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COLHIDA NA NARRAÇÃO
         DE
 FRANCISCO LAMEIRA




       POR
A QUINTA DE ESTOI


   Após a morte de Fernando José de Seabra e Neto, ocorrida em 17 de Julho de 1782,
seu filho Francisco José Moreira de Brito de Carvalhal e Vasconcelos, então ajudante
militar da Praça de Faro, herda o morgado do Carvalhal, uma das casas mais nobres e
distintas do Algarve, e entre outros bens as propriedades que seu pai tinha em Estoi.

   O progenitor pede em testamento que se faça na parte norte da casa que está destelhada, uma
capela ou ermida pública dedicada ao Senhor São José.
   Ao prédio herdado, o morgado foi anexando outros por compra, os quais todos uniu ao que
dantes possuía e deles formou uma fazenda. A este prédio se chamou a “Quinta de Estoy”.

  Francisco José Moreira de Brito de Carvalhal e Vasconcelos, não aproveita quase
nada das edificações herdadas de seu pai, tendo mandado fazer uma obra nova a partir
de 1782-1783.

  Desconhece-se a identidade do responsável pela concepção do projecto.

   Na opinião de “Francisco Lameira” é provável tratar-se do arquitecto régio Mateus
Vicente de Oliveira (1706-1785), que projectara algumas décadas antes os planos para o
Palácio de Queluz e que seria então uma obra da fase final deste mestre, na altura com o
estatuto de arquitecto supranumerário das obras dos Paços Reais.

   Também o nome de Manuel Caetano de Sousa, que sucedeu a Mateus Vicente de
Oliveira no cargo, na Casa Real, autor de alguns dos edifícios do Palácio de Queluz e co-
autor do projecto do Palácio da Ajuda é outro provável autor que se deve considerar na
opinião do Professor “Horta Correia”.

  Esta situação é bem possível pelo facto da esposa do morgado Francisco José
Carvalhal e Vasconcelos, D. Rita Ifigénia de Lima Botado, desempenhar as funções de
açafata (camareira) e confidente da rainha D. Maria I e da princesa Carlota Joaquina o
que justificava perfeitamente a cedência dos prováveis autores do projecto por parte da
Casa Real.

  Refira-se o facto de D. Rita Ifigénia ter amamentado alguns infantes por
impossibilidade da rainha, e como testemunho da grande aproximação entre ambas as
famílias, os infantes e mesmo o príncipe terem apadrinhado alguns dos filhos de D. Rita,
nomeadamente os que se baptizaram em Lisboa.
As equiparações formais da Quinta de Estoi com o Palácio de Queluz provam a filiação
artística desta casa senhorial algarvia nos valores cortesãos da época de D. Maria I
seguindo os padrões de Versalhes como no resto das cortes Europeias

  Diversos estudiosos referem essas semelhanças.

   Como afinidades entre as duas obras evidenciam-se a composição do palácio,
propriamente dito, em que o corpo central é mais alto e rasgado por portas – janelas.

   Associados à fachada principal surgem dois outros corpos de edifícios térreos
formando com aquele, uma planta em U.

  Destaque-se o carácter monumental e decorativo das fachadas e dos jardins e o
desenho dos mesmos, acentuando-se um cunho simultaneamente, intimista, lúdico e
cenográfico.

   Em relação à execução, quer das casas nobres, quer dos jardins anexos, o morgado
Carvalhal e Vasconcelos recorreu, seguramente, a profissionais algarvios, atendendo à
proximidade à cidade de Faro, sede do assento episcopal e principal centro urbano
algarvio, onde estavam sedeadas as melhores oficinas.

   Admite-se que o nome do mestre - pedreiro António Moreira possa ter sido um dos
artífices, que em 1780-1781 concluía a frontaria e a torre do lado nascente da igreja da
Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo de faro.

   Para esta Ordem Terceira trabalhavam os melhores mestres algarvios e o morgado
Carvalhal e Vasconcelos, como irmão terceiro, tinha perfeito conhecimento desta
realidade.

    Após a conclusão das casas e dos jardins, quando murava a quinta, começaram os
problemas com o seu vizinho, o reverendo padre Francisco da Costa Pestana e seu
filho o cónego Joaquim Pedro da Costa Maciel., proprietário de um pequeno prédio
designado como “Jardim de Estoi” encravado na designada Quinta de Estoy e através do
qual era canalizada a água vinda da fonte de Estoi que abastecia a Quinta e os seus
Jardins.
Como era o “Jardim” nos finais do século
            XVIII, princípios do XIX:

   O pequeno prédio chamado Jardim apenas se compõe de duas casas térreas de pedra e barro e
um pedaço de terreno aonde há dois lançamentos de figueiras bravas talvez encostadas a uma
                                                                        talvez
parede, sete ou oito laranjeiras velhas, incapazes, delongadas até ao tronco e de tanta produção
que todas elas talvez não chegue a dar um conto de laranjas.

   O terreno é tal que mesmo as árvores não arreigam nem se fazem capazes e pelo contrário
                                                                            pelo
passados tempos murcham e secam de todo.

  No terreno planta-se apenas alguma cebola e couves, tudo em pequenas proporções; tem mais
             planta-
um ou dois marmeleiros.

    A este jardim o Reverendo diz valer 300$000 rés.

   O seu valor é coisa muito insignificante: o Capitão João Freire, do lugar de Estoy, paga de
                             insignificante:
renda anual, ao Reverendo a quantia de 4$000 réis pelo Jardim.




              Por sua vez, a Quinta de Estoi:

•   Constituía uma fazenda com casas magníficas, um jardim correspondente, diferentes
    hortas e terras de semeadura regulando tudo para magnificência e recreio com belas e
             terras
    famosas ruas unindo os prédios com passadiço, óptimos lances de escadas de cantaria, feitas
    as entradas e pórticos das ruas com robustos pilares e pedestais.
O contencioso então havido entre os proprietários de ambos os prédios;

  De uma parte o reverendo padre Francisco da Costa Pestana e o seu filho Joaquim da
Costa Maciel
               (Juiz dos Resíduos e Capelas no Bispado do Algarve e Cónego Prendado e Reitor
da Catedral do Algarve);

   E a da outra o morgado Francisco Carvalhal e Vasconcelos, arrastou-se por vários
anos, tendo os primeiros recorrido ao Desembargo do Paço, contra uma sentença em
que o segundo pretendia usurpar-lhes o prédio designado por Jardim de Estói, sob
pretexto de se achar encravado e contíguo à sua Quinta.




• É neste contexto que o morgado apresenta o mapa que oferece, bem que em ponto pequeno e há
  tempos feitos.




                   Mapa inédito com a representação do palácio de Estói
                                 De 17 de Março de 1800
Mapa existente nos arquivos da Torre do Tombo em Lisboa e cuja cópia pode ser admirada
                             na Junta de Freguesia de Estói




     Como resultado final, o cónego da Sé de Faro, Joaquim Pedro da Costa Maciel, vende
  o Jardim ao capitão João Freire, até então arrendatário do dito prédio, com cláusula deste
  jamais o vender ao Morgado.

    No entanto, o Capitão João Freire, através de escritura de permuta e de troca, acaba
  em 27 de Fevereiro de 1817 por o ceder o prédio ao morgado Francisco Carvalhal e
  Vasconcelos, que deste modo consegue unir as duas propriedades
A família do Coronel Francisco José Moreira de Carvalhal e Vasconcelos e de sua
esposa, D. Rita Ifigénia, vivia na “Casa da Açafata”, (nome proveniente da função que D.
Ifigénia exercia na corte).




