Breve apresentação sobre Jean-Paul Sartre (1905-1980), filósofo, escritor e crítico francês, um dos mais importantes representantes do existencialismo.
Por Bruno Carrasco, psicoterapeuta existencial.
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2017
2. Jean-Paul Sartre
Jean-Paul Sartre (1905-1980) foi filósofo, escritor e crítico francês, um dos mais
importantes representantes e divulgadores do existencialismo.
Em sua infância, Sartre viveu numa família tipicamente burguesa, foi educado
por seu avô e por cuidadores. Foi muito incentivado para seguir a vocação de
escritor.
Desde cedo Sartre teve contato com a literatura e os clássicos, entre eles Victor
Hugo, Gustave Flaubert, Stéphane Mallarmé, Guy de Maupassant, Johann
Wolfgang von Goethe.
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3. Sartre e a filosofia
Seu contato com a filosofia se iniciou com a leitura de Henri Bergson, mas logo
passou a estudar Nietzsche, Kant, Descartes e Espinoza. Na escola já escrevia
sobre liberdade, consciência, absurdo e contingência. Seu principal interesse,
desde cedo, era o indivíduo e a psicologia.
Em 1933 ele começou a estudar a fenomenologia de Husserl e a filosofia de
Heidegger. Em 1938, publicou "A náusea", um romance em forma de ficção que
apresenta o tema da contingência, tornando-se seu primeiro sucesso literário.
Em 1943 publicou "O Ser e o Nada", um ensaio de ontologia fenomenológica,
onde descreve os principais conceitos de sua filosofia.
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4. Sartre e o existencialismo
Sartre é o mais conhecido autor relacionado ao existencialismo, por ter se
dedicado a sistematizar e divulgar essa vertente filosófica, além de se denominar
também um filósofo “existencialista”.
Ele desenvolveu o existencialismo partindo da análise do ser humano concreto e
singular, utilizando elementos das filosofias de Kierkegaard, Nietzsche, Husserl
e Heidegger, e criando seus próprios conceito.
O existencialismo teve muita repercussão na Europa durante as décadas de
1940 à 1960, por conta da atuação político e social de Jean-Paul Sartre.
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5. Sartre era um elo que os ligava a toda a
linhagem de rebeldes filosóficos: Nietzsche,
Kierkegaard e os demais. Sartre era a ponte para
todas as tradições que pilhou, modernizou,
personalizou e reinventou. Mas, durante toda a
sua vida, ele insistiu que o importante não era o
passado, de forma alguma: era o futuro. É
preciso estar sempre em movimento, criando o
que será: agir no mundo, deixar uma marca.
(Sarah Bakewell, em “No café existencialista”)
6. Sartre e a política
Em 1950, Sartre passou a assumir uma postura política atuante, reconhecendo
que há forças políticas, sociais e econômicas que permeiam a constituição de
cada indivíduo, buscando conciliar o existencialismo com o marxismo.
Em 1964 ele recebeu o prêmio Nobel de Literatura, porém recusou por conta de
seus princípios políticos. Sartre faleceu em 1980, e por conta de sua
popularidade, seu funeral foi acompanhado por mais de 50 mil pessoas, e seu
corpo está hoje enterrado no Cemitério de Montparnasse, em Paris.
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8. Filosofia de Sartre
A filosofia de Sartre é uma busca de descrever todos os aspectos possíveis da
existência humana, considerada existencialista por não delimitar o ser humano
em conceitos, mas compreender suas condições e possibilidades de ser.
Com bases na fenomenologia de Edmund Husserl e da analítica existencial de
Martin Heidegger, em “Ser e Tempo”, o existencialismo de Sartre propõe a
compreensão da condição humana, entendendo como um ser livre, que faz
escolhas e é responsável por suas consequências. E que, ao escolher por si,
escolhe também para todos os outros seres humanos, sendo corresponsável
pelo mundo onde vive, sendo por ele transformado e o transformando.
