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Educar para a criatividade
1. educar para a criatividade
educar para a
criatividade
Catarina I. Reis Pereira
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2. educar para a criatividade
educar para a criatividade
Catarina I. Reis Pereira | Junho de 2011
Artigo desenvolvido no âmbito da disciplina
Seminário de Investigação em Artes Visuais II
Universidade da Beira Interior
Faculdade de Artes e Letras | 10/11
MESTRADO EM ENSINO DE ARTES VISUAIS| 2º ANO
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3. educar para a criatividade
Índice
Índice ________________________________________________________________________ 3
Introdução ____________________________________________________________________ 4
criatividade ___________________________________________________________________ 5
O que é a Criatividade? ________________________________________________________ 6
Perspectiva histórica __________________________________________________________ 6
Definições __________________________________________________________________ 7
Processo Criativo ______________________________________________________________ 10
Atributos da Personalidade criativa _______________________________________________ 12
O Símbolo e sua importância ____________________________________________________ 12
Criatividade e autoconhecimento _________________________________________________ 14
Desenvolvimento da criatividade _________________________________________________ 15
O papel da Educação ___________________________________________________________ 16
O Ensino das Artes___________________________________________________________ 18
Conclusão ____________________________________________________________________ 20
Referências bibliográficas _______________________________________________________ 21
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4. educar para a criatividade
Introdução
A nossa sociedade é cada vez mais global e a realidade virtual está a ocupar cada vez mais espaço.
Cada vez mais é fomentada uma linguagem artificial, a que todos têm acesso imediato e que está a
fazer esquecer a nossa Linguagem Natural, remetendo-nos para vivências alternativas e ilusórias,
trocando a nossa Verdade por uma Verdade estéril onde podemos ser e/ou fazer tudo o que
queremos! O impacto da “evolução” que vivemos provoca nos nossos sentidos uma espécie de
automatismo, de mimetismo, provocando desarmonias entre valores e realidades e a nossa
Liberdade e Vontade inatas vão sendo, a pouco e pouco profanadas e adulteradas mascarando a
nossa Consciência – a ideia que temos de nós próprios.
É essencial não nos deixarmos enganar e aprisionar pelo dualismo aparente do mundo dos
fenómenos (Random, 1999). A via do facilitismo leva-nos a Viver (d)o Virtual, a ser dirigido ao invés
de dirigente. É fundamental uma atitude activa que exprima, estimule, aperfeiçoe e actualize todas
as nossas capacidades, visando uma integração mais íntima com o “eu”, com a “vida” e com o
“mundo” – uma Atitude Criativa.
Mas como agir criativamente? Há pessoas mais criativas que outras? O que é a criatividade, onde
está, como e onde se manifesta? E como pode contribuir para uma evolução da consciência, auto-
conhecimento e individualização? Qual a influência e papel da cultura e da educação no
desenvolvimento da criatividade? Como a potenciar?
A Criatividade está presente em todos, não é uma qualidade peculiar de alguns indivíduos
excepcionais, o que os distingue é o grau de intensidade com que a manifestam. Como pessoa,
artista e professora de Artes Visuais, considero fundamental a exploração deste tema, de forma a
conduzir a um maior (melhor) conhecimento e poder melhorar as condições de oferecer uma
educação que estimule e forme pessoas mais criativas, capazes de se (re)conhecerem e de se
desenvolverem acima de um grau de Suficiência.
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5. educar para a criatividade
criatividade
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6. educar para a criatividade
O que é a Criatividade?
Todos os seres humanos, de todas as idades, classes e níveis de escolaridade têm momentos de
inspiração, marcados por factores de realização e constante transformação que afecta o mundo
físico, a condição humana e os contextos culturais. Existem, na história muitos exemplos de
insights, seguidos da palavra Eureka e de descobertas espectaculares. São expoentes máximos do
poder criativo do ser humano mas, há que desmistificar que estas inspirações não surgem do
nada, como era pensado e que apenas acontecia a mentes privilegiadas como artistas, inventores,
cientistas... (Nicolau, 1994)
Perspectiva histórica
Os termos ”criar” e “criatividade” derivam do latim “creare” que significa “fazer ou produzir”. No
dicionário de língua portuguesa o termo “criar” é definido como: “dar existência; tirar do nada;
gerar; produzir; originar; inventar; fundar; educar”, já o termo criatividade surge com uma
definição mais complexa: “Função da inteligência humana que torna o homem superior ao que
ele mesmo cria”; “Personalidade criadora insuperável própria do homem”1; “capacidade de
produção do artista, do descobridor e do inventor que se manifesta pela originalidade inventiva”
e “faculdade de encontrar soluções diferentes e originais face a novas situações”. 2
A definição de criatividade não é fácil e a História demonstra que a Criatividade tem sido um
conceito complexo, abordado por inúmeras perspectivas, uma vez que o Homem sempre se
questionou sobre a sua capacidade e necessidade de criar. Se por um lado a Criatividade foi vista
como um dom da natureza humana, presente em indivíduos com alguma sensibilidade e ligação
ao divino, por outro, havia a associação da Criatividade à loucura e impulsos, resultantes de
desajustes e conflitos no inconsciente da pessoa.
