   Como se caracteriza o dualismo de
    Descartes? História da filosofia
A S RESPOSTAS FILOSÓFICAS
R ESPOSTAS              NÃO
                          FILOSÓFICAS


   Nem todas as respostas aos problemas
    filosóficos são filosóficas

   Para ser filosófica, a resposta tem de estar
    fundamentada
AVALIAR TEORIAS

1.   Como se articulam os diferentes aspectos da
     teoria?

2.   Como responde a teoria ao problema
     filosófico que se propõe resolver?

3.   A teoria é plausível? Que argumentos há a
     seu favor?

4.   A teoria é mais plausível do que as teorias
     alternativas?
O    ESTUDANTE DEVE
                     COMPREENDER


   As teorias respondem a problemas reais

   Cada teoria é avaliada em contraste com as
    suas alternativas

   O objectivo é saber avaliar criticamente as
    teorias
A PRENDER A FILOSOFAR

   Aprender a filosofar é fazer algo mais do que
    compreender os problemas da filosofia e as
    ideias e argumentos dos filósofos
   Aprender a filosofar é
       Aprender a criticar e analisar as ideias e
        argumentos dos filósofos
       Aprender a analisar os problemas da filosofia
       Aprender a propor novas ideias e
        argumentos filosóficos
A PRENDER A FILOSOFAR

   Compreender e interpretar não é filosofar

   Compreender os textos dos filósofos não
    chega

   É preciso saber criticá-los
A PRENDE - SE    A FILOSOFAR
                FILOSOFANDO


          Compreensão
           das ideias




 Pensamento
                        Erros
   original
E XIGÊNCIAS
                       FILOSÓFICAS

   Desinteresse parcial pela psicologia dos
    filósofos

   Interesse intenso pelas ideias em si
L EITURA CARIDOSA

   Para fazer uma leitura caridosa é preciso
    fazer uma leitura crítica
A PTIDÕES          PARA
                            FILOSOFAR


   A capacidade para raciocinar e teorizar
    intensamente sobre matérias muitíssimo
    arredadas do factual e do empírico

   A capacidade para encontrar objecções e
    contra-exemplos imaginativos
M EIOS E FINS

   A discussão filosófica das ideias e
    argumentos dos filósofos é diferente da
    discussão exegética ou histórica

   O que na primeira é meramente instrumental
    é o telos da segunda
R ELATÓRIO             NÃO É ENSAIO


   Ensaios expositivos ou interpretativos são
    muito diferentes de ensaios filosóficos
PARÁFRASE                  NÃO É
                         RECONSTRUÇÃO


Paráfrase                       Reconstrução teórica

   Dizer o que está no texto      Interpretação caridosa

   Fazer comentários              Formulação rigorosa da
    estéticos ou históricos         melhor versão teórica

   Mimetismo terminológico        Atenção à cogência
                                    argumentativa
   Citações e paráfrases
                                   Atenção à plausibilidade
                                    das ideias
P ERGUNTAS
                       FILOSÓFICAS

   As ideias do filósofo são plausíveis?
    Porquê?

   Os seus argumentos são cogentes?
    Porquê?
S ABER        DISCUTIR
                              FILOSOFIA


1.   Discussão livre dotada de probidade
     epistémica

2.   Distinção entre noções de base e noções
     substanciais

3.   Conhecimento do contexto teórico relevante

4.   Domínio da lógica formal e informal
U M EXEMPLO : P LATÃO
SÓCRATES – Com quem conversas agora? Comigo, sem
dúvida?
ALCIBÍADES – Sim.
SÓC. – E eu contigo?
ALC. – Sim.
SÓC. – Quem fala, portanto, é Sócrates?
ALC. – Certamente.
SÓC. – E quem ouve é Alcibíades?
ALC. – Sim.
SÓC. – E Sócrates usa palavras ao falar?
ALC. – Claro.
SÓC. – E tu dirás que falar e usar palavras é a mesma coisa?
ALC. – Claro.
SÓC. – Mas quem usa e o que ele usa são coisas diferentes,
não?
ALC. – Que queres dizer?
SÓC. – Por exemplo, não é verdade que um sapateiro usa
diversas ferramentas?
ALC. – Sim.
SÓC. – E quem faz os cortes e usa as ferramentas é muito
diferente daquilo que se usa ao fazer os cortes, não?
ALC. – Claro.
SÓC. – E, do mesmo modo, o que o harpista usa ao tocar harpa
será diferente do próprio harpista?
ALC. – Sim.
SÓC. – Pois bem! Era isto que eu perguntava há pouco: se quem
usa e o que ele usa são sempre, na tua opinião, duas coisas
diferentes.
ALC. – São coisas diferentes.
SÓC. – Que dizer então do sapateiro? Ele faz cortes só com as
ferramentas, ou também com as mãos?
ALC. – Também com as mãos.
SÓC. – Portanto, ele usa também as mãos?
ALC. – Sim.
SÓC. – E ele usa também os olhos, ao fazer sapatos?
ALC. – Sim.
SÓC. – E já admitimos que quem usa e o que ele usa são coisas
diferentes?
ALC. – Sim.
SÓC. – Então o sapateiro e o harpista são diferentes das mãos e
olhos que eles usam no seu trabalho?
ALC. – Evidentemente.
SÓC. – E o homem usa também todo o seu corpo?
ALC. – Sem dúvida.
SÓC. – E nós dissemos que quem usa e o que ele usa são
coisas diferentes?
ALC. – Sim.
SÓC. – Então o homem é diferente do seu próprio corpo?
ALC. – Parece que sim.