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9. A existência precede a essência
Para Sartre, não somos predeterminados por algo ou alguém, não há uma
essência anterior que defina nossa existência. A pessoa primeiramente existe,
para depois se tornar o que fizer de si, a nossa essência é, portanto, resultante de
nossa existência concreta no mundo.
Não há nada além de nós mesmos, ou fora de nossa existência, que irá definir o
modo como somos. Não há um Deus, uma razão nem uma natureza humana que
delimite o vamos nos tornar. O ser humano surge no mundo, existe e escolhe o
que vai se tornar e se transforma com o tempo. A vida não tem sentido algum
antes do sentido que atribuímos a ela.
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10. “O homem primeiramente existe,
surge no mundo;
e somente depois se define.”
(Jean-Paul Sartre)
11. Não há, por conseguinte, nada a priori a definir o
homem, nenhum caráter essencial que o defina
como algo dado para sempre. Sua essência
surge como algo resultante de seus atos,
daquilo que ele faz de si mesmo, algo a se
realizar. O homem não é nada mais do que
aquilo que se projeta ser.
(João da Penha, em ‘O que é existencialismo’)
12. Diferenças entre pessoas e coisas
Para descrever o modo específico de ser humano, Sartre delimita as diferenças
entre os seres humanos e as coisas (objetos).
Um objeto é feito para servir o ser humano, possui uma essência prévia, que
corresponde o modo como deve ser produzido e para qual será seu uso. Todo
objeto é fabricado já tendo em vista seu uso e sua forma final.
Já o ser humano, não é feito para um fim específico nem uma predeterminação
com relação ao seus modos de ser e se colocar no mundo, portanto não há como
saber o que ele irá se tornar. Ele será o resultado do que fizer de si mesmo.
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13. Diferenças entre pessoas e animais
Além das diferenças perante os objetos, podemos citar também as diferenças
entre as pessoas e os animais.
Os animais vivem de maneira instintiva, todos seus comportamentos são
predeterminados e pouco transformados. Uma vaca na China é bem parecida
com uma vaca no Brasil, ou uma vaca na Inglaterra, mesmo que seja séculos
atrás, a maioria segue sua vida de um modo bem parecido. Já os seres humanos
não, nós atribuímos diferentes sentidos para a nossa existência, uma pessoa na
China é bem diferente de uma pessoa no Brasil, não somente seus gostos e
aversões, mas também seus valores, do que é bom, ruim, justo ou adequado.
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14. “O homem nada é além
do que ele se faz.”
(Jean-Paul Sartre)
16. Fenomenologia
O termo "fenomenologia" deriva de duas palavras gregas: phainomai (fenômeno)
que significa aparecer ou mostrar-se, e logos, que significa estudo, explicação ou
descrição, sendo então a descrição dos fenômenos.
O interesse da fenomenologia não é entender o mundo objetivo, mas o modo
como acontece o entendimento sobre o mundo em cada pessoa, de modo a
captar o fenômeno tal como é experienciado pela consciência.
Fenômeno é tudo aquilo que aparece para uma consciência, não entendido como
uma representação da coisa observada, nem mesmo a "coisa em si", mas a coisa
tal como é revelada à uma consciência.
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17. Sartre parte do suposto fenomenológico que a
emoção, enquanto comportamento da
consciência, também intenciona o mundo.
(...)
Segundo a teoria fenomenológica de Sartre, a
emoção - como a percepção ou a imaginação
- é uma determinada maneira de apreender o
mundo.
(Luiz Carlos Maciel, em “Sartre: vida e obra”)
18. Edmund Husserl
O filósofo e matemático alemão Edmund Husserl (1859-1938) elaborou a
fenomenologia como uma crítica sobre as teorias do conhecimento, seja ela o
racionalismo, empirismo, idealismo, objetivismo ou pragmatismo.
Para a fenomenologia, as coisas não são uma aparição falsa da realidade, mas são
os fenômenos tal como aparecem na consciência. Esse é o objeto de estudo da
fenomenologia, os fenômenos, como dados objetivos e conteúdos da
consciência, ao mesmo tempo. Essa proposta revê a questão antiga entre
“sujeito e objeto”, entendendo que só há objeto para uma consciência, e que a
consciência se dirige intencionalmente a um objeto.