Platão afirmava que se tratava de inspiração divina e era uma das condições para a expressão
artística (Pereira, 1998), já Aristóteles defendia que a criação provém de um poder próprio do
homem, de uma capacidade/força transformadora de algo, a partir do que já existe, que se
traduz numa “força capaz de produzir os princípios adequados ao problema”, (Amaral, 2005,
p.23).
Mais tarde, o termo criatividade esteve intimamente associado à teologia e durante o
Renascimento, a ideia do “divino” ainda está muito presente, mas o sentido de independência e
liberdade ajudou na identificação da criatividade como fazendo parte da condição Humana.
1
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, in: http://www.priberam.pt/dlpo/
2
Infopédia, in http://www.infopedia.pt/pesquisa-global/criatividade
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7. educar para a criatividade
“Passou-se a acreditar que as novas ideias eram criação humana e os homens que apresentavam,
o que hoje chamamos produtos criativos, eram reconhecidos e valorizados socialmente3. A
questão da Criatividade era discutida especialmente nas artes, na literatura e na ciência e no
século XVIII surgem nos debates os conceitos “genialidade” e “talento”, determinados
geneticamente e influenciados pelo ambiente (Pereira, 1998). No séc. XIX começa por se
descartar o conceito “Criatividade, como fruto de inspiração divina” 4e, finalmente, no séc. XX
surgem vários estudos científicos, que começam a relacionar a criatividade com diversos
conceitos como: inteligência, imaginação, inconsciente, emoção, etc.
A partir da segunda metade do séc. XX, dá-se-lhe um papel de relevo: Guilford (1950) que
assumiu a presidência da American Psychological Association, publicou um artigo, no qual,
desenvolve a sua perspectiva sobre a relação entre a inteligência, personalidade e a criatividade,
alertando para a reduzida importância que estava a ser atribuída ao seu estudo, destacando
pontos que careciam de esclarecimento. Isto conduziu a um proliferamento de estudos no campo
da criatividade, focados no indivíduo e no desenvolvimento de programas promotores de
expressão criativa (Silva, 2009).
Definições
Apesar de (ultimamente) o termo Criatividade ter vindo a ser tratado em livros ou manuais e
usado, com alguma banalidade, sempre que nos queremos referir a metodologias/técnicas de
inovação, distinção que trazem soluções mágicas para competitividade económica, podendo ser
consumido por qualquer um (como se um produto de super-mercado se tratasse), este termo tem
sido objecto de estudo (mais rigoroso) de diversos autores e ciências, com teorias e modelos, que
tentam explicar o fenómeno, destacando o Homem como fonte geradora do processo criativo,
onde influem áreas como capacidades intelectuais, conhecimento, estilos de pensamento,
personalidade, motivação e ambiente.
Alguns autores abordam o pensamento criativo e os seus procedimentos mentais, enfatizando a
sua relação com a cognição, com a manutenção da saúde mental e auto-realização e com um
ambiente facilitador ao seu desenvolvimento, observando-se uma concordância acerca da
importância do potencial criativo e a sua expressão (Sousa-Filho, 2003; 2008). Outros
concentram-se no aspecto processual do fenómeno, tendo como resultado, o surgimento de
produtos novos, originais e reconhecidos5; outros investigam o tema, a partir de modelos e
3
Azevedo, 2007. Cit. por Silva 2009
4
Idem
5
Yaroshevskii, 1987. Cit. por Pereira, 1998
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8. educar para a criatividade
metodologias centradas no indivíduo e os seus traços de personalidade, considerado a
Criatividade como potencial, que poderá ou não ser “activado”mediante as características do
indivíduo e do meio envolvente.
O papel do ambiente sócio-cultural tem sido evidenciado por vários investigadores, que
defendem que desenvolvimento da criatividade ocorre a par com o desenvolvimento do
indivíduo. Piaget (1993, in Sousa-Filho, 2003) afirma que as influências do meio e da
hereditariedade são recíprocas e complementam-se para o desenvolvimento humano, inclusive
para o desenvolvimento da criatividade. Alguns teóricos da psicologia soviética6 defendem que
este desenvolvimento tem que ser contextualizado e concebem a criatividade como um processo
individual com um coeficiente social: o seu desenvolvimento não pode ser desvinculado do
momento social-histórico: o homem é visto como resultado da interacção entre o aspecto
fisiológico, o histórico-social e o individual e a expressão criativa individual reflecte a influência do
colectivo, só podendo ser compreendida a partir da dimensão sócio-histórica (Pereira, 1998). As
vivências e interacções com o mundo físico trazem novas percepções ao indivíduo, mas este tem
que ser activo no seu próprio processo de desenvolvimento. A criatividade surge como um
produto da interacção do sujeito com o seu ambiente, impulsionado pelos processos de
desenvolvimento e aprendizagem (Sousa-Filho, 2008). A acção de “criar” surge de um indivíduo
dotado de atributos, qualidades e traços próprios, influenciado por um contexto sócio-cultural ou
seja, trata-se de um acto individual mas que acontece num contexto colectivo.