Platão, Alcibíades I, 129b-
129e
I NTERPRETAÇÃO
                            FILOSÓFICA


   Sócrates apresenta várias razões a favor de
    uma ideia

   Essa ideia é a primeira coisa a procurar, pois
    é a conclusão geral do texto

   Neste caso, a conclusão é que “o homem é
    diferente do seu próprio corpo”
I DENTIFICAÇÃO             DO
                         ARGUMENTO


   Uma vez conhecida a conclusão, torna-se
    mais fácil reconstruir o argumento ou
    argumentos

   Neste caso, Sócrates afirma que o homem
    usa o seu corpo. Esta ideia desempenha um
    papel importante, pois Sócrates dá vários
    exemplos em que quem usa uma coisa é
    diferente dessa coisa que é usada. Esta é,
    pois, a chave para compreender o
    argumento de Sócrates e uma das suas
    premissas fundamentais: quem usa uma
    coisa é diferente do que é usado.
A RGUMENTOS NO
                                            TEXTO

                               Argumentos
Argumento principal
                               complementares
   Quem usa uma coisa é          Os sapateiros são
    diferente do que é             diferentes das
    usado. O homem usa o           ferramentas que usam.
    seu próprio corpo. Logo,       Os harpistas são
    o homem é diferente do         diferentes do que usam
    seu próprio corpo.             ao tocar harpa. Logo,
                                   quem usa uma coisa é
                                   diferente do que é usado.

                                  O sapateiro usa as mãos
                                   e os olhos para fazer
                                   sapatos. Logo, o homem
                                   usa o seu próprio corpo.
E STRUTURA
                    ARGUMENTATIVA



                                          Os sapateiros são
                                           diferentes das
                                          ferramentas que
                     Quem usa uma               usam
                   coisa é diferente do
                       que é usado        Os harpistas são
                                          diferentes do que
   O homem é                                usam ao tocar
diferente do seu                                harpa
 próprio corpo
                                          O sapateiro usa as
                     O homem usa o
                                           mãos e os olhos
                    seu próprio corpo
                                          para fazer sapatos
U MA ESTRUTURA
                               COMUM


                                  Premissa
                                complementar
              Uma premissa
                               Outra premissa
                               complementar
Conclusão
 principal
                                  Premissa
                                complementar
              Outra premissa
                               Outra premissa
                               complementar
D ISCUSSÃO              DO
                         ARGUMENTO


   Para ser cogente um argumento tem de ser
    válido, ter premissas verdadeiras e mais
    plausíveis do que a conclusão

   O argumento é válido e a sua validade
    estabelece-se facilmente na lógica de
    predicados

   Mas serão as premissas verdadeiras?
D ISCUSSÃO             DAS
                            PREMISSAS


   Segunda premissa
       O homem usa o seu próprio corpo

   A segunda premissa é inatacável: é óbvio
    que os seres humanos usam os seus corpos

   Se a primeira premissa for igualmente
    verdadeira, será impossível que a conclusão
    seja falsa, dado que o argumento é válido
A PRIMEIRA PREMISSA

   Primeira premissa
       Quem usa uma coisa é diferente do que é
        usado

   Esta premissa é discutível. Sócrates
    apresenta um argumento complementar
    para a defender. Trata-se de um argumento
    indutivo. Isto significa que se houver contra-
    exemplos, o argumento será inválido. Um
    contra-exemplo, neste caso, é algo que usa
    qualquer coisa e que não é diferente do que
    usa.
C ONTRA - EXEMPLOS

   Uma planta usa as suas folhas e raízes para
    se alimentar e respirar
       Mas a planta em si não é diferente das folhas
        e das raízes que usa

   Um rio usa a água, o leito e as suas
    margens, num certo sentido
       Mas o rio não é diferente dessas coisas que
        usa
P OSSÍVEL RESPOSTA

   Nem as plantas nem os rios têm
    consciência, e por isso não podemos dizer
    estritamente que usam seja o que for
O BJEÇÃO À RESPOSTA

   Essa responda transforma o argumento
    numa petição de princípio

   Pois nesse caso temos de começar por
    admitir que os seres humanos têm algo
    diferente dos seus corpos – a consciência.
    Mas isso é o que o argumento pretende
    defender e por isso não pode ser
    pressuposto. Se o fizermos, o argumento
    não é cogente porque quem recusa a
    conclusão irá recusar as premissas,
    reinterpretadas desse modo.
C ONTRA - ARGUMENTO

   Parece haver qualquer coisa de mais
    fundamentalmente errado com o argumento.
    Pois com o mesmo tipo de argumento
    podemos sempre mostrar que os seres
    humanos são diferentes de tudo e mais
    alguma coisa, incluindo a sua alma,
    consciência ou pensamentos:
       Quem usa uma coisa é diferente do que é
        usado. Os seres humanos usam a sua alma,
        consciência e pensamentos. Logo, os seres
        humanos são diferentes da sua alma,
        consciência e pensamentos.
C ONCLUSÃO

   O argumento de Sócrates não parece
    cogente porque
    1.   Apoia-se numa premissa plausivelmente
         falsa

    2.   Se fosse cogente, outro argumento análogo
         poderia ser construído para provar que os
         seres humanos são diferentes de seja o que
         for que se considere
B IBLIOGRAFIA E CONFUSÃO
C ONHECIMENTO
                    BIBLIOGRÁFICO


