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MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em
saúde.28 de março de 2010
Fazendo uma síntese sobre a questão qualitativa, superior ao positivismo a ás
abordagens compreensivistas, a dialética marxista abarca não somente o sistema de relações
que constrói o modo de conhecimento exterior ao sujeito, mas também as representações
sociais que constituem a vivenciadas relações objetivas pelos atores sociais, que lhe atribuem
significados. Frente à problemática da quantidade e da qualidade a dialética assume que a
qualidade dos fatos e das relações sociais são suas propriedades inerentes, e que quantidade
e qualidade são inseparáveis e interdependentes, ensejando-se assim a dissolução das
dicotomias quantitativo/qualitativo, macro/micro, interioridade e exterioridade com que se
debatem as diversas correntes sociológicas. Pg.11
Numa oposição frontal ao positivismo, a sociologia compreensiva propõe a
subjetividade como fundante do sentido e defende-a como constitutiva do social e inerente ao
entendimento objetivo. Essa corrente não se preocupa de quantificar, mas de lograr explicar os
meandros das relações sociais consideradas essência e resultado da atividade humana
criadora, afetiva e racional, que pode ser apreendida através do cotidiano, da vivência, e da
explicação do senso comum. Pg.11
Os critérios de complexidade e de diferenciação lhe permitem trabalhar o caráter de
antagonismo, de conflito e de colaboração entre os grupos sociais, e no interior de cada um
deles, e pensar suas relações como múltiplas em seus próprios ângulos, intercondicionadas
em seu movimento e desenvolvimento interior e interagindo com outros fenômenos ou grupos
de fenômenos. Pg. 12
A abordagem dialética porém está pouco desenvolvida, particularmente no que
concerne ao ponto de partida das representações sociais. Isso leva a que os estudos
substantivos realizados a partir dessa perspectiva sejam um desafio que enfrenta o
pesquisador, pois exige dele uma superação dos instrumentos de pesquisa usualmente
empregados pelas correntes compreensivistas ou funcionalistas, e a inclusão dos
SIGNIFICADOS na totalidade histórico-estrutural. Pg.12
A noção de Metodologia de Pesquisa Social – não fosse as conotações historicamente
mediadas do primeiro termo – seria suficiente para qualificar o campo de abordagem das
relações sociais, abrangente de seus aspectos estruturais e da visão que os atores sociais
projetam dessas relações. Pg. 13
A discussão crítica do conceito de “Metodologia Qualitativas” nos induz a pensá-las não
como uma alternativa ideológica ás abordagens quantitativas, mas a aprofundar o caráter do
social e as dificuldades de construção do conhecimento que o apreendem de forma parcial e
inacabada. As diferentes teorias que abrangem (cada uma delas) aspectos particulares e
relegam outros, nos revelam o inevitável imbricamento entre conhecimento e interesse, entre
condições históricas e avanço das ciências, entre identidade do pesquisador e seu objeto, e a
necessidade indiscutível da crítica interna e externa na objetivação do saber. Pg.12
[...] dentro de uma sociologia de classe que: a) possua instrumentos para perceber o
caráter de abrangência das visões dominantes (pois as classes se encontram entre si, no seio
de uma sociedade em relação e com problemas de aculturação recíproca); b) perceba também
a especificidade dos sistemas culturais e de sub-culturas dominadas em suas relações
contraditórias com a dominação; c) defina a origem e a historicidade das classes na estrutura
do modo de produção; d) conceba sua realização tanto nos espaços formais da economia e da
política como nas matrizes essenciais da cultura como a família, a vizinhança, os grupos
etários, os grupos de lazer etc., considerando como espaços inclusivos de conflitos,
contradições, subordinação e resistência tanto as unidades de trabalho como o bairro, o
sindicato como a casa, a consciência como o sexo, a política como a religião. [...] Pensada
assim, cultura não é um lugar subjetivo, ela abrange uma objetividade com a espessura que
tem a vida, por onde passa o econômico, o político, o religioso, o simbólico e o imaginário. Ela
é o lócus onde se articulam os conflitos e as concessões, as tradições e as mudanças e onde
tudo ganha sentido, ou sentidos, uma vez que nunca há apenas um significado. Pg. 15
Alguns grupos sociais e alguns pensadores logram sair do nível de “senso comum”
dado pela ideologia dominante, mas, mesmo assim, o seu conhecimento é relativo e nunca
ultrapassa os limites das relações sociais de produção concreta que existem na sua sociedade.
O pensamento e a consciência são fruto da necessidade, eles não são um ato ou entidade, são
um processo que tem como base o próprio processo histórico. Pg.20
[...] fato inconteste de que o objeto das Ciências Sociais é histórico. Significa que as
sociedades humanas existem num determinado espaço, num determinado tempo, que os
grupos sociais que as constituem são mutáveis e que tudo, instituições, leis, visões de mundo
são provisórios, passageiros, estão em constante dinamismo e potencialmente tudo está para
ser transformado. Pg.20
[...] característica das Ciências Sociais é a identidade entre o sujeito e o objeto da
investigação. Elas investigam seres humanos que, embora sejam muito diferentes por razões
culturais, de classe, de faixa etária ou por qualquer outro motivo, têm um substrato comum que
os tornam solidariamente imbricados e comprometidos. Pg. 21
Outro aspecto distintivo das Ciências Sociais é o fato de que ela é intrínseca e
extrinsecamente ideológica. Ninguém hoje ousaria negar a evidência de que toda ciência é
comprometida. Ela veicula interesse e visões de mundo historicamente construídas e se
submete a resiste aos limites dados pelos esquemas de dominação vigentes. Pg. 21
“Numa ciência onde o observador é da mesma natureza que o objeto, o observador é,
ele mesmo, uma parte de sua observação” Minayo apud. Lévy Strauss pg. 21
O termo Pesquisa Social tem uma carga histórica e, assim como as teorias sociais,
reflete posições frente à realidade, momentos do desenvolvimento e da dinâmica social,
preocupações e interesses de classes e de grupos determinados. Enquanto prática intelectual
reflete também dificuldades e problemas próprios das Ciências Sociais e a sua relativa
juventude para delimitar métodos e leis específicas. Pg.23
Do ponto de vista antropológico pode-se dizer que sempre existiu a preocupação do
“homo sapiens” com o conhecimento da realidade. As tribos primitivas, através dos mitos, já
tentavamexplicar os fenômenos que cercam a vida e a morte, o lugar dos indivíduos na
organização social com seus mecanismos de poder, controle, convivência e reprodução do
conjunto da existência social. Dentro das dimensões de espaço e tempo , a religião tem sido
um dos relevantes fenômenos de explicações ás indagações dos seres humanos sobre os
significados da existência individual e grupal. Hoje, as perguntas humanas buscam soluções
ainda concomitantemente nos mitos modernos, nas mais diferentes formas religiosas, em
sistemas filosóficos e particularmente nas Ciências. Pg. 24
A conclusão inicial é de que a pesquisa enquanto atividade intelectual sofre as
limitações e contradições mais amplas do campo científico, dos interesses específicos da
sociedade e das “questões consagradas” de cada época histórica. Pg.25
A proliferação de centros de pesquisas sociais tanto nos países industrializados como
nos subdesenvolvidos tem a ver com o interesse do poder público de conhecer, regular e
controlar a sociedade civil, É óbvio, trata-se de um interesse contraditório e conflitivo frente ao
qual a sociedade civil, enquanto aparato de construção de consenso social, faz as suas
mediações e também expressa sua autoria e resistência. pg.25
“A pesquisa-ação é um tipo de investigação social com base empírica que é concebida
e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo
no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão
envolvidos de modo cooperativo ou participativo.” (Minayo 2004 pg. 26 apud. Thiollent 1986)
[...] podemos dizer que a Pesquisa Social não pode ser definida de forma estática ou
estanque. Ela só pode ser conceituada historicamente e entendendo-se todas as contradições
e conflitos que permeiam seu caminho. Além disso, ela é mais abrangente do que o âmbito
específico de uma disciplina. Pois a realidade se apresenta como uma totalidade que envolve
as mais diferentes áreas de conhecimento e também ultrapassa os limites da ciência. Pg.27
NOTA: A relação quantitativa que envolve números, estatísticas, pode a critério
objetivo, não completar a relevância da subjetividade sobre o universo das significações
representativas da natureza qualitativa.
Os fundamentos da pesquisa quantitativa nas ciências sociais são os próprios
princípios positivistas clássicos segundo os quais: a) o mundo social opera de acordo com leis
causais; b) o alicerce da ciência é a observação sensorial; c) a realidade consiste em
estruturas e instituições identificáveis enquanto dados brutos por um lado, crenças e valores
por outro. Estas duas ordens são correlacionadas para fornecer generalizações e
regularidades; d) o que é real são os dados brutos considerados dados objetivos; valores e
crenças são realidade s subjetivas que só podem ser compreendidas através dos dados brutos.
(Minayo 2004 pg. 30 apud. Hughes: 1983, 42-63)
“[...] a experiência que é captada não como predicado de um objeto, mas com fluxo de
cuja essência temos consciência em forma de relembranças: atitudes, motivações, valores e
significados subjetivos” (Minayo 2004 pg.32 apud. Granger: 1967, 107)
Durkheiminsiste, com todo rigor, que a sociedade é um fenômeno moral, na medida em
que os modos coletivos de pensar, perceber, sentir e agir incluem elementos de coerção e
obrigação, constituindo assim uma consciência coletiva que se expressa na religião, na divisão
do trabalho e nas instituições. Pg.43
A sociologia compreensiva de Weber, nos diz que as realidades sociais são
construídas nos significados e através deles e só podem ser identificadas na linguagem
significativa da interação social. Por isso, a linguagem, as práticas, as coisas e os
acontecimentos são inseparáveis. Pg. 51
Weber propõe, para conseguir compreender a realidade social, dois princípios
metodológicos: a) a neutralidade de valor e b) a construção do tipo-ideal. Pg. 51
“Não existe uma análise da cultura absolutamente objetiva dos fenômenos sociais,
independente dos pontos de vista especiais e parciais, segundo os quais, de forma explícita ou
tática, consciente ou subconsciente, aqueles ao selecionados e organizados para propósitos
expositivos. Todo conhecimento da realidade cultura, como pode ser visto, é sempre
conhecimento a partir de pontos de vista específicos” (Minayo 2004, pg.51 apud. Weber: 1959,
72)
Enquanto o materialismo histórico representa o caminho teórico que aponta a dinâmica
do real na sociedade, a dialética refere-se ao método de abordagem deste real. Esforça-se
para entender o processo histórico em seu dinamismo, provisoriedade e transformação. Busca
aprender a prática social empírica dos indivíduos em sociedade (nos grupos e classes sociais),
e realizar a crítica das ideologias, isto é, do imbricamento do sujeito e do objeto, ambos
históricos e comprometidos com o interesses e as lutas sociais de seu tempo. Como se pode
perceber, esses dois princípios estão profundamente vinculados, naquele sentido já advertido
(e citado anteriormente) por Lênin: “O método é a própria alma do conteúdo. Pg.65
[...] a transformação de nossas idéias sobre a realidade e a transformação da realidade
caminham juntas. Pg.73
[...] à metodologia dialética. Essa opção não é apenas uma postura ideológica. Demo a
coloca como a metodologia específica das ciências sociais porque é mais fecunda para
analisar os fenômenos históricos. Sua opinião se baseia na observação da realidade social e
na adequação e ela da visão dialética que privilegia: a) contradição e o conflito predominando
sobre a harmonia e o consenso; b) o fenômeno da transição, da mudança, do vir-a-ser sobre a
estabilidade; c) o movimento histórico; d) a totalidade e a unidade dos contrários. (Minayo 2004
pg.86 apud demo 1985: 86 – 100)
É dentro da perspectiva assinalada que passamos a discutir elementos que compõem
a fase exploratória de uma investigação e todas as etapas subseqüentes. Pg.91
CONCEITOS FUNDAMENTAIS NA OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA
São eles: teoria, conceito, noção, categoria, hipótese e pressupostos:
a) Chamamos Teoria a um conjunto inter-relacionado de princípios e definições que
servem para dar organização lógica a aspectos selecionados da realidade empírica. Uma teoria
reúne um conjunto de pressupostos e axiomas (uma afirmação cuja verdade é evidente e
universalmente aceita em determinada disciplina), proposições logicamente inter-relacionadas
e empiricamente verificáveis. As proposições de uma teoria são consideradas leis se já foram
suficientemente comprovadas, e hipóteses, se constituem ainda problema de investigação. Na
realidade, tanto leis como hipóteses estão sempre sujeitas à problematização e à reformulação.