Todos os indivíduos se desenvolvem numa realidade social, mas as suas necessidades e valores
culturais são moldados aos seus próprios valores. Claro que é necessário compreender o Homem,
na sua esfera sócio-histórica-cultural, mas existe o factor de individualização. Que necessidades
movem o indivíduo e que respostas ele procura? As potencialidades do seu ser único surgem de
uma determinada cultura ou as suas criações moldam/ajudam a formar essa cultura, inserindo-se
nela? Yaroshevskii (1987 in Pereira, 1998) refere que o vínculo entre o fenómeno criativo e a
esfera sócio-histórica-cultural, faz com o fenómeno individual da criação se torne factor formador
de cultura. Vicari et al. (2003, p. 27) descrevem a Criatividade como sendo uma
manifestação/expressão de um potencial que se realiza e manifesta através de actividades
humanas, gerando produtos. É através da criatividade que o homem evolui, se expressa, se torna
mais consciente sobre as suas potencialidades, “desvenda as condições genuínas de sua
liberdade pessoal e edifica a sua autonomia”.
6
Ponomarev, 1993; Yaroshevskii, 1987; Vygotsky, 1987, 2000; in Sousa-Filho, 2003
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9. educar para a criatividade
Ostrower (in: Nicolau, 1994. p.5), refere que o potencial criador do ser humano é movido por
necessidades sempre novas, surgindo como factor de realização e constante transformação. Essa
potencialidade diferencia-o dos demais seres vivos e afecta o mundo físico, a própria condição
humana e os contextos culturais. Assim, o criar só pode ser visto num sentido global, como um
agir integrado num viver: “criar e viver se interligam” (Idem).
Vários autores fazem a associação entre criatividade e inteligência usando ambos os termos
como critério de comparação e avaliação de capacidades e personalidade. Gardner7, no sentido
de chegar a uma visão mais ampla das perspectivas cognitivas da época, defende que a
inteligência é constituída por múltiplas habilidades (independentes e diferenciadas entre si mas
interactivas) e todos temos o potencial criativo para desenvolver uma determinada habilidade
específica, cuja configuração é distinta e particular em cada pessoa (Oliveira, 2007). Amabile
acrescenta que a inteligência é uma das componentes da criatividade “necessária mas não
suficiente; a criatividade só é reconhecida socialmente quando associada «às formas pelas quais a
sociedade reconhece a inteligência (Amaral, 2005).
Apesar de não existir actualmente um acordo ou definição conclusiva, suficientemente
abrangente e esclarecedora acerca do significado exacto do termo Criatividade, este é
frequentemente associado a processos de sensibilidade, análise, originalidade, novidade,
utilidade, processo, resultando numa solução, produto ou objecto novo e útil. Torrance (1965)
descreve criatividade como sendo “o processo de tornar-se sensível a problemas, deficiências,
lacunas no conhecimento, desarmonia; identificar a dificuldade, buscar soluções, formulando
hipóteses a respeito das deficiências; testar e re-testar estas hipóteses; e, finalmente, comunicar
os resultados" (in Dias & Enumo; 2006).
7
Howard Gardner (1999), na sua teoria sobre inteligências múltiplas
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10. educar para a criatividade
Processo Criativo
Todos somos criativos, uns em maior e outros em menor grau (falaremos mais à frente sobre o
porquê desta afirmação e porque nem todos têm acesso “livre” a esta faculdade) mas como se dá
este processo? A complexidade de descrição (e entendimento) do termo Criatividade estende-se
à compreensão do Processo criativo. Vários estudos e teorias procuraram descrever este
processo, desde a ideia de que é obra de um trabalho inconsciente ou iluminação repentina de
um génio criador, a teorias mais elaboradas que o ligam a processos cognitivos.
Wallas (1926, in Amaral, 2005) definiu um modelo, explicativo das várias fases do processo
criativo, que permaneceu como matriz/referência determinante no estudo da criatividade.
Segundo este modelo existem quatro fases:
Preparação: elaboração intelectual e consciente, apelando à memória e conhecimentos em
forma abstracta. São mobilizadas as habilidades específicas da área de conhecimento do
sujeito.
Incubação: é estruturado o conhecimento armazenado na etapa anterior, dando origem a
novas estruturas mentais. Segundo Wallas é um “trabalho livre do processo inconsciente ou
parcialmente consciente da mente”.
Iluminação: fase em que o indivíduo tem acesso repentino ao seu inconsciente e este, através
de uma representação mental, lhe revela a solução criativa para o problema em causa
(insight).
Verificação: avaliação das ideias que surgiram na fase da iluminação. Há uma revisão,
verificação do produto tendo em conta as possibilidades: “o produto corresponde ao modelo
interiormente idealizado, proposto originalmente pelo empreendimento criativo” ou “o
produto responde às exigências de um modelo externo pedido por uma determinada
audiência”.
O processo criativo mostra-se assim com a capacidade de fazer emergir as percepções e
conhecimentos que estão no nosso inconsciente, para o consciente e estabelecer relações entre
os aspectos isolados, correlacionando-os de outro modo ou sob outros padrões, para poderem
ser tratados/desenvolvidos e postos em prática.