   Bibliografia introdutória não é o mesmo que
    bibliografia secundária

   Alguma bibliografia secundária não é
    introdutória
B IBLIOGRAFIA
                      INTRODUTÓRIA


   Socrática: a experiência do filosofar

   Descritiva: referências históricas e
    bibliográficas

   Antologias
C ONDIÇÕES             PARA
                            FILOSOFAR


   Acesso a boas obras introdutórias que
    ensinam a compreender textos filosóficos
    sofisticados

   Compreensão dos problemas que estão na
    origem das ideias e argumentos da filosofia

   Conhecimento das alternativas teóricas
    relevantes

   Saber argumentar
C ONDIÇÕES            ESCOLARES
                                    GERAIS


   Incentivo à discussão na aula

   Os conteúdos, bibliografias e
    conhecimentos não podem ser usados para
    oprimir o aluno

More Related Content

What's hot

Cap01.1 Abordagem introdutória à filosofia e ao filosofar
Cap01.1 Abordagem introdutória à filosofia e ao filosofarCap01.1 Abordagem introdutória à filosofia e ao filosofar
Cap01.1 Abordagem introdutória à filosofia e ao filosofarAntónio Padrão
 
Iniciação à atividade filosófica
Iniciação à atividade filosóficaIniciação à atividade filosófica
Iniciação à atividade filosóficaFilazambuja
 
Síntese as questões filosóficas
Síntese as questões filosóficasSíntese as questões filosóficas
Síntese as questões filosóficasmluisavalente
 
Filosofia exame resumoglobal (1)
Filosofia exame  resumoglobal (1)Filosofia exame  resumoglobal (1)
Filosofia exame resumoglobal (1)Sandra Bolinhas
 
A filosofia e a sua dimensão discursiva - conceitos e definições (10.º ano - ...
A filosofia e a sua dimensão discursiva - conceitos e definições (10.º ano - ...A filosofia e a sua dimensão discursiva - conceitos e definições (10.º ano - ...
A filosofia e a sua dimensão discursiva - conceitos e definições (10.º ano - ...António Padrão
 
Ficha de trabalho - A dimensão discursiva do trabalho filosófico
Ficha de trabalho - A dimensão discursiva do trabalho filosóficoFicha de trabalho - A dimensão discursiva do trabalho filosófico
Ficha de trabalho - A dimensão discursiva do trabalho filosóficoAnaKlein1
 
Filosofia Nº 1 - 11º Ano
Filosofia Nº 1 - 11º AnoFilosofia Nº 1 - 11º Ano
Filosofia Nº 1 - 11º AnoJorge Barbosa
 
Introfilosofia
IntrofilosofiaIntrofilosofia
IntrofilosofiaAida Cunha
 
Aulas de filosofia trabalhadas no ensino médio - SP - 2009
Aulas de filosofia trabalhadas no ensino médio - SP - 2009Aulas de filosofia trabalhadas no ensino médio - SP - 2009
Aulas de filosofia trabalhadas no ensino médio - SP - 2009Adriano Araujo
 
F 2007 ficha de trabalho módulo inicial
F 2007 ficha de trabalho   módulo inicialF 2007 ficha de trabalho   módulo inicial
F 2007 ficha de trabalho módulo inicialmluisavalente
 
Falácias Informais - Filosofia e retórica
Falácias Informais - Filosofia e retóricaFalácias Informais - Filosofia e retórica
Falácias Informais - Filosofia e retóricaIsaque Tomé
 
Para que filosofia do direito
Para que filosofia do direitoPara que filosofia do direito
Para que filosofia do direitoJoao Carlos
 

What's hot (19)

Cap01.1 Abordagem introdutória à filosofia e ao filosofar
Cap01.1 Abordagem introdutória à filosofia e ao filosofarCap01.1 Abordagem introdutória à filosofia e ao filosofar
Cap01.1 Abordagem introdutória à filosofia e ao filosofar
 
Iniciação à atividade filosófica
Iniciação à atividade filosóficaIniciação à atividade filosófica
Iniciação à atividade filosófica
 
Síntese as questões filosóficas
Síntese as questões filosóficasSíntese as questões filosóficas
Síntese as questões filosóficas
 
Filosofia exame resumoglobal (1)
Filosofia exame  resumoglobal (1)Filosofia exame  resumoglobal (1)
Filosofia exame resumoglobal (1)
 
A filosofia e a sua dimensão discursiva - conceitos e definições (10.º ano - ...
A filosofia e a sua dimensão discursiva - conceitos e definições (10.º ano - ...A filosofia e a sua dimensão discursiva - conceitos e definições (10.º ano - ...
A filosofia e a sua dimensão discursiva - conceitos e definições (10.º ano - ...
 
Ficha de trabalho - A dimensão discursiva do trabalho filosófico
Ficha de trabalho - A dimensão discursiva do trabalho filosóficoFicha de trabalho - A dimensão discursiva do trabalho filosófico
Ficha de trabalho - A dimensão discursiva do trabalho filosófico
 
Filosofia Nº 1 - 11º Ano
Filosofia Nº 1 - 11º AnoFilosofia Nº 1 - 11º Ano
Filosofia Nº 1 - 11º Ano
 
Introfilosofia
IntrofilosofiaIntrofilosofia
Introfilosofia
 
Argumentos
ArgumentosArgumentos
Argumentos
 
Verificab..
Verificab..Verificab..
Verificab..
 