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20. Libertinagem e liberalismo
Liberdade é um termo muito amplo, que possui diversas compreensões. Sua
descrição se transforma de acordo com o autor, o tempo e as crenças envolvidas.
Alguns acreditam que liberdade é fazer o que se deseja e quer a qualquer
momento, sem se importar com as consequências, que corresponde a liberdade
no sentido de libertinagem.
Outros acreditam que livre é aquele que pode adquirir o que deseja, que possui
dinheiro para comprar produtos e serviços e sai por aí comprando o que vê pela
frente. Essa seria uma liberdade no sentido liberalista.
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21. Liberdade para Sartre
Há outros que entendem a liberdade como o ato de se livrar de algo que, de
alguma maneira, nos faz sentir presos. Como quando tiramos férias no trabalho
ou quando saímos de um relacionamento desagradável, e nos sentimos “livres”.
Porém, a concepção de liberdade em Sartre segue outro caminho, diferente dos
comentados. Para ele, liberdade é escolha. Todos somos livres, pois estamos a
todo momento fazendo escolhas em nossa vida. Isso não significa que podemos
escolher tudo o que desejamos a todo momento, nem que todas as escolhas que
fazemos resultam no que desejamos, passamos por situações inesperadas e
desagradáveis e podemos sempre escolher o que fazer diante delas.
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22. Se a cada instante o homem tem de escolher
aquilo que vai ser, então só a ele cabe criar os
valores sob os quais dirigirá sua vida. O homem,
diz Sartre, não é nada mais que o seu projeto, só
existe na medida em que o realiza através da
série de seus atos.
(João da Penha, em ‘O que é existencialismo’)
23. Condenado a ser livre
Segundo Sartre, o homem está condenado a ser livre. Pois somos livres para
escolher o que vamos fazer de nossa vida, e não temos como não ser livres.
A todo momento somos livres, pois a todo momento estamos fazendo escolhas,
inclusive quando não escolhemos, também estamos a escolher. A “não escolha” é
também uma escolha, pois escolhemos não escolher.
Não há como não ser livre, pois não há como não fazer escolhas. Se não estamos
satisfeitos com a vida que estamos levando, podemos escolher fazer algo para
mudar, e com isso mudamos os rumos de nossa vida. Ser livre, neste sentido, não
significar “ter o que se deseja”, mas escolher o que deseja.
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24. “A escolha é possível em um sentido,
mas o que não é possível é não
escolher. Eu sempre posso escolher,
mas tenho que saber que se não
escolho, isso também é uma escolha.”
(Jean-Paul Sartre)
25. Angústia
A angústia nos coloca diante de nossa própria existência, da dificuldade em fazer
escolhas, de nossas frustrações e dores de existir.
Apesar de ser vista como algo ruim, faz parte da condição humana, e que nos
coloca realmente presentes diante do que estamos vivendo num momento.
Na concepção existencialista, a angústia não é um sentimento negativo, mas uma
experiência valiosa que ocorre quando tomamos consciência de nossa liberdade
de escolhas ou de nosso vazio existencial.
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26. Situações angustiantes
● Perceber o absurdo da existência;
● Constatar que não há como reviver o passado ou antecipar o futuro;
● Perceber que não podemos viver em outro tempo que não o presente;
● Quando nos damos conta que somos responsáveis pelas escolhas que
fazemos;
● Quando percebemos que mesmo não escolhendo já é estamos a escolher;
● Conviver com o outro (diferente);
● Lidar com pessoas com valores e expectativas diferentes.
A angústia nos solicita uma ação, é defrontar com a realidade que está em nossa
frente, e não uma evitação ou fuga.
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27. “O indivíduo se angustia pois se vê na
situação de escolher sua vida, seu
destino, sem buscar orientação ou
apoio em ninguém. Sente-se
desamparado.”
(João da Penha, em ‘O que é existencialismo’)
28. Liberdade situada
A concepção existencialista do ser humano para Sartre o define como um ser
livre, mas de uma liberdade situada, limitada pelas condições e circunstâncias
objetivas e materiais de seu tempo e espaço.