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11. educar para a criatividade
Dalacqua (2010), em “Processo Criativo e Alquimia”, baseando-se em Jung, associa as fases do
processo criativo às fases de processos alquímicos. O acto criativo encerra dois momentos: um
interior (processo pelo qual a obra é gerada) e outro exterior (a obra em si). O processo interior,
onde não se pode separar o criador da obra, acontece num estado sem forma que o autor
compara o Nigredo8, ao chaos da prima materia. O processo da transformação (transmutação) dá-
9
se com a sujeição da matéria a uma série de operações/transformações. Após este processo
surge, o processo exterior, canalizado na obra formada, que adquire existência própria.
Jung dedicou-se muito ao estudo da alquimia tendo relacionado a opus alquimica ao que ele
chamou de processo de individuação. Ambos os processos se referem à transformação de algo
bruto, num produto refinado: a transformação psíquica (Jung) e a obtenção de ouro a partir da
transmutação de chumbo (alquimia), metaforicamente falando. Numa situação de sucesso,
ambos os processos acontecem por fases, em forma de espiral ascendente.
8
A alquimia faz uso dos símbolos e metáforas, descrevendo uma série de processos, na busca da pedra
filosofal, através da transmutação da prima materia. No processo de individuação Jung descreve quatro
fases: Confissão, Esclarecimento, Educação e Transformação, relacionadas com processos de transmutação
alquímica - Nigredo, Albedo e Rubedo). (Dalacqua, op. Cit)
9
Edinger (1985, p. 34; in Dalacqua) no seu livro “Anatomia da Psique” descreve sete das várias operações
(contidas nos tratados alquímicos) que participam no processo da individuação: calcinatio, solutio,
coagulatio, sublimatio, mortificatio, separatio e coniunctio. Estas operações “fornecem as categorias básicas
para a compreensão da vida da psique, ilustrando praticamente toda gama de experiências que constituem
a individuação”. Todas estas operações fazem parte de um processo a fogo lento, comparativo com o
processo critaivo. A solutio (ligada ao elemento água), é o desmembramento e fragmentação, a busca de
referências próprias, ignorando o ego e abrindo espaço à criação de algo novo. A calcinatio (ligada ao
elemento fogo) está relacionada com a limpeza, purgação e depuração (de ideias). A coagulatio
(relacionada ao elemento terra), é a operação da solidificação que transforma a substância líquida que
passou pela depuração, em forma definida. É o momento em que as ideias deixam de ser abstractas e
começa a materialização da obra. A sublimatio (associada ao elemento ar) representa a sublimação, a
elevação e distanciamento, numa perspectiva de visão mais completa e ampla. É a capacidade de estar
acima das coisas e poder elevar apenas o mais puro (e leve). A mortificacio, intimamente ligada à nigredo (a
primeira das três fases da obra alquímica, é o estado inicial onde existe a ideia de caos e confusão) e à
putrefacio, relacionando-se com a experiência de morte e apodrecimento. A morte e o apodrecimento
surgem como analogia de sofrimento e privação e o como o processo de desintegração que culminam na
possibilidade de germinação, crescimento, renascimento.
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12. educar para a criatividade
Atributos da Personalidade criativa
Todos temos “Criatividade”. Nuns está mais desenvolvida, noutros menos, uns numas áreas e
outros noutras. Para o seu desenvolvimento participam vários processos ligados ao intelectual
(criatividade e inteligência, memória, idade, etc.) e traços de personalidade. Vários investigadores
afirmam que não é possível estabelecer um perfil único de “indivíduo criativo” mas existe um
conjunto de características comuns às pessoas criativas. O comportamento criativo pode definir-
se como uma reacção espontânea e intencional de um indivíduo que reorganiza dados de forma
personalizada, ignorando normas pré-estabelecidas, resultando numa manifestação e realização
pessoal significativa.
Amaral (2005, p. 52-54), apresenta uma síntese elaborada por Sousa (2000) com uma lista de
10
características dos indivíduos criativos, a partir de investigações de alguns autores (sem
determinar se se tratam de verdadeiros traços de carácter ou comportamentos momentâneos).
As características mais referidas são: “forte noção de auto-estima e autoconfiança, intuição,
desinteresse pelos factos banais do dia-a-dia, recusa dos lugares-comuns, mais do que uma área
de interesses, tolerância ao ambíguo e ao caótico e tendência para recusar o óbvio, locus de
controle de natureza interna, hiperactividade, alto grau de sensibilidade com reacções rápidas a
estímulos de baixa intensidade e fraca tolerância a estímulos de intensidade muito elevada,
sensibilidade estética, emotividade, persistência”.
Aguilar (2000, cit. por Manso), às características supracitadas acrescenta as seguintes: apreensão
global dos elementos e experiências que rodeiam a pessoa; agilidade mental (de certa forma
ingénua); gosto pelo risco; capacidade de focalizar a atenção e apreciar objectos, sem
expectativas ou preconceitos; capacidade de formular simultaneamente várias ideias complexas;
vontade de não conformismo com a ideia ou opinião dominante; utilização da sua intuição;
transferência de saberes; boa adaptação a diversos contextos e situações.