Aulas de filosofia trabalhadas no ensino médio - SP - 2009
Aulas de filosofia trabalhadas no ensino médio - SP - 2009Aulas de filosofia trabalhadas no ensino médio - SP - 2009
Aulas de filosofia trabalhadas no ensino médio - SP - 2009
 
Revisão pf filosofia
Revisão pf filosofiaRevisão pf filosofia
Revisão pf filosofia
 
F 2007 ficha de trabalho módulo inicial
F 2007 ficha de trabalho   módulo inicialF 2007 ficha de trabalho   módulo inicial
F 2007 ficha de trabalho módulo inicial
 
Falácias Informais - Filosofia e retórica
Falácias Informais - Filosofia e retóricaFalácias Informais - Filosofia e retórica
Falácias Informais - Filosofia e retórica
 
Filosofia 11ºano ag
Filosofia 11ºano agFilosofia 11ºano ag
Filosofia 11ºano ag
 
Para que Filosofia do Direito?
Para que Filosofia do Direito?Para que Filosofia do Direito?
Para que Filosofia do Direito?
 
Para que filosofia do direito
Para que filosofia do direitoPara que filosofia do direito
Para que filosofia do direito
 
Popper
PopperPopper
Popper
 
Tipos de Argumentos
Tipos de ArgumentosTipos de Argumentos
Tipos de Argumentos
 

Viewers also liked

Funções 1ano2slideshare.pptx-
 Funções 1ano2slideshare.pptx- Funções 1ano2slideshare.pptx-
Funções 1ano2slideshare.pptx-Marily Benicio
 
Conteúdo Básicos - Mínimos Ensino Médio do Tocantins - ALINHAMENTO - Filosofia
Conteúdo Básicos - Mínimos Ensino Médio do Tocantins - ALINHAMENTO - FilosofiaConteúdo Básicos - Mínimos Ensino Médio do Tocantins - ALINHAMENTO - Filosofia
Conteúdo Básicos - Mínimos Ensino Médio do Tocantins - ALINHAMENTO - Filosofiadenisealvesf
 
Filosofia Medieval
Filosofia MedievalFilosofia Medieval
Filosofia MedievalAlison Nunes
 
Dinâmica para uma aula alegre
Dinâmica para uma aula alegreDinâmica para uma aula alegre
Dinâmica para uma aula alegreMarília Bogéa
 
1ª unidade de Filosofia
1ª unidade de Filosofia1ª unidade de Filosofia
1ª unidade de FilosofiaRita Camilo
 
O que e filosofia
O que e filosofiaO que e filosofia
O que e filosofiaJoao Carlos
 
O Depertar para a Filosofia
O Depertar para a FilosofiaO Depertar para a Filosofia
O Depertar para a Filosofiatacio111
 
O que é filosofia?
O que é filosofia?O que é filosofia?
O que é filosofia?Renan Torres
 
A origem da reflexão filosófica eo significado de filosofia.
A origem da reflexão filosófica eo significado de filosofia.A origem da reflexão filosófica eo significado de filosofia.
A origem da reflexão filosófica eo significado de filosofia.Flávia Perroni
 

Viewers also liked (20)

Funções 1ano2slideshare.pptx-
 Funções 1ano2slideshare.pptx- Funções 1ano2slideshare.pptx-
Funções 1ano2slideshare.pptx-
 
Filosofia medieval
Filosofia medievalFilosofia medieval
Filosofia medieval
 
O que é a filosofia
O que é a filosofiaO que é a filosofia
O que é a filosofia
 
Dia da filosofia
Dia da filosofiaDia da filosofia
Dia da filosofia
 
O que é filosofia
O que é filosofiaO que é filosofia
O que é filosofia
 
Conteúdo Básicos - Mínimos Ensino Médio do Tocantins - ALINHAMENTO - Filosofia
Conteúdo Básicos - Mínimos Ensino Médio do Tocantins - ALINHAMENTO - FilosofiaConteúdo Básicos - Mínimos Ensino Médio do Tocantins - ALINHAMENTO - Filosofia
Conteúdo Básicos - Mínimos Ensino Médio do Tocantins - ALINHAMENTO - Filosofia
 
Filosofia Medieval
Filosofia MedievalFilosofia Medieval
Filosofia Medieval
 
Dinâmica para uma aula alegre
Dinâmica para uma aula alegreDinâmica para uma aula alegre
Dinâmica para uma aula alegre
 
Filosofia medieval 21 mp xsxs
Filosofia medieval 21 mp xsxsFilosofia medieval 21 mp xsxs
Filosofia medieval 21 mp xsxs
 
1ª unidade de Filosofia
1ª unidade de Filosofia1ª unidade de Filosofia
1ª unidade de Filosofia
 
O que e filosofia
O que e filosofiaO que e filosofia
O que e filosofia
 
O Depertar para a Filosofia
O Depertar para a FilosofiaO Depertar para a Filosofia
O Depertar para a Filosofia
 
História da Filosofia
História da FilosofiaHistória da Filosofia
História da Filosofia
 
Filosofia medieval raiana 27 np
Filosofia medieval raiana 27 npFilosofia medieval raiana 27 np
Filosofia medieval raiana 27 np
 
2a. apostila-de-filosofia
2a. apostila-de-filosofia2a. apostila-de-filosofia
2a. apostila-de-filosofia
 
1 o nascimento da filosofia - dos pré-socráticos à aristóteles
1   o nascimento da filosofia - dos pré-socráticos à aristóteles1   o nascimento da filosofia - dos pré-socráticos à aristóteles
1 o nascimento da filosofia - dos pré-socráticos à aristóteles
 
O que é filosofia?
O que é filosofia?O que é filosofia?
O que é filosofia?
 