A essência de uma teoria consiste na sua potencialidade de explicar uma gama ampla de
fenômenos através de uma esquema conceitual ao mesmo tempo abrangente e sintético. Pg
91
Os conceitos são as unidades de significação que definem a forma e o conteúdo de
uma teoria. Pg. 92
Por noção entendemos aqueles elementos de uma teoria que ainda não apresentam
clareza suficiente e são usados como “imagens” na explicação do real. Eles expressam
também o caminho do pensamento. Ou seja, expressam a relação intrínseca entre a
experiência e a construção do conhecimento. Ninguém coloca uma pergunta se nada sabe da
resposta, pois então não haveria o que perguntar. Todo saber está baseado em préconhecimento, todo fato e todo dado já são interpretações, são maneiras de construirmos e de
selecionarmos a relevância da realidade. Pg. 93
O termo “categoria” possui uma conotação classificatória. Pg.93
Categoria Analíticas: são aquelas que retêm historicamente as relações sociais
fundamentais e podem ser consideradas balizas para o conhecimento do objeto nos seus
aspectos gerais.
Categorias Empíricas: Finalidade operacional [...] construída a partir dos elementos
dados pelo grupo social, tem todas as condições de ser colocada no quadro mais amplo de
compreensão teórica da realidade, e de, ao mesmo tempo, expressá-la em sua especificidade.
Definimos Hipóteses como afirmações provisórias a respeito de determinado fenômeno
em estudo. São afirmações para serem testadas empiricamente e depois confirmadas ou
rejeitadas. Uma hipótese científica deriva de um sistema teórico e dos resultados de estudos
anteriores e portanto fazem parte ou não deduzidas das teorias, mas também podem surgir da
observação e da experiência e nesse jogo sempre impreciso e inacabado que relaciona teoria
e prática. Pg.95
O próprio termo “hipótese” possui uma conotação positivista que crê na possibilidade
do conhecimento objetivo da realidade e nas provas estatísticas-matemáticas como
comprovadoras da objetividade. Pg. 95
Costuma-se até a usar o termo Pressupostos para falar de alguns parâmetros básicos
que permitem encaminhar a investigação empírica qualitativa, substituindo-se assim o tempo
Hipótese com conotações muito formais da abordagem quantitativa. Pg. 95
O princípio geral é de que todos os dados devem ser articulados com a teoria. Pg.96
A DEFINIÇÃO DO OBJETO
Para o delineamento do objeto, a primeira tarefa a que nos propomos é um trabalho de
pesquisa bibliográfica, capaz de projetar luz e permitir uma ordenação ainda imprecisa da
realidade empírica. Pg. 97
Primeiro: Bibliográfico – Segundo: abordagem crítica da leitura – Terceiro o material de
consulta, tem o caráter disciplinar e operacional pg.98
[...] a definição do Objeto(definição como recorte em todos os seus aspectos e sempre
provisória dentro da abordagem dialética que adotamos; b) Justificativa: que descreve os
motivos vivenciais e teóricos que impulsionaram a escolha do objeto. Colocando-se aí as
principais indagações do pesquisador; c) Marco conceitual teórico-metodológico onde se
estabelecem os principais conceitos, categorias e noções com as quais se vai trabalhar,
definem-se a hipóteses ou pressupostos da investigação e o “caminho do pensamento” que
orientará o trabalho. Pg. 98

CONSTRUÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE PESQUISA

Ao nível da pesquisa qualitativa os instrumentos de trabalho de campo são: o roteiro de
entrevista, os critérios para observação participante e os itens para discussão de grupos focais.
Pg. 99
Instrumento para orientar uma “conversa com finalidade” que é a entrevista, ele deve
ser facilitador de abertura, de ampliação e de aprofundamento da comunicação. Dele constam
apenas alguns itens que se tornam indispensáveis para o delineamento do objeto, em relação
à realidade empírica e devem responder ás seguintes condições: a) cada questão que se
levanta, faça para do delineamento do objeto e que todas se encaminhem para lhe da reforma
e conteúdo; b) contribua para emergir a visão, os juízos e as relevâncias a respeito dos fatos e
das relações que compõem o objeto de ponto de vista dos interlocutores. Pg. 99
O principio básico para elaboração do questionário é o mesmo que adotamos em
relação ao roteiro; cada questão tenha como pressuposto o marco teórico desenhado para a
construção do objeto. Pg. 100
(anotações ) Observações sobre conversas informais, comportamentos, cerimoniais,
festas, instituições, gestos, expressões que digam respeito ao tema da pesquisa. Fala,
comportamentos, hábitos, usos, costumes, celebrações e instituições compõem o quadro das
representações sociais. Pg. 100
A investigação qualitativa requer como atitudes fundamentais a abertura, a flexibilidade,
a capacidade de observação e de interação com o grupo de investigadores e com os atores
sociais envolvidos. Seus instrumentos costumam ser facilmente corrigidos e readaptados
durante o processo de trabalho de campo, visando ás finalidades da investigação. Pg. 101
Exploração de Campo
A exploração do campo contempla as seguintes atividades: a) escolha do espaço da
pesquisa; b) escolha do grupo de pesquisa; c) estabelecimento dos critérios de amostragem; d)
estabelecimento de estratégia de entrada em campo. Pg. 101
A questão da amostragem em pesquisa qualitativa merece comentários especiais de
esclarecimento. Ela envolve problemas de escolha do grupo para a observação e para
comunicação direta. A quem entrevistar, a quem observar e o que observar, o que discutir e
com quem discutir? Pg. 101
Numa busca qualitativa, preocupamo-nos menos com a generalização e mais com o
aprofundamento e abrangência da compreensão seja de um grupo social, de uma organização,
de uma instituição, de uma política ou de uma representação. Pg. 102
Critério de amostragem
a)
Definir claramente o grupo social mais relevante para as entrevistas e para a
observação;
b)
Não se esgotar enquanto não delinear o quadro empírico da pesquisa;
c)
embora desenhada inicialmente como possibilidade, prever um processo de
inclusão progressiva encaminhada pelas descobertas do campo e seu confronto com a teoria;
d)
prever uma triangulação, Isto é, em lugar de se restringir a apenas uma fonte de
dados, multiplicar as tentativas de abordagem. Pg.102
Amostragem qualitativa
a)
privilegia os sujeitos sociais que detêm os atributos que o investigador pretende
conhecer;
b)
considera-os em número suficiente para permitir uma certa reincidência das
informações, porém não despreza informações ímpares cujo potencial explicativo tem que ser
levado em conta;
c)
entende que na sua homogeneidade fundamental relativa aos atributos, o
conjunto de informantes possa ser diversificado para possibilitar a apreensão de semelhanças
e diferenças;
d)
esforça-se para que a escolha do lócus e do grupo de observação e informação
contenham o conjunto das experiências e expressões que se pretende objetivar com a
pesquisa. Pg.102
Muitos atores sociais serão descobertos no decorrer da pesquisa, no efeito de inclusão
progressiva na amostragem. Certamente o número de pessoas é menos importante do que a
teimosia de enxergar a questão sob vários perspectivas, pontos de vista e de observação. Pg.
103
A questão da validade dessa amostragem está na sua capacidade de objetivar o objeto
empiricamente, em todas as suas dimensões. Pg.103
O processo de investigação prevê idas ao campo antes do trabalho mais intensivo, o
que permite o fluir da rede de relações possíveis de correções já iniciais dos instrumentos de
coleta de dados. Pg.103
A fase Exploratória termina formalmente com a entrada em campo. Na realidade,
como temos repetido por diversas vezes, as etapas se interpenetram e o esforço de delinear
esse começo de caminho tem sua raiz na teoria e na prática. Pg. 103
A abordagem dialética heurística parte de um quadro conceitual (que tem como
premissa a realidade empírica) para levantar o conjunto de determinações e especificidades do
real concreto. Pg.104
FASE DE TRABALHO DE CAMPO
O trabalho de campo constitui-se numa etapa essencial da pesquisa qualitativa, que a
rigor não poderia ser pensada sem ele. Opõem-se aos “surveys” que trazem os sujeitos para o
laboratório do pesquisador, mantém com eles uma relação estruturada [...]
“A pesquisa de campo, por onde começa toda carreira etnológica, é mãe e ama-de-leite
da dúvida, atitude filosófica por excelência. Essa “dúvida antropológica” não consiste apenas
em saber que não se sabe nada, mas em expor resolutamente o que se acreditava saber e a
própria ignorância, aos insultos e aos desmentidos que infligem a idéias e hábitos muito caros,
àqueles que podem contradizê-los no mais alto grau. Ao contrário do que a aparência sugere, é
por seu método mais estritamente filosófico que a etnologia se distingue da sociologia”
(MINAYO 2004 pg.106. apud. Lévi-Strauss 1975, 220)
“Cada vez que o cientista social retorna ás fontes vivas de seu saber, àquilo que nele
opera como meio de compreender as formações culturais mais afastadas de si, faz filosofia
espontaneamente” (MINAYO 2004 pg. 106. Apud. Lévi-Strauss 1975, 222)
As operações mentais decorrentes das atitudes e práticas de interrogação no campo
da pesquisa, segundo Lévi-Strauss, ajudam o investigador a confrontar-se com seu objeto
diretamente, pois faz assim uma: “Sociologia de carne e osso que mostra os homens
engajados no seu próprio dever histórico e instalados em seu espaço geográfico concreto.”
(MINAYO 2004 pg. 106, apud. Lévi-Strauss 1975, 212)
“Não é a prece ou o dom que importa entender, o que conta é o melanésio de tal ou tal
ilha. Contra o teórico, o observador deve ter sempre a última palavra; e contra o observador, o
indígena.” (MINAYO 2004 pg. 106, apud. Lévi-Strauss 1975, 211)
São componentes do trabalho de campo duas categorias fundamentais que tentaremos
abordar mais exaustivamente: a) A entrevista, nome genérico no qual incluiremos diferentes
abordagens que podem ser decompostas em: entrevista aberta, entrevista estruturada,
entrevista semi-estruturada, entrevista através de grupos focais e história de vida. [...] b) A
observação Participante como momento que enfatiza as relações informais do pesquisador no
campo. Essa informalidade aparente reveste-se porém de uma série de pressupostos, de
cuidados teóricos e práticos que põem fazer avançar ou também prejudica o conhecimento da
realidade proposta.

A ENTREVISTA

Ao lado da observação participante, a entrevista – tomada no sentido amplo de
comunicação verbal, e no sentido restrito de colheita de informações sobre determinado tema
científico – é a técnica mais usada no processo de trabalho de campo.
“Conversa a dois, feita por iniciativa do entrevistador, destinada a fornecer informações
pertinentes para um objeto de pesquisa, e entrada (pelo entrevistador) em temas igualmente
pertinentes com vistas a este objetivo” (MINAYO 2004 pg. 108, apud. Kahn &Cannell 1962, 52)
Mediante a entrevista podem ser obtidos dados de duas naturezas: a) os que se
referem a fatos que o pesquisador poderia conseguir através de outras fontes como censos,
estatísticas, registros civis, atestados de óbitos etc. [..] b) os que se referem diretamente ao
individuo entrevistado, isto é, suas atitudes, valores e opiniões. São informações ao nível mais
profundo da realidade que os cientistas sociais costumam denominar “subjetivos”. Só podem
ser conseguidos com a contribuição dos atores sociais envolvidos.
Segundo forma em que se estrutura a entrevista [...] a) sondagem de opinião,
elaborada mediante questionário totalmente estruturado, onde a escolha do informante está
condicionada pela multiplicidade de respostas apresentadas pelo entrevistador; b) entrevista
semi-estruturada que combina perguntas fechadas (ou estruturadas) e abertas, onde o
entrevistado tema possibilidade de discorrer o tema proposto, sem respostas ou condições
prefixadas pelo pesquisador; c) entrevista aberta, quando o informante discorre livremente
sobre o tema que lhe é proposto; d) entrevista não-diretiva “centrada” ou “entrevista focalizada”
onde se aprofunda a conversa sobre determinado tema sem prévio roteiro; e) entrevista
projetiva, isto é, centrada em técnicas visuais (quadros, pinturas, fotos) usadas quase sempre
para aprofundar informações sobre determinado grupo. (MINAYO 2004 pg. 108, apud.