O Símbolo e sua importância
Nós sentimos um certo fascínio pelos mistérios, aparentemente incompreensíveis mas que,
intuitivamente, nos dizem algo através de pequenas intuições/manifestações e em diferentes
âmbitos. O mistério existe quando algo nos desperta a atenção, temos vontade e curiosidade de
10
Amabile (em 1983), Torrance (em 1962), Stein (em 1975), Martindale (em 1989), Tardif e Sternberg (em
1991), Sternberg e Davison (em 1986) e Simonton (em 1991)
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13. educar para a criatividade
explorar uma determinada manifestação mas não conseguimos. O código (ou símbolos) utilizado
não é conhecido por nós e por isso, à partida, não conseguimos decifrar a mensagem.
Há várias formas de comunicação. Podemos dizer que existe comunicação sempre que recebemos
algum estímulo (mensagem) através dos nossos sentidos. Comunicar pressupõe uma troca,
significa transmitir (e receber) uma mensagem, através de um sistema organizado de símbolos.
Desde os primórdios, ao longo da história que o ser humano procura comunicar, através das mais
variadas formas, códigos e símbolos, que fomos tendo acesso e que ainda subsistem.
O símbolo contém um certo mistério, é uma manifestação, uma codificação específica, acessível a
todos mas não compreensível por todos. A palavra “símbolo” teve origem no termo grego
“symbolon”, representando “aquilo que foi colocado junto”; algo que combinado passa a
11
simbolizar algo. Podemos afirmar que a imagem é um símbolo, uma vez que é uma
representação de algo. Numa imagem podemos representar, figurativamente, situações reais,
irreais ou surreais; desde o nosso consciente ao inconsciente. A representação por imagens pode
ser considerada como atitude simbólica, uma vez que é algo denso de significado e nos possibilita
uma ligação entre vários mundos, entre o consciente e o inconsciente, conjugando-os. Carl Gustav
Jung, defendeu que a Atitude Simbólica12 dá, ao indivíduo, a possibilidade de se conectar com as
suas forças mais criativas e assim, esclarecer os significados mais profundos da sua vida,
ampliando a sua consciência. A linguagem simbólica é uma das principais linguagens da psique,
como forma de expressão do inconsciente. Este autor considerava o símbolo como tendo uma
acção mediadora e a sua interpretação é de extrema importância no processo de individuação, já
que os símbolos facilitam a união dos elementos antagónicos da psique, permitindo uma
dialéctica entre os conteúdos do inconsciente e os do consciente. Ter uma atitude simbólica é
assim essencial, mas para que aconteça temos que nos permitir uma consciência mais reflexiva,
que respeite o mistério, busque outras possibilidades de sentido das coisas. Os símbolos são a
chave para o oculto, o segredo e permitem-nos aceder mais conformemente ao nosso
inconsciente, potencializando um despertar da consciência. Através da atitude simbólica podemos
alcançar uma atitude de síntese, conjugação e unificação de opostos.
11
Na Grécia antiga quando duas pessoas mais íntimas se separavam, partiam um objecto (moeda, prato,
etc.) e cada um ficava com metade. Essa metade era como uma marca, servia para simbolizar e postular a
pessoa que a possuía e a sua relação com a outra pessoa.
12
Junged (1998) refere “Atitude Simbólica” como conceito várias vezes mencionado na obra de C. G. Jung,
embora não apareça fluentemente como termo.
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14. educar para a criatividade
Criatividade e autoconhecimento
Dalacqua (2010, p.6), defende que a “criatividade é uma ferramenta fundamental dentro do
processo de individuação (…) ao provocar o trânsito de conteúdos entre a consciência e o
inconsciente, o processo criativo integra o novo na vida cotidiana e cataliza as transformações
necessárias para que o homem atinja seus potenciais”[sic]. O autor destaca a intuição como
estando na base dos processos criativos, uma vez que é uma “faculdade que possibilita a
associação de conteúdos conscientes e inconscientes, estabelecendo um fluxo espontâneo de
informações que de outra forma, não seriam relacionadas”. Faz ainda a distinção entre intuição e
instintos (que Jung referia), uma vez que a primeira possibilita diferentes reacções a situações
novas, apresentadas ao indivíduo e influi na tomada de decisões, trazendo à consciência
percepções diferentes e únicas, que transcendem a lógica.
Dalacqua (op. Cit.) cita a artista Fayga Ostrower, que destaca a criatividade como uma ferramenta
muito útil para o auto-conhecimento. Ao facultar a comunicação entre a consciência e o
inconsciente, a criatividade oferece os meios para superar os desafios, catalisando as
transformações necessárias para que o homem atinja seus potenciais. Através de processos
criativos, o indivíduo consegue contactar com o seu “eu” interior iniciando assim o seu processo
de individuação, enquanto crescimento interior, renovação e evolução. Referindo-se, novamente,
à alquimia, o autor associa o produto criativo à pedra filosofal, como objectivo alcançado. Mas
para que esse poder transformador aconteça é necessário existir uma predisposição, vontade e
abertura. A obra (produto da criatividade) comunica com o inconsciente e assim torna-se capaz
de produzir grandes modificações no ser humano.