História da Filosofia
História da FilosofiaHistória da Filosofia
História da Filosofia
 
Filosofia Socrática
Filosofia SocráticaFilosofia Socrática
Filosofia Socrática
 
A origem da reflexão filosófica eo significado de filosofia.
A origem da reflexão filosófica eo significado de filosofia.A origem da reflexão filosófica eo significado de filosofia.
A origem da reflexão filosófica eo significado de filosofia.
 

Similar to Aprender

Introdução-à-Filosofia.pptx
Introdução-à-Filosofia.pptxIntrodução-à-Filosofia.pptx
Introdução-à-Filosofia.pptxssusera1ec45
 
Areflexofilosfica 120219080955-phpapp01 (2)
Areflexofilosfica 120219080955-phpapp01 (2)Areflexofilosfica 120219080955-phpapp01 (2)
Areflexofilosfica 120219080955-phpapp01 (2)Josivaldo Corrêa Silva
 
Introdução histórica à filosofia das ciências.pdf
Introdução histórica à filosofia das ciências.pdfIntrodução histórica à filosofia das ciências.pdf
Introdução histórica à filosofia das ciências.pdfFelipeCarlosSpitz
 
Apresentação PPT Capítulo 1 - O que é a Filosofia_ As questões da Filosofia.pptx
Apresentação PPT Capítulo 1 - O que é a Filosofia_ As questões da Filosofia.pptxApresentação PPT Capítulo 1 - O que é a Filosofia_ As questões da Filosofia.pptx
Apresentação PPT Capítulo 1 - O que é a Filosofia_ As questões da Filosofia.pptxAdão Silva
 
Atitude filosofica e abordagem do direito (aula prática)
Atitude filosofica e abordagem do direito (aula prática)Atitude filosofica e abordagem do direito (aula prática)
Atitude filosofica e abordagem do direito (aula prática)Joao Carlos
 
CAPÍTULO 1 - A EXPERIÊNCIA FILOSÓFICA.ppt
CAPÍTULO 1 - A EXPERIÊNCIA FILOSÓFICA.pptCAPÍTULO 1 - A EXPERIÊNCIA FILOSÓFICA.ppt
CAPÍTULO 1 - A EXPERIÊNCIA FILOSÓFICA.pptMarcoAntonio251662
 
Ficha trab. 10º ano
Ficha trab. 10º anoFicha trab. 10º ano
Ficha trab. 10º anomluisavalente
 
ATIVIDADE DE FILOSOFIA 2.docx
ATIVIDADE DE FILOSOFIA  2.docxATIVIDADE DE FILOSOFIA  2.docx
ATIVIDADE DE FILOSOFIA 2.docxElieidw
 
Apostila de filosofia 6o ef - 1o bimestre
Apostila de filosofia   6o ef - 1o bimestreApostila de filosofia   6o ef - 1o bimestre
Apostila de filosofia 6o ef - 1o bimestreAndrea Parlen
 
Prep. 1º teste fil. 10º
Prep. 1º teste fil. 10ºPrep. 1º teste fil. 10º
Prep. 1º teste fil. 10ºlolaesa
 
Prep. 1º teste fil. 10º
Prep. 1º teste fil. 10ºPrep. 1º teste fil. 10º
Prep. 1º teste fil. 10ºlolaesa
 
Ficha trab. 2 10º
Ficha trab. 2 10ºFicha trab. 2 10º
Ficha trab. 2 10ºFilipe Prado
 
Introdução à filosofia
Introdução à filosofiaIntrodução à filosofia
Introdução à filosofiaNuno Pereira
 

Similar to Aprender (20)

Introdução-à-Filosofia.pptx
Introdução-à-Filosofia.pptxIntrodução-à-Filosofia.pptx
Introdução-à-Filosofia.pptx
 
Areflexofilosfica 120219080955-phpapp01 (2)
Areflexofilosfica 120219080955-phpapp01 (2)Areflexofilosfica 120219080955-phpapp01 (2)
Areflexofilosfica 120219080955-phpapp01 (2)
 
A reflexão filosófica
A reflexão filosóficaA reflexão filosófica
A reflexão filosófica
 
Introdução histórica à filosofia das ciências.pdf
Introdução histórica à filosofia das ciências.pdfIntrodução histórica à filosofia das ciências.pdf
Introdução histórica à filosofia das ciências.pdf
 
Apresentação PPT Capítulo 1 - O que é a Filosofia_ As questões da Filosofia.pptx
Apresentação PPT Capítulo 1 - O que é a Filosofia_ As questões da Filosofia.pptxApresentação PPT Capítulo 1 - O que é a Filosofia_ As questões da Filosofia.pptx
Apresentação PPT Capítulo 1 - O que é a Filosofia_ As questões da Filosofia.pptx
 
Atitude filosofica e abordagem do direito (aula prática)
Atitude filosofica e abordagem do direito (aula prática)Atitude filosofica e abordagem do direito (aula prática)
Atitude filosofica e abordagem do direito (aula prática)
 
V dfilo cap01_introducao
V dfilo cap01_introducaoV dfilo cap01_introducao
V dfilo cap01_introducao
 
Teoria do conhecimento
Teoria do conhecimentoTeoria do conhecimento
Teoria do conhecimento
 