                                 Casa da Açafata (camareira)




                                Pormenor da Pedra de Armas
                              Que só, as casas fidalgas possuíam
Edifício "notável" da cidade de Faro, situada na actual Rua de Santo. António, principal
rua de comércio e centro social da cidade, é um edifício setecentista de dois pisos com
beirado saliente e telhados de quatro águas.
   De composição simétrica, o andar nobre apresenta nove janelas de sacada. No
exterior do mesmo merece relevo o brasão da família assim como o enrolamento na
decoração da porta e janela centrais.
   O jardim da casa era conhecido pelo "Jardim da Mouraria" (remanescente do traço
medieval desta parte da cidade).
   Na toponímia, em 1909, ainda subsiste a referência a uma horta da Mouraria (actual
Rua de Santo António, logradouro da Casa das Açafatas). Perto da Mouraria
desenvolviam-se as Alcaçarias (actual Pontinha).


   Decorria o ano de 1808.
   O país sofria a 1ª invasão francesa, e Francisco José Moreira de Carvalhal e
Vasconcelos, foi convidado (juntamente com outros representantes da alta sociedade
farense) para uma recepção ao Governador militar do Algarve, o general Maurim,
destacado para o Algarve pelo general Junot, durante a ocupação napoleónica.

  O jantar realizou-se no quartel-general de Faro.

  O morgado viu-se na obrigação de retribuir, e realizou uma festa na “Quinta de Estoy”
nos jardins do pequeno mas formoso palácio, em cujas salas o governador francês e os
seus oficiais, bem como o corregedor-mor Goguet, foram recebidos

  Poucos meses depois os franceses foram expulsos do Algarve e o morgado Francisco
Carvalhal e Vasconcelos foi suspenso das funções militares que exercia em Faro e
mandado recolher à sua Quinta de Estoi pela resolução tomada em 15 de Junho de 1808,
mantendo-se nela, pelo menos, até Dezembro de 1809.



  Esta ordem não era por ele ser considerado culpado, mas sim para o salvar do Povo  ‘
      ’
furioso que ameaçava assassínios contra todas as pessoas que odiava.

   Acusavam Francisco de Carvalhal e Vasconcelos, não só de manter correspondência
secreta com o corregedor Goguet, mas também de haver favorecido a malograda fuga do
carro da bagagem dos franceses, encontrado ao que parece, numa das suas
propriedades, nos arredores da cidade de Faro.

   Entretanto procedeu-se a um rigoroso inquérito, donde resultou o apuramento da
injustiça das acusações feitas ao coronel Carvalhal.

   Não aconselhava ainda o prelado “D. Francisco Gomes do Avelar”, (como governador
militar e dirigente do Supremo Conselho do Governo da cidade de Faro), o regresso do
coronel Carvalhal a Faro e isto já em Dezembro de 1809.
D. Francisco Gomes do Avelar

           Bispo do Algarve (cujo bispado decorreu) entre 1789 e 1816


Quadro de Joaquim José Rasquinho (1736 - 1822), existente no Museu Municipal de
                                   Faro
Francisco José Moreira do Carvalhal e Vasconcelos e sua esposa, D. Rita Ifigénia,
tiveram cinco filhos:



– Fernando José Moreira de Brito Pereira do Carvalhal e Vasconcelos

– Luís Filipe Pereira do Carvalhal e Vasconcelos

- José Maria Pereira do Carvalhal e Vasconcelos

- Maria da Encarnação Pereira do Carvalhal e Vasconcelos

– Maria Francisca Pereira do Carvalhal e Vasconcelos


   Após a morte do coronel Francisco José Moreira do Carvalhal e Vasconcelos, herda
cargos e bens patrimoniais em morgadio o seu filho primogénito Fernando José Moreira
de Brito Pereira do Carvalhal e Vasconcelos, que continua, então, a construção da
mais significativa manifestação do Barroco no Algarve.

   Quando faleceu, ficou como herdeiro o seu irmão, Luís Filipe, marechal de campo
reformado.




                          Pormenor do brasão de armas
                       (existente por cima da casa do lago)
O último herdeiro, José Maria, o irmão mais novo (solteiro), não tinha sucessores
directos, deixou o usufruto do palácio às irmãs D. Maria da Encarnação e D. Maria
Francisca Pereira de Carvalhal, tendo feito testamento em 1866 e nele estabeleceu que
se vendesse a propriedade por morte da última das irmãs, e o produto dessa venda a ser
distribuído pelos pobres.
   A partir de 1875, ano em que morre a última irmã, o abandono do palacete prolongou-
se por mais dezoito anos.




                                    Jardim de Estoy
                  Fotografia publicada no jornal “O Algarve Ilustrado”
                                  1 - Novembro – 1880
Em1893 – José Francisco da Silva (1840 - 1926), farmacêutico e abastado
proprietário rural de Beja, adquire o palacete pela quantia de 5 446$23,4 réis a José
Martins Caiado, João Pires e Maria do Carmo Mascarenhas.




                               José Francisco da Silva
                                “Visconde de Estoi”
José Francisco da Silva
 “Visconde de Estoi”
Logo que o comprou mandou dar inicio á sua restauração, para sua habitação.

  Nesse ano de 1893 começaram as obras, as quais se prolongaram até 1909, tendo a
sua inauguração motivado grandiosos festejos durante os dias 1, 2 e 3 de Maio

   As despesas efectuadas, primeiro na consolidação das estruturas arquitectónicas e
depois na ornamentação do palacete e dos jardins envolventes, foram tão elevadas
(109,555$85,9 réis) que o rei D. Carlos I, em 1906, agraciou José Francisco da Silva com
o título de Visconde de Estói.

  Em Maio de 1909, as obras no palacete e nos jardins foram inauguradas com grande
aparato e impacto local, recebendo a visita de milhares de pessoas.




                          D. Elvira das Dores Carvalho
                     Natural de Beja – governanta do Palácio
D. CARLOTA SILVA – SOBRINHA DA GOVERNANTA
Descrição Artística


   José Francisco da Silva colocou na direcção dos trabalhos, o arquitecto e decorador
Domingos António da Silva Meira, que se notabilizara na ornamentação de várias salas
do Palácio da Pena, em Sintra e que foi sempre acompanhado pelo novo proprietário, o
qual contratou vários artistas nacionais e estrangeiros e encomendou diversas obras de
arte em Portugal e no estrangeiro, especialmente em Itália.

  O visconde não limitou as suas aquisições a obras contemporâneas, tendo adquirido
boas pinturas do séc. XVII, colocando-as ao lado de naturalismos do séc. XIX ou de arte
sacra dos séculos XVII e XVIII.

  Trabalharam aqui escultores, marmoristas da Galeria Androny, de Pisa, o pintor de
mosaicos genovês Marches Andrea e o pintor de azulejaria Francisco Luís Alves, assim
como José Pedro da Cruz Leiria, autor do belo Presépio e os pintores


Bento Coelho da Silveira, Adolfo Greno, Maria Baretta, José Maria Pereira Júnior,
Domingos Costa, S. Ferreira, entre outros.

   Deste restauro resultou um conjunto de grande valor artístico, destacando-se os
estudos, desenhos, obras de alvenaria, serralharia e cantaria, assim como os bustos que
se encontram na rua central do jardim, obras de artistas nacionais, e duas estátuas para
iluminação, obra dos florentinos Ferdinando Fabri e Figlio.

   Estas estátuas e bustos preenchem não só as balaustradas do palácio como os
diversos patamares, sendo executadas em pedra, terracota e outros materiais.

  Um exemplo da boa qualidade da escultura é a estátua, em mármore branco, de uma
pastora do Piemonte (Itália), da autoria do escultor belga Louis Samain, que a executou
em Roma, em 1866.