Honnigmann: 1995)
a)
A palavra como símbolo de comunicação por excelência
“A palavra é o modo mais puro e sensível de relação social. [...] Existe uma parte muito
importante da comunicação ideológica que não pode ser vinculada a uma esfera ideológica
particular: trata-se da comunicação da vida cotidiana. O material privilegiado de comunicação
na vida cotidiana é a palavra” (MINAYO 2004 pg. 109, apud. Bakhtin 1986: 36s)
“Um sistema de disposições duráveis e transferíveis que integram todas as
experiências passadas e funciona a todo momento como matriz de preocupações, apreciações
e ações. O „hatitus‟ torna possível o cumprimento de tarefas infinitamente diferenciais, graças
ás transferências analógicas de esquemas que permitem resolver os problemas, da mesma
forma, graças ás correções incessantes dos resultados obtidos e dialeticamente produzidos por
estes resultados”. (MINAYO 2004 pg. 111, apud. Bourdieu: 178 s.)
O autor compara o “habitus” com inconsciente:
“O inconsciente da história que a história produz, incorporando as estruturas objetivas
que ele produz nesta quase natureza que é o „habitus‟.” (MINAYO 2004 pg. 111, apud.
Bourdieu: 197, 179)
“O indivíduo concretiza sob mil formas possíveis idéias e modos de comportamento
implicitamente inerentes ás estruturas ou ás tradições de uma sociedade dada” (MINAYO 2004
pg. 112, apud. Boudieu 1967, 89)
Acrescenta, referindo-se á entrevista:
“Se um testemunho individual é gravado ou comunicado, isto não quer dizer que se
considera tal individuo precioso em si mesmo. Essa entidade adulta e singular é tomada como
amostra da continuidade” (MINAYO 2004 pg. 112, apud. Bourdieu 1967, 90)
[...] cada ator social se caracteriza por sua participação, no seu tempo histórico, num
certo número de grupos sociais, informa sobre uma “sub-cultura” que lhe é específica e tem
relações diferenciadas com a cultura dominante. pg. 113
Essa compreensão do individuo como representativo tem portanto que ser completada
com as variáveis próprias tanto da especificidade histórica como dos determinantes das
relações sociais. E, também, dentro do próprio grupo ou comunidade alvo da pesquisa, com
uma diversificação que contemple as hipóteses, pressupostos e variáveis estratégicas
previstas para a compreensão do objeto de estudo. Pg 113
b)
A interação entre o pesquisador e os atores sociais no campo
[...] a entrevista não é simplesmente um trabalho de coleta de dados, mas sempre uma
situação de interação na qual as informações dadas pelos sujeitos podem ser profundamente
afetadas pela natureza de suas relações com o entrevistador. pg113
O impacto resultante do pertencimento a outra classe, que se concretiza em
experiência socioculturais e até conflitantes, é um dado condicionante da pesquisa, junto com
todos os outros fatores que acompanham qualquer ruma de suas fases. Pg.115
A realidade social é um lusco-fusco, mundo de sombras e luzes em que os atores
revelam e escondem seus segredos grupais. Em lugar do caráter de “passividade” que as
teorias reprodutivistas e positivistas, sob pontos de vista diferentes, conferem aos
entrevistados, esses autores (integracionistas simbólicos e fenomenologistas) os projetam
agindo e reagindo durante todo o processo de contato com o pesquisador. Pg.115
A informação não-estruturada persegue vários objetivos: a) a descrição do caso
individual; b) a compreensão das especificidades culturais mais profundas dos grupos; c) a
comparabilidade de diversos casos. Pg.122
“Parece impossível compreender a realidade social total, se não se admite que esta
superposição de planos submetidos a um determinante mais ou menos flexível, repousa sobre
um solo vulcânico, onde se agita o que há de mais espontâneo e inesperado na vida coletiva:
as condutas criadoras, as idéias e valores coletivos, os estados mentais e os atos psíquicos
coletivos. (MINAYO 2004 pg. 123, apud. Gurvitch 1954,113)
DISCUSSÃO DE GRUPO
O específico do grupo de discussão são as opiniões, relevâncias e valores dos
entrevistados.. Difere por isso da observação que focaliza mais o comportamento e as
relações. Tem uma função complementar à observação participante e ás entrevistas
individuais.pg. 129
Do ponto de vista operacional, a discussão de grupo (“grupos focais”) se faz em
reuniões com um pequeno número informantes (seis a doze). Geralmente tem a presença de
um animador que intervém, tentando focalizar e aprofundar a discussão. Pg. 129
Essa estratégia de coleta de dados é geralmente usada para: a) focalizar a pesquisa e
formular questões mais precisas; b) complementar informações sobre conhecimentos
peculiares a um grupo em relação a crenças, atitudes e percepções; c) desenvolver hipóteses
de pesquisa para estudos complementares. Pg. 129
Assim a pesquisa qualitativa torna-se importante para; a) compreender os valores
culturais e as representações de determinado grupo sobre temas específicos; b) para
compreender as relações que se dão entre atores sociais tanto no âmbito das instituições como
dos movimentos sociais; c) para avaliação das políticas públicas e sociais tanto do ponto de
vista de sua formulação , aplicação técnica, como dos usuários a quem se destina. Pg.134
Para conseguir apreender a totalidade funcional “ a) ter objetivos realmente científicos
e conhecer os atores e critérios da etnografia moderna. [...] O segundo ponto do método é
colocar-se em boas condições de trabalho e dispor-se a viver no contexto, aberto à realidade
do grupo pesquisado. [...] c) O último item do método de observação participante preconizado
por Malinowski consiste na aplicação de um certo número de métodos particulares para
selecionar, coletar, manipular e estabelecer os dados” (MINAYO 2004 pg. 138,
apud.Malinowski 1975, 45)
O estoque de conhecimento se forma através de tipificações do mundo do senso
comum. Isso permite a identificação de grupos, a estruturação comum de relevância e
possibilidade de compreensão de um modo de vida específico de determinado grupo. Pg 196
Os pesquisadores costuram encontrar três grandes obstáculos quando partem para a
análise dos dados recolhidos no campo (documentos, entrevistas, biografias, resultados de
discussão em grupos focais e resultados de observação)pg.197
Uma análise do material recolhido busca atingir os três objetivos: – Ultrapassagem da
incerteza: o que eu percebo na mensagem, estará lá realmente contido? Minha leitura será
válida e generalizável? – Enriquecimento da leitura: como ultrapassar o olhar imediato
espontâneo e já fecundo em si, para atingir a compreensão de significações, a descoberta de
conteúdos e estruturas latentes? – Integração das descobertas que vão além da aparência,
num quadro de referência da totalidade social no qual as mensagens se inserem (MINAYO
2004 pg.198 apud. Bardin 1979, 29)
Noutras palavras, a análise do material possui três finalidades complementares dentro
da proposta de investigação social: a) a primeira é heurística. Isto é, insere-se no contexto de
descobertas das pesquisas. Propõe-se a uma atitude de busca a partir do próprio material
coletado: b) a segunda é de “administração de provas” Parte de hipóteses provisórias, informaas ou as confirma e levanta outras; c) a terceira é a de ampliar a compreensão de contextos
culturais com significações que ultrapassam o nível espontâneo das mensagens. Pg.198

ANALISE DO CONTEÚDO

“Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos
ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção destas mensagens” (MINAYO 2004 pg. 199 apud Bardin: 1979, 42)
Historicamente a Análise de Conteúdo Clássica tem oscilado entre o rigor da suposta
objetividade dos números e a fecundidade da subjetividade. A grande importância dessa
técnica de função heurística tem sido a de impor um corte entre as intuições e as hipóteses que
encaminham para interpretações mais definitivas. Essa tentativa faz parte de um esforço
teórico secular. Pg.200
[...] Os critérios fundamentais então exigidos par testificar o rigor científico estão assim
resumidos: a) trabalhar com amostras reunidas de maneira sistemática; b) interrogar-se sobre a
validade dos procedimentos de coleta e dos resultados; c) trabalhar com codificadores que
permitam verificação de fidelidade; d) enfatizar o análise de freqüência como critério de
objetividade e cientificidade; e) ter possibilidade de medir a produtividade da análise. Pg. 201
No plano epistemológico confrontam-se duas concepções de comunicação: a) o
modelo “instrumental” que defende o seguinte ponto de vista: numa comunicação o mais
importante não é o conteúdo manifesto da mensagem (como defendia Berelson) mas o que ela
expressa graças ao contexto e ás circunstância em que se dá; b) o modelo “representacional”
que dá fundamental importância ao conteúdo lexical do discurso. Isto é, defende a idéia de que
através das palavras da mensagem podemos fazer uma boa análise de conteúdo, sem nos
atermos ao contexto e ao processo histórico. Pg. 202
Os adeptosdas técnicas qualitativas aprofundam sua argumentação dentro da seguinte
linha: a) colocam em cheque a minúcia da análise de freqüência como critério de objetividade e
cientificidade; b) tentam ultrapassar o alcance meramente descritivo do conteúdo manifesto da
mensagem, para atingir, mediante a inferência, uma interpretação mais profunda. Pg.203
O resumo das tendência históricas da Análise de Conteúdo conduz-nos a uma certeza.
Todo o esforço teórico para desenvolvimento de técnicas, visa – ainda que de formas diversas
e até contraditórias – a ultrapassar o nível do senso comum e do subjetivismo na interpretação
e alcançar uma vigilância crítica frente à comunicação de documentos, textos literários,
biografias, entrevistas ou observação. Pg. 203
Para isso análise de conteúdo em termos gerais relaciona estruturas semânticas
(significantes) com estruturas sociológicas (significados) dos enunciados. Articula a superfície
dos textos descrita e analisada com os fatores que determinam suas características: variáveis
psicossociais, contexto cultural, contexto e processo de produção da mensagem. Pg.203
Técnicas de Análise de Conteúdo
Na busca de atingir os Significados manifestos e latentes no material qualitativo têm
sido desenvolvidas várias técnicas como Analise de Expressão, Análise de Relações, Analise
Temática e Análise de Expressão, Análise de Relações, Análise Temática e Análise da
Enunciação, Estudando as proposta de cada uma dessa modalidades perceberemos que cada
uma enfatiza aspectos a serem observados nos textos dentro de pressupostos específicos.
Pg.204
Análise da Expressão
Enfatiza a necessidade de conhecer os traços pessoas do autor da fala, sua situação
social e os dados culturais que o moldam.
Análise das Relações
São duas as principais modalidades de análise das relações: a) de co-ocorrências:
extrai de um texto as relações entre as partes de uma mensagem e assinala a presença
simultânea e a b) estrutural. Pg.204
Análise de co-ocorrências: a) escolha da unidade de registro (essa pode ser uma
palavra-chave, por exemplo e a categorização por temas; b) escolha das unidades de contexto
de o recorte de texto em fragmentos (pode ser, por exemplo, parágrafos); c) presença ou
ausência de Ada unidade de registro em cada unidade de contexto; d) cálculo de coocorrências; e) representação e interpretação de resultados. Pg.204
A utilidade maior da análise de co-ocorrência tem sido no esclarecimento das
estruturas da personalidade, na análise das preocupações latentes tanto individuais como
coletivas, para análise de estereótipos e de representações sociais. Pg.205
Os estruturalistas buscamo imutável e permanente sob a heterogeneidade aparente.
Por trás dessa busca está a noção de sistema. Analisar significará, pois, reencontrar as
mesmas engrenagens, quaisquer sejam as formas do mecanismo. A significação, no caso, fica
subordinada à estruturação. Pg. 205
O conceito básico da Análise Avaliativa é atitude. Uma atitude seria a predisposição
relativamente estável e organizada para reagir sob a forma de opiniões ou de atos em
presença de objetos (pessoas, idéias, coisas, acontecimentos) de maneira determinada.
Pg.205
Uma atitude seria o núcleo ou matriz que produz e traduz um conjunto de juízo de
valor. A análise avaliativa consistiria em encontrar as bases destas atitudes por trás da
dispersão das manifestações verbais. É semelhante á analise temática enquanto separa o
texto em unidade de significação. Seu objetivo porém é específico: atém-se somente á carga
avaliativa das unidades de significação tomadas em conta, em termos de direção e de
intensidade dos juízos selecionados (MINAYO 2004 pg. 206 apud. Bordin; 1979; Osgood:
1959)
ANÁLISE DA ENUNCIAÇÃO
Apóia –se numa concepção de comunicação como processo e não como um dado
estático, e do discurso como palavra em ato. A análise da enunciação considera que na
produção da palavra elabora-se ao mesmo tempo um sentido e operam-se transformações. Por
isso o discurso não é um produto acabado, mas um momento de criação de significados com
tudo o que isso comporta de contradições, incoerências e imperfeições. Pg.206
Leva em conta que, nas entrevistas, a produção é ao mesmo tempo espontânea e
constrangida pela situação. Portanto a análise da enunciação trabalha com: a) as condições de
produção da palavra. Parte do princípio que a estrutura de qualquer comunicação se dá numa
triangulação entre o locutor, seu objeto de discurso e o interlocutor. Ao se expressar, o locutor
projeta seus conflitos na sua maioria, inconscientes; b) o continente do discurso e suas
modalidades. Essa aproximação se dá através de: 1) análise sintática e paralinguistica: estudo
das estruturas gramaticais; 2) análise lógica: estudo do arranjo do discurso; 3) análise dos
elementos formais atípicos: silêncios, omissões, ilogismos; 4) realce das figuras de retórica.
