Roberto Felicor Coocatrel Estratégias para um manejo sustentável da Broca-do...
Mudanças no mercado global de café favorecem equilíbrio entre oferta e demanda
1. Agronegócio em Análise
Janeiro de 2013
Mudanças estruturais no mercado de café devem favorecer fluxos mais
equilibrados de oferta e de demanda, implicando menores níveis de
volatilidade das cotações
Regina Helena Couto Silva
Três dinâmicas distintas podem ser identificadas outros países africanos. Com esta configuração,
Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos
no mercado mundial de café e, embora estejam a participação dos desenvolvidos no consumo
ocorrendo lentamente, os resultados já podem ser global caiu de 64% em 2002 para 59% em 2012,
vistos: (i) expansão do consumo de café nos países ao passo que a participação dos emergentes
emergentes; (ii) avanço da fronteira agrícola para se elevou de 36% para 41%. No período em
o oeste baiano com investimentos em agricultura análise, os emergentes responderam por 66% da
tecnificada e (iii) correção da bienalidade da lavoura expansão global de consumo de café, enquanto os
no Brasil. Estas mudanças estruturais devem trazer desenvolvidos responderam por 34%.
melhor ajuste tanto pelo lado da oferta quanto pelo
lado da demanda, suavizando a volatilidade das Desse modo, tendo em vista que projetamos um
cotações internacionais. incremento médio de 5,4% para o PIB dos países
emergentes e de 1,9% para o PIB dos países
Nos últimos dez anos, o consumo global de desenvolvidos para os próximos cinco anos,
café cresceu a uma taxa média de 2,3% ao ano, podemos inferir que a demanda será sustentada nos
com expansão mais robusta sendo registrada dois grupos de países, sendo que a demanda nos
nos países emergentes, com elevação média emergentes deverá crescer a taxas mais expressivas.
anual de 4% (entre 2003 e 2012), ao passo Reforça este argumento o fato de que o café vem
que nos tradicionais consumidores, os países sendo cada vez mais agregado à cesta básica de
desenvolvidos, o consumo cresceu em média consumo nos países de baixa renda, tanto pela
1,4% ao ano. Nesses países, o café faz parte da crescente ocidentalização dos hábitos alimentares
cesta básica da população, portanto não há muito quanto pela elevação de renda da população, o que
espaço para avanço. favorece a ampliação de itens consumidos.
Dentre os emergentes, duas divisões são passíveis Como destacamos, o consumo está um pouco
de análise. Nos países emergentes tradicionalmente mais diversificado entre os países, no entanto,
produtores, o consumo cresceu em média 4,2% a dependência da oferta ainda seguirá elevada
ao ano. No Brasil, maior produtor e exportador em poucos países produtores – Brasil, Vietnã e
mundial, o crescimento também foi robusto, Colômbia concentram 60% da produção global.
alcançando uma média de 4,1% ao ano. Além Deve-se isso ao fato de que o café é produzido em
do Brasil,Crescimento médio anual dooutros global de caféprodutores USDA Elaboração: Bradesco tropical, ao passo que o consumo
o consumo de consumo países 2003 - 2013 Fonte: países de clima
também tem avançado, como Indonésia, Vietnã, é mais elevado em países de clima frio e de renda
Índia, México, Filipinas, Tailândia, Uganda e alguns elevada.
Crescimento médio
Produtores Part. 28,8% 4,2% anual do consumo
global de café
2003 - 2013
Importadores Emergentes Part. 12,2% 3,2%
Mundial 2,3%
Importadores Desenvolvidos Part. 59,0% 1,4%
Fonte: USDA
Elaboração: BRADESCO
0,0% 0,9% 1,8% 2,7% 3,6% 4,5%
1
2. Fonte e projeção (*): USDA PARTICIPAÇÃO % DOS GRUPOS DE PAÍSES NO CONSUMO MUNDIAL DE CAFÉ – 2003 - 2013
Elaboração: Bradesco
Participação 64,4% 63,6% 64,1% 62,9% 62,3%
% dos grupos 64,0% 62,0%
60,8%
59,4% 59,7%
de países no Produtores 59,0%
consumo mundial Importadores Desenvolvidos
de café Importadores Emergentes
2003 - 2013 46,0%
28,2% 28,6%
26,9% 26,0% 28,8%
28,0% 25,5% 24,5% 24,8% 25,0%
24,2%
12,3% 12,9% 12,3% 12,4% 11,7%
10,8% 11,4% 11,7%
11,3% 12,2%
Fonte e (*) projeção: USDA 10,0%
Elaboração: BRADESCO 2003/04 2004/05 2005/06 2006/07 2007/08 2008/09 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13*
Outra dinâmica que vem ocorrendo no mercado é de recuo de 5,5% para a safra 2013/14 nacional
brasileiro de café é a correção da bienalidade da de café arábica, para esta região a estimativa é de
lavoura. De fato, ao longo dos últimos dez anos a elevação de 13,4% da produção.