Soares (s/d), em “Criatividade e Consciência para o Século 21: Uma Poética da Alma” refere que
associando os processos de autoconhecimento à criatividade, podemos conseguir resultados
criativos mais conscientes, “devolvendo à arte a sua missão de revelar, de abrir portas para uma
consciência do futuro - uma consciência integral”. Esta autora defende uma ligação entre o
processo criativo ao processo de ganho de consciência, através das “obras-espelho”13 que daí
advêm, que permitem reflectir e testemunhar o processo de auto-conhecimento do e para o
artista, podendo ainda “adquirir a qualidade de elemento transformador e iluminador para quem
13
Soares refere “obra-espelho” (no sentido de espelho reflector), produzida por um criador, sendo
reflectora de alguma componente inerente a este, seja do foro consciente, seja do foro subconsciente, seja
do foro supraconsciente. “. A observação das obras-espelho permite-nos ‘reconstruir’ os elementos que a
elas subjazem, permite entender o curso da humanidade não somente a partir de um ponto de vista
materialista que se reduz a um estudo unilateral, mas a partir de um ponto de vista integrador que permite
chegar mais próximo de um entendimento do todo que envolveu a humanidade num certo momento da
história. (Soares, p.17)
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15. educar para a criatividade
as contempla”. O processo de autoconhecimento é essencial no caminho de busca de uma
consciência superior (Supraconsciência). O criador deve explorar, conscientemente e através da
sua criatividade, os domínios do subconsciente e assim poder libertar o acesso aos domínios do
supraconsciente. A autora defende que o criador ao desenvolver os três níveis de consciência
superiores (designados por supraconsciente), permite o “acesso ao seu Eu Superior que, por seu
turno, através da obra-espelho, pode contribuir para a ampliação dos níveis de consciência do(s)
perceptor(es) alcançando o(s) Eu Superior(es) do(s) mesmo(s).” Apelando assim à lei da
ressonância, o criador (num estado de elevado grau de consciência), através da sua obra,
consegue activar o grau de consciência correspondente, no plano de percepção do perceptor.
Acrescenta ainda que a criatividade deve visar um ganho de auto-consciência, alcançando assim o
domínio transpessoal e transtemporal. O caminho da criatividade e do autoconhecimento facilita
a libertação do ser humano do elemento animal, elevando-o à sua componente divina.
Desenvolvimento da criatividade
Desenvolver a criatividade implica desenvolver a comunicação com os estratos mais profundos da
mente. Trata-se de uma experiência subjectiva, de natureza pessoal e profunda comunicação.
Existindo de um movimento de dentro para fora, Nachmanovitch14, refere que o importante no
processo criativo é desbloquear os obstáculos que impedem o fluxo natural de ideias e
expressões. A criação requer tempo e espaço e canalização conforme, para que possa ser
produtiva.
Sousa-Filho (2003) refere algumas características destacadas por autores15 que estudaram alguns
factores presentes no ambiente familiar, que podem facilitar o desenvolvimento da criatividade,
em crianças, uma vez que é nos primeiros anos de vida, que se sofre uma profunda influência dos
agentes externos (pais), influindo na sua construção da personalidade. Assim são referidas
características de personalidade dos pais, as suas atitudes e expectativas relativamente aos filhos.
A confiança, a responsabilidade, aceitação e respeito pelas ideias e sentimentos da criança são
características tidas como facilitadoras. É igualmente importante a clareza na transmissão de
valores, sentido de humor, imaginação e interesses fora das rotinas diárias. O desenvolvimento de
uma atitude criativa deve concentrar-se em propiciar novas oportunidades e experiências, manter
abertura a novas formas de diálogo e expressão, propiciar um comportamento curioso e
investigativo, inovação e persistência (entre outras).
14
cit. por Nicolau, p. 9
15
Alencar, 2003; Dacey, 1989
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16. educar para a criatividade
O papel da Educação
A Criatividade é uma faculdade que existe em potencial, em cada um de nós e que, muitas vezes,
ao longo dos tempos, com a educação, vivências e aprendizagens, vai sendo bloqueada. A
actividade criadora expressiva desempenha um papel indispensável nas nossas vidas e
especialmente no caso de crianças e jovens adolescentes, toda a restrição da expressão atenta
contra a sua evolução normal (Stern, s/d).
Vygotsky (1988) assume que a criatividade é essencial à existência humana e deste modo, urge
dar-se a oportunidade às gerações vindouras para explorarem o seu potencial criativo, mas à
medida que vamos sendo educados, as nossas ideias vão sendo condicionadas dentro dos
padrões estabelecidos pela sociedade em que estamos inseridos.
Para a criança, desenhar é uma actividade integradora. Inter-relaciona as funções do ver, do
pensar, do fazer e dá unidade aos domínios perceptivo, cognitivo, afectivo e motor. A criança
desenha, entre outras tantas coisas, para se divertir, onde é dona das suas próprias regras. Nesse
jogo solitário, ela vai aprender a estar só, "aprender a só ser". O desenho é o palco de suas
encenações, a construção do seu universo particular". (Derdyk, 1989, p. 50)
A criança filtra a realidade (em situações normais) de uma forma mais optimista que um adulto e
cria realidades diferentes das que existem, através da sua imaginação. A consciência que tem de
si é a atenção que lhe é dada pela sociedade em que se insere (família e amigos). Não sabendo da
sua importância no mundo dos adultos, a sua actuação é, muitas vezes, uma cópia, uma
mimetização dos adultos que ela tem por modelos. O contexto sócio-cultural tem influência no
desenvolvimento da criatividade. A criança / jovem observador, consoante a educação e
sociedade em que se insere, começa a consciencializar-se do mundo que o rodeia e tornar-se, a
pouco e pouco elemento activo, mas começa também a dar mais valor aos aspectos sociais e a
sentir-se condicionado por eles. A sua expressão natural, livre de condicionalismos sociais,
começa a perder autenticidade e valorizar o aspecto da aparência, o querer agradar e sobressair.