Isso significa que, para Sartre, liberdade não é fazer tudo o que tiver vontade,
pois habitamos num mundo, somos limitados por nossas condições corporais,
econômicas e sociais, porém há sempre a liberdade de escolher e a possibilidade
de transcender nossas condições, de ir além do que está posto.
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29. “O homem existencialista de Sartre é
pura liberdade, mas liberdade
“situada”, isto é, suas opções são
limitadas pelas circunstâncias
objetivas.”
(Luiz Carlos Maciel, em “Sartre: vida e obra”)
30. Responsabilidade e transformação
Encarar a nossa existência como resultado de nossas escolhas nos faz perceber
livres, ao invés de determinados por uma essência prévia. E por sermos livres,
somos responsáveis pelo que fazemos de nós mesmos.
Nossa existência não é estática, ela se desenvolve e se transforma de acordo
com as experiências e escolhas que fazemos, deste modo nossa identidade é
continuamente criada e renovada, e cada pessoa desenvolve sua existência de
acordo com suas experiências.
Além disso, estamos sempre em transformação. Podemos sempre fazer novas
escolhas, buscar novos caminhos, reconstruir a nós mesmos a cada instante,
criando e encontrando novos sentidos para a nossa vida.
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31. “O mais importante não é aquilo que
fizeram de nós, mas o que fazemos
com o que fizeram de nós.”
(Jean-Paul Sartre)
32. Má-fé
Por ser livre, cada pessoa é responsável por suas escolhas. Para Sartre, a má-fé
consiste em responsabilizar o outro ou um “determinismo” por suas escolhas.
É quando uma pessoa transfere para fora de si a responsabilidade de suas
escolhas e condições de sua vida. Falas do tipo, “foi Deus que me deu esse
emprego”, ou “eu moro na cidade x porque meus pais gostam dessa cidade”.
Se a pessoa diz que “Deus” escolheu para ela, está deixando de lado sua
responsabilidade de ter feito sua escolha, ou quando diz que mora numa cidade
porque seus “pais” escolheram, deixa de reconhecer que escolheu continuar na
mesma cidade que “seus pais escolheram”.
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33. Exemplos de má-fé
A má-fé, segundo Sartre, é quando utilizamos desculpas e explicações para as
nossas escolhas, trata-se de uma mentira que contamos para nós mesmos para
evitar nossa responsabilidade pelas escolhas que fazemos.
Algumas desculpas que muitas pessoas costumam usar de má-fé:
● Fatores sociais;
● Determinação biológica;
● Horóscopo;
● Traumas ou experiências passadas;
● Deus.
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34. “Ao definirmos a situação humana como
sendo de uma escolha livre, sem escusas
e sem auxílios, todo homem que se
refugia por trás da desculpa de suas
paixões, todo homem que inventa um
determinismo, é um homem de má-fé.”
(Jean-Paul Sartre)
35. Devemos realizar este ato de fé: criar o significado
em que buscamos viver. Cada ato, então, que não
esteja comprometido por uma forma do que
Sartre chama “má-fé”, pode ser visto como um
tipo de fé: como um compromisso de agir diante
do “nada” e de não fingir que as coisas são
impostas ou exigidas.
(Jack Reynolds, em ‘Existencialismo’)
37. O ser humano é temporal e histórico
O ser humano não é uma consciência separada do mundo, mas um ser que se
relaciona “no” e “com” o mundo, que habita um período histórico, onde convive
com pessoas, que por ele é influenciado e nele exerce influência.
Entender a pessoa como um ser temporal e histórico é diferente de olhar para
seus aspectos meramente naturais e fisiológicos, mas compreender que
desenvolvemos significados e valores de acordo com o tempo e o espaço.
Para Sartre, o ser humano é temporal e histórico, ou seja, se modifica de acordo
com o tempo e a história, tal como o mundo também está em transformação.
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38. Ser e mundo em transformação
Toda pessoa estabelece constante relação com os espaços que habita e transita.