Pg.207
Em termos operacionais a análise da enunciação segue o seguinte roteiro: a)
Estabelecimento do Corpus: delimitação do número de entrevistas a serem trabalhadas. A
qualidade da análise substitui a quantidade do material. Leva-se em conta a questão central e
objetiva da pesquisa para delinear as dimensões do Corpus; b) Preparação do Material: cada
texto (entrevista) é uma unidade básica. Começa-se pela transcrição exaustiva de cada peça,
deixando-seuma margem (à direita ou a esquerda) para anotações. A transcrição conserva
tanto o registro da palavra (significantes) como dos silêncios, risos, repetições, lapsos, sons
etc.); c) As Etapas da Análise: na análise de enunciação cada entrevista é submetida a
tratamento como uma totalidade organizada e singular. São observados em cada uma os
seguintes aspectos: 1) o alinhamento e a dinâmica do discurso para se encontrar a lógica que
estrutura cada peça; 2) o estilo; 3) os elementos atípicos e as figuras de retórica. Pg.207
Primeiramente, a partir da observação do encadeamento das proposições faz-se uma
análise lógica. Separam-se por barra ou recopiam-setodas as orações observando-se as
relações que ressaltam a forma de raciocínio. Em segundo lugar se realiza a análise
seqüencial, que se preocupa com a maneira de construção do texto, pondo em evidência o
ritmo, a progressão e a ruptura do discurso;
O estilo; dentro da análise de enunciação o estilo é m revelador do locutor, de seu
contexto e de seus interlocutores, no sentido de que a expressão e o pensamento caminham
lado a lado. É importante tê-lo em conta;
Os elementos Atípicos e as Figuras de Retórica: na análise da enunciação torna-se
fundamental observar: a) as repetições de um mesmo tempo ou de uma mesma palavra dentro
de um texto. Essa repetição pode ser indicador da importância do termo, da sua ambivalência,
da denegação enquanto tentativa de convencimento de uma idéia, da presença de uma idéia
recusada; b) os lapsos podem significar a insistência não-dominável de uma idéia recusada.
Segundo a psicanálise, a erupção irracional num contexto da racionalidade significa uma
quebra de defesa do locutor; c) os ilogismos, isto é, os emperramentos nos raciocínios
demonstrativos. Costumam ser indicativos de uma necessidade de justificação, ou de um juízo
em contradição com a situação real; d) os “lugares comuns”. Têm um papel justificador. Podem
apelar para a cumplicidade do interlocutor (frases feitas, provérbios culturalmente partilhados).
Também, por vezes, têm a função de desviar a atenção do entrevistador e indicar a recusa de
aprofundar determinados assuntos; e) os jogos de palavras: os chistes podem indicar
descontração mas também a tentativa de distanciamento de uma questão: f) as figuras de
retórica. Elas jogam com o sentido das palavras. As mais comuns são: o paradoxo (reunião de
duas idéias aparentemente irreconciliáveis); a hipérbole (o aumento ou a diminuição excessiva
das coisas); a metonímia (uso da parte pelo todo do abstrato pelo concreto e vice-versa); a
metáfora (designa uma coisa por outra. Pg. 207
Em suma, a proposta da Análise de Enunciação é conseguir, através do confronto
entre a análise lógica, a análise seqüencial e a análise do estilo e dos elementos atípicos de
um texto, a compreensão do significado. A conexão entre os temas abordados e seu processo
de produção evidenciariam os conflitos e contradições que permeiam e estruturam o discurso.
Pg.208
ANÁLISE TEMÁTICA
“O tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado
segundo critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura” (MINAYO 2004, pg.208. apud.
Bardin: 1979: 105)
“Uma unidade de significação complexa de comprimento variável, a sua validade não é
de ordem lingüística, mas antes de ordem psicológica. Pode constituir um tema tanto uma
afirmação como uma alusão (MINAYO, 2004, pg.209. apud. Unrug: 1974, 19)
Operacionalmente a análise temática desdobra-se em três etapas:
1)
A pré-Análise – Consiste na escolha dos documentos a serem analisados; na
retomada das hipóteses e dos objetivos iniciais da pesquisa, reformulando-as frente ao material
coletado; e na elaboração de indicadores que orientem a interpretação final. Pode ser
decomposta na seguinte tarefa: Leitura Flutuante; do conjunto das comunicações. Consiste em
tomar contato exaustivo com o material deixando-se impregnar pelo seu conteúdo. A dinâmica
entre as hipóteses iniciais, as hipóteses emergentes, as teorias relacionadas ao tema tornarão
a leitura progressivamente mais sugestiva e capaz de ultrapassar á sensação de caos inicial.
Constituição do Corpus: Organização do material de tal forma que possa responder a algumas
normas de validade: exaustividade (que contempla todos os aspectos levantados no roteiro);
representatividade (que contenha a representação do universo pretendido); homogeneidade
(que obedeça a critérios precisos de escolha em termos de temas, técnicas e interlocutores);
pertinência (os documentos analisados devem ser adequados ao objetivo do trabalho)
Formulação de Hipóteses e Objetivos. Em relação ao material qualitativa, a proposta do
primado do quadro de análise sobre as técnicas e controversa. [...] Entendemos que há
necessidade de se estabelecer hipóteses iniciais pois a realidade não é evidente: responde a
questões que teoricamente lhe são colocadas. Porém esses pressupostos iniciais têm que ser
de tal forma flexíveis que permitam hipóteses emergentes a partir de procedimentos
exploratórios.
2)
Exploração do Material: Consiste essencialmente na operação de codificação.
Análise temática tradicional trabalha essa fase primeiro com o recorte do texto em unidades de
registro que podem ser uma palavra, uma frase, um tema, um personagem, um acontecimento
tal como foi estabelecido na pré-análise. Em segundo lugar, escolhe as regras de contagem,
uma vez que tradicionalmente ela constrói índices que permitem alguma forma de
quantificação. Em terceiro lugar, ela realiza a classificação e a agregação dos dados,
escolhendo as categorias teórica ou empíricas que comandarão a especificação dos temas.
3)
Tratamento dos Resultados Obtidos e Interpretação: os resultados brutos são
submetidos (tradicionalmente) a operação estatísticas simples (percentagens) ou complexas
(análise fatorial) que permitem colocar em relevo as informações obtidas. A partir daí o analista
propõe inferências e realiza interpretações previstas no seu quadro teórico ou abre outras
pistas em torno de dimensões teóricas sugeridas pela leitura do material.
ANÁLISE DO DISCURSO

Seu criador é o filósofo francês Michel Pêcheux – década 60 – Escola Francesa de
Análise do Discurso
Articula três regiões do conhecimento:
a)
O materialismo Histórico como teoria das formações sociais e suas
transformações estando incluída aí a ideologia;
b)
A Lingüística enquanto teoria dos mecanismos sintáticos e dos processos
de enunciação;
c)
A Teoria do Discurso como teoria da determinação histórica dos
processos semânticos. pg. 211
O objetivo básico da Análise do Discurso é realizar uma reflexão geral sobre as
condições de produção e apreensão da significação de textos produzidos nos mais diferentes
campos: religioso, filosófico, jurídico e sócio-político. Ela visa a compreender o modo de
funcionamento, os princípios de organização e as formas de produção social do sentido.pg.211
Seus pressupostos básicos podem se resumir em dois princípios, segundo Pêcheux: 1)
O sentido de uma palavra, de uma expressão ou de uma proposição não existe em si mesmo,
mas expressa posições ideológicas em jogo no processo sócio-histórico no qual as palavras,
as expressões e proposições são produzidas; 2) toda formação discursiva dissimula (pela
transparência do sentido que nela se constitui) sua dependência das formações ideológicas.
(MINAYO, 2004, pg.211. apud.Pêcheux 1988, 160-162)
A definição de Texto, a reflexão sobre as possibilidades da Leitura, os Tipos do
Discurso, o sentido do Silêncio, o caráter recalcado da matriz do Sentido são alguns temas que
os pensadores da Análise do Discurso trazem como enriquecimento ao debate sobre o
tratamento do material qualitativo. Pg.213
O texto é o discurso acabado para fins de análise . Todo texto, enquanto corpus é um
objeto completo. É dele que partem possíveis recortes. Enquanto objeto teórico, porém,o texto
é infinitamente inacabado: a análise lhe devolve sua incompletude, acenando para um jogo de
múltiplas possibilidades interpretativas. Pg. 213
Do ponto de vista analítico o texto é o espaço mais adequado para se observar o
fenômeno da linguagem: ele contém a totalidade. Essa totalidade se revela em três dimensões
de argumentação: a) relações de Força: lugares sociais e posição relativa do locutor e do
interlocutor: b) Relação de Sentido: a interligação existente entre este e vários discursos, o
“coro de vozes” que se esconde em seu interior: c) Relação de Antecipação: a experiência
ante-projetada do locutor em relação ao lugar e à reação de seu ouvinte. Pg. 213
[...] o homem como ser histórico é finito e se complementa na comunicação. Mas a
compreensão dessa comunicação é também finita: ocupa um ponto no tempo e no espaço. E
ainda quando podemos ampliar os horizontes da comunicação e da compreensão, nunca
escapamos da história, fazemos parte dela e sofremos os preconceitos de nosso tempo. Pg.
220
O fato de pertencermos a determinado grupo social, a determinado tempo histórico, de
possuirmos determinada formação, faz que a compreensão hermenêutica seja inevitavelmente
condicionada pelo contexto do analista. Por isso [...] a hermenêutica tem que se relacionar com
a retórica e com a práxis. Pg. 221
A pesquisa hermenêutica também analisa os dados da realidade tendo como ponto de
partida a manutenção e a extensão da intersubjetividade de uma intenção possível como
núcleo orientador da ação. A compreensão do sentido orienta-se por um consenso possível
entre o sujeito agente e aquele que busca compreender. Pg.221
Toda interpretação bem-sucedida é acompanhada pela expectativa de que o autor
poderia compartilhar da explicação elaborada se pudesse penetrar também no mundo do
pesquisador. Tanto o sujeito que comunica como aquele que o interpreta são marcados pela
história, pelo seu tempo, pelo seu grupo. Portanto o texto reflete essa relação de forma original
(MINAYO, 2004 pg. 222. apud. Habermas: 1987, 86-97)
“Compreender uma manifestação simbólica significa saber sob que condições sua
pretensão de validade poderia ser aceita” (MINAYO, 2004, pg. 223. apud. Habermas: 1987, 94)
Numa sociedade marcada por relações sociais de produção profundamente desiguais,
a comunicação está sistematicamente perturbada. A linguagem é um índice de alienação que
expressa a dominação dos homens sobre seus semelhantes. Pg. 225
“Nossos conhecimentos são apenas aproximação da plenitude da realidade, e por isso
mesmo são sempre relativos:na medida, entretanto, em que representam a aproximação
efetiva da realidade objetiva, que existe independentemente de nossa consciência, são sempre
absolutos. O caráter ao mesmo tempo absoluto e relativo da consciência forma uma unidade
dialética indivisível” (MINAYO, 2004, pg. 228. apud, Lukács: 1967, 233)
A interpretação, além de superar a dicotomia objetividade versus subjetividade,
exterioridade versus interioridade, análise e síntese, revelará que o produto da pesquisa é um
momento da práxis do pesquisador. Sua obra desvenda os segredos de seus próprios
condicionamentos. Pg. 237
“A práxis do homem não é a atividade prática composta á teoria: é a determinação da
existência humana como elaboração da realidade” (MINAYO, 2004, pg. 247 apud. Kosic: 1969,
202)
As reflexões sobre o processo de validação do conhecimento nos mostram o campo
aberto de debate não só da produção empírica, como da própria concepção da realidade a ser
estudada e do sujeito que conhece: não dá para separar os elementos indivisíveis dessa
construção “prático-espiritual. Pg. 246
NOTA/contribuição: O conteúdo deste livro não deve se restringir apenas nas partes
em destaques de suas páginas. A obra da autora na sua íntegra tem muito mais explicações
sobre a matéria, tais como estudos de casos e as relações com a pesquisa, sobre esta ótica
deve ser bem melhor avaliado. Afinal, a crítica reflexiva tem as suas avaliações individuais
própria do humano que somos. A idéia central deste trabalho está no método como pesquisa e
filosofia do conhecimento que abraça, sem dúvida nenhuma, inúmeras áreas científicas, sendo
assim como se apresenta, é a soma dos olhares dispersos, essas luzes conexas e
indispensáveis para uma visão maior e produtiva da autopoiese.