A educação tem um papel fulcral, uma vez que ela tem o poder de dirigir a atenção da
criança/jovem, de o ajudar a tomar consciência de si e do mundo e assim poder tornar-se activo,
participante e verdadeiro na sua evolução.
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17. educar para a criatividade
O desenvolvimento da criatividade é uma competência transdisciplinar. Torrance (1988)16 refere
que o professor ao encorajar a criatividade potencia o seu desenvolvimento mas, para que
alguém estimule a criatividade no outro, é necessário que desenvolva o seu próprio potencial
criador, para podermos desenvolver cada vez mais esta “potencialidade”, temos primeiro que a
Conhecer e Reconhecer e assim ampliar a sua manifestação em nós. Só depois a podemos
desenvolver, junto dos alunos, através do estímulo de processos criativos, respeitando a sua
autonomia e potenciando as tendências que cada um traz consigo.
Ainda que os educadores considerem o aspecto do desenvolvimento da criatividade importante,
por vezes não sabem como o fazer. Silva (2009, p.24), apresenta algumas condições que facilitam
um clima criativo em contexto educacional: “aceitar e encorajar maneiras alternativas de olhar a
questão ou o problema, reforçar tentativas de soluções invulgares; tolerar a dissensão,
incentivando o não conformismo, apoiando opiniões diferentes, através do adiamento da solução
final até que todas as possibilidades sejam encontradas (Woolfolk, 1998 cit. em Bahia, 2007;
Fleith e Matos, 2006); fornecer feedback informativo; incentivar e orientar os alunos a buscar
informações adicionais sobre assuntos do seu interesse; divulgar o trabalho realizado pelos
alunos; abordar assuntos que sejam conectados entre si e despertem o interesse e o sentido de
humor e o uso de recursos tecnológicos e de multimédia (Castro & Fleith, 2008; Hong Hong,
ChanLin, Chang & Chu 2005).” Acrescenta ainda que é necessário investir na criatividade do
próprio docente e identificar as principais barreiras à sua expressão, na tentativa de encontrar
estratégias que possibilitem a sua superação.
O Ensino deve ser uma experiência de “re-ligar”, através das nossas forças criadoras, permitir a
evolução do Conhecimento, com Liberdade e Responsabilidade. Ultrapassar a matéria de cada
um, a barreira do “concreto” e do “rapidamente acessível” a todos. Fomentar a Vontade e a
Atitude de reforçar e (re)descobrir o que há de mais Criativo e Essencial em cada um. Essa atitude
é inata, na medida em que em cada ser existe um âmago sagrado, intangível. Contudo, se essa
atitude inata for apenas potencial, ela pode permanecer não actualizada para sempre, ausente da
vida e da acção, é preciso que seja validada pela experiência interior de cada ser (Nicolescu,
1999). Um sistema educacional fundado em valores de outro século e o desequilíbrio acelerado
entre as estruturas sociais contemporâneas aprofunda e perpetua as várias tensões -económicas,
culturais, espirituais (Idem). É fundamental uma análise e “reformulação” dos valores
conducentes da educação de hoje. Pensar um “novo” tipo de educação que leve em consideração
todas as dimensões do ser humano, começando nos primeiros anos.
16
Cit. por Silva (2009)
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18. educar para a criatividade
Jacques Delors (1996) refere quatro pilares para a educação: aprender a conhecer, aprender a
fazer, aprender a viver junto e aprender a ser. Estes quatro pilares ajudam a florescer as
potencialidades de cada um, respeitando e tornando-o responsável e autónomo. Os alunos
devem não ser “ensinados” mas ensinados a aprender, a ir em busca do Conhecimento e do
conhecimento de Si, clarificando ideias, opiniões e processos. O tempo cada vez passa mais rápido
e os indivíduos estão a tornar-se, cada vez mais, indivíduos e não pessoas! Educamos objectos e
não sujeitos. Entristece pensar no futuro de uma sociedade moldada pela mesma forma,
circunscrita e circuncidada. Os alunos de hoje esquecem-se que sabem pensar por eles e Criar
coisas novas! Há que criar as condições para o surgimento de pessoas autênticas, assegurando as
condições para a máxima realização das suas potencialidades criativas. Uma educação só pode ser
viável se for uma educação integral do ser humano. (Nicolescu, s/d).
O Ensino das Artes
"Sem a arte o homem é um pássaro que voa com uma só asa".