diferença entre as safras de alta e de baixa bienalidade
vem se reduzindo, como resultado de uma combinação Normalmente a variação de uma safra para outra gira
de fatores, entre eles estão: (i) tratos culturais mais entre 20% e 30% para mais, em ano de bienalidade
adequados e maior uso de sistemas de irrigação, (ii) alta, ou para menos, em ano de bienalidade baixa.
poda dos cafeeiros, (iii) adensamento das lavouras, (iv) No entanto esta variância vem diminuindo para
investimento na renovação dos cafezais e por fim, mas intervalos de 15%, devendo chegar a apenas 5,5%
não menos importante, (v) a inversão da bienalidade na projeção: Conab Elaboração:na atual safra 2013/14, segundo
Variação % entre as safras de café arábica- 2003 - 2013 Fonte e
(para menos) Bradesco
Zona da Mata em Minas Gerais. Enquanto a estimativa estimativa da Conab.
80,0%
Variação % entre
57,9%
as safras de café
60,0%
arábica-
38,6% 41,4% 2003 - 2013
40,0%
27,6%
20,0%
19,1%
0,0%
-5,5%
-12,6%
-20,0% -18,7%
-24,9% -24,0%
-40,0%
Agronegócio em Análise
-47,1%
-60,0%
2003/04
2004/05
2005/06
2006/07
2007/08
2008/09
2009/10
2010/11
2011/12
2012/13
2013/14*
Fonte e projeção*: Conab
Elaboração: BRADESCO
Este movimento, muito ligado aos investimentos as cotações internacionais, dada a possibilidade
realizados nas lavouras de café que foram de melhor previsibilidade das safras. A renovação
propiciados pelo bom nível de rentabilidade da dos cafezais vem sendo realizada principalmente
cultura registrado nos últimos três anos, deverá no Brasil e em alguns países produtores como no
trazer o benefício de uma menor volatilidade para Vietnã.
DEPEC 2
3. Variação % da produção nacional de café arábica e variação % do preço internacional de café 2003 - 2013
Fonte: Conab e Bloomberg Elaboração: Bradesco
70,0%
57,9% Produção Variação % da
preço
50,0% 46,3%
produção nacional
42,4%
38,6%
41,4%
36,9%
de café arábica e
27,6%
variação % do preço
30,0%
23,5%
19,1% internacional de
8,5%
12,6%
9,4%
café
10,0%
2003 - 2013
-0,5%
-10,0% -5,2% -6,6% -5,5%
-12,6%
-18,7%
-30,0% -24,9% -24,0%
-32,1%
-50,0% -47,1%
2003/04
2004/05
2005/06
2006/07
2007/08
2008/09
2009/10
2010/11
2011/12
2012/13
2013/14*
Fonte: Conab, Bloomberg
Elaboração: BRADESCO
Alterações regionais na produção de café também 10% em São Paulo e em Minas Gerais. O sistema de
estão contribuindo para a amenização da bienalidade produção garante, além do menor custo de produção
da cultura. Tradicionalmente produzido no Sul e comparativamente às demais regiões, um maior nível
Sudeste do País, a lavoura de café está avançando de produtividade. No cerrado baiano a produtividade
para o cerrado da Bahia, região que conta com chega a pouco mais de 40 sacas por hectare, sendo a
agricultura tecnificada, irrigada e mecanizada, o que média nacional de 23 sacas por hectare.
se traduz em menor custo com mão-de-obra. De fato,
a participação da mão-de-obra na lavoura de café na Com os investimentos realizados nos últimos anos a
Bahia é de 4%, segundo a Conab, enquanto que no participação da Bahia na produção nacional passou de
Sul de Minas é de 40% e em São Paulo é de quase 3,4% nos anos 1980 para 6% na média dos três últimos
60%. A título de comparação o custo com operação anos. Ao mesmo tempo a participação do Sul caiu de
com máquinas representa%quase 30% dos custos totais IBGE Elaboração: Bradesco
Participação na produção nacional de café - 1970 - 2011 Fonte:
14% para 4,4%, enquanto a participação do Sudeste
na Bahia enquanto esta participação é de menos de subiu de 78,4% para 84,1%.