Referência
Bibliografia
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em
saúde. 8. ed. São Paulo: Hucitec, 2004.
“Não se restringem em espaços oportunos quando o universo não lhes impõe limites.”
NOTA/contribuição: Marisa Viana Pereira

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Pesquisa Qualitativa em Saúde

  • 1. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde.28 de março de 2010 Fazendo uma síntese sobre a questão qualitativa, superior ao positivismo a ás abordagens compreensivistas, a dialética marxista abarca não somente o sistema de relações que constrói o modo de conhecimento exterior ao sujeito, mas também as representações sociais que constituem a vivenciadas relações objetivas pelos atores sociais, que lhe atribuem significados. Frente à problemática da quantidade e da qualidade a dialética assume que a qualidade dos fatos e das relações sociais são suas propriedades inerentes, e que quantidade e qualidade são inseparáveis e interdependentes, ensejando-se assim a dissolução das dicotomias quantitativo/qualitativo, macro/micro, interioridade e exterioridade com que se debatem as diversas correntes sociológicas. Pg.11 Numa oposição frontal ao positivismo, a sociologia compreensiva propõe a subjetividade como fundante do sentido e defende-a como constitutiva do social e inerente ao entendimento objetivo. Essa corrente não se preocupa de quantificar, mas de lograr explicar os meandros das relações sociais consideradas essência e resultado da atividade humana criadora, afetiva e racional, que pode ser apreendida através do cotidiano, da vivência, e da explicação do senso comum. Pg.11 Os critérios de complexidade e de diferenciação lhe permitem trabalhar o caráter de antagonismo, de conflito e de colaboração entre os grupos sociais, e no interior de cada um deles, e pensar suas relações como múltiplas em seus próprios ângulos, intercondicionadas em seu movimento e desenvolvimento interior e interagindo com outros fenômenos ou grupos de fenômenos. Pg. 12 A abordagem dialética porém está pouco desenvolvida, particularmente no que concerne ao ponto de partida das representações sociais. Isso leva a que os estudos substantivos realizados a partir dessa perspectiva sejam um desafio que enfrenta o pesquisador, pois exige dele uma superação dos instrumentos de pesquisa usualmente empregados pelas correntes compreensivistas ou funcionalistas, e a inclusão dos SIGNIFICADOS na totalidade histórico-estrutural. Pg.12 A noção de Metodologia de Pesquisa Social – não fosse as conotações historicamente mediadas do primeiro termo – seria suficiente para qualificar o campo de abordagem das relações sociais, abrangente de seus aspectos estruturais e da visão que os atores sociais projetam dessas relações. Pg. 13 A discussão crítica do conceito de “Metodologia Qualitativas” nos induz a pensá-las não como uma alternativa ideológica ás abordagens quantitativas, mas a aprofundar o caráter do social e as dificuldades de construção do conhecimento que o apreendem de forma parcial e inacabada. As diferentes teorias que abrangem (cada uma delas) aspectos particulares e relegam outros, nos revelam o inevitável imbricamento entre conhecimento e interesse, entre condições históricas e avanço das ciências, entre identidade do pesquisador e seu objeto, e a necessidade indiscutível da crítica interna e externa na objetivação do saber. Pg.12 [...] dentro de uma sociologia de classe que: a) possua instrumentos para perceber o caráter de abrangência das visões dominantes (pois as classes se encontram entre si, no seio de uma sociedade em relação e com problemas de aculturação recíproca); b) perceba também a especificidade dos sistemas culturais e de sub-culturas dominadas em suas relações contraditórias com a dominação; c) defina a origem e a historicidade das classes na estrutura do modo de produção; d) conceba sua realização tanto nos espaços formais da economia e da política como nas matrizes essenciais da cultura como a família, a vizinhança, os grupos etários, os grupos de lazer etc., considerando como espaços inclusivos de conflitos, contradições, subordinação e resistência tanto as unidades de trabalho como o bairro, o sindicato como a casa, a consciência como o sexo, a política como a religião. [...] Pensada assim, cultura não é um lugar subjetivo, ela abrange uma objetividade com a espessura que tem a vida, por onde passa o econômico, o político, o religioso, o simbólico e o imaginário. Ela
  • 2. é o lócus onde se articulam os conflitos e as concessões, as tradições e as mudanças e onde tudo ganha sentido, ou sentidos, uma vez que nunca há apenas um significado. Pg. 15 Alguns grupos sociais e alguns pensadores logram sair do nível de “senso comum” dado pela ideologia dominante, mas, mesmo assim, o seu conhecimento é relativo e nunca ultrapassa os limites das relações sociais de produção concreta que existem na sua sociedade. O pensamento e a consciência são fruto da necessidade, eles não são um ato ou entidade, são um processo que tem como base o próprio processo histórico. Pg.20 [...] fato inconteste de que o objeto das Ciências Sociais é histórico. Significa que as sociedades humanas existem num determinado espaço, num determinado tempo, que os grupos sociais que as constituem são mutáveis e que tudo, instituições, leis, visões de mundo são provisórios, passageiros, estão em constante dinamismo e potencialmente tudo está para ser transformado. Pg.20 [...] característica das Ciências Sociais é a identidade entre o sujeito e o objeto da investigação. Elas investigam seres humanos que, embora sejam muito diferentes por razões culturais, de classe, de faixa etária ou por qualquer outro motivo, têm um substrato comum que os tornam solidariamente imbricados e comprometidos. Pg. 21 Outro aspecto distintivo das Ciências Sociais é o fato de que ela é intrínseca e extrinsecamente ideológica. Ninguém hoje ousaria negar a evidência de que toda ciência é comprometida. Ela veicula interesse e visões de mundo historicamente construídas e se submete a resiste aos limites dados pelos esquemas de dominação vigentes. Pg. 21 “Numa ciência onde o observador é da mesma natureza que o objeto, o observador é, ele mesmo, uma parte de sua observação” Minayo apud. Lévy Strauss pg. 21 O termo Pesquisa Social tem uma carga histórica e, assim como as teorias sociais, reflete posições frente à realidade, momentos do desenvolvimento e da dinâmica social, preocupações e interesses de classes e de grupos determinados. Enquanto prática intelectual reflete também dificuldades e problemas próprios das Ciências Sociais e a sua relativa juventude para delimitar métodos e leis específicas. Pg.23 Do ponto de vista antropológico pode-se dizer que sempre existiu a preocupação do “homo sapiens” com o conhecimento da realidade. As tribos primitivas, através dos mitos, já tentavamexplicar os fenômenos que cercam a vida e a morte, o lugar dos indivíduos na organização social com seus mecanismos de poder, controle, convivência e reprodução do conjunto da existência social. Dentro das dimensões de espaço e tempo , a religião tem sido um dos relevantes fenômenos de explicações ás indagações dos seres humanos sobre os significados da existência individual e grupal. Hoje, as perguntas humanas buscam soluções ainda concomitantemente nos mitos modernos, nas mais diferentes formas religiosas, em sistemas filosóficos e particularmente nas Ciências. Pg. 24 A conclusão inicial é de que a pesquisa enquanto atividade intelectual sofre as limitações e contradições mais amplas do campo científico, dos interesses específicos da sociedade e das “questões consagradas” de cada época histórica. Pg.25 A proliferação de centros de pesquisas sociais tanto nos países industrializados como nos subdesenvolvidos tem a ver com o interesse do poder público de conhecer, regular e controlar a sociedade civil, É óbvio, trata-se de um interesse contraditório e conflitivo frente ao qual a sociedade civil, enquanto aparato de construção de consenso social, faz as suas mediações e também expressa sua autoria e resistência. pg.25 “A pesquisa-ação é um tipo de investigação social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.” (Minayo 2004 pg. 26 apud. Thiollent 1986) [...] podemos dizer que a Pesquisa Social não pode ser definida de forma estática ou estanque. Ela só pode ser conceituada historicamente e entendendo-se todas as contradições e conflitos que permeiam seu caminho. Além disso, ela é mais abrangente do que o âmbito específico de uma disciplina. Pois a realidade se apresenta como uma totalidade que envolve as mais diferentes áreas de conhecimento e também ultrapassa os limites da ciência. Pg.27
  • 3. NOTA: A relação quantitativa que envolve números, estatísticas, pode a critério objetivo, não completar a relevância da subjetividade sobre o universo das significações representativas da natureza qualitativa. Os fundamentos da pesquisa quantitativa nas ciências sociais são os próprios princípios positivistas clássicos segundo os quais: a) o mundo social opera de acordo com leis causais; b) o alicerce da ciência é a observação sensorial; c) a realidade consiste em estruturas e instituições identificáveis enquanto dados brutos por um lado, crenças e valores por outro. Estas duas ordens são correlacionadas para fornecer generalizações e regularidades; d) o que é real são os dados brutos considerados dados objetivos; valores e crenças são realidade s subjetivas que só podem ser compreendidas através dos dados brutos. (Minayo 2004 pg. 30 apud. Hughes: 1983, 42-63) “[...] a experiência que é captada não como predicado de um objeto, mas com fluxo de cuja essência temos consciência em forma de relembranças: atitudes, motivações, valores e significados subjetivos” (Minayo 2004 pg.32 apud. Granger: 1967, 107) Durkheiminsiste, com todo rigor, que a sociedade é um fenômeno moral, na medida em que os modos coletivos de pensar, perceber, sentir e agir incluem elementos de coerção e obrigação, constituindo assim uma consciência coletiva que se expressa na religião, na divisão do trabalho e nas instituições. Pg.43 A sociologia compreensiva de Weber, nos diz que as realidades sociais são construídas nos significados e através deles e só podem ser identificadas na linguagem significativa da interação social. Por isso, a linguagem, as práticas, as coisas e os acontecimentos são inseparáveis. Pg. 51 Weber propõe, para conseguir compreender a realidade social, dois princípios metodológicos: a) a neutralidade de valor e b) a construção do tipo-ideal. Pg. 51 “Não existe uma análise da cultura absolutamente objetiva dos fenômenos sociais, independente dos pontos de vista especiais e parciais, segundo os quais, de forma explícita ou tática, consciente ou subconsciente, aqueles ao selecionados e organizados para propósitos expositivos. Todo conhecimento da realidade cultura, como pode ser visto, é sempre conhecimento a partir de pontos de vista específicos” (Minayo 2004, pg.51 apud. Weber: 1959, 72) Enquanto o materialismo histórico representa o caminho teórico que aponta a dinâmica do real na sociedade, a dialética refere-se ao método de abordagem deste real. Esforça-se para entender o processo histórico em seu dinamismo, provisoriedade e transformação. Busca aprender a prática social empírica dos indivíduos em sociedade (nos grupos e classes sociais), e realizar a crítica das ideologias, isto é, do imbricamento do sujeito e do objeto, ambos históricos e comprometidos com o interesses e as lutas sociais de seu tempo. Como se pode perceber, esses dois princípios estão profundamente vinculados, naquele sentido já advertido (e citado anteriormente) por Lênin: “O método é a própria alma do conteúdo. Pg.65 [...] a transformação de nossas idéias sobre a realidade e a transformação da realidade caminham juntas. Pg.73 [...] à metodologia dialética. Essa opção não é apenas uma postura ideológica. Demo a coloca como a metodologia específica das ciências sociais porque é mais fecunda para analisar os fenômenos históricos. Sua opinião se baseia na observação da realidade social e na adequação e ela da visão dialética que privilegia: a) contradição e o conflito predominando sobre a harmonia e o consenso; b) o fenômeno da transição, da mudança, do vir-a-ser sobre a estabilidade; c) o movimento histórico; d) a totalidade e a unidade dos contrários. (Minayo 2004 pg.86 apud demo 1985: 86 – 100) É dentro da perspectiva assinalada que passamos a discutir elementos que compõem a fase exploratória de uma investigação e todas as etapas subseqüentes. Pg.91