Herbert Read
A arte é uma das formas mais poderosas de expressão. Estende a ponte entre o visível e invisível,
alia cores, sons, formas, palavras, gestos, denunciando combinações reveladoras do indivíduo, do
mundo e de si mesmo, permitindo-nos reestruturar a nossa experiencia, em níveis mais elevados
de consciência. A Educação pela Arte contribui para o desenvolvimento de uma atitude aberta,
cumprindo funções pedagógicas que visam a criação de meios necessários à evolução e realização
da totalidade do ser humano.
A nossa cultura de imediatismo e ostentação faz com que ainda muitos professores persistam no
desenvolvimento e supremacia do registo técnico, segundo regras e formalismos, que não
possibilitam a exploração e expressão livre. Na realização ou reprodução de uma obra ou modelo,
o culto do belo e atractivo, exibindo execução técnica, sem expressão e vibração, conduz a um
perigoso desprestígio e desvalorização do bom e verdadeiro, pleno de conteúdo e significado.
Uma obra de arte não pode ser vista simplesmente como algo agradável, num âmbito decorativo.
A obra de arte é a expressão e exteriorização de uma intimidade, inquietações e alegrias, nem
sempre conscientes, onde influem a consciência, a inteligência, o juízo, a sensibilidade e a
ressonância, de um ser de natureza humana.
A Educação Artística deve permitir a expressão livre e pessoal do indivíduo, de modo a
exteriorizar os seus sentimentos, ideias e emoções, não o limitando à técnica e à comunicação e
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19. educar para a criatividade
imitação de mensagens convencionais desprovidas de qualquer identidade individual. Não se
pode ambicionar um resultado comum, como noutras áreas, uma vez que cada pessoa dá uma
resposta diferente. Esta diversidade deve ser aproveitada e valorizada no processo de
desenvolvimento da criatividade. O professor deve estimular e proporcionar ao aluno uma
qualidade de expressão mas despertando nele a sua curiosidade, sensibilidade e consciência
crítica, permitindo o conhecimento e desenvolvimento de uma série de códigos essenciais, que
facultam a subtil relação entre conhecido e desconhecido, consciente e inconsciente, cultura e
intuição, criando uma relação e identificação estética, consigo e com o mundo. Na sala de aula as
relações e aproximações entre o fazer, ver, fruir e reflectir podem e devem gerar
problematizações férteis, que levem à descoberta de novas e diferentes relações de espaços,
tempos e vivências, ressoando na subjectividade do aluno, desenvolvendo o seu equilíbrio
emocional e intelectual e levando-o assim a expandir e transcender o concreto do seu quotidiano.
(Alvares, 2006)
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20. educar para a criatividade
Conclusão
Admitindo que a nossa evolução se dá num contexto sócio-histórico-cultural que para o qual
contribuem os ambientes económico, político, cultural e educativo, somos influenciados e
absorvidos por esses mesmos ambientes que, por sua vez, influenciam o nosso processo criativo.
Mas, à medida que evoluímos e nos vamos desenvolvendo como pessoas, o conhecimento que
temos de nós é ampliado, assim como o que temos relativamente às nossas potencialidades,
aptidões e do ambiente que nos rodeia. A esfera sócio-histórica-cultural cede em favor do factor
da individualização, onde as necessidades e valores falam mais alto e definem as metas e
objectivos (Silva Filho, 2003).
A Criatividade é um atributo humano, instintivo e natural. Existe em todos nós, sob a forma de
potencial e o que distingue alguém mais criativo de outra pessoa é a atitude que se manifesta na
disposição para criar. Apesar de todos os avanços de que temos vindo a ser espectadores, muitas
pessoas ainda acreditam que a Criatividade apenas existe em pessoas “diferentes”, confundindo-a
frequentemente com talento e ligando-a apenas às formas de expressão artística (pintura,
escultura, música, teatro, etc.). Esta ideia, alimentada durante bastante tempo impede (ainda
mais) de que as pessoas acreditem que também podem criar e em coisas simples do dia-a-dia,
como por exemplo num cozinhado, num texto, numa ideia… mas o perigoso fazer mecânico, que
vivemos, torna-nos prisioneiros das rotinas diárias e acresce-nos várias e supérfluas
responsabilidades, reprimindo essa energia criativa, em nome da ordem e dos padrões
estabelecidos.
Apesar de as artes serem um veículo privilegiado para o estímulo da Criatividade, o facto desta
potencialidade se poder estender a outros campos, é libertador para o ser humano. Nem todos os
homens são artistas, mas independentemente disso, todos carregam em si a fagulha da
criatividade, herança instintiva que nos diferencia dos demais animais. “Dessa forma, tem-se que
a criatividade deve permear todas as actividades da vida humana, regando o dia-a-dia com a
preciosa água do inconsciente, fonte inesgotável de símbolos, transformações e novidades”.
(Dalacqua, 2010). Através da nossa Atitude Criativa permitimos o desenvolvimento de vários
processos que facultam um auto-conhecimento e evolução pessoal.
A Educação Artística deve permitir a manifestação do indivíduo, de modo a conduzi-lo ao
(auto)conhecimento de si e do outro, não o limitando ao domínio da técnica. Isto vai contribuir
para o desenvolvimento de uma atitude, que cumpre funções pedagógicas, visando uma
expansão do processo de evolução e realização da totalidade do ser humano.
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21. educar para a criatividade
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