Somos seres relacionais, nossas experiências internas são resultantes também
de nossas experiências externas. Não existe um ser neutro, que não se altera
pelo meio em que vive, todos somos modificados pelas condições e
circunstâncias de nosso tempo e espaço.
O mundo não é algo pronto, onde temos de nos ajustar a ele como está, mas algo
em constante transformação, onde fazemos parte dessa transformação. Não
somos somente resultado dos modos de onde habitamos, mas também criamos
novos modos de ser e interferimos nas outras pessoas e no mundo.
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39. “O existencialista nunca tomará o
homem como fim, pois ele sempre
está por fazer-se.”
(Jean-Paul Sartre)
40. Existencialismo e marxismo
O materialismo histórico, de Karl Marx, entende que não somos fruto de um
ideal ou de algo além de nós, mas de uma situação histórica e material.
Nessa concepção, os diferentes modos de ser de cada pessoa são desenvolvidos
historicamente e não simplesmente por meio de ideais ou necessidades
biológicas. O que num período histórico era tido como correto e valorizado, em
outro pode ser visto como incorreto ou até mesmo desprezado.
Estabelecemos uma relação dialética com o ambiente material e histórico, de
modo que por ele somos alterados e nele alteramos, não se trata de uma
simples reprodução, mas da construção de subjetividades.
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41. A condição humana
Para descrever os aspectos da existência humana, ao invés do termo “natureza
humana”, muito utilizado por filósofos anteriores a Sartre, ele propõe o uso do
termo “condição humana”. Pois, como não há uma natureza que defina o ser
humano antes de sua existência, Sartre reconhece que há apenas condições
humanas, que afetam a existência e os modos de ser no mundo.
A condição humana envolve a liberdade de fazer escolhas, a angústia por não
saber qual a melhor escolha, o desamparo que o coloca como único ser que pode
escolher por si mesmo, e o desespero, por se sentir desamparado. Porém essas
questões se desenvolvem de uma maneira singular em cada indivíduo.
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42. “As situações históricas variam: o homem
pode nascer escravo em uma sociedade
pagã ou senhor feudal ou proletário. O que
não varia é a necessidade, para ele, de estar
no mundo, trabalhar, conviver com outras
pessoas e ser, no mundo, um mortal.”
(Jean-Paul Sartre)
43. Sentido da vida
Por não haver uma essência que defina nossa existência, não há um sentido
prévio que determine o modo como vamos viver a nossa vida.
A vida então não possui um sentido dado, mas somos nós que, vivendo
concretamente, atribuímos sentidos a nossa vida. O sentido é sempre individual,
particular, e se difere de pessoa à pessoa.
Para uma pessoa o sentido da vida pode ser se empregar, comprar bens e ter
filhos, para outra pode ser se envolver em ações sociais e escutar música, para
outra pode ser ler livros, para outra pode ser um autônomo e inventar coisas.
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44. Engajamento
Para Sartre, não há como definir uma pessoa sem considerar seu engajamento,
ou seja por quais temas e questões ela vive e sua vida faz sentido para si mesma.
O engajamento é justamente o motivo que a pessoa escolhe para sua vida, com
o que ela escolhe se envolver e se envolve na prática. A pessoa pode escolher se
engajar no estudo de um instrumento e estilo musical, ou pode se engajar num
partido político, numa religião, numa filosofia, por exemplo.
É o engajamento que dará sentido para a vida de uma pessoa, partindo de sua
escolha, ou seja, cada um escolhe com o que deseja se engajar.
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45. “Não definimos o homem senão em relação
a um engajamento.”
(Jean-Paul Sartre)
46. Existência como projeto para fora
Realizamos nossa vida sempre nos projetando para fora, como que numa busca
de encontrar o que está além de nosso momento presente, num projeto que
transcende nossa condição atual para ir além dela mesma.
Esse modo de ser para fora, que se projeta fora de si mesmo, é o que caracteriza
a existência humana e a singularidades de cada um. A pessoa não é um ser
fechado em si mesmo, mas um ser lançado no mundo, em situação e relação.