CAPÍTULO 1 - A EXPERIÊNCIA FILOSÓFICA.ppt
CAPÍTULO 1 - A EXPERIÊNCIA FILOSÓFICA.pptCAPÍTULO 1 - A EXPERIÊNCIA FILOSÓFICA.ppt
CAPÍTULO 1 - A EXPERIÊNCIA FILOSÓFICA.ppt
 
Ficha trab. 10º ano
Ficha trab. 10º anoFicha trab. 10º ano
Ficha trab. 10º ano
 
filosofia e ética
filosofia e éticafilosofia e ética
filosofia e ética
 
ATIVIDADE DE FILOSOFIA 2.docx
ATIVIDADE DE FILOSOFIA  2.docxATIVIDADE DE FILOSOFIA  2.docx
ATIVIDADE DE FILOSOFIA 2.docx
 
Apostila de filosofia 6o ef - 1o bimestre
Apostila de filosofia   6o ef - 1o bimestreApostila de filosofia   6o ef - 1o bimestre
Apostila de filosofia 6o ef - 1o bimestre
 
Atitudes filosóficas
Atitudes filosóficasAtitudes filosóficas
Atitudes filosóficas
 
Prep. 1º teste fil. 10º
Prep. 1º teste fil. 10ºPrep. 1º teste fil. 10º
Prep. 1º teste fil. 10º
 
Prep. 1º teste fil. 10º
Prep. 1º teste fil. 10ºPrep. 1º teste fil. 10º
Prep. 1º teste fil. 10º
 
Ficha trab. 2 10º
Ficha trab. 2 10ºFicha trab. 2 10º
Ficha trab. 2 10º
 
Introdução à filosofia
Introdução à filosofiaIntrodução à filosofia
Introdução à filosofia
 