  • 4. CONCEITOS FUNDAMENTAIS NA OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA São eles: teoria, conceito, noção, categoria, hipótese e pressupostos: a) Chamamos Teoria a um conjunto inter-relacionado de princípios e definições que servem para dar organização lógica a aspectos selecionados da realidade empírica. Uma teoria reúne um conjunto de pressupostos e axiomas (uma afirmação cuja verdade é evidente e universalmente aceita em determinada disciplina), proposições logicamente inter-relacionadas e empiricamente verificáveis. As proposições de uma teoria são consideradas leis se já foram suficientemente comprovadas, e hipóteses, se constituem ainda problema de investigação. Na realidade, tanto leis como hipóteses estão sempre sujeitas à problematização e à reformulação. A essência de uma teoria consiste na sua potencialidade de explicar uma gama ampla de fenômenos através de uma esquema conceitual ao mesmo tempo abrangente e sintético. Pg 91 Os conceitos são as unidades de significação que definem a forma e o conteúdo de uma teoria. Pg. 92 Por noção entendemos aqueles elementos de uma teoria que ainda não apresentam clareza suficiente e são usados como “imagens” na explicação do real. Eles expressam também o caminho do pensamento. Ou seja, expressam a relação intrínseca entre a experiência e a construção do conhecimento. Ninguém coloca uma pergunta se nada sabe da resposta, pois então não haveria o que perguntar. Todo saber está baseado em préconhecimento, todo fato e todo dado já são interpretações, são maneiras de construirmos e de selecionarmos a relevância da realidade. Pg. 93 O termo “categoria” possui uma conotação classificatória. Pg.93 Categoria Analíticas: são aquelas que retêm historicamente as relações sociais fundamentais e podem ser consideradas balizas para o conhecimento do objeto nos seus aspectos gerais. Categorias Empíricas: Finalidade operacional [...] construída a partir dos elementos dados pelo grupo social, tem todas as condições de ser colocada no quadro mais amplo de compreensão teórica da realidade, e de, ao mesmo tempo, expressá-la em sua especificidade. Definimos Hipóteses como afirmações provisórias a respeito de determinado fenômeno em estudo. São afirmações para serem testadas empiricamente e depois confirmadas ou rejeitadas. Uma hipótese científica deriva de um sistema teórico e dos resultados de estudos anteriores e portanto fazem parte ou não deduzidas das teorias, mas também podem surgir da observação e da experiência e nesse jogo sempre impreciso e inacabado que relaciona teoria e prática. Pg.95 O próprio termo “hipótese” possui uma conotação positivista que crê na possibilidade do conhecimento objetivo da realidade e nas provas estatísticas-matemáticas como comprovadoras da objetividade. Pg. 95 Costuma-se até a usar o termo Pressupostos para falar de alguns parâmetros básicos que permitem encaminhar a investigação empírica qualitativa, substituindo-se assim o tempo Hipótese com conotações muito formais da abordagem quantitativa. Pg. 95 O princípio geral é de que todos os dados devem ser articulados com a teoria. Pg.96
  • 5. A DEFINIÇÃO DO OBJETO Para o delineamento do objeto, a primeira tarefa a que nos propomos é um trabalho de pesquisa bibliográfica, capaz de projetar luz e permitir uma ordenação ainda imprecisa da realidade empírica. Pg. 97 Primeiro: Bibliográfico – Segundo: abordagem crítica da leitura – Terceiro o material de consulta, tem o caráter disciplinar e operacional pg.98 [...] a definição do Objeto(definição como recorte em todos os seus aspectos e sempre provisória dentro da abordagem dialética que adotamos; b) Justificativa: que descreve os motivos vivenciais e teóricos que impulsionaram a escolha do objeto. Colocando-se aí as principais indagações do pesquisador; c) Marco conceitual teórico-metodológico onde se estabelecem os principais conceitos, categorias e noções com as quais se vai trabalhar, definem-se a hipóteses ou pressupostos da investigação e o “caminho do pensamento” que orientará o trabalho. Pg. 98 CONSTRUÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE PESQUISA Ao nível da pesquisa qualitativa os instrumentos de trabalho de campo são: o roteiro de entrevista, os critérios para observação participante e os itens para discussão de grupos focais. Pg. 99 Instrumento para orientar uma “conversa com finalidade” que é a entrevista, ele deve ser facilitador de abertura, de ampliação e de aprofundamento da comunicação. Dele constam apenas alguns itens que se tornam indispensáveis para o delineamento do objeto, em relação à realidade empírica e devem responder ás seguintes condições: a) cada questão que se levanta, faça para do delineamento do objeto e que todas se encaminhem para lhe da reforma e conteúdo; b) contribua para emergir a visão, os juízos e as relevâncias a respeito dos fatos e das relações que compõem o objeto de ponto de vista dos interlocutores. Pg. 99 O principio básico para elaboração do questionário é o mesmo que adotamos em relação ao roteiro; cada questão tenha como pressuposto o marco teórico desenhado para a construção do objeto. Pg. 100 (anotações ) Observações sobre conversas informais, comportamentos, cerimoniais, festas, instituições, gestos, expressões que digam respeito ao tema da pesquisa. Fala, comportamentos, hábitos, usos, costumes, celebrações e instituições compõem o quadro das representações sociais. Pg. 100 A investigação qualitativa requer como atitudes fundamentais a abertura, a flexibilidade, a capacidade de observação e de interação com o grupo de investigadores e com os atores sociais envolvidos. Seus instrumentos costumam ser facilmente corrigidos e readaptados durante o processo de trabalho de campo, visando ás finalidades da investigação. Pg. 101 Exploração de Campo A exploração do campo contempla as seguintes atividades: a) escolha do espaço da pesquisa; b) escolha do grupo de pesquisa; c) estabelecimento dos critérios de amostragem; d) estabelecimento de estratégia de entrada em campo. Pg. 101 A questão da amostragem em pesquisa qualitativa merece comentários especiais de esclarecimento. Ela envolve problemas de escolha do grupo para a observação e para comunicação direta. A quem entrevistar, a quem observar e o que observar, o que discutir e com quem discutir? Pg. 101 Numa busca qualitativa, preocupamo-nos menos com a generalização e mais com o aprofundamento e abrangência da compreensão seja de um grupo social, de uma organização, de uma instituição, de uma política ou de uma representação. Pg. 102 Critério de amostragem
  • 6. a) Definir claramente o grupo social mais relevante para as entrevistas e para a observação; b) Não se esgotar enquanto não delinear o quadro empírico da pesquisa; c) embora desenhada inicialmente como possibilidade, prever um processo de inclusão progressiva encaminhada pelas descobertas do campo e seu confronto com a teoria; d) prever uma triangulação, Isto é, em lugar de se restringir a apenas uma fonte de dados, multiplicar as tentativas de abordagem. Pg.102 Amostragem qualitativa a) privilegia os sujeitos sociais que detêm os atributos que o investigador pretende conhecer; b) considera-os em número suficiente para permitir uma certa reincidência das informações, porém não despreza informações ímpares cujo potencial explicativo tem que ser levado em conta; c) entende que na sua homogeneidade fundamental relativa aos atributos, o conjunto de informantes possa ser diversificado para possibilitar a apreensão de semelhanças e diferenças; d) esforça-se para que a escolha do lócus e do grupo de observação e informação contenham o conjunto das experiências e expressões que se pretende objetivar com a pesquisa. Pg.102 Muitos atores sociais serão descobertos no decorrer da pesquisa, no efeito de inclusão progressiva na amostragem. Certamente o número de pessoas é menos importante do que a teimosia de enxergar a questão sob vários perspectivas, pontos de vista e de observação. Pg. 103 A questão da validade dessa amostragem está na sua capacidade de objetivar o objeto empiricamente, em todas as suas dimensões. Pg.103 O processo de investigação prevê idas ao campo antes do trabalho mais intensivo, o que permite o fluir da rede de relações possíveis de correções já iniciais dos instrumentos de coleta de dados. Pg.103 A fase Exploratória termina formalmente com a entrada em campo. Na realidade, como temos repetido por diversas vezes, as etapas se interpenetram e o esforço de delinear esse começo de caminho tem sua raiz na teoria e na prática. Pg. 103 A abordagem dialética heurística parte de um quadro conceitual (que tem como premissa a realidade empírica) para levantar o conjunto de determinações e especificidades do real concreto. Pg.104 FASE DE TRABALHO DE CAMPO O trabalho de campo constitui-se numa etapa essencial da pesquisa qualitativa, que a rigor não poderia ser pensada sem ele. Opõem-se aos “surveys” que trazem os sujeitos para o laboratório do pesquisador, mantém com eles uma relação estruturada [...] “A pesquisa de campo, por onde começa toda carreira etnológica, é mãe e ama-de-leite da dúvida, atitude filosófica por excelência. Essa “dúvida antropológica” não consiste apenas em saber que não se sabe nada, mas em expor resolutamente o que se acreditava saber e a própria ignorância, aos insultos e aos desmentidos que infligem a idéias e hábitos muito caros, àqueles que podem contradizê-los no mais alto grau. Ao contrário do que a aparência sugere, é por seu método mais estritamente filosófico que a etnologia se distingue da sociologia” (MINAYO 2004 pg.106. apud. Lévi-Strauss 1975, 220) “Cada vez que o cientista social retorna ás fontes vivas de seu saber, àquilo que nele opera como meio de compreender as formações culturais mais afastadas de si, faz filosofia espontaneamente” (MINAYO 2004 pg. 106. Apud. Lévi-Strauss 1975, 222) As operações mentais decorrentes das atitudes e práticas de interrogação no campo da pesquisa, segundo Lévi-Strauss, ajudam o investigador a confrontar-se com seu objeto diretamente, pois faz assim uma: “Sociologia de carne e osso que mostra os homens
  • 7. engajados no seu próprio dever histórico e instalados em seu espaço geográfico concreto.” (MINAYO 2004 pg. 106, apud. Lévi-Strauss 1975, 212) “Não é a prece ou o dom que importa entender, o que conta é o melanésio de tal ou tal ilha. Contra o teórico, o observador deve ter sempre a última palavra; e contra o observador, o indígena.” (MINAYO 2004 pg. 106, apud. Lévi-Strauss 1975, 211) São componentes do trabalho de campo duas categorias fundamentais que tentaremos abordar mais exaustivamente: a) A entrevista, nome genérico no qual incluiremos diferentes abordagens que podem ser decompostas em: entrevista aberta, entrevista estruturada, entrevista semi-estruturada, entrevista através de grupos focais e história de vida. [...] b) A observação Participante como momento que enfatiza as relações informais do pesquisador no campo. Essa informalidade aparente reveste-se porém de uma série de pressupostos, de cuidados teóricos e práticos que põem fazer avançar ou também prejudica o conhecimento da realidade proposta. A ENTREVISTA Ao lado da observação participante, a entrevista – tomada no sentido amplo de comunicação verbal, e no sentido restrito de colheita de informações sobre determinado tema científico – é a técnica mais usada no processo de trabalho de campo. “Conversa a dois, feita por iniciativa do entrevistador, destinada a fornecer informações pertinentes para um objeto de pesquisa, e entrada (pelo entrevistador) em temas igualmente pertinentes com vistas a este objetivo” (MINAYO 2004 pg. 108, apud. Kahn &Cannell 1962, 52) Mediante a entrevista podem ser obtidos dados de duas naturezas: a) os que se referem a fatos que o pesquisador poderia conseguir através de outras fontes como censos, estatísticas, registros civis, atestados de óbitos etc. [..] b) os que se referem diretamente ao individuo entrevistado, isto é, suas atitudes, valores e opiniões. São informações ao nível mais profundo da realidade que os cientistas sociais costumam denominar “subjetivos”. Só podem ser conseguidos com a contribuição dos atores sociais envolvidos. Segundo forma em que se estrutura a entrevista [...] a) sondagem de opinião, elaborada mediante questionário totalmente estruturado, onde a escolha do informante está condicionada pela multiplicidade de respostas apresentadas pelo entrevistador; b) entrevista semi-estruturada que combina perguntas fechadas (ou estruturadas) e abertas, onde o entrevistado tema possibilidade de discorrer o tema proposto, sem respostas ou condições prefixadas pelo pesquisador; c) entrevista aberta, quando o informante discorre livremente sobre o tema que lhe é proposto; d) entrevista não-diretiva “centrada” ou “entrevista focalizada” onde se aprofunda a conversa sobre determinado tema sem prévio roteiro; e) entrevista projetiva, isto é, centrada em técnicas visuais (quadros, pinturas, fotos) usadas quase sempre para aprofundar informações sobre determinado grupo. (MINAYO 2004 pg. 108, apud. Honnigmann: 1995) a) A palavra como símbolo de comunicação por excelência “A palavra é o modo mais puro e sensível de relação social. [...] Existe uma parte muito importante da comunicação ideológica que não pode ser vinculada a uma esfera ideológica particular: trata-se da comunicação da vida cotidiana. O material privilegiado de comunicação na vida cotidiana é a palavra” (MINAYO 2004 pg. 109, apud. Bakhtin 1986: 36s) “Um sistema de disposições duráveis e transferíveis que integram todas as experiências passadas e funciona a todo momento como matriz de preocupações, apreciações e ações. O „hatitus‟ torna possível o cumprimento de tarefas infinitamente diferenciais, graças ás transferências analógicas de esquemas que permitem resolver os problemas, da mesma forma, graças ás correções incessantes dos resultados obtidos e dialeticamente produzidos por estes resultados”. (MINAYO 2004 pg. 111, apud. Bourdieu: 178 s.) O autor compara o “habitus” com inconsciente:
  • 8. “O inconsciente da história que a história produz, incorporando as estruturas objetivas que ele produz nesta quase natureza que é o „habitus‟.” (MINAYO 2004 pg. 111, apud. Bourdieu: 197, 179) “O indivíduo concretiza sob mil formas possíveis idéias e modos de comportamento implicitamente inerentes ás estruturas ou ás tradições de uma sociedade dada” (MINAYO 2004 pg. 112, apud. Boudieu 1967, 89) Acrescenta, referindo-se á entrevista: “Se um testemunho individual é gravado ou comunicado, isto não quer dizer que se considera tal individuo precioso em si mesmo. Essa entidade adulta e singular é tomada como amostra da continuidade” (MINAYO 2004 pg. 112, apud. Bourdieu 1967, 90) [...] cada ator social se caracteriza por sua participação, no seu tempo histórico, num certo número de grupos sociais, informa sobre uma “sub-cultura” que lhe é específica e tem relações diferenciadas com a cultura dominante. pg. 113 Essa compreensão do individuo como representativo tem portanto que ser completada com as variáveis próprias tanto da especificidade histórica como dos determinantes das relações sociais. E, também, dentro do próprio grupo ou comunidade alvo da pesquisa, com uma diversificação que contemple as hipóteses, pressupostos e variáveis estratégicas previstas para a compreensão do objeto de estudo. Pg 113 b) A interação entre o pesquisador e os atores sociais no campo [...] a entrevista não é simplesmente um trabalho de coleta de dados, mas sempre uma situação de interação na qual as informações dadas pelos sujeitos podem ser profundamente afetadas pela natureza de suas relações com o entrevistador. pg113 O impacto resultante do pertencimento a outra classe, que se concretiza em experiência socioculturais e até conflitantes, é um dado condicionante da pesquisa, junto com todos os outros fatores que acompanham qualquer ruma de suas fases. Pg.115 A realidade social é um lusco-fusco, mundo de sombras e luzes em que os atores revelam e escondem seus segredos grupais. Em lugar do caráter de “passividade” que as teorias reprodutivistas e positivistas, sob pontos de vista diferentes, conferem aos entrevistados, esses autores (integracionistas simbólicos e fenomenologistas) os projetam agindo e reagindo durante todo o processo de contato com o pesquisador. Pg.115 A informação não-estruturada persegue vários objetivos: a) a descrição do caso individual; b) a compreensão das especificidades culturais mais profundas dos grupos; c) a comparabilidade de diversos casos. Pg.122 “Parece impossível compreender a realidade social total, se não se admite que esta superposição de planos submetidos a um determinante mais ou menos flexível, repousa sobre um solo vulcânico, onde se agita o que há de mais espontâneo e inesperado na vida coletiva: as condutas criadoras, as idéias e valores coletivos, os estados mentais e os atos psíquicos coletivos. (MINAYO 2004 pg. 123, apud. Gurvitch 1954,113) DISCUSSÃO DE GRUPO O específico do grupo de discussão são as opiniões, relevâncias e valores dos entrevistados.. Difere por isso da observação que focaliza mais o comportamento e as relações. Tem uma função complementar à observação participante e ás entrevistas individuais.pg. 129 Do ponto de vista operacional, a discussão de grupo (“grupos focais”) se faz em reuniões com um pequeno número informantes (seis a doze). Geralmente tem a presença de um animador que intervém, tentando focalizar e aprofundar a discussão. Pg. 129 Essa estratégia de coleta de dados é geralmente usada para: a) focalizar a pesquisa e formular questões mais precisas; b) complementar informações sobre conhecimentos peculiares a um grupo em relação a crenças, atitudes e percepções; c) desenvolver hipóteses de pesquisa para estudos complementares. Pg. 129
  • 9. Assim a pesquisa qualitativa torna-se importante para; a) compreender os valores culturais e as representações de determinado grupo sobre temas específicos; b) para compreender as relações que se dão entre atores sociais tanto no âmbito das instituições como dos movimentos sociais; c) para avaliação das políticas públicas e sociais tanto do ponto de vista de sua formulação , aplicação técnica, como dos usuários a quem se destina. Pg.134 Para conseguir apreender a totalidade funcional “ a) ter objetivos realmente científicos e conhecer os atores e critérios da etnografia moderna. [...] O segundo ponto do método é colocar-se em boas condições de trabalho e dispor-se a viver no contexto, aberto à realidade do grupo pesquisado. [...] c) O último item do método de observação participante preconizado por Malinowski consiste na aplicação de um certo número de métodos particulares para selecionar, coletar, manipular e estabelecer os dados” (MINAYO 2004 pg. 138, apud.Malinowski 1975, 45) O estoque de conhecimento se forma através de tipificações do mundo do senso comum. Isso permite a identificação de grupos, a estruturação comum de relevância e possibilidade de compreensão de um modo de vida específico de determinado grupo. Pg 196 Os pesquisadores costuram encontrar três grandes obstáculos quando partem para a análise dos dados recolhidos no campo (documentos, entrevistas, biografias, resultados de discussão em grupos focais e resultados de observação)pg.197 Uma análise do material recolhido busca atingir os três objetivos: – Ultrapassagem da incerteza: o que eu percebo na mensagem, estará lá realmente contido? Minha leitura será válida e generalizável? – Enriquecimento da leitura: como ultrapassar o olhar imediato espontâneo e já fecundo em si, para atingir a compreensão de significações, a descoberta de conteúdos e estruturas latentes? – Integração das descobertas que vão além da aparência, num quadro de referência da totalidade social no qual as mensagens se inserem (MINAYO 2004 pg.198 apud. Bardin 1979, 29) Noutras palavras, a análise do material possui três finalidades complementares dentro da proposta de investigação social: a) a primeira é heurística. Isto é, insere-se no contexto de descobertas das pesquisas. Propõe-se a uma atitude de busca a partir do próprio material coletado: b) a segunda é de “administração de provas” Parte de hipóteses provisórias, informaas ou as confirma e levanta outras; c) a terceira é a de ampliar a compreensão de contextos culturais com significações que ultrapassam o nível espontâneo das mensagens. Pg.198 ANALISE DO CONTEÚDO “Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens” (MINAYO 2004 pg. 199 apud Bardin: 1979, 42) Historicamente a Análise de Conteúdo Clássica tem oscilado entre o rigor da suposta objetividade dos números e a fecundidade da subjetividade. A grande importância dessa técnica de função heurística tem sido a de impor um corte entre as intuições e as hipóteses que encaminham para interpretações mais definitivas. Essa tentativa faz parte de um esforço teórico secular. Pg.200 [...] Os critérios fundamentais então exigidos par testificar o rigor científico estão assim resumidos: a) trabalhar com amostras reunidas de maneira sistemática; b) interrogar-se sobre a validade dos procedimentos de coleta e dos resultados; c) trabalhar com codificadores que permitam verificação de fidelidade; d) enfatizar o análise de freqüência como critério de objetividade e cientificidade; e) ter possibilidade de medir a produtividade da análise. Pg. 201 No plano epistemológico confrontam-se duas concepções de comunicação: a) o modelo “instrumental” que defende o seguinte ponto de vista: numa comunicação o mais
  • 10. importante não é o conteúdo manifesto da mensagem (como defendia Berelson) mas o que ela expressa graças ao contexto e ás circunstância em que se dá; b) o modelo “representacional” que dá fundamental importância ao conteúdo lexical do discurso. Isto é, defende a idéia de que através das palavras da mensagem podemos fazer uma boa análise de conteúdo, sem nos atermos ao contexto e ao processo histórico. Pg. 202 Os adeptosdas técnicas qualitativas aprofundam sua argumentação dentro da seguinte linha: a) colocam em cheque a minúcia da análise de freqüência como critério de objetividade e cientificidade; b) tentam ultrapassar o alcance meramente descritivo do conteúdo manifesto da mensagem, para atingir, mediante a inferência, uma interpretação mais profunda. Pg.203 O resumo das tendência históricas da Análise de Conteúdo conduz-nos a uma certeza. Todo o esforço teórico para desenvolvimento de técnicas, visa – ainda que de formas diversas e até contraditórias – a ultrapassar o nível do senso comum e do subjetivismo na interpretação e alcançar uma vigilância crítica frente à comunicação de documentos, textos literários, biografias, entrevistas ou observação. Pg. 203 Para isso análise de conteúdo em termos gerais relaciona estruturas semânticas (significantes) com estruturas sociológicas (significados) dos enunciados. Articula a superfície dos textos descrita e analisada com os fatores que determinam suas características: variáveis psicossociais, contexto cultural, contexto e processo de produção da mensagem. Pg.203 Técnicas de Análise de Conteúdo Na busca de atingir os Significados manifestos e latentes no material qualitativo têm sido desenvolvidas várias técnicas como Analise de Expressão, Análise de Relações, Analise Temática e Análise de Expressão, Análise de Relações, Análise Temática e Análise da Enunciação, Estudando as proposta de cada uma dessa modalidades perceberemos que cada uma enfatiza aspectos a serem observados nos textos dentro de pressupostos específicos. Pg.204 Análise da Expressão Enfatiza a necessidade de conhecer os traços pessoas do autor da fala, sua situação social e os dados culturais que o moldam. Análise das Relações São duas as principais modalidades de análise das relações: a) de co-ocorrências: extrai de um texto as relações entre as partes de uma mensagem e assinala a presença simultânea e a b) estrutural. Pg.204 Análise de co-ocorrências: a) escolha da unidade de registro (essa pode ser uma palavra-chave, por exemplo e a categorização por temas; b) escolha das unidades de contexto de o recorte de texto em fragmentos (pode ser, por exemplo, parágrafos); c) presença ou ausência de Ada unidade de registro em cada unidade de contexto; d) cálculo de coocorrências; e) representação e interpretação de resultados. Pg.204 A utilidade maior da análise de co-ocorrência tem sido no esclarecimento das estruturas da personalidade, na análise das preocupações latentes tanto individuais como coletivas, para análise de estereótipos e de representações sociais. Pg.205 Os estruturalistas buscamo imutável e permanente sob a heterogeneidade aparente. Por trás dessa busca está a noção de sistema. Analisar significará, pois, reencontrar as mesmas engrenagens, quaisquer sejam as formas do mecanismo. A significação, no caso, fica subordinada à estruturação. Pg. 205 O conceito básico da Análise Avaliativa é atitude. Uma atitude seria a predisposição relativamente estável e organizada para reagir sob a forma de opiniões ou de atos em presença de objetos (pessoas, idéias, coisas, acontecimentos) de maneira determinada. Pg.205 Uma atitude seria o núcleo ou matriz que produz e traduz um conjunto de juízo de valor. A análise avaliativa consistiria em encontrar as bases destas atitudes por trás da dispersão das manifestações verbais. É semelhante á analise temática enquanto separa o