   O palácio compreende vinte e três salas e cinco anexos: torre sineira, torre de acesso
às coberturas, depósito de água e duas casas de fresco.

   O palácio é antecedido por três patamares ou socalcos ajardinados, preenchidos com
diversos alojamentos dois Pavilhões de Chá (com frescos no tecto);
A Casa do Presépio (cujo presépio é composto por 58 peças da autoria do barrista
José Pedro da Cruz Leiria, natural de Faro e datado e assinado de 1904/1905);




                                 Uma das imagens

  E a Casa da Cascata.

  Esta simetria é acentuada pelo arruamento principal, o qual se desenvolve a partir de
uma portada monumental.

   As divisões interiores do palácio apresentam formas quadradas e rectangulares,
estando interligadas por corredores estreitos e compridos, embora a maior parte dos
aposentos comuniquem entre si.

   As salas são decoradas ao estilo Luís XV, Renascença e Barroco, salientando-se a
ornamentação interior das seguintes salas de aparato: Capela, Salão Nobre, Sala de
Visitas, Sala de Jantar, Saleta, Vestíbulo ou entrada pelo Jardim do Carrascal, dois
Pavilhões de Chá, Casa do Presépio e Casa da Cascata. Parte do mobiliário e algumas
pinturas de cavalete ou murais são italianos.

   A decoração interior apresenta nos revestimentos um trabalho de estuques que não
deixa distinguir a madeira genuína da artística.
Este tipo de trabalho, utilizado nos tectos e nas paredes, assim como as pinturas
parietais conjugadas com os mesmos, são considerados notáveis, duma maneira geral,
salientando-se os do
Salão Nobre, da autoria dos irmãos Meira (Domingos e António), os quais já se tinham
notabilizado na decoração de outros palácios, especialmente no Palácio da Pena, em
Sintra.

  A tela do tecto e as bandeiras das portas, no estilo Luís XV, são uma obra-prima de
Adolfo Greno e uma tela de crisântemos e atributos de Luís XV é da autoria de José
Maria Pereira Júnior.

  A sala de visitas é, igualmente, Luís XV e apresenta uma tela de Domingos Costa.

  A sala de jantar é renascença, sendo a tela do tecto de José Maria Pereira Júnior e o
mobiliário, italiano.

   Uma saleta apresenta um tecto com requintado trabalho em estuque e uma tela da
pintora napolitana Maria Baretta.

  A capela, do mesmo estilo, é dedicada à Sagrada Família, representada numa pintura
do séc. XVIII do retábulo do altar-mor, a qual se aproxima da estética Luís XV, sendo da
autoria do pintor S. S. Ferreira, discípulo da escola romana ao serviço da Academia de
Belas Artes, de Madrid e datada de 1775.

  No tecto está outra tela, a qual representa a Ascensão, de Francisco Luís Alves.

   O recheio desta capela (com comunicação interna para o palácio, mas com porta para
o exterior) inclui:

    Duas telas do séc. XVII - Nossa Senhora do Carmo e Nascimento de Jesus (esta
última assinada por Bento Coelho da Silveira);

  Um crucifixo de pau-santo com Cristo e ornatos de marfim;

   Uma pequena imagem de Cristo Preso à Coluna, em mármore branco e de S.
Francisco de Assis, em madeira;

   Lustre, lampadário, cruz processional, turíbulo e belos paramentos, constituindo um
valioso conjunto de arte sacra.

   Para ampliar o denominado "Jardim de Estoy", sobrevalorizando os factores
paisagísticos, transformando-o no mais completo jardim romântico nacional, o Visconde
contratou arquitectos e outros artistas plásticos que, durante dezasseis anos trabalharam
na recuperação de toda a propriedade.

  Foi aproveitado o desenho do jardim e a intervenção cingiu-se ao enriquecimento da
decoração e cenografia.
Assim, foi introduzida uma grande quantidade de estatuária, empregando-se diversos
tipos de materiais nas representações iconográficas, nos heróis helénicos, nas virtudes e
alegorias pagãs, nas figuras políticas e da cultura alemã (Kaiser

Guilherme II, Frederico "o Grande", chanceler Bismark, Goethe, Schiller), nos poetas
(Camões, Bocage) e políticos da história portuguesa (Marquês de Pombal, D. Carlos I).

   Ao lado destas representações foram colocados pedestais com vasos, volutas,
pináculos e coruchéus, a rematar muros rebocados de tons, rosa do óxido de ferro nos
paramentos lisos e ocre no reboco tirolês.

  Nas obras de cantaria, alvenarias e serralharias trabalharam artistas e artesãos
portugueses, destacando-se as oficinas de António da Silva Meira, José Maria Pereira
Júnior ou Francisco Luís Alves.

   Por vezes, superfícies de muros do jardim são cobertas por painéis de azulejos, a
imitar os da antiga fábrica do Rato. Ao nível do mobiliário, verifica-se um jogo de bancos
de ferro e mármore, pedestais, floreiras e nichos revestidos por azulejos, nos locais mais
formais.

   Esta fase de reconstrução também recuperou os pavimentos de chá com pintura de
frescos e lambrim de azulejos, com maior decoração no pavilhão dos homens.

  Durante este tratamento decorativo, os pavimentos foram refeitos e na área da cascata
o mosaico do género romano surge não só ao nível do solo mas a cobrir as abóbadas
com desenhos de figuras marinhas, possivelmente inspiradas nos elementos encontrados
nas ruínas de Milreu.

   A quinta usufruiu sempre de uma grande quantidade e qualidade de água, elemento
que, com o clima ameno da zona, possibilitou o desenvolvimento de vegetação
ornamental, especialmente exótica, numa associação de valor botânico e espírito
coleccionista.

   A água impunha-se como um recurso extremamente importante no jardim, tanto como
elemento decorativo como organizador do espaço.

    As transformações efectuadas demonstram uma grande qualidade na construção: as
infra-estruturas apresentam uma rede de drenagem pluvial, ligada ao sistema de águas
que correm para afluentes comuns, as caleiras foram recuperadas e ampliadas,
direccionando a água para todo o lado.

   A água que vinha da grande fonte da vila chegava à quinta e reunia-se nos tanques do
jardim, do lado Nascente da casa, com as águas da nora velha e do poço. Serviam para
regar os pomares e hortas (espaço produtivo a jusante dos espaços de recreio) e encher
as fontes do jardim formal e do carrascal, e as que sobravam juntavam-se no lago
grande.
A sua descarga para a cascata fazia um estrondo abafado sob o solo, escorrendo
pelas empenas de calcário vermelho da região, sendo conduzidas para as caleiras de
rega do grande pomar.

  Todo o sistema de fontes, chafarizes, cascatas, repuxos, caleiras e levadas funcionava
em simultâneo.

   Outra demonstração do requinte posto nestas intervenções foi a introdução de uma
rede de gás carbureto para iluminação de todo o jardim, desde o

Palácio até ao portão principal, no fim da alameda central.

  Embora já existisse um amplo programa relativamente ao recreio, foi-lhe adicionado
um coreto, construção mais ligada a um espaço público urbano do que a um particular.

   Presume-se que todo o sector Sul, incluindo o lago, seria para uso da população,
tendo o papel de parque.

  Juntamente com os elementos arquitectónicos de maiores dimensões encontram-se
uma cavalariça e uma vacaria, edifícios de reforço para a componente produtiva.

   A forte relação casa – jardim - paisagem reflecte uma intensa inspiração nas Villas da
alta renascença italiana, nomeadamente em relação à volumetria da casa, dos espaços
envolventes e, principalmente, no contorno altimétrico que modela a encosta, o qual se
sucede em diversos níveis até à planície coberta de pomares.