mcientifica.ppt
mcientifica.pptmcientifica.ppt
mcientifica.ppt
 
mcientifica.ppt
mcientifica.pptmcientifica.ppt
mcientifica.ppt
 

Aprender

  • 1. Departamento de Filosofia Universidade Federal de Ouro Preto A PRENDER A FILOSOFAR
  • 3. O QUE A FILOSOFIA É 1. O telos do estudo da filosofia é saber filosofar 2. A filosofia é a crítica fundamentada de todas as nossas ideias 3. Não é uma investigação empírica nem matemática 4. É uma disciplina sobre problemas em aberto
  • 4. O QUE A FILOSOFIA NÃO É  A filosofia não é história da filosofia  O estudo da filosofia não se reduz à leitura e interpretação de textos clássicos  O telos do estudo não é apenas a compreensão dos textos dos filósofos  A filosofia não é cultura geral  Não é um elogio de um certo tipo de assuntos  Não é uma discussão de senso comum
  • 5. OS ELEMENTOS DA FILOSOFIA Argumentos Conceitos Problemas Teorias
  • 6. A filosofia não permitirá que crença alguma passe a inspecção só porque tem sido venerada pela tradição ou porque as pessoas acham que é emocionalmente compensador aceitar essa crença. A filosofia não aceitará uma crença só porque se pensa que é “simples senso comum” ou porque foi proclamada por homens sábios. A filosofia tenta nada tomar como “garantido” e nada aceitar “por fé.” Dedica-se à investigação persistente e de espírito aberto, para descobrir se as nossas crenças são justificadas, e até que ponto o são. J EROME S TOLNITZ
  • 7. Estaríamos a trair a confiança que o público nos dispensa se, em vez de alargar a capacidade de entendimento dos jovens entregues ao nosso cuidado e em vez de os educar de modo a que no futuro consigam adquirir uma perspectiva própria mais amadurecida, se em vez disso os enganássemos com uma filosofia alegadamente já acabada e cogitada por outras pessoas em seu benefício. [...] O método de instrução próprio da filosofia é zetético, como o disseram alguns filósofos da antiguidade (de ζητειν). Por outras palavras, o método da filosofia é o método da investigação. [...] Por exemplo, o autor sobre o qual baseamos a nossa instrução não deve ser considerado o paradigma do juízo. Ao invés, deve ser encarado como uma ocasião para cada um de nós formar um juízo sobre ele, e até mesmo, na verdade, contra ele. O que o aluno realmente procura é proficiência no método de reflectir e fazer inferências por si. I MMANUEL K ANT
  • 8. P ROBLEMAS FILOSÓFICOS  Será que a vida tem sentido?  O que é o conhecimento?  Os animais têm direitos?  Haverá uma justificação para a autoridade do estado?  Como poderemos saber que o mundo não é uma ilusão?  Será que tudo é relativo?
  • 9. M AIS PROBLEMAS FILOSÓFICOS  O que é a arte?  O que são os números?  Será a existência de Deus compatível com o sofrimento?  O que é uma lei da física?
  • 10. F ILOSOFIA E COGNIÇÃO 1. Os problemas filosóficos são insusceptíveis de solução experimental ou formal 2. Mas apesar disso são cognitivamente relevantes  O cientismo nega 2 por entender que sem resultados não há progresso cognitivo
  • 11. P ROBLEMAS NÃO FILOSÓFICOS  Será que os crentes são mais felizes que os ateus? Sociologia  Qual é o significado de “A Tabacaria,” de Álvaro de Campos? Teoria da literatura  Será um pecado tomar a pílula? Religião  Será o último teorema de Fermat verdadeiro? Matemática  Qual é a composição química da atmosfera de Júpiter? Astrofísica
  • 12. P ROBLEMAS NÃO FILOSÓFICOS  Como evoluiu o conceito de arte ao longo do tempo? História das ideias  Como concebiam os gregos a verdade? História das ideias  O que entende Nietzsche por Übermensch? História da filosofia  Como se caracteriza o dualismo de Descartes? História da filosofia
  • 13. A S RESPOSTAS FILOSÓFICAS
  • 14. R ESPOSTAS NÃO FILOSÓFICAS  Nem todas as respostas aos problemas filosóficos são filosóficas  Para ser filosófica, a resposta tem de estar fundamentada
  • 15. AVALIAR TEORIAS 1. Como se articulam os diferentes aspectos da teoria? 2. Como responde a teoria ao problema filosófico que se propõe resolver? 3. A teoria é plausível? Que argumentos há a seu favor? 4. A teoria é mais plausível do que as teorias alternativas?
  • 16. O ESTUDANTE DEVE COMPREENDER  As teorias respondem a problemas reais  Cada teoria é avaliada em contraste com as suas alternativas  O objectivo é saber avaliar criticamente as teorias
  • 17. A PRENDER A FILOSOFAR  Aprender a filosofar é fazer algo mais do que compreender os problemas da filosofia e as ideias e argumentos dos filósofos  Aprender a filosofar é  Aprender a criticar e analisar as ideias e argumentos dos filósofos  Aprender a analisar os problemas da filosofia  Aprender a propor novas ideias e argumentos filosóficos
  • 18. A PRENDER A FILOSOFAR  Compreender e interpretar não é filosofar  Compreender os textos dos filósofos não chega  É preciso saber criticá-los
  • 19. A PRENDE - SE A FILOSOFAR FILOSOFANDO Compreensão das ideias Pensamento Erros original
  • 20. E XIGÊNCIAS FILOSÓFICAS  Desinteresse parcial pela psicologia dos filósofos  Interesse intenso pelas ideias em si
  • 21. L EITURA CARIDOSA  Para fazer uma leitura caridosa é preciso fazer uma leitura crítica
  • 22. A PTIDÕES PARA FILOSOFAR  A capacidade para raciocinar e teorizar intensamente sobre matérias muitíssimo arredadas do factual e do empírico  A capacidade para encontrar objecções e contra-exemplos imaginativos
  • 23. M EIOS E FINS  A discussão filosófica das ideias e argumentos dos filósofos é diferente da discussão exegética ou histórica  O que na primeira é meramente instrumental é o telos da segunda
  • 24. R ELATÓRIO NÃO É ENSAIO  Ensaios expositivos ou interpretativos são muito diferentes de ensaios filosóficos
  • 25. PARÁFRASE NÃO É RECONSTRUÇÃO Paráfrase Reconstrução teórica  Dizer o que está no texto  Interpretação caridosa  Fazer comentários  Formulação rigorosa da estéticos ou históricos melhor versão teórica  Mimetismo terminológico  Atenção à cogência argumentativa  Citações e paráfrases  Atenção à plausibilidade das ideias
  • 26. P ERGUNTAS FILOSÓFICAS  As ideias do filósofo são plausíveis? Porquê?  Os seus argumentos são cogentes? Porquê?
  • 27. S ABER DISCUTIR FILOSOFIA 1. Discussão livre dotada de probidade epistémica 2. Distinção entre noções de base e noções substanciais 3. Conhecimento do contexto teórico relevante 4. Domínio da lógica formal e informal
  • 28. U M EXEMPLO : P LATÃO