Sua liberdade não consiste em voltar para si mesma, mas buscar sempre fora de
si sua realização particular, se realizando assim como ser existente.
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47. Para agir, porém, o homem deve estabelecer
projetos: deve decidir entre as coisas a ser feitas,
quais ele irá fazer. Como, entretanto, me decido
entre isso ou aquilo; como opto por esse ou
aquele projeto? Sartre responde que essa
questão é decidida pelo poder de valoração da
consciência. Ele confere valor às coisas,
tornando-as preferíveis umas às outras.
(Luiz Carlos Maciel, em “Sartre: vida e obra”)
48. Existência
A palavra em latim existentia, que significa existência, é derivada de existere, que
significa sair de uma casa, um domínio, um esconderijo.
Existência, em sua origem, é sinônimo de mostrar-se, exibir-se, fazer um
movimento para fora. Por isso se denomina existencialista toda filosofia que
trata diretamente da existência humana concreta e singular, e não das essências
ou de idealizações sobre a existência.
O existencialismo, portanto, é uma filosofia que centra sua reflexão sobre a
existência humana particular, individual e concreta.
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49. “O homem está constantemente fora de si
mesmo; é projetando-se e perdendo-se fora
de si que ele faz o homem existir e, por
outro lado, é perseguindo fins
transcendentes que ele é capaz de existir.”
(Jean-Paul Sartre)
50. Filosofia de ação
O existencialismo é uma filosofia que considera o ser humano como livre para
fazer escolhas e responsável por elas. Trata-se portanto de uma filosofia de
ação, que coloca a pessoa diante de sua própria existência, de modo a escolher
novos caminhos e possibilidades para si mesma.
Como estamos sempre escolhendo o que vamos fazer de nossa vida, estamos
sempre diante da ação de escolher, de perceber a nós mesmos e de nos
conscientizar de nossas escolhas, para que possamos então fazer novas
escolhas. Deste modo, fazemos e refazemos a nós mesmos, nossa existência e
nosso modo de ser no mundo.
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51. “O homem precisa encontrar-se ele
próprio e convencer-se de que nada
poderá salvá-lo de si mesmo. Neste
sentido, o existencialismo é um
otimismo, uma doutrina de ação.”
(Jean-Paul Sartre)
52. por Bruno Carrasco
Psicoterapeuta existencial e professor. Graduado em Psicologia, licenciado em
Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia e Psicologia
Existencial Humanista e Fenomenológica, possui especialização em Psicoterapia
Fenomenológico-Existencial.
Em seu trabalho busca valorizar cada pessoa em seu modo de ser singular,
colaborando para lidar com suas dificuldades e ampliar suas possibilidades de
escolha perante a vida. Acredita na liberdade de fazer escolhas saudáveis e
refazer os rumos de nossa vida, potencializando nossa existência.
www.brunopsiexistencial.tk
53. ex-isto
Ex-isto é um projeto dedicado ao estudo e pesquisa sobre o existencialismo
e suas relações com a psicologia, filosofia, psicoterapia, fenomenologia,
literatura e artes.
Tem como intuito oferecer conteúdos que facilitem a compreensão sobre os
temas pesquisados, por meio de textos, vídeos, cursos ou livros, optando por
utilizar uma linguagem acessível, de modo a promover reflexões sobre a
subjetividade, a condição humana e suas possibilidades.
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54. Referências Bibliográficas
BAKEWELL, Sarah. No café existencialista: O retrato da época em que a filosofia, a
sensualidade e a rebeldia andavam juntas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2017.
COTRIM, G.; FERNANDES, M. Fundamentos da Filosofia. 2 ed. Saraiva: São Paulo, 2013.
JAPIASSÚ H., MARCONDES, D. Dicionário de Filosofia. Jorge Zahar: Rio de Janeiro,
2005.
MACIEL, Luiz Carlos. Sartre: Vida e Obra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
PENHA, João da. O que é existencialismo. Brasiliense: São Paulo, 2014.
REYNOLDS, Jack. Existencialismo. 1 ed. Vozes: Rio de Janeiro, 2013.
SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.