    Este é o cenário clássico da casa sobre o jardim, sendo o desenho deste mais
influenciado pelo planeamento racional do jardim francês do que pelas modelações
paisagísticas e naturalizadas do
picturesque inglês, o qual ditava, na altura, os últimos cânones da composição nas
grandes realizações europeias.

  O eixo central organiza o espaço exterior a partir da casa até ao grande portão,
cenário triunfal da entrada principal da quinta, (segundo João Cerejeiro.

  "A arquitectura do jardim e a sua relação com a casa, está mais próxima dos modelos
do barroco nortenho que das quintas de recreio do Alentejo e arredores de Lisboa".

   O eixo não apresenta uma organização do espaço de forma simplificada, pois
atravessa diversos espaços autónomos, em vários níveis, cada um com o seu valor ou
ambiente característico, personificados no grande lago, na cascata ou outro elemento do
jardim e dirigido para uma disposição simétrica, como na casa.


  A linha central inicia-se no Jardim do Carrascal, espaço quadrangular fechado onde se
encontra a entrada principal do edifício, continua pelo jardim do terraço junto à fachada
nobre da casa, estreita-se numa ponte, a qual liga com a parte Sul do jardim, separado
por uma serventia pública.
Depois abre-se no grande largo central e separa-se no nível mais baixo, junto à
cascata, em três direcções.

  Deste ponto, começam alamedas que se dirigem aos pontos extremos do jardim,
sendo rematados por grandes mirantes, similares aos da Quinta das Laranjeiras (Lisboa),
com um valor exclusivamente cenográfico.

   Existe uma associação do traçado clássico e do monumental, com espaços mais
isolados, para ambientes mais íntimos, dando um carácter secreto a cada momento do
percurso.

  O jardim apresenta-se como uma sucessão de acontecimentos ao longo de um eixo, o
qual começa na casa e finaliza no laranjal.

   A Casa da Cascata encontra-se ao fundo do jardim, tendo a aparência dum pequeno
templo clássico, com pórtico e colunas, entre as quais se vê, no cimo, o brasão dos
primeiros proprietários, os morgados de Carvalhal; no seu interior encontra-se uma
cascata com uma escultura que representa as "Três Graças" (Aglaia, Eufrósine e Talia),
as míticas filhas de Zeus, símbolos da alegria do mundo e da primaveril renovação da
Natureza.

  Este trabalho é considerado uma cópia de umas das obras de António Canova (1757-
1822), o maior representante da escultura neoclássica italiana.

    O conjunto encontra-se colocado sobre uma concha com um pedestal de mármore de
Itália.

   Em nichos laterais estão duas esculturas que representam Vénus e Diana, peças de
estatuária esculpidas na Galeria Androny, de Pisa.

  O chão, tectos e outros vãos são revestidos de mosaicos genoveses executados por
Marches Andrea, de painéis de azulejos e de pinturas bucólicas.

  As decorações, repuxos e outros elementos são da autoria do artista algarvio José
Pedro da Cruz Leiria.

  Defronte deste templo encontram-se dois bancos de forma semicircular com assentos
de cantaria e espaldares de azulejos, ornamentados com os bustos do imperador e da
imperatriz da Alemanha e com grandes vasos de tipo manuelino.

   Sobe-se para o segundo pavimento por duas elegantes escadarias, com lanços duplos
e robustas balaustradas até ao segundo patamar.

   Ao centro do terraço abre-se um amplo lago com paredes e balaustrada de cantaria,
estando ao centro um pedestal, assente num penhasco, onde se encontra um conjunto
de estátuas em mármore italiano, duas sereias voltam as costas ao rochedo e, em cima,
estão duas jovens e um cupido.
O acesso a três vãos é efectuado através de três bem trabalhadas portas de ferro, com
vidros coloridos, sendo os vãos recobertos de um delicado estuque árabe e ladeados por
quadros em relevo alusivos ao Nascimento de Cristo, trabalho da equipa do decorador
Meira.

  Destaca-se, no centro, o Presépio e ainda, o busto de Milton.

   Nos dois ângulos do fundo deste espaço rectangular erguem-se frontões com estátuas
alegóricas encostadas a painéis de azulejo, um trabalho em relevo que representa o
"Anoitecer" e o "Amanhecer", coroando estes trabalhos os bustos de Camões, Vasco da
Gama, entre outros.

   Duas escadas de cantaria levam a uma varanda, passadiço sobre uma estrada e,
através dum elegante portão de ferro, entra-se noutro espaço, decorado nos dois ângulos
da frente por pequenos pavilhões de fresco com frontões.

   Num destes existem pinturas de Francisco de Sousa Alves e, no tecto do outro lado,
pinturas com temas paisagísticos da Suíça.

   A decoração, o extenso mobiliário e os novos equipamentos dão uma atmosfera
cortesã de opulência e grandiosidade a este conjunto, situação que se opõe em relação à
discreta aldeia.




   Quando faleceu o Visconde de Estói, em 1926, solteiro, com 86 anos de idade e sem
herdeiros directos, (posteriormente á sua morte veio-se a saber da existência de um filho
ilegítimo), deixou o palacete na posse da sua prima e afilhada, “MARIA DO CARMO
MELO MACHADO”




   TESTAMENTO DO VISCONDE DE ESTOI
(Ainda em vida fez doação do Palácio, a favor da sua afilhada, D. Maria do Carmo Melo,
mulher de António Duarte Machado (seu compadre e grande latifundiário de Beja).

  (Com reserva de uso fruto, a favor de sua prima D. Ana Zeferino, casada com José Brito de
Melo, mãe da herdeira)
             herdeira)

   (Que quer que o seu enterro seja feito modestamente, sendo depositado o seu cadáver no jazigo
que ele testador possue no cemitério de Estoy, não querendo corôas no seu féretro a não ser uma
corôa de flores naturais colhidas no jardim do palácio, de que ele testador já fez doação com
                                                          de
reserva de usufruto, situado na dita freguesia de São Martinho de Estoy)

   (Que quer que o cadáver de sua mãe, que está depositado no jazigo de seu compadre António
Joaquim Duarte Machado, nesta cidade de Beja, seja removido e depositado depois no jazigo dele
                                                   removido
testador em Estoy)




    Jazigo do Visconde de Estói – (existente no cemitério da Aldeia de Estoi)

   (Que devem ser distribuídas e assim o deixa determinado, cincoenta esmolas de dez escudos
cada uma, aos pobres recolhidos e famílias necessitadas da dita freguesia de São Martinho de
Estoy e cem esmolas de cinco escudos cada uma aos pobres da mesma freguesia de I Estoy que
acompanharem o seu enterro sendo todas estas esmolas distribuídas até ao oitavo dia posterior ao
encerramento do seu cadáver no Jazigo.)

   (Que deixa hà Junta de Freguesia de São Martinho de Estoy, Concelho de Fáro, a quantia de
sessenta mil escudos e todas as casas que possue na rua de São José da mesma freguesia, para o
fim da mesma junta mandar construir uma Escola de Ensino Primário Geral, para ambos os
sexos, legando ainda à mesma Junta todos os mapas e quaisquer livros ou objectos com carácter
ditactico (sic), aplicáveis ao ensino que deve ser ministrado na mesma escola)




                           ALGUMAS IMAGENS DO PALÁCIO
                               E DE ESTOI (à época)
Meninas da catequese de Estoi
Após a morte de D. Maria do Carmo Melo Machado foi herdeira a filha, D. Maria da
Luz Melo Machado, mulher de António Bicker Correia da Costa)


  Contudo, os familiares mantiveram a propriedade, especialmente os jardins, em
condições de subaproveitamento, tendo a falta de manutenção deste espaço sido fatal
para inúmeras espécies botânicas, designadamente ornamentais, pois privilegiaram,
sobretudo, a área produtiva da quinta.