  • 29. SÓCRATES – Com quem conversas agora? Comigo, sem dúvida? ALCIBÍADES – Sim. SÓC. – E eu contigo? ALC. – Sim. SÓC. – Quem fala, portanto, é Sócrates? ALC. – Certamente. SÓC. – E quem ouve é Alcibíades? ALC. – Sim. SÓC. – E Sócrates usa palavras ao falar? ALC. – Claro. SÓC. – E tu dirás que falar e usar palavras é a mesma coisa? ALC. – Claro. SÓC. – Mas quem usa e o que ele usa são coisas diferentes, não? ALC. – Que queres dizer? SÓC. – Por exemplo, não é verdade que um sapateiro usa diversas ferramentas? ALC. – Sim. SÓC. – E quem faz os cortes e usa as ferramentas é muito diferente daquilo que se usa ao fazer os cortes, não?
  • 30. ALC. – Claro. SÓC. – E, do mesmo modo, o que o harpista usa ao tocar harpa será diferente do próprio harpista? ALC. – Sim. SÓC. – Pois bem! Era isto que eu perguntava há pouco: se quem usa e o que ele usa são sempre, na tua opinião, duas coisas diferentes. ALC. – São coisas diferentes. SÓC. – Que dizer então do sapateiro? Ele faz cortes só com as ferramentas, ou também com as mãos? ALC. – Também com as mãos. SÓC. – Portanto, ele usa também as mãos? ALC. – Sim. SÓC. – E ele usa também os olhos, ao fazer sapatos? ALC. – Sim. SÓC. – E já admitimos que quem usa e o que ele usa são coisas diferentes? ALC. – Sim. SÓC. – Então o sapateiro e o harpista são diferentes das mãos e olhos que eles usam no seu trabalho? ALC. – Evidentemente.
  • 31. SÓC. – E o homem usa também todo o seu corpo? ALC. – Sem dúvida. SÓC. – E nós dissemos que quem usa e o que ele usa são coisas diferentes? ALC. – Sim. SÓC. – Então o homem é diferente do seu próprio corpo? ALC. – Parece que sim. Platão, Alcibíades I, 129b- 129e
  • 32. I NTERPRETAÇÃO FILOSÓFICA  Sócrates apresenta várias razões a favor de uma ideia  Essa ideia é a primeira coisa a procurar, pois é a conclusão geral do texto  Neste caso, a conclusão é que “o homem é diferente do seu próprio corpo”
  • 33. I DENTIFICAÇÃO DO ARGUMENTO  Uma vez conhecida a conclusão, torna-se mais fácil reconstruir o argumento ou argumentos  Neste caso, Sócrates afirma que o homem usa o seu corpo. Esta ideia desempenha um papel importante, pois Sócrates dá vários exemplos em que quem usa uma coisa é diferente dessa coisa que é usada. Esta é, pois, a chave para compreender o argumento de Sócrates e uma das suas premissas fundamentais: quem usa uma coisa é diferente do que é usado.
  • 34. A RGUMENTOS NO TEXTO Argumentos Argumento principal complementares  Quem usa uma coisa é  Os sapateiros são diferente do que é diferentes das usado. O homem usa o ferramentas que usam. seu próprio corpo. Logo, Os harpistas são o homem é diferente do diferentes do que usam seu próprio corpo. ao tocar harpa. Logo, quem usa uma coisa é diferente do que é usado.  O sapateiro usa as mãos e os olhos para fazer sapatos. Logo, o homem usa o seu próprio corpo.
  • 35. E STRUTURA ARGUMENTATIVA Os sapateiros são diferentes das ferramentas que Quem usa uma usam coisa é diferente do que é usado Os harpistas são diferentes do que O homem é usam ao tocar diferente do seu harpa próprio corpo O sapateiro usa as O homem usa o mãos e os olhos seu próprio corpo para fazer sapatos
  • 36. U MA ESTRUTURA COMUM Premissa complementar Uma premissa Outra premissa complementar Conclusão principal Premissa complementar Outra premissa Outra premissa complementar
  • 37. D ISCUSSÃO DO ARGUMENTO  Para ser cogente um argumento tem de ser válido, ter premissas verdadeiras e mais plausíveis do que a conclusão  O argumento é válido e a sua validade estabelece-se facilmente na lógica de predicados  Mas serão as premissas verdadeiras?
  • 38. D ISCUSSÃO DAS PREMISSAS  Segunda premissa  O homem usa o seu próprio corpo  A segunda premissa é inatacável: é óbvio que os seres humanos usam os seus corpos  Se a primeira premissa for igualmente verdadeira, será impossível que a conclusão seja falsa, dado que o argumento é válido
  • 39. A PRIMEIRA PREMISSA  Primeira premissa  Quem usa uma coisa é diferente do que é usado  Esta premissa é discutível. Sócrates apresenta um argumento complementar para a defender. Trata-se de um argumento indutivo. Isto significa que se houver contra- exemplos, o argumento será inválido. Um contra-exemplo, neste caso, é algo que usa qualquer coisa e que não é diferente do que usa.
  • 40. C ONTRA - EXEMPLOS  Uma planta usa as suas folhas e raízes para se alimentar e respirar  Mas a planta em si não é diferente das folhas e das raízes que usa  Um rio usa a água, o leito e as suas margens, num certo sentido  Mas o rio não é diferente dessas coisas que usa
  • 41. P OSSÍVEL RESPOSTA  Nem as plantas nem os rios têm consciência, e por isso não podemos dizer estritamente que usam seja o que for
  • 42. O BJEÇÃO À RESPOSTA  Essa responda transforma o argumento numa petição de princípio  Pois nesse caso temos de começar por admitir que os seres humanos têm algo diferente dos seus corpos – a consciência. Mas isso é o que o argumento pretende defender e por isso não pode ser pressuposto. Se o fizermos, o argumento não é cogente porque quem recusa a conclusão irá recusar as premissas, reinterpretadas desse modo.
  • 43. C ONTRA - ARGUMENTO  Parece haver qualquer coisa de mais fundamentalmente errado com o argumento. Pois com o mesmo tipo de argumento podemos sempre mostrar que os seres humanos são diferentes de tudo e mais alguma coisa, incluindo a sua alma, consciência ou pensamentos:  Quem usa uma coisa é diferente do que é usado. Os seres humanos usam a sua alma, consciência e pensamentos. Logo, os seres humanos são diferentes da sua alma, consciência e pensamentos.
  • 44. C ONCLUSÃO  O argumento de Sócrates não parece cogente porque 1. Apoia-se numa premissa plausivelmente falsa 2. Se fosse cogente, outro argumento análogo poderia ser construído para provar que os seres humanos são diferentes de seja o que for que se considere
  • 45. B IBLIOGRAFIA E CONFUSÃO
  • 46. C ONHECIMENTO BIBLIOGRÁFICO  Bibliografia introdutória não é o mesmo que bibliografia secundária  Alguma bibliografia secundária não é introdutória
  • 47. B IBLIOGRAFIA INTRODUTÓRIA  Socrática: a experiência do filosofar  Descritiva: referências históricas e bibliográficas  Antologias
  • 48. C ONDIÇÕES PARA FILOSOFAR  Acesso a boas obras introdutórias que ensinam a compreender textos filosóficos sofisticados  Compreensão dos problemas que estão na origem das ideias e argumentos da filosofia  Conhecimento das alternativas teóricas relevantes  Saber argumentar
  • 49. C ONDIÇÕES ESCOLARES GERAIS  Incentivo à discussão na aula  Os conteúdos, bibliografias e conhecimentos não podem ser usados para oprimir o aluno