  • 11. texto em unidade de significação. Seu objetivo porém é específico: atém-se somente á carga avaliativa das unidades de significação tomadas em conta, em termos de direção e de intensidade dos juízos selecionados (MINAYO 2004 pg. 206 apud. Bordin; 1979; Osgood: 1959) ANÁLISE DA ENUNCIAÇÃO Apóia –se numa concepção de comunicação como processo e não como um dado estático, e do discurso como palavra em ato. A análise da enunciação considera que na produção da palavra elabora-se ao mesmo tempo um sentido e operam-se transformações. Por isso o discurso não é um produto acabado, mas um momento de criação de significados com tudo o que isso comporta de contradições, incoerências e imperfeições. Pg.206 Leva em conta que, nas entrevistas, a produção é ao mesmo tempo espontânea e constrangida pela situação. Portanto a análise da enunciação trabalha com: a) as condições de produção da palavra. Parte do princípio que a estrutura de qualquer comunicação se dá numa triangulação entre o locutor, seu objeto de discurso e o interlocutor. Ao se expressar, o locutor projeta seus conflitos na sua maioria, inconscientes; b) o continente do discurso e suas modalidades. Essa aproximação se dá através de: 1) análise sintática e paralinguistica: estudo das estruturas gramaticais; 2) análise lógica: estudo do arranjo do discurso; 3) análise dos elementos formais atípicos: silêncios, omissões, ilogismos; 4) realce das figuras de retórica. Pg.207 Em termos operacionais a análise da enunciação segue o seguinte roteiro: a) Estabelecimento do Corpus: delimitação do número de entrevistas a serem trabalhadas. A qualidade da análise substitui a quantidade do material. Leva-se em conta a questão central e objetiva da pesquisa para delinear as dimensões do Corpus; b) Preparação do Material: cada texto (entrevista) é uma unidade básica. Começa-se pela transcrição exaustiva de cada peça, deixando-seuma margem (à direita ou a esquerda) para anotações. A transcrição conserva tanto o registro da palavra (significantes) como dos silêncios, risos, repetições, lapsos, sons etc.); c) As Etapas da Análise: na análise de enunciação cada entrevista é submetida a tratamento como uma totalidade organizada e singular. São observados em cada uma os seguintes aspectos: 1) o alinhamento e a dinâmica do discurso para se encontrar a lógica que estrutura cada peça; 2) o estilo; 3) os elementos atípicos e as figuras de retórica. Pg.207 Primeiramente, a partir da observação do encadeamento das proposições faz-se uma análise lógica. Separam-se por barra ou recopiam-setodas as orações observando-se as relações que ressaltam a forma de raciocínio. Em segundo lugar se realiza a análise seqüencial, que se preocupa com a maneira de construção do texto, pondo em evidência o ritmo, a progressão e a ruptura do discurso; O estilo; dentro da análise de enunciação o estilo é m revelador do locutor, de seu contexto e de seus interlocutores, no sentido de que a expressão e o pensamento caminham lado a lado. É importante tê-lo em conta; Os elementos Atípicos e as Figuras de Retórica: na análise da enunciação torna-se fundamental observar: a) as repetições de um mesmo tempo ou de uma mesma palavra dentro de um texto. Essa repetição pode ser indicador da importância do termo, da sua ambivalência, da denegação enquanto tentativa de convencimento de uma idéia, da presença de uma idéia recusada; b) os lapsos podem significar a insistência não-dominável de uma idéia recusada. Segundo a psicanálise, a erupção irracional num contexto da racionalidade significa uma quebra de defesa do locutor; c) os ilogismos, isto é, os emperramentos nos raciocínios demonstrativos. Costumam ser indicativos de uma necessidade de justificação, ou de um juízo em contradição com a situação real; d) os “lugares comuns”. Têm um papel justificador. Podem apelar para a cumplicidade do interlocutor (frases feitas, provérbios culturalmente partilhados). Também, por vezes, têm a função de desviar a atenção do entrevistador e indicar a recusa de aprofundar determinados assuntos; e) os jogos de palavras: os chistes podem indicar descontração mas também a tentativa de distanciamento de uma questão: f) as figuras de
  • 12. retórica. Elas jogam com o sentido das palavras. As mais comuns são: o paradoxo (reunião de duas idéias aparentemente irreconciliáveis); a hipérbole (o aumento ou a diminuição excessiva das coisas); a metonímia (uso da parte pelo todo do abstrato pelo concreto e vice-versa); a metáfora (designa uma coisa por outra. Pg. 207 Em suma, a proposta da Análise de Enunciação é conseguir, através do confronto entre a análise lógica, a análise seqüencial e a análise do estilo e dos elementos atípicos de um texto, a compreensão do significado. A conexão entre os temas abordados e seu processo de produção evidenciariam os conflitos e contradições que permeiam e estruturam o discurso. Pg.208 ANÁLISE TEMÁTICA “O tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura” (MINAYO 2004, pg.208. apud. Bardin: 1979: 105) “Uma unidade de significação complexa de comprimento variável, a sua validade não é de ordem lingüística, mas antes de ordem psicológica. Pode constituir um tema tanto uma afirmação como uma alusão (MINAYO, 2004, pg.209. apud. Unrug: 1974, 19) Operacionalmente a análise temática desdobra-se em três etapas: 1) A pré-Análise – Consiste na escolha dos documentos a serem analisados; na retomada das hipóteses e dos objetivos iniciais da pesquisa, reformulando-as frente ao material coletado; e na elaboração de indicadores que orientem a interpretação final. Pode ser decomposta na seguinte tarefa: Leitura Flutuante; do conjunto das comunicações. Consiste em tomar contato exaustivo com o material deixando-se impregnar pelo seu conteúdo. A dinâmica entre as hipóteses iniciais, as hipóteses emergentes, as teorias relacionadas ao tema tornarão a leitura progressivamente mais sugestiva e capaz de ultrapassar á sensação de caos inicial. Constituição do Corpus: Organização do material de tal forma que possa responder a algumas normas de validade: exaustividade (que contempla todos os aspectos levantados no roteiro); representatividade (que contenha a representação do universo pretendido); homogeneidade (que obedeça a critérios precisos de escolha em termos de temas, técnicas e interlocutores); pertinência (os documentos analisados devem ser adequados ao objetivo do trabalho) Formulação de Hipóteses e Objetivos. Em relação ao material qualitativa, a proposta do primado do quadro de análise sobre as técnicas e controversa. [...] Entendemos que há necessidade de se estabelecer hipóteses iniciais pois a realidade não é evidente: responde a questões que teoricamente lhe são colocadas. Porém esses pressupostos iniciais têm que ser de tal forma flexíveis que permitam hipóteses emergentes a partir de procedimentos exploratórios. 2) Exploração do Material: Consiste essencialmente na operação de codificação. Análise temática tradicional trabalha essa fase primeiro com o recorte do texto em unidades de registro que podem ser uma palavra, uma frase, um tema, um personagem, um acontecimento tal como foi estabelecido na pré-análise. Em segundo lugar, escolhe as regras de contagem, uma vez que tradicionalmente ela constrói índices que permitem alguma forma de quantificação. Em terceiro lugar, ela realiza a classificação e a agregação dos dados, escolhendo as categorias teórica ou empíricas que comandarão a especificação dos temas. 3) Tratamento dos Resultados Obtidos e Interpretação: os resultados brutos são submetidos (tradicionalmente) a operação estatísticas simples (percentagens) ou complexas (análise fatorial) que permitem colocar em relevo as informações obtidas. A partir daí o analista propõe inferências e realiza interpretações previstas no seu quadro teórico ou abre outras pistas em torno de dimensões teóricas sugeridas pela leitura do material.
  • 13. ANÁLISE DO DISCURSO Seu criador é o filósofo francês Michel Pêcheux – década 60 – Escola Francesa de Análise do Discurso Articula três regiões do conhecimento: a) O materialismo Histórico como teoria das formações sociais e suas transformações estando incluída aí a ideologia; b) A Lingüística enquanto teoria dos mecanismos sintáticos e dos processos de enunciação; c) A Teoria do Discurso como teoria da determinação histórica dos processos semânticos. pg. 211 O objetivo básico da Análise do Discurso é realizar uma reflexão geral sobre as condições de produção e apreensão da significação de textos produzidos nos mais diferentes campos: religioso, filosófico, jurídico e sócio-político. Ela visa a compreender o modo de funcionamento, os princípios de organização e as formas de produção social do sentido.pg.211 Seus pressupostos básicos podem se resumir em dois princípios, segundo Pêcheux: 1) O sentido de uma palavra, de uma expressão ou de uma proposição não existe em si mesmo, mas expressa posições ideológicas em jogo no processo sócio-histórico no qual as palavras, as expressões e proposições são produzidas; 2) toda formação discursiva dissimula (pela transparência do sentido que nela se constitui) sua dependência das formações ideológicas. (MINAYO, 2004, pg.211. apud.Pêcheux 1988, 160-162) A definição de Texto, a reflexão sobre as possibilidades da Leitura, os Tipos do Discurso, o sentido do Silêncio, o caráter recalcado da matriz do Sentido são alguns temas que os pensadores da Análise do Discurso trazem como enriquecimento ao debate sobre o tratamento do material qualitativo. Pg.213 O texto é o discurso acabado para fins de análise . Todo texto, enquanto corpus é um objeto completo. É dele que partem possíveis recortes. Enquanto objeto teórico, porém,o texto é infinitamente inacabado: a análise lhe devolve sua incompletude, acenando para um jogo de múltiplas possibilidades interpretativas. Pg. 213 Do ponto de vista analítico o texto é o espaço mais adequado para se observar o fenômeno da linguagem: ele contém a totalidade. Essa totalidade se revela em três dimensões de argumentação: a) relações de Força: lugares sociais e posição relativa do locutor e do interlocutor: b) Relação de Sentido: a interligação existente entre este e vários discursos, o “coro de vozes” que se esconde em seu interior: c) Relação de Antecipação: a experiência ante-projetada do locutor em relação ao lugar e à reação de seu ouvinte. Pg. 213 [...] o homem como ser histórico é finito e se complementa na comunicação. Mas a compreensão dessa comunicação é também finita: ocupa um ponto no tempo e no espaço. E ainda quando podemos ampliar os horizontes da comunicação e da compreensão, nunca escapamos da história, fazemos parte dela e sofremos os preconceitos de nosso tempo. Pg. 220 O fato de pertencermos a determinado grupo social, a determinado tempo histórico, de possuirmos determinada formação, faz que a compreensão hermenêutica seja inevitavelmente condicionada pelo contexto do analista. Por isso [...] a hermenêutica tem que se relacionar com a retórica e com a práxis. Pg. 221 A pesquisa hermenêutica também analisa os dados da realidade tendo como ponto de partida a manutenção e a extensão da intersubjetividade de uma intenção possível como núcleo orientador da ação. A compreensão do sentido orienta-se por um consenso possível entre o sujeito agente e aquele que busca compreender. Pg.221 Toda interpretação bem-sucedida é acompanhada pela expectativa de que o autor poderia compartilhar da explicação elaborada se pudesse penetrar também no mundo do pesquisador. Tanto o sujeito que comunica como aquele que o interpreta são marcados pela
  • 14. história, pelo seu tempo, pelo seu grupo. Portanto o texto reflete essa relação de forma original (MINAYO, 2004 pg. 222. apud. Habermas: 1987, 86-97) “Compreender uma manifestação simbólica significa saber sob que condições sua pretensão de validade poderia ser aceita” (MINAYO, 2004, pg. 223. apud. Habermas: 1987, 94) Numa sociedade marcada por relações sociais de produção profundamente desiguais, a comunicação está sistematicamente perturbada. A linguagem é um índice de alienação que expressa a dominação dos homens sobre seus semelhantes. Pg. 225 “Nossos conhecimentos são apenas aproximação da plenitude da realidade, e por isso mesmo são sempre relativos:na medida, entretanto, em que representam a aproximação efetiva da realidade objetiva, que existe independentemente de nossa consciência, são sempre absolutos. O caráter ao mesmo tempo absoluto e relativo da consciência forma uma unidade dialética indivisível” (MINAYO, 2004, pg. 228. apud, Lukács: 1967, 233) A interpretação, além de superar a dicotomia objetividade versus subjetividade, exterioridade versus interioridade, análise e síntese, revelará que o produto da pesquisa é um momento da práxis do pesquisador. Sua obra desvenda os segredos de seus próprios condicionamentos. Pg. 237 “A práxis do homem não é a atividade prática composta á teoria: é a determinação da existência humana como elaboração da realidade” (MINAYO, 2004, pg. 247 apud. Kosic: 1969, 202) As reflexões sobre o processo de validação do conhecimento nos mostram o campo aberto de debate não só da produção empírica, como da própria concepção da realidade a ser estudada e do sujeito que conhece: não dá para separar os elementos indivisíveis dessa construção “prático-espiritual. Pg. 246 NOTA/contribuição: O conteúdo deste livro não deve se restringir apenas nas partes em destaques de suas páginas. A obra da autora na sua íntegra tem muito mais explicações sobre a matéria, tais como estudos de casos e as relações com a pesquisa, sobre esta ótica deve ser bem melhor avaliado. Afinal, a crítica reflexiva tem as suas avaliações individuais própria do humano que somos. A idéia central deste trabalho está no método como pesquisa e filosofia do conhecimento que abraça, sem dúvida nenhuma, inúmeras áreas científicas, sendo assim como se apresenta, é a soma dos olhares dispersos, essas luzes conexas e indispensáveis para uma visão maior e produtiva da autopoiese. Referência Bibliografia MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8. ed. São Paulo: Hucitec, 2004. “Não se restringem em espaços oportunos quando o universo não lhes impõe limites.” NOTA/contribuição: Marisa Viana Pereira