  1987 - A propriedade é adquirida pela Câmara Municipal por 130 000 contos;




            Faro, salão nobre da Câmara Municipal, Dezembro de 1987
  Assinatura do protocolo da aquisição, para o município, do palácio e jardins do
                                Visconde de Estoi.
                   Na fotografia o presidente João Negrão Belo
                                         E
                  D. Maria da Luz Melo Machado Bicker da Costa

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16 a históra do palácio de estoi - por carlos las heras

  • 1. COLHIDA NA NARRAÇÃO DE FRANCISCO LAMEIRA POR
  • 2. A QUINTA DE ESTOI Após a morte de Fernando José de Seabra e Neto, ocorrida em 17 de Julho de 1782, seu filho Francisco José Moreira de Brito de Carvalhal e Vasconcelos, então ajudante militar da Praça de Faro, herda o morgado do Carvalhal, uma das casas mais nobres e distintas do Algarve, e entre outros bens as propriedades que seu pai tinha em Estoi. O progenitor pede em testamento que se faça na parte norte da casa que está destelhada, uma capela ou ermida pública dedicada ao Senhor São José. Ao prédio herdado, o morgado foi anexando outros por compra, os quais todos uniu ao que dantes possuía e deles formou uma fazenda. A este prédio se chamou a “Quinta de Estoy”. Francisco José Moreira de Brito de Carvalhal e Vasconcelos, não aproveita quase nada das edificações herdadas de seu pai, tendo mandado fazer uma obra nova a partir de 1782-1783. Desconhece-se a identidade do responsável pela concepção do projecto. Na opinião de “Francisco Lameira” é provável tratar-se do arquitecto régio Mateus Vicente de Oliveira (1706-1785), que projectara algumas décadas antes os planos para o Palácio de Queluz e que seria então uma obra da fase final deste mestre, na altura com o estatuto de arquitecto supranumerário das obras dos Paços Reais. Também o nome de Manuel Caetano de Sousa, que sucedeu a Mateus Vicente de Oliveira no cargo, na Casa Real, autor de alguns dos edifícios do Palácio de Queluz e co- autor do projecto do Palácio da Ajuda é outro provável autor que se deve considerar na opinião do Professor “Horta Correia”. Esta situação é bem possível pelo facto da esposa do morgado Francisco José Carvalhal e Vasconcelos, D. Rita Ifigénia de Lima Botado, desempenhar as funções de açafata (camareira) e confidente da rainha D. Maria I e da princesa Carlota Joaquina o que justificava perfeitamente a cedência dos prováveis autores do projecto por parte da Casa Real. Refira-se o facto de D. Rita Ifigénia ter amamentado alguns infantes por impossibilidade da rainha, e como testemunho da grande aproximação entre ambas as famílias, os infantes e mesmo o príncipe terem apadrinhado alguns dos filhos de D. Rita, nomeadamente os que se baptizaram em Lisboa.
  • 3. As equiparações formais da Quinta de Estoi com o Palácio de Queluz provam a filiação artística desta casa senhorial algarvia nos valores cortesãos da época de D. Maria I seguindo os padrões de Versalhes como no resto das cortes Europeias Diversos estudiosos referem essas semelhanças. Como afinidades entre as duas obras evidenciam-se a composição do palácio, propriamente dito, em que o corpo central é mais alto e rasgado por portas – janelas. Associados à fachada principal surgem dois outros corpos de edifícios térreos formando com aquele, uma planta em U. Destaque-se o carácter monumental e decorativo das fachadas e dos jardins e o desenho dos mesmos, acentuando-se um cunho simultaneamente, intimista, lúdico e cenográfico. Em relação à execução, quer das casas nobres, quer dos jardins anexos, o morgado Carvalhal e Vasconcelos recorreu, seguramente, a profissionais algarvios, atendendo à proximidade à cidade de Faro, sede do assento episcopal e principal centro urbano algarvio, onde estavam sedeadas as melhores oficinas. Admite-se que o nome do mestre - pedreiro António Moreira possa ter sido um dos artífices, que em 1780-1781 concluía a frontaria e a torre do lado nascente da igreja da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo de faro. Para esta Ordem Terceira trabalhavam os melhores mestres algarvios e o morgado Carvalhal e Vasconcelos, como irmão terceiro, tinha perfeito conhecimento desta realidade. Após a conclusão das casas e dos jardins, quando murava a quinta, começaram os problemas com o seu vizinho, o reverendo padre Francisco da Costa Pestana e seu filho o cónego Joaquim Pedro da Costa Maciel., proprietário de um pequeno prédio designado como “Jardim de Estoi” encravado na designada Quinta de Estoy e através do qual era canalizada a água vinda da fonte de Estoi que abastecia a Quinta e os seus Jardins.
  • 4. Como era o “Jardim” nos finais do século XVIII, princípios do XIX: O pequeno prédio chamado Jardim apenas se compõe de duas casas térreas de pedra e barro e um pedaço de terreno aonde há dois lançamentos de figueiras bravas talvez encostadas a uma talvez parede, sete ou oito laranjeiras velhas, incapazes, delongadas até ao tronco e de tanta produção que todas elas talvez não chegue a dar um conto de laranjas. O terreno é tal que mesmo as árvores não arreigam nem se fazem capazes e pelo contrário pelo passados tempos murcham e secam de todo. No terreno planta-se apenas alguma cebola e couves, tudo em pequenas proporções; tem mais planta- um ou dois marmeleiros. A este jardim o Reverendo diz valer 300$000 rés. O seu valor é coisa muito insignificante: o Capitão João Freire, do lugar de Estoy, paga de insignificante: renda anual, ao Reverendo a quantia de 4$000 réis pelo Jardim. Por sua vez, a Quinta de Estoi: • Constituía uma fazenda com casas magníficas, um jardim correspondente, diferentes hortas e terras de semeadura regulando tudo para magnificência e recreio com belas e terras famosas ruas unindo os prédios com passadiço, óptimos lances de escadas de cantaria, feitas as entradas e pórticos das ruas com robustos pilares e pedestais.
  • 5. O contencioso então havido entre os proprietários de ambos os prédios; De uma parte o reverendo padre Francisco da Costa Pestana e o seu filho Joaquim da Costa Maciel (Juiz dos Resíduos e Capelas no Bispado do Algarve e Cónego Prendado e Reitor da Catedral do Algarve); E a da outra o morgado Francisco Carvalhal e Vasconcelos, arrastou-se por vários anos, tendo os primeiros recorrido ao Desembargo do Paço, contra uma sentença em que o segundo pretendia usurpar-lhes o prédio designado por Jardim de Estói, sob pretexto de se achar encravado e contíguo à sua Quinta. • É neste contexto que o morgado apresenta o mapa que oferece, bem que em ponto pequeno e há tempos feitos. Mapa inédito com a representação do palácio de Estói De 17 de Março de 1800
  • 6. Mapa existente nos arquivos da Torre do Tombo em Lisboa e cuja cópia pode ser admirada na Junta de Freguesia de Estói Como resultado final, o cónego da Sé de Faro, Joaquim Pedro da Costa Maciel, vende o Jardim ao capitão João Freire, até então arrendatário do dito prédio, com cláusula deste jamais o vender ao Morgado. No entanto, o Capitão João Freire, através de escritura de permuta e de troca, acaba em 27 de Fevereiro de 1817 por o ceder o prédio ao morgado Francisco Carvalhal e Vasconcelos, que deste modo consegue unir as duas propriedades