90,0%
Nordeste
82,1%
84,1% Participação % na
80,0%
Sul 78,4%
79,9%
produção nacional de
Sudeste
69,9%
café - 1970 - 2011
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0% 26,1%
Agronegócio em Análise
20,0%
13,9%
10,0% 7,8%
6,0% 4,9% 5,6%
3,1% 3,9% 4,0% 4,4%
Fonte: IBGE
0,0% Elaboração: Bradesco
70-79 80-89 90-99 00-09 2010-2012
Em conclusão, a combinação destas mudanças que a expansão do consumo nos países emergentes
estruturais verificadas na lavoura cafeeira, devem se deverá equilibrar melhor o fluxo de demanda, antes
traduzir em menores níveis de volatilidade das cotações muito concentrada nos países desenvolvidos, onde
internacionais, pela combinação de melhor ajuste tanto não há muito espaço para trajetória de elevação.
pelo lado da oferta quanto pelo lado da demanda. A
correção, mesmo que suave da bienalidade deverá Uma ressalva importante a ser feita é que intempéries
favorecer um fluxo mais constante de oferta, enquanto climáticas continuarão trazendo volatilidade às
DEPEC 3
4. cotações tanto do café quanto de qualquer outra de volatilidade sazonal dos mercados agrícolas,
commodity. No entanto, especificamente para o porém sem frequências relevantes. Adicionalmente as
mercado cafeeiro, as mudanças trarão benefício, com cotações devem seguir movimento de elevação nos
suavização desta volatilidade, antes muito acentuada próximos meses, refletindo a safra de baixa bienalidade
pela concentração da demanda e pela característica no Brasil. O piso para as cotações será dado pelos
de bienalidade. estoques globais que estão baixos, mas que devem
girar em torno deste novo patamar, algo entre 15% e
Nesse sentido, para este ano esperamos que as 20% do consumo global, lembrando que historicamente
cotações internacionais do café apresentem movimento eram mais de 30%.
Retrato do Setor
• O Brasil exporta 67% do café que produz, sendo 90% das vendas na forma de café verde e 10% como café
solúvel. Os principais mercados de destino são os países desenvolvidos: Europa, EUA e Japão;
• Brasil é o único grande player mundial com safra no 1º semestre do ano. Os demais (Vietnã e Colômbia)
têm início de safra a partir do 2º semestre.
• Brasil: responde por 37% da produção mundial e por 28% das exportações. Exporta 67% da produção interna.
Safra tem início em maio. Produz café robusta e arábica;
• Vietnã: responde por 15% da produção mundial e por 21% das exportações. Exporta 95% da produção
interna, o consumo interno é muito baixo. Safra tem início em outubro. Produz café robusta;
• Colômbia: responde por 6% da produção mundial e por 8% das exportações. Exporta 92% da produção
interna e também tem o consumo interno muito baixo. Safra tem início em outubro. Produz café arábica.
• 51% da produção de café estão concentrados em Minas Gerais, 27% no Espírito Santo e 7% em São Paulo.
• Os principais consumidores mundiais de café são os países desenvolvidos, que respondem por 59% do
consumo global e são dependentes de importação. Os países produtores de café respondem por 28%
da demanda global. Os emergentes, com exceção do Brasil, também são dependentes de importação e
respondem por 12% do consumo global.
Agronegócio em Análise
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5. Agronegócio em Análise
Equipe Técnica
Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos
Marcelo Cirne de Toledo - Superintendente executivo
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Análise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo / Rita de Cassia Milani
Pesquisa Proprietária: Fernando Freitas / Ana Maria Bonomi Barufi / Leandro Câmara Negrão
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