  • 7. A família do Coronel Francisco José Moreira de Carvalhal e Vasconcelos e de sua esposa, D. Rita Ifigénia, vivia na “Casa da Açafata”, (nome proveniente da função que D. Ifigénia exercia na corte). Casa da Açafata (camareira) Pormenor da Pedra de Armas Que só, as casas fidalgas possuíam
  • 8. Edifício "notável" da cidade de Faro, situada na actual Rua de Santo. António, principal rua de comércio e centro social da cidade, é um edifício setecentista de dois pisos com beirado saliente e telhados de quatro águas. De composição simétrica, o andar nobre apresenta nove janelas de sacada. No exterior do mesmo merece relevo o brasão da família assim como o enrolamento na decoração da porta e janela centrais. O jardim da casa era conhecido pelo "Jardim da Mouraria" (remanescente do traço medieval desta parte da cidade). Na toponímia, em 1909, ainda subsiste a referência a uma horta da Mouraria (actual Rua de Santo António, logradouro da Casa das Açafatas). Perto da Mouraria desenvolviam-se as Alcaçarias (actual Pontinha). Decorria o ano de 1808. O país sofria a 1ª invasão francesa, e Francisco José Moreira de Carvalhal e Vasconcelos, foi convidado (juntamente com outros representantes da alta sociedade farense) para uma recepção ao Governador militar do Algarve, o general Maurim, destacado para o Algarve pelo general Junot, durante a ocupação napoleónica. O jantar realizou-se no quartel-general de Faro. O morgado viu-se na obrigação de retribuir, e realizou uma festa na “Quinta de Estoy” nos jardins do pequeno mas formoso palácio, em cujas salas o governador francês e os seus oficiais, bem como o corregedor-mor Goguet, foram recebidos Poucos meses depois os franceses foram expulsos do Algarve e o morgado Francisco Carvalhal e Vasconcelos foi suspenso das funções militares que exercia em Faro e mandado recolher à sua Quinta de Estoi pela resolução tomada em 15 de Junho de 1808, mantendo-se nela, pelo menos, até Dezembro de 1809. Esta ordem não era por ele ser considerado culpado, mas sim para o salvar do Povo ‘ ’ furioso que ameaçava assassínios contra todas as pessoas que odiava. Acusavam Francisco de Carvalhal e Vasconcelos, não só de manter correspondência secreta com o corregedor Goguet, mas também de haver favorecido a malograda fuga do carro da bagagem dos franceses, encontrado ao que parece, numa das suas propriedades, nos arredores da cidade de Faro. Entretanto procedeu-se a um rigoroso inquérito, donde resultou o apuramento da injustiça das acusações feitas ao coronel Carvalhal. Não aconselhava ainda o prelado “D. Francisco Gomes do Avelar”, (como governador militar e dirigente do Supremo Conselho do Governo da cidade de Faro), o regresso do coronel Carvalhal a Faro e isto já em Dezembro de 1809.
  • 9. D. Francisco Gomes do Avelar Bispo do Algarve (cujo bispado decorreu) entre 1789 e 1816 Quadro de Joaquim José Rasquinho (1736 - 1822), existente no Museu Municipal de Faro
  • 10. Francisco José Moreira do Carvalhal e Vasconcelos e sua esposa, D. Rita Ifigénia, tiveram cinco filhos: – Fernando José Moreira de Brito Pereira do Carvalhal e Vasconcelos – Luís Filipe Pereira do Carvalhal e Vasconcelos - José Maria Pereira do Carvalhal e Vasconcelos - Maria da Encarnação Pereira do Carvalhal e Vasconcelos – Maria Francisca Pereira do Carvalhal e Vasconcelos Após a morte do coronel Francisco José Moreira do Carvalhal e Vasconcelos, herda cargos e bens patrimoniais em morgadio o seu filho primogénito Fernando José Moreira de Brito Pereira do Carvalhal e Vasconcelos, que continua, então, a construção da mais significativa manifestação do Barroco no Algarve. Quando faleceu, ficou como herdeiro o seu irmão, Luís Filipe, marechal de campo reformado. Pormenor do brasão de armas (existente por cima da casa do lago)
  • 11. O último herdeiro, José Maria, o irmão mais novo (solteiro), não tinha sucessores directos, deixou o usufruto do palácio às irmãs D. Maria da Encarnação e D. Maria Francisca Pereira de Carvalhal, tendo feito testamento em 1866 e nele estabeleceu que se vendesse a propriedade por morte da última das irmãs, e o produto dessa venda a ser distribuído pelos pobres. A partir de 1875, ano em que morre a última irmã, o abandono do palacete prolongou- se por mais dezoito anos. Jardim de Estoy Fotografia publicada no jornal “O Algarve Ilustrado” 1 - Novembro – 1880
  • 12. Em1893 – José Francisco da Silva (1840 - 1926), farmacêutico e abastado proprietário rural de Beja, adquire o palacete pela quantia de 5 446$23,4 réis a José Martins Caiado, João Pires e Maria do Carmo Mascarenhas. José Francisco da Silva “Visconde de Estoi”
  • 13. José Francisco da Silva “Visconde de Estoi”
  • 14.
  • 15. Logo que o comprou mandou dar inicio á sua restauração, para sua habitação. Nesse ano de 1893 começaram as obras, as quais se prolongaram até 1909, tendo a sua inauguração motivado grandiosos festejos durante os dias 1, 2 e 3 de Maio As despesas efectuadas, primeiro na consolidação das estruturas arquitectónicas e depois na ornamentação do palacete e dos jardins envolventes, foram tão elevadas (109,555$85,9 réis) que o rei D. Carlos I, em 1906, agraciou José Francisco da Silva com o título de Visconde de Estói. Em Maio de 1909, as obras no palacete e nos jardins foram inauguradas com grande aparato e impacto local, recebendo a visita de milhares de pessoas. D. Elvira das Dores Carvalho Natural de Beja – governanta do Palácio
  • 16. D. CARLOTA SILVA – SOBRINHA DA GOVERNANTA
  • 17.
  • 18. Descrição Artística José Francisco da Silva colocou na direcção dos trabalhos, o arquitecto e decorador Domingos António da Silva Meira, que se notabilizara na ornamentação de várias salas do Palácio da Pena, em Sintra e que foi sempre acompanhado pelo novo proprietário, o qual contratou vários artistas nacionais e estrangeiros e encomendou diversas obras de arte em Portugal e no estrangeiro, especialmente em Itália. O visconde não limitou as suas aquisições a obras contemporâneas, tendo adquirido boas pinturas do séc. XVII, colocando-as ao lado de naturalismos do séc. XIX ou de arte sacra dos séculos XVII e XVIII. Trabalharam aqui escultores, marmoristas da Galeria Androny, de Pisa, o pintor de mosaicos genovês Marches Andrea e o pintor de azulejaria Francisco Luís Alves, assim como José Pedro da Cruz Leiria, autor do belo Presépio e os pintores Bento Coelho da Silveira, Adolfo Greno, Maria Baretta, José Maria Pereira Júnior, Domingos Costa, S. Ferreira, entre outros. Deste restauro resultou um conjunto de grande valor artístico, destacando-se os estudos, desenhos, obras de alvenaria, serralharia e cantaria, assim como os bustos que se encontram na rua central do jardim, obras de artistas nacionais, e duas estátuas para iluminação, obra dos florentinos Ferdinando Fabri e Figlio. Estas estátuas e bustos preenchem não só as balaustradas do palácio como os diversos patamares, sendo executadas em pedra, terracota e outros materiais. Um exemplo da boa qualidade da escultura é a estátua, em mármore branco, de uma pastora do Piemonte (Itália), da autoria do escultor belga Louis Samain, que a executou em Roma, em 1866. O palácio compreende vinte e três salas e cinco anexos: torre sineira, torre de acesso às coberturas, depósito de água e duas casas de fresco. O palácio é antecedido por três patamares ou socalcos ajardinados, preenchidos com diversos alojamentos dois Pavilhões de Chá (com frescos no tecto);
  • 19. A Casa do Presépio (cujo presépio é composto por 58 peças da autoria do barrista José Pedro da Cruz Leiria, natural de Faro e datado e assinado de 1904/1905); Uma das imagens E a Casa da Cascata. Esta simetria é acentuada pelo arruamento principal, o qual se desenvolve a partir de uma portada monumental. As divisões interiores do palácio apresentam formas quadradas e rectangulares, estando interligadas por corredores estreitos e compridos, embora a maior parte dos aposentos comuniquem entre si. As salas são decoradas ao estilo Luís XV, Renascença e Barroco, salientando-se a ornamentação interior das seguintes salas de aparato: Capela, Salão Nobre, Sala de Visitas, Sala de Jantar, Saleta, Vestíbulo ou entrada pelo Jardim do Carrascal, dois Pavilhões de Chá, Casa do Presépio e Casa da Cascata. Parte do mobiliário e algumas pinturas de cavalete ou murais são italianos. A decoração interior apresenta nos revestimentos um trabalho de estuques que não deixa distinguir a madeira genuína da artística.
  • 20. Este tipo de trabalho, utilizado nos tectos e nas paredes, assim como as pinturas parietais conjugadas com os mesmos, são considerados notáveis, duma maneira geral, salientando-se os do Salão Nobre, da autoria dos irmãos Meira (Domingos e António), os quais já se tinham notabilizado na decoração de outros palácios, especialmente no Palácio da Pena, em Sintra. A tela do tecto e as bandeiras das portas, no estilo Luís XV, são uma obra-prima de Adolfo Greno e uma tela de crisântemos e atributos de Luís XV é da autoria de José Maria Pereira Júnior. A sala de visitas é, igualmente, Luís XV e apresenta uma tela de Domingos Costa. A sala de jantar é renascença, sendo a tela do tecto de José Maria Pereira Júnior e o mobiliário, italiano. Uma saleta apresenta um tecto com requintado trabalho em estuque e uma tela da pintora napolitana Maria Baretta. A capela, do mesmo estilo, é dedicada à Sagrada Família, representada numa pintura do séc. XVIII do retábulo do altar-mor, a qual se aproxima da estética Luís XV, sendo da autoria do pintor S. S. Ferreira, discípulo da escola romana ao serviço da Academia de Belas Artes, de Madrid e datada de 1775. No tecto está outra tela, a qual representa a Ascensão, de Francisco Luís Alves. O recheio desta capela (com comunicação interna para o palácio, mas com porta para o exterior) inclui: Duas telas do séc. XVII - Nossa Senhora do Carmo e Nascimento de Jesus (esta última assinada por Bento Coelho da Silveira); Um crucifixo de pau-santo com Cristo e ornatos de marfim; Uma pequena imagem de Cristo Preso à Coluna, em mármore branco e de S. Francisco de Assis, em madeira; Lustre, lampadário, cruz processional, turíbulo e belos paramentos, constituindo um valioso conjunto de arte sacra. Para ampliar o denominado "Jardim de Estoy", sobrevalorizando os factores paisagísticos, transformando-o no mais completo jardim romântico nacional, o Visconde contratou arquitectos e outros artistas plásticos que, durante dezasseis anos trabalharam na recuperação de toda a propriedade. Foi aproveitado o desenho do jardim e a intervenção cingiu-se ao enriquecimento da decoração e cenografia.
  • 21. Assim, foi introduzida uma grande quantidade de estatuária, empregando-se diversos tipos de materiais nas representações iconográficas, nos heróis helénicos, nas virtudes e alegorias pagãs, nas figuras políticas e da cultura alemã (Kaiser Guilherme II, Frederico "o Grande", chanceler Bismark, Goethe, Schiller), nos poetas (Camões, Bocage) e políticos da história portuguesa (Marquês de Pombal, D. Carlos I). Ao lado destas representações foram colocados pedestais com vasos, volutas, pináculos e coruchéus, a rematar muros rebocados de tons, rosa do óxido de ferro nos paramentos lisos e ocre no reboco tirolês. Nas obras de cantaria, alvenarias e serralharias trabalharam artistas e artesãos portugueses, destacando-se as oficinas de António da Silva Meira, José Maria Pereira Júnior ou Francisco Luís Alves. Por vezes, superfícies de muros do jardim são cobertas por painéis de azulejos, a imitar os da antiga fábrica do Rato. Ao nível do mobiliário, verifica-se um jogo de bancos de ferro e mármore, pedestais, floreiras e nichos revestidos por azulejos, nos locais mais formais. Esta fase de reconstrução também recuperou os pavimentos de chá com pintura de frescos e lambrim de azulejos, com maior decoração no pavilhão dos homens. Durante este tratamento decorativo, os pavimentos foram refeitos e na área da cascata o mosaico do género romano surge não só ao nível do solo mas a cobrir as abóbadas com desenhos de figuras marinhas, possivelmente inspiradas nos elementos encontrados nas ruínas de Milreu. A quinta usufruiu sempre de uma grande quantidade e qualidade de água, elemento que, com o clima ameno da zona, possibilitou o desenvolvimento de vegetação ornamental, especialmente exótica, numa associação de valor botânico e espírito coleccionista. A água impunha-se como um recurso extremamente importante no jardim, tanto como elemento decorativo como organizador do espaço. As transformações efectuadas demonstram uma grande qualidade na construção: as infra-estruturas apresentam uma rede de drenagem pluvial, ligada ao sistema de águas que correm para afluentes comuns, as caleiras foram recuperadas e ampliadas, direccionando a água para todo o lado. A água que vinha da grande fonte da vila chegava à quinta e reunia-se nos tanques do jardim, do lado Nascente da casa, com as águas da nora velha e do poço. Serviam para regar os pomares e hortas (espaço produtivo a jusante dos espaços de recreio) e encher as fontes do jardim formal e do carrascal, e as que sobravam juntavam-se no lago grande.
  • 22. A sua descarga para a cascata fazia um estrondo abafado sob o solo, escorrendo pelas empenas de calcário vermelho da região, sendo conduzidas para as caleiras de rega do grande pomar. Todo o sistema de fontes, chafarizes, cascatas, repuxos, caleiras e levadas funcionava em simultâneo. Outra demonstração do requinte posto nestas intervenções foi a introdução de uma rede de gás carbureto para iluminação de todo o jardim, desde o Palácio até ao portão principal, no fim da alameda central. Embora já existisse um amplo programa relativamente ao recreio, foi-lhe adicionado um coreto, construção mais ligada a um espaço público urbano do que a um particular. Presume-se que todo o sector Sul, incluindo o lago, seria para uso da população, tendo o papel de parque. Juntamente com os elementos arquitectónicos de maiores dimensões encontram-se uma cavalariça e uma vacaria, edifícios de reforço para a componente produtiva. A forte relação casa – jardim - paisagem reflecte uma intensa inspiração nas Villas da alta renascença italiana, nomeadamente em relação à volumetria da casa, dos espaços envolventes e, principalmente, no contorno altimétrico que modela a encosta, o qual se sucede em diversos níveis até à planície coberta de pomares. Este é o cenário clássico da casa sobre o jardim, sendo o desenho deste mais influenciado pelo planeamento racional do jardim francês do que pelas modelações paisagísticas e naturalizadas do picturesque inglês, o qual ditava, na altura, os últimos cânones da composição nas grandes realizações europeias. O eixo central organiza o espaço exterior a partir da casa até ao grande portão, cenário triunfal da entrada principal da quinta, (segundo João Cerejeiro. "A arquitectura do jardim e a sua relação com a casa, está mais próxima dos modelos do barroco nortenho que das quintas de recreio do Alentejo e arredores de Lisboa". O eixo não apresenta uma organização do espaço de forma simplificada, pois atravessa diversos espaços autónomos, em vários níveis, cada um com o seu valor ou ambiente característico, personificados no grande lago, na cascata ou outro elemento do jardim e dirigido para uma disposição simétrica, como na casa. A linha central inicia-se no Jardim do Carrascal, espaço quadrangular fechado onde se encontra a entrada principal do edifício, continua pelo jardim do terraço junto à fachada nobre da casa, estreita-se numa ponte, a qual liga com a parte Sul do jardim, separado por uma serventia pública.
  • 23. Depois abre-se no grande largo central e separa-se no nível mais baixo, junto à cascata, em três direcções. Deste ponto, começam alamedas que se dirigem aos pontos extremos do jardim, sendo rematados por grandes mirantes, similares aos da Quinta das Laranjeiras (Lisboa), com um valor exclusivamente cenográfico. Existe uma associação do traçado clássico e do monumental, com espaços mais isolados, para ambientes mais íntimos, dando um carácter secreto a cada momento do percurso. O jardim apresenta-se como uma sucessão de acontecimentos ao longo de um eixo, o qual começa na casa e finaliza no laranjal. A Casa da Cascata encontra-se ao fundo do jardim, tendo a aparência dum pequeno templo clássico, com pórtico e colunas, entre as quais se vê, no cimo, o brasão dos primeiros proprietários, os morgados de Carvalhal; no seu interior encontra-se uma cascata com uma escultura que representa as "Três Graças" (Aglaia, Eufrósine e Talia), as míticas filhas de Zeus, símbolos da alegria do mundo e da primaveril renovação da Natureza. Este trabalho é considerado uma cópia de umas das obras de António Canova (1757- 1822), o maior representante da escultura neoclássica italiana. O conjunto encontra-se colocado sobre uma concha com um pedestal de mármore de Itália. Em nichos laterais estão duas esculturas que representam Vénus e Diana, peças de estatuária esculpidas na Galeria Androny, de Pisa. O chão, tectos e outros vãos são revestidos de mosaicos genoveses executados por Marches Andrea, de painéis de azulejos e de pinturas bucólicas. As decorações, repuxos e outros elementos são da autoria do artista algarvio José Pedro da Cruz Leiria. Defronte deste templo encontram-se dois bancos de forma semicircular com assentos de cantaria e espaldares de azulejos, ornamentados com os bustos do imperador e da imperatriz da Alemanha e com grandes vasos de tipo manuelino. Sobe-se para o segundo pavimento por duas elegantes escadarias, com lanços duplos e robustas balaustradas até ao segundo patamar. Ao centro do terraço abre-se um amplo lago com paredes e balaustrada de cantaria, estando ao centro um pedestal, assente num penhasco, onde se encontra um conjunto de estátuas em mármore italiano, duas sereias voltam as costas ao rochedo e, em cima, estão duas jovens e um cupido.
  • 24. O acesso a três vãos é efectuado através de três bem trabalhadas portas de ferro, com vidros coloridos, sendo os vãos recobertos de um delicado estuque árabe e ladeados por quadros em relevo alusivos ao Nascimento de Cristo, trabalho da equipa do decorador Meira. Destaca-se, no centro, o Presépio e ainda, o busto de Milton. Nos dois ângulos do fundo deste espaço rectangular erguem-se frontões com estátuas alegóricas encostadas a painéis de azulejo, um trabalho em relevo que representa o "Anoitecer" e o "Amanhecer", coroando estes trabalhos os bustos de Camões, Vasco da Gama, entre outros. Duas escadas de cantaria levam a uma varanda, passadiço sobre uma estrada e, através dum elegante portão de ferro, entra-se noutro espaço, decorado nos dois ângulos da frente por pequenos pavilhões de fresco com frontões. Num destes existem pinturas de Francisco de Sousa Alves e, no tecto do outro lado, pinturas com temas paisagísticos da Suíça. A decoração, o extenso mobiliário e os novos equipamentos dão uma atmosfera cortesã de opulência e grandiosidade a este conjunto, situação que se opõe em relação à discreta aldeia. Quando faleceu o Visconde de Estói, em 1926, solteiro, com 86 anos de idade e sem herdeiros directos, (posteriormente á sua morte veio-se a saber da existência de um filho ilegítimo), deixou o palacete na posse da sua prima e afilhada, “MARIA DO CARMO MELO MACHADO” TESTAMENTO DO VISCONDE DE ESTOI
  • 25. (Ainda em vida fez doação do Palácio, a favor da sua afilhada, D. Maria do Carmo Melo, mulher de António Duarte Machado (seu compadre e grande latifundiário de Beja). (Com reserva de uso fruto, a favor de sua prima D. Ana Zeferino, casada com José Brito de Melo, mãe da herdeira) herdeira) (Que quer que o seu enterro seja feito modestamente, sendo depositado o seu cadáver no jazigo que ele testador possue no cemitério de Estoy, não querendo corôas no seu féretro a não ser uma corôa de flores naturais colhidas no jardim do palácio, de que ele testador já fez doação com de reserva de usufruto, situado na dita freguesia de São Martinho de Estoy) (Que quer que o cadáver de sua mãe, que está depositado no jazigo de seu compadre António Joaquim Duarte Machado, nesta cidade de Beja, seja removido e depositado depois no jazigo dele removido testador em Estoy) Jazigo do Visconde de Estói – (existente no cemitério da Aldeia de Estoi) (Que devem ser distribuídas e assim o deixa determinado, cincoenta esmolas de dez escudos cada uma, aos pobres recolhidos e famílias necessitadas da dita freguesia de São Martinho de Estoy e cem esmolas de cinco escudos cada uma aos pobres da mesma freguesia de I Estoy que
  • 26. acompanharem o seu enterro sendo todas estas esmolas distribuídas até ao oitavo dia posterior ao encerramento do seu cadáver no Jazigo.) (Que deixa hà Junta de Freguesia de São Martinho de Estoy, Concelho de Fáro, a quantia de sessenta mil escudos e todas as casas que possue na rua de São José da mesma freguesia, para o fim da mesma junta mandar construir uma Escola de Ensino Primário Geral, para ambos os sexos, legando ainda à mesma Junta todos os mapas e quaisquer livros ou objectos com carácter ditactico (sic), aplicáveis ao ensino que deve ser ministrado na mesma escola) ALGUMAS IMAGENS DO PALÁCIO E DE ESTOI (à época)
  • 28.
  • 29.
  • 30.
  • 31. Após a morte de D. Maria do Carmo Melo Machado foi herdeira a filha, D. Maria da Luz Melo Machado, mulher de António Bicker Correia da Costa) Contudo, os familiares mantiveram a propriedade, especialmente os jardins, em condições de subaproveitamento, tendo a falta de manutenção deste espaço sido fatal para inúmeras espécies botânicas, designadamente ornamentais, pois privilegiaram, sobretudo, a área produtiva da quinta. 1987 - A propriedade é adquirida pela Câmara Municipal por 130 000 contos; Faro, salão nobre da Câmara Municipal, Dezembro de 1987 Assinatura do protocolo da aquisição, para o município, do palácio e jardins do Visconde de Estoi. Na fotografia o presidente João Negrão Belo E D. Maria da Luz Melo Machado Bicker da Costa